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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

ENGENHARIA METALÚRGICA

ELETROQUÍMICA

Matheus Coelho de Almeida

Volta Redonda/RJ
2018
1 INTRODUÇÃO
O ramo da química que estuda trata do uso de reações químicas para produzir
eletricidade através de reações não espontâneas, e do uso da eletricidade para
forçar reações químicas não espontâneas, é denominado como eletroquímica.
Durante o acontecimento dessas reações há transferências de elétrons entre
substâncias onde alguns reagentes perdem elétrons enquanto outros ganham
para formar produtos, sendo chamadas reações de oxirredução ou redox. O
comportamento dessas reações é o principal tópico da eletroquímica.

2 DESCRIÇÃO DO ASSUNTO
Numa reação de oxirredução ocorrem dois processos básicos: a perda de
elétrons chamada de oxidação e o ganho de elétrons chamado de redução. Se
uma substância sofre redução ela causa, consequentemente, a oxidação de
outra substância, portanto ela atua como um agente oxidante. Da mesma forma
uma substância que foi oxidada atuou como agente redutor. Temos que:

Agente oxidante ⇔ Sofre redução ⇔ Ganha elétrons


Agente redutor ⇔ Sofre oxidação ⇔ Perde elétrons

A identificação de reações redox nem sempre é óbvia. Em geral associamos


reações de transferência de elétrons com reações dentro de pilhas e baterias,
entretanto reações redox são mais comuns do que imaginamos.
A combustão, respiração, ferrugem são alguns exemplos de processos de
oxirredução. Para identificar se uma reação é de oxirredução é necessário
avaliar a variação do número de oxidação (Nox) dos produtos e reagentes. Em
geral atribui-se um número de oxidação para cada átomo nos reagentes e cada
átomo dos produtos. Caso ocorra variação concluímos que houve transferência
de elétrons e portanto a reação é de oxirredução. Por exemplo considere as
seguintes reações:

𝑍𝑛(𝑠) + 2𝐻+ (𝑎𝑞) → 𝑍𝑛2+ (𝑎𝑞) + 𝐻2 (𝑔)


𝐻𝐶𝑙(𝑎𝑞) + 𝑁𝑎𝑂𝐻(𝑎𝑞) ⟶ 𝑁𝑎𝐶𝑙(𝑎𝑞) + 𝐻𝟐𝑂(𝑙)
No primeiro caso o número de oxidação de substância simples é zero, para
íons mononucleares o Nox é igual a carga. Temos que o Nox do zinco variou
de 0 para +2 enquanto que o Nox do hidrogênio variou de 0 para +1. Portanto
trata-se de uma reação redox. Já no segundo todos os átomos mantiveram
seus números de oxidação constante, logo não trata-se de uma reação redox.

As reações que possuem potencial negativo, não ocorrem espontaneamente,


mas a utilização de corrente elétrica, pode ser usada para fazê-las ocorrer. O
processo utilizado para forçar uma reação na direção não espontânea com um
auxílio de uma corrente elétrica, é denominado eletrólise.

2.1 Eletrólise
Como definido anteriormente, quando temos determinada reação com potencial
químico negativo, ela não ocorrerá de maneira espontânea, portanto, para que
seja possível o acontecimento da reação no sentido indicado, é necessária a
utilização de energia externa, fornecida por um gerador que seja capaz de
transformar energia elétrica em energia química, ou seja, trata-se de um
processo inverso ao que ocorre nas pilhas e baterias.
Toda eletrólise precisa do gerador de corrente contínua que passará a corrente
elétrica por um líquido com íons, que é chamado de eletrólito. No eletrólito
ficam imersos dois eletrodos, que geralmente são inertes, feitos de platina ou
de grafita, sendo que um é o catodo (polo negativo) e o outro é o anodo (polo
positivo). O recipiente onde fica o eletrólito e os eletrodos mergulhados nele,
bem como onde ocorre todo o processo de oxirredução, é chamado de cuba
eletrolítica, como mostrado na Figura 1.
Figura 1 – Cuba eletrolítica e outros componentes.

Por exemplo, quando o metal cobre é eletroliticamente refinado, o anodo é


cobre impuro, o catodo é cobre puro e o eletrólito é 𝐶𝑢𝑆𝑂4 quando íons de 𝐶𝑢2+
Migram para o catodo, eles são reduzidos e se depositam na forma de átomos
de cobre. Outros íons 𝐶𝑢2+ são produzidos por oxidação do metal cobre no
anôdo.
A Figura 2 mostra o esquema de uma célula eletrolítica usada comercialmente
na produção do metal magnésio a partir do cloreto de magnésio fundido (o
processo Dow). Como em uma célula galvânica, a oxidação ocorre no anodo e
a redução ocorre no catodo. Os elétrons passam do anodo para o catodo por
um fio externo; os cátions movem-se através do eletrólito na direção do catodo
e, os ânions, na direção do anodo. Mas, em vez da corrente espontânea da
célula galvânica, é necessário fornecer corrente de uma fonte de energia
elétrica externa. A fonte pode ser uma célula galvânica, que fornece corrente
para empurrar os elétrons por um fio em uma direção predeterminada. O
resultado é forçar a oxidação em um eletrodo e a redução no outro. Por
exemplo, as seguintes meias reações ocorrem no processo Dow:

Reação no anodo: 2𝐶𝑙 − (𝑓𝑢𝑛𝑑) → 𝐶𝑙2 (𝑔) + 2𝑒 −


Reação no catodo: 𝑀𝑔2+ (𝑓𝑢𝑛𝑑) + 2𝑒 − → 𝑀𝑔(𝑙)
Em que “fund” representa o sal fundido. Uma bateria recarregável funciona
como uma célula galvânica quando está realizando trabalho e como uma célula
eletrolítica quando está sendo recarregada.

Figura 2 – Diagrama esquemático da célula eletrolítica utilizada na obtenção de


magnésio através do processo Dow.

Outro exemplo que é importante destacar, é o de obtenção do alumínio


metálico. Antes do conhecimento e aperfeiçoamento do processo de eletrólise
da alumina (𝐴𝑙2 𝑂3 ), por Charles Martin Hall, em 1896, esse processo era
realizado através da fundição do material a 2000 °C.
Com esse processo (eletrólise), Hall diminuiu de 2000 °C para 1000 °C a
temperatura. Atualmente, a alumina é dissolvida em um banho de criolita
fundida e fluoreto de alumínio em baixa tensão.
A mistura obtida é colocada numa cuba eletrolítica e sofre uma reação de
eletrólise. Veja a representação na Figura 3. Nessa etapa, o óxido de alumínio
é transformado (reduzido) em alumínio metálico (Al). Basicamente, a reação
que ocorre nesse processo é:
2𝐴𝑙2 𝑂3 → 4𝐴𝑙 + 3 𝑂2
O oxigênio se combina com o carbono, desprendendo-se na forma de dióxido
de carbono. O alumínio líquido (𝐴𝑙(𝑙) ) se precipita no fundo da cuba eletrolítica
e, a seguir, é transferido para a refusão, onde são produzidos os lingotes as
placas e os tarugos.

Figura 3 – Diagrama esquemático da célula eletrolítica utilizada na obtenção do alumínio


metálico através do processo de eletrólise.

Para forçar uma reação em um sentido não espontâneo, a fonte externa deve
gerar uma diferença de potencial maior do que a diferença de potencial que
seria produzida pela reação inversa.

2.2 Produto da eletrólise


O cálculo baseia-se nas observações feitas por Michael Faraday e resumidas
como:

Lei de Faraday da eletrólise: A quantidade do produto formado ou do


reagente consumido por uma corrente elétrica é estequiometricamente
equivalente à quantidade de elétrons fornecidos.

Para encontrar a quantidade (em mols) de produto formado por uma corrente
elétrica em um determinado tempo, temos de levar em conta a quantidade que
pode ser formada por uma dada quantidade de elétrons. O cobre, por exemplo,
é refinado eletroliticamente usando-se uma forma do metal impuro, conhecida
como cobre vesiculado, como o anodo de uma célula eletrolítica. A corrente
fornecida força a oxidação de cobre vesiculado a íons de cobre(II); 𝐶𝑢2+ , que
são reduzidos no catodo ao metal puro na reação 𝐶𝑢2+ (𝑎𝑞) + 2𝑒 − → 𝐶𝑢(𝑠).
Para calcular a quantidade de 𝐶𝑢 produzida por 4,0 mols de 𝑒 − , escreveremos
a razão molar dessa meia-reação, 2 mols de 𝑒 − ≅ 1 mol de 𝐶𝑢 e então,
convertemos a quantidade de elétrons em quantidade de átomos de 𝐶𝑢.

1 𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝐶𝑢
𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝐶𝑢 𝑒𝑚 𝑚𝑜𝑙𝑠 = (4 𝑚𝑜𝑙𝑠 𝑑𝑒 𝑒 − ) ×
2 𝑚𝑜𝑙𝑠 𝑑𝑒 𝑒 −
= 2,0 𝑚𝑜𝑙𝑠 𝑑𝑒 𝐶𝑢

A quantidade de eletricidade, 𝑄, que passa pela célula eletrolítica é medida em


coulombs. Ela é determinada pela medida da corrente, 𝐼, e do tempo, 𝑡, em que
a corrente flui, e é calculada por:

𝑄=𝐼. 𝑡

Por exemplo, como 1A.s = 1C, se 2,00 A passam durante 125 s, a carga
fornecida à célula é:

𝑄 = (2,00 𝐴) × (125 𝑠) = 250 𝐴. 𝑠 = 250 𝐶

Para determinar a quantidade de elétrons fornecida por uma determinada


carga, usamos a constante de Faraday, 𝐹, a quantidade de carga por mol de
elétron, como fator de conversão. Como a carga fornecida é 𝑄 = 𝑛𝐹, em que 𝑛
é o número de mols de elétrons, segue-se que:

𝑄 𝐼𝑡
𝑛= =
𝐹 𝐹

Assim, a medida de corrente e do tempo de aplicação permite determinar a


quantidade de elétrons fornecidos. A combinação da quantidade de elétrons
fornecidos com a razão molar decorrente da estequiometria da reação do
eletrodo, permite a dedução do produto obtido.
3 APRECIAÇÃO CRÍTICA
Ao analisar o estudo, podemos perceber que o estudo da eletroquímica oferece
técnicas de monitoramento de reações químicas e de medidas de propriedades
das soluções. Além disso, é importante destacar que a utilização da
eletroquímica se estende ao refino de materiais, que se fossem realizados
através de outros processos, seriam economicamente inviáveis. Com o
conhecimento teórico do comportamento de reações químicas e suas
respectivas estequiometrias, é possível predizer a quantidade de produto que
se pode obter, dada uma quantidade de reagentes, além de possibilitar o
cálculo da quantidade de produto formada, quando se tem determinada
quantidade de eletricidade. Desta forma, o estudo da eletroquímica é de
extrema importância na caracterização e desenvolvimento de materiais, dentre
outras diversas aplicações na indústria química.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao realizar o estudo, pode-se concluir que o estudo e compreensão da
Eletroquímica nos permite, em conjunto com a Termodinâmica, o conhecimento
do comportamento microscópico das reações, quando submetidas à processos
químicos. Do ponto de vista do potencial químico, pode-se observar que quanto
mais negativo for o potencial químico de determinada reação, mais difícil será
para que ela ocorra de maneira espontânea.
Desta maneira, com a demanda cada vez maior para o desenvolvimento de
materiais metálicos, a compreensão da Eletroquímica possibilitou o
desenvolvimento de alguns processos capazes de reduzir óxidos sem a
necessidade de aquecê-los até seus respectivos pontos de fusão (adição de
fundentes), mas com o domínio do comportamento químico dos componentes
da reação (eletrólise), que é um processo de extrema importância ao refino de
alguns materiais de vasta aplicação industrial e comercial.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VALIM, Paulo. Química em ação.
<https://www.youtube.com/channel/UCvYGE2sOd_g0WgUuqO_bEmg>
acessado em: Junho de 2018

ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química: Questionando a vida moderna e


o meio ambiente. Porto Alegre: Bookman, 2001

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