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“Mil novecentos e sessenta e oito, o ano que não acabou”, como já dizia Zuenir Ventura.
Ano de protesto dos estudantes na França por uma reforma na educação. Ano marcado por
acontecimentos como a liberação sexual, a Guerra no Vietnã, os movimentos pela ampliação
dos direitos civis na Europa e Estados Unidos. No Brasil, um ano marcado pelas passeatas,
protestos, idealismo, greves por melhores condições de trabalho, passeata do 100 mil,
assassinato de estudantes e luta contra a ditadura mi1litar.
Raul lembra de que 1968 foi um ano de muita efervescência cultural, tanto em Porto
Alegre quanto no restante do Brasil. Um ano de muitas manifestações contra o período
ditatorial, ano de congressos estudantis, também um ano marcado pelos grandes festivais de
música, onde Raul começou a decolar para o sucesso na música. Raul havia entrado para a
Frente Gaúcha de Música em 1966, onde conheceu alguns musicistas que o influenciaram e,
por força deste convívio, participou do I e do II Festival Universitário de POA. Participou do
“II Festival Sul Brasileiro da Canção”, etapa regional do festival nacional “O Brasil Canta no
Rio” (TV Excelsior). Sua canção O Gaúcho fica em segundo lugar, atrás de Pandeiro de Prata,
que consagraria Túlio Piva. Na rodada final, no Maracanãzinho, fica entre as doze finalistas e
vai para o disco do festival. Seria a sua primeira gravação em disco, que foi gravado ao vivo.
Elwanger recorda de que vivia num turbilhão cultural, onde conheceu e conviveu com grandes
expoentes da música nacional.
Também nesse ano ele entrou na militância política junto ao grupo esquerdista “VAR-
Palmares” (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, organização brasileira de extrema-
esquerda que participou da luta armada durante a ditadura militar brasileira). Raul não chegou
a pegar em armas, sua atuação foi no meio estudantil e sindical, principalmente em apoio aos
comandos de greve.
Raul fala que, antes do AI-5 (Ato Institucional nº 5), não havia censura no meio
musical. Esta repressão só começou, realmente, no final de 1968. Desde o AI-5, decretado
em 13 dezembro de 1968, recrudescia a repressão política no país. Raul relembra de que os
“militantes” eram muito ingênuos, nem imaginavam o que teriam que enfrentar em relação à
repressão. Ele conta que, apesar das brigas entre os diferentes movimentos de resistência
contra a ditadura militar, o que os unia era a luta para derrubar o regime ditatorial. Conta dos
jovens idealistas que perderam suas vidas lutando por um país livre, com mais justiça e onde
os direitos civis fossem respeitados. Esta foi, nas palavras dele, foi a “Generosa geração de
1968”.
“A vida na clandestinidade não era uma coisa fácil, muitas vezes eu dormia dentro dos
ônibus em São Paulo”, conta Elwanguer. Ele era encarregado do setor estudantil da VAR-
Palmares, morava em uma pensão, tinha documentos falsos e quase nenhum dinheiro.
Raul fala que os membros dos movimentos de resistência, em sua maioria, eram muito
inexperientes, que eles não sabiam como se preparar para enfrentar a verdadeira “guerra” que
a ditadura dos militares promoveu contra quem não estivesse de acordo com o regime vigente
na época. “Nós não sabíamos o tamanho do elefante que viria nos atropelar”, conta Raul, em
relação ao poderio destrutivo do aparato de repressão da ditadura militar.