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GEORGE LA KOFF
MARKJOI-INSON

Irndll(fio

GRUPO DE ESTUDOS DA
lN DETCltt.1JNAÇÃO E DA METÁFORA (C mM)
sob coordenação de Mam SOphitl ZmlOflo
e pela [r:t<lu tor:t Vtm Mahif

METÁFO RAS DA
VIDA COTIDIANA

/'\EIKftDO
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nlulo oo;g; .... em '''!I'h: Mf/hop/l",.,... M. <l1'
c....o do. 01••;,<><, l hO u.;......;,.,. 01 CI\It.O(j<J Pr .... CNc:""". USA.
1980 .,.Ia 1'" U ........ ,v ot (1';"""0. TocIc>o os .... _ ,....... _ .

PAI>OIIIITl.~A'IOMA" Pi 'ATAUX;Aç,iO NA 'V'lI'A~ÃO ('Ir)


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Slo P.ul,,: Edv< . 2002. - ICoi'rIoA. ro,o, d. Unlli)l,li~o Apli..doi

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Seipõono Di Pleno -.1loQueI_ Oegonuojn lPresõdentot

DlA(lTOS R~S(AVAOOS PARA A li~GUA POA'UGUESA:

CI rDC.IC . r_. do P'UC-SJ>


f\w MinõobO GodóI. 121)
CEP O\.OI~·OOI· Slo r oulo· SP
ToI.: (II) 1873·JJ5g - r .. : (111187J.6\JJ
E-moi!: educfi'lluul'.br

C AfC/fC4DO Df tt:TRA S (Olç6($ f UVRA/!/A (TOA.


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2002
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SuMA/lia

APJI.ESENfAÇ-iO A ED1ÇriO BRASI LEIRA .. . . ,


AGRADECIMENTOS 39
PREFAao ..... . -I)

1. CONCEITOS DA VIDA C017DIANA . . ... . . .. . . 45


2. A SISTEMATlCIDADE DOS CONCEITOS M E'[,.<IFÓR/COS 49

3. A .f/S7EAiATlCIDADE METAFÓRICA:
REALÇ.A.NDO E ENCOB RiN DO . . 53
4. AS METAFORAS ORlENTACIONA TS .
5. METAFOlVl E COEIlliNOA Q)LTIlRAL ..
"
71

6. AS METAFORAS ONTOLÓGiCAS. . . . . . . . . . . . . .. 75

7. PERroN1FICAÇ/fO . .. 87
8. A METONÍMIA .. . . . . . . .. . . ... . .. . . . . . •...

9. DESAFlOS .ri COERBvaA METAFÓRICA.


"
lO. ALGUNS O[fJ1{OS EXEMPLOS ." . . . . . . . . . . . .. 107
11. A NAHJREZA PARQAL/)A E..rrn.lT/URA METAFÓRICA 121
12. QUAL.ÉAlJASEFORJ,1/ 1DORADO
NOSSO SISTEMA CONCEPTUAL? ... . . .. . . . . 127
I ). O FUNDAMENTO DAS ME'/Af'OIV15 E..fTRU1URA IS . 133
14. CAUSAUDADE: 1'/IROA Lt\IENTE EMEHCENTE
E P/lRClAL\lENfE METAFÓRICA . . . . . . . . 143
15. / 1 E..rI1WTURAÇAOCOE/{ENTE DA EXPERI~NClA . 153
16. COEIU5NClA METAFÓRICA .. 165

I 17. COE ltbNClASCOMPLEXAS ENTREA/ETAFORAS . . . . • . 179

18. ALGUMAS CONSEQüêNCIAS PAIVI AS


i TEOIUAS DA E.rmU7URA CONCEPfUAL 193
I
19. DEFlN1Ç/fO E COM PREENSAO . . . . . . . . . . . . . . . . 205

j, 20. COMO /1 ME'/:4FORA PODE DAR SEl'n1DOA FORMA


21. OSENTIDONOVO
219
. . . . . . . . . . . . . . . . 235

II
22. / 1 CRL-1Ç/fO DA SIMlLAR/DADE . . . . . " . • •. • " . • •. 2<S

23. ME'J"/(FOIVI, VERDADE E AÇAO 257


24, A VERDADE 261
25. OS MITOS DO OBjEl1VISIHO E DO SUBjEl1VJ5MO 293

26. O MITO DO OBjETlVISMO NA FlLOSOFlA


E NA UNGOÍSTlCA OClDENTA/S . . . . . . . . . . . . . . . .. 305
27. COMOAMETAFORA REVEI../IAS
UMITAÇOES DO MITO DO OBjEI1V/SMO .. . . . . . . . . . )23
28. ALGUI\·lAS INADEQUAÇÕES DO MflD DOSUBjEnVISMO . 3)9
29. A ALTERi\lAl1VA EXPERlENQAUITA:
DANDO NO VO SIJN7."/DO AOS VEU/OS AfITOS .. 343
30. COA'W/{EENSAO 347
POSFAclO .. 357

REFERêNCIAS IHI3UOCfVÍFlCAS . . . . . . . . . • . • . . . . . . 359

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APRESENTA(.Ao A EDI(AO DRASlLE1RA
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Som ente agora, vi nte e dois anos após sua pubUcação nos EU A, está
(
sendo publicado cm língua portuguesa este livro de Lakoff c Johnson,
considerado ho je uma obra pioneira, <\ue já se tornou dâssica na vaSta
ç
(
litcr:Hura sobre a mctâfom. E mbora Lakoff c seus associados tenham
(
muitas obras posteriores, que já se tornaram "uma clássica lis[3 de referên-
(
cias" (St'ccn 1999), o GnlpO de Estudos da Indeterminação e da Metâfom
(
(G El l\1) Optou por traduzir o M tlnpborJ IIIt /;,It '!J, porque ele representou O
(
marco inicial de um progmma inovador de pesquisa.
(
Por se r uma obra datada de 1980, pensamos cm elabo rar urna
<
apresentação ~ edição br;'l silcira para situar o leitor cm relação ao cOntexto (
no qual a obra surgiu, ou seja, Situar este livro cm relação ft ~ (
paradigmática gue se iniciou na década de 1970. Temos consciência, (
entretanlO, de que só é possível alcançar esse objetivo de fo rma sllperfici:ll, (
pois é impossível dar conta da vasta li teratura sobre a metáfor.!. e das (
(

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<J inúmems teorias que su rgirnm nos últimos frlnta anos. Gibbs (1999, p. 29),
(..I
-, por exemplo, nos dá idéia da variedade de teori:'\s 'lue existem hoje sobre
< -& a met:ífor:t. afirmando que, sô no campO da psicologia cognitiva, temos as
(.l)
seguimes [(';or1:1.$:
(..)
( ,
tcoria dodese<) uilíbrio de saliêllcin (Ol1ony 1979; Ono ny ~llIi.. 1985): teoria da inltmç30
( ..;,;..-à
de domínios (T ourll ngcn u e Slcmberg 198 1. 1982); teoria do mnpennW!nto de CSUlllUfõl

(
.!l
<."'.
-" (Gentner 1989; GenlllCr e C remems 1988); ttoria da illC lu s30 de c lasse (Glucksberg e
Keys.1r 1990): e teoria da rnetMOrõl cooccpmnL (Lakoff 1987; Lakoff e Johnson 1980:

( ,J
(
....' , Oibbs 1994)

(3 Po m do campo da psicologia, ele menciona \'IS seguintes:


( ~':)
(J leoriados 11105 de fala (SeMle 1979); troriada ausellCia de scntido (Davidson 1979); ttoria

<j) dos c~mpos sem5micos (Kittay 1987); teoria da cri~30 de similaridade (Indurkhay,]
1992); e teoria da relev!lncia (Sperber e Wi lson 1985. 1986). ~m dúvida, há uma
( ~
~
abundância de idf ias n~ tcntntiva de melhor nplicar a JIlclllforn. (pp. 29-30)1
<j)
(~
(i§) Pretende mos também falar das gr:tndes mud:lnç:ts que este livro

(jj\ provocou, assim como dar uma idéia de algumas obras posteriores do gru po
liderado por Lako ff e apontar alguns tópicos amais de pesquisa no quadro
I(, Jll
teórico da metáfora concepmal.
i( ~ I
J ~ I Embora a teoria propOStll. neste livro se ja apenas uma clemre as

!< ~ I inúmeros teorias sobre met:lforn que surgiram desde a década de 1970, ela

i( .3 I. Neuc luto Gibbl considcl'll ~ tCOfia ,lo Lakoff c Johnson como sendo do domínio d~ psicologia
/@ t
I cognitiva, m:l$ cla considcl'l\d:l USUAlmente como sendo do domJnio da lingUlstica cognitiva. Na
i<, l~ inlroduç30 DO li vro organi Uldo em pa m:ri. COln Steen. M~tlIphor iII coS"il;v~ U"S,dJlks. t.m~m

~ (\', o:Lotado de. 1999. Gibbs e SLecn consideram II. obnI de Lakoff como pcn enc:cllle DO domínio d~

,i: -S.) lingUística Cognitiva.

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tem um fone poder e~plkativo e, por isso, sua publica.ção provocou um
forte impacto desencadeando inúmeras pesquisas.
Esta obm de L1koff e Johnson represem:l uma consolidação da mptum
parndigmfttic:l que vinha ocorrendo desde a déc:ld:l de 1970, pondo em crise o
cnfoque objetivism da medfora (ver cap. 26) c atriboindo a eb un)J/all/s
epistemológico. Essa. vimda. puadigmátic:l rompe com a tmdição retórica
iniciada com Arisrórcles, no sé<:ulo IV a.c., contribuindo assim definitivamente
pam nludar uma bistó":l de ma.is de deis milénios (L:lkoff 1986).
Na tradição retórica, a metáfora em (e é. ail)el:l) considenub um
fenômeno de lingu:lgem apenas, ou seja, um ornamemo lingüísrico, sem
nenhum valo r cognitivo. Era considerada um desvio ela linguagem usual e
própria de linguagens espccia.is, como a poética e apcrsu:l.siva . Além di sso,
o uso da metáfora era indesejável no discurso cienúfico. que deveria se
utilizar da linguagem lireral, considerada, então, clara, prccis:l e determina
da. Nessa visão, portamo, a ciência se fazia com a.mZlio c o li/eml, enquanto
:l. poesia se fazia com a/maginafão c a IIftlriJom.

Para L'lkoff c Johnson, o predominio dessa visiío retórica da metáfora


na. cultur:'l ocidental se justifica peJo que etes denominam "mito do o bjctjvis
mo", "que dominou fi cu!tm:l ocidemal, t em panicular a. filosofia ocidental,
dos pré-soccitieos até os dias de hoje" (p. I95).Para eles. o objetivismo é um
termo genérieo, que engloba o Racionalismo Cartesiano, o Empirismo, a.
Filosofia K:mtiana, o Positivismo Lâgieo etc. Em suma, ele abrange todas :lS
correntes da filosofia ocidental que assumem ser possível o acesso :l verdades
absoluI.1Se incondicionais sobre o mundo objcovo e{\ue entendem :l linguagem
como mero espelho da realidade objeuv:l. Nesse contexto, a metáfora e outr:'lS
espécies de lingu:lgem figurada deveriam ser sempre evitadas quando se
pretendesse falar objetivamente.

"
\, . I 2 . ·
N o entanto, no sec\! O xx, pnmcJr:lmentc na filosofia, começa a se

Ii desenvolver uma mudança radical desse quadro. O dogma da metáfora


corno figu ra de retórica com todas as
começa :1
SU:lS impucações (Ricocur 1975)
ser questionado nas suas bases, 'Primeiramente, por Rich:uds
(1936), d epois por Bcarsdley (1958) c l3Iack (1962). Há influência também
dos estudos de Ricocur sobre a hermenêutica eh metáfora c dos trabalhos
de Heidegger c Dcrrida, que lIatam a questão ontológica ou metafisica
relativa ao sig nificado da metáfora ..
,
"
1b 5, é a pa rtir da déc:lda de 1970, que se dá de forma mais :unpla c
marcanlCa mudança p:tradigmática, que leva a uma reformulação pro funda
na maneira d e conceber a objctividadc, a compreensão, a verdade, o se ntido
c :\ metáfo ra,

Essa ruplura põc em cheque o pressupostO fundamenta! do ob jcti-


vismo segundo o qual nós temos acesso a verdades absolutas e incond icio-
t nais sobre o mundo. Em outras palavras, o objetivismo, nas suas d iferentes
versões, ad mitia sc r possível o acesso ao conhecim ento verdadeiro das
II coisas como elas realmente são, sej a por meio da raziio (na sua tradição
f:lcion:llisl"a, com Aristóteles, Descartes e Kant, porcxcmplo),seja por m eio
d a percepção sensorial (na sua tradição empirista, por exemplo, com Lockc,
Hobbes).

2. /I _isilo ti.:l me!;'lf"", C()mQ fi&u"" de pcnumcnlO. e nil<> 'pcn~s ,Ii:: lin&u'j)em. jil. es la"3 p,e.scnle no
pcnSllmcnlOdo filÓIOro ita1i:anodo 06::ulo XV1I1 Gi.mbaUi'll Vito. l'.m e lc, lanlOOS núIO$qu.n10U
mnHor.. "'pre.scnl.m ,,,,,....,itaS dc d:1f rorma. expc,i~nçia. Todas 11$ fi&u.as dc linguagtm.• nlrC:os
qUlil . ,,,,,,Ior,,.. se dcsIac:I,i. cOlno I m.is in,pon.nlc, r.ri. m pane: da "u.bedori. potIÍt"'" corw;:eilO
inuodul.Ído por Vieo pa •• se ",(eri r '0 wnjunlo dc opcraçllcs cognilivas que levariam à CO/ISuuçi\<) do
.eol. lJe».a (01 "'''. pode-se _firmar que Viro descobriu a (u ....iIo cogniliva d:I met1(on. lendo sido
assim "'" fKccurnordo paradigma cogllilivo da melMora (HaskeIl1987).

12

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" t , ,·~f !; (
(
A mudança paradigmática rejeita esse pressuposto objeti\'ista e suas (
implicações, recusando a possibilidade de qualguer acesso verdadeiro à (
/' realidade do ponto de vista epistemológico. Como descre.ve Ortony (1993, (
r
pp. 1-2), :I iMi:l central do novo paradigma "é de (Iue a cognição é o (
resultado de uma construção mental. 9 conhecimento da realidade, tenhi? (
lsi]",õ"'~'g"c'imn;n""'p"c"<c"c'iP"ç'l'''o','n;;;,ll
, i "Ír~,g;',~,,~g;;e~ou na memória, precisa ir além da ,' (
:informação dada. Ele emerge da interação dessa informação com o con-I (
·texto no (Iual ela se apresenta ecom o conhecimento preexistente do sujeitai (
:~~nhec~:I~.r~ f\õrientaçãO geral de que o mundo objetivo não ê diretamentel (
acessível, mas sim constmído a partir de influências restritivas do conheci- (
mento humano c ela unguagem, é o postulado essencial do enfoquc (
rebtivista (E. Sapir 192 1; Whorf 1956). Por essa rnão, Ortony denomina (
esse novo paradigma de "constmtivista", embora considere essa denomi- (
nação longe do ideal. (
V~rias assunçõcs tradicionais a respeito da metáfora c da linguagem (
/- figurada cm geral pass1am a ser objclo de uma revisão crítica. D entre as (
9.~;;
\81_
assll~ções
,t.td{~.
que, segundo Pollio, Smith e Pollio (1990), sofrem uma revisão, (
~ -I' r\êst~ a .... isão cartesiana segu ndo a qual a met~fora, assim como outras forma s (
J"" j,v'< . (
Jf'!-.t de linguagem figur:!da, "não é conceptualmente útil: guando usada, isso
~" acontece com o objeu\'o de enganar o pensamento racional ou de orna-
·r~
'\. 'r " "
menlar idêias prosaicas" (p. 142). No novo paradigma, ela passa a ter seu {

valo r cognitivo reconhecido, mudando do lia/III de um:! simples figura de (


retórica para o de uma operação cognitiva fundamental. (
(
Assim, a partir de 1970, a metáfora se torna objeto de interesse central
(
das ciências humana~ . mais especificamente; das ciências da linguagem e
(
da psicologia cognitiva. Esta última desenvolveu inúmeras pesquisas em-
(
píricas sobre o processo de compreensão da meláfora, oco rrendo assim o
(

13
(
(
( li
()
I] que Gibhs (1994) considerou um verdadeiro "boonl' empírico na década de
(}J 1970. Essas pesquisas se baseanm, segundo Honeck (1980), no L'UO de que a
( 'll
,~
lingu:l.gem figurada constituia um sério problema para as teorias de compreen-
5.10 e o seu esrudo poderia lançar 1\lzes sobre o processo de compreensão cm
<3
(j gemI. Johnson (1980) também justificava a necessidade de investigações empí-
riClS sobre o processo de compreensão da metáfora por ser um caminho p:tr.l
< ])
desvendar seu rtf/1m epistemológico?
<J
(} As investigações empíricas dessa década - (!uc se caracterizou por

(J "uma explosão de interesse pela linguagem figurada" (Honeck 1980, p. 38)


- se distribuem num amplo espectro de categorias, conforme observa
()
Honeck, no seu texto HiIlorita/lIoltJ 011figllmJivt Iongll(1!!, no qual ele tem como
(1)
objetivo buscar as raízes intelectuais da intensa pesquisa psico~ngüística sobre
( ]i
linguagem figurada realizada a partir da década d e 1970. Foram realizaebs
(~
pesquisas sobre questões indiretamente ligadas à linguagem fi&,lrada, como:
(]I
processos de memória de adultos, questões ligadas ao desenvolvimento,
(,3) aplicações à educação e à psicoterapia, análises da metáfora no quadro teórico
( ,,"
-'1 da inteligência artificial, processamento de informação baseado na analogia.
Outras questões relacionadas à ~nguagem figurada em si mesma também
foram objcto de pesquisa, por exemplo, alguns pesquisadores queriam saber
se a metáfora é entendida corno a ~nguagem ~tera 1 (por exemplo Ortony,
SchaUert, Reynolds e Antos 1978; Gibbs 1984, 1987). Outros queriam saber
o que faz uma boa metáfora, como a metáfora pode ser identificada, se as
( o,~:~ metHoras são mais complexas que seus supostos correlatos literais e qual a
"

(~ rebçio entre as metáforas e os provérbios.


(3)
(JD 3. "Um tr,lIamemo satisfaulriodestc problem;t (OJlOl"IWgnilivoda mcl1foi:.) lequer 1~1I10 um eSludo
do pllpel dJ mct"oca 'cm yirios c~mpos cotI'itivos, (omo UITIII dr:1~lh:lda upliu ç30 do p<oceuo
(~
cognit iyo <le comprunsfto metnfórico. !!.sI. ultimo torefo i o probltu\o flloséflco centrol tia ulCtM"",
(3 Iloje. pois Km um mo<lolo<kcomo nós proc~mos. metáfoca po<lc Mo "a.cr '~posta b quat6c.

(3 rd acionws ao !ia! JIIII... epi~tcmolÓJIico" (JoIInson 1980. p. ~1).

<ID
(:) 14

(@
( -
Nesse contexto de efervescência de estudos sobre medfora t: cogni-
ç:io, mas seguindo um caminho diference do percorrido pelos psicólogos
cognitivistas, surge em 1980 o MeffJphorJ wc /ive ~, de Ltkoff e Joh nson,
provocando uma revolução n~ s pesquisas sobre a metHor.!..

L-Ikoff e Johnson partiram da análise de expressões lingiiísticas e


inferiram um sistema conceptual melafó~ico subj3ceme à linguagem, que
influencia nosso pensamento e nossa aç50. !3-les seguirfln1 o caminho flberto
por Reddy (1979), que investigou, numa análise rigorosa d.e enunciados
lingliísticos, como nós ·conceplualizamos metaforicflmente o concóto de
comunicação, no seu ens:l.io ''The concluir metaphor", que temos traduzido
como "metáfora do canaJ.,,4

Nesse tr3b3lho de 1979, Reddy, partindo da idéia de que uma


sociedade com melhores comunicadores poderia te r menos conffit~s,

procurou investigar como o problema d:l. comunicação se apresenta para


os falantes de língua inglesa. Para atingir esse objetivo, d e se colocou duas
perguntas: "Que tipo de histórias as pessoas contam sobre seus atos de
comunicação? Quando esses atos perdem o rumo, como é que as pessoas
desc revem "o que esti errado e o que precisa de conserto?" (p. 285).

Assim ele analisou enunciados (Iue os fal3ntes de língua inglesa usam


p3r:\ fabr da comunicação, por exemplo, quando da perde o rumo (YOII slill
h(IVfIl'1 gil,en !IIe m!J idea of 114JtJtyOfl ",eall / Você aillda lião !fie dm /lUI!)//!fI{/ idlifl
do que //Olé q/fer dii!r) ; quando são necessárias soluções para os problemas
~Ie comunicação (YO/f bave lo pul each roncepl iI/lo words t'f:ty carrfdIJ / Vod (Itt't
t%rar cada COI/(ú/o em pa/avras com !lmi!o miJado) etc. Ele estendeu essa análisc
a um grande número de enuncjados (llle usamos para falar da comunicação

4. Nós I. mos Inlduzido como ""'IMOO! do canal. ,nas Il olsbach. Gonçal.cs. M i~ li u'lIC~ c Go.n:Ol (2000).
na sua u·oduçio do anigode Reddy, Indu~inlm t<)IllO ,"",dr,,", do CondUlo.

15
c percebeu <)uc eles podem ser or)YInizados cm quatro categonas que
constituem o "arcabouço principal" da metáfora do canal, pois esses
enunciados evidenciam que:

CnlOS corporeamcntc e
~!fla ptSs:'Jpar.! outra; (2) na ~e. na.escÔ!i! as pessoas lusercm seus ns.1mcnlos e
, '"-' '\
\_senlim.:!~?!:~3.~ palavras; (3) ~'~P~,'~"~rn~,;,,d,,~,~';~~~m;t,':"~'~"'~'"~i'~"'1:fi 30 colHer IlCosanlClltos
e SCTíti mc:ntos~e.C(lfl(lu . -los l\.s ÕUlr.lS as; (4) ao OU I ler as pes8Qas eJl:trocm das
/"pensalTl!:ntos e 0$ SClltirncnt novamente.
palavl1lS o~
...-17 "----
(Reddy 1979. p. 290)
,~-
o que parece ser, ii primeira vista, simplesmenle uma forma concreta,
c até cngrnçaeb, de falar da comunicação, revela-se, na argumentação de
Rcddy, uma fo rma capciosa c nociva de se pensar a comunicação. Ou seja, a
meláfora do ca nal revela a crença de que a comunicação
.... é umtill
- .. -d-tEle ideal: .
~~--- "" ,, ~ ~,. ~.-,....-'-

uma comunicação com sucesso garantido, na qual o ouvinte (ou leitor) teria
o simples trabalho de pegar o signiucado que está nas palavras e colocá-lo na
sua cabeça. Em outras palavras, a metáfom do canal é uma "forma congelada
de pensar" (Mey 1994), automatizada, segundo a qual as pessoas pensam c
interagem, sem ter consciência dela, ou seja, ela constrói um quadro ilusório
da comunicação c nós nos comunicamos regidos pela crença de que o
fazemos de fo rma unívoca c transparente e não de que estamos constmindo
o sentitlo com base cm nossas experiências e conhecimento de mundo.

r:: Reddy conclui que esses enunciados do arcabouço da metáfonl do


canal confirmam a tese de Weinrekh de 'Iue "a linguagem é sua própda
metalinguagem" e de que a metáfora do canal ê lima estrutura semântica

II real e podcrosa na Iíngu:l inglesa, {lue pode influenciar os pensamentos e a


ação dos falantes de língua inglesa.

16
(
(
(
Seguindo a trilha aberta por Reddy. L.akoff c Johnson deram um (
tratamento mais explícito i . metáfora do canal ao descobrirem as metáforas (
~nccptua'i s subjacentes às expressões lingiiísticas metafóricas. Com isso (
eles demonstraram ([ueo que antes era percebido como expressões jingüis- .(
cicas individuais que reneciam metáfo ras mortas difere ntes, era governado (
por gcncr:I!izações: as mctil~o ras conceptuais O ll conceitos metafóricos (
(L1.ko ff 1993; G ibbs 1999). Assim L1koff e Johnson mostram que os (
enunciados analisados po r Rcddy são manifestações lingüísticas de mctá- (
foras conceptuais. Dessa forma, eles consideram a metáfora do canal como (
uma metáfo ra complexa, co nstituída por uma rede de metáforas concep- (
tuais (represe ntadas por maiúsculas), quc sc manifestam nos cnunciados, (
. 5
como se po d c vcr '!.JicgUlr: C
..e; .y(AV ~~ ' '''i..v.;''-<Â .
.r-. t ;;~ (
g<.JJ ~ 1\IENTE TI UM RECI PI ENTE (
;~- N:ío cOn Sig~esSa musica d:l. minha cabcça. . (
I Sua cabeça eJla.a lC idéias intcrcssantes. (
Será que vou consegui! m.ft(l7ssas cstatíscic:l.s n:l. tua cabeça? (
(

Quem
Não
te
B. IDÉIAS (OU SENTIDOS) SÁO 013JETOS
essa idéia?
c;gvs.cgYL~7Ch;;'cssa idéia cm nenhum luga r do texto.
(
(

, -
(
Você tIIC'Jlltnmí idéias melhores que essa na biblioteca. (
\ /.

(
(
(
5. L.>kQff e JQhnS(ll' ( I !>80. p. 10) apontam q~: " R.-ddy OOscrva que _ linguagem sobre li linguagem
é clIIUlUrod. npro~i",ada"ltnl e pela seguinl e llIel~r<>ra eOIllI" eu: IDÉIAS (OU SENTI DOS) SÃO (
OUJECTOS. EXPRF.ssÕES LlNGO fsnCAS SÃO Rr:CII'mNTES. COMUN ICAR É r:NVI AR "
(
La);off (1!>85) lICru<:o;:nt3, como primeiro conceito dc.ua rede: ~IEI'l"ffi i'l U1>1 RE0 1' IEI'fffi (DE
IDÉIAS ). E. [lara recharo cin:uilotla comunicação. pode·se ac,,:scc ntar; CO:>ll'RE!lNDI]R É PEGAR. (
(
(
17
(
( ~
/ tU '
<J c. PALAVRAS oy..l~XrRESSOES UNGOiSTlCAS SÃO REoriENTES
(:J Não consjgo~hj nhas idéias em alavrns.
( II
O signi ficado é o qu t~as lavr. J, bem aí.
( :\li Ouando você tiver lima boa idi:ia, tente ,jp{~ imediatamente
~ r -,--a1áv-'"'
(
rmp r.'?!)
-' -
D. COMUN ICAR Ê ENVIAR OU TRANSFERIR 1\ POSSE .;Y..:.
.,.
( -C.
~.
Ati: que enfim você está conseguindo pauarsuas idéias parl mim.
(D Vou tentar pauaro qUi! tenho na cabeça.
( }1 Eu lhe dei eSS:l idéia.
( )
E. COMPREENDER ~ PEGAR (OU VER)

Pegllt1 d que você quis dizer.


Não consegui pegar o sentido desse texto.
\ ~
~ Você pode t'er idéias coerentes nesse tr:'lbalho?
( ])
J) Lakoff (1993), reconhece a relevância do tI1l.balho de Reddy, por ter
(â) contribuído plica afastar de uma vez por Iodas a visão tradicional da
( met{iforn como desvio da linguagem cotidiana e como fenômeno de
(.:; A. linguagens espeCIaIS, como a poéuca e a pe rsuasiva Reddy conseguiu
( ~ j: ' demonstrar por mela de um caso slgmficatlvo que ~t5-?}
(? ' ~~d~~ê c~,~;>.!l:!,~e~~JLra.lj~9'!o~~\r~9. ge
~ conceptualizar o mundo. E L1koff conclui que "embOr:l Outros teóricos
( .li): ~~~ll:H~:~~~Ío~~I~:';as desms características da metáfora, Reddy foi o
( :)i primeiro a demonstrá-Ias por meio de rigorosa :lOálise lingüistica, afir-
~( 1 mando generalizações sobre grande número de exemplos" (p. 204).
( :
(

18
!:~~
i<!' "w,<
~j Enfatizamos fi influência de Reddy, por te r sido fi mais din:[~\ e
'V'imediata, fato reconhecido pelo próprio L,koff em seus textos de 1986 e
1993. Mas é importante observar que Lakoff c ] ohnson reconhecem sua
dívida intelectml a muitos outros pesquisadores nos ag r:ldccimcmos, em-
bora muitos deles não tenham suas idéias explicitamente disculidas no
corpo do trnbalho.

L'lkoff e Johnson avançaram em relação a Reddy, por terem feitO


uma ampla análise de enunciados da linguagem cotidiana e terem desco-

berto que~~e~~i:, ~~epj}!~~ ~~Ia.:


(óri o q~'!l~~~.$..!~S..§1.l3ª-o. Ou seja, assim
como fi metáfora do canal não é simplesmente uma forma de falar sobre fi
comunicação, mas uma forma de pensar e de agir quando nos comunica-
mos, as outras metáforas ela linguagem cotidiana também influcnci\11ll
nossa vida: são metáforas qJlt vil/moamos cotidianmoenle.

Logo no primeiro capítulo deste livro, os auto res nosJomecem um


exemplo de medfom que penneia a linguagem cotidian:t e na qual nós vivemos
imersos sem dela tennos muita consciência:t1<Çi'ScU'~ó';rG~EiUtA;L1koff e
~. '. (
Johnson se apóiam nesse exemplo parn nos dar o seu conceito de metáfora,
que consiste em "compreender e exoc:rienciar uma_____
~ ~ ""'-"""-'-'.
coisa. . . em ternlOS de outra"
__ _.........--......r------.._.-
(p. 48), ou seja, ~~t;x.~e.nci;n:.?s.:~~__son~~.ws!!~.
Assim os enunciados abaixo não são simples formas de dizer, m~s. f?!.!;l~s~:
., pensar e c!.e agir: "V
"-- ...--._.
,...h I"'"-/~· ·.'''' \-
,
• Suas afirmações são indeft,wÍt~is.
...c.-
r~ ... l<..o cl... .r' r. ~?

• Suas críticas foram tlirelo nO (1/1/0.


• Eu nunca o /Jtno numa discussão.

19
Esses enunciados revelam que nós concebemos a discussão como
---
uma guerra. Se nós a concebemos assim, agiremos de forma coerente com
--- ---
~._-~ -
essa concepção, ou seja, ~cussão have~ uma disputa pelo poder e
hav!!r:i vencedore;s vcncido~J)ara nos con scientizarmos desse conceito,
c-_--..- - ~.-
Lakoff e Johnson propõem que imaginemos uma cultura na ([ual a djscus-
5:10 seja vista como uma dança. Nessa visiio (ou conceito),

os parlicipantcs sejam vistos como d~nçarinos e em que I) objetivo seja reali1;.v uma dallÇa

(
,
de modu equ ili brado e csteticamente Igr.ldâve\. Nessa cultura, 3$ pessoas pcrccberi~m

discussões Ue outra maneira, e.tperic!lCiariam 3$ discussões diferen temente. teriam desem·


penhos d iversos e fnlariam delas de um modo diferente. (p. 47)
as

Inúmeros outros casos semelhantes a esse vêm desafiar o pressupos-


\
I. ~:st:~::~:::lu'I~: ~:~~l~~~::~r~t~~:::::,:~;:r~:::::~:cl~~:::~~::í~::~:
metafóricas seriam met<Ífof<1s dife rentes. Assim, o enunciado "Não comigo
ganhar dde numa dimmão" seria uma metáfora, o enunciado "Ele foi dirtlo ao
1l/t'O" seria outra metáfora, e assim por diante. Mas para Lakoff e Joh nson
nós temos aí uma só metMora: DISCussAo É GUERRA, que se realiza em
diferentes expressões lingüísticas metafóricas, que não são :aleatórias, mas
form:am um sistema coerente. Enunciados como esses levaram os amo res
:a postular que ;.!~1~::V?5~ ~J?~i.rn_qrqi", l t:tJ-eme . c.O!l::r~~~! e)n... part: .do
S~IS~~_?~rio.J!.?...E..~~nre..Ç da ~ngll!!g~~·
O fato de Lllkoff c Johnson terem descoberto um imenso sistema
conceptual met.,fórico subjacente à linguagem cotidiana fez com Cjue uma
série de dicotomias objetiv i s~s caíssem por terra, num efeito dominó,
começando pela revisão da distinção literal/ metafórico.

20
(
(
(

G
Como eles demonstraram que grande parte dos enunciados da (

linb'llagem cotidiana siio metafóricos, o literal fi cou limitado àqueles con- (


ceitOS que não são compreendidos por meio da metáfora conceprual. (
(
Exem plificando: uma ftase como "o balão subiu" não é metafórica
(
e taOlpmICo "o g:l to está sobre o tapete". a velha e favorita frase dos
(
mósofos, é melafÓrica. Mas tão logo nos distanciemos da experiência
(
concreta e comecemos a fa lar de abstrnçôes e emoções, a compreensão
(
meta fórica é a norma (Lakoff 1993, p. 205).
(
(
1\ revisão da dicotomia titcral/metafórico leva ao questionamento de (
outra dicoto mia: a da tinguagem cotidiana/tinguagem literária~~~ (
retórica
_ a. -tingu
_ a.ge!~!...f}g~
. . : ; _ rada
_ _é um desvio
~_.
d.a....lin~ag~~
__ ._.-0'>" __ _ ual, e, canse- (
qüent'emellte, própria de linguagens especiais, como a poética c a persua- ,(
siva, o que :'Icaba resultando na oposição linguagem cotidiana/ linguagem (
poética. Essa dicotomja estava assentada no conceito de figura como desvio ,(
da linguagem cotidiana. Ora, nesta obra, os autores mostram (lue a lingua-
.f
gem cotidiana é densamente metafórica e apenas parcialmente literal. E, cm
,(
obra posterior, de 1989, em parceria eom Turner, L1koff mostra que o (
sistema metafórico convencional é a base da compreensão e produção das (
metáfo ras do texto literário. Com isso cai po r terra a dicotomia linguagem (
literária/linguagem cotidiana, assim como o conceito de figura que a
f
('nmdamellt:t: a figura' não é mais cons iderada algo desvia nte, marginal ou} (
periférico, mas sim um fenômen o central na linguagem e no pensamento, (
sendo onipresente em todos os tipos de linguagem, na cotidiana e cienLÍfica /
inclusive. (
Se n:\ tradição an terior a ciência se fazia com o literal, ou seja, só f
podíamos compreender o mundo por meio da linguagem literal, Lakoff e /{

<'
,C
21
i.
(fi
( 2~ johnson mostram que compreendemos o mundo por meio de medraras,
( ~)

" pois muitos conceitos básicos, como tempo, quantidade, estado, ação etc.,
(~
alem de conceitos emocionais, como amor e raiv:l, são compreendidos
(d metaforicamente. Isso vem mostrar o importante papel que a medfora tem
() na compreensão do mundo, ela cultura e de nós mesmos. Desse modo, a
(y tcoria de Lakoff e Johnson, ao atribuir à metáfora um importante papel
( ."
j
cognitivo, contribuiu decisivamente para consolidar idéias de aurores como
( ')
• Hcsse 6 e Kuhn, que defendiam a idéia de que a metáfora e o raciocínio
( ~~
analógico desempenham um importante papel na atividade cicnúfica .
(3 Como conseqüência, as idéias objetivistas de que a ciência se faz com a
() razio co literal;e a poesia, com a imaginação e a metáfora perdeu a validade.
(.ll Aliás, Lakoff e Johnson também argumentam CJuc a metáfora une razão e
(:J imaginação, isto é, é uma racionalidade imaginativa, essencial tanto para a
(~
ciência conlo para a JilcraUlra.
CD , /
~,J1~m oposição ii teoria cartesiana, corpo e mente não são mais vistos
(~
(J!) l,' I;jt",;.!' ~~mo separados, pOIS, segundo ~akoff e Johnson, compreendemos .0
;1 ~ ~Ull( a r mela de metáforas c n í as co ase em nossa ex CrLênCla
(~
t( ,y\1 a rpara!. Nossa corporeidade c nossa men te interagem para dar sentido ao
(~
t" Joi.:~~ mundo. Esse aspecto fica c\'ideme, por exemplo, nas metáforas oriema-
( J!)
,I ~.f' ~r cionais, como FELI Z É PARA CU"'''A e n USTE É PARA BAIXO, que se
(3 ,,~t
(' r-
~ '~~'~~1anifestam cm enunciados como: "uloll me sentindo para n!hll", "e/e uM de
(J;l
tftf'('"v""mIo
I ,4'( OJe. E:.sse conceito
.
(ID I J (lslra' "; "ele
J '
{(I/tI em (lepnus(/O,
I - " ele uM' p(lra b'
"J (liXO h'"

(~
( ::11 6. lleuc. com seus lnob;itllns de t966 e 1\174, foi uma pioneiro ltO JIfll'POf uma recorocepluol;~ação

p;apcl da melJrora lia Itiviibdr:: cienllfica. (Hesse, M. Mocltls 11M nnnlOKitl iII Jcitnct. NOue DanlC,
do

q~ t Indiana. NOtre DanlC U.l'ress, 1966. TIt. JlruClUrtofscitmific ill/tUllct. Londres. MaeMil!an. 1974).
( ;:) I As idtil$ de I( uhn. relativl$ a urna levalorizaçllo das noçOc:1 de modelo e IlIciocfnio analógico.

( ti
(~
'I contribuíram pant UlTUI
cientifica.
.~;der ...io do I'I'pel da met,uOl1l cm Iodas as dimen.<õcs da atividade

(@
22
(@
(@
(
"--
- '"
:!ff\ metafó[ic~ tem uma base fisica: quando estamos tristes, ficm~os con~ fi

} ~
r postura Calda, equando estamos felizes com a postura creta. ASSIm o efeIto
dominó leva a canceb.rmos outra dicotomia: a oposição mente/corpo.

Mas o efeito dominó não pá rfl por aí. O conceito da melHora como
um mecanismo fundamental de compreensão leva ao ques tio namento de
omras :lssunçõcs objetivis tas rchuvas ao sentido, à compreensão,:i verdade
e i objctividflde (ver caps. 25 e 26), culminando por qucsuon:\[, num sentido
ma is amplo. a oposição obje tivi smo/subjecivismo. Se o enfoque objetivism
o perava com as dicotomias - ~zão e emoção, li teral e meta fórico Ctc. -

L.,koff eJohnson propõem o enfoquc experiencialista (Iue constituiria urna


síntese, pela qual a medror:l., p or exemplo, seria uma racion:l.lidade imagi-
n:uiva, unindo razio e imaginação.

Em suma este livro provocou uma revoluçio nas pesquisas sobre a


medrora, representando o lançamento de um programa inovador de
pesquisa, que foi desenvolvido por L'lkoff e seu gnlpO em várias o bras
Oohnson 1987; Lakoff 1987; Turner 1987, Lakoff e Turner 1989 e L1koff
1993 etc.). E le deu um novo impulso:'ls pesquisas sobre a metáfora,_sendo
possível dizer que podemos distinguir, a partir de 1970, dois g randes
mo mentos: o primeiro, na década de 1970, e o segu ndo na déC:lda de 1980
em diante. No primeiro, as pesquisas foram, talvez, mais intensas na
psicologia cogn itiva e culminaram com o utra obra marc:mte em 1979, a
colctânea Met(lphoT(fl/d Ibol/gbl,7 organizada por O rtony, na quaJ saiu o artigo
de Reddy. O segundo momento. no CJual, devido ii publicação do MtlapborJ
11ft lit't I?Y, se dá um novo impulso às pesquisas sobre a metáfora. P ara Gibbs
(1999), foi, pro vavdemente, a proposta central deste livro - de que a

7. D a foi rcc,J,(~d" em 1993. aprc: .. nlallllo t'ltOO um anigo de Lakoff c .. m de Gibbs. I"'kóIo&o
cogn;livisll que forneceu evidtocia cmpfricl da teoria"" Lakof( e .. us parceiros.

23
sistem:nicidade das expressões meta fóricas convencionais constitui "uma
importante font e de evidência de que as pessoas pensam metaforicamente."
(1" 42) - qu e fez com Clue a metáfora se transformasse em um tóp ico de
interesse cen tml para as humanidades e ciênci:IS sociais nos últimos 15 anos.

".
Nas obras posteriores, a teoria vai sofrendo trans formações e sendo
alicerçada em suportes mais sólidos. O próprio conceito de metáfora v:l i
se trans fo rmando. Neste livro, Lakoff e Jobn!ion usam o termo "metáfora"

-
para
~a
~e referir ao conceito metafórico, que consiste em experienciar uma
em termos de outrai O t~ rmo

se referir às expressões lingüísucas individuais.


"expressão metafórica" é usado para

Em textos posteriores de 1986 e 1993, Lakoff transforma o conceito


nlet..1.fórico cm mctáfora conceptual, que vem definida de forma mais
complexa. Para nos dar o conccito de metáfora conceptual, L.1.koff (1986)
recorre à nossa conceptualização de AMOR COMO VIAGEM , que se reflete
cm expressões lingüísticas como as que seguem:

Veja a que /1OII/Q IIÓS c/u:galnOJ.


Agora não podemos mllar (Jlrtis.
Nós CS.~lnoS lIIuna tIlCnl~i/I"lIll1.

Nossa relaçoo n:\o vai chegar a IlIgar nenhum.

Baseando-se nessa metarOm, Lakoff explica a metáfora co ncepnml


d:l seguinte maneira:

A IIxtiiJorn ell yolve a COlTlII!"eCns30 de um domín io da eltpcriênei~. o amor. em termos de


11m domínio muito diCerente da expeiiêocia. as viagens. 1\ Ifltt,sCora pode ser entendida

24
(
(
(
OOnlO um mape:unenlo (110 senli ~ mnlem{itico) <.Ie um do mínio de orige m (ncste caso, as
(
vi agens) a UIII <.IonÚn io nh'o (neste caso, o amor). O mapeamento é estmturado siSlemnti·
eamcnle. Há correspondências ontológicas, de ..cordo oom as quais as entidades no
(
domlni o do amor (por excmplo, o~ am anles, se us objclivos comuns. suas dificuldades. a (
relaç30 aJIIOU)Sa ele.) oorrespondem sistcmalicamcme a entidades no domfnio de li ma (
vi agcm (os viajamcs, o veiculo, os dc.stioos ele.).
(
(. ...........) (
(
Oque oonSI;tu i a me t:\foralema amor·como-viagcIII não é nenhuma pa lavra 0 11 e~pressào
particular. fi o mnpeamento olllológico e epiSlêmioo e nlll' domínios conceptuais. õo
(
o (
do mínio fonte das viagell$ ao domínio do amor. A metMora não é urna qucstl'io apc nas de
linguagem. mas de pen5<1memo e I1l7Ao. A linguagem é o refle~o do mapcamcnlo. O (
mapea mcnto é convencional. 11m dos IIOSSds modos convencionais de elllender o amor. . (
(Lakoff 1986. pp. 216 -2 17) J.
( \
I'; ~
i-i Para designar o nome do ma peamento, Lakoff c johnson ado taram
como estratégia representá-lo em letras maiúsculas, seguindo a fo rma:
Le
J: \
~
DOM INIO-ALVO ÉDO~ÚN I O-FONTE, ou também, DOMiN IO-ALVO COMO
4>"
DOMiN IO-FONTE.. E os nomes dos mapeamentos, que não devem seI , j(
confundidos co m os próprios mapeamentos, têm também uma forma , ,
.(
.:;, ~
proposicional. '- -(
\; \ ~
Q mapeamento AMOR É UMA VlAGEJo..I faz parte do nosso sistema ~' t(
~ concCj~rual e per~te explicar porque entendemos facilmente usos novos
'-.; -S )~tiv2s do m.are:lmento, por exemp~o, n:lli~g~agcm~:árl~_Es~o
.! , c (
" '-,
.. -'(
f-+t {, ~blet'v? ~.~~ Iivro .L1~O~~~~lyarce~ri~~~~ur~:.r,-;-- ( ~

1
de
- ,
;j ~ mostrar que as metáforas conceptuaiS fazem pane do sistema metafónso 0.(, (
de 1989, ou slja,
{
! _. ----
C:.. ~nvcnc lo n:l [ de ~a dete rmjnada g,l.~que elas nos permitem enten- (::t '< (
. der o uso criauvo que poet as fazem delas, Há também os livros de TurneI (
- ~-
(
(
(
(
25

'-
\ .©
(J com os mesmos objetivos: DtulbiJ IIN molhuojbtiJJI!J (1981) e lVading múui!:
3 tht sllf{!J of ElIglish in 1M agt' of rognifit't sátnft (1991).
\~
Um outro dsssnyoJyjmeoto importante no trabalho de Lakoff foi ;l
(d ênfase d:tda aos aspeçtos filosófico e epistemológico da significação nas
(fl línguas naturais, especialmente na obra Womtn,jirtand dDfIIP"OI/J Ihings(1981).
(3 J)(: fato, cerca de um terço dessa obr:a de 600 p:iginas é dedicado às
( )
implicações filosóficas de sua teona sobre a medfara e o sentido. Se
<,) Mttaphors 1I-'t lit't I!J era um livro pioneiro, IP'Oflltn, jirt and dangtT'OflJ Ibings é
( ]) ,.
• uma pesquisa sobre os fundamentos de uma teoria cognitiva da significa-
( flí ção, sendo !lssim muito mais ambicioso.
( ~~ I; E.Je foi redigido sob a égide de dois 6lósofos d:t.linguagem: \X.'i~nstein
( ;;J ~
e Putn:tm. Wittgenstein é reconhecido como o filÓsofo gue assestou

:; I( ~.
~!
poderoso golpe na teOria clássica de categorização. ao mostrar gue catego-
rias semânticas se orgaoizam em torno de semelhanças
. - de bmma entre _.
,,-
difuentes propriedades, conmditãndo jlssim a tradição aristotélicíl....ijUS:
~
.oer~
t.mova as propriedades semânticas como coodições necessárias e suficien-
tes para a identificação de u !llil~gori~.

Ainda mais importante é o papel reservado a Pumam. D e fato, Lakoff


vaI encontrar nesse ftIósofo um aliado para sua cdtica ao paradigma
objetivista. Ele parece buscar um fundamento epistemológico para a
empreitada teórica iniciada em Mllaphors wt ú'w I!J.

Se a obra aqui traduzida cemra a atenção oa '1uestão da metáfora


como estruturadora do conhecimento e da experiência, o o bjeto de pesqui-
sa em !f/O!Jllll,jin Qnd daI/girou! Jhing! é muito mais abrangente: trata-se de
investigar como construímos as categorias que dão sentido à nossa lingu~-
-
gemo A metáfora passa a ser uma das formas de esrruturar as categorias e
~

deixa de ser o foco central da pesquisa.

26
Para fundamentar sua teoria da categorização, baseada nos modelos
cognitivos idealizados, L'lkoff se opõe ao modelo dominantt: nos campos
da scmântica e da filosofia da linguagem. Esse modelo dominante ê o da
semântica de condições de verdade. Para criticar esse modelo, Lako ff cita
os trabalhos de Pumam que problematizam as noções de verdade, de
refcrência e de interpretação embutidas na semântica dt:: condições de
verdade.
Dois aspectos do trabalho de Putnam parecem fundamentais parn a
empreitada teórica de Lakoff. Em
, primeiro lugar, a semântica de coodiçpes
de verdade estabelece uma conexão direta entre símbolos e çojSí\S,.s...p..JWI
isso pressupõe categorias "naturalizadas" no mundo, as~~ais os símbolos
lingiiísticos gossam se associar. No entanto , a referência
, não é dada
independentemente no mundo (a argumentação de Pumam é bastante
complexa e não vem ao caso aqu9.

Um se~ndoas ecto ~9ue a semântica de co~içõe~e.Y.~rd!!9JW-!!Ça


~ linguagem como um conjunto de símbolos não-interprerados. O uso
dessa linguagem se caracteriza pela manipulação de símbolos, em confor-
midade com certas regrns formais (Lakoff 1987, p. 255) . Como mostra
Pumam, teríamos então o paradoxo de poder usar a linguagem (aplicando
regras simbólicas) sem saber o g\le essa linguagem significai Os modelos
semânticos formais não explicitam corno se dá a passagem cio uso de
símbolos para a interpretação desses símbolos.

Lakoff se fundamenta nessa crítica de Pumam pam recusar o pam-


digma objetivista, que esvazia a catego[ização semântica de seu valor
significativo, jogando o sentido o ra para catego[ias "n:1.turalizadas", ora para
a simples manipulação de símbolos. Pam Lakoff, a calegorização (enele a
cognição humana; segundo ele, as pessoas não manipulam símbolos for-
.{U>,/"','-;...'\.... 4 -.......,.,....,...... . .
,
27
,

---
mais dcsprovid Q~~tc ntido, mas usam tais símbolos porque eles fo.,.!.am
construídos Rda capacidade humana d":"c.:!.<:goriz!.ç~o. E a metáfora é U~:l
-
-"d"'-'c[c'o'Oc",,~,~d:c:,,:,:...:c:,!p:,:,=i,:j,=d:c:-.::h:u:m:,:,:,,=-.:dc--'------'.---"'=
produzir sentido'-='--_.
através da
~tcgoriza~

Em resu mo, o que era cm Melaphorl u:e live by urna pesquisa sob re um
tipo de linguagem (a linguagem figurada) abriu caminho para \!Ina indaga-
ção sobre a signific:lção lingüísuca de um modo geral no trabaU10 postcri~r
de L-1koff.

Quase duas décadas após a publicação de .\ltktphorr u·'(: h"LV: i!:;, George
L1koff c Mark Johnson repetem a p:trccria na obra PhilolOpo/ in Ihejlesh: Ih(
tmbodied /IIilld mld iII eballlllgt lo /t'u/em Ihollgbl, na qual enfrentam o desafio
de <lllcsuonar os alicerces da filosofia ocidental :llravés do que vêem como
resultados ou " lições" de pesquisas empíricas provenientes das ciências
cognitivas.

/ y \ Em primeiro lugar, a mente seria "corporificada", isto é, estruturada


Yy·
t ~ ~ ~~través de nossas experiências corporais, e não uma entidade de natureza
I ofI'l(P' p..~.lCame1ltc metafisica e independente do corp..:'. Da mesma forma, a razão
não seria algo que pudesse transcender o nosso corpo: ela é também
"corporificada", pois origina-se lama da natureza de nosso cérebro, co mo
das pecualiaridades de nossos corpos e de suas experiências no mundo em
que vivemos. Com isso, descon ~ rói-~c_ o pualismo Cartesiano entre corpo
e mente.

Em segundo lugalj_quase todo..e:.~~e nt~T consciente, uma vez


que r.:io temgs acesso. w E!,ÇcanisffiQ.$ que no t.pe rl!Jit~ m , por exemplo,
entender um simples enunciado (desde a identificação de um segmento de
fonema s, até o fazer sentido sem~ntico e pragmático deste enunciado, para
citar apenas alguns desses inôme~s mecanismos envolvidos no processo

28
,
(
(
de comprecns:io c produção lingüística). Segundo os autores, a própria (
consciência vai além da percepção de fenômenos físicos, ou da consciência .<
de estarmos conscientes; esta só é viabilizada por este conjunto vasto,
inconsciente c inacessível que deve estar semp re cm funcionamento para
!
que a própria consciência possa operar.

A última grande implicação dos estudos das ciências cognitiv:ls (

focalizada na obra cm questão nos remete à tese ccntr.ll apresentada no (

MtfapIJorr Ult Iit.>ely. OE.c.C?nccilos abstraIas sio, cm sua maioria, metafóricos. (

A descoberta de ([\le, :la contrário do que prega a tradição p!;ltônico-aris- (

totélica, CJuc vê as metáforas como simples orn:t,mcntos dispensáveis de (

natureza poética ou retórica, a metáfora seria, fund:unentalmenle, um (

recurso de pensamento 00go, um aparato cognitivo) ql1e nos faz falar, ver (
" (
c agir sobre determinados fenômenos de uma maneira e não de outra.
Medforas conceptuais como "DISCUSSÃO E GUERRA" e "TEMPO E (

DINHEIRO" fOf,lm amplamente discutidas e empiricamente demonstradas (

no primeiro livro a~vés de vários exemplos de arualizações lingüísticas (

dcssas metáforas encontradas na língua inglesa. (


(
Em Phi/oJopJ!] iII lhe jleJb, no entanto, as mctMoras conceptuais mais
(
explo radas são aquclas'lue fundamentam os conceitos mais ca ros:'i. fil oso fia
(
oddcmal, como O de "cu", "tempo", "causalidadc", e até mesmo "morali-
(
dade". Os autores procuram demonstrar como esses conceitos são meta-
(
foricamente fundamenta dos . Além de não Serem de modo a lgum
(
transcendcmais o u racionais, eles surgiram de nossas experiências corporais
. . (
com o meIo em '1ue vIvemos.
(
Para deixar claro o objelivo dc dcsafio às bases da filosofia ocidentOl I (
(guc jâ está expüci tado no próprio tít1.llo da obra), a argumcntação percorre (
as seguintes ctflpas: como a mente corpori ficada desafia a tradição filosófica (
(
(
29
(
,~
~~
ocidental, a ciência cognitiva das idéias filosóficas básicas, a ciência cogni-
cjd tiva da filosofia e, finalmente, a filosofia corporificada.
(3
(.))
(.)
( ,) Em rdação:ao desenvolvimento atual de pesquisas no qU3dro teôrico
\J I da metáfora conceprual, vamos nos restringira algumas questÕt:s levantadas

( "
~' por Gibbs (1999a, 19%) e Steen (1999). Esses amores lev3ntam questões
sobre as internçõcs entre a metáforn na linguagem e a metáfora no pensa-
mento, ou, em termos mais concretos, levantam a questão centml: "Como
~

~ emos determinar em que med"da a in ~q'5- a~~n

reflete aipo sobre a maneira IX:la qual elas possivelmente aensam merafo-
~~~ ....--.~

~ (Gibbs 1999a, p" 42). Essa questão, que diz respcito ao


posrubdo principal de L1koff e Johnson, se ramifica em muitas out"r3s que
I-
têm a ver c~m as internçõcs entre a metáfora na linguagem e a metáfora no
(, I pensamento.
", Steen (1999), por exemplo, reconhece que L.akoff e Johnson conse-
guiram demonstrar muito ~m que há claros exemplos de expressões
Iingiiísticas que reflerem metáforas conceptuais e que os estudos da relação
elllre metáfora e cognição humana já atingiram um pontO em que a teo~i:l.
da metáfora concepmal é aceita como um importante componente da teoria
geral da metáfora" Entretanto Sleen levanta a questão II respeito de como
os lingüistas cognitivos chegam ii metáfora conceptual a. par!ir da metáfora
lingüistica, em outras palavrns, ele se pergunta sobr~",qua~prQÇcdi­

!!len~ pitra ."~e R.oder ~tcidl19u_e met~fgrns conceP':t;ai§. V.5JfIl\l;º!g,as


. exprgsõ~ingilis&s elP{~" Considernndo:l. necessidade de se pen-
sar um procedimento que permita derivar metáforas conceptuais de metá-
foras lingüísricas, o autor propõe alguns passos fune!amentados em análise

30
lingüística, não em processo de compreensão da metáfora, que de consi-
dera cumprirem o objetivo de reconstruir o c:lminho supostamente utiliza-
~. '--.---._- . - - .'_.--...
do pelos tin~stas cognitivos.
,,---.. . ~--

Gibbs e Steen (1999) na introdução do livro Meltlphor in cogmlitoe


lingmJJiCJ, comentam que a Lingi.iíscica Cognitiva, n:l linha de L\koff e
Johnson (1980) tem tratado as metáforas Iingüíscicas como expressões de
metáforas conceptuais preexistentes na mente do f:llante e sugerem cautela
na aceitação generalizada do postulado segtmdo o qU:l1 os conceitos
metafóricos descobertos pelas anâlises lingüístic:ls preexistem armazena-
dos na mente do usuário da língua.

Para os autores, as explo rações das metá[or:ls concepruais realizadas,_


pelos lingi.iistas cognitivos e seu rico conj\lOto de implicações não sofrem
as limitações do desempenho humano individual. Eles acreditam, no
cnt!lnto, que !IS ~as não possuam as mesmas metáfor:l.s conceeniais !lI:!..
mesmo grau de elaboração como ê sugerido pela análise dos lingiiistas e o~
alertam para que sejam cautelosos ao assumirem que os resultados de sUM
observações sistemáticas da língua necessariamente impliquem que rodo \
indivíduo possua tOdas as complexas metMoras concepru:us por eles
descobertas.

Além disso, as representações de metáforas conceptuais podem não


necessariamente estar pré-armazenadas em sua totalidade no léxico men tal
das pessoas; partes delas podem ter que ser (re)constmidas de diferenres
maneiras em diferentes ocasiões. Ao mesmo tempo, metáforas conceptuais
p ré-al·mazenadas podem não necessariamente ser imediatamente acivada s
quando as pessoas compreendem linguagem metafórica.

Os autores esclarecem que as intuições dos lingiiisras diferem das


intuições de indivíduos comuns que não tem noções preconcebidas sobre
-
31
o renômeno da mctáforn. Citam Sandrn Ricc (1995) 'lue equaciona bem o
problema na seguinte pergunta: "'lue mente est:lmos querendo entender-
a dos lingüistas ou a do usmi.rio d:l língu:l?" (Gibbs e Stecn 1999, p. 4)

Gibbs (1999b) apresenta uma visão alternativa da rnetáforn 'luc tenta


"tirá-Ia da mente e colocá-Ia no mundo". Essa visão não se apóia exclusi-
vamente na crença de que, para ser conceptual, a metáfora deve apenas
fazer parte das representações mentais internas do indivíduo. Paro o autor,
não há necessidnde de se estabelecer umn distinção rígidn cnt.re metáfora
conceptual e cultural. E, nesse pontO, Gibbs apd a para a abordagem
socioculnl ral da cognição, na linha de Vygotsky, Leonticv e Luria, segundo
a qual as teorias da cognição não deveriam insisti r que as estfll111raS
cognitivas estão " na cabeça", mas deveriam reconhecer quão "abrangente"
,
!, ou "distribuída" no mundo a cognição pode ser.

Gi2.bJ..!lponta <lue o que falta no trabalho psicolingiüstico e, em alguns


aspectos, no lraballio sobre metáfora da üngiiístiCl Cognitiva, é um reconhe-

., cimento explicito da cultura e de seu papel importante, talvez definid or, das
l! experiências e, conseqüentemente, do pensar metafórico. E le acredita ser a
~ -'Yl.l.~ro prieda'.!':_5m~ente das int~çõcs do indi~duo ~~
mundo, c não das mentes individuais. Nossa contínua interação com domínios
<- -- . ---- .- ,. - - _.-.
~n~...lldo ~eal %~~=.~. ~~ f~.?te para ~etáforns rcquz a ne~_cssidade : Ic
reprcsentaffilOs diferentes metáforas conceplU:Us de uma maneira puramente
' _ . - .__

~n tema lizad a.
...:-:- .
Ele condui resumindo que a visão já tradicional de metáfora
--
conceptual a concebe cm termos do que está dentro das cabeças dos indivíduos.
O objetivo dcle roi chamar a atenção de estudiosos, especialmente l ingiii~ t2s

cognitivos, a adotarcm uma perspectiva "distribuída" sobre o que significa ser


"conceptual", reconhecendo que ~ni2:ão eme~ e_é ~~~~~me_nt.c
~iada,)uando o indi~ intera~ _~ ~~~d~~nlral

32
(
(
o trabalho de Lakoff e seus co laboradores usou a üngua como (
principal fonte de evidência {Ia existência de metáforas conceptuais, o que (
significa que a partir de :málises lingüísticas eles inferiram Cjue as metMoras (
existem na nossa mente. Ora, a~uestõesj:lue Çibbs levanta dizern.!fsPs.ll.0 (
à maneira r.da qual a I1lliMo~~ :~~::. existe na nossa mente, c essa é (

uma das direções aluais de pS2Q\lisa nessa linha teórica. (


(
Embora possam ser levantadas c]uestõcs em relação ao postulado
central de Lakoff e johnson, a metMora é indiscutivelmente de nJlurezJ (
(
conceptual, pois é um importante instrumento do nosso apJrato cognilivo
(
e ê essencial para nossa compreensão do mundo, da nossa culLUra e de nós
mesmos. Ela é tão importante como se "fosse um dos cinco sentidos, como \
ver, ou tocar, ou ouvir, o que quer dizer que nós SÓ percebemos e (
(
experienciamos uma boa pane do mundo por meio de metMoras. A
(
metMora é parte tão importante d; 'los-sa vida como o tOCjlle, tão preciosa
(
quanto" (La ko ff e johnson, Posfácio) .
(
(
Mam Sophia 2(1"0"0 (
Hmmidu MaJlfilio de Mem MOllm
(
Maria IJabtl A$pmi Nanli
(
Solange CatUlO Vm.z(J (
(
Gostariamos, ames de terminar, de informar o leitor sobre algumas (

decisões tomaclas no processo de tradução. (


(
A tradução foi uma experiência desafiadora, pois tivemos {Iue tradu-
(
zir metMoras ]ingüísticas do inglês po r metáforas lingüísticas do português,
(
que fossem atualizações do mesmo conceito metafórico, o {Iue foi possível
(
(
(
33
(
q
na maioria das vezes. Quando não era possível, adotamos o procedimento
(J de fornecer uma tradução literal, não usada no português, que evidenálsse
(j>
para leitor o conceito metafórico em questiio e, em seguida, a exp~ssão ou
"'"."
(
frase usada em porruguês. mas que não era uma atualização do conceilo
( .)
metafórico. À rurcira mantivemos a frase em inglês, para dar ao leitor a
(
(
"") oportunidade de confrontar as duas línguas. Por exemplo,

()
Ele csIll ~m ~jlatlo d~ a//lorJ I!Ic csl1 ap~jKonado. (Hc's ia love.)
( ];}
(51
(]> o caso acima é um exemplo de como certos estados são conccptua-
liz:'ldos como recipientes.
U
( ,~ Como Lakoff (1993) afirma que as metáforas conceptuais têm uma

( ~rt forrn:!. proposicional e de um modo geral elas estão na nossa mente e


(}\ normalmente não aS._:.r:~I~iamos, com _~r.a_s exceçqes; adoumos como ____

( ~~ - noona, na ~,ai~ci~ das vezes, traduzir os conceitos metafóricos S(:m um os

;,'
( ':'op artigos; ou seja, ao invés de traduzir A DISCUSSÃO É UhiA GUERRA, Optrunos
::p.. por DISCUSSÃO Ê GUERRA. Um dos poucos conceitos que enunciamos em
português é TEMPO É DINHEIRO e o fazemos sem artigos. Consideramos que
a ausência de artigos dá um c:u'iÍter mais abstrato e geral.
~1
'. Procuramos também respeitar, na medida do possível, o estilo dos
autores, que se ca~cterjza por ser um estilo próximo do infonnal, afas[:In-
do-se um pouco do estilo do discurso cienúfico, talvez por ter a imenç:io
de se aproximar de seu ohjeto de esrudo: a linguagem cotidiana.

34
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AGRADECIMENTOS

- As idéias não surgem do nada. Em linhas gernis, este livro representa u-;na síntese
de vârias tr:Idições inteJectu:lis e evidencia a influencia de nossos profe!;sores,
coleg:!5-, alunos e amigos. Por outro latl0, muitas idéias específicas viernm de
discussões com, literalmente, centenas de pessoas. Não podemos agradecer ade-
quadameiue a todas as Ir.lclições c pessoas às quais somos gr:ltos. O melhor que
podemos fazer é mencionar algumas delas e esperar que os outros se reconheçam
e saib:l.m que nós reconhecemos sua contribuição. As pesso~s abaixo estão entre
os que deram origem as nossas idéias principais.

John Robert Ross e Ted Cohen cOlllribuirnm de múmeras maneiras par:! a


form:lçíi.o de nOSSas idéias sobre a lingüistica, a filosofia c a vida.

Pele Beckcr c Chadotte unde: nos ajud:l.r.lm a perceber a forma pch qual ali pessoas
criam coerência em suas vidas"

o tr.tba.lho sobre: Fmme Sjmflnh"(J d e Charles Fillmorc, as idéiaS de Terry Winogr~d


sobre os sistemas de rcptcscnração do conhecimento, e a concepção de Imp!1 d e

39
Roger Schank (undamcnlar.I1TI a concepção original de gtJlalls lingüisucas de
George (L'Ikoff) que generalizamos como geJln/ls txptritndaú.

Nossas visões de scmelhanças de família, :t teoria da categorização cm termos de


protótipo c o caráler impreciso na categorização vieram de Ludwig \Viugcnslcin,
Elconor Roscll, Lotfi Zadch c J oseph Gogucn.
Nossas o bservações sobre corno a lin~,'uagcm pode refletir o sistema conccpt\l:tl
de seus falantes deriva, cm grande parte, do uabalho de Edward Sapir, Benjamin
Lcc \'(fharf c outros C1.lia obra se Sitlla nessa tradiçio.

Nossas idéias sobre a rcbção entre mClâforn c ritual derivam da tr.ldição antropo-
lógica de Bronislaw /'Iblinowski. Cbudc Lêvi-Strauss, Victor Turner. Clifford
Gccrtz dCIH.re outros.

Nossas idéias sobre o modo como nosso sistema conceptml é formatado por
nosso const:mte funcionamento bem sucedido no ambiente fisico e çultural vêm
parcialmcnte da tradição de pesquisa sobre o deselwolvimento humano iniciada
com Jean Piaget e parcialmente da tradição da psicologia ecológica nascida do
trabalho de J.J. Gibson e Ja mes Jcnkins, particularmenle representada no trabalho
de Robert Shaw, Michael Turvey denlre Qutros.

Nossas visõcs sobre a natureza das ciências humanas foram significativamente

" inOucnciadas po r Paul Ricoeur, Robert McCauley e a tradição filosófica curopéia.

Sandra ~'Ic ~'l orris Johnson, J:lmes Mclehert, Newton c Helen Harrison, e David
e ElIie Antin nos permitiram apreender o tl'1'lÇO eomum ii I".Xperiência estética e
outros aspeCtoS de nossa experiencia.

Don Arbitblit chamou nossa atenção pal'1'l as implicações políticas c económicas


de nossas idéias.
,
i' f Y. C. Chiang nos permitiu vcr a relação entre nOSSaS experiências corporais c os
1110dos de nos ve rmos a nós mesmos no mundo.

Também devemos Illuito àquelas figuras contemponineas que descreveram com


riqueza de detalhes as idéias filosóficas contra as quais hoje nós reagimos.

40
,,
,
(
(

Respeitamos os trabalhos de Rich,ud Montague, Saul Kri pke,' David Lewis, (

Do nald Davidson c de outros, que consideramos comribuiçõcs igu:t1mellte im- (


portantes parn as tcorhs ocidcllm.is tJ~dicionais do sentido e d" verdade. For~rn (
seus esc1~ recimefllos acerca desses conceitos fi losóficos tradicionais que nos (
permitiram ver sobre em que as pectOS divergimos da tradição e quais de seus (
elementos preservamos. (
Nossa proposição apoia-se amplamente em evidências de exemplos lin&<Üísticos. (
Muitos, se não a maioria destes, surgiram em discussões com colegas, alunos e (
amigos; especialmente John Robert Ross, que nos forneceu uma torrente continua (
de exemplos por telefone e cartôes po s t~i s. A maio r parte dos exemplos contidos (
nos capitulos 16 e 17 vieram de Claudia Bmgm:m, {lue sempre nOS deu valiosa
(
ajuda na preparnção dos manuscritos. Outros exemplos vieram de Don Arbitblit,
George Bergman, Owight 130linger, Ann Borkin, Matthew Bronson, CJiffo rd Hill,
<
(
D. K Houlgate fiI, Dennis Love, T om Mande!, John Manley-Buser,Monica
(
Macauley, James D. McCawlcy, William Nagy, Reza Nilippor,-Geoff Nunberg,
(
Margarel Rader, Miçhacl Reddy, Ron SilHman, Eve Sweetser, Marta Tobey, Karl
(
Zimmer, assim como de diversos alunos da Universidade de California em
Berkeley e do Instituto de Arte de São Francisco. (
1Iuitas d:ls idêias o riginais deste trabalho surgiram de discussõcs info rmais. (
Gostaciamos p:uticularmellle de agradecer a Jay Atlas, Paul Bennaceraf, l3elsy (
Br:lndr, Dick !3rooks, Eve Clark, Hcrb Clark,j. \Y.I. Coffman, Abn DWldcs, Glcrm (
Erickson, Charles Fillrnore,Jamcs Gciscr, Leanne Hinton, Paul Kay, Les tamport, (
David Lewis, George McClurc, George Ihm], John Searlc, Dan Slobin, Steve (
Tainer, Lcn Talmy, Elizabcrh Warren e Bob Wilcnsk}'. (
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PREFACIO

Este livro nasceu de um interesse comum pelo - modo como as


pessoas compreendem sua linguagem e sua experiência. Quando nos
encontramos, pela primeira vez, no início de janeiro de t 979, nós nos demos
conta de que também partilhávamos :l percepção de que as teorias do
sentido dominantes até então na filosofia e na lingiiística ocident:lis eram
inadequadas e que o termo "sentido" nessa tradição tem muito pouco a ver
com o que as pessoas consideram Jig"ijiflll;VO em suas vidas.

O que nos reuniu foi um interesse comum pela metáfora. Mark


constatOu que fi maioria das concepções filosóficas tradicionais atribubm
à metáforn um pequeno papel, e às vezes mesmo nenhum, na compreensão
do mundo e de nós mesmos. George encontrou evidência lingüísuca de
que a metáfora desempenha um papel essencial na linguagem cotidi:ma e
no pensamento - evidc;! ncia da qual nenhuma teoria anglo-americana
contemporânea da significação podia da r conta, seja na lingüíslica ou na
,,.
ii filo sotl:l. A metáram tem sido tradicionalmente co nsiderada nessas duas
di sciplinas como lima questão de interesse periférico. Nôs parulhãvamos

" a in tuiçiio de q\IC se tratava, ao cont nirio, de um problema central, talvez a


Ch:lVC para dar uma explicação adequada da compreensão.

Pouco depois de nosso cnco ntro~ decidimos colaborar no (Iue pcn~

s:ivamos ser um breve artigo fornecend o alguma evidência lingüistica que


chama sse atenção para inaclcqu:lções de teo rias recentes do sentido. Em
menos de uma semana, nós descobrimos q\IC certa s proposições da lingi.iís ~

I cica c da fil oso fia contemporâneas, qlle tem sido aceitas como verdadei ras
na tradição ocidental desde os gregos, nos impediam até mesmo de
I levantarmos os tipos de questões às quais queríamos responder. O proble-
ma não co nsistia cm desenvolver Oll reformular alguma teoria já existente
do sentido, mas de revisar cenos postulados fu ndamentais da tr:l.dição ,

fIIo sófic:l. ocidental. Em particu l:!.r, isso nos impunha negar a possibilidade
de qualcluer verdade obje tiva ou absoluta e de rejeitar uma série de
postulados a ela ligados. Também nos obrigava a formular uma outra teoria
alternativa na qual a experiência e a compreensão humanas, e não a verdade
objetiva, desempenhariam um p:l.pcl central. No processo, nós propusemos
I
elementos de um enfoque experiencialista, não somente para questões da
lingtJ:lgem, verdade e comprecnsão, mas também para qucstões relacion a-
das ao que consideramos significativo cm nossa experiência cotidiana.

Berkel9, Califomifl
I de julho de 1979

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1. CONCEITOS DA VIDA COTIDIANA -(
r-
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(
A metáfora é, para a maioria das pessoas, um recurso da imaginação
(
poética e um ornamento retórico - ê mais uma quesriio de lingtl:lgcm
(
extraordinária do guc de linguagem ordinária. Mais cio <Juc isso, a metáfora
(
é usualmente vista como um a característica restrita:i linguagem, uma questão
(
mais de palavras do que de pensamento ou açiio. Por essa razão, a maioria
das pessoas acha que pode viver perfeitamente bem sem a metáfora. Nós
(
descobrimos, aO contrário, que a metáfora está infiltrada na vida cotidiana, (
não somente na linguagem, mas também no_ pens~to C na ação. Nosso (

sistema conceptual ordinário, cm termos do qual não só pensamos maS (


também 3b>1mOS, ê fundamentalmente metafórico por natureza. {

Os conceitos <Jue governam nosso pensamento não são meras ques- (


tões do intelecto. Eles governam também a nossa atividade cotidian:l :lté nos (

det:llbes mais triviais. Eles eSlnttur:tm o que percebemos, :l maneir:t como (

nos comportamos no mundo c o modo como nos rcbcionamos com outras {


(
(

45 l
(
pessoas. Tal sistema concepnlal desempenha, portanto, um papel central na
definiç.io de nOSsa realid:tdc cotidiana. Se estivermos certos, ao sugerir que esse
(-1) sistema conceptual é em grande parte metafórico, em-:io o modo como pensamos,
(J} o que cxperienci:unos e o que f.'1zemos todos os dias são uma questão de metáfora.
(~ Mas nosso sistema conceptual não é algo do qual normalmente temos
( . .D consciência. Na maioria d os pequenos mos da nossa vida cotidiana, pensamos
l-:; e agimos mais ou menos automaticamente. seguindo certas linh:ts de conduta,
C3' que não se deixam apreender facil mente. Um dos meios de descohrj-bs é
(~ considerar a lingu:\gem. Já que a comunicação é b:tsead:l no mesmo sistema

lJl conceptual que usamos para pensar e agir, a linguagem é uma fon te de

(~ evidência importante de como é esse sistema.


( ;lO
,~ ~
Baseando-nos. principalmente. na evidência lingiiístiea, constatamos que

-
a maior p:me de nosso sistema conceptual ordinário é de nalUreza met.. . fóriC3. E
encontramos um modo de começar a identificar em detalhes quais são as
meciforas que esrnmu"am no~m:l.neir:l. de perçebcr de pensar e de agir..
Pa.r:l. dar uma idéia de como wn conccito pode ser metafórico e estruturar
um.. . ativiclacle cotidiana. comecemos pelo conccito DIscussAo e pela metáfora
conceprual DISCUssAo É GUERRA. Essa meciforn est.'Í. presente em nossa
linguagem cotidiana numa grande variedade de expressões:

DISCUSSÃO É GUERRA
Seus argurnell!OS s30 jmlefensáveis. (Vour clnims are ;nd,fensible.)
Ele atacou lodos os pO/l/OS fracos da nlinha argumentaç~o. (B e arladttl ~ry ...t al
""iuI il1 m)' argumcnt.)
Suas crnicas rOTam dirtlo ao al,'O. (Uis cnticisms wcre riglrl 011 largel.)
,Dalrll( sua argumentaç30. (I demoluhed hi s argument.)
Jamais g(llrhei uma di5C1lss3Q com de. (I've never WOII an argument with !rim.)
" Vocf; n1lo concordn7 01:, atire! I Ok. araf/ue! (Vou disagree? Qka)', shool!)
/ Se v0c6 US.'Iressa ~rol~gia. ele vai unwgtl·/o. (lf )'O\! use lhnt.llmltgy, hc'U ....ipe)'DI1 011/.)
/ Ele dunjbou todos 6s meus nrgumentos. (Hc.llwl dowu ali of m)' nrgumenlS.)

46

(
É importante perceber que não somentefiJlamos sobre discussão em
n:rmos de guerrn. Podemos realmente ganhar ou perder uma discLlss3:o.
Vemos as pessoas com quem discutimos como um adversário. Atacamos
suas posições e defendemos as nossas. Ganhamos e perdemos terreno.
Pbnejamos e usamos estratégias. Se achamos uma posição indefens:lvel,
podemos aba~~-la e colocar-nos nu~~ linha de ataque. Muitas das coisas
que &remOJ numa discussão são parcialmente estrumrnclas pcio conceito de
guerra. Embora não haja batalha Asica há lima baralha verbal, que se reflete
na estrumra de uma discussão atague, defesa, contm-ataque Ctc. É nesse
.sentido que DIscussAo ~ GUERRA é uma metáfora gue vivemos na nossa
< ~ -
culo!!;)' da cstmO![3 as 3,"õeS que realizamos numa discussão.
c <:: - c::- . __ _ ~ .. _
Tentemos imaginar uma culmra em que as discussões não sejam vistas
em termos de guerra, em que não haja ganhadores nem perdedores, em que
ataC:lf ou defender, ganh:u ou perder terreno não tenham nenhuma signifi-
cação. Lnagine uma culmra em que uma discuss:io seja vista como uma dança,
em c]ue os participantes sejam vistos corno dançarinos e em que o objetivo
seja realizar uma dança de um macio equilibrado e esteticamente agradável.
Nessa cultum, as pessoas perceberiam as discussões de outra maneira,
experienciariam as discussões diferentemente, teriam desempenhos diversos
e falariam dcias de um modo diferente. Mas nós, provavelmente, não
consideraríamos essa atividade um discussão: as pesso:ts esmd:un simpl ~s­

mente fazendo a.Igo diferente. Pareceria até estmnho ch:tmar o que elas
estari:tm fazendo de "discLlssão". Talvez o modo mais neutro de descrever
essa diferença entre essa cultura e a nossa fosse dizer que temos uma forma
de discurso estruturada em termos de b:nalha e elas, em termos de d:tnça.
Esse é um exemplo do que queremos dizer quando afirmamos que um
conceito metafórico, neSle caso, DlscussAo É GUERRA, estmtur:t (pelo
menos parcialmente) o que fazem os quando discu timos, assim como a
maneira pela qual compreendemos o que fazemos. A wéncia d'l metáfora i

47
I:h~ cOlItprunder e t..'>:fxtiendllr {(ma roisa tIIl ItrllJOI de outra. As discussões não são
subespécies de guerra. Discussões c guerras são coisas completamente
pli
1·1 diferentes discurso verbal c eDil flito anilado c as :leões correspondentes
:i ' s:io igualmente diferentes. Mas DISCUSSÃO é p arcialmente estruturada..Lco m -
- _._---
rrcendida, realizada e tratada cm lermos de GUERRA. O conceito é metafa-

. --
ricamente estruturado, a atividade é metafo ricamente estruturada c, em
conseqüência, a linwgem é metaforicamentc estrururada.

Além disso, essa é a maneira ordil/fin"a de vivcnciar uma discussiio e de


falar sobre ela. Nossa mancira no rmal de fabr sobre o fato de amcar uma
posiÇio é usar as pala\'Tas "atacar uma posição". Nossa mmcira convencional

i de fa lar sobre discussõcs pressupõc uma mctáfora da qu~ raramcnte temos


consciência. A metMora não está m eramente nas palavras quc Us.1mos - está
no próprio conceito de discussão. A linguagem da discussão não é poética,
-, ornamental ou retórica; é litem!. Falamos sobre discussão dessa mancirn
po rq ue a concebemos assim - e :"lgimos de acordo com o modo como
concebemos as coisas.
A afirmação mais importante que fizemos até aqui é que li metáfora
não é somente uma questão de linguagem, isto é, de meras palav[';l,s. Argu-
,. rncnlarcmos que, pelo contrário, 01 prorerlOJ do ptnsallltn/o são cm grnndc parte
,metafÓricos, Isso é o que queremos dizer quando afiml:unos que o sistema
conceptual humano é mctaforicamentc estruturndo e definido. As metáforas
'I; corno expressões lingilisticas são possíveis precisamente por existirem met:i-
_ Joras no)!:~~~!!!!..co~p.tl.l a~ 9~ «:a~~ ~m d.c nó~ssim, qumdo, nes~e livro,
fala mlOs sobre rnetâforas, tais como DISCUSSÃO É GUERRA, devcrá ser
entendido que n/tláfom significa ammlo II1daf6nro.

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2. A SIST5\1ATICIDAIJE IJOS (
CONCEn OS METAFÓRICOS C
(
(
Discussões normalmente seguem padrões; isto é, há certas coisas que (

nós usualmente fazemos quando d iscutimos c outras que não fazemos. O (

fato de que, pelo menos cm parte, conceptualizamos sistematicamente (

discussões cm termos de batalha inOucncia tanto a forma que as discussões (


tomam, quanto a maneira como falamos sobre o que fazemos {Iuando (
(
discutimos. Po rque o conceito metafórico é sistemático, a ling\lagcrn usada
(
para falarmos sobre aquele aspecto do co nceito é sistemática.
(
Vimos , po r meio da metáfo ra DISCussAo É GU ERRA, que expres-
(
sões provenientes d o vocabulário de gucrm, C? tnO, por exemplo, ntafarllmu
(
posição, illdejúwiveJ, tJlraligia, nova lillba de (1laq/lt, l/tll","- g(lJlbar It1TCIIO etc.,
(
formam uma maneira sistemâtica de expressar os aspectos bélicos do ato
(
de discutir. Não é po r acaso <!ue tais expressões significam O (!ue sig nificam
(
c!uando as usamos para fabrmos sobre a cliscussão. Uma parecia da rede (
(
(
49 (
conceptual de guerra caracteriza parcialmente o conceito de discuss:lO, e a
língua segue ess:l. caracterização. Uma vez que expressões m etafó ri~s em
nossa língua são ligadas a conceitos metafóricos de uma maneira sis temá-
tica, podemos usar expressões metafóricas Iingüísticas para estudar a
natureza de conceitos meta fóricos c, dessa forma, compreender a natureza
metafórica de nossas atividadcs.

Para se ter uma idéia de como expressões meta róricas na linguagem


cotidiana podem iluminar a natu reza metafórica dos conceitos que estm-
!\Iram nOSS:1S :nividades cotidianas, examinemos como o conceito TE.MPO
E DINHEIRO maniresta-se no inglês cOlltemporâneo.

TEMPO É DIN HEIRO


Vocf C$tá du perdi(ando meu tempo. Voe! C$tá. me fazendo ~rdu temP9. (You are
w(lSlillg my time.)
Esta C(Iisa (engenhosa) vai !Ç
- -- _.... ~---

PQuoor horas, (This gndget will sove yO<! houn.)


-- -
Eu n30 lellho tempo p3!!I te dar. lEu n5Q...tçnho temllo oorn ved. (I don't have the lime
10 give you.)
Corno vcdgllSla seu tempo IlQje em di a. Como voe! usa o seu tempo hoje em dia? (How
do you spend your lime Ihese days?)
Aque le pne u furndWllt..t:l.I.I"fQ/illDlil hora, I Aquele pneu furndo me tornou um3 horn. (ll1al
Ootl ire cosi me an hour.)
Tenho illveSlido Dluito tempo nela. (l've invtslM a 101 of time in her.)
Eu nlIo lenho lempo para perducom iSlo. ( I don't hllve ellol/gh time la lp(Ire wilh Ihis.)
O se u lem»Q esÊ ~esgotand9. (You're running aI/I oFtilne.)
Voc~calr:ular b!::~::_~~u ~!lO. Vocf deve administrar bem o seu lempo. (You

need 10 budgel your lime.)


Reserve algu m tempo para o pin ~ue. (l'ul aside some time for ping pong.)
~~'~!!:!J. seu leU1po1~~~I~a_e!=na? (Js Ihal WOTlII yol/ while?) I
Você tem mu ito tempo dispol1(vd1 (Do you lIa~e AlUdi lime Itft?)

II
I
50 I
I
.•
Ele cst;i vivendo com tcmpo tmprtsfado.1 Ele está vivendo de gorjeta. ( He's living 011
borrowt:d time.)
Você n~o usa seu tempo Iucrmivamenlel VoeI! não aprove ita bem o se u tempo. (Vou
don', IlU yOllr time profllabl'j.)
Eu perdi muito tempo quando fiquei dOente. (11osl alaI o flirne whcn I gOI sic};:.)
Obrigu(Jo pelo seu tempo} Ob,igmlo pelo tempo dispc:n!ado. (Thallk )'oufor yOllr time.)

Tempo em nossa cultura é um bem valioso. É um recurso limitado


que usamos para alcançar nossos objelivos. Devido à fo rma pela qual o
conceito de trabalho se desenvolveu na C\lltura ocidental m'oderna, cm (Iue
o trabalho é normalmente associado ao tempo que toma, e ele é quantifi-
cado com precisão, tornou-se hábito paga r:l s pessoas pela hora, semana,
mês ou ano . Em nossa cultura, TEMPO É D1N H El RO de rnuit.1s fo rmas:
unidades de chamadas telefônicas, pawmento por hor:!.. taxas diárias de
, hotel, orç:'l1nentos anuais. j~lros sobre empréstil1}os e pagameQtº.qç ~ _
para com a sociedade através do "tempo de serviço". E ssas práticas são
relativamente novas na hisróri:l da humanidade e não existem em todas as
culturas. Elas surgiram nas modernas sociedades industrializadas e estru-
tur:tm profundamente nossas atividades cotidianas básicas. Pelo fato de (Iue
agimoJcomo se o tempo fosse um bem valioso um recurso limitado, como
o dinheiro nós o (onabtllJoJ dessa forma. Logo, compreendemos e
cxperienciamos o tempo como algo ~pode ser gastO desperdiçado,
orçado, bem ou mal investido. poupado ou liquidado.

TEMPO É. OlNHElRO, TEMPO É UM RECURSO LIMITADO e TEMPO É

UM BEM VAUOSO são rodos conceitos metafóricos. Eles são metafóricos

um:"! vez que estamos usando nossas experiências cotidianas com dinheiro,
com recursos limitados e bens valiosos p:"!nl concepUlalizar o tempo. Essa
maneira de conceber o tempo 030 se impõe de fonna alguma como lima

SI
,
necessidade a lodos os seres humanos; ela tS_!A.!i~os~~..:.1:'~' H á
culturas cm que o tempo niio é pensado desse modo.

O s concei tos m etafó ricos TEMPO É DI NHEIRO, TEMPO É UM RE-

CURSO c TEMPO É Ut.·1 BEM VALIOSO formam um único sistema baseado

cm subcatcgo rização, lima vez que, na nossa sociedade, o dinheiro é um


recurso limitado, c recursos Limitados são bens valiosos. Essas rdações de
subcatcgorização caracterizam relações de implicação entre as metMoras.
TE MPO É DIN I-IEIRO implica TEMPO É UM RECURSO LIMITADO, que, por
I
sua vez, implica TEMPO É UM BEM VAUOSO.
,.
• Est.'lmos adot:l.Ildo a pratica de usar o conceito metafórico mais
específico, neste caso, T EMPO É D INHEIRO, para caracterizar o sistema
como um todo. Entre as expressões listadas acima, referentes à metáfora
TEMPO É DINHEIRO, algumas se referem especificamente a dinheiro (gaJlar;
im'Uli;;o'fãr;lu~r; ~;ia-", OUtr2S a r~cu;sos Ii~it:!.d~; (usar; -esgolar, ler slIjiámle
de, laar ludo), e outras ainda a bens valiosos (ler, dar; pçrder, agraduer (o bem
frctbido). Esse é um exemplo de como as implicações metafóricas podem
caracterizar um sistema coerente de conceitos meta fóricos e um sistema I,
coerente de expressões metafóricas correspondente a esses conceitos. I.
I
"

"

52
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3. A SISTEMATlGDADE METAFÓRICA .
REALÇANDO E ENCOBRINDO

A própria sistclnaticidadc que nos permite compreender um aspecto


de um conceito em lermos de outro (por exemplo, compreender um
aspc,ta de "discutir" cm termos de "combate'') ncccss:lriamcntc encobrirá
outros aspectos desse conceito. Ao nos permitir focalizar um aspecto
determin:Hlo de um conceito (por exemplo, os aspectos bélicos de uma -L.

discussão), um conceito metolfórica pode nos impedir de focalizar Out ros SI (
aspectos desse mesmo conceito que sejam inconsistentes com essa mctá- (
fora. Por exemplo, no meio de uma discussão calorosa, na qual estamos (
engajados no propósi m de atacar a posição de nosso oponent e c de (
defender a nossa, po<krnos perder de vista os aspectos cooperativos da (
discussão. Alguêm que esteja discutindo co m você pode sc.r visto como (
aquele 'IUC. esteja lhe oferecendo o seu tempo, um bem valioso, cm um (
esforço para conseguir compreensão mútua. Mas, quando estamos preo· (
(
(
(
U (
\3
( ')
cupados com os aspectos "bélicos" de uma discussão, freqücntemenre
( .iii '!
perdemos de vista os seus aspeclOs cooperativos.
(3
( ...~ Um caso bem mais sutil de como um conceito metafórico pode
;:;
(}J esconder um aspecto de nossa experiência pode ser obsclVado no que
( ~\ ~1i chael Reddy chamou de "metáfora do canal" (com/IIi! IfleMphory. Reddy
~

obselVa que a nossa linguagem sobre a linguagem é, grosso modo. estm-


tunda pela segui nte metáfora complexa: A
'i!J. \..... - t[J' ~
{li
IDÉIAS (OU SIGNIFICADOS) SÃO OBJIITOS õvl.
1
EXPRESSÚES LlNGO fsnCAS SÃO RECIPIENTES
(:;, 1: COMUNICAÇÃO i': ENVIAR
( ,):
, '- e;~-----tiJ>

{ ]I ~ o f;ilante coloca idéias (objctos) dentro'de palavras (recipicntc.s) e as


.
(J i envia (:ltcavés de um canal) para um ouvinte que retira as idéias-objetos das
( .1 '~: palavras-recipientes. Reddy documenta essa metáfpr:t com mais de cem

(~ ~ tlpõs-cie'~~p-;e~sõe-s ; ; Ingiê~. as q~~~--;e;~ntariam, segundo o autor,


( I> I 70% das expressões que usamos para fala r sobre a linguagem. Eis alguns
~'" .'
(~,! exemplos da metáfora. do CANAL:
(J)' I
é. dineil pas11lr aquer~ idtia para e::le::. (!t's hard to ge/lhat ide::a Ilcross to him.)
\ Jl Eu lhe: dei aqUe::lôl idtia. (I gave )'ou Ih al idea.)
( ,':' ,"

~, Suas rn6es chegllmnr Olt 1lÓS. (Your rc::asons caUle Ihrough to us.)
( ); (: diOcil pór Ininhas id6as em palavras. (!t's di(ficuh 10 pU/ln)' ide::as illlO woros.)
4",

Quando você liver uma boa idtia, Ie::nle:: caplUm-la imediatame::nte:: em palavrnsJ Quando
você tiver uma 00., idtia. Ie::nle coloc6·la imediatamente em palavras. (Whe:n)"ou hm'e a
good idca, Iry 10 cnplUre it immediale::l)' iII words.)
Tente cOUxar m(lis idiIM em meoos palavras.. (t'ry \O pack roorc thougllls ÍtUo fe::wa words.)
Você simplesmente não pode rechear 11m3 rrase com ideias de qualquer m:lJlCillll. (You
ca n' , simpl)' stliflideas in/o li seme::nce any old wa)'.)
O signifie::ndo está bem ali IIIU palavrns. (TIle rncani ng is righllhere:: iII IJ~ words.)

54
N50force (coloq'''') suas id~i as em palavras errnd~s. (Don ' I/orce your m~anjngs imo lh e
wrong ,,"ords.)
Suas pal.lvrns ,ra~em pOIloo signi ficado. ( Uis words corry ' inle mcaning.)
A introdução colHI", IIlllitas idéias. (l~ introduction hlu a grta! lIeal OflhD Ugh l COlllenl. )
SU~S pal:tvr3$ P.1rt:l2 ll1 WlVas. (Your woros seem "oI/ow.)
A frase est~ se", sentido. m ,e senlence is wilhou/ meaning.)
A idt':ia está tllttrrada I'm pruigrafos terrivelmente deIlSOS. (11Kl idea is buritd ln terriol )'
, denSt: parngmphs.)

I Em exemplos como esses, é bem mais djfícil ver que há algo


encoberto pela metáfora, ou até mesmo perceber fi própria existência da
!
"
medfora. Essa é a manei r:t tão convencionalizada de se pensar sobre a
linguagem que fica difícil imaginar que esse modo de pensar possa não V'
CJ
corresponder à realidade. Mas, se olharmos as implicações da metMora do
canal, poderemos compreender algumas das formas por meio das quais eh
maSc.1ra aspectOs do-p rõcesso êonlunicauvo.

Em primeiro lugar, uma das partes da metáfora el o can:!.l, is to é,


EXPRESSOES LlNGOlSTICAS sAo RECIPIENTES DE SIGNIFICA DOS.
implica que palavras e semcnps tcnham significado cm si mes~na~,

independentemente de qualquer contexto ou falante. Um outro aspec-


to dessa metáfora, ou seja, SIGNIFICADOS SÃO OBJETOS, implica que 7•
signi.fica_el,?s tenham uma existê ncia independente de pessoas e con-
te xtos. A pane da me táfora. EXPR,~SSOE~_ I.:I..N 9_~iS:!:!C,AS ,SAO RECI -
:"I~!n:~s I?~ s~~,:,,~ _~~c:.~ ,?~~mp üca que palavras (e sentenças) tenham
s i~nificados tam~!m independentes de contextos e falantes. Essas
metáforas são ad equadas em muitas situações - aquelas, por exemplo,
e m que as diferenças contextuais são irrelevantes e em que os parti-
cipames compreendem as sentenças d'l mesma maneira. Essas duas impli-
cações podem ser ilustrnd:ls por sentenças como

55
o sigllificado cstá btm (lli nas palavr.l$. (llIe meanillg is ri8hl Ilzcrc in lhe ,,"ords.)

as quais, de acordo com a metáfora do canal, podem ser corretamcntc ditas


em relação a qualquer sentença. Mas há muitos casos em que o contexto é
realmente importan te, como o exemplo clássico gravado por Parncb
Downning, retirado de uma conversa real:

ror Cavor, seme-se 110 lugar do SUcQ de maçil (1'1C3Se si! in lhe apple-juice st.ll.)

Isolacl:trncntc, essa frase não tem clualqucr scntido, jáquc a expressão "lugar .f
,
do suco de maçã" não ê uma fo rma convencional de se referir a qualquer

"
tipo de objcto. Mas a fras e faz cl aramente sentido no contexto no qual eb
foi enunciada: um hóspede veio tomar o café da manhã: H:lVia quatro
lugares armmados na mesa: três com suco de laranja e um com suco de
maçã. Era óbvio qual era a "cadeira do suco de maçã". E até mesmo na
I
manhã seguinte, cJuando não havia mai s nenhum suco de maçã, ainda era
bastante claro qual cadeira era a " cadeira do suco de maçã".

Além dessas fra ses que não tém sentido fora do contextO, há casos
em que uma mesma fra se tem significados diferentes para pessoas diferen-
tes. Considere o exemplo:

I'n:cisamos de JlOvas rontes allemllli v3$ de cnergia.


(Wc rleoo new altcm31i1·c sources o r energy.)

Essa frase tem uma significação muito difercnte para O presidente da MobiJ
Dil e para O presidente da Priends of The Ban h. O significado não está
"bem ati na sentença" - ele depende muito de qucm fala ou ouve a frase,
como também de SuaI> posições políticas e sociais. A metáfora do canal não
(
(
(
se aplica a casos nos quais o contexto é necessário para determinar se a (
{rase tem ou não significado ce se tiver, que significado ela tem. (
Esses exemplos mostram que os conceitos metafóricos aqui di scutidos (

nos fornecem uma compreensão parcial do que são comunicação, discussão (


(
e tempo c, ao faze r isso, eles encobrem outros aspectos desses conceitos. É
(
importalHe notar que a estruturação metafórica aqui envolvida é apenas
parcial e não total. Se fosse total, um co nceito seria, de fato, o outrO e nilo (

simplesmente entendido cm termos do outro. Por exemplo. o tempo real- (


(
mente não é dinheiro. Se ~YJ{i saJ:11 o Jett lelllpo tentando fa zer algo sem
consegui-lo, você não pode ter o seu tempo de volta. Não há ba nc~ _ de
(
(
tempo. Eu posso lhe dar muito do !fIClI lempo, mas você não pode me dar de
(
}'oha o mesmo ten]po, embora você possa me de/JO/ver a 1!1eJ1!J(l ljul1l1lidl1de de
(
..tempo. E assim por diante. Logo, parte do conceito metafórico não se aplica.
(
Por outro lado, conceitos meta fóricos podem ser estendidos para
(
além do domínio das formas literais ordinárias de se pensar c de se falar,
(
passando-se para o domínio do que se chama de pensamento e linguagem
{
figurados, poéticos, coloridos ou fantasiosas. Assim, se idéias são ob jct.Os,
(
podemos t'tili-/os com roupas sofisticadas, Hlr.ll/m(í-/IIJ, ordend-/as bem dirtitillbo elC.
(
Dessa forma, quando dizemos que um conceito é estnlturado por uma
(
rnet:í(ora, queremos dizer que de é parcialmente estruturado e que ele pode
(
ser expandido de algumas maneiras e nilo de outras.
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II
I
I
I
I
I

4. AS METAFORAS ORIENrAClONAlS

- - - - - - - -Atê agõrã eXã"miriãITiõsõ ' quechumaremos de meÚjo--rm-tJlntlllr;ü, ou


seja, casos nos quais um conceito é e.struturado metaforicamente em termos
de outro. Porém há um outro tipo de conceito meta fórico que não estruNr:l.
um conceito em termos de outro, mas que, ao contd.oo. organiza todo um
sistema de conceitos em relação fi um outro. Esses conceitos serão nomc:l.-
dos Hletáforas onm/anol/ais, já que fi maioria debs tem fi ver com fi orientação
espacial do tipo: para cima - para baixo, dentro - fora, freme - trás, em
cim:t de - fora de (on-off), fundo - raso, central - periférico. Essas
orientações espaciais surgem do fato de termos os corpos que temos e do
fato de eles fu ncionarem da m:\Ilcira como funcionam no nosso ambiente
físico. As metáforas orientacionais dão :t um conceito uma orientação
espaci:tl como, por exemplo, FEUZ É P.... RA CIMA. O fato de o conceito
FELIZ ser orientado PARA Cll\lA leva a expressões como ''Estou me

sentindo pam cima hoje" (I'm fceling "p tod:ty).

59
I
Tais orientações mCL1.fÓricas não são :nbitrârias. Elas rêm lima b:lsC
na nossa experiência física c cultural. Embora as oposições binárias para
,I cima - para baixo, d CllUO - fom etc. sejam fisicas cm slIa natureza, as
melHoras oricntacionais baseadas nelas podem variar de uma cultura para
outm. Por exemplo, cm algum:l.s cultur:ls, o futuro está diante de nôs,
enquanto, cm outr.lS, cSI:í :lrrás de nós. Analisaremos, como ilustrnção, as
meláforas de cspacialização para cima - para baixo, '1uc foram csnldadas
intensamente por William Nagy (1974). Em cada caso, daremos uma breve
idéia de como cada conceito metafórico pode tcr surgido de nossa expe-
I, riência física c culturaL Essas explicações são sugestivas c plausíveis, mas
! não definitivas.
,
j, FEUZ~ I'ARA C IMA: llUsrn É PARA BAIXO

," Eu escou me 5enciudo pam cima. (I'm fecling up.)


Aquilo le,·o.IIloII meu moral. (l1ml booslell rny spirits.)
i
,
~; "''leu :Ilitral subitl . (My spirits rwe.)
Você est:l de alIO aura/. (You're in high spirits.)
Pen sar [leia scmpre me Itl'tJnla o ânimo. [Thinldng abooc hn- ~Iw~ys give me a lifl.)
E.sIOu me sentindo para baixo. (I'm feelillg IIol\ln.)
~ou deprimido. (I 'm deprtJStd.)
Ele esl:! mesmo liam baixo estes dias. (He' s re.,lIy low thcse days.)
Eu ca( cm tlepres.~~o. (I[t/l imo n deprcssiOIl.)
Meu ânimo afimdortJEstou lia fi",do do poço. (M y spirits sonk.)

., Base física: Postura caída corresponde a lrístcz:l. e depressão, postura


creta corresponde a um estado emocional positivo.

CONSClEr-m:: É PARA CIMA: IN CONSCIEr-m:: É I'ARA BAIXO


Leml1le·$l!. (Ge l "p.)
,\oorde para ciwll.lAoorde. (Wake "1'.)
Eu já estou (Ie pi. (1'111 "p already.)

"
r 60

l:
(
(
(
Elc se kW1II1t1 ccdo. ( l1 c risc5 ear1y inlhe rnoming.) (
Ele caiu 00 sono. (He/dl aslccll.)
(
Ele mergullrou no sono. (He dmpped ofrlO slee p.)
(
Eleeslá 50b efei to da hipoosc, (Hc's w ufu hypoosis.)
Elc caiu cru coma profUlldo. (l1e 5(lII k inlo 3 coma.) (
(
.. Base físic:l: Homens e outros mamíferos dormem deitados e levan- (
l,lIli-se '1l1:mdo acordam. (
(
SAÚDE E VIDA SÃO PAR A CIMA; DOENÇA E MORTE SÃO PARA BAI XO
(
Elc está 110 allge da sua forma fIsica. ( I-I e'$ is ai lhe peak ofhea llh .)
(
L.iza.ro lewllltoll'se dos mortO$. (LM.arU$ rrue from lhe dC3d.)

Sua forma fIsica chcgou ao 'O/H}. (B e's in IOp shapc.) (


No CJuc diz respeito 1t sua saúde, clcestá sc le~'lIIr/(lndo. (As to hois heallh, I\e's way IIp then:..) (
Elc caill doeme. (He /tll iii.) (
Elc está decaindo rnpidameme. (He' s 5i" ki"lf Fas!.) __ ._
(
A gripe o dtrrubou. (~1e carne do ...." wlth lhe Ou .)
(
A saúdc dclc está r!cc/itrmlllo. (Bi s hcalth is dedilliug.)
Ele caiu ITlOI10. (He droppcd deoo.) (
(
• Base física: D oenças graves nos forçam :l ficar deitados. Ao morrer, (
fi camos deitados. (
(
l1~R CONTROLE ou FORÇA IS PARA C IMA ; B,STAR SUJEITO A COI'o'11W LE ou
(
FORÇI\ E PARA BAIXO
Tcnho controle sobre ela. (Ilmve comro l Ol'a her.)
(
Estou por cima ncss.1 si luaçoo. ( l' m 011 /01' o/ the situ ation.) (
Ele está nnm3 posiç!lo sl/perior. (Hc's in a 5II/lcrior posi ,ion.) (
Ele c:sfá no auge do seu poder. (1Ic ' s al the Irâg/II of his powcr.) (
Etc está no II/to comnndo. (llc's in lhe /Ii8'1 comm~nd.)
(
Ele está no 11110 cscnmo. (Hc' s in lhc " /lpu cchcloll.)
(
Seu podcr mll/le/Uo". (l1 is power f05t .)

EllI lennos de forp. cle está acima dc mim. (llc ranh aba"e mc in strcllg th .) (
(
(
61
(
( \J
( e-, Ele está sob meu controle. (Ue is under my conlrot)
Ele cai,. do poder. (I~cfe/l frorn pCI\O'u.)
(
L' Seu poder está c m d«IÚlio. (His power is on lhe du/in/!.)
( 'C';,.j
Ele t inferior a mim soci:llmente. (He is my social iJifuior.)
Ele está na lxue da pir5.mide social. (He is Iow noan 00 lhe lOIem pole.)
( íi''"
( [)
(I Base fis ica: Tamanho esci Iig-ado normalmente à força física e o
(l}
vencedor numa lut:l esta Donnalmeme por cima.
(i}
(~ MAIS É PARA CIMA; MENOS É PARA BAIXO

( liíJ o númcrode li \'1"O$ pubtieados a c:adl :tnOcominua subindo. (The numbcr ofbooks primed
each yeM keeps going up.)
( ~\
Seu númc:ro na listagem t alIO. (His drafl number is high .)
(I;; Minha renda subiu no ano JWSIdo. (My illCOtTle rou las1year.)
® A produçlo 3ftrstica nesleesUldo foi /.ti para b<JUo no ano p:1SSOOo. (The amounl of anislic

f) i, attiv;ty in Ihis Sl:lte has gooe dcwn in lhe p:ISI year.)


O número de erros que ele comcleu t incrivelmente baixo. (Thc numher or errors Ile made

""ID'" "
----' __ is incredibily low.)· - - -
Sua renda cai~ no 1100 pas$3do. (His iOCOlIlLftll last ye:lf.)

B Se 4!i IIIt',ror de idade. (He is IUIIkr.l&e.)

i) Se você est! com muiloca!or, diminua o aquecedor. oryou're 100 hot. tum lhe hc:It down.)

~ I': • Base fis ica: Se acrescentamos uma quantidade de uma substincia ou


~.
de objetos fisicos em um recipiente ou pilha , o nível sobe.
!DI
~ EVENTOS FU11JROS I'REVISlvEIS SÃO PARA OMA (OU PARA AUNTE)
Todos os evenlOS vindouros estão list;oOOs no jom:l.l. (Ali rJp roming eVents are liste(! in
lhe p3per.)
ii)
O que vai acontecer esta semana?' (WIw's c:oming up this wed:1)
~! Temo o que vem pela Jrtnft. ( I' m afr:tid ar what's rJp ahtfld of us..)
~'I
-':'> ,, O que está acontecendo'? (Wh.at's up?)

,~~ ,
e
Na ~ <b ~ <fi" sãolllllalizJÇ6::s do con::eifO FUllJRO PARA aMA, pente..sc ocon::cito
meW6ricop:JrnSoserpos:sfw:l.~daprq>05içlo""p:jsnSo_CC'l';ecorrdlO","~ (N'.T.)

62
o Base física: Em geral, nossos olhos vão na direçio na qual normal-
mente nos movemos (para frente, em freme). Quando um objeto se
aproxima de uma pessoa (ou a pessoa se aproxima do objeto), o objt:to
parece ficar maior. Uma vez que o chão ê percebido como fixo, o tOpO do
objelo pa rece se mover para cima no campo de visio da pt:ssoa.

STATUS SUPERIOR É PARA CIM A; STATUS INFERIOR É PARA IM IXO


Ele tem IIm3l>o~ição superioT. (He has a lofty position.)
Eln ~Icançar.í o topt). (She' lI riu to lhe WJI.)
Ele eSI~ no wI'0 (la Sll~ cilneiro. ( He's at the pcal:. of!lis cilIUr.)
Ele vive uma escalalla desucesso.lEle está .!ubi",jo a escada. (He's climbillg lhc: l:ldder.)
Elc:tem poucu chances de ascensão social. (He!las Hule llpwanl mobi lity.)
Ele está no n[vcl illfuiorda hierarquia social. (Hc' s att!le bolfom ofllle socinl lIiemrchy.)
Ela oouou de statos. (Shefell in s,ntus.)

• Base física e social: Status é correlacio nado ao poder (sociaQ, e poder


(físico) é PAJtA OMA.

BOM É PARA CIMA; MA U É r ARA BA IXO.


As coisas parccc:m pura cima.! As coisas e.s13o prospernndo. (111ings are loolông lip.)
Chegrunos 00 IOpo no ano passado, mas desde ent1l0 e.slrunos em dec/{"io. (We lIil apeak
last )'ear. bul il'S been dowllhUl evcr sinee.)
As coisas e.st30 indo o tempo todo para bau o. (Things are DI an all 'lime low.)
~Ie fn um Ir.lbalho de alIa qualidade. (Hc does lu"glJ·qualily worlr:.)

, Base fisiCfl par.l o bem-esmr pessoal: Felicidade, saúde. vida e controle-


as coisas que especialmente CfIrncterizam o que é bom par:t uma pessoa - sio
todos PARA Cllo.-IA.

VIRTUDE É PARA CIMA; DEI'RAVAÇÃO É PARA BAIXO.


Ele t um oomem de esp írito ..levado. (I-Ie is lJiglJ·mindcd.)

63
"

"'I Ela lem padrões t!e",Jdo$. (S hc has ',iJ;h Slauuards.)


"
E13 é uma cidadl de alro ,,(.'t'I . (Shc iS:In upswnding cilizcn.)

J"
"
,
,
Esse foi um truqu e /muo. (TIml W3S;lo lo", tri ck.)
Não seja ,/~sleal./ Não faça as coisas por baixo do ~1II0. (DoI1' 1 bc ",uf~lll{l1Id~á).
Eu não me abaixoria dinJ1!1l disso. I Eu não duarilllalllO. (I wouldn ' , SIOOp 10 IhJI.)
"
Isto csmri" aooi:co d~ miaLllslO 1130 está à minha altura. (TIJat would bc lN",mlh me.)
Ele caiu num abismo de depravação. (He fcll into lhe ab)'.!s o f deprav;IY.)
r-oi um golpe bauo. [11131 was a /ow-down Ihing to do.)

t Base fisica c social: BOM ~ PARA CIMA (base física), à qual acrescen-
tamos um a metáfora que discutiremos mais adiame, SOCIEDADE É Ut-.lA
PESSOA (numa versão em que o indivíduo lião se identifica com seu g mpo
sodal). Ser virtuoso consiste cm agir cm consonâncb com os padrões
p!opostos pel:t sociedade ('tue é uma pessoa), a fim de manter o bcm-estar
da sociedade. VlR11JDE É PARA CIMA porque ações virtuosas estão ligadas

~:'
'" ao bcm-estar social, de acordo com O ponto de vista da sociedade/pessoa.
" Como as metáforas de base social são parte da CUIt1.iI'~, o que conta é o
, ponto de vista da sociedade/ pessoa.

RA CIONAL é PARA C IMA; EMOC IONAL É PARA BAIXO


A discussão dtsuu paro a plona tl/JociOllal. mas eu a fit alingir de novo o lIil'e! da
rOc!Qllalidadt. ('11le discussionftll 10 t~t emarionfl/ levei, bul i mistd iI bad: IIp 10 Iht
mliolllll plal)t.)
Nós pusc//ws II.: Indo llOS$ô1S a noçoo e tivemos uma di5cuss.'lo de alto n(..tI intelectual sobre
o assunto. (Wc put oorfulings asK!c Md had a high./n-e/ Ul/tl/wllal discwsion or lhe mana.)
Ele não conscg uiu fic:If acima de sam o/'l/JoçõtJ. (He cQuld n't rist ahol·t his cmQliQ/u.)

o Base fís ica e cultural: Em nossa cultura, as pessoas se vêem como


tendo o controle sobre os animais, as plantas e seu ambiente frsico, c é a

I'
l
,..'
I,:
" 64
I,
"t"
I~
(
(
capacidade cspccific:1fficntc humana de atividade racional que coloca os (
seres humanos acima dos Outros animais c lhes propicia esse con trole. (
CONTllOLE É PAltJ\ CIMA fornece uma base p;lra SER J-JUr.1ANO É PARA (

CIMA c, ponanto, para RACIONAL É PARA CH\'IA. (

(
(
Condf/Jões
(

A partir desses exemplos, sugerimos as seguintes conclusões sobre a (

base experiencial, a coerência c a sistcmaticidadc dos conceitos metafóricos : (


(
(
• 1\ maior parte dos nossos conceitos fundamentais são organizados
(
em termos de uma ou mais metáfoms de espacializaçiío.
(
• Cada metáfora de espacialização apresenta uma sistcmaticidadc
. .
(
interna. Por exemplo, FELIZ É PARA ClI'I'lA define um sistema
(
coerente e não um simples conjulllo de casos isolados e alc:llÓrios.
(
(O sistema seria incoerente se, por exemplo, "Estou me sentindo
(
p:'tra cima" significasse "Estou me sentindo fdiz", e se "Meu ânimo
(
elevou-se" significasse "Fiquei mais triste.")
(
• Existe uma sistematicidade externa geral ligando as várias metáfo-
(
ras de espacialização, o que ger:'t coerência entre elas. Assim, Bor..-!
(
É PARA Clr.1A dá uma orient:'tção PARA CIl\.1A para o bcm-estar geral,
(
e essa orientação é coerente com c:'tsos especiais coamo FEUClDA-
(
DADE Ê PARA CIMA, SAÚDE É PARA CIMA. VIDA E PARA CIMA,
(
CONTROLE Ê PARA CIi\1A STATUS É PARA CHliA é coerente com
(
CONTROLE É PARA CIMA
(
• Metáforas de espacialização estão enraizad:'ts na experiência física
(
e cultur:'tl; das não são constnlÍdas ao acaso. Um:'t metáfora pode servir
(
(
(
os
(
,
( 4J
II
( ,,~ como um veículo pam a compreensão de um conceito apen:lS em
(
,"
., função de sua base experiencial. (Alguns :lSpectos complexos da
( ,3) base ~'I(pe:ri~cia.l da metáfOr:l serio discutidos na seção seguinte.)
I '1\ ~ "
• Existem v3rias bases fisicas e sociais possíveis para a metáfora. A
< coerência no âmbito do sistema geral parece motivar em parte

<J) "
d

escolha de uma dessas bases em detrimento de outra. Por exemplo,


:1

\,) a felicidade é habirualmeme associad:l., numa perspectiva 6sica, :I.

(J! um sorriso e a um sentimento geral de expansividade.lsso poderia,

(J em p rincípio, fornece r uma base para a mecifora FEUCIDADE É

qd LARGA; TRISTEZA É ESTREITA. De fato, existem expressões me~


(,~ I, tafóricas específicas, como "Estou me sentindo expansivo", que

"'~
sdecionarn um aspecto da felicidade diferente daquele expresso em
I
I.) "O meu astral estâ alto", Mas a metã(orn dominante em nossa
I J} cultura é FELICIDADE ~ PARA CI~tA, Há uma razão para__q u~

IJ) - ._~ falemãS -dããltura do- êxt;:s-~, ao invés da largura do t:xtase. Com
, efeito, a metáfora FELICIDADE É. PARA Clt.tA forma um sis tema
,
"'

coerente com BOM É PARA CIMA, SAÚDE t PARA CIMA etc,


• Em alg uns casos, a espacial..ização é uma parte tão essencial do
co nceito que temos dificuldade em imaginar outra metáfora alter-
nativa q ue pudesse estruturar o conceitO. Em nossa sociedade,
"status alto" é um conceito desse tipo. OutrOs casos, como felici-
dade, são menos claros, O conceito de felicidade é independente
da metáfora FEUCIDADE É PARA CIMA, oU a metáfora para cima-
p:lra baixo aplicada à felicidade faz parte do próprio conceito?
Acreditamos que eb seja parte do conceito no âmbito de um dado
sistem:l. conceptual. Assim, a metâfora FEUClDADE É PARA CIMA
situa a felicidad e dentro de um sistema metafÓ[ICO coerente e parte
do seu sentido deriva do seu papel nesse sistema,

66
,

• Os chamados conceiros intelectuais puros, como o s conceitos de


uma tcoria científica, por exemplo, são frc<jücn temen te - talvez
sempcc - baseados cm metá foras de base física e/ou cultural. O
adjetivo alio na expressão "partículas de alfa energia" é baseado cm
MAIS É PARA CIMA. O mesmo acljctivo em "funções de alfa nível",

como usado cm psicologia fisio lógica, é baseado em RACIONAL É


PARA OMA. O adjecivo baixo em "fono logia de baixo nível" (que se
refere a aspectos fonéticos detalhados dos sistemas de sons das
línbruas) é basead o cm REAUDADETERRENA É PARA BAIXO (como
em "terra-a-terra" / "com os pés no chão'). O apelo intuitivo de
uma teoria científica tem a ver com o modo como suas met:í.foras
correspondem :I. nossa experiência.
• Nossa experiência fisica e cultural proporciona muitas bases pos-
síveis para as metáforas de espaci:ilização e, por essa razão, sua
escolha e sua imporcincia relativa podem variar de cultura para
cultura.
• É dificil distinguir numa metáfora a base física da base cultural, já
que a escolha de uma base fisica é função da coerência cultural da
metáfora.

BaSe! Experillldait ,Ias melrífoms.

Não sabêmos muito sobre as bases experienciais das metáforas. Em


função desse desconhecimento nesse assunto, descreveremos as metáforas
separadamente, acrescentando depois apenas algumas observações espe-
culativas sobre suas possíveis bases cxperiendais. Aelotarcmos essa prática
por desconhecimento e não por princípio. De fato entendemos qlfe nenlJII"'a

67
"'tltifõm pode ser cQlllprrendidtl 011 (Iii lIIeJmo n:preJeJllada de formo adcqllat/tI,
intlepmdmfeflltllle de 11M base t>.periendal Por exemplo, MAIS É PARA CIMA
possui uma base experiencial muito diferente de FELICIDADE É PARA CIMA
ou RACIONAL É PARA CIMA. Ainda que o conceito PARA CIMA se ja o
mesmo cm todas essas mctâforas, :lS experiências nas quais elas se funda-
mentam são mui lO diferentes entre si. Não estamos defendendo que
existam diferentes PARA CIMA, mas que a verticalidade perpassa li nossa
experiência de diferentes modos c assim dá o rigem a diferentes metáforas.

Um modo de enfatizar a inseparabilidade das metáforas de sua base

I experiencial seria integrar as bases cxpericncia.is nas próprias representaçõcs.


Assim, aO invés dê escrever /'IlAlS Ê. PARA CIMA e RACIONAL J~ PARA CIMA,
,I'
teriamos a rdação m:us complexa apresentada no diagrama seguinte:
1
MAIS PARA CIMA

I Ibase experiencial 1 I
MENOS PARA BAIXO

I' RACIONAl
Ibase experiencial 2 I
PARA CIMA

li I
EMOCIONAL
I
PARA BAIXO

T al represemação en~at.izaria que as duas partes de cada metáfora


estão ligadas apenas por meio de uma base experiencial e que é somente
po r intermédio dessas bases experienciais que a metáfora pode servir aos
propósi tos da compreensão.

Nós não usaremos tais representações, pelo fato de sabermos ainda


muito pouco a respeito de bases experienciais das metáforas. Continuarc-

68
(
(

mos a usar a p:llavra "é":lo fabr sobre metáfo ras como MAIS É PARA CIMA, (

mas o " é" deve ser visto corno uma abreviação para uma série de experiên- (

cias nas ' Iuais a metáfora se baseia e cm termos das quais nós a entendemos. (
(
o papel da base experiencial é importante na compreensão dos
(
resultados da metáfora que não co mbinam entre si, po rq lle eles se basci:trn
(
cm tipos disu ntos de experiência. Considerem os uma me táfora como
(
DESCONH ECIDO Ê PARA CIMA;CON HECIDO É PAnA BAIXO (por exemplo
(
em "Esta idéia está 1/0 (II' ("That's flp inlbt ttir") e "O problema altÍ (%cado"
(
('rr-ht: mal/tr is Jtl/ltd') . Essa metáfora tem urna base experiencial muito
(
parecida com aquela d e COMPREEN DER É PEGAR. como cm " Eu não
(
consegui j>egttra explicação" . Pensando cm coisas concretas, se voce pode
(
pegar :llguma coisa c tê-h nas mãos, pode o bservá-la aterUamente e ter lima
(
boa comp reensão dela. É mais fác il pegar algo e olhar cuidadosamente se
(
-esti~er no chão e~n um local fixo do que se e~tivcr n~luando no ar (como
(
uma folha de árvore ou de papel). A ssim DESCONHE.CIDO É PARA CIMA:
(
CONHECIDO É PARA BAIXO é coerente com COMPlmENDER I~ PEGAR.

Mas DESCON HECIDO Ê PARA CIMA não é coerente com metáCoras


(
como BOM I~ PARA CIMA c TERMINADO É PAIlA CIMA (como cm "Estou
(
terminando"I Estou ehelr ndo lá t:/n d",d , C'l 'mjillisbingllp'')). Seria de se espernr
(
quelCRMINADO pudesse ser parecido com CON HECI DO, e NAoTERMINA· (
DO com DESCONHECIDO. Mas, n:\ medida cm q ue lidamos com mc,:ífo rn (
verticais, não é isso o que acontece, pois DESCONHECIDO É PARA CIMA tcm (
uma base experiencial diferente daquela de TERr-nNADO É PARA CI1\1A. (
(
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I

I 5. METAFORA E COE1illNClA CULTIJRAL

- - - - - - -- Osvalor-es fllndament:usaeuiTiã -cultura serão "éõc-rcnl cs com a


estrut\l fa metafórica dos conceitos fundamentais dessa cultura . Como
exemplo, consideremos alguns valores culrurais em nossa sociedade <Jue
são coerentes com as metáforas de espacialização PARA CJAtA - PARA
BAIXO, e cujos o postos não seriam coerentes.

"Mai s é me lhor" ~ coere nte com MAIS f.: PARA CIMA e nOM É PARA CIM A.
"Menos é melhor" não seri a coerente com essas metáForas..

"Mnior é mclhor"écoerenlecom M AIS É PARA CIMA e BOM É PARA C IMA.


"Meno r é melhor" não seria coere nte co m essas metáforas.

''0 futuro secl melhor" écocrm\c oom RJl1JRQ É I'ARA OMA e BOM É PARA CIMA
''0 fu turo será pior" nào seria coerente.

" Haverá mais no futuro" é eoerenle com M AIS É PARA CI MA e FUTURO É PARA
CIMA.

71
"O seu Slatus deverá ser rn ais alto no futuro" o! coerente com ALTO STATUS É
I',\RA CIMA c rVTURQ É PARA CIMA.

Esses valores estão profundamente enraizados em nossa cultura. "O


futu ro será melhor" é lima afirmação do conceit? de progresso. " Haverá mais
no futuro" aplica-se L1.ntO:lO acúmulo de bens como ao aumento de salários.
"O seu status deverá ser mais alto no fmu ro" é uma afirmação da prioridade
dada à carreira ("carrcirismo''). Essas expressões são coerentes com as
mctMo ras de espacialização que nós utilizamos hoje; os seus opostos não o
seriam. Parece, assim, que nossos valores não são independentes, masdc"cm
formar um sistema coerente com os conceitos metafóricos que orientam
nossa vida quoucuana. Não estamos afirmando que todos os valores culturais
coerentes com um sistema metafórico existam re:llmente, mas somcntc que
aqueles que existem c eSL10 profund:lmelHe en_r:l~~a~?: ~m nOSS:l cultura são

"
i comp:ltiveis com nosso sistema met:lfÓrico.
,
Os valores referidos acima são, gemlmente, c:lracterfsucos de nossa
II cultura, casO as coisas fossem iguais. Mas como as coisas não são usual-
mente iguais, há, com freqüência , conllitos entre esses valores c, conse-
I, q üen te mente, co nllitos entre as metáforas associadas a eles. Para explicar
" tais conflitos entre valores (c suas metáforas), precisamos encontrar as
diferentes prioridades auibuídas fi esses valores e suas mctáforfls pela
subcultura que os utiliza. Po r exemplo, MAIS t PARA CIMA sempre parece
ler prioridade já que tem a base fisica mais evidente. A prioridade de t,.·IAI$
É PARA CIMA sobre BOM t PARA CIMA pode se r vista em exemplos corno
"a innação está subindo" e "a taxa de crime está subindo". Assumindo-se
que inflação e taxa de crime são fenômenos ruins, essas frases só podem
ter o significado que têm, porque MAIS I~ PARA CIt.IA sempre tem prioridade.

r,/I
72
,
I,

[,;
(
(
(
De uma maneira geral, que valores são priorizados é parcialmente (
uma questão da subcultura na ql1~1 se vive e, parcialmente, dos valores (
pessoais de c lda um. As várias subculturas de uma cultura do minante (
com partilham certos valores básicos, mas lhes dão prioridades diferentes. (

Por exemplo, fo,·IAIOR J:.MELHOR pode estar em conflito com IlAVERÁMA IS (

NO FUTURO :10 nos depararmos com a questão se devemos compr~r um (

carro grande agora, atr~vés de longas prestações que devorarão salários (


(
fmuros. ou se devemos comprar um ca rro m eno r e mais barato. I-Iâ
subcullur:J.s americanas em que se compra o carro grande agora sem se (

preocupar com o futuro, e há outras cm que o fmuro vem cm primeiro (


lugar c você compra um carro meno r. Havia uma época (antes da inflação (
(
e da crise de energia) em (lue ter um pequeno carro dava um alto prestígio
dentro das subculturas em que vmTUDE É I~ARA CH'I'LA e POUPAR RECUR- (
(
SOS I~ VIRTUOSO tinham maior prioridade do (!ue MA IOR É MELHOR. -
(
Atualmcnte, o núm ero de proprietários de carros pequenos subiu drastÍc)\-
(
mente, já que existe uma vasra subcultura em que POUPAR DINH ElRO É
(
MELHOR tem prioridade sobre MAI OR Ii hIELHOR.
(
,\lém das subculturas, 11:í gmpos cuja característica principal é o fato
(
de co mpartilharem certos valores importantes que estão em conOito com
(
os da cultura princ.ipal. Mas, de uma maneira menos óbvia, eles preservam
(
outros valores da cultura do minante. Tomem como exemplo aS ordens
(
monásticas como os trapistas: para eles MENOS É MELHOR c MENOR É
(
/..lE.LHOR se aplicam em relação a posses materiais, (11Ie são vistas como
(
prejudiciais àquilo que é realmente importante, no caso, servir a Deus. Os
(
trapistas compartilham o valor dominante AVIRTUDEÉ PARA CIMA, apesar
(
de lhe darem alra prioridade e uma definição muito diferente. P:lra eles,
~
MAIS é ainda ~IEU-I OR, embora se aplique ii virtude; e STATUS é ainda PARA
(
(
(
73
(
( j.1 II
( ')
CiMA, embor.l não se aplique a este mundo, mas a um mundo mais elevado,
( ?
o do Reino de Deus. Além disso, O FUTURO SERÁ /I.-fELHO R é verdadeiro
( ~
em termos de crescimento cspirin,al (PARA CIMA) e, em última análise, à
( ~
salv:lção (o que é realmente PARA CIMA). I sso é típico de gmpos marginais
( j\
cm relação à cultura dominante. Virtude, bondade e St:ltus podem ser
( ~
rnd icalmenre red efinidos, lllas continuam sendo PARA CIMA. Dessa rorma,
( ~,
ainda é melho r ter mais daquilo que é importante, e O FUTURO SERÁ
""'
( ;,:.'
MELHOR cm relação ao que é relevante, e assim po r diante. Relativamente :
(J!)
ao que é importante para um grupo m o nástico, o sistema de valo r é coerente
( ")
tanto do pOnto de vista interno, no que diz respeito ao que é importante
( il
para o grupo, quanto do ponto de vista das principai s metáfo ras orienta-
( }
danais da cultura dominante.
( :')
-., Os indivíduos, como os gru pos, fixam prio ridad es di versas e d efinem
( -~ i
o que é b o m o u virtuoso para e1es d e diferentes maneiras. Ne~se sentido ,
( ~ . :,.
( ~ ' el essãosubg'~pos d'~ um.grupo. Com relação ao que é importante para
,I
( ~ , eles, seus sistemas de valores individuais são coerentes com as p rincipais

( ~ \ metáfo ras o rientacio nais da cultura do minante.

( j) Nem todas as culturns dão a prioridade que d amos à o rientação para


I
( 'D cima - para baixo. Há aquelas em que " equilíbrio" e "centralidade" d esem-

( ) penham um papel bem mais importame do que aquele que exercem em nossa

( :) ClIltura. Con sideremos, po r exemplo , a orient.1ção não espacial auvo -

( j passivo. Para nós, ATIVO ~ PARA CIMA e PASSIVO É PARA BAIXO, na maior

( ."~:s parte dos casos. Mas há culru ra.s em (Iue a passividade é mais valorizada do

<" :; que a mividade. De um modo geral, as orientações principais para cima-p:lr.l

( ~ b aixo, d entro- fo r:l, cemral-periférico, auvo-passivo etc., parecem existir em


todas as culturas, mas a maneira. pela qual os conceito s são o rientados assim
como a hiera rquia das o rientações variam de cultura para cultura.
6. AS METAFORAS ONTOLÓGICAS

----- '-.- .. --.---_._-

Metáforas de entidade e de JJlbstânaa

Orientações espaciais como para cima-p:l.fa baixo, para freme-para


trás, em cima de-fora de (ao-off), centro-periferia e peno-longe fornecem
uma base extraordinariamente rica pata a compreensão de conceitos em
tennos oriCntacionais. Mas as pessoas podem entender somente alguns
conceitos baseando-se na orientação. A nossa experiência com substâncias
e objctos físicos propicia uma Outra base para a compreensão - uma base
que vai além da simples orientação. Compreender nossas cJ(periências em
termos de objetos e substâncias permite-nos selecionar partes de nossa
experiência e tratá-las como entidades discretas ou substâncias de uma
espécie unjfQrme. Uma vez que podemos identificar nossas experiências

75
i!
"

,,'i', como entidades ou substâncias, podemos referir-nos a elas, categorizá-Ias,


agrup:í-tas e quantificá-Ias - e, dessa forma, raciocinar sobre elas.
,
1
"
Quando as coisas niio silo claramente discretas 0\1 demarcadas, ainda
"
assim nôs as categorizamos como tais, como no caso, por exemplo, de
"
montanhas, esqui.nas, cercas etc. Tais modos de conceber fen ó menos
físicos são ncccss:írios p:ua satisfazer determinados objetivos 'Iue temos:
localiza r montanhas, encontrar-se em esquinas, aparar cercas. Os homens
têm necessidade, para apreendera mundo, de impor aOs fen ômenos asicos
limites artificiais que os tornem tão discretos como nós, quer dizer, fazem

I I
deles entidades demarcadas por uma superfície.
~'

Da mesma forma que as experiências básicas das orientações espa-

\ ciais humanas dão origem a mctáforas orientacionais, as nossas experiências

; \, com objetos físicos (especialmente com nossos corpos) fornecen~ a base


para uma variedade extremamente ampla de metáforas ontológicas, isto é,
"I", formas de se conceber eventos, atividades, emoções, idéias etc. como
" entidades e subst:i.ncias.
,I
As /fIelij"Ort1I onlo/óg;enI servem a vários propósitos e as difcrenças que
existem entre clas refletem os di fe rentes fins. Consideremos a expericncia
~ de aumento de p reços, que pode ser vista metaforicamente como uma
entidade por meio do substantivo inJlnçiio. A metáfora omoJôgica INFLA-
(
ÇAO É UMA EN-Il DADE fornece um meio de nos referirmos iI experiência:
\
A. injWção está abt!u(JI1lio o llOSStl p;aár.io de vida.. (lnfla/jOfl is /0...(" riug our St.1OOan:l Or IiI·i ng.)
Se hou\"er muilo nwis inflação, nós nUl"ICa $Obrev j'·acmos. (Ir there· s tlluch more itiflmiOll,
we'lI ne\"Cfsurv j VC.)

l'recisamos comoour a influíilo. (Wc mxd tO combat infla/iou.)


A in.fl(,ç(io está fIOS co/oc(UldQ cm um beco sem salda. (J,ifIafion is bacli.ing Uj" imo a
come r.)

I"

" 76


(
(

A in}loçdo a lá III<.emlo alrogos nos preços de mCK;lOorias e de gasol inaJ A itiflaç<7o t JIá
(
/cm/ldo .rlltl pane nas caixa.~ rcgistl1ldOr.lS e nas bombas de gasol ina. (lnflarioll is wkillg (

I ils 1011 ai lhe checkolll COUlllcr an.! lhe gas fllllllfl.)

Compl1lr Icrrné a rnc lhorm:meiro tkselidar coma ilIj1aç<io. ( Hu yiug land is lhe best way
(
(

I a r rfm/i,,); wilh iujlnt;on.)

A injln(lio me deixa dfl/:nle (110 tSI6mogo). (lIif/mion nwkl'S me sick. )


(
{
(
Nesses casos, conceber :I inflação como uma entidade permite
(
re fe rirmo-nos a d a, cluanti6cá-b , identificar um aspecto particular dda,
(
vê-Ia como uma causa, agir cm rcbçiio :l ela, c talvez, até m esmo, acreditar
(
que nós a compreendemos. As mctâforas ontológicas como essa sã
(
nccessarias p:lr.l tentar lidar.racionalmenle com nossas experiências.
(
A varicebdc de metáfo ras o ntológicas que lIsamos com esses objctivos
(
é enorme. 1\ lisla abaixo nos dá alguma ideia da variedade de propósitos com
(
exemplos representativos de metâfor:l.s o nto lógicas que servem a esses fins:
(

Refen'r-5t; (
Melllllcdo (/e iMeloJ c.~ lá enlouquccendo a minha mu lher. (My lear of ill5eC/J is driving (
my wi fc cr.lzy.) (
Aquela foi uma bela IH!sada. ( Illal was a be(lIllifu/ cmch.)
(
Eslamos Irabalhando CI11 d ircçllo à paz . 0Ve are working loward peilce.)
(
A c/a.ue mil/ia é utlm pot/ero5llforça Ji/MciQSll na pof{ticll americana. (Jllemuldle c/cus
is 3f1owerfill si/em force in Amerk lllll poli/ics.)
(
A wNlm de I/OSSO paú C.'\L~ cril jogo nesL1 gucna. (11/e 1IO//Ollrofa COluúry is aI stake in ~Iis war.) (
(
Quallfijicar
(
Tcrmin ar elile livro exigirá IIlIIita paciéncia. (II willl;lke a 101 of paliellcc 10 finish Ihis
(
0001:.)
(
Há UIII /O Óflio neste Ulumlo. (1bcre is so lIIucll ha/red in lhe world.)
Dul'onllcm lIIui/o poder político em [)claware. (Dul'ont has a lo/ ofpoliticlll po ...er in (
DclJware.) (
(
(
77 (
(
CD
( }) Há muita hOjlilidad~ cm YOCe. (You've got tOO ",uch hos/iliry in fOIl.)
(3) Pele Rose tem muito dirltullisnlO e ItclJico 110 basdx.III . (Pele Rose hasa 101 ofhlwl~ and
(] basebaJ/ mow-hQw.)

~
IdenTificor aspectos
( "}
O 1m/o mllude Juaptrsonalitlm/e vem ~ tona sob press~o. (The uglyside ofhis ~rsO/rnlity
]I comes OU1 undu pressurc.)
( ~ A bmw/idade do gucrro desumaniza todos nós. (The bmtaliry Dfwar dehumanizes us aH,)
"~
( 2 Eu n:lo consigo acompanhar () ritnw da vida modema, (I ean', kccp up with lhe JNlCt of

( 'j) i
:,
rrwdcm life.)
A sua Slllilü tnlociQIUJ/ tem dCleriorndo recentemente;, (1lis emo/loltal hUllth has deteri ()-
(] rntetl recently .)
(]I "
Nós nu nca chegamos a selll;r ti emoç/lo da y;,d,ia no Vietn!. (Wc never gOt la feel the
( -11 IhriU O/viclory in Victn:I.IIl.)

IdC11Iificar ClIUStU
A pressllo de suas rtsponsabi/idadts causou o seu esgotôlfllenlO. (lltc prtssure Df his
resporulbll",lS cause<! his brcakdow n.r
-_._- --_._----.---_.----
Ele fez aquilo de raiva. (He did iI OUI or allgu.)
A nossa influencia sobre o mundo lem declinndo pela nossafa/la defibra moral. (OU(
influence in lhe world 1111$ declined because or 0I1r /ack oJmoroljilur.)
A discón!io inluna Ih ..s CUSIOU a Iraflu. (fl1lernaf rJisseruion COSI Ihem lhe permont.)

Tr(l(arabje/iwll e mot;Wlrtlfõu
Elefoi p;nNovaloopeanbwicadefrmaejQrtuno. (Hewenl IONew YO<t lO~kfm'lo!andforrwlo!.)
( ""'\
'.'-
. : Aqui eslA o que VOl-t precisa fau r pam garo"t;r a sua uguTançajil1f/llceira. (Herc' s whal
':''\ you have lo do 10 jfl.SuTefim/llciol securi/y.)
( ljI

~I
Eu estou mudMdo o meu esti lo de vida para que eu possa tllCI)I,tra r a I'trdadtira
(
( ,[
'"
felicidade. (1'111 chnnging my way or !ire $O Ihal I canfilld /TUe happintsJ.)
O rIU ngini pronlmnenle diante de uma ameaça à StguTa/lça Illlcia"al. (TIle FB I will /lC1
~ quicldy in the foce or a IhrellllO /1lI/iO/IlI/ ucuriry.)
( ~ Ela viu o casamento como a sO/lIçilo (1.. seus problemas. (Shc saw geuing married as the
~
( SoIlIliOI1 10 hu prob/mu .. )
~~

( ~
( .~
78
(~
( ~
( "
'/ Como no caso das metáforas orientacionais, a maioria dessas expres-
sões não é sequer percebida como sendo metafóricas. Um:t razão par:'! isso
é que as metáforas ontológicas, como as orientacionais, servem a uma
variedade limitada de objecivos - referir-se '1u3ncificar, etc. M Cr:l.men te
conceber algum~ coisa não fisica corno uma entidade Ou substância não
nos permite compreendê-Ia muito. Mas as metáforas oncológicas podem
ser ainda mais cbboradas. Aqui estão dois exemplos de como a metáfom
onlológica MENTE É UMA ENTIDADE é desenvolvida em nossa cullura .

MENTE ~ UMA MÁQtnNA


Ainda es!aI1l0~ umQtmdo a $Oluçi'to p~ra essa equaç..'Io, (We're Sf;!llrying to gd"d om lhe
soluliou 10 lhis cCJumion.)
A minha meme simplesmcnte nik.l esrf1 fUlldQntultlo hoje. (My mintl jusl (SIl'( operoting lOday.)
Gente, as rodas tllifo girando agora!! Gente, as eng,~nag~ru esll/o funcionando agora!
- - - _. (Boy,lhtwh~e/sa"~lumingnow!.)

Eslou um pouco ~nferrojado hoje. (I'm D linle fIl.S/y loday.)


Temos trabalhado neste problema o dia todo e agora esttlfaltando gás. (We've been
lYorkiug o u Ihis problem ali day nnd nolY we' ,e nmning 0 '" of S/eam.)

MENTE É UM O IlJETQ QUEBRADIÇO


O seu ego f muito frágil. (lier ego is very fmgilt.)
Voc~ tem de lidar com e/e COm cIlidado desde a morte de sua espoSo1. (You have to Irmrd/e
Irim Will, cnre since hi s wife's demh.)
Ele ~e$moro"or,!iOb interrogatório. (He brote under cross-exRminntion.)
Ela f facilmente ts/lltrgada. (Slic's easi ly cros/r~d.)

A CJlpcrifncia o d~sptdllfou. (1be experience lltallered him .. )


Eu estou ~m ptdaçOJ. (I 'm going to I,i«tl.)
A sua mente p,fou. (Bis rnind lllappt,J.)

79
i Essas metáforas especificam diferentes tipos de objctos e nos diio
distiJlloS modelos IllCI:tfóricas do que é a mente, permitindo- nos, assim,

, c!l foear diferentes aspectos da experiência mental. A mctáfom da MAQUI-


" NA nos dá uma concepção da mente como algo (Iue pode estar "ligado" ou
"desligado", t.er um nível de eficiência, uma capacidade produtiv:l , um
mecanismo inte rno, uma fo nte de energia c uma condição operacional. A
metáfora cio objct'O quebradiço não é assim tão rica, uma vez que nos
permite fabr apenas sobre fo rça psicológica . No entanto, há uma g.tma de
experiências mentai s ( ]UC pode ser concebida em termos de uma ou outra
mctâfor:l, como rnos tmm os exemplos abaixo:
I'
Etc pi rou. (He broke dow n.) (MENTE É UMA MÁQUINA.)
Ele se despcdaçou.lEle explodiu. (lIc crackcd up.) (MENTE É UM OnmTO QUE-
"
DRADIÇO.)

l -i

1 Essas metáforas, porém , não fOCl"lliZ:1m t)(oloftlUlle o mesmo aspecto

"
I da experiência mental. Quando urna máquina se quebra, ela simplesmente
deixa de funcionar. Quando um objeto delicado se quebra, seus pedaços

"
se espalham, talvez com conseqüências perigosas. Logo, por exem plo,

I, quando uma pessoa fi ca fora de si, to rnando-se agressiva ou violenta, seria

I: apwpriado dizer "Ela explodiu". Entretanto, se alguém se torna letárgico

i'
,
e incapaz de funcionar por razões psicológicas, provavelmente diríamos
"Ele pifou".

As metáforas ontológicas como essas são tão naturais e do onipresentcs


cm nosso pensamento que elas normalmente são consideradas como evidcn-
tes por si mesmas c descrições diretas de fenômenos mentais. O fato de
serem metafóricas nunca ocorre:1 maioria das pessoas. Nós consideramos
afirma ções como "ele explodiu sob pressão" como sendo dirctamcnte
,
(
,
(

I falsas ou verdadeiras. Essa cxprcss~o foi, de fato, usada por váriOs


(
(
iorna listas pa ra cxplic:u o porquê de Dan White ter levado o seu (
revólver para a prefeitura de São Francisco c ter atirado c assassinado (
o prefeito George Moscone. Explicações desse tipo parecem perfeita- (
mente naturais para a maioria das pessoas. 1\ razão disso é que (
metáforas como MENTE É UM OBJ ETO QUEBRADIÇO são uma parte (
integrante do modelo de mente que temos cm nossa cultura; é o modelo (
em função do qual nós pensamos e agimos. (
(
(
As 1lJtltifOTaJ de mipimlts
(
(
Zonas territoriais
(

Nós somos scrês físicos, demarcados c separados do rcstõdo mundo (


(
pela supcrfTcie de nossas peles; cxpcricnciamos o resto do mundo como
algo fora de nós. Cada um de nós é um recipiente com uma superfície (

demarcadora c uma orientação dentro-fora. (


(
Nós projetamos:t nossa própria orientação dentro-fora sobre outros
(
obietos fisico s que são delimitados por superficies . Dessa fonna, concebe·
(
mos também esses objctos como recipientes com um tadodcclentro e outro
(
de forno Cómodos e casas são recipientes ó bvios. Movimentar-se de um
(
cómodo:t outro é o mesmo que se movimentar de um recipiente para ouu'o,
(
isto é, movimentar-se para fora de um cómodo c para (leI/Iro de outro. Nós
(
podemos :uribuir ess:'! orientação até mesmo a objctos sólidos, como
(
quando quebramos uma pedra para ver o CJue há dentro dcla. lmpomos
(
também essa orientação ao nosso meio-ambiente natural. Uma clareirn. na
(
Doresta ê vista como algo que tem uma superfide demarcada e podemos
(
(
(
8\
(
(~
(U ;'-,1
(j) nos ver como estando dentro ou fo ra da chrci ra, dentro o u fo ra da fl oresta.
l,.i\"
Uma clareira na floresta tem algo que podemos perceber corno lima
( ~
( j
-, dem,a rcação narural: a área incerta onde as irvores mais ou menos terminam

( ) e a clareira mais o u menos começa. Mas mesmo quando não há uma


demarcação natural física que possa ser vista definindo um recipiente, nós
( :D .'

(3 impomos as frontei ras - demarcando um território de tal fo rma que ele

(li tenha um interior e uma supe rfície delimitad a _ quer seja um muro, uma
, cerca, ou até mesmo u ma lin ha ou plano abstraros. Poucos instintos
(11 I
( ",) humanos são mais básicos do que a territorialidade, e essa definição de
~

( ') território, demarcando suas frontei ras, é um ato de quantificação.


••
( ~ Objelos demarcados, sejam seres humanos, pedras ou áreas de terra,
';'"

têm tamanho, o que lhes permite serem quantificados em termos da


quantidade de substância que contêm. Ka nsas, por exemplo, é uma área
(~ i ___.____dcm:arca_~:t - um recipiente. E é por isso que pode~~~s~j.~~r :<~á m~i~: t,:.rra
()- ~ no Ka nsas". Substâncias podem ser vistas como recipientes. Conside re, por
~ ~
() .~, exemplo, uma banheira com água. Quando você entra na, banheira, você
(~~ cntra na água. T anto a banhei ra como a água siio vistas como recipientes,
(9 I.: mas d e tipos d irerentes. A banheira é um o bjcto recipiente,enquanto a águ:a
1
" é uma substância recipiente.
<:i
(~
,\:1 ,
(11 ," '
o campo visual
(~
Nós conceptualizamos nosso campo visual como um recipiente-e
( J
conceptu ~zamos o que vemos como se estivesse dentro desse recipiente.
( l'
Até mesmo o termo "tampo visual" sugere isso. A metáfora é natural, pois
(
:b
( ~ se o rigina d o fato de que, q uando olhamos pa", algum território (terra, chão

( À etc.) o nosso campo d e visão d efine uma demarcação do território, no caso,

( .~~
"
o,'" I!I
...,
, li) 1, 82
,

-
;j)
ii
;
a parte que podemos ver. D ado que um espaço físico demarcado é um
recipiente e que nosso campo de visão corresponde ao espaço físico
dem:l rcado, o concciLO metafó rico CAM1>OS VISUAIS SAO RECIPm~TES
surge naturalmente. Logo, podemos dizer:

o n3v io csul clllrlmdo 110 meu clI/llpa de vi SllO. (The ship is coming inlo view.)
Ele eSlá ao alcam:,; da minha visão} Esloo de olho nele. (Iluwe him iII sighl .)
Eu noo posso vl!·Io: . ~re está fW caminho. (I e:m'l sec him - lhe Irec is jll lhe way.)
Ele e!;Iá!ora de visão agora . (Hc's OUI ofsighl now.)
Aquilo estti /10 u mro de meu tampo de vis~o. (That's in lhe umuo( my fie/ti o f vi sion.)
Nlio há nada à vista. (Therc's nolhing in sighl.)
Eu n30 consigo ter 1000S os nav ios 110 meu eampo de vis30 ao mesmo tempo. (I e:m', gel
a/l oflhe ships iII sight at once.)

Eventos, Ações, Atividades e Estados


---- -~ -_.- - ---_._-_ . -
.?-Alsamos I~ oras omológiClS para compreendennos eventos, açõcs,
atividades e esrados. Eventos e ações são met:J.foocamente conceptu:ilizado
como o · etes;nivi~.~o morecipiente . Uma
corrida, por exemplo, é um evento, que ê visto como lima·entidade· iscreta.
A corrida existe no tempo e no espaço e tem demarcações bem definidas .
Assim, nós a vemos como um OBJETO RECIPIENTE, tendo dentro de si
participantes (que são objetos), eventos como o início e o fim (que são
objetos metafó ricos) e a ntividade de correr (que é uma substância metafó-
rica) . E ntão, podemos dizer de uma corrida:

Você e!;t.á IUI corrida 00 Domingo?(AJe you in lhe roce 011 Suooay?) (corrida como
ODJlITO RECIPIENTE)
Você vai à corrida?(Are you $oing /O the roce'!) (corrida como ODJErO)
Você ~iu:l corrida?(Did you su IIIe racc:'!) (corrida como OI3Jl!TO)

83
",,
o fim da corrid a foi muito empolgante. (lbefil,ish of lhe race was really clldlillg.) (run
"
"
como EVENT O ODJETO dentro do OBJETO RECJP1E~TE)
Ilo uve muilll$/xxu lI,utU!IU no corrida. f l'lou\'e muitos bo' Jj" momentos na con'ida. ( nitre

", WilS (J 101 vi gCXHI nmnills. ;Il lhe rno;:e.) (corrida corno SUBSTÂNCIA cl n REC1PlEr-rrE)
,, Eu não pude fazer ",,,iloS spri,,/S att o final. (I couldn'tüolllm:Jr s/I,úrting unli11he end.)
(spriut - corrida de velocidade como SUBSTÂNCIA)
No meio dl.l corrida, a minha energia acabou. (lIolfway iII/O lhe face, I mn oul of energy.)
(corrida como OIlJETO RECU',IENTE)
Agora ele csl:1fom da corrida. (l lc 's QW O/lhe race IIOW.) (corrida como OBJETO
RECIPIENTE)

Atividadcs de um modo geral silo vistas m Cv.lforiCamenlc como


SUBS'rÀNClAS c, conseqüentemente, como RECIPIENT ES:

No lavar aj311C13, respinguei ~gua por 1000ochi\oJ Ao lavar a j,1nclo, rc~pi nguei ~g\la por
lodo o chão. ( III washing lhe window, I splashed W;UCf 311 OvC( lhe noor.)
CotTIoJerry f!.ICilp OJ/ de lavar asjanelas1(How did Jerry gerorll ofwashing lhe windows?)
""

!I:1 Fora lavar as janelas, o que mais você rez? (Ouuitle ofwashing Ihc windows, whal cise
d i!! yol.! d01)
,; QuanW lavagc rll de janela você fel?1 Quantas janelas você lavou? (llow mueh window-

:
i washing did you do?
Como vocêelJlrou na profissão de laVa!" j~nclas? (lIow did YOI; gel illlo window-washing
I as a profession1)
I! Ele está imersq na lavagem de janelas agora. ( He's immerstd iII washillg lhe windows
righ! now.)

Logo, as atividadcs são vistas corno rccipientcs para açôcs c para


outras atividadcs que as constituem. Elas também são percebidas como
recipicn tes para a energia e os materiais que elas' exigcm e parl os seus
dcrivados (por exemplo, satisfação), (Iue podem ser vistos como estando
dtlltro delas aLI latildo dclas:

Eu cO/QCo mui/a en ergia na lavagem dejaneJas. (I flUf 0101 of ellugy /rIlO washing

lhe windows.)

I
1 84
(
r (
!
(
Eu re/iromui/aJ(J/isf(JçiloJo lavagem de janelas. ( I gel a /01 afsatisfaclio/lou/ ofwash ing
(
windows.)
(
llti ",,,ita .Illli.<filçllo /11/ lav~gem de jnllelM. (17,.·re is (I 101 af m/isfaeriu" il/ wash ing
(
windows.)
(
Muitos tipos de estados podem [:l.lllbém ser conceptualizados como (
rccipicmes. Assim, temos exemplos como: (
(
Ele cs t:í em estado de amOf.1 Ele está apai xonado. (Ue's iII Jove.) (
ESl mJl()sfOf(l de perigo ngor:t. (Wc' re 01/1 of troublc now.)
(
Ele está saim/o do coma. (1Ie·5 coming (m / or lh e coma.)
(
Eu estou aos pollCOS cU/Mm/o f'm rOl1ll~. (I 'm slo,..ly gmblg imo shapc.)
(
i• Ele en/rou em um estado de euforia. (l lc C'llcrel! a slatc or cuphori a.)
Ele ca;'. MI depressão. ("cfeU imo a dcpressiorl.) l
Ele fi nalme nte emergi .. do estado cmatOn ico em que se erICon trav~ desde o fim da últi ma (
sema na. (lI e finally cmcrgedfrom thecnt 3loni c Slale he had bec n in si nce lhe cll d o r fi nais _ • _ _ (
wed:.)
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
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8S
(
( ~
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( ", I:.'
( >~\
"
(~
( J"

(~
(9
,--"
!'i
I,
7. PERSONlFlCAÇrfO

·------filvez-as meráforns ontológicas mais óbvias sejam aquelas nas quais


os objctos 6sicos são concebidos como pessoas. Isso nos permite com ~

preender uma gmnde variedade de experiências concernentes a enci&ldes


não-humanas cm tcrmos de motivações, características e alividaues huma-
nas. Aqui estão alguns exemplos:

A sua {toria me fe z comprUIIDtr o comlJl'>l{amcmo de fmngos criAdos de maneira


indu stria l. (His Iheory explained lO me lhe bahaviouf or chicke ns mi sed in faclori es.)
Este/MO ataC(l as teorias clássicas. (I11isfncI argm!! agni nsl lhe standard theories.)
A. vida me Irapactou. (üft hlU cheo/td nJe.)
ii. ;nfltlf.l0 alá devorando roossos IUCI'I)5. (1tIjInfi",. i.J tali"S up Ollf profi ts.)

A sua rtligiclo lhe diz que ele n30 pode beber bons vinhos rron<:eses. (His reUgiQ/! ulb
him lha! he cnnnOI drink fine F~ nch win es. )
A experiêncj(j(le MicheboIJ ·Morley gerOlI urna 110V~ 1eoria física. (111e Miche!son-lI1orley
experimem savt birth fO II new physical 1heOry.)
O célnur finalnM:ntc o fHgou. (Ctmcu finruly caught up w;/IJ him.)

87
...
Em cada um desses casos estamos vendo algo não-humano como
sendo humano. Mas a personificação não é um processo gerol! c único . Cada
personificação difere cm termos dos aspectos humanos que são sc1cciona-
dos. Considere os exemplos:

A innac;Jk)utaCQIl o alicuc:e de nossa economia. {Inflalion lUIS (I{/acked lhe fOl.lndaúon or


01lreconol11y.)
A Inflaçilo nQS CO/rxOIl COlllro a parede. ( Inn ation luu pi"J!cd us IQ fil e "mil .)
O nosso maior inimigo agora i a inflação. (Our biggest ,mrmy righlflow is innali on.)

., O tlólarfoj desfrurdo pela illnação. (IlJe dollar has been dwrQyrd by innation.)
,, A innaç:\o rouoou as min has economias. (J nflal ion luu robbed me or lI1y savi ngs.)
A inflação I"dibriou melhores men tes econ(im;cas til' nosso paIs. (l" n .1lioo llas
" :IS

,ml",itrCI!lhc best cconomie rn inds iu lhe çoulll ry.)


A infl ação deli (I lu: a lima gernç50 voltad a para o dinheiro. (Innarion lra$ givell hirlil 10
a mooey- minded genel1l1ion.

Aqui, a inflação é personificada, mas a metáfora não é apenas


INFLAÇAO É Ui\iA PESSOA. É muito mais específica, O ll seja, INFU.ÇÀO É
UM ADVERSARIo. Eh nio nos fornece somente uma manei ra especifica de
pensar sobre a infla ção, mas também uma fo rma de agir cm relação a ela .
Nós pensamos na inflação como um adversário que pode nos atacar, nos
ferir, nos roubar e até nos destruir. A metâfora lNrt..AçAO É UM ADVER-
SARIO, portanto, gera e justifica açõcs económicas e politicas por parte do
governo: declara r guerra â inflação, estabelecer metas, pedir sac rifícios,
instalar uma nova cadeia de comandos etc.

_ A personificação é, pois, uma categoria geral que cobre uma enorme


ama de metáforas, cada uma seledo nando aspectos diferentes de uma
1 essoa Oll nlo<los diferentes de considerá-Ia. O que tOdas têm em comum
I'
o fa to de serem extensões de metáforas ontológicas, permitindo-nos ehr

88
,
(
(
(
sentid o;J. fenômenos do mund o cm Term OS humanos, te rmos esses 'luc (
podemos entende r com base cm nossas p róprias mo tivações, objctivos, (
açõcs c características. Conceber algo tão abSlr~1t O como a inflação cm (
termos human os tem um poder explica tivo do tipo que faz sentido pa ra (
a mai or p:lrtc das pesso<ls. Quando estam os soFrendo perdas cconô mi- (
c:ts substan ci ais devido a co mplexos fatores po lítico-cconômicos, os (
quais ning ué m rC:l lmcntc compreende, :'l metáfora INFLAÇÃO É UM (
ADVERSARJO nos dá, pelo menos, uma ex plicação coerente d o po rque (
dessas perdas . (
(
(
{
(
(
(
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8. A METONÍMIA

- ----_.-.
Nos casos de personificação já examinados, atribuímos qualidades
humanas a entidades não humanas - tcorias, doenças infhção etc. Em taiS
casos, não estamos na verdade nos referindo a seres humanos. Quando
dizemos "A inflação roubou minhas economias", não esmOlas usando o
termo "inflação" para nos referinnos a tuna pessoa. Casos como esse
devem ser distinguidos de casos como

o S(urdJlrch~de preJ!J.Il/O esú eSllcnndo St~1 COI1"'}, (1'he Iram slINl ...ich is waiting fOfhis check.)

em que a expressão "o sanduíche de presunto" está sendo usada para se


referir a lima pessoa real, a pessoa que pediu o sanduíche de presunto. Tais
casos não são exemplos de metáforas de personificação já que não com-
preendemos o "sanduíche de presunto" atribuindo-lhe qualid:\(les huma-
nas. Ao invés disso, estamos usando uma en tidade parn nos referirmos a

"
,, II outrn que ê relacionada a ela. A esse caso chamaremos de !!le!o"í1l,lrl. Aqui
l i estãO outros exemplos:

:l ; Ele gosta de ler O Marquês tle SI/de. (= o que o Marquês escreveu) (He liJ:es to rc:w.llhe
~ ~ \>..
i
..,
~ ~
"
i -1 ~
..
-
~
~'lIrqrlÍs de Sndc.)
Ele e.~ t[\ na ,/(lllf;a) Elc dIlJl/;Il. C;; na profiss.'\o d3 dallÇJ) (lIc's iII tlnnce.)
o acrflico invadiu o mundo <.Ia arte. (= I) uso de tinIa acrnica) (Ac.y/ie has lak cn over lhe

I'
.1
s \ --. art world.)

i \ O lim/!S ainda nlkl chegOIl ~ oolcllva. (= I) rcpóner da T;'~,1cs) (111C Times hasn"\ arrivcd
~ m lhe press cOllfereoce )'ct)
I ~~
Mrs Gnmdy faz CM:l feia parnjuIIIs. (o: I) \'cstir ,icans)(Mrs. Grundy frowllsOIl blrl~j""'IJ. )
I -:s
i' NoWJs /implUlures ,II.' páw ·brisa o <lI:Lur30 wisfeito.(=o falO de ter limpadores de
pára-brisa novos) (Ncw ...intJslrjclll wipers will satisfy lIim.)

Estamos incluindo como um caso especial de metonímia o {lUC


retó ricos tradicionais chamaram de sinédoque, em que a parte represema
o todo como nos exemplos a seguir.
,'1
II
l'A nlCPELOTODO
o <1U/OIIIÓ)'1'I eSl:i cnlupiJldo nossas CSlr3dasJ O a UlOlIIÓI'/!/ está C()ngeslion:mdo nossas
CStradas. (:: o conjumo de :lUlomÓ"eis) (The aUlomobil~ is clogg ing our highw~ys.)
I'recisamos de um par de (;0'1/O S fortes para !lasso lillle. (: pessoas fortes) (We Ilecd a
oou]Jle of srrong bodits for ollr [cam.)
T em um~ porção de boa.1c(,beras na universidade. (:: pessoas imcl igentcs) (lllCre are a
101 of good heads in lhe lI niversily.)

Estou com pneus nO)·QS. ('" carro, 111010 ele.) (I' \'e gOl allCw ur of "'/'/!Iels.)
Precisamos de sangue: "01'0 na organi:z.1ção. (: pessoas !>Ovns) (Wc neco.! some ncw blood
in the organization .)

Nesses casos, como nos OtlLros casos de metonímia, uma entidade está
sendo usada para se referir a outra. Metáfora e metonímia são processos de
I narureza diferente. A metáfora é principalmente um modo de conceber uma

92
,
(
(
(
cais:! cm Icrmos de outra, c SU:I função primordial é a compreensão. A (
metonímia, pór OUlro lado, tem principalmente uma função referencial, isto (
é, permite-nos usar uma entidade para "prmlllflf outra. Mas metonímia não (
é meramente um recurso rcrcrenáll. El:t também tem a função de propici:lf (
o entendimento. No caso da metonímia PARTE PELO TODO, por exemplo, (
há muitas partes '1ue podem rrpnIlIII{lrO tOdo. A parte sclccion:ula determina (

que aspectos do todo estamos enfatizando. Quando dizemos que preci- (


samos de boas cabeças no pro[ctO, estamos us:tndo "boas cabeças" par:! (
nos referirmos a "pessoas inteligentes". Mas nào é só usar a parte (cabeça) (
para representar o todo (pessoa), porém sclecion ar uma característica (
particub r da pessoa, ou se ja, a inteligência, (Iue é associada à cabeça. O (
mesmo acontece com outros tipos de metonimias. Quando dizemos "O (
Times ainda não chegou para a coletiva". estamos usando "O Times" não
(
simp!:smeme para nos !efer~r~os ~ um repó rte~ 01;1 outro mas lamb~~
~-~- (
para sugerirmos a impo rt~ncia da instituição que o repórter representa.
(
Assim, "O Times ainda não chegou para a coletiva" tem um significado
(
difereme de "Steve Roberts ainda não chegou para a coleúva" mesmo
(
que Steve RobeTls seja o tal repórter do Times.
(
A metonímia tem, peJo menos cm parte, o mesmo uso (Iue a
(
metáfora, mas ela permite· nos foealin r mais especificamente certos aspec·
(
tos da entidade a (Iue estamos nos refc[indo. Assemelha-se também à
(
mel:lfora no sentido de que não é somente um recurso poético ou retó rico,
(
nem_é somente lima questão de linguagem. Conceitos mel a nímicos (como
(
PARTE PELO TODO) fazem parte da maneira como agimQs, eensamos e
(
f:l.bmos no dia-a-dia. 1
1.cl.t.~ \'\ ..... ·.:1 - IZ-vt l -<.... IC- ' • fLK
~ f'V-' f'(.~ ~t!-,e· t. _ './L .,..,ro 1'-( u ... .-LC K--' (
Assim, existe em nosso sistem~1 conceptual um caso especial da (
metonímia PARTE PELO TODO, que chamamos de ROSTO PELA PESSOA. (
Por exemplo: (
(
(
93 (
• tU
~'-\
( ~.

( .;)
Ela é só uma cam bonira. (Shc:'s jusl a pretfy face.)
( ~~
lIá uma impressilNUUlU qlmnlidade dI! canu lá na plaléia. (Thcrc are an Qwful /ot offoul
( -..,
.,
oul tJw::re in lhe lIudience.)
() I'red5lUnos de umas cams IIO\'W por aqui. (Wc need some neM' foICes around here.)
( )I
( }) " ... Esse tipo de metonímia funciona at.ivamentc cm nossa cultura. A
~
c .!ii tradição do uso de retratos, t:tnto na pinruraquanto na fotografia, é baseada
~
( ~ nela. Se você me pedir para mostrar uma foto de meu filho e eu lhe mostro
(
""
~' uma foto do rosto dele, você ficam satisfeito. Você achará que viu um
(
(

-"
1)
1
retratO dele. Mas se cu lhe mostrar uma fotograua de seu corpo sem o rosto,
você acha rá estranho e niio ficará satisfeito. Você poderá até perguntar,
( .::) I· "Mas como ele é?" Assim, a melonímia ROST O PELA PESSOA não é
( ]) , meramente uma questão lingüística. Em nossa cuhul'!L, nós olhamos o roS[Q
cD :'I: da pessoa - mais do que sua postura ou seus movimentos - a fim de ter
( ]I uma inf~nnaç1io bási~~ _d ~~_o.!!1.Q.a pe_s_soa_é. Nós percebemos o mundo em __ . __ _
( )- termos de uma metonímia, quando identificamos uma pessoa peJo rosto e
( ]I agimos de acordo com essa percepção.
(j Assim como as metáforas, as metonímias não são ocorrências casuais
(~ ou aleatórias para serem tratadas como exemplos isolados. Os conceitos
( "
,; metonímicos são também sistemáticos, como podemos observar em exem-
( b plos represemacivos existentes em nossa cultura:
( lli
c '" PARTE PELO TODO
~ Pon ha $1111 lrCueiro aqui! (Gct }"Oll r bUlI ovcr hcrc!)
( .;."
Nós n3.o contmlamos cabe/lidos. (We don't tlirc long/w;rs.)
( }}
(
-a Os Giams precisa m dCllm braço I/Iaisforte lI()carnpo direito. f llLe Gi:mlS I"IUd aSlrongu
am, in right lield.)
( ~ Tenho um novo 8 !'d/m/as. (I've gOI a oew fOllr-O/!-lhe-floor VoS)
(~

"~"

li
~ 94

." "I
PRODlITOR PELO I'RODlITO
Eu vou lo mar um lielHfrawlliJch. (1'L1 havl: a LitINfraumiJch.)
Ele compro u um Ford. (He bouglu:1 Ford.)
Ele lem um PiclUSO em seu gabinele. (He's gOI a Picasso iII hi s den.)
Eu odeio ler Ilddegger. (I halC 10 (cad HeideGger.)

OIlJETO PELO USUÁRIO


O J(Uofoll e eS lfi resfriado hoje. (TIle SIIX has lhe nu loday .)
O BLTdá gorjeias medíocresJ O do /xJC~II, alface e lomal~ doi gorjeias medrocres. (llle
BLTis a lotlsy tipper.)
O r~wjl\·u que ele alugou pedia $50. r n,c N'm he hired wanted fifly grnnd .)
Precisamos de uma/um melhor na base 3. (We need a beuer 8lov~ at thim base.)
Os 6l1ib"s estiio ~III greve. (l11e busu m: 011 strike.)

CONTROLADOR PELO CONTROLADO


NuolI OOIllOOnleou lIanó;. (Niloll bombed Ilalloi.)
Ovru'll de~ ~ ~ve!..O!Ilem à no~~.l~wa gave a lemble concert last night.L __
Napoldo perdeu em Waterloo. (Napoll!on 10sI ai Waterloo.)
O (li me de) Casey SWlgd ganhou muilas mednlhas. (Casey Slellgel wOllalOl of pennaulS.)
Um Merc;td~s bateu em mim portrnsJ Um Muudes bmeu lIami"ho /raseiro. (A MercClls
rt:lIt·ellded me.)

INSTITUiÇÃO PELOS RESPONSÁVEIS


A Essa aumentOu se us preços novamente. (Euo" lias r:lised Íls I,rices again.)
Você nunca cOJlseg llirá que II universidade COIlOO rdC com islO. (Yo u 'l! never gel lhe
"n/ver:i,>, 10 agree 10 Ihal.)
O üército quer reinSlitui r O recrUlamenlO. ('T1le Anlly wantS 10 rei nst itule lhe drnft.)

O Senado acha que o aborto ~ imoral. (The Stllate lhinks abortion is immorn1.)
EII não aprovo os aIos do gOl·tmo. (I doo' t approve of lhe gOI'tmmeut's actions.)

LUGAR I'ELA INSTITIJIÇÃO


A Crua Bronca n30 eslá se pronunciando. (lhe White 1I0use isn·1 saying al1 ylhing.)

95
\VlullillglOfI é insens(vel !ls nccessid:u.tesdo povo. (Wa.lhillg/QII is in sc lIsiti\"c to lhe nccds
o f lhe IJOOplc.)
O Kremlin ~U1e~çou bo icotar a próximn :;CSS~O de cO II \"c rsaçõcs da SA LT. (l1!e Kremlim
Ihrealencd 10 boyrou lhe nC1t1 round of SALT talk.5.)
PI/Til está lançando saias IongM nesta waç30. (/'mu is inlroducing longer skir1s Illis
senson.) Ilol/yl\'ood nuo é lI1ais o que era. (I{ol/)''''OOII iSIl ' [ .vhal illlscd tO bc.)
\Vali Slrul está em pânico. (11'(111 SlrUI is in li. p~nie.)

LUGAR PELO EVENTO


Nilo deixemos que II Tailândia se torne UlIl outro Vic/IIu. (Lc t' s 1101 leI "111ailnml lx:come
anOlhcr Vielnam.)

Lembrem-se dc Álamoi Não se csquccam (d a batalha) de Álamo. (Rell>t:l11bcr rlte Alamo.)


I'Mrl lIarborainda tem conseqUências para nossa políti caextcma. (Pcarl !larbor stiU has
an effcct on 0111 forcign policy.)
" IV/ltagllle mudou nossa politica. ( lVatugale challged our politiçs.)

Tcm sido IIIH:I Gralllf CelJlrol Sral;oJl aqu i o dia tod01 TelH sido lima Cen lr(ll do LJrruil
aqui o d ia todo. ( It·s been Graml Cemml S(O/;Ol1 hcre ali day.)

Os conceitos metonímicos como esses têm a mesma sislematicidade


que os conceitos metafóricos. As frases acima nfio são aleatórias. Elas
exemplificam certos conceitos metonímicos gerais pelos quais organizamos
nossos pensamentos e ações. Os conceitos rnetonímicos permitem-nos
conceptualizar uma coisa por sua relação com outra. Quando pensamos
cm fl1R PimsIo, não estamos pensando apenas em uma obr:t de arte: mas
estamos também pensando na relação dessa obra com o artista, isto é, a
sua concepção de arte, sua técnica, seu papel na história da arfe etc.
Reverenciamos flIII PitaJIo, mesmo que seja um esboço que ele tenha feito
' Juando adolescente, por causa da relação dessa ob m com o artista. Assim,

,, '
a metonímia do PRODUTOR PELO PRODUTO afeta, ao mesmo tempo,
nosso pensamento e nossa ação. Do mesmo modo, cJuando uma garçonete
I:,
I:i,
96
(
(
(
diz "O sandu íche de presunto quer sua conta" , ela não es tá interess:lJa n:l
(
pcss,?a como pessoa mas somente como freguês; po r cssa razão o uso de
(
1:.11 metonímia é desumanizador. O próprio Nixon não deve ter lançado as
(
bombas em Hanói, porém, por meio eh metonímia do controlador pelo
(
controlado, nós não estamos somente dizendo "Nixo n bombardeou Ha-
(
nói", mas também pensamos nele como aquele que lançou as bomb:ts c o (
consideramos responsável por isso. Isso é possível em virtude da natureza (
da relação Illetonírnica na metonímia CONTROLADOR PELO CONTROLA- (
DO, que dá maior ênfase ao controlador do que ao controlado. (
Assim como as metáforas, os conceitos metonímicos estf1.lturam não (
somente nossa linguagem , mas tarnbêm nossos pensamentos, atitudes e (
ações e, t:tmbém, baseiam-se n:t nossa experiência . Na verdade, a funda- (
mentação de conceitos metonímicos é, em geral, m:tis ó bvia do q ue a (
fu nd:tmentação de conceitos metafórico-s, porque os primeiros, gernlme'nte, (
envolvem :lssociações físicas ou causais di retas. A metonímia PARTE PELO (
TODO, por exemplo, emerge das nossas experiências em relação ao modo
pelo q ual as panes estão geralmente relacionadas com O todo. A metonímia
) (
(
PRODUTOR PELO PRODUTO está baseada na relação de causalidade (e (
babitualm elHe física) entre o produtor e seu produto. A metonímia LUG A!t (
PELO EVENTO, por sua vez, está fundamentada em nossa experiência com \ (
a localização física dos acont'c cimentos. E assim por di:ulte. (

O simbolismo cult ural e o religioso são casos especiais de metoním i:t. (


No Cristianismo, por exemplo, existe a metonímia POMBA PELO ES P!U,JTO (

SANTO. E sse si mbolismo - que c úpico das metonímias - não c arbitrário: (

ele está fundamemado na concepção de pomba na cultura ocidental e na (


(
concepção do Espírito Santo na teologia cristã. Existe uma razão pela qual
(
a p o mba ê o símbolo do Espírito Santo, e não a galinha, o abutre ou o
(
(

97 (
(
avestruz. A pomba ê concebida como sendo beb, am:ível, gentil c, sobre-
tudo, pacífica. Por scr uma ave, seu habitat é o céu que. metonimicamente,
representa a eternidade, o habitat do ESplRITO SANTO. A pomba é um .
páss:lro que voa graciosamente, desliza silenciosamente c é usualmente vista
saindo do céu e pousando sobre as pessoas.
Os sistemas conceptuais de culturas e reügiões sio metafóricos por
natureza. As metonímias simbólicas são elos cruciais entre a experiência do
( 11 cotidiano e os sistemas metafóricos coerentc.s que caracterizam as religiões
(~ e as culturas. As metonímias simbólicas, que sio fundamentadas em nossas
(li experiências tisicas, fornecem um recurso essencial para compreender os
() conceitos religiosos e culturais.
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98
/
9. DESAFlOS.ri COER~NCLA METAFÓRIC/j

Ar.resent:lmós evidências de que metáforas e meto nímias não são


aleatóriás, ao contrário, elas formam sistemas coerentes com os quais
conccp tualizamos nossa experiência. Entretanto, é fácil encontr.l.r incoe-
rências aparentes em expressões mer:tfóricas cotidianas. Nijo fizemos um
esrudo completo dess:l.s incoerências, mas aquelas que examinamos em
detalhe não se mostraram de forma alguma incoerentes, apesar de terem,
logo de início, aparentado sef. Consideremos dois exemplos:

Uma contradirão "Itlafón"ca «parti/te

Charles Fillmorc observou (em uma conversa) que a lingua I nglesa


parece ter duas formas cantr:lditórias de organizar o tempo. N a primeira,
o futu ro eS~:1 na frente e o passado, alrh:

99 I,
li
N;t~ S<!l1lalH1S que lemos à nossa frelne .. , (l1l lhe w~ks [,head of us .. ,) (fu luro)
Tudo iSl0 ficou para a1r.'is agora. (fhaf S ali bch ind us 110W,) (passado)

Na segunda, o futuro está atrás e o passado, na frent e:

Nas scmanas seguinles.. (l llthe foUow illg wceks...) (fulurO)

Nas scmanas precedenles ... (ln lhe preceding wccks...) (passado)

1sso parece ser uma contradição na o rganização metafó rica do


tempo. Além do mais, as metáforas aparentemente contraditôrias podem
se misturar, sem nenhum dano, como cm

E.~laIllOS o lhaudo flarafrell/e cm dircção 115 sernanas segu jllfc.J. I EstanlOs (U,fcl'clulo as
SClll311as seguinfes. (Wc're loo king ahclul to thefo/lowjng wceks.)

Aqui, a exp ressão pam frmle organiza o futuro como estando na


frellte, enquanto s/g/Iúlle o organiza como estando atriis.

Para apreender a coerência da organização do tempo, devemos


considerar, primeiramente, alguns fatos concernentes à organização (ren-
te-trás. AJgumas coisas, como pessoas c carros, têm partes da ftcnte c de
trás, Outras, porém, como árvores, não as têm. Uma pedra pode receber
uma organização [rente-trás sob determinadas circunstâncias. Imagi ne que
você está olhando par:l urna pedra de tamanho médio e há uma bola entre
você e a pedra, dig:tmos, a uns trinta cenúmetros da pedrn. Logo, seria
, I ';,
I :lpropriado dizer "A bola esd na frente da pedra", A pedra recebeu uma

" o rientação frente-tpís, como se tivesse uma frente voltada para voei:. Isso
não é universal. !-lá línguas - o !-Iausa, por exemplo - cm que a pedra

A idtia deJ"I"ro ~J/ar atnire passadO~JlarMJr~nlt C$1' contida no .. ntido primeiro de J~g"ir. 0\1
seja. iralfllsJ~; ... nleSrn<.> acootece com preoedet, cujo primeiro sentido ~ iraJianu d~. (N.T.)

100
,
(
(
(
receberia a orient:!.ção contdri:!. e você diri:!. que a bo!:t es ti :nris d:!. pedra, (

se estivesse entre você c a ped r:!.. (


(
A movimentação de objetos, geralmente, recebe uma orientação
frente-trás de modo que a fre nte esteja na direção do movimento (ou na (
(
direção canônica do movimento, de modo que um carro, em ré, man tém
(
a sua freme). Um satéli te es férico, por exemplo, que não tem nenh uma
(
frcnt~, ao fi car parado, adquire uma frente, quanto estiver cm ó rbita cm
(
função da di reção do seu movimento.
(
Assim, o tempo em I nglês é estruturado em termos da metáfora
(
TE;-'IPO É U:-'I OBj ETO EM :-'IOVI MENTO e o futuro é concebido como se
(
movendo cm direçiio a nós:
(

o te mpo viii quando... (The ume ",i II come .....hen ... ) (


.- H hnvia passndo muito lempo quando ... ( The time has \ong since gone ..... hcn... ) (
O lempo para agir chegou. role lime for aclion Ims arrivcd.) (
(
o provérbio "O tempo voa" é um exemplo da metáfora O TEMPO É (
UM ODjETO EM MOVIMEN"ID. Ji q~le estamos em dircção ao futuro, temos: (
(
Aprox imando·sc das semanas !! frente ... f A)}f'()x imaf\do..sc d a scmana que ,"cm. (Coming
(
up in lhe weeks W1 C,ld.)
(
Eu olho para frenle cm direç.lo ~ chcgadn do NalaV Não vejo n hora qu e chegue o Natal.
(1 look rorward 10 lhe ;m; YJ] ofOtris unas.)
(
Te mos uma grn nde oportunidade (li ame de nós e não queremos deixá-Ia passar. (Bcforc (
us is a grem oppol1uni ly. and we don'l "'anl iI 10 I'ass os by.) (
(
Em funçiio da metáfora TEMPO É UM OBjETO Et-{ MOVIMENTO , o (

tempo recebe uma orien tação frente-trás de acordo com a direção do (

movimento, da mesma forma que quaklucrobjeto receberia. l....ogo, o ful\ lrO (


(
(
101
(
(]\
() csd voltado para nós na medida em que se move em nossa direção, e, :l.ssim,

Jj) encontramos expressões como:

( :) Eu n~o posso ~ rtCarar o futuro. (I can'l face lhe fUHlre.)


('>\ A cam das coisas por vir... (fhe face of Ihings to come...)
~

~
( -,'
-: Vamos enfrentar o futuro de freme. (LeI'S lhe future head-on.)

EOCluanto expressões como a nossa fnnlt, tIl olho pam fnnlt e '!II j"nft
( ~ de nós orientam tempos em relação a pessoas, expressões como pnctfler e
( » I segl'lirorientam tempos com relação a tempos. Logo, tcmos:
( D A !lfÓ:o;ima semana c a semana scguilllC 3 da. (Nex t wed: DOO lhe wcd: following ir.)
.~
( Jj I

(} I Mas não:
( ~ A SCm;lJla seguinte I mim ... (Thc weck following me.)
(
( .~ , Já que tempos futuros estão voltados para nós, os tempos voltados
para "eles estão maiS longe aindã nof~ruro ~ - (od~~ -~;temPo-;-ft~ ---­
(

(J
)
t seguem o presente. Ess:l é a razão pela qual as Jrmanas qUt Jt leguem são as
mesmas do que aJ JtmanaJ a nOJJa frtrtlt.
(I) II'
~ I, A finalidade desse exemplo não é simplesmente mostrar quc não há

d qualquer contradição mas também mostrar todos os detalhes sutis que :li

~ I estio envolvidos: a metáfora TEMPO É UM OBJETO QUE SE MOVE , a


o rient!lção frenre-tr.l.s dada ao tempo em virtude de ele ser um objcto em
~
» movimento e a aplicação consistente de palavras como Jtguir, prmder t

~ /JDllnr-J( quando aplicadas ao tempo com b:lSe na metáfora. Toda essa

3> estrurnra metafórica consistente e detalhada faz parte de nossa linguagem

<) l.ileral cotidiana sobre o tempo, e é tão familiar que normalmente nem a
percebemos.
~

-,
~

I
ID t
;;J li" 102

- li
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Coerfnda vermi lonmlênda

Mostmmos que a metáfor:l TEMPO ti. UM O BJET O m.I M OVIM ENT O


tcm uma consistênci:l interna. M:lS há uma Olltm maneif:l pe\:! qual conccp·
tualizamos a paSS:lgem do tempo:

TEMPO É UM ODJETO IMÓVEL I! NÓS NOS MOVEMOS ATRAVés DELE


Ao avançarmos almvl!:s dos anos .... (As wc &0 lhrough lhe ycars.)
N3 medida em que 3V31lÇalTIOS nos anos o ilema. (A s we go funher imo lhc 1980's.)
Estamos nos apro~im:mdo do fim do 3110. (W,,:'rc npproachin g lhe cnd OflOO )·car.)

o que temos aqui são dois subcasos de TEMPO PASSA PO R NÓS: em


um caso, estamos nos movendo e o Tempo permanece parado; em outro,
o tempo está se movendo e permanecemos parados. O que há em co mum

- .. __ ._---
_._-_.éo movimento relativo em..relação . ..... _- -- -----
a n6s, com - - . __ ..
O futuro na freme e o passado
:ltrás, isto é, eles são dois subC:lSOS da mesma metáfora, como mostra o
diagf:lma abaixo.

A partir do nosso ponto de "';sl3,


O 1empo passa por rIÓ$
Oa frente para tnI,

o tempo , um obfelO em movimento •


O tempo' 001 ~ parado e nós
e $8 mo'Ie 8/11 nossa dlr~ fIOS ~ alraYM dele na

direç30 do kIlII'o

Essa é uma o utra forma de dizer que :lS duas metáfo ras têm em
comum um:l implicação importante. Ambas as met:íforns implicam que,
do nosso pOntO de vista, o tempo passa po r nós da frente para trás.

103
I. I Embora as duas metáforas não sejam consistentes (isto é, elas não
fomlam uma imagem única), das, no entanto, "se encaixam" por serem
SUbclllcgorias de uma cat.egoria maio r c, portanto, por tom partilharem um:1
mesma implicaçiio. Há lima diferença entre metá foras que sâo (Otrtllles (isto
é, que "se encaixam") entre si e aquelas que são {olls/slmln. Descobrimos
"
,. <JUC as ligaçõcs entre as metáforas envolvem, provavelmente, mais coerên-

i! cia do que co nsistência,

, C0l110 u m outro exemplo, consid eremos uma outra rn ctáfon:

AMOR ~ UMA VIAGEM


Veja II que pomo c/legalllos. (1.0010.: Iww lar ",c've come.)
&tamos IlIlIllU tllemlilluldll . (Wc' rc (J/" CroSSrt)lII/S.)

I
!~
If
Teremos que si mplesmente segu ir caminhos separados. (\Vc"lI
scpamte ...a)'s.)
JUS! hJ ve 10 go ollr

Não podemos \'Ollar atr~ agora. (Wc cml 'I/um back now.)
'Eu acho q ue essa rel~ção niío vai darem lugar nen/lI4m. ([ dou't think Ihi s rc lationship is
going rm>11·here.)
O/ldt! nós estamos? (II'/lere are we1,)
Estamos p(Jrados. (Wc're 5/rlck,)
Tcm sido uma el lrrula 100lga e esbllracadl' . (11'5 bcc n a 10/lg. bump)' roml.)
Esta relação 6 Uni beco sem Sfdda. rnis relmionship is a dcad·elU/ slreel. )
Estamos si mplesmente giron(/o cm falso, (Wc' rc j uS! lpinllig our ",hub.)
I

I' O nosso easarncnlO t!slll t!ncol/wdo. (Ou r mnniagc is O/I lhe rocks.)
Sa(mos do trilho. ( We 've gouen oiflh e Ir(Jck,)
Esta relação t!s/á af"" dandQ. [fhis rdalionship i$fom,duill8.)

Aqui, a metáfora principal é da viagem c há vários tipos de viagem


que podem ser feitas: uma viagem de carro, de trem, de navio .

• 04
,,
t
(
(
VIAGEM
(
(

Viagem de carro viagem de trem

viagem de navio (

I .
Longa, estrada rUim,
I
sair do trilho
I
encalhado
(
(
Beco sem salda afundando
(
Girando em falso
(
(
(
Mais uma vez, não há uma única imagem consistente em que todas
(
as metáforas da VIAGEM se encaixem. O que as faz roereI/ler é o futo de serem
(
todas metáforas de VIAGElI-I, apesardc especificarem meios diferentes de viajar.
(
O mesmo fenómeno ocorre com a metáfora 'I13MPO É. UM OI3JETO EM
(
MOVUvlENro, pois um objeto pode se mover de várias maneiras pelas quais
(
algo pode se mover. Nesse sentido, o lempo voa, o lempo engahnba, o lempo corn:. De
(
um modo geral, os conceitos metafóricos são definidos não cm teonos de
(
imagens concretas (voar, engatinhar, descer a rua etc), mas, sim, cm tennos
(
de categorias mais gerais, como a da passagem.
(
(
(
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105 \
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10. ALGUNS OUTROS EXEMPLOS

--- - - - - -Afirm3.mos ql1e as metáforas estrutumm parcialmente nossos concei-


tOS da. vida diária e que essa estrutura se reflete em nossa linguagem literal.
Antes de esboçar um quadro geral das implicações filosóficas dessas afmna-
çôcs, precisamos de mais alguns exemplos. Em cada um dos exemplos
seguintes, apresentamos uma metáfora e wna lista de expressões comuns que
são casos especiais dessa metáfora. E ssas expressões são de dois tipos: as
literais simples e as idiomáticas, que se encaixam na metáfora e fazem parte
de nossa maneira de falar no dia-a-dia sobre determinados assuntos.

TEORIAS (E. ARGUMENTOS) SÃO CONSTRUÇÔES


Esse 6 o (Jliurce de sua teoria? (Is Ihat IhefoUlulation for your thcory?) A teoria precisa
de mais JI/Slelllução. m ie lheory needs more support.) O argumento Imlllllço. I O
argumento tfrági/. (The argume nl is shaky.) Preeisamos de mai s falOS. ou "OSSO nrgu;tlCum
cairá fIOS {N/laços. I Precisamos de mais falos, 011 tlO$SO argu mento mini. (We necd some
more facts or lhe argumcnl willfllll /IpalT.)

107
Precisamos cQ,lStmir um argumento foru para isso. I Precisamos eOllStroir um argumento

16Iido pam isso. ( Wc rteed la COIlSlroel a sUang ..rgumenl for lha!.)


Aillda n30 consegui imaginM de queformn será a discussão , (I haven'l rigured o ul yel
whatform of lhe argume nl will be.)
Aqui csl~ mais alguns falo.s para tJcorllr a teoria. (Ilere are some more facts to sho,,:

IIp lhe Ih eory.)

Precisamos I!searar /I tcoria com :'IfgumenlOS sólidos. (Wc need 10 bllllreu the lheory

wilh wlid arguuw::nts.)

A teoriaflCord "m pi ou cairá de acordo com aforça daquele argumento. I A teoria s"

SUSI"llIlUtÍ 0\1 cairâ de acordo com o ~so d:KJuc1e argumento. (Ille thcory will SWttd or
fali on the s/rellg/II of th:1.\ argutlw::nL)

O argumentO dtJpellcou. (The argumem coJlapud. )


Eles demoliram sua mais rcttnte teoria. (Illey uploded his latest lheory,)

I)cmOllSU'.lIal1J5 que a rn:ria nàJ ~n ~. (Wc ""ln shaw IIw.lhe thcory is withoutfollndation.)

Até ligara apenas juntamos o arcabouço da leoria. (50 far we h:lve pullogelhcr on ly lhe

frame,,"or/;, or the Ihcory,)

ID~IAS SÃO AUMENTO


OqucdcdissedeUouon minha boca Utn&= mim. (Wh,1t hesaid I..jt 1I1x"II{l.fle iii mymou/h.)
Tudo o quccsscanigo !rU s30fmoscnu, idb(IJ molpassadru I! /coriru requentadas. (A li
this paper h1l5 in iI are row fileu, half·oolcl!d id..ru, and ....arm ..d·Oj·er Ihl!oriu. )
lU mui tos fatos aqui para que cu possa dig"ri·/os de uma só vez.. [There :Ife 100 m:my

facts tIete for me to dig!!s, them ali.)


Simplesmente n30 consigo engolir e$S3 afirm:.ç30. (ljU.'i1 c~n' l .rwallow Ihal c laim.)

Esle arg umento cheiro a peue ulragu.:/o,1 Este argumento cheiro mal, nll:ll argulllclIl

smc/lsfishy.)
Deixe·me cOlinhar isso lII~i s um pouco, (Lei me slew over Ihal for a whik:.)

Bem.cis uma teoria em que te:llmenle se podemertrl",has" delI/ui Uem, eis um;llcoria
que fCôl.lmente se pode.u.ooreor, (Now thc:re' 53 IJw::ory )'ou can really sink JOur rtc/h imo.)

No momento lentOS quefi/lraressa idtia. (We need 10 lellhal idca /1I!rcolme for:l while.)

I~to t olimento para o penS(1m~nlo. (That'sfoodfor Ihoug/rl.)

108
(
(
(
Ele f um leitor voraz. (He's :I vomcioUJ reader.) (
NilO preci sa mos dar rudo /IU lJoca dos alullos.1 N:lo preci samos dar tudo lII(ufigCIIJO aos (
allloo.~. (Wc dou' t need 10 sJloon-fecd our s(mleul$.)
(
Elf' del'orOIl o livro. (110 devoured lhe book. )
(
Vamos deillM QSS.1 idfia colillhar em lXIII/lO maria por UI/I tem/lO. (Lct 's let IhM ide!l
(
simmtr 011 ,hc back bllnler for !I white.)
(
E.\ta f li parte carnosa do tt};IOJ Esta f a pane sl/culellla do te1.l0. ( Ini s is the IIIcU/y pari

or the paper.) (

Vamos deixar essa illfia e/Igro.rsar um pouco. 1 Vamos dei llõlf essa idt!ia clu'gllr 110 1/OIUQ. (
(LeI Ihal ideajell for a while.) (
Essa illfin vem f", nfli!rlI(lIIdo h:l anos . (Jllnl idca has beeu f,,,,,,e l1lll1g for years.) (
(
Com relação ii vida e à m orte, IDÉIAS SÃO O RGANISMOS, tantO de
(
PESSOAS com o de PLA NTAS.
(
\
lOf!iAS SÃO PESSOAS
(
A tooria da relnlivillade deli tllrll li uma série de itl éiM na flsica./ A tcoria da relatividade
gem" uma série de id6a$ na fisica. (The Iheory of re l3livity gllve blrlh 10 an enormous
(
nUnlber of ideM in physics.) (
Ele é o pni da biolo!;ia Illoderna. (Ho is lhofmheror !Ilodem bio logy.) (
Dequom foi Co<;ScrcbmIQ eerebm/71 Quemgeroll rslll Idtill ? (Whosc braille"illl was lhal1) (
Veja cm (111e as idéias dele di!.W'·llfam. I Veja no que deram as id6ns de le.
(
(l.ook 31 IVhal his itleas Im\"e spm'·lIed.J
(
Aquelas illéi3$ morri!rllm 1II/ltI alwm na Idade Média. ( 1110se idea.~ lIied oJJin the Mi ddJe
(
Ages.)
(
S lIas idéias l"i"'~riio pam sempre. (lI i ~ i,leas lVill/iI'i! 0 11 forevcr.)

A psicologi a cogni tiv a csl~ ainda e l11 sua in.f!ineia. , A psicolog iu cogn itiva aind a está (
tmgatillhmrdo. (Cognitive psychology is sliIl in ils itifimey.) (
Esta é lIl\la idéia que merece Str ri!Ssu.rcilada. (Jllat" s an idea thm OUI;11I10 bc resrlrrected.) (
De onde vocês de.tt:muraram e.~a idé ia7 (Wh cre did y Ol! diS "I' lha! idea7) (
(
(
(
\()<)
,
() ~
( ~
(j Ele soproll vida /lOva àquela idéia. I Ele deu vida /lova àquela id~ja. (He breollted ""IV lifc
;/110 lho! idea.)
( ;;i
( ])
(
\~
,
",

( .:;,.
IDÉIAS SÃO PLANTAS
Finalmente suas idéiasfn,tifimram. (Bis ideas have finaHy come tofrui/ialt.)
Aquela id6a morreu IlU vil/eira. I Aquela idéia morreu 1/0 pi. (Thal ideatlied On lhe vill/' .)
( ~ Esl.1 brotando uma nova teoria. mlUl'S a budding lheory.)

( ] uvar;! anos para que essa idéiaj/Qruça IOralmeme. (I! willl3ke yealS for lha! idea 10 come
IOfullj/ower.)
( ])
Ele vê a química como um simples rtlmo da fIsica (Ht views chemistry as a mereojJslwQ/
( J of physics.)
( j
A matemática tem muitas ramificações. (Mathematics has many bmnchel.)
( .1~
As umelUes das gr.mdes idéias dele formo p/amados na suajuvcntude. Cl1le ueds ofhis
( B greal idcas werc p/all/ed in IIis youlh.)
( .~
.:.: Ela tem imagillaç50 fértil. (She lias aieni/e imaginntion.)
( ]) I
Eis um3 idéia que gostaria depllllllar cm sua mcntc. (Here's an idea IIIat I'd likc to pIam

( 1>--
0
,~--
"
- - - - - inyourmind.)
)
'", Sua mentc não éiér/iI. (Bc has a bnrre'l núnd.)
(
," ,I
( )~
.'" IDáAS SÃO PRODUTOS
( :3
(.1l
( ])
I' Estamos realmente agi/amJa(sacudimla, aciananda, palinda} id6as novas. (We're reaJly
IUming - c/lUming, cranking. grinding _ aUI ncw ideas.)

Geranws várias id6as esl<l semana. I PradulÍnJos várias id~ ias esta semana. (Wc'vc
( ~) gf11eraud 1\ 101 of idellS this weck.)

'~
( .~ Ele produz idéia'l IIOVa'l em lUll ritmo esp.1l1toso. (He prodllCes new ideas ai ati astounding rme.)
SI/a pradutividurle ime/ee/ual diminuiu nos últinlOs anos. (Bis imd/cemal pradw.:livi/y
(3
has decreased in rccent years.)
( ::ii Temos qllepoliras ares/as desta idéia, ofiá·la, alisá·la. (Wc necd la take fOugh eriges af!
( ]I lha[ idea, hone iI dOWII, smoc/IJ it OUI. )
( ~ é uma idéia tosca; dcve se r refinUlJo.. (11'$ II rough idea ; iI needs lO bc refi'leI/.)
( ~
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( .,~
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( g~ I" 110
,
( II
( - 1'-
1
IDÉIAS SÃO llENS DE CONSUMO
t\ form~ com 'luc você empacota suas idéias t importante. (lt' s im[lOrtnnl how you
package your idcas.)

Ete não vai comprar isso. (He won'[ buy lha!.)


Essa idéia simplesmente não t vendável. (111m iuca JUS! won'! sel/.)
Sempre hli mtm:ado para boas idéias. (lllcre is alwnys a martel for good idcas.)
Essa é um~ idé ia sl'm I'olor. (Tha['5 a wonhlus idea.)
Ele tcm sido urna (o ule de idéias voliosm. (Uc's bec n a source ar Vf,/uuhle idcas.)
Eu não daria um IOslãofurado por essa idéia (I wOluJn'1 give aplugged nickel for thm idea.)
Sll:l.'i idéias n50 têm chance no ",,,,elido inre/ecmal. (You r idcns don'[ have a ctmnce in
lhe imd/ecllw/ marke/p/act.)

IDÉIAS SÃO RECURSOS


Acabaram-se suas idéias. (He ma oul ofideas.)

Nilo desperdice seu pensamento com pequenos projetos. (Don't wasfe your thought$ on
small projeclS.)
i--~-~­
Vamosjutrlar nossas idéias. (Lct's pool our ideas.)
I
Ele é um homem cI,,~io de recursos. (He is a resourcefol man.)

Esgotamos todas as nossas idéias. (Wc·ve used up ali our ideas.)


Essa idéia é iluili/. mis is li use/e:;s idea.)

Essa idéia percorrerá 1//11 /o/lgo Cllmitlho. I Essa id6a vai dumr lili/iro. (Tha! idea
will go a long way.)

IDÉIAS SÃO DINHEIRO

Deixe-me colocar meus (lois lostões. I Deixe-me dar minha pequell ll cOtltrib/l içãa. (leI
me pUl inmy Iwo ce'lls' war/h.)

Ele é rico em idéias. (He's rich in ideas.)

Este livro é um tesouro de idéias_{F.ste livroé um achada. ("l1mt book is a Ir(lISIIre trol'e

of ideas.)

Ele é rico cm idéias. (He has a ",ea/lh a f ideas.)

111
ID1~I AS SÃO INSTRUMENTOS CORTANTES
Essa idéia é iucisim . (ln al' s an incisi"e idc3.)
Isso ~ um corre diN!to "O corarão 00 assunto} Isw mala a qUClit!lu. (111al CUlS riglU lo /Irc

Ireart oflhe malter.)


Foi uma observação corUmle. (That was a cUlling rcmark.)
Ele ~ afiado. (He' s slzarp.)

Ele ~ cona nte CO/lIO lima /lava/ha. (He has a rawr wit.)
Ele lem mC:1lIe afim/a. (He h.1S a kun mind .)
Ela corrQlI 05 ru gumC:nlos de le em lims.1 Ela picou OS argulnen!OS dele. (She CIII his

argulllellLS lo ribboru.)

IDÉIAS SÃO MODAS


Essa itJ,é;a saill de moda anos :ltrá<;. (Thal idea wen l 011/ of SI)'1c yem'S ago.)
Soube que a sociobiologia atá em "'00(/ atuahncnte. (Iite.w SOCiobiology is in the.<;e days.)
Atualrnellle o maooismo rs/tl em moda na EUTOp:l ocidental. (Marx ism is eurrcntly
fnshionable in WCSICnl Europe.)
Essa id~ia é um dwp.!rl velho.! Essa idéia é um trapo I'tlho. (That idea is /1Il 0111 Im/.)
Ess:\ é uma id~ia fom (fe moda. (That' s au ou/doter! ideal
Quais são as novas tem/breias na critica inglcsa? (\'Vhal are lhe ncw trends in English

- eri licism?)
I NoçõesfoTa de moda não têm lugar na socir:d ooe de hoje. (Ol.t1asl,iollcd Ilotious have
I- 110 Illace in loday's society.)
Elcmwuém·JeowalÍl.allo leilOO o Neli' Yark Review orBooks. I Ele mlm/i m.!C /ln /I1ml"
lendo o Neli' York Review of 1100k$. (He kcc l's IIp· /o ·II<11e hy read ing lhe Ncw York
Rev iew of Books.)

Uctkele)' é um ce ntro do pen samento dI: WIII8"lIrdll. (l3erkeley is a cc:ii tcr o f II I'ollt·ganle

IhoughT.)
A semiótica tOtuOu,se bastanl e cI,ique. (SeHliotics has become quilCehic.)

A idéia de revoluç30 uão est~ mais em ~'08a nos Estados Unidos. (111e idc:a o f revolmion

is no longer ;'1 ''Ogrle in lhe Uniled SI3ICS.)

112

-
(
(
(
A 0 11110 d ~ gramá liça transfonnacional chegon aos Estados Unidos em meados dos anos (
60e acaba de fa;r.er sucesso na Eump.1. (Ibc tr:tnsfonnalional granUllõlf cmzc hillhe Uniled (
SI:LICS in lhe mid-sill1ics and has jusl made itlo Europe.)
(
(
Em"ENDER É VER; lDt.IAS SÃO FONTES DE LlJZ; D1SOJRSO É U,., l MEIO DE LlJZ
Veja o que você eslá dizendo. (1 Se<' what you'n: $ay ing.)
Isso parece diferenle do lUeu pcllll.! tle ~ÚIII. (1l1QQb diffcrent frommy pOÍll1O/I'ie .... )
(

Qual é sua pcrspcctil'tl sobre isso 1 ( \Vhal is your ollll()()k on 11131 7) (


Eu o I'ejo de maneira difercnte. (I1'jeW ii diffcrent ly.) (
Agora tenho o quadro completo. (Now 1'vc g011hc II'hoic pie/rire.) (
Deille-me IUOSlrar·lI,c algo. (LeI mepoim some/!Jillg oU/to yOIl.)
(
Essa é uma idéia cheia l/t: \·üllo. (That's an insightjuf ide.a.)
(
Fo i uu ,:\ observaçllo bri/l,mr/c. (Thal was 3 bn'/linnl remarlc)
(
O argumento é d aro. (The õlfgumCIlI is dear.)
r-oi uma diseU5S30 obscura. ( II was a mrlrk)' discussion.)
(
Você poderia c/rl/:idar suas observações'! (Could you elucidole your rcmõlfks'/) (
É urn argume nto /rlUlSpa rellle. (ll'S a Immparelll argllmcrtt .) (
A diseuss30 foi opaca. (lbe d iscussion W .1$ opaqrle.) (
(
AMOR t UMA FORÇA ÁSICA (EU:LROMAGNftnCA, GRAVITACIONAL etc.)
(
Eu podia seotir a e/etrieidalle enlre nós. (I rould reeI lhe c/ee/fieil)' bctwecn us.)
(
Houve/a(sco.!. (nlcre werc sparlu.)
(
I·louve uma /J/f//(iio nJ//811/ilica en tre nós. I Fui arm(Ja IIII' g' lclieanumle por ela. (I was
(
maglleficaU)' llra ... n to her.)

Eles sentem um pelo o utro 11m3 nlf(lçlfo incorttrol áve l. fllIey are uncontro1l3bly atlme/cd (
10 each Olher. ) (
Irnediata1Tl~nle eles começaram a 8rl",j/ar um em tom o do OUtro. (1bcy gmvÍ/arcd lo caeh (
oth er immedi~tcl y.) (
Toda sun vi d~ gira em to rno dela. (11is whole life rcvol" cJ around her.)
(
A armos/era enlre elC$ é sempre carregada. filIe arma/phere around lhem is always
(
c/lllrged.)
(
(
(
11 3
(
( .,11
(
.";'~
H:I Lima im;rfvcl energia em seu relacionamento. (I11ere is incredible encrgy in lheir
( .,:.-
rclation$h ip.)
(
l~ Eles perdemm o (mpt U!. / Eles perderam ofogo. (The)' losl lhcir lIIomen tllm.)
(3
(]3 AMOR É UM PACIENTE
( @ Esta relação ~ tkK"titl. (Thi5 is 3 sid: rd ationship.)

(1: Eles It m um casame nt% rte e saudável. (11Iey !lave a slrong, heallhy marriage.)

(] O cas3mclllOest:i mo rto- não [JOde= rwUKiIIllIo. (Thc nwriagc isdrod - ir can '( bc m'ÍloM.)
O casamento deles n /II melhoram/o. (Thcir maniage is OII/he _rui.)
I ~
Nossa relação cstá em pi de [JQVo./ Estamos fOmnndo pi novamente. (Wc 're gening back.
ID 0 11 al/rlul.)
O Ore lacionamemo tleJesesld realmeflle em Ima [aromo (1lIC irrelntionship is in rtaUr good
( ~ shn"e.)
(? Eles têm um cas~menlO lelárgico. r nley' ve gO! n lú,JesJ m.1lTi~ge.)

(:ID O casamentO deles está nas ú/limas. (Their mruTiage is on ilS 111$1 /egJ.)

I]
<li
...
!
É um caso dugusuulo. (It's II/irtd affai r.)
----_.. _---
AMOR É LOUCURA
(]l
Sou louco por ela. (I'm crazy nbout her.)
( ]I Ela rrtefalpcnlera ca~fa. (S/le dri'~J me OUI of my mind.)
('"
.~ Ele t$flf sempre 10l/co por ela. (l'le conSlIllllly rtwes aOOut her.)

O Ele ficou IOl/lo por ela. (He's gOrte,nad over her.)


( .l> Fi cofora de mim por ca usa do Hnrry. (I'mjUSI wi/d aOOul Hnrry.)

(~ EstOll louco porela. (I' m insane about ller.)

(~
AMOR é MÁGICO
(3 Ela lauçol/ Jtufeiliço sobre mim. (She crul her spelf over me.)
.~

( "
- A magia passou. (1bc mugic is gorte..)
( ~ Fui e,ifeuiçado. (I was spelJbound )

C .. Eln me hipIlOli~oll. (Slr.e lr.:ul me hypIJOliled.)


( ~.
~ Ele me mMll m em transe. (Ue has me iII a Imnce.)

( ''-
},,~,

{ :!}
(li.'> 114

{ ~
( Q
Eu erafascinada por ele. ( I was I'lIIrmu::td by him.)

Fico tncanlailo com ela. (I ' m ch(lmltd by lIer.)

Ela é cmimntt. (She is btwitchillK.)

AMOR ~ GUERRA
Ele é conhecido por suas inúmeros co"quis/{u ripidas. (He is kllown for his many I1Ipid
conquars.)
Ela lutoll por e le, mas sua amante Vl'netl j. (Shefought/or him, but hi s mi stress WO/l 0111.)

Elefugill dM i"vestidtu dela. (Heflei/from her 1lI1mncts.)


!!Ia perstglliu·o itl cansavelmmtt. (She pl/rsutil lIim rtltntltSJ/Y.)
Aos poucos, de l'IIi gllnlollndo lerreno com ela. (He is s10w ly 8"ining 8rollnd w ilh her.)

Ele ganholl a m!io dela em casamentO. (fi e WOII her hand in rnarriage.)
l!Je a sllbjugorl, (Be ovtrpowerl'11 her.)

Ela vive cercada por seus pretendentes. (She is btsieged by her su itors.)

Ele tem de stpard· los, (Ue hM tOfe"d them off.)


Ele rl'crulOu os amigos dela para ajud~. lo. ( ~Ie t ,Jlisud Iht aia of he r ftiellds.)
- - - - ; ;;c-;::-:;=-= ._- - -----
EIe/et da mk del~ uma aliada. (Be matle an a//yofher ITIOlher.)
Não há IIcordo entre eles, se é que euj:! tenha visto algum. (Illeirs is a miso/liollct, if"ve
evcr seen one.)

RIQUEZA é: UM UEM OCULTO


Ele está em busca de sua fonuml.. (Ue is seding his fortulle.)
Ele está ostentando sua recim·dtscobtna fortuna. (He's flaunting his nl'w/ou'uJ weallh.)
Ele é um caça,p,,",mtu. (Hc's afonmu:·hmlll'r.)
Ela é uma covoi/om. (She ' s a go/(f-diggl'f,)
Ele pudell sua fortuna. (III' lost his fortune.)

Ele estlil'm busca de riqueza. (He's searchittgfor weahh.)

IMPORTANTE É GRANDE
Ele é um grande homc m na indústrin do vestuário. (Hc's n big mau in lhe garH\cnt
indus!ry.)

115
Ele é um gigante entrc os escri/OI'C$. (He's agiam mnong \Vri/crs.)
Esta é a maior id6a 111IC chega li propaganda em anos. (111at's tire bigSeSl idea la hit

advcrtisi ng in yeM$.)

Ele eslá acima de tados no selor industrial. (He' s /'eatl mui s/IQ1I/ders abOI'f! evcryonc io

the ind usll)'.)


Foi apenas um pt'qlumo crime, (lt W:lS only a smllll crime,)

r'{li alienas uma ptqll/!/la mentira inocente. (Thal was ollly a lili/e white lie.)

Flquci IXlSfllO diante d., mormMade do crime. (I ....':I.~ 3SlOIlndod 8t lhe ellOmlÍl)' of Ihc crime.)
Foi um dos /IIO;ores ,nolT\(;n/os na história dos Scriados Mundiais. (11m/ w as one of/ he
grl:a/Ut mo"",nts in World Serie.o; his/ol)'.)
Seus (CilOS sobup"jam os dos oornens inferioru. (liis accomplishments lo",u o vu lho5e

of lessu me n.)

VER É TOCAR: OLIIOS SÃO MEMBROS


Ni\o oonsigo lirar meus olhos dela. (I can' l /(lU '"y eyes oJJher.)

Ele SC'llla-se oom os olhos grudados na TV. ( He si ls wilh his eyes S/ll et! 10 lhe TV,)
Seus olhos peglmim cada um dos dclaltles do modelo. (Hcr eye.o; pickt'd 0111 cvcry dclail

o f lhe pa liem )
Seus o lhos se e"c(mlraram. ( llw:ir cycs mct.)
Ela j:lInais li", os o lhos do rosto dele. (Shc /ICvcr tnOl'U hcr c)·cs.fron, his [xc.)

Ela co rreu os o lhos por tudo na sala. (Shoe ma hereyes OI'U el'erylhing in lhe room.)

Ele q\ICr lUdo ao alcaace de seus o lhos. (Hc w:m/!Ç evcrything ",ÍI/lin reaclr o(his eyes.)

OLHOS SÃO REC II'I ENlliS PARA AS EMoçÓES.


I'ude ver o medo J,mlru de seus olhos. (I cou1d sec lhe rear iII his eyes.)

Se us o lhos estavam c/reios dc raiva. (His eyes wcrcfilled with :mger.)


Ila\'i a pai do cm se us olhos. (Thcrc was passiOl1 in hereyc.s.)

Os ol hos de le moslrtl"am sua compaido. (I'lis eyc.s dup/ayedhis compassioll.)


Ela não conseguia tirar o medo de seus olhO$.. (Shc caulon ' l ge/lhe rear OUl o( hcr eyes.)

O alllo r mostrol/·se em seus o lhos. (Love$IIOIl't'l1 in his eycs.)


Se us o lhos era m li'" {JQf0 de ernoç30. (1ler cyes lI'elled with erllOliOl1.)

1.
116
(
(
(
EfEITO E/l.KlCIONAL É CONTATO I'iS ICO (
A mone de sua mãe ol"l&i,, -o em cheio. (I-lis mo ther's dcath hil him lzard,) (
Aquela id6a derm/)ol/·lIIe. ( 111:11 idea bow/ed me ova.)
(
Ela é um ItOC'/IIle, (S he's a kmxlwul.)
(
Fui a/Íllgido pcla siZlÇeridadc dele. (I was $Iruck by his siIICCrily.)
(
Aquilo realmente me i"'IJreuiOJ1ou, ( 1113t real1y mede 011 impreuiolt ""I me.)
(
Ele deixou $I/U marca no mundo. (U e mode IJis ma, k on the world.)
Sua observação lOCou-me. (I was tour:/lrd by his remark.) (
Aquilo me ofos/o... mlat blcw me oway.) (
C
I!SfAOOS I'iSICOSOUEMOCIONAISSÃOFNnDADES DENTRO DEUMAPESSOA. °C
Ele tem dor lia ombro. (He has a pain ilz his shouldcr.)
(
Não me paS.l"1! a gripe. (Don't giv~ me the nu.)
(
Meu resfri ado pa.JWJ' 'ÚI cabeça paro o I'~i/o. (My cold ImJ gom:: from lhe /zead /O my clzest.)
(
SU:l5 ~forom embora. (I-lis pains wem away.)
A depressão dele voltO/I. (His (ic"prc:Ssion rúurned.) (
Chá quente e mel f:trilo você se livrar da tosse. ( UOI tea :md honey wil1 get rid ofyoor (
eOllgh.) (
Ele mal conseguia contu sua alegria. (Ue could barcly cOllloilt his joy.) (
O sorriso SlIm ;.. de seu rosto. (llle smile /efi his face.) (
Soldado. lire essa expressão de desprezo de seu rosto! ( \Vil'~ th31 srltCr of! your façe,
(
privale !)
(
Seus temores insistem cm l'oltor. (l-li5 fcal's krep comillg back.)
(
Tenho que cllflCOl/lIl1/r ess~ depressão '1"C mTo me lar811. (l· \·c gOI la ~1I(lke Qff thi s
Ocpression _ it kceps IImrg ing on.) (
Se você ap:mhou um res friado, tome mu ito c há para /ivror·u dele. (Ir you'vc gOI a cold, (
drin king lots o f te.1 will jlnsh it om oryour sistcm.) (
Não M um Iraço sequer de covardia /Zele. (nlere isu' t a Ifllct of oow~rdke iII hirn.) (
Não Irá "''' pi/Igo de honestidade lIel!!. (l-Ic haSlI'1 got a/IIIO/lesl /)OIlC illhis OO<1y.) (
(
(
(
(
11 7
(
l!)
(')
VITAUDADE É UMA SUBSTÂNCIA
( il)
Ela e$tá cheia de força e vigor. (SIle '$ brimming wilh ~'im ::md vigor.)
( ~
Ela cslá lrimsbordamlo de vi lalidade. (She'$ ovuflowing wilh vilaJil)'.)
1l Ele ulá UIII e nergia. (He's devoid o/cnerg)'.)
(~ Nilo me sobra energia no fim do dia. (I 0011'1 have an)' energ)' /tfi olthe end o( the day.)

<::') Eslou tsgouulo. (1'111 draintd.)

(@ 1$50 /irou muilO de mim. IS$(! algiu Illuito de mim. [Il'allook a 101 OUl of me.)

( $j
VI DA É UM RECIPIENTE
(~
Tive uma vida el,da, O ' ve hatl afulllife.)
A vida t \Y1tia para ele. (Lire is t mply for him .)
Ni\o sobrou mui/o,UI vida para ele, (lltere's "01 mllch /4/ for hi ..n iII life.)
A vida dela é um amomoodo de al ividodes. (Her life is crommed wilh aclivilies.)
Tire o ,m1timo da vida, (Gtl mOSI oul O/lhe life.)
A vida dele coflli"hn muila dor. (li is life comaiaed a greal deal of sorrow.)
Viva a vida plenameme. (Live your life 10 IlI e/ullesl,)
_ _ _ _ _ _ _ _ o _ _ _ _ _ _• ___ •

-~--
(o o-----
.';'." -I
VIDA É UM Jooo DE AZAR
<'~
Vou aprol'ârar a oponunidade.1 Vou arriscar minlla sane. (I'lIlaJ:e my chatlcts.)
(
TodílS 11$ probabWdadts sl10 conlra mim. (The odds art ugairul me.)
( 1$ Tenho uma cana ntl maagn. (I've got anllct upmyslu"t.)
\)) Ele /em lodos os ases. ( He's lto/ding aI/lhe aceJ.)
(]) É uma quCSl30 de cura ou coroa. ( h 's a IO$$'UP.)

( ~ Se voei joga r bem SllfU car/fU, voee eonscgu iroi.1 Se voetjolJardireilO, voee vai conseguir.

( :? (lf YOU p/ar )'OlIrcartu right, you can do iI.)

Ele foi o graude vencedor. (III! WO/l biS,)


(')
Ele é um verdadeiro perdedor, (He's a real/aser.)
('l!l
Para oode ele vai qURl1do tslll ptmlem/o? (Where is he when lhe clrips tire ,lolI'''?)
(JD Este é meu Irunfo.1 Esle é meu á.r no bolso do colele. (Thal's m)' ace iII IlIe ho/e.)
(v Ele está blefando, (He's blrtjJi"g ,)
(~ O presidente está escondendo li jogo. (The presidenl ispl/lying iI c/ose to his ~ell.)

< 3l
(i)
( i.~ 118
(jj)
(~
Vamos mUI/el/lar (I apOSla, (LeI'S uI' I/U: (UI/c,)

Tal\'cz sejn necessirio aun~ma r lU apoSltu, (Mllybe we!leed 10 Jwuun l/II' 1'01.)
Acho quc dcvemos paJJar" "':l- (I t11inlr.; wc should slaml pai,)

Esta ~ ajogtuln da J O"':, (1bat's Ih.: 11It:k. aflh~ draw.)


S~o aposlIIs a/Ias. (Thosc are Mglr slakes.)

Nesse último grupo ele exemplos, temos uma série do que chamamos
de "fórmulas do discurso", ou "expressões idiomáticas", ou "irens lexicais
fraseológicos", que funcionam de inúmeras maneiras como se fossem
palavr.l.s únicas; e a língua possui milhares deles. Nos exemplos apresenta-
dos, cada conju nto de itens lexicais fraseológicos está estnnurado de forma
coerente POt meio de um único conceitO metafórico, Embora cada um
d ~les seja um exemplo da metáfora VIDA Ê UM JOGO DE AZAR, eles são
normalmeme usados paro expressar li viela, não situações de jogo, São
formas usuais de se falar sobre situações d:\ vida, da mesma maneira que é
usual empregar a palavra "construir" quando se fala de ( eo~ias, É nesse
sentido que as incluímos no que chamamos de expressões literais estrUnL-
radas por conceilOS metafóricos. Quando dizemos "Tudo est:í contra nós"
ou ''Temos que aproveitar a oportunidade", toelos entenderão que não
estamos usando metáforas, mas que simplesmente es tamos USando a
linguagem no rmal do dia-a-dia para uma determinacla siruação, mas a
maneira de falar, de conceber e até mesmo de experienci:lf a simação seria
estruturada meraforicamente.

" 9
.... -- - -_. ._._--

I
I

I
(
(
(
(
(
(
(

(
(
(
(
(
11. A NA71JREZr] PARCIAL DA
ESTRUTURA lvlEIAFÓRiCA <
<
(

\
Até aqui descrevemos a natureza sistemática de conceitos definidos
(
metafo ricamente. Entendemos esses conceitos cm termos de várias mctá-
(
fora s. (por exemplo TEMPO É DINJ-IEIHO, o T EMPO É UM OllJET O MÓVEL
(
elc.). J\ estrutura metafórica dos conceitos ê necessariamente parcial c
(
reflete-se no léxico da linguagem, inclusive no léxico frasco lógico, que
abriga expressões de forma fixa, como, por exemplo, "estar sem base".
(
Uma vez que os conceitos são estruturados metaforicamente, de forma
(
sistcrnâúca, como, por exemplo, TEOIU AS SAO CONSTltUÇOES, é possível
(
usar expressões (cof/Jlmir, afirme) de um determinado domínio (CONsTRU-
(
ç ÃO) para fabr de conceitos correspondentes no domínio dellnido meta-
(
foricamente (TEOIU i\S). O ([ue (I/irem Of/ b(/u , por exemplo, significam no
(
domínio melaforieamente defi nido (rE01U i\) dependerá dos detalhes de
(
como o conceito metafórico TEORIAS SÃO CONSTRUÇOES for usado para
(
estrul'ma r o conceito de TEORI A.
(
(

121
(
(
<'1'1
(~ As partes do conceito de CONSTRUÇAO lIsadas para estruturar o
( '!) conceito de TEORIA são o alicerce e a parte externa. O telhado, os cómodos
(]) internos, as escadas e os corred o res são elementos de uma construção que

(~ não são usados para o conceito de TEORIA. Assim a metáfora TEORlAS


~
( __ I SÃO CONS'IltUÇOES tem uma parte "usada" (alicerce c parte externa) c.
'." uma "não usada" (cómodos, escadas etc.). Expressões como (Oll!/n/ir e
~ :j.'

( }J aliurre (ou baJe) são exemplos da pane usada do conceito meta fórico e
( pertencem à nossa maneira o rd inária e literal de falar das teorias.

<3 Mas, o que dizer das expressões lingüísticas que refletem a parte "não
(11 usada" de metáfo ras, como ruORIA$SAO CONSlltUÇÓE.S? Seguem c]uatro
( ',illl exemplos:
( 1:
.:;:::- A teoria dele tem milh:lrc:$ de quartinhos e eorrc"ores· colllprido~ c tOnllOSOS. (His theory
l.~
I' has thOu SMds or lillle roolllS nnd 1011g, windil1g corridors.)
(')
__ Suas teorias são Bau holJ.'i 00 que se reFue. simplicidade pseudoruncional. (His theoric:s
(1) are Dauhaus in thcir pseudorullCtionaJ simpliciry.)
('j
I, Ele prdere pesadas teorias góticas cobc:rtas por gárgu las. (He prerers ma.ssivc Godlic

(ií I,
I
theories covcred with gargoyles.)

{) Teorias cOlllp le.,as normalmente aprcsemam problemas de enca namento. (Co mplex th eo-

1l
I ric:s usually have problcrns with the: plumbing.)
I
j
As frases citadas acima estão fora do do mínio da linguagem literal
~
no rmal e são pane do que chamamos de linguagem " figurada" o u "imagi-
'i\\
o~ nativa". Assim expressões literais ('Ele conslruiu uma teoda") e expressões
imaginativas ("Sua teoria reveste-se de gárgulas') podem ser exemplos da
tJ
mesma metáfora geral (TEOlUAS SAO CONSTRUÇOES).
ii
~ Aqui podemos distinguir três sub-espécies diferentes de metáfora
) imaginativa (ou não literal):
'\':
b:
)} 122
~

"
Exemplo de extensões da parte IlsOOa da rnc:láfora, como em " Esles falos s30 os lijol os e
a argamassa de minha teoria". Aqlli a pane externa da eoosuuç30 é mencionada, embora
a melMora TEORIAS SÃO CONSTRUçOES n30 compn:enda os mareriais usaclos.

Exemplo da pane n30 usada da meláfora lireral, COlllO em "Sr m reoria tem milhares ele
quartinhos e corredores compridos e tonuosos".

Exemplo de meláfora nova, iSlo I!, IlnUl metáfora nao usada para cstrururar partedc: nosso
siSlemn. conceptua l nomla!, mas parn CJlprcssarurnll nova manc:iradese pcnsarsobrea!go,
corno em "As teorias clássicas são palrian::as que gel11l1l.l11 muitos filhos, lllle lutam
irtCcssanremenle" . Cada 11m3 das SUD-c:spl!des si lua·se fora da parte usada do ooncti lo
melafórico que cstrulllra llOSS(I sislema eooct:ptual nonnal.

Notamos que todas as expressões lingüísticas dadas para cat".lcterizar


os conceitos metafóricos gerais são figuradas. Como exemplo, podemos
_ _ _,_,_,,_,_: TE.t\JPO li ~~!~IRI!! TEMI~~_UM. OHJIITO MÓV~L, C~~TR O IJ~ Ê
ACll-.1A, IDÉIAS sAo AUMENTO, TEORIAS SÃO CONSmUçÚES etc. Ne-
nhum desses exemplos é literal. Isso ocorre em conseqüência do fato de
que apenas ptJrte deles é usada para estnltur:tr nossos conceitos normais.
N:t medida em que eles necessariamente COnl.e:m partes não usadas em
nossos conceitOs normais, eles vão além do domínio literal.

Cada uma das expressões metafóricas citadas até :tgora (por exemplo,
virá um tempo, (onsfnliruma teoria, flffl(flrUma idéia) é usada no interior de
um sistema global de conceitos metafóricos - conceitos que usamos
constantemente ao viver ou pensar. Essas expressões, como tod:ts as outras
palavras e itens lexicais fras:lis da língua, são fix:ldas por convenção. Além
desses casos, que fazem parte de sistemas metafóricos globais, existem
expressões metafóricas idiossiuwíticas, que ficam isolad:ts, e niio siio
usad:ts de maneira sistemática quer na linguagem, quer no pensamento. São
expressões conhecidas, como pi d:t mont:mha, cabtfo de repolho, pmlfl da
I mesa etc. Essas expressões são exemplos isolados de conceiros metafóri-
cos, cm que há apenas um exemplo da parte usada (ou talvez dois ou três) .
Dessa forma, o pé da montanha é apenas a parte uS:lch da metáfora
MONTANHHA É UMA PESSOA. No discurso normal, não falamos de cabef{l,
ombro ou tronco da montanha, embora, cm contextOs especiais, seja possível
canstmir novas expressões mctafÓ[IC:ls bascad:lS !las partes não usadas. D e
fato, há um aspecto d:1 metárora MONTANHA É Ul'IfA PESSOA que permite
a alpinistas dizerem os ombros da montanha (especialmente o espinhaço
próximo ao topo), c ainda, conquistar, l/flar, c, até mesmo, ser !!Jorio pela
montanha. E mais, há convenções 110S desenhos animados, cm CJuc mon-
tanhas são animadas e seus tõpos tornam-se cabeças; mas metáforas, como
I\-IONTANHA É UMA PESSOA, marginais na nossa culUlra e na nossa língua,
constituem problema, porque sua parte usada pode consistir em uma única
. expressiío convencionalmente fixa na língua, e elas não interagem sistema-
ticamente com outros conceitos metafóricos porq\le muito pouco debs é
usado, o que as torna relativamente desinteressantes para os nossos obje-
tivos, embora não totalmente, já que elas podem ampliar suas partes não
usadas para cunhar expressões metafóricas novas, fazer piadas etc. Nossa
capacidade de estender essas metáforas às partes não usadas indica que,
embora marginais, elas existem.

Exemplos como pi da montanha são idiossincráticos, não sistemáti-


cos e isolados. Não interagem com ou.tras metáforas, não desempenham
papel importante em nosso sistema conceptual e, portanto, não siío metá-
foras que viveneiamos. Os únicos sinais de vida dessas metáforas é que
podem expandir-se em sub-culturas e que suas porções não usadas scrvem
de base para novas metáforas (relatjvamcntc não interessamcs). Se há
metáforas que merccem ser consideradas "mortas", são essas, embora elas

124
(
(
realmente apresentem lampejos de vida e, nesse caso, silo compreendidas, (
em parte, cm termos de conceitos metafóricos marginais como MONTANHA (
É UMA PESSOA (

É impo rtante distinguir esses casos isolados e não sistem~íticos das (

expressões metafóricas sistemáticas que vimos discutindo. E xpressões (

como perder tempo, atacar pOJ/çõu; Jegu;r ((J!JI;lIboJ diferClltCJ ete., são refl exos de (
(
conceitos metafóricos siste"m:ítico s que estruturam nossas ações e pensa-
(
mentos. São "vivas" no sentido mais fundamental: são metMoras que
(
vivenciamos. O fato de estarem eS labelecid~s convencionalmente no léxico
da lingua não as torna menos vivas.
(
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12. QUALÉABASEFOJWADORA
DO NOSSO SISTEMA CONCEPTIJAL?

Argumentamos que a-maiorpan'c do nosso- sistema concepmal é


metaforicamente estruturado, isto é, que os conceitos, na sua maioria, são
parci:dmente compreendidos em termos de outros conceitos. Isso levanta
uma questão importante sobre os fundamentos do nosso sistema concep-
rual. Afinal, há algum conceito que possamos compreender diretamenle
sem recorrermos :\0 processo metaróriço? Se não h:i, como podemos
compreender as co isas em geral?
Os primeiros c:mdidalOs :\ conceitos que são compreendidos dirt:t:\-
mente 55.0 os conceitos espaciais simples, tal como, PARA CIMA, que em erge
d e noss:'!. experiência espacial. T emOS corpos e ficamos em pé. Quase todo
movimento que fazemos envolve um programa motor que muda noss:t
o rientaç!io p:tr:t cima-p:tra baixo, preservando-a, pressupondo-:l., ou, de
alguma forma, levando-a cm conta. Nossa const:mte atividade física no
mundo, até mesmo enquantO dormimos, torna a orientação para cima-p:u :l

127
baixo não ~p e n~ s relcv:lIll c fi atividade Císica, mas centralmen te rele\"ante.
A centralidade da orientação para cima-para baixo nos nossoS programas
motores c cm nosso funci onamento di:í.rio faz pensar que não há outra
alternativa par:l. esse conceito oricnt:l.cionaL ObjeLivamente f:l.bndo, no
entanto, h:í. muitos Olmos quadros possíveis para :l. orientação espacial,
incluindo coordenadas cartesianas que em si não têm orientação para
cima-para baixo. Entretanto, conceitos espaciais humanos incluem PARA

C1r.tA-PARA BAlXO, FRENTE-ATRÁS, DENTRO-FORA, PERTO-LONGE etc.


Esses conceitos são relevantes para o nosso contínuo e frcqiientc funcio -
namento corporal, c, para nós, isso lhes confere prioridade em relação a
outm possível estnltur.lção do espaço. Em outras palavras, a eslnuura dos
nossos conceitos espaciais emerge da nossa constante experiência espacial,
isto é, da nossa inleração com o ambiente físico. Conceitos que emergem
dessa maneira são conceitos que vivemos da maneira mais fundamental.

Assim, o conceito PARA CI1I1II não é puramente compreendido em


seus próprios termos, mas emerge do conjunto de funções motoras cons-
tantemente realizadas, resul tantes da posição creta em rdação ao campo
gravitacional em que vivemos. Imaginemos um ser esférico vivendo fora
de qualquer campo gravitacional, sem nenhum conhecimento ou imagina-
ção de qualquer outro tipo de experiência. O (!ue poderia PARA Clr.tA
significar para tal ser? A resposta para essa pergunta dependeria não apenas
da fi siologia desse ser esférico, mas também de sua culrura.

Em outras palavras, o que chamamos de "eXperiência física direta"


não é. jamais uma <Iuestão de possuir um corpo de lllll determinado tipo; é
uma questão de lodo experiência acontecer dentro de uma vasta bagagem
de pressuposições culturais. Dai, pode ser equivocado falarmos cm expe-
riência fisica dircta como se houvesse um conjunto central de experiências

128
\
(
(
imcdiaras que nós então "interpretaríamos" em termos de nosso sistema (
conceptual. Suposições, valores e atitudes culturais niio siio conceitos que (
acrescentamos ii. experiênci:l. Seri:l mais correto dizer que toda a nossa (
experiência é tol~lllllente cultural e que cxperienciamos o "mundo" de tal (
manei ra que nossa cultura já está presente na experiência cm si. (
No entanto, mesmo se pregarmos (lue toda experiência envolve (

pressuposições culturais, podemos ainda estabelecer import:lnte distinção (


entre experiência.s (lue são "ma.is" fisicas, tais como, ficar em pé, e aquelas (
que são "mais" culturais, tais como, participar de uma cerimônia de (
ca~amento. Neste capítulo, quando t.ratarmos de experiência "física" versus (
experiênci:l. "cultural", é nesse sentido que estaremos usando os termos. (
(
1\lguns dos conceitos cen trais em termos dos quais nossos co rpos
funcionam - PARA C1~ I A-PARA DA IXO, DENTRO-FORA, FRENTE-AlltÂS, (
LUtvUNOSO-SOMI3RlO, QUENTE-FlUO, I'I1ACHO-FÊMEA etc.- são definidos \
(
de m:l.ncira mais clara que outros. Mesmo que nossa experiência emocional
(
seja tiio fundamental quanto a nossa experiência espacial c perceptiva,
(
nossas experiências emocionais sio muito menos claramente descritas em
(
termos do que fazemos com nossos corpos. Embora lima estrutura con-
(
ceptual claramente delineada par.\ espaço venha do nosso funcionamen to
(
motor-perceptivo, nenhuma estrutura conceptlml claramente delineada
(
para as emoções vem exclusivamente do nosso funcionamento emocional.
(
Uma vez (lue há correlações sistemáticas entre nossas emoções (tais como
(
felicidad e) c nossas experiências sensoriais e motoras (tais como postura
(
creta), elas formam a base dos conceitos metafóricos oriemacionais (tais
(
como FELI Z É PARA Clr.1A). Essas metáforas permitem-nos conceptualizar
(
nossas emoções em termos mais exatos, mais claros e também rclacion~í-las
(
com outros conceitos que dizem respeito a bem estar geral (por exemplo:
(
(
(
129
(
,
\ .i>
()
( ) SAÚDE, VIDA, CONTROLE elc.). Nesse sentido, podemos fabr em !fIe/rifora!
() mwgmln e em conceito! tltlery,mleJ.
(.li Assim, os conceitos OBJETO, SUBSTÃNCIA e RECIPIENTE são dire-
IS- t:llnemc emergentes. Experienciamos ri nós mesmos como ~núdades sepa-
I)
\N --
radas do restO do m~:-~~~o
_.~-'_. . r~ci~j~s
--
com um 'l~do de d~~~'~ e um
bdode for.t. Expcrienciamos também coisas externas a nós como entidades
".

() c...._...... .-... " . ~. o" __ • • .-: -

- freqüentememe também como recipientes com ládos de dClllro e de fora .


-- <. • "~
(} Exptriênciamos a nós mesmos como sendo feitos de substâncias - isto é,
r} carne e osso - e objetos externos como sendo feitos de vârios tipos de
n, substâncias - madeira, pedra, met:l.! etc. Experienciamos muitas coisas, por
( ,~:.'
meio (I:'! visào e do tatO, como tendo fronteiras definidas c,quando as coisas
n II nilo têm fronteiras definidas, freqüentemente projetamos fromeiras nelas
( .....
..>' (por exemplo, florestas, clareiras, nuvens etc.)
1]1
(T- H--- -- - - Como no caso de medforas orientacionais, as metáforas ontológicas - - -
( ] b:ísicas fundamentam-se em correlações sistem:íticas no campo de nossas
( ~) experiências. Como vimos, por exemplo, a metáfora CAMPO VISUAL I~ UM

()
.- RECIPIENTE fundam enta-se na correlaçilo entre o que vemos e um espaço
I físico definido por fro nteiras, A met:ífora TE..\WO É UM OBJETO BI
\' .:)
''?
( » li MOVIMENTO fundamenta-se na correlaçilo entre um objelo movendo-se

() II, cm direção a nós e o tempo que l~va para nos alcançar. A mesma correlação
serve de base para a metáfora TEMPO É UM RECIPIENTE (como em "Ele
()
realizou a t:l.refa m dez minu tos''), em que o espaço, definido por fronte iras
~ ~
() e :l.travessado pelo objelo, é correlacionado ao lempo q ue o objeto leva para

\) atravessá-lo. Eventos e açõcs são correlacionados com períodos de tempo

(]) delimitados por fronteiras c isso os to rna ODJETOS RECiPIENTES.

() A experiência com objclos físicos fornece a base para a metonímia.


t) Os conceitos metonímicos emergem de correlações em nossa experiência
(~
O 130
( )p
, ,- I
r entre duas entidades físicas Qsto é, PARTE PELO TODO, OBJETO PELO
usuAruO), Oll entre uma entidade asita e algo memforic:llncnte concep-
tualizado como uma entidade fisica (iStO é, LUGAR PELO EVENTO, INs'n-
l1J IÇÃO PELA PESSOA RESPONSAVEL).

Talvez o mais importante a enfatizar sobre a fundamentação de


conceitOs seja a distinção entre uma eltpedência e :t lll:'Lneira como a
conceptualizamos. Não estamos afirmanc.!o que a experiência física seja, d e
algum modo, mais básic:'I que outros tipos de experiência, quer emocional,
mental, culturnl ou de outra natureza. Todas essas expe riências podem ser
tão b:í.siós quanto as experiências físicas. O que estamos afirm:l.Ild o sobre
il funclamentação de conceitos é que nós habinmlmcnte conceptualizamos
--.' , _ ......".. r __ .. _,. _ .... •
experiências não fisicas em tennos de experiências físicas - ou seja,
._. __ . -;:-- . _ . ,. ,_ ._ .... c:.::--=- _.. _ .,
~éÕnce ptu alizamos algo que não é claramente delineado em termos de algo
c........ -- .-- - ., '- . -- - . -. .' -,

-----------. ..-
_ que- é mais claramente delineado. C~nside re os seguintes exemplos:-- - - -

Hnrry eslá 11/1 cozi nha. (Hmry is ln lhe kilchen.) ..J-,I""-..vf


Hnrry eslá II/} (;lks (c lube). (Ilnrry is ÍlI lhe I3lks.) Jr9<..vf
. r
Harry está (>71 estado de aUlor) Harry está amando. (Harry is ln love.) 1--,. ,~, .. ~' . ,,- r

Os exemplos referem-se respectivamente a três domínios da expe-


riência: espacial, social e emocional. Nenhum tem prioridade sobre o outrO
cm termos ele experiência; são todos experiências igualmenre básicas.

Ma~, no que se refere i estruturação conceptual, há lima diferença.


O co nceito DENTRO DE do primeiro exemplo emerge diretameme da
experiência espacial de maneira clara, Não é uma instância ele mn conceito
metafórico, Os Outros dois exemplos, no entanto, são instâncias de con-
ceitos metafó ricos. O segundo é uma instância da metáfora GRUPOS
SOCIAIS SÃO RECIPIENTES, em termOs da qual o conceito de grupo social

131
é estrulurfldo . Tal metáfora permite-nos perceber o conceilo de grupo
social com base na noção de espaço. A palavra "na/no" c o conceito
DENTRO DE são os mesmos nos [fês exemplos; não lemos três conceitos
diferentes de DE.NTno DE ou três palavras ho mófonas para expressá-lo.
Temos um conceito emergente DENTRO DE, uma palavra par:l ele, c dois
conceitos metafóricos (Iue parcialmente defi nem grupos sociais c estados
emocionais. O que esses casos mostram é que é possível haver tipos
igualmente básicos de experiências, mesmo existindo para eles conceptua-
lizações não igualmente básicas.

,
.1
I',

I 132
I,
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
13. O J--llNDAlvlEN70 DAS
(
METAFORAS ESTRUTURAIS
(
(
---- (
As tnctMoras baseadas cm conceitos fisicos sim ples - para cima _ (
para baixo, dentro-forn, objeto, substância etc. - são fundamentais no (
nosso sistema conceptual c, sem elas, não poderíamos viver no mundo que
(
nos cerca: não podcriamos raciocinar nem nos comunicar. Mas elas não
(
são muito ric:lS cm si mesmas. Dizer (Iue algu ma coiSa é percebida corno
(
OBJ ETO RECIPIENTE com uma orientação DENTRO-FORA não d iz muito
(
sobre tal coisa. Mas, como fo i o bservado com a metáfora lI1.ENTE Ê. UMA
(
M.AQU INA c com as várias metáforas de pe rsonificação, podemos elaborar
(
metáforas esp:lciais cm lermos muito mais específicos. Isso nos permite (
não só elaborar um conceito (como fi mente) com grande dctalhamento, (
cama também cncontr:u meios apropriados de salicnt:lr :llgllns aspectos (
desse conceito e obscurccer QUlroS . Metáforas estruturais (tais como (
OIscussAo RACIONAL ú". GUERRA) fornecem a mais rica fonte de I"al (
elabor:lçio. As medforas estru turais permitem-nos fazer mais do q ue (
(
(
133
(
l }
( ~:,
.:;:'

( " simplesmente orientar conceitos, referirmo-nos a eles, quantificá-los etc.,


( 1~ como fazemos com simples meti foras ontológicas e orientacionais; soma-
l O:} do a mdo isso, elas nos permitem usar um conceito detalbadameme
n estmturado e delineado de maneira clara para estmtllrar um outro conceito.
l '"~
Assim como as metáforas ontológicas e as orientacionais, as m etáfo-
\)
ras estruturais fundamentam -se em correlações sistemáticas encontradas
( '"'-~
em nossa experiência. Para compreendermos o que isso significa. em
( J)
detalhe, examinemos a fundamentação da metáfora DISCUSSÃO RACIONAL
l )
É GUERRA. Essa metáfora permite-nos conceptualizar uma discussão
( j
racional em termos de algo que compreendemos mais prontamente, a saber,
\ ~ ~,

um conflito físico. A luta é encontrada em toda parte no reino animal e, de


()
maneira mais freqüeme, entre animais humanos. Os animais lutam pafa
()
obter o que desejam - alimento, sexo, território, controle etc. - porque há
( jI
n-- ___ .___ ._ outros animais que desejam a mesma coisa ou que querem impedir os._____ .
primeiros de obtê-Ias. Isso vale par.l os humanos também; a diferença é
( ..~)
.que nós desenvolvemos técnicas mais sofisticadas paLa obter o que dese-
()
jamos. Sendo "animais racionais", institucionalizamos nossa luta de várias
()
maneiras, uma das quais é a guerra. Embora tenhamos, atr.lvés dos tempos,

"
( .•<'
institucionalizado o conflito fisico e empregado nossas mentes para desen-

",
(
volver meios mais eficazes de realizâ-lo, sua estrutura básica permanece,
( )
em essência, a mesma. Em lutas entre dois animais brutos, cientistas têm
(21
observado práticas de intimidação, de estabelecimento e de defesa de
r) , território, de ataque, de dcfes:1, de contra-ataque, de recuo e de rendição.
C' I, A luta humana envolve as mesmas práticas.
l "".,:,1
I'
, Portanto, uma das vantagens que há em ser um animal racional é que
(

l
.,,
:~
se pode obtet o que se deseja sem lcr que correr o risco de um conflito
fisico real. Como resultado, nós, humanos, desenvolvemos a instituição
( "~o
",JI
( >'~
.I
( }
134
,.

social da discussão verbal. Par:t obtermos o que desejamos, discutimos sem


cessar, e, às vezes, essas discussões "degeneram" em violência física. Tais
batalhas verbais siío compreendidas em termos muito semeJh:lOu:S aOs das
batalhas físicas. Tomemos lima discussão doméstica, por exemplo. M:uido
e mulher tentam obter o que cada um deseja, como, por exemplo, fazer o
outro aceie:!.r um determinado ponto de vista sobre um assunto, ou pelo
menos agir de acordo com o tal ponto de vista . Cada um compreende que
tem algo a ganhar e algo a perder, um território para estabelecer c um
território para defender. Numa discussão sem confronto fís ico, você ataca,
defende, contra-ataca etc., us:mdo os meios verbais de que você dispõe -
intimidando, ameaçando, apelando fi autoridade, insultando, subestiman·
do, desafiando a autoridade, evitando :lssuntos, negociando, elogiando e
até tentando oferecer "razões racionais". Mas todas eSS:lS t:iricas podem
ser, e [reqüentemcm e são, apresentadas como razões; por exemplo:

... porque eu sou maior do qlJoC voct (imimidCI/J/lo)


... porque se você 1130.... eu vou ... (ameaça/Ido)
... porque eu sou o palrão (np ..ltrtldo à autoridade)
... porque você ~ 1010 (i1l$ulwndo)
porque você ger.llmcme f:lZ i$SO err:K!o. (d..prtcimulo)
porque eu lenho lamo direi lOquanto voct (desafiallda II ali/aridade)
. porque eu te amo (evita/ll1a um de/enllinodo IUsmllo)
... porque se você qui~r ... , eu farei ... (lIegocinllllo)
porque ~océ ~ mui to melhor nisso (dogi/mi/o)

Discllssões que fazem uso de docas como essas s:to as mais comuns
em nossa cultma e, por serem tno freqücntes cm nosso cotidiano, às vezes,
nno são percebidas. No entanto, em scgmenros impormmes e influentes

135
,r
de nossa cultura, tais ticicas são, pelo menos, cm princípio, objcto de
d esaprovação, porque são considcrad:l.s " irracionais c "d esleais", Os mun-
dos acadêmico, legal, diplomático, cclcsiistico c jornalístico pretendem
apresentar uma forma ideal, ou "mais elevada" de DISCUSSÃO RACIONAL,
na qual todas essas tálicas são pro ibidas. As únicas tácicas permitidas nessa
DISCUSSAO RACIONAL são, em princípio, o estabelecimento d e premissas,
a citação d e evidência que sustente as premissas e a geração de conclusões
lógicas. Mas, atê mesmo nos casos mais ideais, cm '1uc todas essas condi-
ções são asseguradas, DIscussAo RACIONAL ainda é compreendida e
d esenvolvida cm termos de GUERRA. Ainda há uma posição para ser
cstabclccidã ~u defendida; você pode vencer- ou perder; você tem um
oponente c uja posição você ataea e tenta destruir e cujo argumento você
tenta dertotar. Se você é bem sucedido, você o elimina.

o problema é, pois, que não apenas nossa concepção d e d iscussão,


mas também a nossa maneira de desenvolvê-la f"un damcntam-se em nosso
co nhecimento c em nossa experiência d e combate fisico. Mesmo que você
não tenha jamais cm sua vida experienciado uma luta fisica, muito menos
p rovavcimen te lima guerra, você ainda concebe discussõcs e discute de
acordo com a metMora DISCussAo É GUERRA, porque tal metáfora faz
pa rle do sistema conceptual da culmra na <[ual você vive. Todas as
discussões consideradas "racionais", aquelas que se enquadr:un no ideal de
DISCUSSAO Iv\CIONAL, não são apenas concebidas cm termos de guerra,
ma s 'luase todas contê m, d e maneira subjacente, as táticas "irracionais" e
"desleais" (Iue as d iscussões racionais, em sua forma ideal, não d everiam
apresentar. 1\ seguir, alguns exemplos LÍpicos :
I

136
,
(
(
(
li Illausivcl3SSumir que (jlllimida{lio)
Clar.uneme.
(
Obviame!lle, (
Seria n~o cienllfi co deixar de", «(/1l1caça) (
J)i zer isso seri a COI1lClcr n falficin de
(
Como [)esçarles IlIOSt rOu (apelo ii (lII(on'({a(/e)
(
Hume observou que, ...
(
Rodapé 11.374: cf.Verschlugeuheimer, 1954
(
Palea ao Ir.lbalho o nccessirio rigor para.. .. (ifUIIIIO) (
VanlOS denominar lal teoria Racio nal ismo "Estrcilo" (
Numa exibição de "objclividadc acadêm ica", ..
(
(
o Irabnlho lião lcva a uma teoria foonal. «(feprccillç<iO)
Os seus resultados 1150 podem ser llllan tifi cados. (
Poucas pessoas hoje apoiam essa vis.'\o com seriedade. (
(
Tememos sucumbir :lO erro das abord!\gens posilivistas, .. (duaJio à mi/mil/mie)
(
O Deha viorismo levou a ...
(

me n:\o apresema nenhuma teoria altern ativa. (fllga do assull/o)


(
Mas isso é lima flllesl50 de ... (
O autor realmente aprese nta falas dcs.1Iindores. mas (
(
Sua posição é correta alé (CriO ponto .... (lI cgocinçüo)
(
A:;sulllindo-se um ponlo de vista realista, pode·se ::w:eitnr n hipóCcse deqlle ...
(
No sell inst igante Irab.llho .... (elogio) (
Seu Imbalho levanta algumas quCSti}c!; interessantes .. (
(
(
Exemplos como esses ajud:lIn-nos a percorrer o camin ho de volta às
o rigens de nossa discussão racional, passando pe.la discussão "irracional" (
(
(
137 (
(
( j)
( :;
(= discussão coüdiana), até encontmnnos sua origem primeira no combate
u,
(
65ico. As cicie:!s de intimidação, de ameaç:!, de apelo à auto ridade etc., embora

:I embutidas, talvez, em [mscs mais refinadas, cscii.o tão presentes na discussão


I) mcioo:l! quanto na discussão coridiana e na guerra. Q uer estejamos em cenários
(]I cienóficos, acadêmicos ou legais, aspirando:lo ideal da discussão racional, quer
U estejamos apenas resmungando durante nosso selViço doméstico, a maneira
( )} co mo concebemos, desenvolvem os c descrevemos nossos ar!}LJl1CntOS funda-
(~
menta-se na metáfor:l. DISCUSSÃO É GUERRA.
q Consideremos agora omras metâfor:l.s esrrutur:Us que são importantes
( l> para as nossas vidas: l1lABAU'lO li UM RECURSO e Te.1PO É UM RECURSO.
U Essas duas metáforas encontram seu fundamento .culLUral em nossas expe-
(3 riências com recursos materiais. Os recursos materiais são normalmente
(3 matérias-primas o u fontes de combustível. Ambas são consideradas recursos
( ~ materiais que servem para fins específicos. O com b~stí~.:!J)~l_e ~er \~~d~
r.--- ----- -
para aCluecimento, transporte, o u como energia para produzir um produto
( ::\
.,:.... fmal. As matérias-primas normalmente entram de formadireta nos produtos.
( J} N os dois casos, os recursos materiais podem ser (jI((lfIhJicadol e receber um
( ) I!(I/or. Nos dois casos, o que importa ê o Iipo de malmal, tanto em oposição a
uma q uantidade dada, quanto em oposição a um fragm ento desse material.
\1l
(~ Po r exemplo, não importa que pedaços de carvão aquecem sua casa, desde

(.;) que eles sejam do tipo adequado de carvão. Nos dois casos, o material vai
sendo progressivamen te fOl/l l1mido à medida que serve ao fim específico.
(li>
•• Resumindo :
\.)
<.) Um recurso material ~ um /ipo de substância
<21 pode ser 1UOnliftClldo de malleim bastan1e precisa
( ~ pode ler um valor por unidade

\ D ~ !Ve a um ftm es~cfjico

é consumido progressivamente à medida que serve ao fim espec.:ffico.


(~

<-'
<.il 138
,< ]1)
I II
Tome o simples C3S0 em qu~ você obtém um proclUlo a p:mir d~ um3
matéria-prima. Há n ~cess id ade de um3 cem quantid3de de mbalho. Em
geral, quanto mais tmbalho você realiza, mais você produz. Parti ndo da
premissa de que isso é verdadeiro - de (Iue o tmb3lho é proporcional :l
quanuebde de procluto - podemos atribuir valor ao lrnbalho em termos do
tempo exigido parn produzir uma unidade do procluto. Um bom modelo
ilustr.luvo é a linha de produção de uma indústria, em que a maléria-prima
enem numa extremidade, o trabalho é realizado em estágios progressivos, cuja
dur:tção é definida pela velocidade da linha em si, e o produto sai n3 OllWI

extremidade. Isso fornece fundamento para a metáfora TRABAU·IO É RECUR-


SO, como se observa a seguir:

O TRAllAUlO 6 ullllipo deadvid:lde(lcmn.se: ATIV IDADE ~ UMA SUBST ÂNCIA)


• pode ser qualllific:ndo de maneira baslanle pre<:isa (em IcmiOS de te mpo)
• pode ler um valor por unidade (estabelecida em lennos de tempo)
serve II \IIo ftm t spedJko
• 6 tlgolado progressiv:unenle i\ medidll que serve ao fim específico

Uma vez que o trabalho pode ser quantificado em termos de tempo


- e normalmente é, numa sociedade industrial - obtemos o fund3mento
da met:í.fora T EJ..IPO É UM RECURSO:

o TEM PO t um tipo de SUBSTÂNCIA (abstfDlo)


pode ser lJlIIlIIlific:ado de maneira basl:lJllc precisa
pode lU um valor por unidade
se rve a umftm tspUlfico
6 esgotado progressivameme 11 medida qllC serve ao fim específico

Quando vivemos fundamentados nas metáforas 'nUillAU-IO Ú. UM


RECURSO e TEMPO É UM RECURSO, como acontece em nossa cultura, a

139
tendência é não perccbe-bs como metMorns. Mas, como mostr:un as
considerações apresentadas acima sobre sua fundamentação na experiên-
cia, ambas são mctMorns cstmturais básicas nas sociedades industriais
ocidentais.

Essas duas complexas mcci for.ls cstmturais empregam metáforas


ontológicas simp les. TRABALHO É U['.'I RECURSO usa AT1V1DAD E É UMA

SUBSTÂNCI A, TEfl'fPO É UM RECURSO usa TEMPO É Ut.1A sunSTÀNCIA.

Essas duas metáforas de SUBSTÂNClA permitem que O trabalho c o tempo


sejam '1uantificados, ou melhor, sejam medidos c concebidos como algo
que é progress ivamente "consumido" c ao qual se pode atribuir valores
monetários; elas também nos permitem perceber o tempo c o trabalho
co mo coisas q ue podem ser "usadas" para vários fi ns.

A s m etáfo ras TRABAU IO É UM RECURSO e TEMPO É UM RECURSO


não são universais. Elas emergii:tm'-emnossa cultura devido à maneira
como co ncebemos o trabalho, ii nossa paixão pela quantificação e ii nossa
obsessão por fin s específicos. Essas metáfo ras enfatizam aqueles aspectos
do trabalho e do tempo que têm importância central cm nossa cultura.
I Dessa fo rma, elas também deixam de enfatizar ou escondem o utros
"
ii aspectos do trabalho e do tempo. Podemos entender o que as duas
metá foras escondem por meio da análise daquilo que elas enfatizam.
Ao ve r o trabalho como um tipo de atividade, a metáfo ra pressupõe
que o trabalho pode se r claramente identificado e percebido como distinto
de co isas que niio siio trabalho. Pressupõe que podemos distinguir trabalho
de diversão e alividade produtiva ele atividade não produtiva. T ais pressu-
posições obviamente nem sempre coincidem com a realidade, execro talvez
cm linhas de produção, gmpos que trabalham em linhas de montagem cm
série etc. A visão de trabalho meramctUc como um tipo de aovidade, inde-
pendente da pessoa quc o realiza, do modo como o expedencia e do
I
)il
III
li 140

1,1
(
(
(
significado que tem em sua vida, esconde q uestões relacionadas ao fato de o
\
trabalho ser (ou dever ser) algo pessoalmente significativo e fonte pessoal de
(
satisfação.
(
A quantificaçiio do trnbalho em lermos de tempo, somada ii visiio de
(
tempo como algo que serve a um objetivo espeófico, leva à noção de TEMPO
(
DE LAZER, que é paralela ao conceito de TE~{PO DE TRABALHO. Numa
(
sociedad e como a nossa em clue a inativiclade não tem uma finalida de definida,
(
desenvolveu-se uma indústria inteirn dedicada ao lazer. Como resultado,
(
TEillPQ DE LAZER transfo rmo u-se cm RECU RSO também - a ser gasto
(
produtivamente, usado sabiamente, economizado, administrado, desperdi-
(
çado, perdido elC. O _que é escondid o pela metáfora do RECURSO para
(
trabalho c tempo é a maneira como nossos conceitos d e :rRABAU-IO e TEMPO
(
afelam nosso conceito de lJ\ZER, tornando-o algo que seassemclha de for:1m
marcante a TRABALHO.
(
(
As metáfo ras d o RECU RSO para trabalho e tempo escondem lodo tipo
de concepções de trnbalho e de tempo que existem em nossa cultura e em
\
(
algumas sub-culturas de nossa própria sociedade: a idéia de que o trabalho
(
pode ser divertimento, de (Iue a in:tuvidade pode ser produtiva, de que muito
do que classificamos como TRABALHO não tem um objetivo claro ou u m
(

objetivo pelo qual valha a pena trabalhar. (


(
As três metáforas estruturais 'luc focalizamos nesta seção: DISCUSSÃO
RACIONAL Ê GU ERRA, TRABJ\ LHO É RECURSO e TElvfPO É RECU RSO - têm
(

fon es bases cultumis. Elas emergem naturnlmcnte cm uma culnlm como a \


(
nossa, po rque o CJue elas enfatizam corresponde de maneim muito próxima
ao que expericnciJmos colclivamcme, enquanto o 'lue elas escondem cor- (
responde apenas de maneira muito fraca às nossas experiências. Ao mesmo (
tempo em que são fundamentadas em nossas experiências físicas e culturais, (
elas também f\ll1d:llnelllalll nOSSaS experiências e ações. (
(
(

141 (
(
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14. CAUSAUDADE.- PA1,CLALMENJE
EMERGENIE E l'ARCLAlMENJE ME IAFÓRlCA

Vimos' cm nossa di scussão sob re fundamentação de con cel lOS


([ue há alg uns que emergem diretame me (como PARA CI/'.-IA· PAllA
0A1XO, DENTRO-PORA, ODJ ETQ, SUBSTÂNCIA ele.) e Outros que eme r-
gem metaforicamente baseados em nossa experiência (como CA MPO
VISUAL É UM RECIPIENTE, ATIVIDADE É Ur.f RECIPIENTE elc.). Pelo
número limitado de exemplos que apresentamos, pode te r parecido (ju e
há uma disti nção cJar:l entre conccilOs que emergem diret:une nt e e
conceitos que emergem meta fo ricame nt e e que cada conceito individu al
deve ser d e um tipo ou de outro . Não e esse o caso. Atê me smo um
conceito tão básico quanto CAUSALIDADE não é puramente emergcnI'e
ou puramente metafórico. Ao contrário, ele parece ter um núcleo de
emergência direta que é elaborado metafo ricamente.

143
Manipul(lrão dinlrl: oprotótipo do (DI/ceito de ü/f(/(I!itl(lde

T eorias tradicionais do significado pressupõem que todos os nossos


conceitos complexos podem ser analisados em primiLivos não decompo-
níveis. Consider:tm-se ,ais pri mi tivos como os últimos "blocos construto·
res" do significado. O co nceito de c:"\Ilsalidade é fr eqüentemcn tc
considerndo um desses últimos blocos construtores. Acreditamos que as
teorias tradicionais estão fundamentalmente erradas em pressupor que
conceitos básicos são primitivos indecomponíveis.

Concordamos que a causalidade ê um conceito humano básico. É


um dos conceitos mais frcqücntement e usados pelas pessOflS par:!. orgflnizar
suas refllidades física e cultura1.t-.bs isso nào significa que seja um primitivo
indecomponivc1. Parcce~nos que se pode compreender melhor o conceito
.de causalidade cons!gerancJo-p como uma gUI(lII experiencial. Uma COI11- ··

preensão adecluada da causalidade exige que d a seja percebida como um


conjunto de outros componentes. "Mas o conjunto fo rma um ageJla!t- um
todo que nós, seres humflnos, consideramos mais básico que suas partes.

Podemos observa r isso mais facilmente em bebés. Piaget fo rmulou


a hipótese de que os bebés aprendem o conceito de causalidade percebendo
que podem ter uma experiência direta na manipulflção de objelos ao seu
redor - puxar cobertas, atirar SlIas mamacleir:l.s, derrubar brinquedos . Há
realmente uma fase em que os bebês parecem praticar essas manipulações,
põr exemplo, eles deixam suas colheres caírem repetidas vezes. Tais
manipulações di retas, realizadas :ué mesmo por bebês, envolvem certos
aspectos partilhfldos que caracterizam a noçào de causalidade direta como
uma parte integr:mte da nossa vida cotidiana: como, por exemplo, quando
acionamos os interruprores de luz, abotoamos nossas cami sas, :tbrimos
po rtas etc. Embora cada uma dessas ações seja di fe rente, a m:tioria delas

144
(
(
(
partilha aspectos do que devemos chama r de caso " prototípico" o u "para- (
digm âtico" de causalidade direla. Esses aspectos partilhados incluem : (
(
o ngel11 e tcm corno ot>jctil'o algum:1mudança no es tado do p3Cicnle. (
" mu dança de estado f fisjc~.
(
o agcntc tem Utll "plano" ~rJ iuingir o objet; vo.
(
O plan o e xige IIIIC o agente use um programa motor.
(
O ô\gcl11e tem colllrole do programa mOlor.
O agente ~ o pri nd pal respons5vel pela rea lização do plano.
(

O agente f n fo nte de energ ia (isto é. o ngellte está dirccionando sua energia para o paci en te), (
e o paciel11eé o alvo da energia (islof. a mudança no pacien te deve·se a uma foutc cxterna (
de cncrgi:,).
(
O ngcl11c toca o pacicnle o ll .oom IiCU corpo ou com um in st rumcnto (isto ~. há uma
(
sobreposição espaci al e Icmpor.ll entre o qllc o agente faz e a mlldança no paciente).
O agentc reali7A1 o plano de manciro bem su ccdida. (
A mudança no paciente f pcrccplÍvcl. (
O agente monitoro a mud:mça no paciente por meio dc pcrccpç;to sensori al. (
Há um único agc lltc espccffico e um unjro paciente espccffico.
(
(
Esse conjunto de propriedades caracteriza manipui:lções diretas
(
"proto típicas" que são, por excelência, exemplos da relação de causalidade.
(
Estamos usando a palavra "protodpica" no sentido em qlle Rosch a usa na
(
sua teoria de categorização humana (1977). Seus experiment.os mostram
(
cjue as pesso:ls categoriZ:l m ob;elOs, niío cm termos de conjuntos teóricos,
(
mas em termos de protótipos e de semclh:lnç:ls de f:lmíli:l. Por exemplo,
(
pecjuenas aves que cantam, como tordos e pard:lis, são aves prolotípjms.
(
Gali nh:ls, avestruzes c pingüins são aves, m:lS niío siío membros centrais
(
da categoria - eles não são aves prolodpicas. Mas são aves, :lpesar disso, (
pois retêm semelhança suficiente com o protótipo; isto é, eles panllh:lm
(
(
(
(
145
(
suficiente número de propriedades relevantes do protótipo que permitem
que as pessoas os classifiquem como aves.
q
( -I) As doze propriedades apresentadas acima caracterizam uma relação

( &! prototípica de causalidade, no sentido de que elas retorn:lrn, constantemen-


( ~ te, em inumernveis ações no curso de nossa vida cotidiana. Nós as expe-
(]) rú:ndamos como uma gulall, isto é, o complexo de propriedades, que
(.) ocorrem em conjunto, é mais básico para a nossa experiência do que cada
( J> ocorrência em separ.tdo. Por meio de sua recorrência constante na nossa
(ll atividade diária, a categorb da causalidade emerge desse conjunto complexo
() de propriedades, que caracteriza a relação prototípica de C;l.Usalicl3dc.
(J Outros tipos de causalidade, que são menos protoúpicos, sio ações ou
eventOS que apresentam suficiente semelhança com O protótipo. E les
incluiriam a ação a distância, a ação não humana, o uso de agente interme-

I
diário, a ocorrência de dois ou mais agentes,
_ ._
uso involuntário
.
ou nio
( ~--- I----controlad;-do p~ogrnma motor etc. (Na causalidade fisica, o agente e o
-$ ,
( .~ paciente sio eventOs, uma lei física assume o lugar de um plano, do objetivo
( _~ e da atividade motora, e todos os aspectos peculiarmente humanos são
(J> descartados.) Quando a semelhança de família com o protótipo é insufi-

(~ ciente, deixamos de caracte rizar o que acontece como causalidade. Por


( , exemplo, num caso em que houvesse múltiplos agentes e em que a ação
( , deles estivesse distante no tempo e no espaço da mudança do paciente e
::)'

( ;~ em que não houvesse desejo, nem plano, nem COntrole por pa rte do agente,

( .," nós provavelmente não consideraríamos esse caso uma instância de causa-

(~ lidade, ou pelo menos tedamos dúvidas sobre cle.

(~ Embora a categoria da causalidade não te nha frolHeiras bem defini-

'11 das, ela é claramente delineaeb. em um grande número de instâncias. O


(j) sucesso de nossa atividade no mundo envolve a aplicação do conceito de
(3
( .2i
( )~ 146

(3)
causalidadc a cada novo dominio de atividade - por meio de intcnção,
plano, inferências ctc. O conceito é estável por'lue continu:ltllOS a funcionar
com sucesso fundamentando-nos nele. Dado um conceitO de causalidade
que emerge de nOSSa experiência, podemos aplicá-lo a conceitos metafóri-
cos. Em "l-1arry elevou nosso moral contando piadas", por exemplo, tcmos
uma instância de causalidade em que Harry realmente fez nosso mo ral ir
PARA CIMA, assim como na metáfora FELIZ É PARA CI/'o.1A.

Embora o conceito de causalid:ldc, como o caracterizamo s, seJ:1


básico na auvidade humana, não é um "primiuyo" no sentido de bloco
constmtor, isto é, não é inanalisável e indecomponível. Já que é ddinido
em termos de llm protótipo quc é caracterizado como um complexo de
propriedades recorrentes, nosso conceito de causalidade é holístico, anali -
sável em termos daquelas propriedades e passível de grande variação. Os
___--'to'ctm
= o~ pelos quais O pro~ótipo de c..?us~lidade ~ a'.1ali_sad~. 0s.[.0 é cOl~~f(:J Le, .
programa motor, volição etc.) são provavelmente c:tractcrizados também
por meio de um protótipo e são passíveis de análise futura . 1sso nos pe rmite
ter conceitos que são, ao mesmo tempo, básicos, holísticos e indefinida-
mente analisáveis.

Exlemõu fJJelajóriclls da cauJalidade pr%/pica.

Casos simples de fabricação de um objeto (por cxemplo, um avião de


papel, uma bob. de neve, um castelo de areia) são todos casos de causalidade
(lireta. Todos cles envolvem manipulação direta protoúpica, com todas as
propriedades listadas acima. Mas eles têm uma característica adicional que os
coloca à parte como exemplos de fabricação: Como resultado da manipulação,
nós vemos o objeto como um npo diferente de coisa. O que era um pedaço

147
de papel passa :l ser um avião de papel. Nós o categorizamos de maneira
diferente - ele tem forma e função diferentes. É cssencialrnente essa
característica que coloca afnbn'Ctlfão à parte de outros tipos de manipulação
direta. Até mesmo uma simples mudança de estado, como a mudança da
água cm gelo, pode ser vista como um exemplo de fobn'co{iio, uma vez que
o gelo tem forma c função diferentes da água. Daí, temos exemplos como:

Da água, você l>Ode fa zer gelo, (You ca n make ice QUI afwater: você Imde (irllr gelo
da :lgua.)

Exemplos paralelos a esse são:

De uma folha de jomal. eu fiz um avi1lo. (I Illade a paper airplane Oul af a sheet Or
rlewspapcr. Eu lini um avião de papel de uma (olha de jornaL)
Da nr];ila. eu fi z uma esHllua. (11llade a SlalUe oul ofcLay: Eu lirei Ullla estátua da argi la.)
~ I _.
~ ~_._.

Nós conceptualizamos mudanças desse tipo - de um estado ao outro,


adquirindo nova forma e função - em [ermos da metáfora OBJETO SAI DA
SUBSTÂNCiA. Po r essa razão a preposição de (em Inglês,:l. locução prepo-
sitiva ftm...Jk) é usada nos exemplos acima: o gelo é visto como algo que
emerge (sai fora) da âgua; o avião é visto como algo que emerge do papel;
a estául:l é vista como algo que emerge d:l. argib. Numa sentença como " D a
argila, eu fiz uma estátua", a subst:lncia argila é vista como RECiPIENTE
(via metMo ra SU BSTÂNCIA É UM RECIPIENTE) do qual o o b jeto - a estátua
- emerge. Conseqüentemente, o conceito PABRICAçAO é parcial, não
totalmente, me tafórico. I sso significa que PABRICAÇAO é uma instância de
um conceito diretamente emergente, a saber, MANlI'ULAçAo DIRETA que
ê mais elaborado pela m etMor.t OBJETO SAI DA SUBSTANCIA.

148
(
(
(
U ma outra maneira d e conceptualizarmos ii atividade d e fabricação
l
é pela elaboração d o conceitO d e manipulação di reta, usando ou tra metá- (
fOr:l : SUBSTÂNCIA E NTRA DENTRO DO OBJéTO. Daí:
l
(
Eu fiz uma folha de jornal ~Ira r um avião (l made a shcct Df [}Cwspa!lcf illlo 011 airplane:
(
Eu fil, Ulnl folha dcjomaltransformar-sc em avião.)
Eu fiz a argila que você me c.\eu ..imr uma estát ua (I made the ela)' you gave me imo a (
Sla!ll e: Eu fi ~. a arg ila que você me deu trall sformM-se em uma estátua.) (
(
Nesses casos, o objelo é visto como um recipiente para o material. A (
metMorn SUBST ÂNClA ENTItA DENrno DO OI3JEIO ocorre amplameme no (
conceito de FADltICAçAO. ConceplUalizamos um grande númCfO de mud:l.nç:l.s, (
tanto n:l.tur:Us qU:l.nto m:muf.'\turndas, cm tennos dessa metáfo ra. Po r exemplo: (
(
. _A :igua viro .. gelo. (I11e water lumed !nto ice:_~ !igua transformou-se em ge~.) _.. __ _
(
A laGarta virou borbole ta. ( 111e eatcrpillar tllmcd 11110 a bultcrf1y: A lagarta tmnsformou-se
em uma borboleta.) l
Ela está devagar \';mndo uma linda mulher. (She is s low ly changing inlo a beautiful (
wonmn: Ela estã vagarosament e tmnsfornwndo-sc cm urna linda mul her.) (
(
A m e táfora OBJETO SAI DA SUBSTÂNCIA é também lIsada em o utros
conceitos além do de FABRICAÇÃO, mas de maneira m\lito mais limitada. (
Ela se aplica, sobretudo, às mudanças ligadas à evolução: (
(
Mamlferos vieram dos rt pteis. (Mnmmals dcveloped 0111 ()freptiles: Mamíferos dcscn -
(
volveram_se dOJ n!pleiS.)
Nosso muni s islem a leg al snill do dire ilo comum ing lês. (Qurprescntlcgal SySlc lll cvolvcd (
0111 ofEnglish cornlllon law: Nosso aluaI ~Slellla legal eyol uiu do direito comum Inglês.) (
(
(
(
(

149
(
(
j

( y
,
( j
, Desse modo, as duas metáforas que usamos para elaborar m:uupu-
( ~) b çõcs di retas no conceito de PAI3RICAÇAO são usadas independentemente

u para conceptualizar vários conceitos de MUDANÇA.

U Essas duas metáforas para MUDANÇA, <jue são usadas como parte
(...$ do conceito de FABlUCAÇAO, emergem naturalmente da experiência do
() nascimento, '1ue c seguramente a experiência humana mais fundamental.
(3 No nascimento. um objeto (c bebê) sai de um recipiente (a mãe). Ao mesmo
( -
c' tempo, a substância da mãe (sua c:trne e sanbtUc) está no bebê (ohjcto
() recipiente). A experiência do nascimento (também o crescimento na agri-
(
J
1< cultura) fornece a fundamentação para o conceito gcr:u de CRlAçAO, que
( .:', tem como essência o conceito de FABRICAÇAo de um objeto fisico, mas
(
.'l:' que sc este.nde par:l. entidades abstratas também. Podemos obsc[V'ar como
,
..) a criação em geral está fu ndamentada em mCláfoms de nascimento:
( .,,~
(;5-- -- ... _--
Nossa naç!lo lIasUU dl! um desejo de li berdade. (Our nation was bom QuI ofa desire for
(~~ frcedam.)

( ~ Os escritos dele s30 produtos de sua imaginllÇ!Ioflnil. (lIis wri ti ngs ~re products or his
d
fmi/i! imagi nation.)
( ,~
Seu experi mento gi!rou inúmeras IlOvas teorias. (His e~perimen t spllowtt!/I a host or new
( ) lhI:ories: Seu experimento duoWlu inúmeras IlOVllS teori as.)
(21 S uas aç&:s voo DpenllS criar violência. ( Your actions will only brud violence: Suas lIÇões

(~ vlo apenas procri(!r violencia.)


,, Ele g UIou um i"crivel ~u eIl1D. (He Il/Ilcht!d a elevei scheme: Ele incubou um incrfvel
.3 esque nm.)
,~
Ele cQtlcebtu uma brilh ante teoria do movimento molecular. (He conctivl!d a brillianl
,.) theory of molec ular mOli on.)
.) Universidades s30 illCllbailonu pam novas idtias. (U ni vcr<;ities are iUCIÚXIIOrs for IIC:W ideas.)

,"
~
A teorin da relatividade vit. a /II~ tlo.lia pela primeira VC1; em 1905. mIe lhcory of rcl~tivily
first saw lhe /igllf oftlay in 1905.)

~.
,",

~
~ '50
)
"
li
A Ulliversidade de C hicago foi o berço da ~rn nuclear. ( Ille U niv~rsjty of Chicllgo was
the bi,.,hp!ace of the nl.lcJ~ar age.)
Edwanl Teller c! o poi da bomoo de hidrogênio. (Edward Tellcr is lhe/m},uo{ lhe hydrogell
bomb.)

Todas essas são instâncias da metáfora geral CRI/\ÇÃO ~ NASCIMEN-


TO.Isso nos dá um outro exemplo cm que um caso especial de causalidade
é conceptuatizado metaforicamente.

Finalmente, há um outro tipo especial de CAUSALIDADE que concep-


malizamos em termos da metâfor:l. de EMERGt.NClA. Esse é o caso em que
um estado ment.11ou emocional é visto como causador de um :l.tO o u evento:

De desespero, ele atirou no prefeito. (He shoIthe rnayor 011/ o/desperntioll.)


Elc tirou/orças tIo al1lor 11 sua fanlma para desistir de Sl.l~ c:ureira. (lI e gnve up his carecr
0111 o/love for !tis famiJ)': Ele encootrou no amor por $ua flllnflia mc)!ivo parn desistir de
SlIa carrcira.}
De solidOO, Rm.'Ie deleql.la5C ficou 1ooca. (~Iis mother nearly went Cf'3.Z)' from looclincss.)
Ele ca iu de CJ(Rust30. ( ~I e dropped/rom exh:lUstion.)

Sua vocaçiio p3lll matemático vâo de sua paiJollo pela ordem. ( l1e became n mnlhemut icinn
0111 o/a passion for order.)

Nesses casos, I:STADO (desespero, solidão etc.) é visto como RECI-


PIENTE. e o ato, ou evento, é visto como um o bjeto q ue emerge do
RECI PIENTE. CAUSAUDADE é vista como EMERGENClA desse EVENTO a
partir de um ESTADO.

Rm/f"Q

Como acabamos de ver, o conceito de causalidade fundamcnta-se no


protótipo da manipulação direL1., que emerge diretamente dc nossa experiên-
cia. A essência protoúpica é desenvolvida por meio de medforas de modo a

151
proouúr um conceito amplo de CAUSALlDADE, que tem muitos casos
especiais. As meLíforas usadas são OBJETO SAJ DA sussrÂNclA, SU nSTÂN-
CIAENTRA NO OBJETO, CRIAÇAO I~NASCIl'ImNTO e CAUSALl DADE(quando
um evento é causado por um esmdo) É EMERGENCIA (de um event%bjem
a partir de um estado/recipiente).
Vimos também que a essência prototipica do conceito de CAUSAUDA·
DE, a saber, a MANWULAçAO DlRETA, não é um primitivo semântico
inanalisável, mas lima gesta!t consistindo em propriedades que naturalmente
ocorrem juntas na nossa experiência cotidiana com manipulações dirctas. O
conceito protoúpico MANIPULAÇÃO DIRETA é básico e primitivo em nossa
experiência, mas não no sentido exigido por uma teoria de "bloco constru-
tor". Em tais teodas, cada conceito ou é tun bloco construtor indecomponível
c inanalisável ou pode ser dividido cm blocos constmlores de uma única
maneira. Ao invés disso, a teoria que proporemos no próximo capirulo sugerc_
- - . -- - -- --- -- - -- - - -_. ~

'llIe há dimensões naturais da experiência e que conceitos podem ser :mali-


sados sob o ponto de vista de cada uma dessas dimensões de mais de uma
maneira. Além do mais, em cada uma dessas dimensões, os conceitos podem
ser analisados cada vez mais profundamente, cm relação à nossa experiênci:l,
de maneira que nem sempre há blocos conStru tores finais.
Assim, a CAUSALlDADE. não é um lermo primi tivo ina nalisável, por
três razões:

• l~ earaCleriz:ld:l em termos de semelhanças de f:lmilh com o


protótipo da MANIPUU.çAO DlllliTA.
• O protótipo da MANIPULAÇÃO OIRETA em si é umagulflll indefi-
nidamente analisâvcl de propriedades l1:lturalmente co-ocorrentes.
• A essência prototípiea de CAUSALIDADE é el:lborada metaforic:l-
mente de vári:ls tn:lnciras.

152
,
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
15. A ESlRUIURAÇAO COERENIE
(
DA EXPERlliNCIA
(
(
(
(
AJ Gestalts t:>.peritnrims e as diJtmlJões da e>.periémia (
(
Discorremos ;'ImpIamente nos capítulos precedentes sobre os con- (
ceitos metafóricos como maneiras de cstmturar parcialmente uma expe- (
riência cm termos de outra. Para compreendermos cm detalhe o 'Iue cst:i (
envolvido na estl'Uturação metafórica, precisamos, cm primeiro lugar, ter (
uma idéia do que significa uma experiência, ou um conjunto de experiên- (
cias ser coerente por ter uma estrutura. Por exemplo, sugerimos que uma (
discussão é uma conversa que é parcialmente estrunlrada pdo conceito de (
GUERRA (daí, fornecendo-nos a metáfora D lscussAO É GUERRA). Supo- (
nha que você está tendo uma conversa c repentinamente percebe que ela
<-
se tornou uma discussão. Que aspecto de uma conversa a faz torna r-se uma (
discussão e qual é a relação dele com a guerra? Para percebermos a diferença (
(
(
"3
(
entre uma conversa e uma discussão, nós precisamos, em primeiro lugar,
perceber o que significa estar envolvido em uma conversa.

o tipo m ais básico de conve rsa envolve duas pessoas falando uma
(
'- .::~

o com a autr.l . N o rmalmente, \lma delas inida a conversa e elas se revezam


falando sobre um tópico ou um conjunto de tópicos. Manter o revezamen to
()
e O tópico cm questão (ou mudar O tópico de lima maneira permitida pelo
()
contexto) requer certa cooperação. E sejam q uais forem os Outros pro pó-
()
sitos que uma conversa possa ler para OS participantes, ela geralmente
( ]:
( ,
oV
cumpre o propósito de inte ração social polida.

( Até mesmo num caso tão simples como uma conversa palid:t entre
(]I duas pessoas, muitas dimensões de estrurura podem ser vist<ls:

(J
() Participanlu:. Os participantes pertencem a uma certa espéCle
() _______cnc'c'=u='oal, isto é, os ho meni . E les assumem o papel de falantes. A- - -
( Ir conversa é definida poc aquilo 'Iue os participantes fazem e os
() m esm os participantes desem penham um papel durante toda a
() conversa.
o Parltr, As partes consistem em uma certa espécie natural de

( ~ atividade, a saber, falar. Cada turno de fala é parte da conversa


() com o um todo, e essas panes devem ser colocadas juntas de uma
(J determinada maneira para que haja uma conversa coerente.
(3 E$Jágior. As conversas no rmalmente têm um conjunto de condi-
() ções iniciais e, a partir daí, passam por v:i[ios est:igios, incluindo
() pelo menos um começo, um meio e um fim. Assim, há certas
( ,=:', coisas que são ditas para dar infeio a uma conversa (OIM, Como
<..~ vai? e tc.), outras que fazem a conversa desenvolver-se ao longo
( ;;; da parte central e ainda h:i olltras ' lue fi nalizam a conversa.
( ,}
(~
(~ 154

(~
( .
Seqiiência Linear. Os turnos de fala dos participantes são organizados
em uma seqüência linear, tendo como condição gera! a alternânci:J.
dos fahntes . Algumas sobreposições são permitidas e hâ lapsos em
que um falante não assume o seu turno e o outrO continua. Sem tais
condições de seqüenciação linear das partes, oblêm-se um monó-
togo ou um amontoado de palavr:J.s, não uma conversa.
CaNsalidade: Espera-se que o fim de um turno de fala resulte no
início do próximo turno.
Propósito: Conversas podem cumpnr um número qualquer de
propósitos, mas toda conversa úpica partilha o propósito de
manter uma inreração social polida de maneira razoavelmen tc
cooperativa.

____ Há muitos detalhes que poderiam ser adicionados para caracterizar .


uma conversa de maneira mais precisa, mas essas seis dimensões de '
estrutma fornecem o esboço principal do que é comum às conversa úpicas.

Se você estiver envolvido em uma conversa (que tem , pelo menos,


essas seis dimensões de estrullu a) e perceber que ela está se tornando uma
discussão, o que é que a faz tornar-se algo além de uma conversa? A
diferença básica é uma sensação de estar em uma batalha. Você percebe
que tem uma opinião que é importante para você e que o Outro não a aceita.
Pelo menos um dos participantes deseja que o Outro desista de sua opinião
e isso cria uma situação em que há algo a sef ganho ou perdido. Você sente
que está envolvido em uma discussão qU:J.ndo percebe sua própria posição
sob ataque, ou quando sente uma necessidade de atacar a posição da outra
pessoa. A co nvcrsa torna-se uma verdadeira discussão guando você dedica
a maior parte de sua energia para tentar fazer a opinião do outro sef

155
!
desacreditada, ao mesmo tempo em que lenta manter sua pfÔpria posição. A
discussão é também uma conversa, embora o elemento de coopcr:lção polida
para manter a estnl\urn de conversa possa dcsv:mcccr·sc se ela se tomar acirrnda.

A sensação de estar cm uma bat:llha vem de sua experiência pessoal


com situações semelhantes a uma guerra, apesar de não ser um combate
rca\- uma vez que você mantém as amcni(bdes de lima conversa. Você
cxpericncia O outro participante como um adversário, você ataca a posição
dele, você tenta defender a sua própcia c você faz O que pode par.!
fazê-lo render-se. A estrutura da conversa assume aspectos da estrutura
de guerra c você :lgc de acordo com essa estrutura bélica. Suas percepções
c açõcs correspondem cm parte às concepções c açõcs de um dos lados
e nvolvidos numa guerra. Essa reestrut\lração da conversa em termos da
estrutll ra da guerra pode ser vista detalhadamente na lista de características
de 1I1lla diseussão;asegúir:

Você tcm Unia opinião que WlIsidera importante. (tu umll posifíÜJ)
O outro I»rtieip::uuc n30 oonoortla com você. (t/'r uma posição Iliferm/e)
(: impo rtante para vocês dois. o u pelo menos para um de vocês. Ijue o outro desism de sua
opinião (render-se) e aceite a do Olltro (,·i/ória). (dc é 5ell ad'·cr.fúrio)
A difCIaÇI dcopffiiõcs lorna-se um conflito de: opiniões.. (aJ/ifIiJo)
Você PC'\S,1 nn rncUIOI" maneira deconveocê-Io aaccitar seu pellJtode vista.. (p1l/llQde wratégia)
econsidera que evidência você poder:\ tr.t7.cr pal<1 reforçar ~\la qUC$tão, (jorçru m(lrcia~<)
CO llsidct:lndo o que você percebe como ft:lquC1..aS da posição do OUlro, \'ocê faz.
perguntas e colocn objeçOcs plnncjadas pnr~ forçá-lo a desistir e adorar a sua opinião_
(lIIaqlle)

Você tcnta trocar:'lS premiss:'lSda conversa dc nlancira que \'oc,; fiquc numa j)Osiç30 ma is
forte. (""l1/obra)
Rc:spOtKlcndo!ls pcrgunti'lS cobjcçõcs do outro. \'00.: Icnla Inmncr S\ll própriaopiniào, (defesll)
À mooid a que a discussão se desenvol\'c. h.1 necessidade de re\'i s~o par:! poder rnanlcr sua
visão gcr.J1.. (recuo)

156
,
(
(
(
Você pode Icv:ul1:l/" IK)\.:IS questões e objeções (COlllra-a/at{u/!) (
Oll você se cansa e dccidt: parar de (liscu lir (Irlgiiir) ou nCllhuul de vocés dois conseguc
(
convcncer o outro (impasse), ou um de vocês dcsislC (rendiçüo)
(
(
o que confere coerência a essa lista de coisas que transformam uma
(
conversa em discussão é que elas con cspondem a elementos do conceito dc
(
GUERRA. O que se adiciona do conceito de GUERRA ao concdto de
(
, CONVERSA pode ser visto cm ternlOS das mesmas seis dimensõcs de eSlnnurn
que Comecemos em nossa descrição da estrutura da conversa. (
(
Parlia"palltes: Os tipos de participantes siio pesso;ls ou gmpo de (
pessoas. Elas desempenham papel de adversários_
(
Pr/der. 1\s duas posições.
Planejamento de estratêgias (
Ataque (
Defesa-recuo (
Manobra
(
Conua-ata(IUe
(
lmpasse
Trégua (
Rendição/Vitória (
Es!dgios: Condições iniciais: Participantes têm dife rentes (
posições. Pelo menos um descja (
que o outro se renda. Cada par- (
ticipante assume {Iue pode de-
(
fender sua posição.
(
Início: Um adversário ataca
f\'leio: Combinações de defesa/de manobrai (
de recuai de contra-ataque (
Fim: Ou trégua, ou impasse ou rendição I vitória (
Estado final: paz, vitorioso domina O perdedor (
(
(
(
157
(
' ~
( ;,*
{~
S tqiiênna lintllr: Recuo depois de ataque
( )
"
D efesa depois de :lt:t'luc
( ~ Contra-ataque depois de ata(!uc
(3 Cmlla/id(lde: Ataque resulta em defesa, ou co ntra~ataqlle, ou
( -' recuo, ou rim.
(2) Prop6Jilo: Vitória

<3
(J Compreender lima conversa como lima discussão envolve ser capaz
( J1i de sobrepo r a multidimensional estrutura de parte do conceito de GUERRA
(]l à estnltlira correspondente de CONVERSA. Tais estrururas multidimensio-
( )1) nais caracteriz:un gula/II EXPERlENCIAIS, que são maneiras de organizar as
( c)!)
I experiências em blocO! U/n/furadOJ. Na metáfora DISCUSSÃO t GUERRA, a
()
(
( ~ "
y I gu/all da CONVERSA ê cstmturacla através de correspo ndências com ele-
mentos selecionados da gn/fllI da GUERRA. Dai, uma atividadc, a fala, é
" ~~ truturada_ em termos de outra atividade, luta usica. E struturnr nossa' - - -
...:;;,-
( experiência em termos de t:tis IplalU multiditnensionais é o que torna a
~
( nossa experiência coerente. Nós cxperienci:tffios uma conversa como uma
"
( ~ discussio quando a gulalt da GUERRA enc:lÍxa-se em nossas ações e
( 'l pe rcepções nessa conversa.
( >:'$ ~
Compreender tais gU1a11! multidimcnsionais e a correlação entre elas
'I)
( ;"
é a chave da compreensão da coerência na nossa experiência. Como vimos
( ]" :lcima,gpfaIIJ experienciais são blocos multidimensionais estruUJr.l.dos . Suas
( ,.
;,~~

dimensões, por sua vez, são definidas em term?s de conceitOS direlamentc


( ,~
emergentes. Isso significa que as várias dimensões (participantes, partes,
( " estágios etc.) são categorias que emergem naturalmente de nossa experiên-
( :;p cia. Já vimos que CAUSAUDADE é um conceito diretamente emergente e
( ~
( ,
.;,;)'
que as outras dimensões, em termos das quais nós categorizamos nossa

L experiência, têm uma b:tse eXperiencial razoavelmente óbvi:t:


( ~ f,,
( ~
( âl 158
( ~~

-
Pnrlidpnllfes; Essa dimensão emerge do conceito doSER como um ata r
passível de ser distinto das ações 'lue realiza. Distinguimos lambêm
tipos de participantes (por Olcmplo, pessoas, anim:lis, objetos).
Parln : Experienciarnos a nós mesmos como tendo partes (braços,
pernas etc.) que podem ser controladas de form:l independente.
D o mesmo modo. cxperienciamos os objetos fisicos cm tc:rmos
de partes que eles Itm natur:llmenle, ou parles que impomos :l
eles, seja em virtude de nossas percepções, de nossas intenções
com eles, seja peJa utilidade que atribuímos a eles. D e maneira
semelhante, impomos a estmtura parte-todo a e ventos e ativida-
des. E , como no caso dos panicipantes, distinguimos tipOJ de
partes (por exemplo, tipos de objecos, tipos de atividades elc.)
EJ/ágior. Nossas fun ções motoras mais simples implicam que
_______c'=o=nc1c,,=çc' cffieO='=-o lugar onde nos encontramos e a RQsiç~2-na <lual.
est:lmos situados (condições iniciais); pam realizar completmnem e
lima tal função motora, é preciso que comecemos a nos movimentar
(mício), que realizemos a ação necessária (meio) e que nos detenha-
mos (fim), quando tivermos atingido o estado finaL
StqiiE" da L·ntar. Novamente, o controle de nossas funç ões mo-
to ras mais simples exige que as coloquemos na seqüência certa.
Objttiw. Desde o nascimento (e mesmo antes), temos necessidades
e descjos e percebemos muitO cedo que podemos realizar certas
ações (chorar, mover-nos, manipubr objetos) para satisfazê-los.

Essas são algumas das vácias dimensões de no ssa experiência. Clas-


sificamos nossa experiência nesses termos. E vemos coerência em expe-
riências diversas quando con seguim os c:'Ilcgorizá-Jas cm rermos de gu Ia/fI
com, peJo menos, essas dimensões.

159
I,
o que l;gllifim /{1I1 tollrtilo (olTtJjJonder (I 1/11111 exptribJ(ia?

Voltemos para a experiência de cst:H envolvidos cm uma conversa que


se toma uma discussão. Como vimos, estar envolvido cm uma conversa é uma
experiência estruturada. Ao cxpericnciarrnos uma conversa, cst:Hnos auto-
mática e inconscientemente classificando nossa cxpericncia em termos das
d imensões nanmlis d a guiaiI da CONVERSA: Quem está participando? D e
' Iuem é o turno? (::::C[UC pane?) Em CJue cSl:ígio estamos? E assim por dian te.
É impondo a gestal! da CONVERSA aos acontecimentos que se produzem
cJuando fa lamos c ouvimos que nós nos envolvemos num lipo particular
d e experiência , a saber, um:l. com"crsa. QU:lndo, além d isso, percebemos
que dimensões da nossa experiência se encaixam na gnM!1 da GUERRA,
percebemos <Iue estamos participando de um outro tipo de experiência, a saber,
uma discussão. É dessa maneira que classificamos experiên.?as espec~~~a!! c
~~ é~~ cécssári; que nós as classifiquemos para podermos compreendê-Ias e
para sabermos como agir.

Assim, classiOcamos experiências específi cas em termos de gnlall!


cxpericnciais que existem no nosso sistema conceptual. Neste ponto,
devemos distinguir entre: (1) a experiência em si, lal como a CSlnHUramos
c (2) os conceitos que empregamos para cstnlturá-ta, ou seja, as gnMII!
multidimell5ionais como CONVERSA e DlscUSSAO. O conceito (por exem-
plo, de CONVERSA) especifica cerlas dimensões naturais (por exemplo,
participantes, partc, estágios elc.) e como essas dimensões se relacionam.
Há uma correlação, dimensão por dimensão, entre ° conceito de CONVER-
SA e aspectos da :ltividac\e real de conversar. Ê isso 'lue 'lucremos dizer
<Iuando afirmamos que um conceito corresponde a uma experiência.

É conceptllalizando nossas expcriências dessa maneira (jue sclccio-


namos os aspectos "im portantes" de uma experiência. E, selecionando o

160
(
(
(
que é "importante" na experiência podemos categorizá-la, entendê-Ia c t
rccupcr:í-b /la memória. Se lhe disséssemos que tivemos uma disclIssão (
ontem, cstarí:lmos contando a verdade se nosso concei to de uma DISCUS- (
sAo, lendo a nós como participantes, corresponder a uma experiência que (

tivemos ontem, dimensão por dimensão. (


(
(
(
(
Em nossa discussão sobre o conceito de DISCUSSAO, :tssuinimos
(
mml. distinção clara entre subc:ucgorização c cstrutw:ação metafórica. P or
(
um bdo, consideramos «Uma discussão i; uma conversa" como um;1
(
instância de subcatcgorização, porque uma discussão é basicamente um
tipo de conversa. A atividade de fala
.-r"acontece
- ' - cm...ambos,
- _. _ _-_._.
discussão
...
c ((
conversa, e uma discussão tem todos os traços básicos de uma conversa.
(
Assim, nossos critérios pa ra sub calcgo rização foram (a) mesmo tipo de
(
atividade e (b) mesmos traços estruturais em número sufici ente. Po r outro
(
lado, consideramos DISCUSSÃO ÉGUERRt\ uma metáfora pOfC!lIe discussão
(
e guerra são basica mente tipos diferentes de atividade e por<luC discussão
(
é parcialmente estruturada em termos de gucrrn. A discussão é um tipo
(
diferente de atividadc porque envolve fala em luga r de combate. A estrutura
(
é .p;lrcial porque apen;ls alguns elemen tos sclecionados do conceito de
(
GUERRA são uS;ldos. Assim, nossos critérios para definir uma metáfora
(
foram (a) uma diferenç;l no tipo de ativiebde c (b) estnltllf;lção parci;l] (uso
(
de certas partes sclecionadas).
(
Mas niio podemos sempre distinguir subcategorização de metáfora
(
com base nesses nit-êrios. A razão é <Jue não é sempre claro quando duas
(
;ltividades (ou duas coisas) siio do mesmo tipo ou de tipos diferentes.
(

(
(
161
(
( ]
( ])
() T omemos. por exemplo, DlscussAo É LUTA. É uma subc:ttegorização ou
(
~ uma metáfora? A questão aqui é se lutar e discutir são o mesmo tipo de
(.:) acividadc. Não é uma questão simples. Lutar é uma tentativa de conseguir
( :$ domínio que normalmente envolve ferir, infligir dor, machucar etc. Mas
( .) existe tanto do r flsica quanto o que se denomina dor psicológica; há
(
(
".,, domínio fisico e domínio psicológico. Se seu conceito de: LUTA envolve
tanto dor e domfnio psicológicos quanto dor e domínio fisicos, entio você
~

( » pode considerar DISCUSSÃO É LUTA como subc:ltegorização e não metá-


( :;, fora, uma vez que ambas envolveriam domínio psicológico. Nessa visão,

~
( 1\
:;;, uma discussão seria um tipo de luta, estruturada sob a forma de conversa.
(
~ Se, por o utrO lado, você concebe LUTA como puramente fisica e se você
( .,~ considera do r psicológica apenas como dor no sentido metafórico, então
( v você pode considerar DISCUSSÃO É, LUTA como metáfora.
(
~ __. __ .____ ~_q~es tã.2 ?qui ê_.ql:!.c:.~ b cª-t ego rizaç~º e metáfora são extremos de ___ _
( "l- - um rontinulIIlJ. Uma relação do tipo A é fi (por exemplo, DISCussAo Ê LUTA)
( ,) será subcategorização clara se A e B são o mesmo tipo de coisa ou atividade,
( ],I e será metáfora clara se A e fi forem claramente coisas ou acividades de
( :;;. tipos diferentes. M3S quando não é muito claro se A e fi são (, mesmo tipo
( .) de coisa ou atividade, a relação A é B fica em algum ponto no meio do
(
x'~ rontimlllm.
,)
o que ê importante notar ê que a teoria esboçada no capítulo 14
(
".;;~
permite tanto casos não muitO claIOS quanto casos inequívocos. Os casos
,1\ não muito claros envolveria os mesmos tipos de estruturas (com as
( ,'1;\
mesmas dimensões e mesmas possíveis complexidades) dos casos inequí-
(
~ vocos. Num caso não muito claro da forma A ê 6, A e B serão ambosgu la/U
(
(
'",
""
..:;;,:,
que estruturam certos tipos de atividades (ou coisas) e a única questão será
se as atividades ou coisas estruturadas por essas gUla/1J são do mesmo tipo.
( J)
~~
( "
162
( '~;}
I:;;:'
~
Até agorl, carlctcri zamos coerência em termos deges/alls expeden.
ciais, que têm v:hi:ls dimensões que emergem dirct:l.menlt! d l experiênci:l..
Algumas lpla/II sâo relativamente simples (CONVERSA) c algumas são
extremlmenre elabor:J.dlS (GUERRA). Há também gesla/Is com plexas que
são est rutur~\das em termos de outrasgesltJ!lJ. São o <Iue estamos ch:lrn an~

do de conceitos mct'aforicamemte estruturados. Alguns conceitos são


inleiramente estruturados metaforicamente. O conceito de M iOR, po r
exemplo, é fortemente estruturndo metaforicamente: AMOR É UMA VIA-
GEM, AMOR Ê UM PACIENTE, ,\t.IOR É UMA FORÇA FislCA. AMOR É
LOUCURA, AMOR É GUERRA etc. O conceito del\MOR tem um núcleo que
ê minimam ente estruturado pela subc:negorização AMOR É UMA EMoçÃO
e por ligações com outras emoções, por exemplo, gostar. Isso é típico de
conceitos de emoção, que não são c1arnmente delineados em nOSSl expe-
riência de fo rma direta e, portamo, devem ser compreendidos, primei ra-
mente, de forma indireta, via metáfora.

Ma s há mais a se considerar sob re coerência do que a estruturação


em termos d e gesla/I! multidimensio nais. Quando um conceito é estru -
turado por mais de uma metáfora, as djferentes est ruturações metafó-
ricas geralmente se harmonizam coerente mente. Agora, passaremos a
outros aspectos da coerênci:t, considerando tanto a estruturação meta-
fórica simples quanto a estru turação metafó rica complexa.

163
(
(
(
(
(
(
\
(
(
\
(
(
(
16. COE R ~NCLA META F6JUCA (
(
I
(

(
(
A !ptíIOJ tiptciaú'zados de "n! (o1/«jlo
(

Examinamos o conceito de DISCUSSAOdc maneira bastante detalha- (


da para ter uma idéia geral da Sua estrutura global. Como oco rre com muitos
de nossos conceitos gcr:tis, o conceito de DISCUSSÃO tem aspec tos espe- (

cializados que siio usados cm dctcrminad:ts subcultur:l.s o u cm determina- (

das situações. Vimos, por exemplo, que, no mundo acadêmico, no mundo (

lc~l etc., o conceito de DISCUSSÃO especializa-se cm DiSCUSSÃO RACIO· <.

NAL, o que o distingue da discussão " irracional" do dia-a-d ia. Em DISCUS- (

SÃO RACIONAL, as táticas, pelo menos na forma idtlJlizodtl, restringem-se


a estabelecer premissas, a citar evidências como apo io e a tirar conclusões <.

lógic:ls. Na prática, como vimos, as táticas das discussões colid!anas \


<.
(intimidação, apelo à autoridade etc.) aparecem na discussão "racionai"
(

lOS
(
•.
<)
(3
l
( } real de forma disfarçada ou refinada. Essas restrições adicionais definem
(~ D ISCUSSÃO RACIONAL como um ramo especializado do conceito geral de
( :1:.1
.~ DISCUSSAO, Além do mais, o objetivo da discussão é restringido mais ainda
(~ no caso de DISCUSSÃO RACIONAL No caso ideal, o objcuvo de vencer a
( ,J.' discussão é visto a selViço do objetivo mais nobre, o entendimento.
(
()
" No caso específico de DISCUSSÃO RACIONAL, há uma especialização
:l mais. Como :lS regras do discurso escdto não permitem as formas de
(ll\ diâlogo inerentes às discussões com dois participantes, desenvolveu-se uma
c.) fonna especial com um participante único. Aqui o ato de faJar torna-se
(.& especificamente atO de escrever, e o autor dirige-se, não a adversários reais,
(~
mas a um grupo ele :lclversarios hipotéticos, ou a adversários rcais que não esmo
( .@ prcsentes para se defenderem, p:1ra contra-atacarem etc. O que ocorre aqui
(~
é o conceito especializado de DISCUSSAO RACIONAL UNILATERAL.

(i- ---.-----
( !!I
Finalmente, há a distinção emre a discussão como procUJo (discucir) -' -
. e a discussão como produ/o (o que foi escdto ou dito no decorrer da
(j)
discussão). Nesse caso, processo e produto são aspectos intimamente
(
J relacionados,do mesmo conceito geral, aspectos que podem ser evidencia-
(JJ
cios e que não existem separadamente. ~ssim, ao falarmos do estágio de
(1'
lIm:l discussão, referimo-nos indiferentemente:lO processo ou ao produto.
( ~:

(' DISCUSSÃO RACIONAL UNILATERAL é um ramo especializado do


-' conceito geral DISCUSSÃO e, como tal, traz em si várias restrições específi-
(]
caso Na medida em que não há ul:!l adversário detenninado presente,
( ~
., deve-se simular um adversário idealizado. Se o objetivo "vitória" for
mantido, ela incidira sobre um adversário que não está presente 'e; para
(
,~
garanti-Ia, será preciso supera r todos os adversários possíveis, além de
(

( "~
W
""
,,::'' '
conquistar :lS facções neutras para si. Para tanto, devem-se antecipar as
possívc.is objeções, defesàs, ataque etc. e levá-Ias cm conta enquanto se
(
~

( :,) 166
( ,~~ I

( ~ '!
constrói a discussão. Já que tratamos de DISCUSSÃO RACIONAL, devemos
adora r todas essas medidas, não apenas para vencer, mas par atingIr o
objetivo mais nobre de entendimento.

Seguem restrições à discussão racional unilateral que exigem atenção


especial com relação a determinados aspectos da di scussão, (lue n:io s:io
tão importantes (ou talvez nem estejam p resentes) na d iscuss:io cotidiana.
Destacam-se. entre outras, as sCg'-lin tcs :

Conteúdo: É necessário dispor-se de uma determin:lda quamich de


de evidências que possam apoiar o que se quer provar e dizer,
para cntão su pernr todo tipo de objeção:
P' I@?SJo: Deve-se começar com um acordo geral a respeito das
premissas e prosseguir de fonna linear em direção a uma conclusão .
. Bs/m/llm: A discussão racional exige conexões lógicas adequadas
entre várias partes.
Forra: A capacidade que uma discussão tem para suportar ataques
depende do peso das evidências e da solidez das conexões lógicas.
Bmbtllamenlo: Certas afirmações são mais importantes do que
outraS e devem ser particubrmente mantidas e defendidas, por-
que servem de base para outras afirmações subseqüentes.
Obviedade: Em qu:\lquer discussão, aparecerão aspectos que não
são óbvios e que, port:\nto, devem ser identificados e explorados
detalhad:\meme.
Direriollamen/o: A força de uma discussão pode depender da
direção que se dá às premissas em direção à conclusão.
Clareza." As afirmações e suas conexões devem ficar muito claras
para que o leitor possa entendê-las.

167
Esses são aspectos da discussão racional unilateral não nccessarl:l.-
mente presentes cm uma discussão comum do dia-a-dia. O conceito de
CONvEnS/\ çÃo c a metáfo ra DISCUSSÃO Ê GUERRA não cnfocam certos
llspectOs, que são emeiais numa DISCUSSAO RACIONAL idealizada. Conse-
(llicntcmcntc, o conceitO DISCuSSAO ÉGUERRA é posteriormente definido
por meio de outras metâforas que nos possibjlitam focar esses aspectos
importantes: DISCUSSAO É UMA VIAGEM, DISCUSSAO É UM RECIPlENTE c
DISCUSSÃO É UMA CONSTRUcAo . Como veremos, cada uma dessas metá-
foras ajuda-nos a capt3r alguns dos aspectos do conceito DISCu:SSAO
RACION AL. Nenhuma dclas consegue dar-nos o cntCildimcllto completo,
consistente c abrangente de todos os aspectos de uma discuss~o racional,
mas, juntas, podem dar-nos a compreensão coerente do que eJa é. Consi-
deremos agora o probl,=ma de várias metáforas diferentes, cada lima delas
estrururando parcialmente um aspecto do conecito, proporcionarem juntas
lima compreensão coerente do conceito como um todo.

A coenllaa mI lima finira met1fora

Podemos vislumbrar a idéia do mecanismo da coerência em uma

I
,
unica estrutura metafôrica, começando pcla metáfora D1scussAo É UMA
VIAGEM. Essa metáfora descreve o objetivo de uma discussão: o fato de
ela ter um início, seguir de formaline:lr e progredir em estágios em direçã9

~,
a um objetivo. Em seguida, apresentamos exemplos evidentes da metáfora:

DISCUSSÃO É UM A VIAGEM
I'ar/imos P.1r:l provar que morccg05 são 3VCS. I PropuscnlO-nos a provar que mOTCecos
550 aves.! (We IUl\"c sei QIU 10 prove lha! bals ;ue birds_)

168
(
(
(
QUI/Ilda c""gamra,. (10 /10/110 seguim.. , veremos que a fil osofia está 1ll00ta) (\V/leU wc gel (
lO rlrc IlU' pailll, wc !;Irall sec tllJt phitosoph)' is de;ld.) (
Ati l/qui, vimos que nenhuma das teorias ntua is fUllcionamJ (So faro wc've $CC1I tllJt no
(
eurretlt theorics will work.)
(
AI"IJllfarCmOS 1"1$.<0 " passo. f (Wc will pmeud iII a SI..p by s'''p fashioll.)

Nossa //leia é moslrar que os beija-flores são essenciais par:! a dcfes:l milit:JJJ (Qur Boal (
is to shaw that hummillgbirds are esscntinl tO militaI)' defense.) (
Esta observação iuJico o caminho paru uma'soluç30 elegante. I (l11;s obscrva1ion paillu (
lhe way lo an elcgmlt solution ,) (
CI/cgw,wI a uma COllCltrs.lo penurbadoraJ (Wc /wvc arrir,..d ai a dislurbing cOl1elusion.)
(
(
o que sabemos a respcim d e viagens é qlle VIAGENS DEFINEl--1 Ur.I
CAr.UNHO.
(
(
V IAGENS DERNEl'-1 UM CAM I NHO
(
_. Ele d/iSl'jOll-SC do éaminhoJ (1Ics,raycdfml1l tliC p:1tll.)-
Elepor/;lI em dircçiio umda.1 (\ic's gone offin Ilre IVrollg dir..c/iO/l.) (
Eles estão nOSstguiI1Jo./ [The)"refoJlow;rrg us.) (
Estou pudido} (1'111 1051,) (
(
Se juntarmos DIscussAo É UM.A VIAGEM e VIAGENS DEFINEM UM (
CMUNI-IO, terem os: (
(
DISCUSSÃO DEANE UM CAM INHO (
Elc desviorl-se da dircç(io da t1i scu$sl'Io I (I-I e slro)"cdfrO/" 11,1' I;",~ of argumcn1. (
Você acompanha minha :ugumentaçlo?1 (Do youfoJ/()W 111)' argument 1) (
(
Estou perdido. I ( I 'm los/.)
(
Você está cami,l/rml(lo tlll cfrculos.1 (You're gOÍlJg aroU/rd in circlc.s.)
(
(
(
(
169
(
( };9 ,
o.' . I
--~
(
E m3.Ís, os caminhos são concebidos como superfícies (lm:lginc um
( -.?J
tapete desenrolando-se à medida que você caminha, criando, assim, um
( ~
caminho atcis de você):
( }
( 11> CAM INHO DE UMA VIAGEM I'! UMA SUPERÁCIE
( 1í' Cobr;/JWS muito 1:h30. (Wc: co~ud ;t Iot of groortd.)

Ele está 1111 nossa trilha. (He's on oor trail.)


( ~
Ele dtsviou·u da trilha. (He slm~d oJJthc tr:liJ.)
( ~ Volt3mospara a lT1CSIllól trilha. (Wc wcn! b:lel:: O~trthe sarne traí!.)
( }
( » Dado que DISCUSSAO DEFINE UM CAM1NHO e CAMINHO OE UMA
( )
(
o, VIAGEM É UMA SUPERFÍOE. temos que:
-')
( .':;'"
CAMINHO DE UMA. DISCUSSÃO É UMA surERÁclE
(
(
'Q
., - __
JS cobn'mos aqueles pomos. (Wc have alrcady cavered those plinl$.)
~_ o .tMo cm nossa argumentaçio. (WC: have cowud a 101 oí grou1Id in otU'- ----
. ___ • muito
Cobrimos
argument.)
( 1ll
Vamos voltar para II discussão novamenlc. (LeI', &00 bacl:: DVer lhe argumcnl llgain.)
, ]I
Voe! est! $ainda do assunto. (YOU'te geu.illg offthe subject.)
1~ Vod está chegando lá.. (You're really onto something thtrc .)
~ Estamos 110 caminho certo para SOhx:ionar este problema. (We're well 011 our way 10
1\ solving 11115 problern.)

"I
s
Aqui temos um conjunto de casos que correspondem na medfora
3
DlscussAo É Ur.ú\ VIAGEM . O '1ue os torna sistemáticos é um par de
D
c, implicações m etafóricas baseadas em dois fatos a respeito de viagens.
.'
1)
Os ( aIOS sobre vi agens :
.9
"
VIAGEM DEFINE UM CAMINIIO
~
CAMINHO DE UMA VIAGEM ~ UMA SUr l!RF1clE
~
II ,
..•
~ ,•,
170
;li
~
~
As implicações memrÓriC3$:
DISCUSSÃO É UMA VIAGEM
y lAGEM DEFINE 11M CAM INHO
l'onanlo, DISCUSSÃO DEFINE UM CAMfNHO
DISCUSSÃO Ê UMA VIAGEM
CAMINHO DE liMA y lAGEM É UMA SUI'EREfclE
Ponamo. CAMINHO DE UMA DISCUSSÃO Ê UMA SUPERF1CIE

Aqui, as implicaçõ<=s metafóricas caracterizam a sistematicidade


interna da metMora DlSCUSSÃO É UMA VIAGEM, isto é, dão coerência a
todos os exemplos dessa metáfora.

Couttuia mtn doú a!plttoJ de Jl!II rí"ito rollai!o

I_______~D_JS~U~SAO É U~~ VIAGEM é apenas uma das metáforas q~e exj:t: c'"'--__
para d<=screver uma discussão: nós a utilizamos para salientar o objetivo, a
direção ou a progressão de uma cljscussão. Quando 110S referimos ao
conteúdo da discussão, usamos a metáfof:l .estrururalmente complexa
DISCUSSAO É UM RECIPIENTE. Recipientcs podem ser entendidos como
definidores de um espaço limitado (com uma superficie limitada, com u~
centro e uma periferia) e como detentores de uma substância (que pode
variar quanto à quantidade e pode ter um núcleo localizado no centro).
Usamos a metáfora DlscussAo É Ur.I RECIPIENTE quando queremos
ilumina r qualCJuer um desses aspectos da discussão.

D ISCUSSÃO É UM RECWIENTE
SU3 arguffil:nlaç30 n30 te m 1f1llilOCOlZl túdo. (Your nrgument doesn't hnve much cOfllm l. )
Aquele arguffil:l1to lfilTtuJo. ( nUlI nrgurn.en t Iras holes in ir.)

171
I Voei não tcm mui/o argumento, m:JS as objeções dele têm mC'JQj" Jllruló,lôa ~il)(l3 . (Vou
don', have ","eh of ~n ~rgunl(;lll, bm his Objecliol1 s havc cvc n Ics$ subslnlJcc.)
SIm nrguUlen l~ç~o é "aÚa. (Your argumeOl is 1'(ICIIQII$.)
Estou c<lIls.1da de seus argumentos vazios. (['lO tircd or your cmp/y nrgumcnts.)
Você 11:10 cncommrcf [)(jl.lCla jd~ia "II argumenlaçiio dele. (YOIl woo'IJim/lh:u idea in his
arg lllnenl)
UsIQ conclusão t.Jtá fom de disçussào. I De onde você liroll e$S.1 oondus~o1 (Illal

conclusionfall.l' OUl ofrny arcument.)


Seu arglllllCllto n<io Jcgllm ilgull,/ Seu argumento éfimlllo. (Your argUIllCnl "tII/'I/loM "'llIer.)
Aqueles &lIo os pontos ct!IllroiJ da argumenlaç30 - o resto é periférico. (IlIOSC poinls are
a mml !O lhe argmnent _ lhe rest is ~ripht"".)
Ainda não peguei o ccml! do argumento dele. (I slitl havcn', gonen la lhe core of his
argulnen!.)

Uma vez que os objctivos das metáforas da ViAGEM e do REClPIENfE


__ ~ sã.o .<!if.!;t.Yl~~~_É, já. qu~das ~o usadas Rara focalizar, e~_ detalhe, aspeetos_
diferentes de uma discussão (objetivo e progresso versus contC\ido), nós nio
podcóamos esperar que elas se ju~t:lpusessem tottlmente, É possível, em :tIguns
casos, cvidenciarao mesmo tempo t:mto o aspecto da VIAGEM (progresso) como
o do REorIENTE (conteüdo) de uma discussão. Assim, temos dctenninadas
meciforas mistas que aprescnt:lm dois aspectos ao mesmo tempo.

Justaposição entre as mct:lforas d3 VIAGEM C do RECU'IENTE


A/é e.t/e pomo nossa argumcnlaç:1o não tcm IIIUllO COtltclÍdo. (A111ti5 poim Ollf arglllnclII
doe,o;n't have muclJ colI/clIl.)
No ca,ni nho percorrido ali agora, pudemos forneccr o um~ da argulllcl11aç30. (ln what
wc've done 50 [ar, wc have providcd lhe core or our argunlcnt.)
Se conlinllarTl1O$ por CJse camillho. conscg uirelTlO$ Íll.urir lodos os falos . (Ir wc keep
golllg I/Ie way wc "re going. wc'lIftl alllhe[aelJ iu. )

172

[I
(
(
A justaposlçiio é possh'd porque as metáfo ras da VIAGEM c do (
RECIPIENTEcomparúlham implicações. Ambas permitem-nos disú ngui r a (
forma dn argumenmção de seu cont'cúdo. Na metáfora da VIAGEM, O (
caminho corresponde ii forma da argu mentação e o chão percorrido (

corresponde a seu conteúdo. Quando caminhamos em círculo, trilhamos (


(
um longo caminho, mas niio cobrimos muito chão; isto é, a argumentação
(
não lem cOOleúc!o. Em uma boa ar&,lmentação, entretanto, cada elemento
(
da forma é usado no senúdo de expressar um conteúdo. Na metáfora da
(
VIAGE.M qua/110 mais longo for o caminho (a ar&Jl.lmemação mais longa),
(
mais chão será cobeno (mais conteúdo a argumentação ted) . Na metáfora
(
do RECIPIENTE, a superficie do recipiente corresponde fi fornla da argu-
(
mentação e o <Iue se encontra dentro do recipiente corresponde ao "con-
(
teúdo" da argument1ção. Nos recipientes criados e usados de forma mais
(
eficaz, ocupa-se toda a superfície para abrigar o conteúdo. Idealmcnte,
(
quantO maior for a superfkie (maior scrá a argumentação), maio r será a
(
substância abrigada no recipiente (maior será o conteúdo da arg\lmenta-
(
ção). À medida que o caminho se desdobra, a superfície dcfinida pelo (
caminho vai aumentando, da mesma maneira que se cria mais supcrficie (
dcntro do recipiente. A justaposição cntre as duas metáforas é a criação (
progressiva da superficie. À medida q\le a argumentação cobre uma exten- (
são maior de chão (via superfície percorrida de VIAGEM), ela ganha mais (
conteúdo (....ia supcrficic do RECIPIENTE) . (
A implicação com partilhada caracteriza a justaposição que surge da (
scgllintc maneira: (
(
Uma implicação //110 melofórica Jobre \'iagem: (
À medida que avanç:unos em uma vi3gelll. ampliamos o caminho j>Crwrrido.
(
(
(
173
(
,
,
( ~~ I
( -~
CAMINHO eUM A SU PER FíCIE
\ ""
, Ponanlo, quando ~v nnça lnos em urna viagem, cnnlnos UlM superfície m~ ior.

( 0_" Uma implicaç{Ia mewfórica sobre t/iJ,'CIU'SÕts (baseada em vjagenJ;'

(
,
"
'1

)
DISCUSSÃ O É UMA VIAGEM
À med ida Que ayaoç:aUlQS em uma yi ai'cm, crinrnos mais su~

Pon~mo, ii med ida que ~v.ulçan>os em uma discusslo, cri:lIl1os mais supcrfkie ,

Ullla implicllçeio m~tafóric(l sobre discuniJrs (barrada em recipÍt'1lIU)


( ')
DISCUSSÃO I'!: UM RECII'IENTE
~,
( ,< À medida oue fazemos um "tipico!e cria mos mais superficje
,,~

( PortanlO, à medida que desenvolvemos uma discuss.w, cri amos mais supcrfrcie,
"
("t,
Aqui as duas implicações metafóricas têm a mesma conclusão. Isso

-,-
('
( .>
pode ser esquematizado pdo diagrama segui nte:

(:I
( )
-""-- - - - -
(
r]
"
• •
Outras lmpIicaç6es Amedida que avançamos em uma OUtras implicações

7::
OJanto maior a superllóa criada,
maior eKlensaG lerá a discus:>ao
Quanto maior a superlIóe criada,
mais cooteUdo terâ a di5cussOO

É essa justaposição de implicações entre:\s duas metáforas que define


:\ coerência entre cbs e promove a ligação entre a extensão da discussão c
a quantidade de superficie que eb posslIi, É o qlle lhes permite o "encaixe",
mesmo se não forem absolutamente consistentes, isto é, não há uma "imagem
únic:\" que seja tOtalmente adequada a ambas as metáforas. A superficic

174
do recipiente e a superfície percorrida de chão, ambas são superficies em
virt\lde das propried:ldes topológicas comuns. Porém a imagem de super 4

ficie de cMo que temos é muito diferente de como imaginamos os vârios


tipos de superfícies de recipientes. O conceito topológico absmHo de
superficie que faz a justaposição entre essas duas metMoras não é concreto
° suficiente para dar forma a uma imagem. E m geral, quando as metMoras
. são coerentes, mas nito consistentes, não devemos esperar que nos dêem
imagens consis tentes.

A diferença entre coerência e consistência é crucial. Cada metáfora


põe em evidênci:l um aspecto do conceito de DISCussAo; nesse caso, cada
uma delas serve a um unico objetivo. Mais ainda, cada medfor.!. permite 110s 4

entender um aspecto do conceito em u:rmos de um co nceito delineado


mais claramente, por exemplo , o de VIAGE.M Oll o de REC!PlENTE. Preci-
____s~'::Il]_:~~e ~_u~! . ~eráf~E~, po_rque não Jl~_ .!:l m~ únic~metáfora que_ nQs
permita descrever ao mesmo tempo a direção e O conteúdo de uma
discussão. Os dois objetivos não podem, ao mesmo tempo, ser atingidos
pOr uma única metáfora; e onde não se misturam os objetivos, as metMoras
niio se misturaruo. Assim, vamos encontrar exemplos de metáforas em que
não se permitem misruras, dada a impossibilidade de se encontrar uma
única metáfora claramente delineada que satisfaça os dois objetivos ao
mesmo tempo. Po r exemplo, podemos falar em dire{lio de uma discussão
e de conleúdo de uma discussão, mas niio de direfão do COI/Iludo de uma
discussão, nem de COllluído da direrão de "Uma discussão. Daí não (ermos
frases como as seguintes;

Podemos agora acotnpan har Q CtllllilrM do u m e de sua discuss~o. (We ca" follow lhe
pllllt of llre COTe of lnc argument.)

115
o come,i,lo d,:u(8",nenUlçoo cominua d3 scguimc fOflll3. (llIc COme/II of lhe 3rgumenl
procceds;tS follows)
A direçiio de sua discussJo não tem subsliim;i(l. (The (lirCClinn of hi s aQ;ulllcnl has no
sllbúlmcc.)
Estou penurbad31'clo caminha I'mio de sua argumentaç50. (I am disturbed by the l·UCIWIU
pmll of your argUlnenl)

As duas met:ifOf1lS sertam consistentes se houvesse um meio de


satisfazer totalmente os dois objetivos com um conceito.claramente delinea-
do. Ao invés djsso, obtemos coe~cncia e satis fazemos apenas paróalmente
os dois objetivos. Por exemplo, a rneufora da VIAGEM enfatiza tanto a
dircção como o progresso em dircção a um objetivo. A metáfora do
RECIPIENTE enfatiza o comeüc!o, no que tange à quantidade, densidade,
centralidade e limites. ~ aspecto progrwo da metMora da VIAGEM e o aspecto
(j/l(lIIlidadt .da_n.2et4fora do REOPIENTE podem ser enfatizados aQ mesmo
tempo porque a quantidade aumenta à medida que a discussão progride. E,
como vimos, esse fato leva a met:iforas em que a mistura é possível.
Até então examinamos a coerência entre as dU:ls estnLturas mctafó-
ricas do conceito de DIScussAo c concluímos o seguinte:

• As implicações metafóricas desempenham um papel essencial na


ligação de todos os exemplos de estruturas metafóricas IÍnica! de
um conceito (como nos vários exemplos ,h metáfom DISCUSSAO
É UMA VIAGEM) .

• As implic:l.çõcs metafóricas também desempenham papel imponante


na lig:tção de dl/(l1CStnlturas metafóricas difmnlCJde um único conceito
(como na metáforas da VIAGElvI e do RECIPIENTE para DISCUSSAo).

176
(
(
• Uma implicação met:lfóric:t compartilhada (comum) pode criar (
uma correspondência metafórica cruzada. Por exemplo, a implica- (
ção compartilhada À MEDIDA QUE AVANÇAMOS NA DISCUSSAo, (
MAlS SUPERFÍCIE li CRIADA , estabelece a correspondência entre a (
quantidade de chão percorrido na discussão (que aparece na metá- (
fo ra da VIAGEM) e aquanridade de conteúdo da discussão (presente (
n:l metáfora do RECIPIENTE). (
• As diferentes estrutuf:lS metafóricas de um conceito servem a (
diferentes objctivos na medida em que se enfatizam diferentes (
aspectos do conceito. (
• Todas as vezes que ocorre a justaposição de objctivos, há também (
a justaposição de met,'Í.foras c conseqüentemente existe coerência (
entfe elas. As metáforas que permitem mistura encontram-se nessa (
justaposição. (
• Em gera!, é mro encontrar total consistência entre as metáforas; ao (
passo que a coerência é um fenômeno frcqüente. (
(
(
(
(
(
(
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177
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17. COERÉNOAS COMPLEXAS ENTRE METÁFORAS

1--- - -·-- o aspecto mais importante que devemos ter em mente em nassas '-
discussões a respeito da coerência metafórica é o papel do objetivo da
metáfora. A estrururação m etafó rica de um conceito, digamos, a ela m elá-
fora da V1AGEM para discussão, permite-nos apreender um dos aspectos
desse co nceito. Dessa (orm:t. uma metáfora é bem sucedida, na medida em
que atinge seu objctivo, a saber, fi compreensão de um aspectO do conceito.
Quando duas metáforas conseguem satisfazer a do is objetivos diferentes,
as justaposições nos objetivos correspondem a justaposições naS metáfo-
ras. A firmamos que essas justaposiçõcs podem ser carnclcrizadas e m
tem10S de implicações metafóricas compartilhadas e de correspondências
que se csmbelecem enuc as metHoras .

Observamos esse fato em um exemplo simples no capítulo anterior.


Gosta ríamos agora de mOStrar quc os mesmos mecanismos ocorrcm em
exemplos complexos. Há duas fontes para esse tipo de complexidade:

179
(1) frcclüentcmente encontramos metáforas que estnlruram parcialmente
um único conceitO e (2) quando discutimos um conceito, usamos OUtros
conceitos que, em si, são enlendidos em termos metafóricos e levam a
justaposições rnet:lfÓricas posteriores. Podemos isol:lr os falOres que pro-
duzem t:lis complexidades, examinando de maneira mais aprofund:lda o
conceito de DISCUSSÃO.

Em ger:ll, as discussões têm como objctivo a compreensão. Cons-


truímos discussões (ou :lrgumentações) quando precis:lmos demonstrar
conexões entre coisas óbvias - coisas que pressupomos óbvias - e outras
coisas não tão óbvias. Fazemos essa operação agnlpando idéias. Essas
idéias constituem o conteúdo da argumentação da discussão. As coisas que
pressupomos óbvias devem ser o ponto de partida da discussão e as coisas
que queremos demonstrar são as met:ls a serem alcançadas. À medida que
caminhamos cm direçiio a essas metas, progredil~los estabelecendo conc- -
xões. Essas conexões podem ser fortes Oll fracas, e a rede de conexões tem
uma estrutura geral. Em determinadas discussões (ou argumentações),
cenas idéias e conexões podem ser mais básicas 'Iue outras, certas idéias
scrio mais óbvias que outras. A (Iualiclade da argumentação de uma
discussão depende de seu conteúdo, da força das conexões que ela estabe-
lece, do seu camter direto c da faciüdade de comp reendê-las. Resumindo,
as diferentes medforas para DISCUSSÃO são úteis pam (llIC sc possam
entender os seguintes aspectos do conceito:

CQrllcúdo cadl~r básico


progress~o obvkdndc
cslrulura cadler direlO
força clar~7.a

180
(
(
(
No capítulo anterior, vimos (11Ie a mctáfom {I;, VIAGE.I\I, no mínimo, (
cnfOC:l o conteúdo c a progressão c que a mctáforn do RECIPIENTE cnroea, (
no mínimo, o conteúdo , c que há uma just~\posição basead a na acumui:lção (
progressiva de conteúdo. Porém as duas metáforas servem a mais de dois (
objctivos c cstiío envolvidas cm cocrênciõl5 ainda mais complexas. isso pode
(
ser const:ltado ao consid erarmos uma terceira mctáfo r:l p:lra discussões: (
(
Dlscusslio É UMA CONSTRUÇÃO
Temo$onrcaOOllçQ p.1ra u m~ Brgurnell!;lÇ50 sólida, (Wc"-c gnl lhe!mmew<;Irk fOI" a $olid
(
argullIcnt) (
Se você n;,o olict!I"/;Qr ~u a argumenl:lç:w com falos .ró/idos. ludo irá miro (lf you do n'! (
.JIlPfHJrt your argurnc nl with Jo/id facls.. lhe who le Ihing will colfa/lst:.) (
Ele está tentando {!scomr sua mgultlen taç~o com It\uhos falOS irrelevanlC$, mas ;linda eslá
(
tudol1iOfrtig" queliObcrítica ela dl!.lmoronará. ( Ue is ll)'i ng 10 butrrr:ss his argumenl wi th
(
a 101 of im:lcvant fac\!;, bul iI is sliIl so.s/tllkythat ii wiU easily ftlll nparT uOOcrcrilicism.)
-~ Com ti alicerct: que você fe7., você v"i poder constmir uma discII ss;;o' bemfinnr:. (Wilh (
lhe grOlllld ...ork yOIl've got, yO\l can cOIl.l/mc/ a prcUy sll"tJIIg nrgu mcnl.) (
(
Juntas, as metáforas da VIAGEM, do RECIPIENTE cda CONSTRUÇ/\O (
focalizam todos os aspectos do conceito dc DISCUSSÃO aCima, como (
veremos a seguIr: (
(
VIAGEM RECI I'IENTE CONSfRUÇÃO (
conteúdo cOlllcúdo co nte údo
(
progressão progressão progressão
(
cará!cr dirc!o cari\ter básico car.ilcr básico
obv icdade forç :t força (
d3lcza CSlnnum (
(
Seguem alguns exemplos de como entendemos cada um desses (
aspectos cm lermos de metâforas: (

(
(
181
(
( lo
"
( )
VIAGEM
(~
Arl aqui, n30 cv/)rinll)$ mui/o chi/b} Aoli aq"i, alio caminhamos "",;10. (progress~o.
(;!l con teúdo) (So far, wc havcn' t cm'~'ro mI/eh rroE/ml,)
( )} Es.!a discu$.Slio gim ~m c(.-culm. (carátcr di relo) (This is li ro"'rdaoouf argumelll.)
( j) Devemos ir mais adiante 11;110 para que possamos "ue/nrameme o que cstá envolvido.
( g (progressão. obvietladc) (Wc neal fO go iMO Ihi.r fimha in order tO see c/clrr/y what's

() invo[vcd.)

( ""':
REC IPIENTE
(
()
" Você tCIIl Iodas as idéias certas em sua argu mcntaçl'to, mas li argumenlaç30 ainda n30 é
IranspflrI!Cn/C, (conteúdo, procrcssllo. cbreza) (You ha ....: ali lhe right ideas in your
argumenl, 001lhe lIrgumenl is s/iII no! tromparenl.)
Estas idéias formam o /ilícito sólido da argumentação. (força. c:uiJer bi5ico) ( 1l1Cse ideas
forrn lhe solid corl! orlhe nrgumef1l.)
(~
() CONSTRUÇÃO
:ti Conseguimos um aliurce parti D. WJ;umen!:!ç~ , agora pn:ciS<l!llOS de III/I arcabol jço
( !I-- sd/ido. (car:\ler basico, rorçll, esu"ll.lrn) (We've gOI aforlndo/io'r ror lhe argument, now
we necd a solid [ranrewort.)
r)
Cons/ru[nrO!lIli agora a maior pane da argumnllação. (progress30, corueúdo) (Wc have
(ll now COlIstnlCled mosr oflhe argl/meU/.)
(1)
( !J
No capítulo anterior, vimos que tanto viagens como recipientes
(1' defi niam superUcies, a que dava base à justaposição cntre as met:íforas da
( 'S~
V1AGEM e do RECiPI ENTE. O fato de uma construção ter superUcie, isto
(31 é, alicerce e cabeml ra externa, possibilita a justaposição com a metMara da
(]i>
CONSTRUÇÃO. E m cada um dos caSOs, a IJIperjirie define o (on/elido, mas de
(~
formas diversas:
.§)
~
" VIAGEM: A superflcie defin it!1I Jldo cam inho dll discussão '"tobre och30. e o conlelll:lo
;;)
é o choo coberto pel a discussilo.
:~
~
",,,>
, \ 182
..•.
...
1
;.

""
RECIPIENTE: O conteúdo esl.:i dentro do recipiente, cujos limites se definem por sna
superfície.
CONSTRUÇÃO: A supcrflcie corresponde às paredes externas e 00 alicerce, que delinem
~ pane interna da conslruÇ~. Mas, na meÚfol"l!. da CONSTRUÇÃO, de fonna diversa. do

que acontece com II metáfora do RECIPIENTE. o conteíído noo tstá /lO interior. ao inv&,
o alicerce e as paredes extcrn.lS consrituem o conteúdo. Ú. O que notnrnos nos exemplos:
'·0 alicerce de sua argunlenb;i'lo nao tem ·eon~údo surlCiente para fundo.rnentar SlIas
afinnaç3es" e ''O arcabcKtço de sua argumentnç1io n~o tem substância suficiente pnrn
su portar críticas".

Vamos mam:rr essas superficies de "superficies definidoras de conteúdo".

A noção de sllperficie definidora de colltcôdo, por si só, não consc-


gue explicar as-várias coerências que encontrnrnOS entre as metáforas. Por
exemplo, há casos de justaposições metafóricas baseadas na noção de
profundidade. Na medida em que a pro fundidade também sc define em
- - - termos de superficie, poderíamos pensar qüeasuperficie defmidora da
profundidade seria, para C!l.da metáfora, a mesma que a superficie definidora
de conteúdo. Entretanto, nem sempre é o que ocorre, como veremos nos
exemplos a seguir.

Este argumento f raso; precisa de mais alic(ru. (CONSTRUÇÃO) (llois is II slmllow


argumcnt; it needs morefOllnda/io" .)
N6s passamos por essas i d~ias com nmita profwulitladt!. I Examinamos essus id~ias em
Jlrofuadidmü (VIAGEM). (We have geme ol'trthesc ideu in grt!a/ f/epfh.)
Você ainda n30 pegou os pontos IIIDis profwuloj - OS (/0 mle/eo da discussllo.
(RECIPIENTE) I Vou h:;wen·t golten tOthe dupt!sr poin ts yCt - thosc at Ihc COrt! of lhe
nrgumcnt.

183
Tanto na met:i.fora da cONSn wçAO como na metáfora da VIAGEM, a
sllper6cie definidora de profundidade é a slIpcrficie do chão. Na metáfora do
,
HEClPIENTE, é, novamentç, a superficie
. do. recipiente.

VIAGEM RECIPIENTE C.oNSllWÇÃO


Superllcie Superfície Superfície do Alicerce e pane
definid orn c,; ~d 3 pelo recipicnte
dc conleúdo c:unin llo
(a cobertura)
Supcrrlcie Nível do chão Superfícic Nívcldoch~o

definidora de do recipiente
profundidõldc

Antes de continuarmos com as coerências, é impon:lmc reconhecer


(IUC aqui há duas noções di~crentcs de profundidade cm ação. Nas metá·
(oras da CONSTRUçAO c do REClPIEN'rn o que é mais profundo é o mais
básico. As partcs mais básicas da discussão são as mais profundas: o alicerce
e o nllcleo. Entretanto, na metáfora da VIAGEM, os fatos profundos são
aqueles (Iue não são óbvios. Os fatos que não se encontram na superficie,
est.i.o escondidos da visão imediata; é necess:i rio que se v:í. fundo neles, As
finalidades de uma di scussão exigem que se percorram determinados
tópicos c, mais ainda, que sejam percorridos com a pnft/lldidade adequada.
A progressão na discussão nãÇl se restringe a percorreI tópicos; ela exige
que se vá fundo nas etapas da viagem:

Adentrar no tópico, na profundidade necessária, faz parte da viagem:

À medida (]ue emmmQ!i IIM;!i profulIllllmeme UQ ~SSUl\tQ. des<:obrimos ... (As wc: gQ ;11/0
lhe topic IIIQrt dt:ep/y. we find ... )
CheglllllO!! a 14"'/IOI)IQ em que devemos /!.lp/omros probIeJl~'IS em /J{"e/ lIJiJU profiuulQ, (Wc:

ha\'c: come IQ () Jloint wha-e wc muSI. uplore lhe issucs 31 a deeflCr ICl~l.)

184
(
(
(
Já que a maior parte da viagem é feita sobre a superficic da terra, é (
essa superfície que define a projimdid(lde dos tópicos a serem cobertos. Mas, (
quando entramos em profundidade em qU:llquer um dos tópicos, deixalllos (
atrás de nós uma trilha (uma superfície), da mesma fo rma que fazemos em (

todas as outras partes de nossa viagem. É deixando essa superfície atrás de (


nós, que ptrtQfTtmOI um tópico em lod" IrI" lX/elisão com cerfll profimditJllde. (
(
1sso explica as seguintes expressões:
(
(
Iremos fillldo cm uma v~riedade de tópicos. (Wc will bc goill8 dcep/y j,,1O a varicty or
topies,) (
à mcdidn quc prosstgllimlOS, iremos [ulldo nesses assuntos. (As M'e 80 n/ollg, wc will go (
through Ihcsc issues illl/epllt.) (
AgOr.l/Hm;Qrremos todos os tópicos cm 1I(\'f!/ adeflllada. (Wc have now C01'ue11 ali lhe (
topies atlhe appropria/e I~I'CIJ,)
(
(
Assim, a orientação mctafóriC:l de profundidade corresponde ao (
aspecto bâsico da argumentação nas metáforas da CONS"IlWçAO e do (
RECIPIENTE. Na metáfora da VIAGEM, eI:l corresponde ao que não é (
evidente. Como a profundidade e a progressão são aspectos muito diferen- (
tes de ullla d iscussão, não é passivei existir UIll:l imagem (lu e seja logic:l- (
mente compaúvcJ, ou consistente, no interior das metáforas da DlscuSSAO. (
Mas, mesmo que a compatibilidade não seja possivCl, existe, a'lui, COmO, (
antes, uma coerência mct:lfÓrica. (

Após esclarecer a distinção entre superfícies 'definidoras de contclldo (

c superfícies definidoras de profundi(bde, podemos examina r uma série de (


(
outras coerências complexas. Como no caso da coerência entre as metá-
(
fo ra s da VIAGBI e do RECiPIENTE, a coerência entre as três mctáforns
(
(
(
185
(
(}
(

( '~
, baseia-se no fato de que todas as três possuem superfícies definidoras de
contellClo. À medida que a discussão prossegue, mai s superfície é criada e,
( .~ portanto, a discussão ganha mais conteúdo. Essa justaposição entre as três
<]> estrulllras merafóricas do conceito produzem metáforas mistas do se-
() guinte tipo:
(~
() Att aqui COIlstruimos o nócleo de nossa discuss30. (Safa, we have cOrlSlnlcud lhe core

(] of our nrgurncn l)

()
.~

( .:.] "Até aqui" pcrtenceà metáfora da VIAGEr.I, "construímos" pertence


(]I à metáfora da CONST'RUÇJ\O e " núcleo", à metáfora cio REC IPIENTE.
<.'9 Observe-se que podemos dizer quase a mesma cais:'!. usando em lugar de
(w " núcleo" o termo "alicerce", que pertence à medfora da construção, ou a
() ____~~='-ª"-2 p'arte mais bâsica", que ê neutra:_ _ _
cli-
(~ A/é aqlli coIIJ/m(mo: o alicerce da nrgul1lentllÇ~o. (50 fur we have CQIIJI",cted lhe
(]l fOllndatiqn of·tne argumenl)
(]I Alé af/lI; con$/"'(mo: a pi1rtt mais Msic(.I da uiscus.si\o. (50 fM we !lave cOnl'rucltd lhe
mOSI baric /H'lrt af lhe nrgumenL)
( )
(3
( ';:1 Essa substituição é possível porque a profundidade caracteriza o
aspecto básico tan.to na metáfora da CONSTRUÇÃO como na metáfora do
RECIPIENTE. Ambas têm uma parte mais profu nda, isto é, uma parte mais
( ~ básica. Na medfora do RECIPIENTE é o lIIírko e, na metáfora da CONSTRU-
Çl\O, é o fI/iuT'(t. Dessa forma, temos a correspondência entre as duas
(1) metáforas. Podemos observar esse fato nos exemplos seguintes, em que as
.'},
(

( '"ii
(
( 186
(

(
metáforas do RECIPIENTE e da CONSTRUÇJi.O misturam-se livremente em
virtude da correspondência.

Esses polUOS s:loccl/lrais cm nossa argumentação econslitucm o aliceret: para ludo oquc
vierem seg uida. (These points Dfcet:lllralloour argument mlll provide lhefoum/atiol! for
aU lh al is 10 come.)
Podemos mil/ar a argu!!lenl:IÇoo mostrando que seus pontos ctl/trois silo fracos. (Wc cnn
umltmrim: lhe argumenl by showing thallhe u /llra/ points in ii are wcak.)
As idé ias ma is impol1011tes sobre as quais todo O resto se apóia, estão no mie/tO da
argument:lçiio. (The mosl impol1am idea.s, up(m which cvcrything cise resu. are aI lhe
cort o flhe argument.)

A correspondência aqui se baseia em implicações co mpartilhadas:

DlSCUSSÃo.é. UMA CONSTRUÇÃO _ _ _ _ __


Uma CQnSI!llç~Q tem uma pane mais profultda
Portamo, DISCUSSÃO TEM UMA PARTE MAIS PROFUNDA .

DISCUSSÃO É UM REC IPIENTE


11m recipiente tem uma pane mais profunda
Portanto, DiSCUSSÃO T EM UMA PARTE MAIS PROFUNDA.

Uma vez que a profundidade caracteriza o aspecto básico em ambas


as metáforas, a pan e mais profunda é a parte mais básica. O conceito PAR"n!
~1AI S BÁSICA pertence; portan to, à parte comum :is d l!as metáforas e é
neutro entre elas.

Já que o objecivo de uma discussão é o emendimento, não nos


surpreende q~le a metáfora COl'-rPREENDER É VER jl-lsta.ponha-se a v~rias

metáforas de DISCUSSÃO. Quando viajamos, vemos mais à medida que a

187
viagem avança. Esse fato leva-nos à metáfora DISCUSSÃO I~ UMA VIAGEM.
Quando seguimos o curso de uma discussão, vemos mais - C, como
COMPREENDER É VER, emendemos mais. Isso explica expressões como
v-----.~
as s '1lI1lIes:

r
Ae~ban'lOS de "erquc TOnlás de AqullIO usou detennlllooas IIOÇÕCS plntômeas (We hal'c

'!l
J
4,k
'\-l
JUS! obse,."ed lha! Aqumns used ecrt.1m rlatOllie 001i005,)
Telldo chegado 1110 10ll&e. podemos :lgom vereomo lIegel errou (Ifm_lIIg come tlmiar,
we ean IIOW lU how Hegel wcn! wrong.)

Porque uma viagem pode ter um guia que nos aponta coisas de
interesse durante o percurso, temos expressões como as seguintes:

~gora "wslrore~,,~:~~ G~~ inte~rclou mal ns eonsi~e~ de. Kant sobr: .3 Yon~~e.
~ (We willllOw showthal Grce n misintcrprctcd Kanl's aceount of will,) .
" *bStn.t que X n30 prov/!m de Y sem que se acrescenlcm ;t$SullÇÕeS. (ObJtn'e que não
se pode concluir X de Y. se m re<:orrt;r a premissas suplementares. (No /ict Ihat X does no!
follow rmm Y wilhout adtIcd assumptions.)
~ ~ ~cnJOs que ,,(/Ourar quc nenhuma prova como CSS3 foi cnCQf1tl'3da até agOf:l. (Wc ought
/0 pO;1II ol/Ilhal 110 sueh li proofhas yCI bccn found.)

Nesses casos, o autor é o guia que nos conduz através da ~rgumentaçiio.

Parte da met:ífom da VIAGEfo,I implica ir fundo cm. um assunto. i\


met:ífom COMI'REENDER É VER a-plica-se a esse caso também. Em uma
discussão, os pomos superficiais (os que estão na superflcic) são óbvios;
são f:íceis dr: ser vis~os c entendidos, Porém os pontos mais profundos não
s!io óbvios. E xigem esforço - deve-se mergulhar - para revelá-los, pam que
possamos vê-los. ·À medida que vamos mais fund o em um a ~sunto, ele s7

188

I
(
(
(
nos rc,rela mais, o que nos permite vcr mais, isto ê. comprecnder maiS, (
como nas e>.:pressões segtJrntcs: (
(
(Jergll/ll/! mnis no argumcmo delee vodlfescobriril muito. (Digfllr/her in/o his nrgu mcnt (
( ~~d yoo w il1 disco"u a great dca.l.) (
V" Poderemos VCf isso, apenas se 1II1'f8ullulnUOSJ~':assuntos profmll/mnem/!. (Wc cnll.fee
(
<l' l'
thi s only ir wc (lell'e deeply iII/O Ihc i5Sues.) ..........
(
ArgulI'I<!Iuaçõcs um profu1I(Jidatlt: s30 praticameme inúteis, nn medida em que n30 nos
11Il)$lrllm muito. (S/i(ll/ow argu1llcnlS are praclieally

vcry mlle h.) G '* worthles.~, si tlee lhey dOtl'1 slmw !ls
(
(
A metHora COMPREENDGR É VER justapõe-se também à metMorn (
ela CONSTRUÇÃO, em que o <IUC é visto ê a estrurnra (forma, configuração, (
contorno ~ tc.) da argumentação: (

os ago~~t:r~ ~IIIIIlS gt:m~ argun\CnllIÇ~, (~v~cn-tI ~~W-Jet:


(
----'Cem da Ihcoul/illt: of lhe
(
31l umcn l.)
(
Se olllllntloS cui dadosamcmc para a l'Jlrulllra da argu mcntação ,,(I r wc loolccarefully 31
(
lh e slruemrl' of lhe nrgumeu!..,)
(
Finalmente, a metáfora COi\fl>REENDER É VER justapõe-se à metá- (
(
fora do RECIPIENTE, na qual aqui lo que vemos ê. o conteúdo. (através da
superficic do recipiente) como cm: (
(
,, )
,0
Esta é um)(;;rgutllentaçào c1ótremamcntc IrallJfmrtllle. (Thal is a remarkably Irtlll.I/llIu"t
(
argument.) (
Niio ,'i este ponlO em su a argumcmõIÇoo. (I didll'tlU Ihal point iII your argument,) (
Na medida em qltC ~ ua argu111ent:lç~O não é muito c/o ro, não consigo l'er o que \·ocê
(
prell'mde. (S inec your argumem iSU'1 Yery dC"f, I can't sec wl13t you'rc geuing aI.)
(
(
(
(
189
(
(3)
(1)
( :i Sua argu lIlcmaç30 n30 tem con/lúdo algum - podc-se ~nxergnr 3!flIVts dela. I Posso ver
clanunenteljue sua argu menlaç30 nio tem colltt!údo algum. (Y OU I argumenl h~s no contem
( J,l 31311 - 1 c:m sef! rill/if Ihroug/r iI.)
(E
($
Outra coerência entrecm zada aparece quando se discute a qualidade
(j!;
de uma argumelllação. Muitos dos aspecws de uma argumcOIação eviden-
(]i
ciados pelas diversas metáforas de DISCUSSAo (OU ARGW,lliNTAÇAO)
( :~
podem ser quantificados - por exemplo, conteúdo, clareza, força, carátcr
(1f}
direto, obviedadc. A metáfora l\WS É MELHOR jUS1:lpÕe-Se a todas as
( :)
metáforas de DIsCUSSAO e permite-nos apreender a qualidade em termos
( 2~
de quantidade. Assim, lemos exemplos como os q ue vêm a seguir:
(]J
( ~iJ>
1510 esl! pOuco argu.mt!"ltuJoJ ISIO n30 t bem um arg umento. ( l1lat's 1101 much of (III
(lrgll/lllm/.)
( }l . __ S~I.'.' nr~UII~enltIÇ&?/!"Io lem uen/wm cDlI/elido. {Your :lfgumcnt doesn 'r hlnY: any content. )- - - -
(3- Nilo 6 uma argument;JÇ30 muito boa, na medida em que ele n30 cobre quau nenhum
( -~ c/lãoJ NIio t unI:! argumcntaç30 muito boa., na medida em que ",lo It m /IIlliro alem/ce.
(It's nOI a very good argument, sinec iI covus /innfly nlly growld at al1.) ,
( ',I)
Esta argument;JÇ30 nlo funcionam - ela lião t SUJicit lllClIIl.'tlle c/I/TU. (This :Jfgurnent WOll ' (
(:D do - it's jusI nol clenr ellough.)
(1) Sua argurnenlaç30 t //Iu /{O frem para dar suporte !Is suas,arinnaçÔ(:S. (Your argumenl is
(~ 100 ...ea.!: lO suppoft your cl.1.ims.)
A argumenlllÇ30 t muilo cháa Ile rodeios - ning~m seri ca paz de :trompanlrá-Ia. (fh c
(
,'~
argulIlClII is 100 roumlabou/ - no OIlC will be ao1c lO fol1ow it.)
( ," Sua argurnelltaç30 nlo oobf"c o assunto com a slificiml c profw ulidade. (Your argument
( ]i) d~n ' t cover lhe subjcct malter in t llough rleplll.)
( )

Esses exemplos abordam qualidade em termos de .quantidade.

Não esgotamos de nenhuma maneira todas aS coerências rransmeta-


()
( .~
fó ricas q ue dizem respeito às metáforas da DlscussAo. Co nsideremos, por

( :~
( l~ 190
(:\)
( '::~
exemplo, a vasta rede de coerências baseadas na metáfora DISCUSSÃO É
GUERRA. Nesse caso, é possivel perder ou ganhar, atacar ou defender,
planejar e perseguir uma estratégia etc. Nesse caso, segundo a metáfora da
CONSTRUÇÃO, as discussões podem ser fo rtalezas, de onde atacamos
argumentos, de onde abrimos brechas para rompê-los e destruí·los. As
discussões podem ser também nússeis, segundo a metáfora do RECIPIEN-
TE. Colocamos o desafio ''1o[ande bala" c o argumento que vem como
resposta pode acertar na mosca e atingir o alvo. Na defesa, podemos temar
derrubar o argumento de nossos opositores.
Agora nos parece claro que os mesmos tipos de coerências encon-
tradas nos exemplos simples ocorrem também em casos bem mais com-
plexos, COmo os que acabamos de examinar. O que a princípio pode parecer
acaso, expressões metafóricas isoladas - COmo, por exemplo, {obn'r aqlleJu
1_ _ _ pontoJ,Jo/otor rOtlJrq[orltJ eRI dimlJlõtJ (nfol'(or), aJingjr o mirllo de uma discus·
são/argumentação, "Ia((lr tinia pO.Ji(ão e !JI('1'.tllbar f I/tido - revelam-se como
não aleatórias. Elas são realmente parte de sistemas metafóricos que,
tomados no conjunto, servem à complexa finalidad e de caracterizar o
conceito de d iscussão em todos os seus aspectos, da maneira como o
concebemos. Embora essas metáforas não nos levem a uma unica imagem
concreta e consistente, elas são, todavia, coerenles e encaixam-se quando
há imbricações, embora o inverso não seja verdadeiro. As metáforas são
originârias de nossas experiências concretas, nitidamente delineadas, e
permitem-nos construir conceitos al tamente abstr.ltos e elabo rados, como,
por exemplo, o da discussão.

191
--. ------- -----
. '

I
I
I
I
I
I
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
18. ALGUMAS CONSEQÜÊNCIAS PARA
(
AS TEOIV/IS DA ESTR[fl1jllA CONCEPTUAL
(
(
(
Qualc[ucr tcoria :'Id cquada do sistema conceptual humano tcri d e
(
dar conta de como os conceitos são I) cmbasados, 2) estruturados,
(
3) relacionados uns com os outros c 4) definidos. Fornecemos, até aqui,
(
uma formn provisória de cmbasamcnto, estruturação e relações entre
(
conceitos (subc:'Itcgorização, implicações metafóricas, partes, participantes
(
el'c.) para os casos que consiclcrnmos típicos. Além disso, argumentamos
(
que o nosso sistem:l conceptual é, cm grand e p:utc, cstmturndo mc.:t!l furi -
(
camcntc c nós demonstramos rapidamellte o que isso significa. Antes de
(
ex plorar as implicaçõcs (llIe nossa visão tem parn a definição dos conceitos,
(
precisamos olha r as duas maiores estratégias CJUC os lingüistas e os 1ógicos
(
tem usado para lidar, sem (1Ua1(1uCr rcferencia à mellÍfora, com o (Iue
(
cham:tmos de conceitos melafóricos .
(
As duas estratégias são a (lbJlrtlfão e a ho1J1Ollí",Út. Para ver como elas (
diferem do que propusemos, con sidere a palavra CHora em "Ele escorou o (
(
(
"3
(
,

\: ~
(D muro" e " Ele escorou sua argumentação com mais fatos", D o nosso pomo
de vista, entendemos IHora em "Ele escorou sua argumentação" em
<~ t Cn11 0S

(") do co nceito ESCORA, que é parte da lnlall de CONSTRUÇi\O. Já que o

( :ii conceito de DISCussAo é compreendido, em pane, em termos da metáfora


.~
DlscussAo ~CO NSTRUÇÃO, ent!ia a significação de "escora", no conceito
< J'
r "! de DISCUSSÃO, será deduzida da significação que tem no conceito de

d~ CONSTRUçAO, alêm de seguir li forma pela qual li metáfora da CON$TRU-

(~ (',.Ao estrurura, de modo geral, o conceitO de DISCUSSÃO. Assim, ni'io há

(3 necessidade de \l m:\ definição independente para o conceito de ESCORA

CD cm "Ele escorou sua argumentação".

(~ Opondo-se li essa explicação, o enfogue baseado na noção da


O abstrflção reivindica que há um conceito de ESCORA, abstraIO, único e
( l'l muilo geral, que é neutro entre a "escora" da CONSTRUÇAO e a "escora"
(3) da DISCUSSÃO. De acordo com <:ss:t ~isão, "Ele escorou o muro:' e~ 'Ele _ _ ".
""'A- .--'
(." I escorou StJ:t argumentação" são ambos casos do mesmo conceito abstrato.
(~ O enfoque baseado na noção da honlOllímia vê a questão numa direção
<E> oposta. Ao invés de reivindicar que há um conceito abstratO e neutro de
(3) ESCORA, da reivindica "ue há dois conceitos diferentes e separados,
( "',
~~ ESCO RA 1 e ESCORA 2. Há uma visão forte de homoními:t, de acordo com
(~ a qu:tl ESCORA 1 e ESCOltA 2 são completamente direrentes e não têm n:tda
(11) em co mum um com o outro, já que um se refere a objews fisicos (panes
(~ da construção) e o outrO a um conceito abstrato (Pflrtc de uma :trgumen-
(j,I tação). A \'isão Iram da homonímia sustenta que ESCORA 1 e ESCORA 2 são
d dois conceitos distintos e independentes, mas admite que seus sentidos
<ID sejam parecidos em alguns aspectos e que os cOllceitos estejam relacionados
( ." peJa similarid:tde. Ela nega, conrudo, que um conceito seja entendido em
( .).\ ~', termos do outro. Tudo que :tfirma é que os dois conceitos têm algo cm
(~
'3
194
comum: uma similaridade abst'rata. Nesse pomo, a visâo frata da homoní-
mia compartilh:l ao menos um elemento com a visâo da absrração, postO
que a similaridade abstrata tcria precisamcn te as propriedades do núcleo
conceptual quc é hipO!erizaclo pela teoria da abstração.

GOStaríamos de apresentar agora a razão pela qual nem a teoria da


absuação, ncm a da homonímia podem dar conta dos tipos de f:ltos que nos
levaram a wna teoria dos conceitos metafó ricos, em espcchl, os fatos que
concernem aos tipos metafóricos (oriemacional, físico e estmt\lraQ e às suas
propriedades (sistematicidade interna e externa, embasamemo e coerência).

ll1adeqllaçõu da teoria da (Illltmçlio

A tcoria da abstração é inadequada em muitos aspeclOs. Primeiramen-


te, da não parece fazer nenhum sentido no que diz respeito a m ecifQrlls de
o rientação do cixo vertical (PARA ClMA·PARA BAIXO) t:tis como FELIZ li
PARA ar-IA, CONTROLE É PARA aMA, MAIS É PARA CI~IA VlRnJDE É PARA
erMA, FUTURO É PARA CIMA, RAZAo É. PARA CIMA etc. Qual conceito único

e gernl com qualquer contelldo poderia ser uma abstração para AI; ruRA,
FEUClDADE, CONrROLE, t.l.AIS, VIR"IUDE, FU11JRO, RAZÃO e NO RTE e ser

encaixado precisamente em todos eles? Além disso, pa receria que PARA CIMA
e PARA BAIXO não pudessem cst:u no mesmo nível de abstração, já que PARA
CIl'.,.1A se aplica ao FlJI1JRO, enquantO PARA BAIXO não se aplica ao PASSADO.
Explicamos esse fato por mdo da estruturação metafó rica parcial. A teoria
da abstmção deve postular que PARA Cl1'I1A deve ser mais abstraIO elo que
PARA BAIXO, e isso não parece fazer sentido.

Em segundo lugar, a teoria d a abstração não distingue entre met:ifo -


.ras do tipo A i B e aquelas do tipo B i A , já que essa teori:'! sus tenta que há

195
termos neut.ros cobrindo ambos os domínios. Por exemplo, cm Ingtes,
temos a metáfora AlI'IOR É UMA VlAGEM , mas nilo temos a I11ctMora
VIAGENSSÀQAMOR. A visão da abstração negnria ([ue o amor é entendido
cm termos de viagens c seria obrigada a afirmar, de forma contr:íria à
intuição, que amor c viagens são entendidos cm termos de alg\!m conceito
abstrato nCUlro entre eles.

Em rerceiro lugar, mctároras diferentes podem estruturar aspectos


diferentes de um único conceito; po r exemplo, MIQR Ú VIAGEt>I, J\l\·lOR É
GUERRA , MIOR É FORÇA r íSICA , AMOR É LOUCURA . Cada um d esses
exe mplos proporciona uma pcrspcctiv:l do conceito AMOR c cstmmr:t um
dos muitos aspectos do conceito. A hipótese da abstração buscaria um
concei to único c geral de AMOIt, abstrato o suficiente para se encaixar cm
lodos esses aspectos. Mesmo que fosse possível,isso não incluiria a questão
de (Iue as metáforas não caracterizam conjuntamente um conceito núcleo
de AMO R, mas caracterizam separadamente aspectos distintos de AfI,IO R.

E.m quarto IUg'.Ir, se nós vemos as metáforas estmtu rrus do lipo A é


B (por exemplo, AMO R I~ VIAGEM, MENTE É MÁQUINA, IDÊIJ\S SÃO

ALIMENTO, DISCUSSJ\O ÉCONSTRUÇi'\O), nós achamos que B (o conceito


definidor) é mais claramente deline:ldo em nOSS:l experiência e usualmente
mais concreto do que A (o conceito definido). Além disso, há sempre mais
no conceito definidor cio que se :lplica ao conceito definido. Tomemos o
exemplo IDÜIAS SÃO ALIMENTO. Podemos ter idéiaJ cruas c id éi:ls
mal.poJJodoJ, mas não idéias " JOllléu', ''gralilléd', Oll "poehid'. No exemplo
DISCUSSÃO É CONSTRUÇAO, :lpen:ls a fundação e :l p:lne extern:l desem-
penham um papel nessa metáfora, mas não as saJas, os corredores, o teta
etc. Explicamos essa assimetria da seguinte forma: os conceitos menos

I
claramente delineados (e geralmente menos concretos) são p:lrcialmcnle

i
! 196
I
(
(
(

entendidos cm termos de conceitos mais claramente delineados (c geral- (


mente mais concretos), os quais estão diretamente embasados em nossa (

experiência. A visão da abstração não tem explicação para essa assimetria, (

posto que não pode explic:tr a tendência pam entender o menos concreto (
(
em termos do mais concreto.
(
Em quimo lugar, pa ra a teoria da abstmçiio, não há nenhum conceito
(
metafórico c, por isso, não há razão para se esperar o tipo de sisternaticid:tde
(
(Iue nós cnCOnlramos. Assim, por exemplo, não há razão para esperar que
(
um sistema inteiro de conceitos alimentares se aplique:1 idéias ou que todo
(
um sistema de conceitos de construção s~ aplique à discussão. Não há razão
(
para esperar o tipo de consistência interna que encontram os em casos de
(
TEMPO I~OBJETO l-oIÓVEL. De uma maneira geral, a visão da abslração não
(
pode explicar fatos ligados à sistcmaticidade interna das metáforas.
(
A absuaçiio também falha na explicação da sisrcmaticidade externa. (
Nossa proposta dá conta da maneira pela (lua] várias metáforas para um (
único conceito (por exemplo, a da VIAGEM, a da CONSTRUçAO, a do (
RECIPIENTE e a da GUERRA) justapõem-se da forma como o fazem. Isso (
é baseado nos p ropósitos compartilhados c nas implicações companilhadas (
dos conceitos metafóricos. A forma pela qual conceitos individuais (t·ais (
como NÚCLEO, FUNDAÇAO, COBERTURA, A13A TER etc.) combinam~se uns (
com os Olmos é predizívcl com base nos propósitos e nas implicações (
companilhaebs no sistema metafórico com um ·Iodo. J:í (Iue a teoria da (
abstração não tem nenhum sistema metafórico, ela não pode expüc:lr (
po rque metáforas podem se combinar como o fazem. (
Em sexto lugar, já que a proposta da abstração não tem estrururação (
metafórica parcial, da não pode dar conta das extensões metafóricas que (
estão na parte não lIsada da metáfora, como cm "Sua teoria é construída (
(
(
197 (
!( Jí)
,j ( D com reboco barato" e muitas que caem parte nlo uS:lda da
~
OUtr:lS O:J.
l(
I
mctiiforn TEORIAssAo CONSTRUÇOES.
I( ::3
!..,
1( d Por úlcimo, a hipótese da abstração presume que, no caso de AMOR
I( ]l É UMA VIAGEM, por exemplo, há um conjunto de conceitos abstratos,

i( 'ii> neutros com respeito a amor e viagem, que podem se "3daptar" ou se


Ii ( ;;
" "aplicar" a ambos. Porém, para que: cada conceim abstr:lto se "adapte" ou

jn se "aplique" a amor, o conceito amor deve estar estrutnrado iode·


'( f) pendentemen te: par:l que haja tal "adaptação". Como veremos a segui r,
!n~
,
AM.oR não é um conceito que tenha uma estrururJ claramente delineada;
( j) sua estrutura, qualquer que seja, só é percebida via meciforas. Contudo, a
,(
~ visão da abstraç:io não conhece metáforas esuururantes. Ela deve sustentar
( ]) que lima estnnura tão cb ramente dd.incada como os aspectos relevantes

(~ do conceito de uma viagem existe de maneira independente para o conccito


(~ de ....MOR. É dificil imaginar como.
------
( 1ll
( ]l
lnadeqTlllfões tfrlteon'a da homo"inna
(
"
( .::,./
A homonímia forte
( ":>:\
'1,
( A homonímia é o uso de uma mesma palavra para exprimir conccitos
( '$ diferentes, como em banco de sangue e banco onde você coloct seu dinheiro. Na
( 1) teoria da homonímiafortt, nos tipos de exemplos que estamos considerando,
( 'D a palavra "atacar" em "Eles atacaram O forte" e "Eles altJ({IrollJ meus
( $ argumentos" significacia dois conceitos complet:lmeme diferentes e não
,~
( ,,'.' rdaciOn:l.dos. O fato de a mesma palavrn, "atacar", se r usada poderia ser
( considerado um acidclllC. 19ualmente. a palavra "na" nos exemplos "na
( 11,)
I; cozinha". "na casa dos Elk", c "na paixão" 00 lave) valeria por três
( <:~
~

(
,-,
w
( -lD 198
( 3i
~
(
conceitos completameme diferentes, independentes e não relacionados - e
seria novamente acidenta! que a mesma pal:tvra estivesse sendo usada. Oe
acordo com essa visão, a Língua Inglesa (e como p<XIemos perceber, t:unbém,
a lingua Portuguesa) tem dezenas de conceitos distintos e não relacionados,
todos acidentalmente expressos peJa palavra "na". Em geral, a reoria da
homonímia forte não pode dar conta das relações que identificamos em
sistemas de conceitos metafóricos; quer dizer, ela vê como acidental todo
fenômeno que nós explicamos em termos sistemáticos.
Em primei ro lugar, a posiçi'ío da homonímia (ort:e niío pode dar cont:t
da sistematicidade interna das metáfo ras. Por exemplo, seria possível, de
:tcordo com essa visi'ío, :telmior que "Eu estou p:tra cima" significa "Eu
estou [eüz" numa situação em que, simultaneamente, "11inha moral subiu"
significaria "Eu fiquei triste". Essa posição ni'ío pode explicar por que todo
I___---'un)_~onjunto de palavras usado para guerra se aplica ele forma sistemática
ii. discussão ou por que um conjunto de termos alimentares se aplica de
forma sistemática a idéias.
Em segundo lug.tr, a teoria da homonímia forte apresen!:. os mesmos
problemas em casos de sistemaocidaele externa. Quer dizer, ela não dá conta
da sobreposição de metMoras e da possibilidade de combiná-las. Eb não
pode explica r, por exemplo, por que a "distância cobena" em uma discus-
são pode se referir a algo como "conteúdo" da discussão. Isso se aplica cm
geral para todos os exemplos de combinação que apresentamos.

Em terceiro lugar, essa teoria não pode explicar extensões da porção


usada (ou não usada) de uma mctMora, como em "Suas teorias são góticas
e cobertas por g:irgulas". Já que essa teoria não tem metMoras gerais como
DISCUSSÃO É CONSTRUÇÃO, ela deve considerar que tais casos são devidos
ao acaso.

199
A homonímia fraca

A ôbvia inadequação gera! da teoria da homonímia forte estõí no fato


de que ela niío consegue dar conta de nenhuma das relações sislcmiúcas
que enCOnlmmos nos conceitos metafôricos, porque ela vê cada conceito
não somente como independente mas também não rclacionado a outros
conceitos expressos pcla mesma palavra. A teoria da homo nímia fraca é
superior à teoria da hornonímia forte precisamente porque cla permite a
possibilidade de tais relações. Em especial, ela sustenta que virios conceitos
expressos por uma única palavra podem estar, em muitos casos, relaciona-
dos por similaridade. A teoria d:l homonímia fmca torna tais similaridades
como dadas e presume que elas são suficientes para dar conta de todos os
fenômenos que observamos, embora sem o uso de nenhuma estruturação
metafôrica. -

A diferença mais evidente entre a posição homonímica fmca c a


nossa está ligada ao fato de que ela não concebe que se possa entender um
conceito em termos de outro e, em conse<jüência, não tenha a noção J c
estmtmação metafórica global. A razão para isso é que a maioria daqueles
que defendem essa posição não está interessada na maneira pcla <Iual nosso
sistema metafôrico se baseia na experiência, nem na maneira pela qual a
compreensão emerge de tal cmbaS:1I11ento. A maioria das inadequações que
enconlr:HllOS na posição da homonimla fraca tem a ver com a falta de
imeresse pelas <jucstões de compreensão e cmbasamento. Es~as mesmas
inadequações :tplicam-se, tambêm, certamente, à concepção forte da ho-
monímia.

Em primeiro [ug:tr, sugerimos que há direcionalidade n:t mctáfor:l,


<Iuerdizer, entendemos um conceito em termos de outro. Especificamente,

200
(
(
(
tendemos a estrutu rar os conceitos menos concretos e inerentemente mais (
vagos (como aqueles para expressar emoções) em termos de conceitos mai s (
concrctos, os (1\I;\is são m;\is d;\mmcnle ddine;\dos em nossa experiência. (
A posição d~1 hOIl1Otúmia fraca negaria que entendemos O abstrato (
(
em termos do concreto ou que entendemos conceitos de um tipo em termos
(
de conceitos de um outro tipo. Ela sustenta que s6 podemos perceber
(
similaridades entre vârios conceitos e que tais similaridades darão conta do
(
uso das mesmas palavras pa ra os conceitos. Eb negaria, por exem plo, que
(
o conceito de ESCORA, quando faz parte do conceito de DlSCUSSAO, é
(
entendido cm lermos do conceitO fisico de ESCORA assim como é usado
(
em CONSTRU ÇÃO. Ela simplesmente slIstent:'\tia que aqueles são dois
(
conceitos distintos e que nenhum deles é usado para enlender o Outro, mas
(
que apresentam uma relação de similaridade abstrata. Da mesf!:la forma, ela
-(
diria que todos os conceitos correspondentes a 1111 ou para ti/mI não são
(
meios de compreender parcialmente os conceitos em termos de orientação
(
espacial mas, ao invés disso, são conceilOS totalmente indepenclellles (
relacionados por similaridade. Nessa visão, seria um acidente que a maioria (
dos pares de conceitos (lue exibem "similaridades" consist:ul1 em um (
conceito relativamente conere[Q e um conceito relativamcnte abstento (
(corno no caso de ESCOltA). Na nossa concepção, o conceito concreto está (
sendo usado pa ra entender o conceito mais abstrnto; na visão deles, não (
haveria razão pa ra prever mais similaridades entre um conceito abstr:\lo c (
um concreto do que enlfe dois conceitos abstrat'Os ou dois conceit'Os (
concretos. (

Em segundo lugar, a afirmação de que tais similaridades existem c (


(
altamente qucstionável. Por exemplo, quais são as eventuais similaridadcs
(
(
(
201
(
i<~
comuns a I'Od os os conceitos que são o rient:tdos PARA CIMA? Q ue simila-
!<11 ridade poderia haver entre.': PARA CLVlA, de um lado, e ,de o utrO, os conceitos
k]l
l( ) de FEUClDADE, SAÚDE, CONTROLE, CONSCIENClA, VIRTUDE, RACIO-

: ( lt\ NALIDADE, MAIS etc.? Que similaridades (que não são em si mesmas
metafóricas) poderia haver entre uma MENTE e um OBJETOQUEBRADIÇO,
It, '" ou entre IDÊIAS e AUl'>ffiNTO? O que hã de não metafórico num fragmento

l( 11
;I "
de tempo tomado nele mesmo que possa lhe dar essa o rientação PARA

,i ( -i AtENTEI PARA TRÁS que d escrevem os em nossa discussão da metáfora

\\ I~ TEMPO I~ UM OHJETO B 1 MOVIME."-'TO? Na teoria da homonímia fraca,

( :9 essa o rien taçii.o para frente/ par:a trás deve ser um:!. pro pried ade inerente de
(
...,
~
frngmentos do tempo, caso se queira explica r por uma similaridade con ~

(~ ceptua! inerente às expressões do tipo "seguir" , "preceder" , "encontrar o


(~ furu ro à frente". Até o momento não há teoria razoável da similaridade
I .t)
~' inerente que dê conta desses casos. ------
~-----
-----~- - ~-
( 1lI Em terceiro lugar, explicamos o embasamento metafórico em termos
,
'"
-
4

.!y
de corre~pondências sistem:iticas em nossas experiEncias, por exemplo,
eStar numa posição dominante em uma luta e senti r~se fisicamente para
1) cima. Mas há uma diferença entre as correspondências em nossa experiên-
3
-
w
Ci:l e as similaridades, já que uma correspondência não é necessariamente
baseada em qualquer similaridade. Tais correspondências peunitem-nos
~ predizer o domínio de meráforas possíveis em oposição à concepção
~ homonímica frdea que não tem nenhum poder de previsão. Ela simpl es ~
]1 mente tenta proporcionar um rdato posterio r das similaridades já existen-
~ tes. Assim, nos casos em que as similaridades podem ser encontradas, a
~ posição da homonímia fraca não dá COOl.'!. de explicar a sua existência. Até
1) onde sabemos, ninSllém sustenta a posição da homonímia forte, de acordo
~ com a qual conceitos expressos pela mesma palavra (como os dois sentidos
~
@
~
"
., 202

r- I
de "escora" ou dos muitos sentidos de "na'), s1io independentes e n1io rêm
relações significativas. Aqueles que sustentam a posiç1io da hornonímia
tendem a identificar-se com a posição fraca, segundo a qual as interdepen-
dências e inter-relações {rue são obserndas entre conceitos são vistas como
simibridades baseadas na natureza inerente de um conceiro. Contudo, até
onde sabemos, ninguém forneceu o que seria o início de uma explicação
detalhada de uma teoria da similaridade que pudesse lidar com o amplo
leque de exemplos que discutimos. Embora virtualmente todos os teóricos
da homonimia ado tem :l versão fraca, l1a prática parece haver :Ipenas teorias
forte s da homonímia, poStO que ninguém tentou providenciar uma expli-
cação dctalhad:l da similaridade que seja necessária para mante r a versão
fraca. E há uma boa razão para que não tenha havido nenhuma tentativa
de fornecer tal pcoposta detalhada dos tipos de exemplos que temos
____~i s~utid o._~ _r.:t:~o é ct~ tal explicação_~igi ri a 9~tratasse do p.!'oblema
de como percebemos e compreendemos domínios da experiência que não
são tão bem definidos cm termos próprios e devem ser entendidos em
termos de outros domínios de nossa experiência . Em geral, fil óso fos e
lingilistas não têm se preocupado com tais quesrões.

203
i

i
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
19. DEHNlÇAO E COMPREENSAO (
(

l
(
Vimos gue a mctâfora pe rmeia nosso sistema conceptual no rmal. (
Pelo fato de tantos conceitos, que s:ío importantes para nós, serem o u (
abstralas ou não claram ente deli neados em nossa experiência (as emoções, (
as idéias, o tempo elc.) prccis:lmos apreendê-los por meio de Outros (
conceitos que entendemos cm termos mais cb ras (:lS o rientações espaciais,
os o bjctos etc.). Essa necessidade introduz a dcfiniçiio metafórica cm nosso (

sistema conceptual. Temamos, por m eio de exemplos, dar alg umas indica- (

ções do papel considerável da metHora na maneira como agimos, na (

m:mc!ra como conceptualiz:lmos nossa experiência, na maneira como (

falamos. (

A maior fonte de evidência pro vêm da língua - dos sentidos das


palavras c das frases e da maneira como os hum:lnos :ltribucm sen tido às \
(
suas experienci:l s. ?...fesmo assim, estudiosos do signific:ldo e csc[itores de
(
dicionários niio acharam que era impo n amc dar lima explicação geral de
(
(
205 (
\ ~,i
( •
;;'
como as pessoas compreendem conceitos normais em termos de mer:íforas
(
(
",
~

~::>
sistem:hicas como A.t\-IOR É UMA VIAGEM, DISCUSSAO Ê GUERRA, TEfo,lPO
"
\ JJ 11 DINHEIRO erc. Por exemplo, se você procurar a palavra "amor" no
() dicionário, você encontrará entradas que mencionam afeição, carinho,
( paixão, e até desejo sexual, mas não há menção à forma como compreen-
5>
~
( ~i demos amor por meio de metáforas como AMOR É UMA VlAGEJ..i, M-IOR
É. LOUCU RA, AMOR É. GUERRA Ctc. Se tomarmos expressões !"ais como
U
( ;. "Olhe até onde chegamos" ali "Onde eStamos agora?", não haveria ma-

o neira de dizer, quer em um dicionário padr:i.o, quer em qualquer OUtr.l.

t) proposta padr:i.o de sentido, que essas expressões são formas normais de


, falar da experiência de amor em nossa cultura. Pistas da existência doe tais
( iJ)

(]J melMoras gerais podem aparecer no sentido secundário ou terciário de

(D olllm! palavras. Por exemplo, urna pista de que a metMora AMOR É.


( J~ LOUCURA pode aparecer em um sentido terciário da palavra "louco" (= gosta
(i) W- - - - -,ox=,=g=,=r:td:uTIen-te, "apaixonado'~ mas· essa pista -
,p-,,-,-
,,-,-o-
m~-p-,,-,-c d
- ,- d-, -fini-- -

( ]) çio de "louco" mais do (jlle como parte da definição de "amo!" .


( .,l:'~ o que isso nos sugere é que escritores de dicionários e outros
C~~ II estudiosos do sentido têm preocupações diferentes das nossas. Estamos
( ~ preocupados primeiramente com O modo como as pessoas compreendem
( ]) i suas experiências. Nós vemos a nossa língua çomo fonte de dados que
( ~ li" podem levar a princípios gerais de compreensão. Esses principias gerais de
( 'I'
II
compreensão implicam sistemas inteiros de conceitos ao invés de palavras
( ;~.
, ou conceitos individuais. Descobrimos que tais princípios são gcrnlmente
~:.>
,
( "':~ mcmfôricos em sua natureza e implicam a compreensão de um tipo de
(
.., experiência em termos de outro ripo de experiência.Tendo isso Cm mente,
"
( .JI podemos ver a principal diferença entre o nosso empreendimento e aquele
( j) de escritores de dicionários e de outros estudiosos do sentido. Seria muito
O'!
( .S}
(
( ,~I
-'" 206

( ;-
estranho ver em um dicionário " Ioucurn" ou "via jando" como sentidos de
"amor". Eles não sio sentidos de "amor", assim como "comida" não é
sentido de "idéias" . As definições de um conceito não são dadas com a
ajuda de elementos que são inerentes ao conceito em si mesmo. Nós, ao
contrário, estamos interessados em saber como os humanos apreendem o
conceito - como eles o compreendem e como agem em função dele.

Esse interesse pela foana como compreendemos uma experiência


exige um conceitO de definiçio muito diferente do concei to clássico. O
principal problema que surge ao tema r explicar a de[mição é determinar o
que é definido e o queclesempenha o papel de definido r. Voltaremos a essa
questão a seguir.

Os oijelos da definifão lIleltifiiri((J. Os lipos lIalumis de experiência

Constatamos que as met:iforns permitem-nos entender um domínio


d:t experiência em termos de outro. Isso sugere que a compreensão
:lcomece em termos de domínios intciros de experiência e não coi termos
de conceitos isol:tdos . O fato de termos sido levados a hipo tetizar metáfor:tS
como A.\IORÉ UMA VIAGBf, TIThIPO É DINHEIRO e OlSCUSSAoÉGU ERRA
sugere-nos que o foco da definição se sima no nível dos domínios básicos
da experiência como o do amor, o do tempo e o da discussão. Essas
ex periências são, en tão, conceptualiz:ldas e definid:lS em termos de outros
domínios básicos d:t experiência como viagens, dinheiro e guerra. A
de finição de subconceitos, como ADMINISTRAR O TIlMPO e AT ACAR UMA
AFIRMAÇÁO, seria uma conseqüência d:l defi nição de conceitos mais gernis
(TEMPO, DISCUSSÃO etc.) em [ermos metafóricos.

207
Uma questão fundamental coloca-se cnt:i.o: o que cansuru1 um
"domínio básico da ex.periência"? Cada um desses domínios ê um conjunto
no interior de nossa experiência, conccptualiz:\da pelo que chamamos de
uma gplall e.,~timci(/l T ais gula/I! são bá!Í{(1J txptrimaa/nltflft p orC!llC são
conjuntos estnlturados nas experiências humanas recorrentes. Elas reprc-
scnt:un organizações coerentes de nossas experiências cm termos de di-
mensõcs naturais (partes, etapas, causas etc.). Os domínios da experiência
organizados como gesla/ls cm lermos de tais dimensões naturais nos pare-
cem ser tipos "aturai! de t:>.ptriblna.

Eles siio naturais no sentido de as experiências serem um produto de:


I
I Nossos corpos (~pa1õllo perce ptu al e motor, capacidad es menlais, ~par~to emoc io nal ele.)
Nossas inleraçõcs com o ambiente rlsico (mover-se, manipul ar objelQS, comer. ele.)
Nossas
- illl eroções co_._- _ __.
m outras ..pessoas
_. . .. em nOssa-----
cultura (em .. de in.su mi çõcs ~i:ti~ . ___ "_"
-- termos--
polflieas. econômicns e religiOS:tS).

Em o utras palavras, esses tipos naturais de experiência são produtos


da natu reza humana. Algumas podem ser unlversats, enquanto outras
podem vari:u de cultura para cultura.

Estamos propondo que os conceitos que ocorrem em definições


metafóricas são aqueles correspo ndentes aos tipos naturais de experiência.
Considerando os conceitos que ltl() defillid()J pelas metáforas descobertas po r
-nós até o momento, o CJ UC vem a seguir seriam exemplos de conceitos para
designar tipos naturais de experiência cm nossa cullura: MiOR, TEMPO,
l DÉ1AS. COMPREENSÃO, DISCUSSÃO, TRABALHO, FELICIDADE, SAÚDE,
CONTROLE, STAT US, MORAL etc. E sses são conceitos que exigem uma

I, definiçiio metafórica, posto que eles não são suficiente e claramente

208
(
(
(
definidos cm seus própnos termos p:lfa s:ltisf:lzer :lOS p ropósitos de nosso
(
:lgir cotidi:lno.
(
Assim também sugerimos que os conceitos US:lOOS cm definições
(
mct:l fóri cas para dcflniroutros conceitos [:lmbém correspondem :lOS tipos
(
n:lturais de experiênci:l. Exemplos disso são ORIE.NTAÇi\O ESPACIAL,
(
OBJETOS,SU 13STÂNC[AS, vIsAo, VIAGENS, GUERR A,LOUCURi\, CO,","I[ DA, (
CONSTRUÇÃO etc. Esses conceitos que designam tipos n:..turais de expe- (
riencia e objetos são estrutur:!dos de forma s\diciemcmente elar:! e com o (
tipo :..cleq\l:..do de estrutura in terna para servi r à tarefa de definir outros (
con ceitos. Quer dizer, eles proporcionam:.. forma certa de estrutura q\le (
nos permite lidar com aqueles tipos naturais de experiência (\\1e são menos (
concretas ou menos cl:uamcntc definidas em seus próprios termos. (
O (\ue resulta disso é <Jue algumas espécies de experiência são (
-_ .. parcialmente metafóricas por natureza,·poslÕ que a l netâfora desempenha (
um papel essencial na caracterização da estrutura da experiência. A discus- (
são é um cxemplo evidente, jâ clue cxpcrienciar cert:1S atividades como falar (
c escutar cm termos de discussão exige parcialmente a estrutura dada ao (
conceito de DlSCUSSÀQ pclrt met:íforfl DI SCUSS ..\O (.: GUERRA. A experiên- (
cia do tcmpo é um tipo natural de cxperiência (\UC é entendida quasc (

IOI:1l mentc em tCfmos mctflfóric05 (via cspacialização do TEMPO e da.s (


Illetáforas TE/'.WO COMO UM 08J I3"1"0 MÓVEL e n ::. MPO COMO D INHEIRO). (

De man eira simihr, todos os conceitos (por exemplo, CONTRO LE, STATUS, (
FELICIDADE) que são orientados PARA Clr-."lA / PARA BAIXO e OutfOS (
conceitos de csp:Jci:1!iz:!ção esti'io bascados em tipos naturais de expcrienda (
que sio parcialmente entendidos em termos metafó ricos. (
(
(
(
(
209 (
(
j
( )
Propni dfldes if/!emclo!l(/Ú
( ')
(j) Vimos que nosso sistema conceptual ê baseado em nossas experiên-
\ 'li cias no mundo. T anto os conceitos dirctamente emergentes (PARA CIMA /
o PARA BAIXO, ODJETO, e MANIPULAÇÃO DIRETA) como as met:'ifo ras
( '~
(como FELI Z É PA RA ClM/\, EVIlNT OS sAo OBj E1'05, DISCUSSÃO É GUER-

(,
( "J) RA) estão baseados na nossa constante intcroção com nosso meio fisico e
cultural. Assim rambem as dimensões em termos das quais estrutur.tmos
() nossa experiência (por exemplo, partes, etapas, propósitos) emergem na-
() turalmente da nossa atividade no mundo. O tipo de sistema conceptual que
(} possuímos é um produto da espécie de seres que somos e do modo como
() interagimos com nosso ambicnle fisica e culturnl
( }
(
, N ossa preocupação co m o modo como emendemos nossa experiência
levou-nos a uma visão de dtjilli(iio que é muito diferente da visão tradicional.
,
( :~ 9 ~!l..!~ de visu tr~icional busca s~Lobjetiy.o~. e pressupõe que experiên-
(~.r-
cias e objetos têm propriedades inerentes e qúe seres humanos os compreen-
lO , dem somente em termos dessas propriedades. A definição p:l.ra o objetivismo
() é uma questão de dizer quais são as propriedades inerentes, levando-se em
n COnta as condições necessárias e suficientes para a :lplicação do conceito. O
() "amor", n:l visão do o bjetivismo, tem vârios sentidos, cada um dos quais
( ~ ." pode ser defin ido em tennos de propriedades inerentes, tais como carinho,
( :. afeto, desejo sexual etc. Contra essa visão, poderiamos sustentar que com-

( ... preendemos o amo r apenas parcialmente em tennos dessas propriedades


inerentes. Geralmente, nossa compreensão de amo r ê met.1fÔrica e nós o
( ~
compreendemos, primordialmente, em termos de conceitos de outros tipos
()
naturais de experiência: VlAGENS, LOUCU RA, GUERRA, SAÚDE etc. Como
(]I
os conceitos definidores emergem de nossas imeraçõcs com os outros e com
lil
o mundo, o conceito que eles metaforicamente definem (por exemplo,
()
AMOR) será entendido em termos do que chamaremospropn"ed{lde1 ",ltmt1ollnlJ.
( j!

l>
( ) 210

( ~
( " li
Para termos uma idéia mais clara do que s~o as i,(opriedades intera-
cionais em geral, olhemos as propriedades imerncionais de um objetO.
Considere o conceito de ARMA. Você pode pensar que esse conceito poderia
ser caracterizado totalmentc em termos de propriedades inerentes ao objetO
em si mesmo, por exemplo, sua fonna, scu peso, o modo ~omo suas partes
se juntam etc. l"bs nosso conceito ê1e ARMA vai além disso, de uma forma
CJue pode ser constatada quando aplicamos diversos modificadores ao con-
ceito. Por exemplo, considere a diferença enue os modificadores PRETA e
FALSA quando :lplicados a ARMA. A diferença principal para a explicação
objetivista de definição t que uma I\R..\lA PRETA é uma ARMA enquanto uma
ARMA FALSA não é uma ARMA. PRETA acrescent:luma propriedade adicional
:l AfU..1A, enquanto FALSA, aplicada ao conceito de ARMA, conduz a um outro
conceito que não é uma subcategoria de ARMA. Isso é praticamente tudo o
que diz a visão objetivista, que possibilit:t as implic:lções seguintes:

ISIO é lima armí! preta E JSIO é lima arma fal sa


limão, iSlo é ll lna nnna. EIH~O, iSlo não é uma arma.

o que tal visão não faz ê dizer o que i uma arma Elisa. Ela niio dá
conta de implicações como:

Isto é ulDa arma fu)sa


Ent1l0, isto não é "ma girafa.

Isto é uma afina falsjl


Emão, isto n~o é uma vasilha com 1l1UCílrf.iO com broto de bambu.

E assim por diante ..

211
Para dar conta de urna liSla indefinidamente longa de implicações,
precisamos de um:! explicação dcralh:tda de como FALSA modifica o
conceito de ARl\V\. Uma arma falsa tem de se parecer mui to com uma arma
para o pro pósilO cm mente. Quer dizer, ela deve ter, contcxtllalmcntc. as
propriedades pcrccptuais :lpro priaclas a lima :uma. Você tem de ser capaz
de realiza r adequadamente as manipulações físicas q ue faria com uma aml:1
real (por exem plo, segurá-Ia de uma certa manei ra). Em outras pal:wr.ls,
uma arma falsa deve manter o que podemos charnardc pro priedades ligadas
às :n ividadc m otoras de uma arma. Ném di sso, o motivo de ter uma arma
fal sa é qlle ela servirá a alguns d os pro pósitos para os quais uma :uma real
pod eria servir (:l!llcaçar, ser exibida etc.). O que to rna falsa uma arma falsa
é (lue ela não pode funcionar como uma arm:'! re ~!. Se ela serve p:tr:l atirar
em você, ela é lima arma real, não é uma anna falsa. Por fim, a arm a falsa
não pode ter sido feita o riginalmente para fun cionar como uma arma: uma
arma quebrada o u inutilizada não é uma arma falsa.

A ssim o modificado r fALSA preserva certos tipos de propriedades


de ARMAS c nega outros. Em resumo:

FAl-'i A preserv a: I'ropried~dcs percepl u~i s (u ma nrma f~l sa se Imrcce com urna õ\ml a)
l'ro!lriedatlcs ligadas ls ~l i Y idadcs Inotoras (você pode manl.lscl· l~ como uma arma)
Propriedades intencionais (e ln .>erve 3 alguns propósitos de uma anna)
FALSA neg a: Propriedades ruocionais (u ma arma falsa n:lo serve para ~lirar)

HistÓria run cional ($C rO$Se rt ila para ser urna arma real. t lltão n ~o seria ralsa)

I
I'
E ssa explicação de como fALSA afeta o conceitO de AR/viA indica que
esse conceito tem, no mínimo, cinco dimensões, três das quais são preser~

vadas po r FALSA c duas das quais silo negad as. 15so sugere que conccpll1a-
li za mos uma arma e m termos de uma gulall multidime nsiOtl:l1 de

212
(

rr :;r~ '1
,.! (

""<'~rie(bdeS em que :l.S dimensões são


(
PEltCEP11JAIS, MOTORAS, INTEN- (
CIONAIS, FUNCIONA1S etc. (
Se olh:mll0s ° que são as propriedades pcrceptuais, as motor.\s e as (
intencionais, veremos que elas não são inerentes às armas em si mesmas. (
Ao invês disso, elas dizem respeito à forma como interagimos com armas. (
1sso indica '1ue o conceito ARMA, como:l.S pessoas realmente o compreen- (

dem, é, no mínimo, parcialrnenle definido pelas propriedades illlcrncionais (

que têm a ver com a percepção, a atividadc motora, o objetivo, a função (

etc. Assim, achamos que nossos conceitos de ohjctos, como nossos (

conceitos de eventos e atividades, são caracterizados como uma geJla/I (


multidimensional cujas dimensões emergem naturalmente da nossa expe- (

riência no mundo. (
(
(
Caltgorizafiio
(
(
Na visão objetivista clássica, podemos compreender (c assim definir)
(
um objem tot':llmente cm lermos de um C01!}Imlo das suas propriedades
(
intrenltJ. Porém, como aC:lb:lnlOS de ver, pelo menos algum:l.s das proprie-
(
dades que caracterizam nosso conceilO de um objeto são intcracionais.
(
Além di sso, as propriedades não formam simplesmente um con j\1nlO, mas
(
umagesftJ/teslrtllurnd:l com dimensões que emergem naturnlmenteda nossa
(
experiência._
(
A explicação ob jetivista de definição também é inadccluada de um
(
O ULro modo parn explicar nossa compreensão de conceitos. Na visão do
(
objeuvismo, uma categoria é definida em termos de uma teoria dos
(
conjuntos: ela é caracterizada por um conjunto de propriedades inerentes
(
às enti(b dcs da categoria. Tudo no universo est'i ou dentro ou fora da
(
(
(
213
(
!
Cll

<? categoria. O s objetos 'tue estão em uma categoria são aqueles que têm todas
( ) :15 propriedades inerentes requeridas. Qualquer objeto que não tenha uma
(}
(
, ou mais das propriedades inerentes fica fora da categoria.

Esse conceito de teoria dos conjuntos de uma categoria não está de


() acorelo com o modo pelo qual as pessoas categorizam as coisas e as
() experiências. Para os seres humanos, a categorização é principalmen te um
() meio ele compreender O mundo e, como tal, deve servir a esse prop ôsito
('~'
# de lima fo rma suficientemente flexível. A categorização descrita pela teoria
() dos conjuntos, como um modelo para a categorização humana, não dá
..,
{ .~I conta dos seguintes pontos:
( ~',
."
~
t ) Co mo Rosch (1979) mostrou, nós calegorizamos seres em te r-
( l)
mos de protótipos. Uma cadeira protoúpica, para nós, tem cOStas
(]I
r-:i- bem definidas, assento, quatrO pernas e. opcionalmente, dois
b raços. Mas hâ cadeiras não prototípicas t:unbêm: cadeiras de
(]l
balanço, cadeiras suspensas, cadeiras giratórias, cadeiras de bar-
(fl
.' beiro etc. Entendemos as cadeiras não protoúpicas como sendo
()
cadeiras, não apenas em seus próprios termos, mas em virtude
("'\ .,
()
I da relação delas com a cadeira protoúpica.
2) Entendemos cadeiras de bal:tnço, cadeiras de barbeiro e cadeiras
(}
gi ratórias como sendo cadeiras, não pOH!Ue elas compartilham
(~
um conjunto fixo de propriedades definidoras com oyrotótipo,
<1l
mas porque das apresentam uma semelhança suficiente de fam í-
(}
() ..II, lia com o protótipo. Uma cadeira de balanço pode se p:l.recer co m
uma cadeira protOúpica de uma forma diferente da cadeira de
( 1) ,
"~i
barbeiro. Não hâ necessidade de haver TI!II c(nlro.fiXO de proprie-
(
d:l.des para cadeiras prototípicas que são partiU1adas tanro por

Ii
( ')
( ,
"'
o 214
(i)
("""
c:l.deiras de b:l.lanço como por cadeiras de b:l.rbeiro. Aind:l. assim
as duas são cadeiras, porque cada uma, nas SU:l.S diferentes
formas, está suficientemente próxim a da protótipo.
3) As propriedades interncianais são proeminentes entre os tipos de
propriedades que entram na determinação de seme.lh:l.nças de
família. As cadeiras compartilham com os bancos e outros tipos
de assemos uma propriedade funcional, a de possibilitar que nos
sentemos. Porém a le'1ue de ATIVIDADES MOrORAS, permitido
por cadeiras, é fre'1üentemente diferente do de b:l.ncos e de out.ros
assentos. Assim as propriedades imeracionais relevantes para
nossa compreensão de cadeiras incluirão as propriedades percep*
tuais (a maneira como cl:ls se apresentam, o modo como :IS

sentimos etc.) as propriedades fllncionais (elas permitem '1ue nos


______~s,entemos), as propriedades motoras (o que fazemos com nossos
corpos quando semamos, quando levantamos e enquantO esta-
mos scntados) e as intencionais (servem para repousar, comer,
escrever cartas etc.).
4} As categorias podem ser sistematic:l.mente estendidas de várias
maneiras para atingir diferentes objetivos. Existem m6dificaclores,
chamados delimit:l.dores (htdgd) (ver Lakoff 1975), que servem para
seJeciOn:l.r o protótipo de uma categoria e que definem os vários tipos
de relações com O protótipo. Aqui estão alguns exemplos:

POR E.XCELÊNOA: Esta expressão designa membros protoúpicos


de uma categoria. Por exemplo, um rouxinol é um pássaro por
excelência, mas galinhas, avest.ruzes c pingiiins não são pássaros por
excelência.

215
ESTRITA!\tENTE Fi\lJ\NDO: Esta express30 designa os casos não
protolípicos que comumente pcrtcnccrn it categoria. Estrit:unen-
te falando, galinhas, :tvestnlzes c pingüins são pássaros mesmo
que eles não sejam pássaros por cxcelcncia. Tubarões, baiacus,
bagres, kinguios, não são peixes por excelência, maS são peixes,
estritamente falando.

IMPRECISAMENTE FALANDO: Esta expressão designa seres que


não pertencem comumcntc à cau:goria, pOf<llIC lhes f:llta urna
propriedade central, m:lS eles compartilham suficientes proprie-
dades tiricas de modo que seja possível, cm certos casos, con~j­

dcri-Ios membros da categoria. Estritamente faland o, llffi(l baleia


não é um peixe; no entantO, falando imprecisamente, cm certos
CQrUcxtOS, ela pode ser considerada um peixe. Estritamente
- - _. - -- - .
fa lando, uma lambreta não é uma moto, no entanto, imprecis:l.-
mente falando, lambrctas podem ser incluídas cnlrc as motos.

TECNICAMENTE: Esta expressão define uma categoria em fim-


ção de alguma necessidade técnica. Saber se um objeto es ci ou
não tecnicamente incluído em uma categoria dependem do ob-
jeuvo pretendido pela classificação. Para propósitos de seguro,
urna lambreta tecnicamente não é urna moto, no entanto, para
fins de pedágio cobmdos em pontes, ela certamente o é.

Entre alguns outros delimitadores, temos tIIl mn smtido ill/portallll!, pam


Iodas as il/le!/(ões I! propósitos, 11n! rrgll/ar ... , "'" Iltrdarlúro ..., 1/rI medidrl tll/qu/!...,
ClII ({rios aspecto!..., c muitos outros. Esses diversos delimitadores (hedgu)
permitem-nos incluir os objetos,os eventos e as experiências em uma ampla
variedade de eategorias para diversos fins, por exemplo, para traçar distin-

I:
216
(
(
(
ções práticas de forma sensata, para fornecer novas pcrspeclivas e para (
interpretar fen ômenos ap:Hentemente díspares. (
(
(
5) As categorias são abertas. As definições metafóricas permitem-
(
nos lidar com os seres e as expeciências que já categorizamos ou
(
das podem tambêm nos leva r a uma recalegorização. Por exem-
(
plo, considerar AtliOR CO!"110 GUERRA pode nos permitir inter-
(
pretar cenas experiências vividas como experiências de AMOR de
(
um certo tipo ou de o utro, embora não possamos dar-lhes uma
(
interpretaç~o coerente. A metáfora AtI·rOR Ê GUERRA pode led.-
lo a categorizar certas experiências como experiências de AMOR \
(
que at'ê então você não recon hecia como tais. Os delimitadores
(
t:tmbêm rev.elam a narur~ ~~ a~c r~~~e r~:::as :~tego ~ias, ~:.r
(
dizer, um objclo pode ser visto como pertencendo a uma cale-
(
gocia ou não, dependendo dos nossos propósitos de classificação.
(
Embora as categorias sejam abertas, a categorização não é arbi-
(
trária, posto que tanto as metáforas como os delimitadores
(
definem (ou redefinem) as categorias de forma sistem:í.tica.
(
(
ReJ/lfllo (
(
Ex plicar a maneira como as pessoas compreendem suas experiências
(
exige uma concepção de definição muito diferente da visão tradicional.
(
Uma teoria experiencial de definição utiliza uma noção diferente do que
(
deve ser definido e do que permite definir. Em nossa p roposta, os conceilOs
(
individu:tis não s:io definidos de uma forma isolada, mas, ao contrário, eles
(
são definidos cm termos de seus papéis nos tipos natmais de expe riências.
(
(
(
2 17
(
( .~

( :~
~$'
. Os conceitos nião são definidos exclusivamente em termos de propriedades
~ inerentes; ao invés disso, eles são definjdos basicamente em termos de
( ... propriedades inre rncio n:Us. Finalmente, definir não é uma questão de
'~,
( j enunciar um conjunto fixo de condições suficientes e necc s s~ [i:ts para a
(~ aplicação de um conceito (embora isso possa sec possível em cerros casos
( ') especiais, tais co mo na ciência ou em ou traS disciptinas técnicas, e mesmo
(} aí isso não é sempre possível); ao invés disso, os concdtos são definidos
( ]:i por protótipos e por tipos de relações entre eles. Em lugar de serem
n rigid:uncnte defi nidos, o s conceitos que brotam de nossa experiência são
(]I abertos. As melMaras c os delimitadores são instrumentos sistemáticos I,ara
(] definir me.Ulor um conceito e para modific:U' seu âmbito de aplicabilid ade.
(
(~
'"
~

(~
-_._-
o
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( ~.

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( .~

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( ")
( -,® 218
( l)
~

(
20. COMO A METAFORA PODE
DARSENrIDOA FORMA

--- - Falamos de forma line:ar.numafrnse, enunciamos as palavras umas


depois das Outras . Na medida em que a fala está ligada :LO tempo c o tempo
é conceptualiZ3do met:l.foricamente em termos de espaço, é natural que
conceptualizemos metaforicamente a linguagem em termos de espaço.
Nosso sistema de escrita reforça essa conceprualização. Ao escrevermos
uma frase, conseguimos conceptualizá-b ainda mais mpid:un en te como um
objctO espacial, com palavras linearmente o rganizadas. Dessa forma, nos-
sos conceitos espaciais aplicam-se naturalmente às expressões lin&rilíscicas.
Sabemos qual palavra ocupa aprimeim PO$I(f;O na sentença, sabemos se dlm~
pab.vras estão próximal uma da outra ou se estão muito disltlllltI, se a pa l:lVr.\
é relativamente longa 011 mrta.

Pelo fato ele concepw:ltizarmos a forma tingüislica em termos espa-


CiaiS , é possível aplicar diretamente it fom/(J de uma frase dctermin(\(bs
meráforns cspaciais, po[que lemos uma concepção espacial dela. Esse Euo

219
cria ligações diretas e au tomáticas entre forma c conteúdo, com base em
met:ífoms gerais de nosso sistema conceptlml. E ssas ~ gações tornam a
relação entre forma e conteüdo nada arbitrária e parte do sentido da frase
pode vincubr-se exclusivameme:1 forma que ela passa a ter. Assim, como
. afirma Dwight Bolinger (1977), as paráfrases absolutamente exalas são
impossíveis, porque essas pretensas paráfrases são expressas de formas
diferentes. Podemos agora propor a seguinte explicação:

• Espacializamos a forma Iingüística.


• As metáforas espaciais aplicam-se :l forma lingüística porgue eh é
espacializada .
• As formas lingii ísricas são dotadas de conteúdo em virtude das
metáforas de espacialização.

Mm! forma i InaiJ (otllffído

Por exemplo, a metáfora do CANAL define a rc!ação espacial entre


forma e conteúdo: E.XPRESSÓES UNGüiSTlCAS SÃO RECIP!E.I'ITES e seus
significados são O colllelÍt/odesses recipientes. Quando observamos recipien-
tes de fato pe(luenos, esper:unos que seus conteúdos sejam pequenos.
Q uando observamos recipientes de fato grandes, normalmente esperamos
<Iue seus conteúdos sejam grandes. Se apucarmos isso à metáfora do
CANAL, criamos a expectativa;

MAIS FORMA É MAIS CONTEÚDO.

Como veremos, esse principio geral parece ocorrer naturalmente cm


todas as línguas do mundo. Embora a met:ífor:l. do CANAL seja dissemi-

220
(
(
(
nada, não sabemos ~e ela é universal. Esperamos, entretanto, que algumas
(
espacializações metafóricas da üngua ocorram em todos os idiomas e,
(
mesmo que os detalhes sejam diferentes, n:io seda surpreendente encontrar
(
essas correlações de quantidade.
(
Um exemplo inglcs de Mi\IS fORI\11\ É MI\IS CONTEÚDO t a iteração: (
Ele correu e correu e correu e corre u. (
(
Que i~dica mais corrida do que simplesmente
(
Elecorrcu. (
(
De foona similar,
(
Ele é muito muito muito ~ho.
(
indica <jue ele é mais alto do que (
(
Ele é muito ~Ito.
(
o alongamentO de uma vogal pode ter o mesmo efei to. Dizer (
(
(
indica que o referente é maior do que se dissermos apenas:
(
Ele 6 gmndc! (
(
Muitos idiomas, em todo o mundo, recorrem ao recurso morfológico
(
da ndllplira(iio, isto é, da repetição de uma ou duas sílabas da pala\'ra, ou de
(
toda a pabv ra. Pelo que sabemos, todos 05 casos de reduplicação, nos
(
diferentes idiomas cio mundo, são exemplos em que j\lA IS FOIU\iA indica
(
MAIS CONTEÚDO. Os recursos mais comuns são:
(
A reduplicaç30 ~pl iead.l.l subst~lIlivo no si ngular Ir3nsfonn ... ·$C e m plural ou coJetivo. (
(
(
(
(
.,
(1l
(il
'"
( ,>
O!
;\ redup l icaç~o ap licada n verbo indica conti nu idade ou completu de.
A reduplicação ap licada a adj clivo indica imensificação ou aumento.
A reduplicaç~o aplicada ii uma palavra que signifiq ue !lC<lucno indica diminuição.
()
('} A generalização ocorre da seguinte fo rma :
n Um substant ivo refere-se a um objelo de determi nado ti po.
(-, Mais desse substanti vo significa mais objetos desse tipo.
() Um verbo rerere-se a um a aç~o.
Mai s desse verbo significa mais ação (ta lvez até a su a conclusão).
( -~
.'
Um adjetivo representa uma propriedade.
( )
( }J
, Mais desse adjet ivo significa lllais dessa propriedade.
Uma palavra designa algo pequeno.
.
( -'l!
Mais dessa palavra signifi cA algo 1f!.Cllor.
(;
(li - Mtlior proximir/ade, Jnaior efeito
(1\
- --- ----- - _ ..- - --- -- - . _ - - ---- - - --------_.--
n Um exemplo muito mais sutil da maneira pela qual a metáfora dá
() sentido à forma ocorre em lnglês Ce possivelmente em outras línguas
(j i também, embora eShldos detalhados não tenham sido realizados). O I nglês
n ,:! tem uma metáfonl convencional:
() I,t QUANTO MAIOR ~ A PROXfMIDADE, MAIOR É O ErElTO
c1
() 1'1 Assim a frase
;1
()
Ir Quais silo os home ns mais prdrimQf a Khomein ?

o I~ I significa
(".'
(:I>
iiil~ Quais 51\0 os homens que v;ercem maior infl" ência sobre Khomeini?
I'
<l 'I' ~
Nesse caso, a metáfora tem efeito puramente semânlÍco, vincula-se
<» l
( ~." j ao significado da palavra "próximo". Entretanto, iI metáfora pude também te

()\
() 222
(1l
II
(\'
ap/irar à jorma s;,llâhm tlt lIIJ/a frou, isso porque, entre outns coisas, a sintaxe
de uma frase indica O grnu de PROXIMIDADE entre duas expressões. Nesse
caso, A PROXIMIDADE é uma proxim iebde de jornm.

Essa met:í.for:l aplic:l-se à rdação entre forma e semido da seguin te


ffi:lneira:
Se o scmidoda forma A lIfelaro scnlidoda fonna D, enL'1o quamo MAIS PRÓXIMA a forma
A estiver da fomla B. mais fone sem o EFErro do scm ido de A sotlle O sc mido tle B.

Po r exemplo, um :ldvérbio de negação de frase, como mio, tem o


efeito de negar um predicado, como no caso de:

João "ão parlinl até amnnhi'l.


A formo mIo, le111 o efeito de negar o Ilftdicudo com a fonna pflrlir.

~~~~~---"
H!i!:i . um~rcgra. em i nglês, chamada algumas_vezes ,ltJ/o((1l!1e!1Jo tia
fuga(lio, cujo papel é deslocar a negação siruada nonnalmente ao hdo cio
predicado que eh logicamente nega; por exemplo:

Maria ",10 x ha que ele partirá até B111anh~ .

Aqui logicamente o flão nega mais o partir do que o ad)(1r. Essa frnse
tem qU:lSC o mesmo significado que

Maria acha que ele 11110 panim até 8111"nh~.

Mas, na primeira frase, a negação FSfà MAIS DISTANTE de mir, e :l

FORÇA da neg:Hiva é f'o,{AIS FRACA. Na segunda frase, a neg:lçiio está mais


próxima, portanto a sua FORÇA É MAIOR.

223
Karl Zimmcr (cm comunicação pessoal) observou que o mesmo
princípio governa diferenças do tipo:

l-!arry is JlOI happy.


{llarry não está fdiz.)
Verslu

Harry is unhapp)'.
(Harry esH\ inreli7~)

o prefL'tO ncgau\"O ill- está mais próximo do fldjctivo feh"Z do que :t

particula lião. A negativa tem efeito mais forte cm }-/rmy tJlá infeliz do que cm
Ht1I7)' lião eslá filiZ. JliftliZ s:gnifica lIú:e, enqu:lOlO I/ão feliZ ê aberta ii interpre-
tação por ser neutra - nem infeliz. nem triste, m:'lS entre as duas interpretações.
Esse é um fato típico da diferença entrc negativas c prefixos negativos, tanto
cm Inglês corno cm Olllras línguas.
A mesma metáfora pode ser obscrvaeb cm funcionamento nos
seguintes exemplos:

Ensirw:i grego par.l H:uT)'.


Ensirw:i 30 Harry grego.

Na segunda frase, cm que clulflnrc Hanycsclo próximos, a Sllgcst:lO de que


Harry realmente :lprcndeu o que lhe foi ensinado é maio r - isto é, o ala de ensinar
teve um efeito sobre de. Os exemplos abaixo são mais sutis ainda:

Eu achei que a cndcir:, cm CQnfomlvcl.


Eu achei n cndcim confortável.

I
,i,. A segunda frase indica que achei que a cadeira era confortável por
tXpen"élldl/ tlinta - sentei-me nela. A pruneira frase deixa aberta a possibili-

224
(
(
(
(\:Ide de ter d escoberto indireltllJltllle _ di.f:,r.Jmos, posso ter perguntado a (
alguém o u ter feito uma pesquisa de opinião. Na segu nda frase, a forma Eu (
está MAIS PRÓXJMA das formas rarltim c conjorl{iveL A sintaxe da fra se indica (
o c;rátcrdireto da experiência com a cadeira; experiência pela qual dcscobr.i (
que a c:\dcira era confonavel. Quanto /"o.l.AlS PRÓXJt"dA a rorma Eu estiver (
d as formas ({[(!tira c COlljottât'Cl, mais di reta será a experiência indicada. Aqui (
a si ntaxe tem o efeito d e indicar o car:'iter direto da experiência c a (
PRO XIMlDAD E. indica a FORÇA daquele EFEIT O. E sse fenô meno c m l nglês (

foi detalhadamente estudad o po r Oorkin (1984) . (


(
Nos exemplos seguintes, podemos observar a mesma metáfora cm
(
funciOIl :lmento:
(
(
Srun 1Il31QU !-13ft)'.

Sam fez com que Harry morressc. (


(

Se a causa for um evento único, como na primeira frase, a relação d e {


causalidade é mais direla. A segunda frase indica causalidade indirela o u (
remOta _ dois eventOS separados. A morte de I-Iarry e o que Sam fez para (
causá-la. Se quisennos indicar a relação de causalidade ainda mais indiretrl,
pod emos d izer: (
(
S:unprQIOCI\"QI f:./(lSque Iev:lmm ~ RlOf1ede Ilarry. ($al11 brought it aboullh.""Il llarry dicd.) (

(
O efeilo qlle a sill/(lxc Ir!ll nessas fra ses é mostra r quão direto é o vínculo (
causal entre o (Iue Sam fez e o que acomeceu a J-I arry. O p ci ncípio fu nciona (
da seguinte forma: (

(
(
(
(
225
(
(í~
"
(
Qu~nlO MAIS I'RÓXIMA estiver a forma que indica D RELAÇÃO DE CAUSALI-
(jj
DADE ~b forrn~ qu e ind ica o EFEITO, MAIS FO RTE será o vlnc"lo c~us!l.L
()
o "
Em Sa", fhalou l-/any, há uma fo rma única - a palavra mnlar - que
"
'.",,-

( indica tanto a RELAÇÃO DECAUSALlDhDE como o EFEITO (a morte). Os


(1'
dois sentidos não poderiam estar mais próximos, já que uma palavra inclui
()
os d ois.lsso mOS l ~ que o vínculo causal é O mais forte possível: um evento
(~
{mico. Em Sam ftZfO/II 'lI/e I-lany motnJJt, há duas paJa\'ras separadas - fez e
()
!JIornJJt - indicando causa e efeito. Esse fato indica q ue o vínculo en tre a
( -9
G\US:L c o efeito não é tão forte como poderia ser - a causa e o efeito não
( '\1
são panes do mesmo evento. Em S(lm promot'lmft/oJ qllt kvmw" Hany ii lIlorlt,
('}
('" , há duas proposições separad as: Sam pro!llovtllfotos, e, qlle Itllflmm Hany ti ",orlt,
o ' Iue indica um vinculo causal ainda mais fraco.
(~
( ) Resumindo, em todos esses casos uma d.!!e!:e n ç~.de forma i ~d!ç~,uma__
------ -
(} difererÍçã-s~~~tido. A natureza dessas diferenças é dada peJa metáfora
QUANTO MAIOR É A PROXIMIDADE, MAIO R É O EFEITO, cm que a
(l
(~ PROXIMIDADE se aplica aos elementos da sim axe da frase enquanto O
EFEITO se aplica ao sentido da frase. A PROXIMIDA DE concerne à fonna,
('"
• enquanto o Er-EITO concerne ao sentido. Assim a metáfora QUANTO
'"
~ >
( 'I) r-,'LAIOR É A PROXlt.UDADE, MAlOR É O EFEITO, que faz parte de nosso

(;, sistema conceptual, pode se realizar tan to em termos puramente semânti-

( '~) cos, como na frase "Quem são os homens mais próximos de Khomeini?".
ou pode unir afomlt1 ao sentido, uma vez que PROX1MI DADE pode indicar

( ';: uma relação entre duasfonIJas numa fra se. As sutis nuanças de sen tido que
I observamos nos exemplos dados acima siio conseqüência niio de regras
\1l ,I especiais do J nglês, mas de urna metáfora de nosso sistema conceptual que
\J ,[
() se aplica narnralmenre àfomltl da üngua.

<'"
()
("'1>
( 't)
~ 226

(~
I
A Oáenlo(fio "til pá!lltiro"

Cooper e Ros$ (1975) observaram que nossa percepção cu1m~1 do que


é um membro protoúpico de nossa cultura determina uma o rienração dos
conceitos no interior de nosso sistC!ma conceptual. A pessoa canônica
constitui um ponco de uma referência conceptual e um gr.'lnde mlmero de
nossos conceitos é orientado em função de sua relação com as propriedades
da pessoa canônica. Com efeito, os homens vivem t!ll pé. olham e movem-se
parafrtnlr, paSSam a maior parte do seu tempo a realizar afÕes e se consideram,
fundamentalmente, bollS; nossa experiência nos dá, pois, uma imagC!1ll de nós
mesmos como mais ALTOS do gue BAIXOS, mais PARA fRENTE do que
PARA TRÁs, mais ATIVOS do que PASSIVOS, mais BONS do que MAUS. Na
medida cm que estamos onde est amos e existimos no presen te, nÓs 110S

vemos mais AQUI do que LA, e AGORA mais do que ENTÃO (naquele
1_ __ ---'t~RO). EsseJato determina o que COOpC[ e Ross chamam de orientação - --
EU PRIMEIRO: PARA CIMA, PARA FRENTE, ATIVO, 13m.." AQU I c AGORA
são todos orlent:1dos para a pessoa canônica; PARA BAJXO, PARA TRÁS,
PASSIVO, MAU, LÁ e ENTÃO são orientações distantes da pessoa ca nônica.

Essa orientação cultural está em correlação com o fato de que em nossa


lingua determinadas ordens ele palavras são mais normais do que outras:

MAIS NORMAIS MENOS NORMAIS


Para cima e par~ baixo PDra baixo e p~ra ci rn:l
Para frente e para trás I'ora Irás e par:! frente
Ativo c passivo Passivo e ativo
Oom e mau Mau e bom
Aqui e M L.1 e ~qlli

Agora e e11130 En!3o e agora

i
227
o princípio gemi é o seguinte: A palavra cuja significaç:io se aproxima
mais das propriedades da pessoa protoúpica é colocada, em geral, em
primeiro lugar.

Esse principio estabelece uma correlação entre a forma c o conteúdo.


Da mesma maneira que outrOS princípios que vimos até agora, este também
é uma conseqiiência de uma metáfora de nosso sistema conceptual O MAIS

PRÓXIMO É O PRIMEIRO. Por exemplo, suponhamos que você está apon-


tando para alguém cm uma foto. Se você diz:

A primâm pessoa ii e.o;ql,lenJa de Bill eSam.

Você q uer dizer que:

A pessoa que está ii e.~querd~ de Bill e ItInis próximn dele é Sam.


-- .- ·- 1
Em suma: Partindo do pressuposto de que f.1..Iamos cm o rdem linear,
estamos constantemente escolhendo quais as palavras a serem colocadas em
primeiro lugar. Se, cm vez disso, apresentarem-nos as opções pam ciflla epam
baixo, C para baixo epara ciflla, escolheremos automaticamente para cima t para
bllixo. Dos dois conceitos PARA C lMA e I)ARA BAiXO, PARA CIMA tcm a
o rientaç:io JvlA lS PRÓXIMA do locutor canônico. Já (Iue r.WS PRÓXIMO É O
PRIMEIRO faz parte de nosso sistema conceptual, colocamos a palavra cuja
significação é a I\-lAIS PIlÓXJMA (pcincipalmellle, para cima) na PIU!"IIElRA
posição. A o rdem das palavras p(lm ciflla epam baixo é assim mais coerente
com nosso sistema conceptual do que a ordem pura baixo epam cill/tl.

Par.t explicações mai s detalhadas sobre o (enômeno e para discussões


de aparentes contra-exemplos ver Cooper e Ross (1975) .

228

\ ,
(
(
(
Cotfillaa "'eftifón'ca lia gramá/ic(J (
(
Um lnstrumenlo É um Companheiro (
(
As crianças, ao brincarem, costumam transformar seus bringucdos (
em companheiros, conversam com elcs, costumam colod-los juntO ao (
travessei ro â noite etc. As bonecas parecem feitas para isso. Essc compor- (
tamento tambêm ocorre com adullOs, que tratam cenas instrumentos (
significativos, como carros ou revólveres, como companheiros, d:io nomes (
a eles, conversam com eles. Da mesma maneira, em nosso sistema concep- (
tual há a metáfora conceptual INST RUMENTO Ê. Ul">1 COt\IPANHEIRQ que se (
reOete nos seguintes exemplos: (
(
IN!ITRU},1ENTO É UM COMPAN HEIRO
(
Eu e meu velho Chevy já vi mos muilo do pnfs junlos.
f': Quem vai me rn7.er paror?
(
R: Eu e:l. velha Betsy aqu i (disse o v3C\ueiro procumndo por- seu 1'e'·Ólver). (
Oomenico vai sair cm um lour com seu inestimável Sttadivarius sem preço. (
Slcero, o M~giCQ. e sua Gai ta MtigicJ, est ar~o se apresenlando hoje ii noile no RiJllo. (
(

Por qff~ "Com" lI/dica lal/lo fnslmlflmta/idade tomo Compallbia? (


(
A palavra com indica COMPANt-UA, C0ll10 em: (
(
Fui ao cinema com Sally. (COtlW ANI IElRA)
(
(
o fato de com, e não outrn palavra, indicar COMPAN I-IIA é uma
( ,
convenção arbitrária do Português (como do Inglês) . Em ou tras línguas,
(
outras palavras (ou artifícios gramaticais, co mo terminações de casos)
( ,
(
(
229
( \
"
()
-
(1\ indicam COMPAN I·IIA . Mas, partindo do fato de {lue (o'" indica COMPANH IA

cJ em Pormguês, não é por acaso que (om também indique INSTRUMENTA LI-
() DADE, como em:
('3)
() Eu rmiei o salame com urna faea. (INSTRUMENTO)

( '"]I
() A razão pela qual esse fenômeno não é arbitrário é que nosso sistema
( -) conceptual está estruturado pela metáfora INSTRUMENTO É. UM cm,lPA-
( "~ NHElRO. É um fato sisltmátiro, e não aciden tal, que, no Português e no
( ~ Inglês, a mesma palavra indique COM PA.t'\JHIA e INSTRUMENTAUDADE.
(~ Isso é um fato gmmarical (olrtrlle com nosso sistema conceptual.
(1) o princípio seguinte não diz respeito somente ao Português ou ao
() Inglês, mas, com algumas poucas exceções, aplica-se a todas as linguas do.
( -.,__ II ______ ·m_und9~;_ _ _ _ _ __
CJ
( j A plllavrtl ou recurso grtlmalienl que indica COMPANHIA indica tnmbém lNSTRU-

( ,,
-,
MENTALIDADE.

()
Uma vez que as experiências, com base na met.ífora INSTRUMENTO
(1
n. ,"
É. UM COMPANHEIRO, sejam provavelmente universflis, é nanual que esse
princípio grflmatical exista na maioria das ünguas. Aquelas nas quais se
( .~
') aplica o princípio são coerentes com a metáfo1'll; :tquclas nas quais ele não
se aplica não são coerentes com a metáfora. Em lingufls em que não se
encontra coerência com INSTRUMENTO É UM CO/'.fPANHEIRO, é comum
encontr:u-se outra coerência conceptual em seu lugar. Assim, há línguas
em que se indica INSTRUMENTO por meio do verbo Iflar 0\1 .em que se

) indica COM PANHIA pela palavra correspondente a e. Há ourros modos, nio


metafóricos, pelos quais a forma (>ode ser coerenre com o conteúdo.
J
}
-, 2]1)

}
I. \
A "lógica" de IIRlfi língl/fi

o uso da mesma palavra para indic:'Ir INSTRUMENTALlDADE e


COMPANHIA tem sentido ; ele faz com que os vínculos forma-cometIdo
sejam coerentes com O sistema conceptual da língua. Da mesma maneira,
o uso de palavras espaciais tais como em e til para expressões ligadas a tempo
(por exemplo, elll uma hom, tiJ dez horas) tem sentido, porque TEMPO está
metaforicamente conceprualizado cm termos de ESPAÇO. As metáforas, no
sistema conceptual, indicam relações coerentes e sistemáticas entre concei-
tos. O uso das mesmas palavras e recursos gramaticais para conceitos com
correspondências metafórkas sistemáticas (comOTEf'-IPO e ESPAÇO) é uma
das maneiras que, em uma língua, tornam as correspondências entre forma
e sentido "lógicas" e não arbitririas.

Variações Sutis de Sentido

j\ parMrase é possível? Duas frases diferentes podem, de alguma


maneira, significar ex:uamente a mesma coisa? Dwight Bolinger passou a
maior parte de sua carreira demonstrando que esse fenô meno e virtualmen-
te impossível e que quase todas as alterações na fr:l.se - sejam elas mudança
de ordem de palavras, de vocabulário, de emanação Ou de construçiio
grnmacical - alterarão o sentido da frase, embora :l.S alrcnções, quase
sempre, sejam sutis. Agom podemos ver por 1lfe isso ocorre.

Conceptu:l.lizamos as frases metaforicamente em termos espaciais,


com elementos de forma lingllística que contêm em si propriedades espa-

231
ci:tis (como comprimento) c relações (como proximidade) . Entretanto, as
metMoras espaciais inerentes ii nosso sistema conceptual (como PROXIMI-
DADE ' n~1 EI--"EITO DE r-ORÇ,\) iria, :lUtomatÍC:llncntc, estruturar relações
entre forma c con teúdo. Na medida em que alguns aspectOS do semido de
lima frase são conseqüências de certas convenções rebtivamcntc arbitr:trias
da língua, outros aspectos do sentido surgem cm vi rtude de tentarmos
tornar o que dizemos coerente com nosso sislcnl:l conceptual. Isso inclui
a fol7l/(/ daq uilo <!ue dizemos, já que a fonn:l é conccptualizada cm termos
espaCiais.

Regll!llridades d(l fomJ(l Iil1giiúlim

Vimos que as metáforas desem penham papel importante na caracte-


rização das rcgubridades da fo rma Iingilistica. Uma dessas regularidades é o -
uso da mesma palavra pam indicar tamo companhia como inslrumemaliclade,
regularidade coerente com a metáfora conceptual lNSfRU/'IffiNTOS SÁO
COMI't\N HE,LROS. Muito do que percebemos como regularidades " natumis"
i da forma lingüística siio regularidades coerentes com metáforas de nosso

I sistcma conceptual. To memos, por exemplo, o fato de (lue as perguntas


normalmente tenninam com uma ema nação "para cima", enquanto as
afirmações normalmente terminam com uma enlonação "p:lra b:t.ixo".

Esse fa to ccoercnle com a metáfora o rientacional DESCONHECIDO


É PARA ClMA;CON I-IEClDO É PARA BAIXO. Essa metáfora conceituai pode

ser obscrv:ld:l nos exemplos segu intes:

Aquilo ninda está IIQ ar. (I"IIal'S still!lp i'l lhe air.)
Gostnria de /eVlmrar nl gum3s pcrgUn13S 3 respeito disso. (I'd li ~e /O mise SOIlIC questions
nooul lhal.)

232
(
(
Isso ruselllll a questão} 1$50 cs/abdccc a questão. (11m t JcI/les the questi on.)
(
(O as:sunto) está IIQ llr I",ra ser pego. (h' s SliII up for grabs.)
(
VanlQs ICl'lIIlIá·/o (o a S~lI l1to) para di sç uS&lo. (Lct' s brillg ir up ror di sçuss ion.)
(
(
E a razão do verbo levaI/lar ser usado em lev(Jll/(Jr IIII/(J objertio (reJpoJlrI)
(
ê porque conceptualizamos a resposta como se ela começasse de baixo C
(
terminasse onde estamos, em cima.
(
Perguntas ind!c:ltl1 basic:lmcntco desconhecido. O uso da ento nação (
para cima nas perguntas ê, po rtamo, cocreme com DESCONHECIDO I~ (
PARA CIMA. O uso da ent onação para b:lixo , nas afirm:lções, é, po rtanto , (
coerente com CON HECIDO ÊPA ltA BAIXO. Na realidade, as pergun las co m (
entonação para baixo não são compreendidas como perguntas verdadeir:ls, (
mas como perguntas retóricas que indicam ifirmações. Por exemplo, (
__ "Você vai aprender um dia?" dito com entonação parti baixo ê uma fonna (
de dizer-se indiretamentc "Você jamais vai aprender". Da mesma forma, (
as afirmações com entonação para cima indicam incerteza ou inabilidade (
para fazer com que algo tenha sentido. Por exemplo, "Seu nome é Fred", (
dito com intonaç.1o para cima, in<\jca que não temos certeza e precisamos (
da con firmaç ão. "O Brasil perdeu a Copa de 2002 " indica incredulidade (
o u perplexidade, isto ê, não cond iz com o que sabemos. Esses são exemplos (
do uso da entonação para cima e para baixo coerentes com a metMora (.
DESCO NHECIDO É PARA CI MA, CONHECIDO É PARA BAIXO. (
Conseqüentemente, as pergumas wh-, em Inglês (QUEM, Q U/\ NDO, (
ONDE, DE QUEM, cm Po rtuguês, têm ellto nação descendente, por exem- r
plo, "\XIho didJohn see yesterclay?" ("Quem o João viuontem?'j. Achamos (

que isso se explica porque conh ecemos qua se todo o conteúdo da resposta (
e apenas uma única parte da informação não é conhecida. Por exemplo, (
(
(
(
233
(
,
, .,
() "Quem o João viu ontem?" pressupõe que o João viu alguém ontem. Como
( ~
é de se espemr, as línguas tonais geralmente não usam a COlOn:l.ç5.o para
( -'
--- fazer perguntas, normalmcme elas usam parúcubs interrogativas. Em geral,
n quando a cntonação assinala a diferença entre perguntas e aürmações, a
(1} emanação p:U:l cima acompanha perguntas sobre o desconhecido (sim-
(
não) e a emanação para baixo, perguntas sobre o conhecido (afirmações).
( "-'~
" Esses exemplos indicam que esse tipo de regularidade da forma
( .
lingüística não pode ser explicado apenas em termos formais. Muitas dessas
()
regularidades fazem sentido apenas quando interpretadas como aplicação
( ')
de metáforas ?t nossa conceptualização espacial da forma lingliística. Em

o outras palavras, a sintaxe não é independente do sentido, especialmente dos


aspectos met3fóricos do sentido. A "lógica" de uma língua baseia-se nas
(')
coerências entre sua forma espacializada e seu sistema conceptual, e
n principalmente os aspectOs metafôrico_s_
d ?~~:.o_n_c_eptuaL,_____ . _
( ~)
---_ ... ---_ .. _. -- - ------.---
()
n
( ,)
( "

()
()
n
~...,

()
()
,)
,)
')

234

-.
21. O SE.NT7DO NOVO

Às metá foras' que examinamos:"réngoci-sào met:íforas rotit'tndonaiÇ


isto é, mctáforns que estruturam o sistema conceptu:tl o rdinário de nossa
cultura, o qual se reflete cm nossa linguagem do dilHl-dia. Agora, gostaría-
mos de VOltar-nos para as metáforas que se encontmm fora de nosso
sistema conceprual, metáforas imaginativas e criativas. Essas metáforas silo
capazes de nos dar uma nova compreensão de nossa experiência. D esse
modo, elas podem dar sentido novo ao nosso passado, às nossas acivi(bdes
di3 rias, ao nosso saber e às nos sas crenças.

Para ver como isso é possível, consideremos a mct:íforn nova AMOR


É UMA O BRA DE ART E. COu..BORATI VA. Essa é uma m edrara que, pes-

soalmente, consideramos particularmente convincente, elucidativa e ade-


quada, tendo em vista nossas ex periências como membros de nossa geraç50
e de nossa cultura. Ela torna coerentes nossas experiências com o amor -
fazendo com que essas experiências tenham sentido. Gostaríamos de

235
sugerir que as metáforas novas dão sentido a nossa experiência da mesma
m anei ra que as metáforas convencionais o fnem: elas propiciam estmturas
coerentes, ilum inando algum as coisas c ocultando outras.

Como as metáforas convcncion:lis, as metáforas novaS têm illlplica~


çõcs que podem indu ir outras metáforas, bem co mo afi rm:lçõcs liter:tis.
Por exemplo, as implicações de AMOR É UMA OBRA DE ARTECOLAI30RA-
TI VA surgem de nOSSas crenças c de nossas experiências sobre o q ue
significa uma coisa sef uma obra de :'I rtc colaborativ:\ . Nossa visão pessoal
, de "obra" c de "arte" faz su rgir, no mínimo, as seguintes implicações para

li ,
j ,
,
essa m etáfora:

I o amor é trnbalho.
I o amor é ali vo.
o amor exige cooperação.
'I
~ O :unof CJlige dedicaç30.
o amor exige compromiS50.
O IImor exige disci pl ina.
O alllo r envolve responsabilidade p;irtilhada,

I O amor cxige paciência.


O amor exige valores e objclivos partilhados.
"II O limO! ex ige sacri flCio.

,'-[',II O muor reg ularmCllte traz fru$tr:lÇiio.


O alllor ex ige çOllll,mic3Çiio instintiv a.
! O alllor 6 uma CJlpc: riênci a est6tica.
,: O llmof ~ primordilllmente aval iado por si mesmo,
,Ij ,I
O mllOr em'olve criatividade.
o IImo r ex ige urna Clilética partilhada.
'jí O amor não é obtido por meio de rórnlulas.

11" O llmor 6 único em cada ill5tfincia.


O IInlOl' é a ex press30 IIlllis profu nda do indivíduo.
O amor cri ll unm rellI idade.
,
(
(
o :lJoor reflete o modo como se v': o mundo. (
o amor exige n maior honc~tid:ldc. (
O amor pode scr pasugciro ou penn:mcllle.
O ~mor produz uma s.1lisfaçOO estética partilhad a dcvid~ a es forços conjuntoS.
I
(
(
Algumas dessas implicações sào metafóricas (por exemplo, "Amor
(
é uma experiência cstéúca''); o utras não o são (por exemplo, "Amor implica
(
responsabilidade partilhada"). Cada uma dessas implicações pod e ter im-
(
plicações post eriores. O resultado é uma rede de implicações ampla c
(
coerente, que, no todo, pode ou nào coincidir co m nossas experiências de
(
:'Imor. Quando :1 rede coincid e, as experiências, como instâncias da metá-
(
fo ra, formam uma totalidade coerente. Expcricnciamos com tal metáfora (
uma espécie de reverberação que percorre toda a rcele de implicações, '1ue
(
d_espena e conecta ~ossas lembranças. de e xperi ê nc!a~ amorosas passadas ~_
(
c serve como um possível guia para as futuras. (
Sejamos mais específicos a respeito do que queremos dizer com " rever- (
berações" na metáforn AMOR Ú U1\'li\ OBRA ARTE DE COU\1}QRAl lVA. (
Em primeiro lugar, a metá fora ilumina certos traços enqu:\nto supri- (

me outros. Por exemplo, o lado ativo do amor é trazido para primeiro plano (
pela noção de trabalho, tanto cm TR ABALHO COLABORATIVO como em (
OBRA DE ARTE. Isso exige o rnascaramento de certos aspectos do :uno r, (

vistos como passivos. Na realkbdc, os aspectos emocionais do amor '1uase (

nunca são concebidos em nosso sistema conceptual convencional, como (


(
possiveis de ser controlados ativamcnte pdos amantes. Mesmo na medfora
(
AI\IQR É UMA VIAGEM, a rdaçio é considerada como um veícuJo que ni'ío
(
está sob controle ativo do casal, uma vez que ele pode est:\r fom da tti/ba,
(
ou tl/wlbndo, ou ntio indo aparle algllfllo. Na meLífora AlI-lO R É LOUCURI\ ("Sou
(
(
(
237
(
,

louco por eb", "Eb me deixa louco''), há a total ralta de controle. Na


.;"-
($
metáfora AMOR I~ SAÚDE, em <juc: a relação e um paciente rÉ uma rdação
('~ sadi:t.", "É llma rdação doen tia", "A relação deles está revivendo"), a

(') passividade da saúde, em nossa cultura, é transferida para o amor. Assim,

(1 ao concentrar-se nos vários aspectos de acividade (por exemplo, TRABA-

() LHO, CIUAÇÃO, BUSCA DE "'fETAS, CONSTRUÇÃO, AJUDA etc.), a metáfora

(1 propicia uma organiz:"tção de importantes experiências amorosas niio dis-


."",
( 'J poníveis no nosso sistema conceptual convencional.
('1 Em segundo lugar, a metáfora não apenas implica outrOS conceitos,
() como TRABALHO ou BUSCAR METAS COM PARTILHADAS, mas também
",
( .' implica aspecto! muito específicos desses conceitos. Não é simplesmente
('I qualquer trabalho, como, por exemplo, o trabalho em uma linha de
(~ montagem de au tomóveis. É um trnbalho que requer um equihbrio especial
~
( ~ __ .__ de controle e illsivisJacle <1l!..Úaprppriado à criação attistica, já que o que
-......--
( .~ se pers.egue não.é uma meta qualquer, mas um objetivo estético eonjunlo.
('1 E, embora a metárora possa suprimir os aspectos fora de controle da
() metá fom AMOR É. LOUCURA, ela ilumina um outro aspecto, a saber, o
~.
( .) sentido de possessão quase demoníaca que, em nossa cultura, subjaz à
( ", conexiio entre o gênio ~rtís ti co e a loucura.
( ~ Em terceiro lugar, porque a metáfora ilumina expe.riências amorosas
(~ importantes, tomando-as coerentes, ellCjUalllO mascara outras experiências
('"' amorosas, dando um novo sentido ao amor. Se esses aspectos implicados
(~ pela metáfora são, para nós, os mais imponames de nossas experiências
(') amorosas, então a metáfora pode adquirir !Ialll! de verdade; pa ra muitas
() pessoas o amor i uma obra de arte colaborativa. E, por causa disso, a
O metáfora pode ter um efeito de "fudbflck", guiando nossas ações futuras de
() acordo com ela.
( -)

d \
() 238

<'
('
'! I
Em quartO lugar, as metáforas podem, assim, ser apro priadas po rque
s:lnciona m açõcs, juslificam inferências e ajudam-nos a estabelecer meras.
Por exemplo, cercas :tções, inferênci:ts e metas são ditae!:t s pe!:t medrara
I\MOR É UfI.'lA OBRA OH A RTE. COLA BORATIVA, mas nio peh m etá fora
AMOR É LOUCURA. Se o amor é lo ucura, nio me concentro no que tenho
de fazer para mantê-lo. Po rém se é trabalho, então de exige :l.Iividade e, se
é uma obra de :trte, requer um tipo muito especial de atividade e, se é
colabo rativa, então ela é ainda mais restrita e específiGa.

Em quinto lugm, o sentido que lima metMora te r.í para mim será, em
parte, determinado por fatores culmrais e, em parte, ligado :is minhas
experiências passadas. As-diferenças culturais podem ser enormes porque,
na metáfora acim:t discutida, cada um dos conceitos - ARTE, TRABALHO,
COLABORAÇÃO c AMOR-, pode variar amplamente de cultura para cultura.
Assim, M10R É UMA OBRA DE ARTE COLABORATIVA significaria coisas
muito diferentes para um ro~ântico europe u do século dezeno ve e para
um esquimó da Groelândia da mesma época. Have rá também diferenças,
em uma mesma cultura, baseadas nas diferentes visões dos indivíduos sobre
trabalho e :l.rte. AMOR ~ UMA OORA DE ARTE COlABORATIVA sigoificar.í
algo muito diferente para um adolesceme de quatorLe anos, em seu
primeiro encontro, e para um casal de artistas maduros.

Como exemplo do modo como o sentido de lima m etáfora pode


variar radicalmente no interior de uma cultura, consideremos :llgl.lmas
impücações da m etá fo m para a..Iguém com lima visão da arte muito diferel1le
da nossa. Alguém que valorize a obm de arte não em si mesma, mas apenas
como um objeto :l ser exposto e :llguém que ache que a arte apenas cria
uma ilusão, não uma reaüdade, veria as seguintes implicações na metáfo ra:

239
o amor é um objclO a sc:r oolocado cm e~posiçlio.
O nmor c~iSI': para ser julgado c ndmirndo pelos outros.
O mno.. cri;!. um3 iluslio.
O amor c~ige que se esconda 3 ,·crdade.

Por(IUe a visão de arte dessa pessoa é diferente da nossa, a meráforn


teci sentido diferente para ela. Se sua experiência amorosa for bem pareeida
com a nossa, então a metáfora lhe parecerá in:lde'luada. D e fa to, da será
totalmente inadequada. Desse modo, a mesma metáfora que dá sentido
novo às nossas experiências, não dam novo sentido às dele.

Um outro exemplo de como urna metáfora pode criar sentido novo


surgiu por acaso. Um aluno iraniano, recém chegado a Berkeley, assistiu a
um seminário sobre metáfora que estávamos ministrando. Entre as mara-
vilhas que descobriu em Berkeley, encontrava-se um:l. expressão <jue ouviu
repetidas vezes e que entendeu -ser umã- beli--e- saudável ' metáforã. A
expressão era " a solução de meus problemas" - que ele entendeu como
uma grande <juantidade de um líquido, borbulhante e fumegante contendo
todos os seus problemas em processo de dissolução, ou em forma de
precipitação, com catalisadores dissolvendo constantemente alguns proble-
m:l.S (do momento) e precip itando outros . Ele ficou absolutamente desilu-
dido ao descobrir que os residentes de Berkeley não tinham em mente esse
tipo de metáfo ra química. E estava cen a, pois a meráfora química é bonita
e iluminadora . Ela nos dá uma visão de problemas como coisas que nunca
]. desaparecem completamente e que não podem ser resolvidos de uma vez
'. por tOdaS. Todos os seus problemas estão sempre presentes, eles podem
simplesmente ser dissolvidos, ou estar em processo de solução, ou podem
apresenfar-se sob fo rma sólida. O melhor que você pode esperar é desco-
bri r um catalisador que consiga dissolver um problema sem faze r um outro

I , 240
(
(
(
se precipil.'lf. E ii 'lUC você não rcm controle total sobre o (Iue compõe a
(
solução, você está sempre encon trando problemas novos C antigos preci-
(
pitando-se c problemas al uais dissolvendo-se cm parte por causa de seus
(
esforços c cm parte :l despeito de qualquer coisa que você faça .
(
A medfa ra QUíM ICA di-nos um" nova perspectiva dos problemas (
humanos. Eb c:lpropriada para a experiência de descobrirmos que proble- (
mas que achávamos estar "solucionados" estão sempre de volta. A metá- (
fora QUíMICA diz que os problemas não são o tipo de coisa fcita pa ra (
desaparecer p:lra sempre. É inútil trnt:Í-los como coisas CJuc podem ser (
"solucionadas" de uma vez por todas. Viver cm funçã o da metáfora (
QUíMICA seria aceitar o fato de que nenhum problema dcsaparccc"rá p:l.ra (
semp re. Ao in vés de direcionar suas energias no sentido de solucionar seus (
problemas de uma vez por todas, você d irecionaria suas energias em busca (
. - - - de um cat:l.lisador que pudesse dissolver seus problemas mais urgentes, pelo (
maio r tempo possível, sem precipitar outros pio res. O reaparecimento ele (
um problema é visto como u ma ocorrência natural e não como uma falha (
de sua parte em encontrar "a maneira cena de solucioná-lo". (
Viver em função da metáfora QUir-.UCA significaria que seus proble- (
mas rêm um tipo de realidade diferente para você. A solu ção tempo r:\ria (
seria um feito e não um frCltasso. Os problemas fariam pane da ordem (
natural das coisas, não desordens a serem "sanadas". A fo rma de você (

entender 5\1:1 vida cotidi:l.na c scu modo dc agir seria difercnlc se você (
vivesse em função da mctáfora QUíMICA. (

Vcmos isso como um caso claro do podcr da metáfora de criar uma (

realidade e não simplesmente de nos fornecer uma forma de conceptualiza r (

Ullla realidade pré-existente. Isso não deveria ser surpreendente. Como (

vimos no caso da metáfora DISCUSSÃO É GUERRA, há formas narnrais de (


(
(
241 (
(
()
«) alividtJdt (por exemplo, discutir) que, por natureza, são metafóricas. A
(jJ metáfora Quil'llICA reveb que nossa maneira ~ltual de lidar com problemas

(,) é uma outra espécie de acividadc metafórica. !-loje, a maioria de nós lida

() com problemas segundo o <Iue poderíamos cham3c de metáfom do QUE-


BIV\ - CABEÇA, segundo a qmtl os problemas 530 QUEBRA·CABEÇAS, para
( ..$I
(.li os quais, normalmente, h:i. uma solução correta - e, uma vez solucionados,

( :\ estão solucionados para sempre. A metáfora OSPROIlLElv[ASSÃOQUEBRA-


~

(]) CABEÇAS caracteriza nossa realidade presente. Uma mudança para a rncní-
fora QUíM1CA c:lf:lctcrizaria uma realidade nova.
( -, Mas de modo algum é tarefa fácil mudar as metáforas em função das
"

c.' ~ quais vivemos. Uma coisa é e star consciente das possibilidades inerentes à
(J metMora QUiM1CA, Outra, muito diferente e mais difícil, é viver em função
( -:;:; deb, Cada um de nós, consciente ou inconscientemente, já identifico u
"
(J) centenas de problemas e estrunos cm constante trabalho para solucionar muitos
( ,~-'-'-- deles via-; ·~etá-fo~- QUEBRA-CABEÇA. Nossa vida cotidiana é inconsciente-
() mente estnlnlrnda cm tconos da metáfora do QUEBRA-CABECA e não seria

( .~ possível mudar rápida e fa cilmente para a metáfora QUít.HCA com base em


( ,.., uma decisão conscien te.

Muitas de llossas atividacles (discutir, solucionar problemas, adm i nis~


tmr tempo etc.) são de natureza metafórica. Os conceitos metafóricos que
caracterizam essas auvidades estmtur:un nossa realidade presente. As
metáforas novas têm o poder de criar uma realidade nova. Isso pode
começar a acontecer quando começamos a entencler nossa experiência cm
) termos de uma medfor:.. e ela se torna um:.. realid:..dc m:..is profunda quando
começamos a agir em função dda. Se a metáfora no va entra no . sistema
conceptual c.m que baseamos nossas ações, ela alteram esse sistema con-
ceptual e as pçrcepções e ações a que esse sistema deu origem. Muito das

242
~
.,]1
mudanças culturais surge da introdução de novos conceitos met:tfóricos e
da perda de antigos. Por exemplo, a ocidentalizaç~o de culturas em lodo o
mundo ocorre em parte pela inrroduçião da metáforn TEM.PO t DINHEIRO
nessas diversas culturas.

A idéia de que melMoras conseguem çriar realidades desa fia as


posições mais tradicionais sobre metáforas. Isso se explica pelo fa lO de a
metáfora ter sido vista tradicionalmente como simples fa to da língua e não
como um meio de estruturar nosso sistema conceptual e os cip'os de atividades
diárias que desem'olvemos. É muito razo:i\"cl presumir que simples palavras
não mudem a realidade. Mas as mmlanças cm nosso sistema conceptual
realmente alteram o que é real para nós e afelam nOSS:l percepção do mundo,
assim como as ações que realiZ3.mos em função dessa percepção.

A idéia de que a metHora e um simples fato da língua, capaz de, no


____ m:i.ximo, descrever a realidade, é coerente com a idéia de que o que é real
é absolu tamente externo c independente da fo rma como os seres hum:H10s
conceptualizam o mundo - como se o esnldo da re:\lidade fosse apenas o
estudo do mundo 6sico. Essa vis1io da realidade - chamada realidade
objetiva- não con sidera os aspectos h umanos da realidade, partiC\llannemc
as percepções reais, as conceptualizações, as motivações e as ações qUI!
constituem a maior parte do que experienciamos. Porém os aspectos
humanos da realidade sião os que mais nos importam e eles variam de
cultura para cultura, uma vez que diferentes culturas têm sistemas concep-
tuais diferentes. Culturas também existem em ambientes físic os diferentes,
alguns radicalmente diferentes - selvas, desertos, ilhas, runclras, montanhas,
cidades etc. Em caela caso, há um ambiente físico com o (Iual interagimos,
com maior ou menor sucesso. Os sistemas conceplu:lis das v:i rias culturas
dependem, cm parte, dos ambientes ffsicos no (IUal se desenvolveram.

243
Cada cultura deve pro pici:u uma fo rma mais ou menos bem sucedida
ele lidar com o seu ambiente, tanto adaptando-se a ele como o transfor-
mando. E mais, cada cultura deve definir uma realidade social na quru as
pessoas lenham papéis <Juc faç;un sentido para das c cm te rmos dos quais
possam agir soci:llmcntc. Não seria surpreendente que a realidade social
definida por uma cultura afclassc sua co ncepção de realidade fisica. O que
é rcal pa ra um indivíduo co mo membro de uma cultura é produto ramo de
sua realidade sodal, como da m:lOcirn como ela mo lda a sua experiência do
mundo fisico.Já que a maior parle de nossa realidade social é entendida cm
term os metafó ricos e já que nossa co ncepção de mundo fisico é, em parte,
metafórica, a metáfora desempenha um papel muito significativo na dete[-
minação d o que é real para nós.

I
244
(
(
(
(
(
(
(
(
(

\
(
(
(
22. A CRLAÇAQ DA SIMILARIDADE
(
(
(
(
Vimos que muitas de nOS Sa s experiências c :u..i vidad es são metafó ricas
(
por natllrCZ:1. c que muito de nosso sistema conceptual ê cstmtur-ado pela
(
metáfora. Como vemos simil:uíd:tdcs cm lermos das categorias de nosso
(
sistema conceptual c cm termos dos tipos naturais de experiências que
(
lemos (ambos podendo ser metafóricos), conclui-se que muitas das simi-
(
laridades que percebemos são resultado de metáforas convencionais que
\
são parte ,de nosso sistema conceptual. J:í: o bservamos isso no caso das
(
1II! ltÍforas onmMcifmaiJ. Por exempl o , as orientações I'II A I$ É PARA CIMA c
(
FELIZ Ê PARA CIMA induzem uma similaridade que percebemos entre MAIS
(
c FELIZ e que não vemos entre MENOS c FELIZ.
(
As meláfoms ofllológi({JJ também produzem simibridadcs possíveis. (
Vimos, porexemplo,'1ue a visão de TEMPO eTRABALHO co mo Sllbstâncias (
uniformes, metaforicamente, permite-nos perceber ambos como sendo (
similares a recursos físicos e assim similares entre si. Sendo assim, as (
(

245 (
( }l
( 1~
-'
( ,1 metMoras TEMPO É UMA SUBSTÂNCIA e TRABALHO Ê UMA SUBSTÂNCIA
( .:i') permitem-nos conceber tempo e trabalho como similares em nossa cultura,
C) pois ambos podem ser quantificados, a ambos pode-se atribuir um valor
(
T" por unidade, podem servir a um fim determinado e podem ser consumidos
( ) progressivamente. Como essas metáforas exercem um pape! na definição
n do que é rcal pafa nós na nossa cultura, a similaridade entre tempo e trabalho
( ":~~ é ramo baseada na metMora quanto é real em nossa cultura.
( '~~
Ai metáfora! n /mIl/mil de nosso sistema conceptual também criam
( j,l
similaridades. Desse modo, a metáfora IDÉIAS sAo Al.JlI4ENTO estabelece
(
( '"
])
similaridades entre idéias c aJimcf!-tO. Ambos podem ser digeridos, engo~dos,
devorados e re-aquecidos e ambos podem nutrir você. Essas similaridades nfio
c'D
( 1), existem independentemente da metáfora. O conceito de engolir comida é
independente da metáfora, porém o conceito de engolir idéias surge
(})
( ')
-i __ ._ someme em virtude da metáfora. Na verdade, a metáfora IDÉIAS SAO _ __

.,- I ALIMENTO está bas,eada em metáforas ainda mais básicas. Por exemplo,
( ~
está fundamentada parcialmente na metáfora do CANAL de acordo com a .
( ])
qual IDÉIAS sAo OBJETOS que vem a nós do exterior. Ela também presume
(J\ a metáfora MENTE É UM RECIPIENTE q\le estabelece uma similaridade enlre
(} a mente e o corpo - ambos sendo RECIPIENTES. Juntamente com a
( ".~~- ,
metáfora do CANAL, temos uma metHora complexa na qual IDÉIAS sAo
( ")
OBJETOS QUE ENTRAM NA MENTE, tal como pedaços de alimento são
( 'D objetos que entram no corpo. É nessa similaridade criada metaforicamente
( '~l
eõtre idéias e alimento que a metáfora IDÉIAS sAo ALIMENTOS é parcial-
", ,
( .
mente baseada. E, como vimos, essa própria similaridade é uma conseqüên-
( }1
cia da medfor:t do CANAL e da metáfora MENTE É UM RECIPIENTE.
"}\
( J

~
A metáfora IDÉIAS SAOALlMENTO é apropriada à nossa experiência
( {i
por causa dessa. similaridade que é metaforicamente induzida. A metáfora
( J~
( ~!l
( '. ,~'1
246
~
~
(
IDÉIAS sAO ALIMENTO é, ponamo, p:trcialmente fundamentada n:!.s me-
dforas MENTE É UM RECIPIENTE e do CANAL. Como um:!. conseqüência
da metáfora rDÉIAS SÃO AUMENTO, obtêm-St: novas simihridadcs- (meta-
fóricas) entre idéias e alimento: ambos podem ser engolidos, digeridos e
devorados, e ambos podem nutrir você. Esses conceitos sobre alimento
fornecem- nos um modo de entender os processos psicológicos para os
quais nilo temos meios diferos nem bem definidos de concepl\lalização.

Finalmente, podemos observar a criação da similaridade também em


I/ltlijõms novas. Por exemplo, a mecifOr:t PROBLEMAS sAo PRECIPITADOS
B -I UI\{A SOLUçAOQUu..UCA ê baseada na metáfora convencionall'ROBIE!\{AS
SAOOBJETOS. Além disso, a metáfora QU iMJCA acresccnt::l PROBl..EJ,{ASSAO
OIlJETOS S6UDOS, o que os jdentifica com os precipitados em um:!. solução
química. Consequentemente as similaridade induzidas entre os problemas,
____ como nós geralmente os experienciamos, e os precipitados em lima soluçilo
química são: ambos têm uma forma perceptível e podem assim ser identi-
ficados, analisados, além de se poder atua r sobre eles. Essas similaridades
silo induzidas pela parte PROBLEr-.tAS SÃO OIlJETOS SÓLIDOS da metáfora
Qulr-.flCA. Acrescente-se a isso que, quando um precipitado dissolve-se,
parece ter desaparecido porque ele não tem uma forma perct:púvel e nilo
pode ser identificado, analisado, nem é possível atuar sobre ele. Entret:l.Oto,
ele pode ser precipitado novamente, isto é, re-ocorrer em fo rma sólida
assim como um problema pode re-ocorrer. Percebemos essa similaridade
entre problemas e precipitados como resultado da parte restante da metá-
fora QUiI\UCA.

Um exemplo mais su til das similaridades criadas por uma ,mláfom


110/'(1 pode ser observado em AMOR É UMA OBRA DEARTE COLABORt\TIV t\.
Essa metáfora ilumina certos aspectoS de experiências amorosas, atenua

247
outros c ainda esconde OllUOS. Em particular, ela :Hcnua aquelas experiên-
cias (Iue se njust:nll à metáfora Al\IOR É UMA FORÇA Fis ICA. Po r "atenuar',
entendemos 'luc ê consisteme com certas experiências amorosas, mas não
focaliza experiências de amor que poderiam ser razoavelmente descritas
por " H á um magnetism o cnuc nós". ''Nós sentimos faíscas" etc. Além
disso, esconde :!.{Iudas experiências :lmorosas que se encaixam na metáfora
1\lI.1QR I~ GUERRA, pa reluc não há sobreposição consistente entre as duas
metáforas. Os aspectos colabomtivo c coopcmtivo da metáfora AMOR É
,- UMA OBRA DE ARTE COLADOIV\TIVA são inconsistentes com Cc portanto

I escondem) os aspectos agressivos c dominadores de nossas experiências


amorosas, que poderiam ser descritos como "Ela é minha última conquis-
ta", "Ele se rendeu a ela", "Ela me sufocou" elC.

! D esse modo, a metáfora AMOR Ê UMA O I3RA DE ARTE COLAI30RA-


I -- TIV"- d-cixa de- lado algUí:nlls de' n05's ;s- experiêneiàs ãmo;ôsàs ~ seleci~na
I outras para pôr em evidência, como se essas fossem nossas únicas expe-
1 riências de amor. Assim fazendo, induz a um conjunto de similaridades
entre as experiências amorosas que são iluminadaS pela metáfora e as
experiências reais ali imaginadas de colaborar em uma obra de arte. Tais
similar.idades induzidas são dadas em nossa lista de implicações ("O amor
é trabalho", "O amor é uma experiência estética" etc.)
No imcrior do domínio das experiências amorosas iluminadas, cada
experiência se encaixa em pelo menos uma das similaridades dadas na lista
de implicações e, provavelmente, nenhuma delas se encaixa em todas as
implic:lções. Por exemplo, um episódio p;nuclIlarmeme fmstrante poderia
se ajustar a "O amo r normalmente traz fmstração", mas poderia não se
ajustar a "0 amor é lima experiência estética" oU "O amo r é primordial-
mente valorizado por si mesmo". Assim cada implicação estabelece uma

248
(
(
(

similaridade que se mantém entre certos tipos de experiências amorosas, (

por um lado, e certos tipos de experiências de obra de arte em colaboração. (


(
por OUlro. Nenhuma implicação mostra uma similaridade completa entre
o domínio inteiro de experiências amorosas iluminadas e o domíl/io de ex pe- (
(
riências envolvidas em produzir uma obra de ane cm cohboração, Ú
(
somente a metáfora completa, com seu total sistema de implicações, que
(
mostra as similaridades ent're o domínio inteiro de experiências amorosas
(
iluminadas e o domínio de expcriências de produção de uma obra de arte
(
cm cohboração,
(
Além disso, há uma similaridade induzida pcta metáfora que vai além
(
das meras similaridades entre os dois domínios de experiência. A similari-
(
dade adicional é uma similaridade eJlnt/llml Envolve o modo pclo qual
(
entendemos como as experiências individuais iluminadas e n caixam~sc entre
(
si de um modo coerente, A coerência é propiciada peh es tmtura do que
(
sabemos sobre produzir uma obra de arte cm col:tboF.lção e é refletida no
(
modo como as implicações encaixam-se (por exemplo, algumas são impli-
(
cações de TRAI.IALHO, algumas são implicações de ARTE e algumas são
(
implicações de TRt\U/\LHO COLADORA'nVO) , É somente essa estrutura
(
coerente que nos habilita a emender o que as experiências iluminadas têm
(
a ver umas com as Outras c como as implicações relacionam-se entre si.
(
Assim, em vi rtude da metáfor:l, o domínio de experiênci:ls amorosas
(
iluminadas é ,-isto corno similar tm nJm/llfa ao domínio de experiências em
(
se produzi r um:l obra de arte em colaboração,
(
É essa similarichde Mlm/llml ent re os dois domínios de experiência (
que nos permite achaf coerêl1cia 110 domínio de experiências amorosas (
iluminadas, É igualmente cm virtude da met:ifora (llle o domínio de (
experiências iluminae!:ts é sclccionado como coerente, Sem:l metáforn, esse (
(
(
249 (
( ';I
( ~ domínio .de experiências não existe parn você como um conjunto de
(j;l experiências identificável e coerente. A conceptualização de AMOR como
() OBRA DE ARTE COl.J\DORATIVA focaliza essas experiências como consti-

,n
d)
(
tuindo um todo coerente.

Além do mais, a metáfora, por dar estrutura coerente a um campo


de nossas experiências, m(1 similoâdodu de um IIOVO tipo. Por exemplo,
( ]I poderíamos, independentemente da metáfora, ver uma experiência amoro-
() sa frustrant e corno simibr a uma experiência frustrante de produzi r uma
() obra de arte em colaboração, desde <jue ambas se jam fru strantes. Nesse
() sentido, a experiência amorosa fnlstr:l.nte poderia também ser similar a
( )
'l"ll/qllerexperiência frustrante. O que a metáfora acrescenta ii. co mpreensão
() da experiência amorosa frustrante é que o lipo de frustração envo lvida é
'"
( -" aquela implicada na prod ução cobborativa de trabalhos de arte. A simib-
(') _______ riªade ~ simi laridade com respeitO.a metáfora.
(~-

Assim, a natureza precisa da similaridade entre a experiência amorosa


-~
(
( -, frustrante e a experiência arúsuca frustrante somente é percebida ao se
compreender a experiência amorosa em termos da experi~ncia artística.
(J-
Compreender experiências amorosas em termos do que csd em'olvido na
lJ produção de uma obra de arte cobborativa é, pela nossa definição, com-
'j)
'}
preende r aquela experiência em termos do conceito metafôrico AMOR t
1l"
UMA OBRA DE ARTECOLABORATIVA.
-0;0, A seguir, podemos resumir os modos pelos quais as metáforas criam
-'
similaridades:

-I. As metáforas convencionais (orienmcio nais, ontológicas e estru-


turais) são freqü'e ntemcntc baseadas em correlações que perce-
bemos em nossa experiência. Por exemplo, em uma Clllttlra

250
industrial como a fl ossa, há uma correhção entre a quantidade de
tempo <Iue uma tarefa tom:t .e a quantidade ele trabalho para
completar a carefa. Essa correlação é parte do que nos permite
ver TEMPO e TRABALHO metaforicamente como IU;;:(UHSOS c
assim perceber uma similaridade entre eles. É import:lnre lembr:tr
que correlações não são silllilarid:tdes. )\s metáforas que são
b:lseadas em co.rrelações em nossa experiência definem conceitos
em termos dos quais p ercebem(>s similaridades.
2. As metáforas convencionais de tipo estrutural (por exemplo,
IDÉIAS sAo AU r.iliNTO) podem ser baseadas em similaridades
(Iue se originam de metâ[oras orient:lcionais e ontológic:ls. Como
vimos, por exemplo, IDÉlAS SAO AUMENTO é baseada em
IDÉIAS sAo OBJIrrO (oncológica) e ME.i'\lTE É UM RECIPICN11:;
__ ._____ .___ (~.tológ~c.a e ~ri;.I2!~c i o~~I).:... A similaridade estrut1!r~ e ~ __ .
IDÉIAS e ALIMENTO é induzida peb metáfora e faz surgir simi-
laridades met;tfóricas (idéias e alimento podem ser engolidos,
digeridos e devorados, podem propiciar nutrição etc.).
3. As metáfor.ts novas são principalmente estmturais. Elas podem
criar similaridades do m esmo modo que as met:lforas estruturai s
convencionais que são estruturais. Isto ê, elas podem ser b:lseadas
em similaridades que emergem de met:lforas oriem:lcion:lis e
oncológicas. Como vimos, PROBLEMAS sAo PRECIPITADOS Et-.·I
UMA SOLUçAO QUíMICA b:tsei:t-se fi:l metáfor:l. física PROBLE-
MAS sAo OBJETOS SÓLIDOS. Essa metáfora cri:t similaridades
entre PROBL..EJ-.iAS e PRECIPITADOS, pois :tmbos podem ser
identificados e analisados e pode-se atuar sobre: eles. A metfi(or:l.
PROBLEMAS sAO PRECIPITADOS cria novas similaridades, a sa-

251
l~
ber, problemas podem parecer resolvidos (dissolver-se em solu-
"
ções) e mais tarde reaparecer (precipitar-se).
4. As metáforas nOVaS, em virtude de SuaS implicações, sclecionam
um domínio de experiênci:ls, iluminando-as, atcnu:mdo-as c
escondendo-as. A mctáfOr;l car:lcteriza uma similaridade entre
um domínio inteiro das experiências iluminadas e alguns Outros
, domínios de experiências. Por exemplo, MIOR É UMA OI3Rl\ DE
I
AR'm COLADORATIVA scleciona um certo domínio de nossas
"
experiências amorosas e define uma similaridade eshllltlml entre o
domínio inteiro de experiênci:ls illlminadas c Odomúlio de experiên-
cias envolvidas cm produzir obras de arte colaborativas. Pode haver
similaridades isobcbs entre experiências amorosas e artísticas que
sejam independentes,da metáfor;l, porém da pennite-nos encontr:lr
- - coerência nessas similaridades isoladas em lCrinasdas similaridades-
estruturais globais induzidas pela metáfora.
5. As similaridades podem ser similaridades em reb,ção a uma
metáfora. Como vimos, a medfora AMOR É UMA OBRA DE ARTE
I COLADORATI VA define um h'po único de simib ridade. Por exem-
·1 plo, uma experiência amorosa frustrante pode ser entendida
como similar a uma experiência anística frustrante, niio simples-
mente por ser frustrante, mas por envolver o tipo de frustração
pecuti:lr fi produçii~ de obras de arre cobborativas.

Nossa perspectiva de que metáforas podem criar similaridades con-


traria a clássica, c ainda amplamente sustentada, teoria da metáfora, chama~
da ftoria da (()fJlparafão. A teoria da comparação diz:
,,
'I
I
I 252
(
(
1. As !llet~foras são questões de linguagem e não qucstões de (
pens:\mcllto ou "ção. Não h~ ação ou pensmncnto metafóricos. (
2. Um" medfora da fo rma "A é B" é uma expressão lingüísuca cu jo (

signi ficado é o mesmo de uma correspondente expressão lingüís· (

tiea d a forma "A ê como B, nos aspectos X,Y,Z ... ". "Os aspectos (

X.V.Z .... " caracterizam o gue temos cham"do cle "similaridades (

isoi:lclas". (
(
3. Uma metMora po<le. portanto, somente descrever similaridades
(
preexistentes. Ela não pode c ri~ ·[as.
(
(
Embora tenhamos apresentado evidências contta. uma boa parte da
(
teoria da compar:lção, accit:lrnos o que consideramos sua tese básica, ou
(
seja, que as metáforas podem ser baseadas cm similaridades isoladas.
-(
Discordamos da teoria da com paração mantendo que:
(
(
1. A metáfora é primordialmente uma gucstão de pensamento e (
ação e somente secundariamente uma questão de linguagem. (
2. o. As metáforas po<lem ser baseadas em similaridades, apesar de, (
cm muitos casos. essas simii:lridades serem elas mesmas baseadas (
em metáforas convencionais que não são baseadas cm similari· (
dades. Essas similaridades baseadas em metáforas convencionais (
são. entretanto, !lOis elll nossa {fIIIllra. pois as metá foras convencia· (
nais definem parállrnente o que emendemos por real. (
b. Embo ra a metáfora possa ser baseada parcialmente cm simila· (
ridades isolada s, consideramos similaridades importantes aquelas (
criadas pela metáfora. conforme descrevemos acima. (
(
(
(
253
(
,"
(~
(11 3. A função primeira da metáfora é dar uma compreensão parcial
(l} de um tipo de experiência em termos de um outro tipo de
(
(1)
" ,;) experiência. Isso pode envolver similariebdes preexistentes iso-
ladas, a criação de novas similaridades e assim po r diante.
( )
(' É importante ter em mente que a teoria da compar:l.ção mUltO

<}; freqüentemente caminha lado a bdo com uma filosofia objecivista, na qual
() todas as similaridades são objeciv:l.s, isto é, elas são inerentes ils próprias
r:;,
( y entidades. Argumentamos, ao contcirio, que as únicas similaridades rele-
vantes para a metáfora são as slim'/llddadu ~xperienciad(JJ pelflJ jHHoaS. A
d iferença entre similaridades obj(livas e similan"dmltJ txptriendaiJ ê essencial e
será discutida em detalhes no capítulo 27. Resumindo,).Im objetivista diria
( ~~ .. que os ohjetos têm as propried:ldes que têm independentemente de quem
( ; :l!...c:.xpe.!i~ciei..9s obje!Quão oij!!.illf!.,,!!llle !.i!!!i&!.fP. .se e,eL~O,mp::v:Jilh~ _ _
d essas propriedades. Par:t um objetivist:l, não faria sentido falar em metiifo-
(~ r:lS como "madoraJ de JimilaridndeJ', pois isso exigiria que as metáforas
()I fo ssem capazes de mudar a n:ltureza do mundo exterior, dando existênci:!
d a similaridades objetivas que não existiam previamente.
(J)
Concordamos com os objetivistas num ponto importante: que as
(' ) . coisas no mundo realmente exercem uma função de impor restrições ao
( "'~
nosso sistema conceptual. Mas elas exercem esse papel JOf»Ulle nlrmiJ de
(~ 1I0JJIl experibma (Of» elm. Nossas experiências (1) irfio diferi r de cultura para
(~
cultu ra e (2) podem depender de nossa comprecnsfio de um tipo de
() experiência em terfI10s de outr,o, isto é, nossas experiências podem ser
metafóricas por n:H\lfeza. T ais experiências determinam as categorias de
nosso sistema conceptual. E propriedades e similaridades, nós insistimos,
existem e podem ser experienciadas somente em relação a um sistema

,,
( '}~
254
(~ .
.)'
conceptual. Assim, o {mico ripo de similaridades relevantes às metáfora s
são as similaridades exptdmtil1is, não oljetil/l1!.
Nossa posição geral é que as metMoras conceptuais são [undameJl-
tad:ls em corre/{I(õu dentro de nossa expe riência. Essas correlações experien-
ciais podem ser de dois tipos: fO-OCOmnnl1 expen"tllnll/ e ú",i/an"dl1de
expuienn"al. Um exemplo de co-ocorrência experiencial poderia ser a
metáfora IvIAIS É PARA CIMA, guc é fundamentada na co-ocorrência de
dois tipos de experiências: adicionar mais substância e ver o seu nível
sub ir. Agui não h:i qualquer similaridade experiencial. Um exemplo de
similaridade experiencial é VIDA É UM JOGO DE AZAR, em que alguém
experiencia ações vividas como jogos de apostas e as possíveis conse-
qüências dessas ações são percebidas como ganhar ou perder. Aqui fi

metáfora parece ser fundamentada na similaridade experiencial. Quando


- - - - tal metáfora é estendida a outros domínios, podemos experienciar novas
similaridades entre vida e jogos d e azar.

255
I
I-

,
j
,
li
,
(
(
(
(

(
(
(
(
(
(
(
23. METAFORA, VEfU)ADE E AÇAO
(

(
(
(
No capítulo anterio r, aprescnramos :IS segu intes hipóteses:
(
(
As rnceMorru; cêm implicações fili e iluminam c d~o çocrência o delcnninados aspccl05 de
(
1I0SS,1 C.lCrcriêncin.
Talvc>:. um.1 determinada mel~r0f3 sc:ja a IÍni<.:a forma de iluminar e de orgaui/.ar COI..'feu- (
temente esses aspectos de IlOssa e;r;periência. (
As metáforns podem criarrcalidadcs parn nós, cspecialmcntcrc;JJid[l[lcssociais. Uma rnel.'if()(;l (
pode :lSSim sef um guia 1).'Ir.I açõcs futuras. Essas:lÇÕC$. f. daro, irão adequar-se à metáfora.
(
Is,o;o, por ~lIa vez, n:fon;IIl1\ o Jx:xlcrda InclMora de tOnlar a e..;pcriênda çocrel1lC. Nes.<;e sentido,
(
as metáforas podem 5Ct profeci'lS aulo-suficicntcs.
(

Por exemplo, enfrentando a crise de energia, o Presidente Carter (

"declarou moralmente a guerra". A metáfora da GUERRA gerou uma rede (


(
de implicações. Havia um "inimigo", um:t ":ul1caça à segurança n:lcional"
que exigia "fixação de metas", " reorganização de prioridades", "estabclc- (
(
(
(
257
(
cimento de uma nova cadeia de comando", "aniculação de uma nova
estr.ltégia", "busca de infonnações", "mobilização d:ls forças", "imposição
~
j) de sanções", "apelo ao sacrifício", e assim por diante. A metHora da
.. ~ GUERRA iluminou certas realidades e ocultou Outras, Ela não foi simples-
.:i) mente uma maneira de ver a realidade: ela constituiu uma justificativa para
) mudanças de condura e parn ações políticas c cconômicas. A aceitação real
') da metáfora permitiu certas inferências: havia um inimigo externo, estran-
') geiro e hostil (caracterizado por carrunist:ls como um árabe vestido a
}l cacitcr); deveria ser dada prioridade máxima ii. energia; a população teria de
. 2) fazer sacrifícios; se não fizéssemos freme à amcaça, não sohreviveriamos .
:-) E imporrame notar que essa não era a única metáfora disponível.

() A metáfora da GUERRA utilizada por Carter pressupunha nosso


(~ conceito aeual de ENERGiA e punba cm evidência a questão de como
( ""
~ conseguir urna (luantidade __su_ficicl~~e ;:Ic:. energia: Por: ol,ltr<? lado, fúnory
(]I- - Lovins (1977) observou que havia duas maneiras ou CAMINHOS, funda-
() mentalmente diferentes para suprir nossas necessidades de energia. Ele
(~ caracterizou essas maneiras meraforicamente como DURA e SUA \TE. CAMINHO
() DE E.NE.RGIA DURO usa suprimentos energéticos inflexíveis, não renová-
(') veis, que precisam de defesa militar e de controle geopolítico, provocam
( danos irreversíveis ao ambiente e requerem altOs investimentos de capital,
(J) alta tecnologia e trabalhadores altanlente qualificados. Incluem combustí-
()) veis fósseis (gás e óleo), usinas de energia nuclear e g.ís de c:llvão. CAMINHO

n "';"
DE. ENERG IA SUAVE. usa suprimentos energéticos flexíveis, renováveis, sem
( J:,l necessidade de defesa militar ou controle geopotitico, não destruidores do
(]) ambien te e requerem apenas baixo investimemo decapitai, baixa tecnologia
(]I e mão-de-obra não qualificada. I ncluem energia solar, eólica e hidroelétrica,

C:~ álcool de biomassa, Jeitos fluidizados para queima de carvão ou outros


()
( i,)
(ll 258
( 7)
mateo:lis combusúveis, e muitas outras possibilidades atualmeme disponí-
veis. A metáfora de CAM.INHO DE ENERGIA SUAm, de Lovins, ilumina a
MlrolllM técnica, econômica e sócio-politica do sistema de energia o C]ue o
leva a concluir que o caminho de energia "duro" - carvão, óleo e energia
nuclear - conduz a conflito político, a desconforto econômico e a danos
no ambiente. Porém Jimmy Caner era mais po<leroso do C]ue Amory
Lovins. Como Charlotte Linde (em conversa) obselVou, as pessoas que
detêm o poder, seja na política doméstica, seja na interação do dia-a-dia,
conseguem impo.r suas metáforas .

. As metáforas novas,da mesma maneira que as convendon:tis, podem


ter o poder de definir a realidade. Elas o fazem por meio de uma rede
coerente de implicações que iluminam algtlOS aspectos da realid:lde e
ocultam outros. A aceitação da metá fora, que nos obriga a focar flpennJ os
- ~___ aspectos da nossa experiência que ela ilumina, leva-nos a enxergar como
t'crdmleirnJ as implicações da metáfora. T ais "verdades" podem ser verda-
deims, é clnro, apenas com relnção à realidade definida pela mecifom.
Suponhamos que Carter anuncie que sua administração tenha vencido uma
batalha energética importante. Essa afirmação é verdadeira ou falsa ? Até
mesmo colocar-se a questão exige a aceitação, no mínimo, das partes
cemrnis da metáforn. Se você não aceita a existência de um inimigo externo,
se você pensa que n:io há qualquer ameaça externa, se voeê n:io reconhece
qua!cluer campo de batalha, qualquer alvo, quaisquer forças competidoras
claramente definidas, ent~o a questão de verdade objetiva ou fa lsidade não
pode surgir. Mas, sc você vê a realidade como é dcfin.ida pela metáfor.l, isto
é, se você realmente vê a crise de encrgia como uma gtlcrra, então pode
responder a qucstão de saber se as implicações metafóricas correspondem
ii realidade ou não. Se Carrcr, por meio de sanções econômicas e políticas

259
estr.ltegicamerlt'e empregadas, forçasse as naçõcs da OPEP a COrtarem pela
metade o preço do peuó!co, então você diria que ele realmente venceu \lllla
bat:llba imponante. Mas, se suas estratégias tivessem apenas produzido um
congelamento lcmpor:írio de preços, você não estaria tão seguro e podcria
cstar cético.

Embora questões com relação a verdade surjam para as metáforas


novas, as questões mais importantes são as da ação apropriada. Na maior
parte dos casos, o que est:i em questão não é a veracidade ou falsidade de
uma metáfora, m:!.s :!.s percepções e inferências que a acompanham c :!.s
ações sancionadas por da. Em todos os aspectos da vida, não apenas cm
política ou cm amor, definimos nossa realidade em termos de metâforas e
então começamos a agir com base nelas. Fazemos inferências, fixamos
objetivos, estabelecemos compromissos e executamos planos, ludo na base
da estnlturação consciente ·ou incori"Sden·te dc·n-ôssa experiência por ·meio
de metáforas.

260
,
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
24. A VERDADE
(
(
(
(
(
Por que a preoCllpnção (0111 f/!lf(1 teoria dfllltrdade? (
(
As metáforas, como vimos, são conceptuais por natu reza. Elas são (
um dos nossos principais veícu los para a compreensão. Desempenham um (
papel ccntr:ll na constmção da realidade social C política. Na Filosofia, (
contudo, são vistas normalmente como "questões apenas de linguagem" c (
as discussões filo só ficas sobre a metMoGl não lr.ltam da sua natureza (
conceptual, nem da sua contribuição para fi compreensão ou da sua função (
na realidade cultur:l1. Pelo cOlllrário, os filósofos tendem fi compreender :ls (
metáforas como expressões imaginativas fom do comum ou como expres- (
sões ]ingiiísticas poéticas, C O foco de suas discussões tem sido se essas (
expressões lingüístiClIS podem ou não ser verdadeira!. 5u:l preocupação com (
a verdade surge de I1ma preocupação com a objetividadc: para elc~. a /itrdadt (
(
(
261
)
~

"
é oijttiva, ob/oÚ/la. Concluem, habitualmente, que as metáforas não podem
) expressar verd:tdes de forma dircta e, se enunciam verdades, fazem -no
apenas indiretameme, via alguma paráfrase "literal" não metafórica.

Não cremos que haja uma tY!mflde OijttjVfl (absoluta e incondicional),


embor~\ tal tese tenha sido um tema constante na culnu"a OcidentaL
Acreditamos sim que haja vm{,JdeJ, mas cremos que a idéia de verdade não
deva estar ligada à visão objetivism. Acreditamos que a idéia de que exista
uma verdade absoluta e objetiva seja não apcn:ls errônc,,-, como também
perigosa social e politicamente. Como vimos, a verdade é sempre relativa
a um sistema concepmal definid o, em grande pane, peb metáfora, A
maioria de nossas metMoras evoluiu em nossa cultura, durnnte um longo
período, mas muitas nos foram impostas pelas pessoas que detêm o poder
- líderes políticos, líderes religiosos, líderes empresariais, publicitários, a
, Ji
_ mídia etc. Em uma cultura em qu e o mito do objctivismo está muito·vivo
e a verdade é sempre verdade absoluta, as pessoas que conseguem impor
suas metáforas :'t cultura conseguem definir também o que consideramos
verdadeiro - absoluta e objetivamente verdadeiro.

Por esse motivo, consideramos importante que se faça uma explica~


()
( j~ ção da verdade livre do mito do objelivismo (set,rundo o qual a verdade é

() sempre uma verdade absoluta). Na medida em que vemos a verdade

( ~ baseada na compreensão e vemos a metáfora como um veículo essencial

o da compreensão, pensamos que uma explicação de como as meLí.foras

CD podem ser verdadeiras poderá revebr como a verdade depende da com-


(j preensão cotidiana.
(,ii
( .~
O
( ~

( 2l 262
A illlPorlíincia da t'trdadr ti" nOJJaJ vidll! diáâll!

Baseamos nossa açôes, tantO as físicas quanto as sociais, naquilo que


pensamos ser verdadeiro. Em linh:l.s gerais, a verdade importa-nos porque
ajud:t-nos a viver e permite-nos agir em nosso mundo. A maioria d:ls
verdades que acumulamos -:1 respeito dos nossos corpos, das pessoas com
quem interagimos e dos nossos ambientes físico e social imedi:ltos -
desempenha um papel na nossa vicia colidi:l.na. São verdades tão óbvias que
é p reciso um es forço consciente para nos tornarmos conscientes delas:
onde fica a porta da frente da casa, o que se pode comer ou não, onde fica
o posto de gasolina m:tis próximo, que loja vende as coisas de que você
p recisa, como são seus amigos, o que os insultaria, que responsabilidades
você tem. E ssa pequenina amostra sugere a natureza e a extensão do vasto
corpo de verdades que desempenham um papel na nossa vida cotidiana.
---_._------

o poprl dll pro/erlio no vm/adr

Para adquirir tais verdades e faze r uso delas, precisamos de uma


compreensão do mundo em que vivemos que sej:l su ficiente pua nOSS:lS
necessidades. Como vimos :l.nteriormemc, lima pane dcss:l compreensilo
é moldada em termos de ca tegorias que emergem de nossa experiência
direta: as c:ltegorias orientacioll:l.is, os conceitos de OBJETO, SUJ3STÂNClA,
rlNAUDADE, CAUSA etc. Também já vimos que, quando:ls catego rias que
emergem de nossa experiência física direta n50 são pertinentes, algumas
vezes projetamos essas categorias em aspectos do mundo fisico com os
quais temos experiência menos dircta. Po r exemplo, projeram os, em deter-
minados contex tos, uma orientação (rente-:ltcis em objetos que intrinsec:l-
f mente niio têm frente nem atrás. lrnaginemos uma pedrad e tamanho médio

2.3
cm nosso campo visu:tl c uma bola clllre nós c a pcdrn, digamos a um melro
da pedra; pcrccbcriamos a bola como se estivesse em freI/te à pedra. Os
Hausas fazem uma projcção difcrcllt'c da nossa c compreenderiam a bola
como se estivesse (1lrtÍJda pedr:!. Assim, a o ricmaçiio frCllIc -amis n5:o é uma
propriedade inerente a objclOs como pedras, mas é antes uma orientação
que projetamos sobre eles c o modo como fazemos isso nria de cultura
para cultura. Com relação a nossos objctivos, podemos conceber as coisas
no mundo como recipientes , ou não. Podemos, por exemplo, conceber
um:!. clareira cm uma florcst;t como um RECIPIENTE c senti rmo-nos
DEI\.'11tQ da clareira, ou FORA dela. Ser um recipiente niio é uma propric-
- dadc inerente àCJuclc lugar na mata onde a vegetação é meno s densa; c uma
p ropriedade que projetamos nele rebcionada à maneira como agimos cm
relação a ele. Com relação a outras percepções e fin:llidades, podemos
perceber o resto da floresta fora d a clareira como um outro recipiente e
sentirmo-nos DENTRO da floresta. Podemos fazer as duas coisas simulta-
neamente e então falar cm SAl R DA floresta e ENTRAR na clareira.

Do mesmo modo, nossa orientação "em cima de-fora de" emerge


de nossa experiência direta com o chão, os assoalhas e as outras superficies
horizontais. Normalmente, estamos elll ama do chão, do assoalho etc., se
estamos em pc em cima dcle, com nossos corpos eretos. Também proje-
tamos orientações "em cima de-fom de" sobre p:uedes e concebemos uma
mosca como de pê CfII afila da parede se suas pernas estiverem em comato

com ela e sua cabeça estiver orientada para fOra da parede. O mesmo se
aplicapara a mosca no tetO: nós a concebemos como se estivesse tllI afila '/0
teta e não debaixo dcle.
,
I' Percebemos, conforme lambêm já vimos, vários elementos do mun-
d o natural como entidades, quase sempre projetamos fronteiras e superfí-

264
,
(
(
,) , II (
:~~,cÍ!ob" cio>, cmbo~ eb não tenl"m f<amei", ou sUI'"ficics cI,,,s (
~'ffê' rta(bs naturalmente. I\ssi m, conseguimos conceber um bloco de nc- (
. ,<
::' ' Iloa como lIm ) entidade que pode estar arima da baía (que imagin:ul1os (
como entidade) c IllI freI/te da mont:l.I1ha (concebida como uma entidade (
com uma oriemação I·REJ'JTE.A~S). Em virtude dessas projeções, um:l (
frase como "A neblina está cm frente da montan ha" pode ser Iltrdtldciro. (
Como é típico enl nossa vida Cluolid iana, a vcrdaclcé rcbtiva:i compreensão (
c a veracidade de uma fmsc como essa depende da maneira normal como (
compreendemO! o mundo, projetando uma orientação c uma cstmlurn de (
entidade sobre de. (
(
(
o papel da catrgot1i!,{,io 11'1 l-oerd(lde (
c
-
P:tra compt:ccndc r o mundo c agir nele, temos de c:ncgúizar o s
objetos e :15 expcriênci:ls de fom1:1 que passem :I r:lzer sentido para nós. c
(
Alb'um:l.s de nossa s categorias emergem dirct:lmente de nossa experiência,
(
devido li forma de ~1 0SS0S corpos e à natureza de nossas interações com as
(
outras pessoas e com nosso':lmbieme físico e social. Como vimos em nossa
(
discussão do exe mplo da Atu.1A FA LSA no capítulo 19, há dimensões
(
naturais para nOS$as categorias de objelos: a perreptul1l, baseela na concepção
(
do objeto por meio de nosso aparato sensorial; li !!Iotora, baseada na
(
natureza das intcrações motor:!s com os objelos; a fUllrional, baseada cm
(
nossa concepção d as fun ções do objeLO; e a intencioNfll, baseada nos usos
que podemos faze.r de um objeto em determinada situação. Nossas cate-
(
gorias para lipos de objetos são, portanlO,gutáIJi(flJ possuindo, pclç menos,
(
essas dimen sões n::llmais e (:tda uma delas especifica propriedades inl era-
(
cionais. Da mesm::l forma, há dim ensões natu mi s em lermos das <j\.lnis
(
(
-'
, _.'
(:!'
C)
(li categorizamos eventOs, :ltividades e outras experiências como conjuntos

( -' '
estnlturados. Conforme vimos em nossa discussão sobre CONVERSAÇÃO

(] e DISCUSSÃO, essas dimensões naturais incluem parlidpanlu, pariu, elrtpal,

("
()
Jtqiié"cia Jinulr,jinaJidtJIle e ((lI/Ia.
A C:ltcgorizaç:io é uma forma narural de identi fi car um tipo de objeto
( ); ou de experiência iluminando certas propriedades, atenuando outnlS c :lté
\} escondendo OUtnls. Cada uma das dimensões indica as propriedades que
( ) s:io iluminadas. Para iluminar determinadas propriedades, é necessário
( "- atenuar ou esconder outr:lS, que ê o que ocorre cada vez que se categoriz:\
"'"
..J algum:\ coisa. Ao focarmos um conjunto de propriedades, desviamos nossa
() atenção das o utrns. Ao descrevermos fatos do dia-a-dia, por exemplo,
(] usamos calegorizações para pôr em evidência determinadas propriedades
(}l que correspondem ~s nossas intenções. Cada descrição irá iluminar,atenu:lr
()\ _ _ _ _o_u_'_s_'"_nde: : : e~:)[ ,~~.:~p,~lo~,_______- ____-_.___-

O COllvidei ulIla loura sexy p;uõl1lOSSO janUlr.


( )
Conv idei utna renomada violoncelista pnra nosso jantar.
(
()
"". Convidei uma Marxista par.! nosso jantar.
Co nvidei lima lésbicn para 1l0SS0 jant~r.
(}
( 10
-,~
Embora a mesma pessoa pOSSl encaixar-se em Iodas as descrições,

O cada descrição ilumina aspectos di fe rentes da pessoa. Descrever uma


( !l peSSOa , que você sabe ter todas essas propriedades, como "uma loura sexy"
() é atenuar o fato de ela ser uma renomada violoncelista e uma i\hrxista e
( ]> esconder seu lesbianismo.
( "
; Em geral, as afi rmações verdadeiras que fazemos baseiam-se na
( -;:~:-' . maneira corno categorizamos os seres e, po rtanlO, no que é iluminado pelas
( 1~ dimensões naturais das calegodas. Ao fazermos uma afirmação, fa zemos

~
( )
(}
( }1 266
(3 \\
( ~
uma escolha de categoria, pois temos algum motivo para foca r determina-
das propriedades e atenuar outras. T oda a6 rmação verdadei ra, portanto,
necessariamente exclui O que é atenuado ou escondido pelas categorias
usadas nd~1..

Além disso, uma vez que as dimensões nalUrflis das calcgo ri:ls
(perceptual, funcional etc.) su rgem de nossas internções com o mundo, as
propriedades descrit."ls por essas dimensões não são propri e~ ad es dos
objetos mI Ii mUfJIOI, mas são antes propriedades interadonais baseadas no
aparnlO perceptual humano, n:l.S concepções hum:mas de função etc. Daí
as afirmações verdadeiras feita s em termos de c:ncgorias tipicamen te
humanas não predicam propriedades do! objelo! em Ii n/umo! mas antes propn"e-
dades inlemciol/(tis que fnem sentido apenas em relação ao agir hum ~H1 o.

Ao fazermos uma afirmação verdadeira, temos d e escolher catc-


1---- gorias ele descrição e essa escolha envolve nossas percepções e nossos
propósitos em uma dada situação. Suponha que você me diga ; "Hoje
à noite, teremos uma discussão em grupo e preciso de ma is quatro
cadeiras. Você pode [fazê-Ias?" Eu digo: "É claro" e apareço com uma
cadeira de es paldar duro , uma cadei ra de balanço, uma de pra ia c llIn
p~lfe. Deixo-as cm sua sala e digo a você na co zinha: "Trouxe as quatro
cadeiras 'lue você queria." Nessa situação, minha afinnaçio é verdadd-
ra, já qu e os 'luatro objctos qu e trouxe servirão par:"! :"! fin:"!Ji dadc de
cadei ras em um :"! di scussão informa l cm grupo. Se, ao invés, você tivesse
me pedido pa ra trazer qua tro cadeiras para um jama r fornnl e eu
aparecesse com os mesmos qu:"!trO objelOs e fiz esse a mesma afi rmação,
você nio teria ficado satisfei to e acharia a afirmaçio enganosa aLI falsa,
uma vez que um pufe, uma cadeir:"! de praia e um a c:\ d eir~ l de balanço
não são "cadeiras" práticas para um jantar formal.

267
Isso mostra que nossas categorias (por exemplo, C:\DEIlt.'\) não siio
rixadas rigidamente em termos de propriedOldes inerentes aos objctos em
si mesmos. O que conta como instància de uma c:1tcgoria depende de nossa
imenção ao usar a cOl tegoria. Essa é a mesma eonstat:lç:io que fizemos
acima, cm nossa discussão sobre Difilllfão, cm que mostramos que catego~

rias são definidas, para servir :l compreensão hum:m:l, po r protôripos e


semelhanças de família com esses protótipos. Essas categorias não são
fixas, mas podem ser estreitadas, ex pandidas ou ajustadas em relação a
nossas. intenções e a outros fatores comcxtuais . Jáque a ver:lcidade de uma
afirmação depende de ela se encaixar ou não nas ca tegorias empregadas,
ela será sempre relativa â maneira como a categoria é compreendida de
acordo com nossa intenção e1l1 um delt:rminado contexto.

Há inúmeros exemplos célebres para mostrar que as frases, cm geral,


não são verdadei ras nem falsas independentemente das intenções humanas:

A França é hellagona1.
O Missouri é um para le logmma.
A term é uma es fem.
A Wi1i~ tem a rorm~ de lIm~ bom.
Um ál omo é um siS1e ma solar minúsculo, com °núcteo 110 ccn1ro e clélrons girando em
lorno dele.
A luz é eompoS13 de par1fculns.
A luz é compoSla de ond as.

Cada uma dessas frases é verdadeira para determinados objerivos,


sob certos aspectos e cm determinados contextOs. "A França é um hexá~

gano" e "O Missollá é um pamlelograma" podem ser verdadei ras para um


garolo de escola que tem de desenhar mapas toscos, mas não o seri para
ca rtógrafos profi ssionais. "A terra é lima esfera" é verdadeira p:lr:l quase

268
(
(
(
lodos nós, mas nio o scr:í se objetivo é determinar precisamente a órbita
(
de um satélite. Nenhum fís ico que se preze acredita, depois de 1914, que
(
um :ítomo seja \Hn pequeno sistema solar, embora seja verdade par:\ c)u:lse (
todos nós, com relação a nOSS:lS necessidades da vida diária e a nosso nível (
geral de conhecimentos em m:ltemática e fís ica. "A luz é composta de (
particulas" parece contradizer "A luz é composta de ondas", porém ambas (
são tomadas como verdades por físicos com relação a que aspectos da luz (
sejam selecionados por experimentos diferentes.
( J
o que ludo isso mostra ê que :1 verdade depende da categorização (
das quatro manei ras que seguem : (
['
. )

• Uma afirma çio pode ser verd:ldeirn :l1>cnas com relação a :Llguma (
compreensio que temos dela. (

• A compreensão envolve semprc- ã catégõi-íiação humãna, qlle é- . (


uma função de propriedades interacionais (e não inerenles) e de (
dimensões que emergem de nossa experiê.ncia. (
• A verdade de uma afirmação é sempre relativa às propriedades (
;
iluminadas pelas categorias usadas na afirmação. (Po r exemplo, ( )

"A lu z é composta de ondas" ilumina as propriedades similares (

a ondas que :I luz tem e esconde as propriedades similares a (


(
particulas.)
• As categorias !l:iO sio fixãs, nem uniformes. Elas sio definidas po r (

protótipos c semelhanças de famflia liglldas a profótipos e são (

modifidveis segundo o contexto, de acordo com objetivos diver- (

sos. Se uma afirmaçio é verdadei ra ou não, depende de a categoria (


(
utilizada ser adequad:l. Oll não, e isso, po r sua vcz, varia con formc
os objclivos humanos e outros aspectos do contexto. (
(
(

269 (
(
"
-'

'~ o (Plt i n{(tI/firiD parti que It (onprttnda l/n/a silJlp/ufraSl fomo IItrdar/tim?
r) Para interpretar ullla frase como vcrcbdei ra, precisamos, cm primeiro
( )
lugar, compreendê-h. V:l.mos olhar para uma p:lrte do que está envolvido na
() compreensão de frases simples como "A neblina CSL'Í cm freme à mOnt:mha" ou
( ')
( -, 'John disparou a :l.nn:t cm H arry". Frnses corno essas são sempre enunciacl:J.s
como parte de um clctenninado tipo de discurso c compreendé-b s em um
n contexto discursivo envolve complicações de um tipo não ncg!igcnci{IVel que,
n p:1m nossos propósitos, d evemos ignorar aqui. Porém, mesmo ignorando algu-
() mas das comple..xidadcs do contexto discursivQ, a co mpreensão de t.'l.is frases é
(
'"
"
muito complexa. Considere o que deve ser par:t nós compreender como
\'crdadcir:t a frase "A neblina cst.í. em frente à montanha", Como yi mos acima,
temos de ver "a nebEn:t" e " a mo ntanha" com o entidades, por meio de projeção,

n e devemos projetar sobre a rllOnt.'luha uma orient:tção frente-atcis - uma orientação


que varia de cultura paCl cultura, que é d:tda em rcbção a um observ:ldo r humano
()--+--
i-i, e que nio éTnêrerlte à montanha, DépOis temos de de tcrmin; r, em relação a nossos

( propósitos, se o que vemos como "a neblina" está CX:lL'u nente entre nós e o que
reconhecemos como "a monlluilia", mais próximo dcl.., e não ao seu L1do ou acima
( )
deh etc, Hâ três projcçc5es sobre o mundo, além de algumas cletcnninaÇÕC5
(
"
,
prngrn:lticas que têm rcL1ção com nossas percepções e objetivos pam decidir se a
n rcL1ção t1J/ fimte é mais apropriada do quc outrns rebçõcs possíveis, Assim,
()
compreender se "A neblina está em frente à montalilia" é ou não verdadeirn, nio
()
é simplesmeme uma' qucsclo de (a) perceber cntidades pré-existcmcs c bem
( ':~
definidas no mundo (a neblina ea montlll1h:t) e (b) vw fiarr se alguma rcl.1ção inerente
() (Independente de qualquer observ:ador humano) mantém-se entre essas entidades
()
bem definidas, Ao co ntrário, é uma qucs60 de pmjcção hum:ma e julgamento
<) humano, reL1tiva a detcnnin.'1das finluid:tdes.
() "John disparou a arma cm Harry" lcvanta outras questões. Há as
( )
Clllcstõcs óbvias d e sclecio nar pessoas chamad as Johll e J-larry, scledonar o
U
( ~
( ) 270

(
, "' ":'
~
objeto que se encaixe na categoria ARMA, compreender o que significa
disparar uma llfma e dispará-la em alguém . lvlas não compreendemos esse
tipo de [rases no vácuo. Nós as compreendemos em rdação a certas
c:ltegori:ls m:lis ampbs de experiência, por exemplo, atir:lf em alguém,
assustar alguém, aUlar em um número de circo ou fingir qU:l.lqller um desses
atos em uma peça de teatro, em um filme ou em uma brincadeira. Disparar
uma arma pode ser uma instáncia de qualquer um desses casos e é o
contexto que determin:l de qual se trata. Há, porém, apenas um pequeno
nÍlmero de categorias de experiência nas quais disparar uma arma caberia,
sendo a mais comum de todas a de ATIRAR EM ALGUt:<Jo.f , uma vez que ·
existem muitas formas usuais de assustar alguém, ou de amar em um
número de eirco, mas apenas uma maneira normal de atirar em alguém.

Assim podemos ver ATIRAR EM ALGUÉM como um:"! gulall expe-


_ _ _ riencial com, grosso modo, as seguintes dimensões, no exemplo da páginà
seguinte.

A frase "John disparou a arma em Harry", geralmente, evoca uma


gnlall de ATIRAR EM ALGUÉM com essa forma. Ou, em Outros contex-
tos, poderia evocar outras gu/all! experienciais igualmente complexas
(por exemplo, ATUAR EM UM ATO DE CIRCO) . Porém a frase jamais será
compreendida virtualmente em seus próprios termos sem a evocação
de alguma guta/t mais ampla que especifique a escala normal de dimen -
sões naturais (por exemplo objelivo, etapas etc .). Qualquer que seja a
gutait evocada, compreendemos muito mais do que é dado diret:lmente
na frasc. Cada uma dessas geslalt! oferece um pano de fundo para
compreender a frase em termos que façam sentido para nós, isto é, em
termos de uma categoria experiencial de nossa cultura.

271
PtlrtiripmlleJ: John (o fltimdor'), Harry (o (1",'0), a arma (o im/n/metl/o),
a bala (imll1"IIetllo, ",iJJi~
p(lriu: t...lira r a arma no alvo
Atirar
A bala atinge o alvo
O alvo é ferido
Ektpm: Pri-(ol/di(iiO'. O atirador carregou a arma
["iriO'. O atirador mira a amla no alvo
Meirr. o atirado r dispara a arma
Fil/r. A bala atinge o alvo
Eslado fil/aI. O ak o é fcrido
CtlfUtr. O começo e o meio habilitam o rim
O meio e o fim causam o estado final
Dljclivo: Mela: Estado fi nal
P/miO'. Encontrar a pré-condição, exe-
cu tar o início e o meio

AJém da categoria maio r de experiência evocada pela frase, também


categorizamos DISPARAR e ARMA cm termos de prolóLipos ricos em
informação. A menos que o contexto nos force a fazer de forma diferente,
compreendemos arma como uma arma protoúpica, com as propriedades
protOúpicas usuais: ptrreplllflis, !fI%raJ,fimriollflis c jrllCl/riOrlais. J\ menos que
o contexto especi fiqu e de forma diferente, a imagem evocada não é a de
uma arm:'! guarda-chuva ou de uma arma-mala c o programa motor usado
para disparar é segurar a arma em posição horizontal e apertar o gatilho,
que é o programa motor normal que se aplica tanto a DISPARAR como a
ARMA. A menos que o contexto fosse fr.mcbd o, não imagillarí:tmos um

272
,
(
(
(
recurso a Ruoc Goldbcrg, no qual o gatilho está preso por um cordão, (
dig:tmos, à m:1çancta de uma porta. (

Compreendemos :l frase cm termos de ges/a/Is que lhes corrcspon- (


clcm, sejam as "restritas" (AR.MA, DlSPARAR, MIRAR), sejam as mais ":l1n- (
pias" (ATIRAR EM ALGUÊM ou ATUAR EM UM NÚMERO DE CIRCO). É (
apenas cm relação a esse tipo de compreensão que a cluestiio da verdade (
surge. Ela é direm quando nossa compreensão da frase nesses termos (

adequar-se muito Cstrcitamcnlc a nossa compreensão dos eventos ocorri- (

dos. Mas o que aCOlHece (Iuando existe uma discrepância emre nossa (
compreensão IIOrHltl/da frase c nossa compreensão dos eventos? Digamos, (
(
por crcmplo, guc John, ii. m:tndra engenhosa de Rubc Goldbcrg. coloque
a arma apontada para o lugm onde Harry estada em um determinado (

momento e emão amarre um cordão ao gatilho. Tomemos dois casos: (


(
(
A . John.:lo coç:lr a orc lh:l, provoca o disparo da 'lona cm Harry.

U. Hnrry, ao abrir a ponu, provoca o disparo da aml:l cm Harry. (


(
No caso A, a ação de John é responsável pelo disparo, enquanto cm (
B, a ação de Harry o é. 1550 faz A mais próximo do que B de nossa (
compreensão normal da frase. Assim, se pressionados, poderíamos estar (
propensos a dizer que A é um caso em que seda verdadeiro dizer ''John (
disparou uma arma em Harry." O caso B, entretanto, est:i do Jonge de (
nossa compreensão prototípica de dispa rar que, provavelmente, podería- (
mos nos recusar a dizer que foi verdade que "John disp;uou uma arma cm (
Harry." Porém, também não dirÍflmos que a frase é falsa, uma vez (JueJohn (
foi fundamentalmente responsável pelo tiro. Em lugar disso, poderíamos (
querer explicar a situação e não apenas responder "Verdadeiro" ou "Fal- (
so". Isso é o que acontece habitualmente quando nossa compreensão dos (
(
(
273
{
,"'
. >
eventos não se adequa fi nossa compreensão normal de uma frase em
r') função de qualquer desvio do protótipo.

"
( p
(')
Podemos resumir os resultados desta seção da seguinte fo rma:

(g 1. Compreender uma frase como verebdeira em uma determinada


(1 simação exige a compreensão da frase e também a compreensão

, da situação.
( ,!;o'
2. Compreendemos uma fmse como verdadeira quando nossa COIll-
e; preensão dela corresponder O máximo possível a nossa com-
()
preensão da situação.
(~
'% 3. Compreender um:!. dt:tcrmin:tc!a situação ele fo rma quê ela pOSS:l
( >
"' se :tdequar a nossa compreensão de uma fra se pode requerer:
( .,'"
( ') a. Projetar uma orientação sobre algo que não possui qualquer
( :" - - - - - - - - - - -orientaçàõ-inerefite (pOr"exemplo, ver a montanna como se
tivesse uma frem e)
( )
( ). b. Projetar uma estrutura de entidade sobre algo que não é
( ') delimit:tdo claramente (por exemplo, o nevoeiro, a montanha)
( ") c. Prover um pano de fundo cm termos do qual a [ruse f:tç:"1
sentido, isto é, recorrer a uma gplnli experiencial (por exemplo,
( )
(J Al1RAn EJ,i ALGU~M. ATUAR EM UM NÚMERO DE CIRCO) e

(
"-~ coml>reender a situação em termos dessa b""rlalJ
-

( ') d. Conseguir um:! compreensão "normal" da frase em termos

(
( _~
~
, de suas categorias (por e.xcmplo, AMIA, DISPARAR), definidas
po r protótipo e tentar compreender a siruação em termos
dessas mesmas categorias
Ct)

274
<

o qllt i !lectIJ/in'o para qlle Jt (ofllprelllda


m!f(1 metáfora (o/lt't1Iciolfal como L'erd(l(/rim?

Vimos o que está envolvido na compreensão de uma frase simples


(sem mClMoQ) como vcrebdcira. Agor:t, (lucremos propor :l hipótese de
que, fund:uncntalrncnlc. compreendemos uma mct:irora convencional
como verdadeira, segundo os mesmos procedimemos. Considere uma frase
como "A in(1ação subiu". Compreender uma siumção na qu:!.1 essa fr:tse
possa ser verdadeira envolve duas proicções. Precisamos selecionar in sti'tn·
cias de inflação c consideri-Ias como uma substância que pockmos quan-
tificar c, em conscqüê.nci:t disso, ver c rescer. Além disso, devemos projetar
um:'! orientação PARA Cll'llA sobre o crescimento. Essas duas proicções
constituem dU:ls metMoras convencionais: lNFLAÇAO Ê Ul\IASUI3STÀNCIA
(Uma metáfora ontológica) e MAIS E PARA CU.IA (uma melá fora orientacio-
- - - - nal). H á lima diferença importante entre as projeçõcs utilizadas neste caso,
e no caso apresentado acima, quer dizer "A neblina está em freme :'t
montanha". No caso da lIeblill(l, estamos compreendendo algo físico (a
neblina) a partir do modelo de alguma outra coisa fisica, porém, delineada
mais dar:uncnre - um o bjeto flsico com rronteims. No caso de tlll jnmk,
estamos compreendendo a orienraç:io física da montanha em termos de
uma OUlrn orien'rnção fisica - a de nossos corpos. Em ambos os casos, nós
estamos entendendo alguma coisa fisica cm termos de alguma OIIlm (oúa
'lue IlJnJbé!1le fisica. Em outras palavras, eSla mos compreendendo llrna coisa
em termos de outra coisa d(l ",nll/a npérie. Mas na medfor:! convencio nal
compreendemos uma coisa em termos de outra coisa de ""/(1 npirie dijtrrlllt.
Em "A inflação subiu", por exemplo, compreendemos úiflo(ão (que é
abstrata) em lermos de uma subsl'flncia física e compreendemos um
aumentO de inflação (que também é abstrato) em termos de uma orienmção

f
275
fisica (para cima). A única diferença consiste cm ver se nossa projcção
envolve ou não aJ m CJIJJaJ espécies de coisas ou difercllleJcspécics de coisas.

Ao compreendermos como vcrdadeir:a uma frase como "/\ inflação


subiu", fazemos o seguin te:

I. Compreendemos a fill/arrio por proJeção metafórica de duas


forma s:
a. Vemos a inflação como uma SUI3STÃNCIA (via uma Illct'áfora
ontológica)
b. Vemos MAIS com orientação PARA CTh11\ (via uma metáfora
o rientacio nal)
2. Compreendemos a frase em termos dessas dua s met:íforns.

3. Isso ll OS perlll ~te ~~eq~~r f!0ss~_ c2E1P'~e,:ns~p da !.!:?_~e_ ~ I]~)SS!I..


compreensão da siruaçio.

A ~si m , a compreensão da verdade em termos de projeção metafórica


não é essencialmente diferente da compreensão da verdade cm termos de
projeção não metafórica. A única diferença é que a projeção meL,fórica
envo[ve a compreensão de uma espécie de coisa cm termos de uma coisa
de omra espécie. Isto é. a projeção metafórica envolve duas espécies
diferentes de coisas, enquanto a projcção não metafórica envolve apenas
uma espécie.

o mesmo se mantém para as metáforas estnlturais. Considere urna


frase como "John defendeu sua posição na discussão". Conforme j~ vimos,
a discussão estnltura-se parcialmente cm termos dagulalt da GUERRA, cm
virtude da metáfora DISCUSSÃO É GUERRA. Na medida cm {Iue discussão

276
,
(
(
(
é um tipo de experiência metafóriC:l estruturada pc.la metáfora conyenciooal (
DISCUSSAO I~ GUERRA, segue·se que uma situ::tção n:1 qual há uma discussão (
pode ser compreendida nesses rermos met:1fÓricos. Nossa compreensão (
de uma situação de discussão envolver{i vê-la sirnultaneamente l::trrto em (
termos da g(lfalt da CONVERSA, qllílnlO díl gesla!' da GUERRf\. Se nossa (
compreensão da situação fOf tal que uma parte da convers::t corresponda a (
uma defesa bem sucedid::t na gulall da GUERnA, então nossa compreensão (
da rra se corresponder{i ii. nossa compreensão da situação e consideraremos (
a rrase verdadeira. (

T:mto no c::tso metarórico como no não metarórico, nOS5:l com- (

preensão de lIm:l verdade d epende de nossa com preensão d:l situação. Jí (

que a metHora é conceptual por natureza e não "um:} questão apenas de (

linguagem", é natural para nós concepllralizarmos as situações em termos (


metarÓricos. Porque podemos cÕI1Cel)'ttralizar silllflçiicl em termos mctaró- (

ricos, é possívc.l consider.tr frases c[ue contenham met{iforas eomo adequa- (

das :'r.s situações con forme as conceptualizamos. (


(
(
De que jOn//r1 (OfllprcmtlefllOJ (amo verdadeiral llJ !J1cltijoms I/OI/{Il?
(
(
Acabamos de ver que metHoras convencio nais adequam-se :'r. nossa
(
explicação de verdade da mesma maneira que as frases não metafóricas o
(
fazem. Em ambos os casos, compreender uma frase como verdadeira em
(
uma dada situação envolve adequar nossa compreensão da frase ii. nossa
(
compreensão da situação. Uma vez que nossa compreensão da situação
(
pode envolver a metHora convencional, as frases com metáforas conven-
(
cionais nio apresentam problemas especiais para nossa explicação de
(
(
(
(
277
(
verdade. lsso sugere que :t meSIl):'I explicação de verdade poderia ser
aplicada par:. metáforns novas ou não convencionais.

Para verificar isso, consideremos duas metáforas que se relacionam


cntre si, uma convencional e outra nao convencional:
)
) Come-me II hiJlória dI! SUl! vil/t,. (convencional)

A vida ~ ". urna fábula contada por um idiota, reptem de som e fúria, sem nenhum sentido.
( j
(nik> convtJ>Cional)
()
()
Comecemos pela frase "COlHe-me a hisró[ia de sua vida", que
()
contém a metMor:! convencional VlDA t Ur,[i\ HISTÓ1UA. Essa é uma
<) metáfora profundamente enraizada em nossa cultul1l. Presume-se que a
( ) vida de tOdas as pessoas seja estrulur:lda como uma história e que tocla a
r}
tradição biográfica c autobiográfica esteja baseada nessa presunção. Supo-
()
_.---- nha que alguém lhe peça para contar ahistória de sua vida. O quê você faz? _____
o Você constrói uma narrativa coereme que começa no início de sua vida e
n segue :né o presente. Normalmeme, a narrativa terá os seguintes traços:
()
('I
Particip(UlIN:
() voca e Oturas pessou que "lêm desempenhado um papel" em sua vida
n Partts:

( Ambieme, falOS signirteatiY()5. episódios e eSlados !iignifical;vos (iroclllsivc o esmdo aluai


e algllllS CS lados originais)
(.,
Etapas:
( )
Prl-comliçõts: O ombienle paro o ill(cio
<) Inicio: O eslado inicial acompanhado por episódios dentro do mesmO cenário lentpoo!l
() M~io: Os v.irios episódios e eslado$ significativos en! ordellllclllpoml sucessiva

( ) Fim,' O e.~lado aluaI.

( .,, Sequ.illcia linear:


As v.irias COIlC"Oes 1emporais elou)causais cntre ep isódios e eslados sucessivos
u
( )
( " 218

Causn!illade;
As várias relações causais e lllre os episódios e os es!~dos
FiI'alidlllJe:
M elfl; Um estado desejado (flue pode $c:r no (U[uro)
Plano: Um~ se(llIfnci3 de episódos que você illicb e que tEm urn~ conexi'io cnl,lsnl com a

mela
ou: Um evento o u conjunLO de eventos, que o r~ça atingir um e~l ;\gio significo!ivo, de
modo que você alc:mce a mela por meio de UIIUI sme de el:Jl)a$ namrnis

Essa é uma versão muito simplificada de li ma gulalJ eXperiencial


típica, capn de dar coer2nc,ia a ex periência de vi(b de uma pessoa consi-
del1lndo-a como uma HISTÓRIA. Omitimos v:í.rias complexid:lcles. como,
por exemplo, o f:l.to de cada episódio poder, em si mesmo, ser uma
subnarrauv:l coeren te com estmturn similar. Nem todas as histórias de vida
conterão codas essas dimensões cstmmrais.
- - ---;c-- - - - - - ._--_. __ .;-

Note que compreend er 5U:!. vida em termos de uma história de vida


coerente en volve ~lurnjnar <lererminados parlidprmles e parles (episódios e
estados) e ignora r ou esconder o utros. Envolve vcr sua vida em tcrmos de
t /aprl!, de COI1VCÕes ((JllJai! entre as partes e de plmlOJ engendrados para atingir
uma mela ou um conjunto d e metas. Em geral, uma hiSlóri:t de vida impõe
um:t estmturn coerente aos elementos de sua vida que são iluminados.

Se você contar essa históri:t e então disser: "Essa é a históri:t de m inh:t


vida", ved. a si m esmo legitim:tmcme rebt:tndo a verd:tde, se você de fato
vir os participantes e os eventos iluminados como os mais significativos e
se, de fato, percebê-los como encaix:tdos coerentemente na form:t especi-
ficada pela estrutura da n:lrotiva. A questão da verdade neste c:tso reside
em saber se a coerência fornecida pela narrativa combina o u nio com :t
coerência que você vê em sua vida. E é a coerência que você vê em su:t vicl:t
que dá a ela sentido e importânci:t.

279
Vamos questionar agor.! o que esd enyolYido em compreender como
verdadeir.! a metáfora n1\o convenciam I "/\ vida é ... uma fábul:1 cOOlada
por um idiota, repleta de som C fúria, sem nenhum sentido". Essa metáfora
n:io convencional evoca a metáfora convencional VIDA I~ UtvlA HISTÓRIA.
O fato mais salientc cm histórias contadas por idiotas ê que elas n:io sào
coerentes. Elas começam como se fossem histórias coerentes, com etapas,
conexões causais e finalidades gerais, mas, de repente, começam a mudar
continuamente, o que torma impossível encontrar coerência na conti nlli ~

dade ou qualquer coerência global. L ma hiStória de yida desse ripo n~o teria
qualquer eSlnuurn coerente p:ua nós e, portanto, nenhum modo de dar ãs
nossas vidas sentido ou importância. Não haveria um meio de iluminar
eventos significativos de sua vida, isto e, nfio poderia mostmf que eles
servem a uma finalidade, têm uma conexfio causal co m outrOS eventos
significativos, correspondem a etapas etc. Em uma vida compreendida
como uma fábula, os episódios "chcios de som e fúria " representariam
períodos de frenesi, de luta agoniante e talvez de violência. Em uma história
de vida típica, esses acontecimentos seriam vistos como momentos -
traumáticos, eatárticos, desastrosos ou até rel:1cionados com os momentos
mais intensos da vida . Porem, o modificador "sem nenhum sentido" nega
a importância de todas essas possibilidades, sugerindo, ao contrário, que
os episódios não podem ser vislos cm termos de conexões causais, de
finalidades, ou de etapas identificáveis cm algum todo coerente.
Se, de fato, vemos nossas vidas e as vidas dos Outros dessa forma, enrijo
poderiamos considemr a metáfora verdadeira. O que torna possível pam
muitos de nós vcmlOS essa metáfora como verdndeim é quc normalmente
compreendemos nossas experiências de vida cm termos da !l1c[..1fora VI DA
É UMA HISrÓ!UA. Constantemente, procuramos dar sentido a nossas vidas
por meio da busca de coerências que se encaixarão em algum tipo coerente

280
(
(
(
de história de vid:l. E constantemente contamos essas estórias e vivemos cm (
temlOS del:!s. Na medid:l cm que as circunst:lnaas de nossas vi(hs mudam, (
revisamos constantemente nossa história de vida, buscando novas coerências. (
A meLífora VlOA li ... UMA FAUULA CONTADA POR U!'IllDIOTA pode (
muito bem corresponder ii vida de pessoas cujas circl1nstâncias de vida (
mudam tão radicalmente, tão rapidamente e tão inesperadamente, que (
nenhuma história de vida coerente jamais pareça possível pam elas. (
Embora tenhamos visto <[ue cssas metHoras novas c ni'ío conven - (
cionais irão a{!:lptar-se ao que, em geral, compreendemos como verdade, (
enfatizaríamos mais uma vez que essas questões de verdade são as c]uestões (
menos relev:mtes e interessantes que surgem no estudo da metáfor:l. O (
valor rea l da metáfor:l V I DA É ... UMA FABULA CONTADA POR UM IDIOTA (
é que, ao faze r-nos tentar compreender de que form:t ela pode ser verda- (
deira, ela torn:t possível um:t nova com preensão de nossas vidas. Ela (
ilumina o fato de que constantemente agimos sob a expectativa de (
sermos capazes de encaixar nossas vidas cm alguma hi stória de vida (
coerente, mas que essa expectativa pode se r constantemente frustrad:t (
qu:mdo :ts experiências mais salientes cm noss:.s vidas, aquelas cheias (
de som c fúria, não se encaixam em qualque r conjunto coerente c, (
portanto, nada sign ifi cam. Normalmente, q\lando construímos um:'! (
história de vida, deixamos de I:ldo muitas experiências extremamente (
importantes em função da busca de coerência. O que a metáfora V1DA É ... (
Utv1A FÁBULA CONTADA POR U/IIIDIOTA faz é evocar a metáfo ra VIDA E (
UMA HISTÓ RIA, (Iue implica "iver com a expectaliva constante de encaixar (
episódios importantes cm um conjunto coerente ~ uma história de vida (
sadia. O efeito da metáfora é evocar essa expcctativa e demonstrar que, na (
realidade, ela pode ser constantemente rrustrad:l. (
(
(
(
281
(])
n
o COIIIPrtwder tlma JillfortiO: 1/111 rUI/filO

<)
Neste capímlo, desenvolvemos os elementos de um~ teoria experien-
( )
cial da verdade. Ela baseia-se na compreensão. O que é central para essa teoria
( )
é nossa análise do que significa compreender uma situação. Eis :lCJui um
n resumo do CJllC dissemos sobre o assunto até aqui:
()
('J Compreensão direta imediata
(~
d Há muims coisas que compreendemos direlamente a partir de nosso
() envolvimento 6sico direto como uma parte inseparável de nosso ambiente
() imediatO.

,'ii • &lnlhlrlJ de entidade: Compreendemos a nós mesmos como entidades


(~
, .. _- - - - _____de_ü_Oou_Ot_,_das e exe,erienciamos diretamente determinados objctos com
(':I os quais temos cantalO direto como entidades dclimitadas também.
o • EJlmlflm oritnlndonal' Compreendemos a nós mesmos e a outros
( '~ objetos como tendo certas orientações relaúvas aos ambientes em
() que agimos (para cima - para baixo, dentro - fora, frente - alrás,
('J cm cima ele - fora de etc.).
( "\',
• Dimemôu da experiência: Há dimensões da expericncia que governam
c""> nossas interações diretas com os outros e com nosso ambiente
(~ físico e culmral imedialO. Categorizamos as entidades que encon-
"
() tramos diretamente e as experiências diretas Cjue temos em termos
( ~ dessas categorias.

n • Gula/Is exptritndnir. Nossas categorias de objeto e de substância sio


<) gtJlalJs que têm, no mínimo, as seguintes dimensões: pemP/II(11, "l%m,
( ) pnrlt/ todo, jimciol/tll, in!tllciofltll Nossas categorias de ações, ativiciades,
( o-
e)
n 282
{ 't
--
("
eventos e experiêncIas dircras siio gpln/Is que têm, no mínimo, as
seguintes dimensões: pnrtitipmlftI, P(l11u, t/lividnde.r II/DI/mu, purt/J(ÕtJ, tln-
paI, Jtqiiintins lintilffl (de Jm11U), re/n(ÕtJ(tl/lJais,jinnlidndu (",t/(4p/m/oJpara

ações e ulados jinnir para eventos). Esses dementos constintcm as


dimensões narurais ele nossa experiência direta. Nem todos eles dt:-
sempenhado um papcJ em cada tipo de experiência diTem, mas, em
geral, a maioria deles desempenhará um ou outro papel.
• PaI/o di fillldo: Uma gp/ttl/ expe riencial normalmente servi rá como
um pano de fundo para a compreensão de algo que ex perienciamos
como um dos aspectos dessa gUln/l. Assim, uma pessoa ou um
objcto pode ser compreendido como um parliripm/tt cm umagtJlttlt
C uma ação pode ser compreendida como uma parle de umagptttlt.
Umagulnll pode pressupo r a presença de outra, que pode, por sua
vez, pressupor a presença de outras e assim por diante. O resultado
será normalmente uma estrutura de pano de fundo extremamente
rica, necessária para uma completa compreensão de uma determi-
nada situação. A maior parte dessa estrutura de pano de fundo
jamais será percebida , uma vez que é pressuposta na m:lior p:l rte
(bs nossas :lcividacles e experiências diárias.
• Ênfase: Comp reender uma situação como um:l insd.ncia de uma
gulall experienci:ll envolve a seleção dos dementas da situação
adequados às d imensões da gufa/I- por exemplo, seleciona r aspec-
tOS da experiência como pm1itipanfu, pariu, elaj>aJ etc. Isso ih.imin:l
aqueles aspectos da situação e atenua, ou' esconde aspectos da
situação que não correspondem àguJa/l.
• ProjJriedndeJ ln/trario!wis: As propried:ldes de um ob jeto ou evenl"O
que experienciamos diretameme silo prodlHos de nossas interações
com eles em nosso ambiente, istO é, essas propriedades podem não

""
ser iflenmles ao objeto ou a experiência, mas, ao contr:í rlo, as
propriedades i/lltrnciOl/(lit.

• Protótipoi: Cada categoria é estmturacla em termos de um protôtipo


e alguma coisa é considerada membro de lima categoria em vinude
das semelhanças de família que panilha com o protôcipo.

Compreensão indireta

Acabamos de descrever como compreendemos aspectos de \lma


situ:lção que são razoavelmente bem delineados em nossa experiênoa direta.
Porém vimos também, ao longo deste trab:llho. que muitos aspectos de nossa
experiência não podem ser delineados claramente em termos das dimensões
que emergem natlLr:tlmente de nossa experiência. Esse é normalmente o caso,
. por e~e~plo, ~hs emoções h~ma~as, dos conceit~s abstr:lto~, eh a~vídad~
mem"l, do tempo, do trabalho, das instituições hum:lnas, das pcicie:!s sociais
etc., e L1mbém dos objet"Os fisicos sem limites ou orientações inerentes.
Embora a maioria deles possa ser exprrien{jada di retameme, nenhum deles
consegue ser completamente compreendido em seus prôpnos termoS. Ao
contcirio, devcmos compreendê-los em termos de outras entidades e expe-
riências, ou seja, de outros tipoi de entidades e experiências.
Como vimos, compreender uma situação em que vemos a neblina
como estando em frcnte a momanha cxige C]llC vcj:unos a neblina e a
montanha como entidades. Exige também que projetemos sobre a montanha
a orientação fre nte - alrás. Essas projeções são construídas exatamentc no
interior de nossa percepção. Percebemos a neblina e a montanha como
entidades e percebemos a montanha como tendo uma parte frontal, com a
neblina defrome dela. A orientação frente - alr:Ís C]ue percebemos para a
montanha é obviamente uma propriedade interacional, como o ê tambêm o
ilal/li de entidades para a neblina c a montanha. Aqui temos um caso de
(
(
(

compreensão indireta, em que compreendemos um ienómeno físico em (

lumos de outro fenômeno fisico delineado mais claramente. (


(
o que fazemos na compreensão indirela é usar os recursos da com-
(
preensão di reta. No caso da neblina c da montanha, usamos urna estrutum
(
de entidade c uma cstrut\lm orientaeional. Nesse caso, permanecemos no
(
interior de um único domínio, isto é, o dos objelos físicos. Potém, a maior
parte de nossa compreensão indiret.1. envolve a compreensão de 11111 tipo de (

entidade ou experiência em termOS de 1I!Jl olllro tipo - iSlo é, a compreensão (

via mctMora. Como vimos, todos os recursos usados na compreensão dirct:' (

c imediata são mobilizados na compreensão indirCla via metáfora. (


(
• E/ln/tlim de mtit/ade: Uma estrutura de entidade e de substância (
impõe-se via metáfora ontológica. (
• EJlmlllnl OIimlrJúollal.· Uma estnJt\l(a orientacional impõe-se vIa (
medfora orientacion~ L !. (
• Dill/Cl/sõeJ drl v..pen'éllda: A melâfora estrutural envolve :1 estrutura- (
ção de um tipo de objelo ou experiência em termos de outro tipo, (
mas, cm ambas, usam-se as mesmas dimensões nam rais da expe- (
riência (por exemplo, parlu, c/aprlJ, fi1ll1/idm/es elc.) (
• GeslrtllJ expellena(lÍJ: A metáfora estrutural envolve a imposição de (
parte de UIll:'L cSl.ruLlIragtJlríllim:l outr:1. (

• P(lno defimdo,' AsgesM//experenciais desempenham o papel de pano (


de fundo na compreensão metafórica, exatamentc como o fazem (
na compreensi'io não mctafórica. (
• 1!!.lIfau,' A ênfase metafórica funcio na segundo o mcsmo mecanis- (
mo das gesta/ts metafóricas, isto é, agn/a/I experiencial que é aplicada (

ii. situação via metáfora sclccion:1 elementos da simação eJlJc se (


encaixam cm suas dimensões - scleciona seus próprios particip:m- (
(
(
285 (
U
<.)
(J tes, suas partes, suas etapas etc. Esses são os elementos que a
( j m etMora ilumina, subestimando ou escondendo outros.
( ~ • Na medida em (!ue as metáforas iluminam coisas que no rmalmente
( ) não são iluminadas em noss:l. estmtura conceptual normal, elas se
<) tornam os exemplos de ênfase mais celebrados.
() • Propdedtulu ll1lmuio1lmJ: Todas as dimensões de nossa experiência
\-1 são, por natureza, interacionais e todas as gula/Is experienciais
(,) e nvolvem propriedades imer:l.cionais. Isso se aplica tanto aos con-
() ceitos met'aróricos, quanto aos não metaróricos.
<..1 • ProlÓlipos: T anto as categorias metafóricas quanto as não metafóri-
(.) cas estmturam-se em termos de protótipos.
U
( ~~ A verdade está baseada na compreensão
( , ,
_0"_ _ 1_ _ _ _-;-;,--_ _ - ---c-
() I Vimos que os mesmos oito aspectos de nosso sistema conceptu:t1
() que interferem na compreensão imediata dircta de uma situação desempc.
(j nham papéis paralelos na cpmpreensão indireta. Esses aspectos de nosso
sistema conceptual normal são usados se compreendemos uma sinmção cm
termos metafó ricos ou não metafóricos. É porque compreendemos as silllllçW

(.~ cm termos d e nosso sistema conceptual <]ue podemos compreender as tifimJafiits


(,) usando :tquc1e sistema d e co nceitos co mo tvrladtirrJ, isto é, adequado ou não à
() sinlação co mo a compreendemos. A verdade é. portanto, uma função de nosso
sistema conceptual. É porque muitos de nossos conceitos são m ct:lfócicos por
n:lnucza e porque co mpreendemos as siru:lçõcs em terulOS desses conceitos
( ,® que as metáforas podem ser verdadeiras ou falsas.
( ,

( ':,

{J
(

(A 286
( ~,

( "",
A natllftZtJ da explicação experimtialú/a da verdade

Comprc~l\demos um3 afirmação como verdatleirn em unm determil\ad~ si tuaç ão quando


nossa compreens~o tlessa afirmação corresponde, de modo sufic icntmente preciso, 11 nossa
compreensão da situação ellt função de nossos objetivos.

Essa é a base de nossa teoria cxperieneialista da verdade, que tem as


seguintes e:l.racterísticas.
Em primeiro lugar, nossa teoria tem alguns elementos em eomum
com a teoria da romsp(mdêntia. De acordo com a mais rudimentar visão dessa
teoria, uma afirmação tem um sentido objeuvo que especifica as condições
nas gUlis ela é verdadeira. A verdade consiste numa ad':.'1uação direm (ou
correspondência) entre uma afirmação c um estado de coisas no mundo.

Não aceitamos um quadro tão simplista, principalmente porque ele


ignora o fato de :l verdade ser baseada na compreensão. A vis!lo expe ri en ~
- - -- ---_._-- -_. ------ --
----------~- _ .

cialista que propomos é um:"! teori:"! da correspondência no seguinte sentido:

Umn tcoria tia verdade 6 uma teoria do qu e significa compreemler uma nfinnnçHo como
verdadeira ou falsa em uma determinada situaç30.
A correspo ndênci a entre o que diurnos e um eSMdo Ile coisas no lTlundo é sempre mediada
por nossa compree nsão tlessa afirmação e do estado de cois.1s. Natumhnente, nossa
compreensão da silllação resulta de nossa int~raç30 com a si tu ação elo si. Porém, somos
capuzes de produzi r afinnnções verdadeiras (ou falsas) sobr~ o mundo porque é possível
nossa compreemiio da ajimmção adequar-se (ou n~o) à nossa cOll1preenJão da Jrwaçi!o
na qual eb é produzida.
Na medida em que compreendemos as situ ações e afirmações em termos de nosso sistema
conceptual, ii verdade par.! nós é sempre relativa a esse sistema conceptua l. Da mesma
fonn a,já que essa compreensão é sempre parcial, n~o (emos acesso ii ·'toda verdade" ou
ii uma explicação definitiva da realidade.

287
Em segundo lugar, compreender <lua!(lller coisa exige que :1 encaixe-
mos em um esquema coerente, relativo a um sistema conceptual. Assim a
verdade dependerá sempre parcialmente da coerência. Isso nos dá os elemen-
tos de uma leoni, da fotri"ri(l.
Em terceiro lugar, a compreensão exige tamocm wna base na experiência.
Sob o p(~nto de vista expericncialista, nosso sistema co nceptual emerge de nosso
agir eonstantc c bem succ<lido em nosso ambiente fisico e culturnl. Nossas
categorias de experiência c as dimensões a partir das quais siio eonsuuidas niio
apenas emergem de nossa c.\-pcriência, mas cst:lo sendo constantemente testadas
po r meio do agir continuo c bem sucedido de todos os membros de nossa cultura.
Isso nos fornece os elementos de uma !eOli" pnlg!l/(Ílim.
Em quarto lug:lr, a teoria expericncialist:\ da ve[d:ldc tem alguns
clementos em comum com O realismo clássico, mas eles n:io incluem sua
i~~ is_tê_n-,~a na verdade absoluta. Ao contrário, na teoria exppicrycialisL"l,
considera-se como um dado q ue:

o mundo tisico f o que é. As culturas são o que são. As pessoas S.10 O que são.
As pesso.u imcragcm. com sucesso, com seu ambiemc físico e cultUr.ll. Elas estlio
COlIswJltcmcnle interagindo com o mundo real.
A categori1..1ção humana f restringida peln real id<lde. ua medida cm qlle ela é c ~ractcri7~1da
em termos das dimensões naturais da c.lpcriência que s30 COll5tanternente testad as por
meio da inter.Jção Ilsica e cu ltural.
O reali srnoelfiss icu apega-se mais ~ realidade Ilsic:1 do que 11 renlidade cultural ou pessoal.
Porém. as instituições soci ai s, política.... económicas e religios.u e os seres humanos que
atu;ln\ 00 interior delas 1130 sàO HlWOS reais do que as árvores.. as mC$asou as pcdro$. Na
medida em que nossa explicaç50 de realidade relacion~· se tanlo à rcalidade soc ial e pessoal
como 11 rcalidade Ilsica. pode-seconsider:l- Ia uma lcnlaliv<I deexlenslio da U<ldição realista.
" teoria cx l)Crienciatista difere do re:llismo el:issico objetivo basicamente 00 segu inte: Os
conecitos IIUrHanos não correspondem:'ls propriedades inerentes dos objetos. mas apenas
11$ propriedades intcr.lcionais. Isso é nalur;J!. uma vez 'll'e OS conceitos podem ser
1I)ClafóricQs por nalUrez,1 e podem ser diren:ntes de cultura p:Im eultur:J..

288
(
(
(

Em cluimo lugar, as pessoas, com sistemas conceptuais muito diferen- (


tes do nosso, podem compreender o mundo de uma maneir.lmuitodi ferente (

da nossa. Assim, elas podem ler um corpo de verdades muito diferente do l


que temos e afê critérios diferentes para verdade e realidade. (
A partir dess a descrição, deveria ser óbvio que não h~ nada de (
radicalmente novo com relação à nossa concepção de ve rdade. Ela inclui (
alguns dos inJighlJeenuais da tradição fenomenológica, como por exemplo, (
a rejeição do fundacionismo epistemológico, a ênfase na centralidade do (

corpo na estruturação de nossa experiência e a irpponància dessa estrunlra (

na com preensão. Nosso ponto de vista coincide também com alguns dos (

dementos chave da filosofia posrerior de Witt"genslein: a explicação cb (

categorização por semelhança de fam ília, a rejeição de uma teoria do sentido (

como imagem, a rejeição de uma teoria componeneial do semido c a ênfase (

no sentido como relativo ao contexto e ao sistema conceptual da pessoa . . (


(
(
Elc",mlo! da (o",prrcIIJão hfl!llfllta lia! leon"flJ dfl "verdade objeti/lll"

Uma teoria da verdade {Iue se baseie na co mpreensão não ê, óbvia- (


mente, uma teoria da "verdade puramente objetiva". Não acreditamos que (
exista uma verdade absoluta e pensamos ser desnecessário tentar oferecer (
uma teoria dela. Entrel:l.IllO, é tradicional na filosofia ocidental assumir qtle (
a verdade absoluta ê possível e empenhar-se em dar uma explicação deb . (
Gostaríamos de expucitar de (Iue maneira as abordagens con temporâ neas (
mais importantes do problema assentam-se em aspectos da compreensão (
humana que declaram excluir. (
o caso mais óbvio é a explicação da ve rdade dada sob a óUca das (

concepções de modelos teóricos, como, por exem plo, as que se fizeram (

nas tradições de Kripke c de Mon tague. Os modelos siio constnlídos cm (


(
(
289 (
''j)
....;::.,
:!..~

<~ um Universo de discurso considerado um conjunto de Ultidndes. Com


"
~ relação a esse conjunto de entidades, podemos definir estados de mundo
~"
§ nos guais LOdas as prop riedades inerentes às çntidades e SWIS rcbções entre
') si siio especificndas. O conceito de estado de mundo é tido como suficien-
~ temente geral para se aplicar a qua]<]uer situação concebível, inclusive ao
]) mundo real. Em um sistema como esse, frases como "A neblina está em
1) freIHe à montanha" não apreselltariam problema algum, pois haveria
') uma entidade correspondente à mblina e uma entidade correspondente

'~$
'"" fi flfOlIIflllha, c uma relação em frente (J relacionando as duas entidades.
Porém, esses modelos não correspondem ao mundo em si, livre da
' 11 compreensão humana, pe is, no mundo, não há entidades bem definidas
,, ~ . ,~

correspondentes'; /lJollf(ltlha e ti mblif/(l e não há qualquer em frente a


, "';1;
:' inerente à mont:mha. A estrutura de entidade e a orientação fren te-atrás
(1 são impostas em virtude da compreensão humana. Qualquer tentativa- - - -
nc, de dar uma explicação i verdade de "A neblina está em frente à
t
(
(
" .~

-~:
iI montanha" em termos de modelos teóricos não será uma explicação da
verdade oljetiva, (lbIo/lI/a, pois ela envolve a inclusão de elementos da
compreensão humana nos modelos .
C".-
(
., o mesmo pode ser dito sobre as tentativas de fornecer uma teoria
da verdade que conside re as restrições da clássica definição de verdade
( 'r:~
,
"~ de Tarsk.i:
( ~

() ··S·· t verdadei ro se e ape nas se S ..


~~
(
( 'i}
(
.., C"
o u versões mais amais, como:

"S" é verdadeiro se e apenas sep . .(ondep é uma afinnação em alguma linguagem lógica
( 9 aplicável unlversalmellle)
( "1)
( ')
(l~
» 290
"::"
( !)
~
o protótipo par:l tais tcorias, ê o conhecido exemplo
"A neve é br:mcn" é verdadeiro se e apenas se a neve for bra'lCa.

parece bastante r:lzoável, jâ que poderi:.. sec efetivamcnte considerndo que,


em um sentido, a neve fosse objetivamcnte identificada e que da fosse
inerentemente branca. Nfas, se tivermos:

"A neblina eSl3 em rrenle 11 lTIO'lIanha" é verdlldeira se e apenas se a neblina ICSliver em


freme ii mOIll~nh~.

Na medida em que o mundo oito contém as entidades neblina e


montanha, de m:..oeira claramente identificáveis, e na medida em que
montanh:as não têm frentes ineremes, a teori:t somente pode funcionar se
ela incluir a compreensão hum:tn:t do que é a frente pam uma mon tanha
:tssim como uma delimiL1çi'ío de nebhiw e IIIonlall!J(/. O problema é mais
inuigante aind:l, pois nem todos os seres humanos têm a mesma maneir:a
de projetar frentes em montanhas. Aqui alguns elementos d:l compreensão
humana devem ser incluídos par:l fazer a definição de verd:lde funcion:tr.

Hã outra diferença import:mte entre noss:t explicação de verdade em


termos da compreensão e as lem:ttivas trndicionais de explicar a verdade,
livres eb compreensão hum:lna. As diferentes explic:lções de verd:lde dão
origem às diferentes explicações de sentido. Para nós, o sentido depende
d3 compreensão. Um:t frase não pode significar nada para " ocê :l menos
que você a compreenda. E rmis, o sentido é sempre o sentido pflm fllgllim.
Não há tal coisa como o sentido de uma rmse em si mesmo, independente
de <lua!que r pessO:l. Quando f:tlamos em sentido de uma fr:'lse, é sempre o
sentido da frase para alguém, uma pessoa rcal ou um membro hipotético
típico de uma comunidade discursiva.

291
Nesse ponto nossa teoria difere radicalmente das teorias tradicionais
a respeito do sentido, que postulam ser possivel dar uma explicação da
verdade cm si mesma, livre da compreensão humana, c fundamentam suas
tcorias do sentido nessa concepção da verdade. N:io vemos possibilidade
de um programa como esse fllndonar c pensamos que a (mica respoSta é
basear tantO a tcoria do sentido como a teoria da verdade na teoria da
compreensão. A metáfora, tanto a convencional como a não convencional,
desempenha um papel cenlral cm lal programa. Ela é um mecanjsmo
essencial da compreensão c tcm pOllCO ou nada ::a vcr com a realidade
objctiva, se é que tal coisa existe. O fato de nosso sistema concerrual ser
inerentemente metafórico, o fato de compreendermos o mundo, de pen-
sarmos e de agirmos em termos metafóricos e o faLO de as met:íforas não
poderem ser simplesmente compreendidas, mas também poderem ser
significativas e verdadeir:l.S ....: todos esses f:l.tos sugerem que uma teoria - --
aclccluada do sentido e da verdade só pode ser baseacl:t na compreensão.

292
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
25. Os MIras DO OBJE7TVISMO E DO SUDJE1TV1SMO (
(
(
(
(
AI OpçMJ oftrrddaJ pt/a nO$1(1 mllflm (
(
Demos uma explicação do m odo como a verdade está funda mcmad:J.
(
na compreensão. Argumentamos <luc a verdade é sempre relativa a um
(
sistema conceptual , que qU:lklucr sistema conccpm al humano é, cm grande
(
parte, metafórico pornaturcza c, p onamo, que não há vcrd:ldc inteiramente
(
objctiva, incondi çioll:-tl ou absoluta. Para muitas pessoas cri:ldas na cultura
(
cicntilic:l Otl cm outras subculturas cm que a ve rdade absoluta é aceita sem
(
qucsuon;llnemo, essa vis:i.o parecerá uma vol la :i. subjetividade c :1 arbitra-
(
riedade- remetendo-nos ii noçãoclc Humpty D umpty, segundo a qual uma
(
coisa significa "cx:ttamCIllC o que eu (lucro que ela signifique, nem m:üs
(
nem menos", Pela mesma r.l.zão, :lCluclcs que se identificam com a tradição
(
rom~ntica podem considera r qllalqller vitória sobre o objctivismo como
(
(
(
293 (
um triunfo d:l imaginação sobre a ~iência - um uiunfo da visão segundo a
qual cada indivíduo cria sua própria realidade, sem qualquer restrição.

Essas duas visões seriam um ma! entendido baseado na assllnção


culnlral equivocada de (lue a única alternativa ao objetivismo ê a subjetivi-
dade radical - isto é, o u se ac redita na verdade absoluta ou se cria o mundo
à sua própria imagem. Se voce não está sendo objetivista, você estâ sendo
subjetivista e não há uma terceira via. Consider:1mos que o que estamos
propondo é uma terceira opção aos mitos do objetivismo c eio subjetivismo,
('1; A propósito, não estamos usando o termo "mito" em nenhum sentido

(J pejorativo. Os mitos oferecem-nos maneiras de compreendennos a expe-

(
--,
j>'
riência; eles organizam nossas vidas. Como as metáforas, os mitos são
,~ necessários para fazer sentido do que se passa ao nosso redor. Todas as
( .i;'!
culturas têm mitos e as pessoas não podem viver sem des assim como não
C'1) podem viver sem a metâfo ra. E assim como consideramos freqüentemente
( '"j
_ as metáforas de nossa cultura como verdades, do mesmo modo t:lmbém _
(~~-I
consideramos freqüente mente os mitos de nossa cultura como verdades.
D esse modo, o mito do objetivismo é parúcu!:'trmeme insidioso. Não somen-
--;,
C. te ele pretende não ser um mito, como também de rebaixa e menospreza os
(} mitos e as metáforas: segundo o mito do objetivismo,os mitos e as medforas
não podem ser levados a sério, pois eles não são objetivamenre verdadeiros.
O
( ') Como veremos, o mito do objetivismo não é em si mesmo objetivamenre
verdadeiro. Mas isso não deve tomá-lo alvo do desprezo e do ridículo. O
("8
miro do objetivismo faz p:ute da vida cotidiana de cada membro da nossa
(') cultura. Ele deve ser examinado e compreendido. Pensamos também que ele
() deve ser sllplememado niio pelo seu oposto, o miro do subjetivismo, mas
('} po r um novo mito experiencialista, o qual nos parece corresponder melhor
(") às realidades de nossa experiência. Para deixar mais claro como seria a
( 1, alternativ:t experienciaJista, precisamos examinar em det.'llhe, primeiramente,
f ~,

C,
( i" os miras do objetivisrno e do sllbjetivismo.

()
(~ 294
(
( -
o nú/o do oijttiltisnJo
o mito do objecivismo diz (Iuc:
1. O mundo ê constituído por objetos. Eles têm propriedades
independentes de quaisquer pessoas ou outrOS seres que os
experienciem. T omemos, por exemplo, um rochedo. Ele é um
objeto separado c é duro. Mesmo se não existissem no universo
Outras pessoas ou outros seres vivos, ainda assim ele seria um
objeto separado e ainda seria duro.
2. Adquirimos nosso conhecimento do mundo expcrienciando os
objcros e chegando a saber que pr?priedades os objctos têm e como
des se relacionam entre si. Por exemplo, nós nos damos COnta de
que uma pedra constimi um objeto separado olhando*a, sentindo-a,
deslocando-:'I etc. Descobrimos que ela é dum ao tod-la, ao tent:'lr
- :i-pená-Ia, ao chut:í-l~;o jÕg.í-Iãconm :t1go mâis m:'lcio elc.
3. Compreendemos os objelOs de nosso mundo em lennos de
categorias e de conceitos. Essas categorias c conceitos correspon-
dem :is propriedades que os objcros têm em si mesmos (ineren-
temente) e às relações entre eles. Assim, temos a palavra "pedra"
que corresponde ao conceito PEDRA. Diante de uma pedra,
podemos dizer que ela está na categoria PEDRA e que um piano,
uma árvore, 0\1 um tigre não est:uiam. Nessa categoria, as pedras
têm propriedades inerentes independentes _de quaisclucr seres: das
silo sólidas, duras, densas, encontram-se na natureza etc. Compreen-
demos O que é uma "pedra" em tconos dessas propriedades.
4. Há uma reali(bde objetiva e podemos dizer coisas que são
objetivamente, abso!lltamente e incondicionalmente verdadcir:lS
e falsas sobre ela. Mas, como seres humanos, estamos sujeitos a

295
erros, ism é, a ilusões, a erros de percepção, a erros de julg:mlcnto,
a emoções e viêses pessoais e culturais. Não podemos confiar
nos julgamentos subjetivos dos indivíduos . A ciêncifl nos oferece
Utnfl metodologifl que nos permite ultmpassar nossas limitações
subjetivas c atingir fi cOlllprecns~o fi partir de um pontO de viwl
universalmente vâlido e despro"ido de viés. A ciênci:l pode, cm
últi11l:l instância, dar-nos um:l explicação correta, dcfinitiv:l e geral
da realidade e, graças a essa metodologia, ela progride continua-
mente em direção a esse objetivo.
5. As palavras têm significados fixos, isto é, nossa linguagem ex-
pressa os conceitos e as categorias em termos dos quais pensa-
mos. Pam descrever a realidade corretamente, preci samos de
palavras cujos significados sejam claros c precisos, palavras que
_~correspondam _à rça!.idade. Essas palavras podem surgir natuml-
mente, ali podem ser termos técnicos de uma leoria cientifica.
6. As I>cSSO:lS podem ser objetins e podem falar objetinmente, mflS
SÓ O conseguem se utilizarem uma linguagem que seja clara e

precisamente definida, direta e sem flmbigüidade e que corresponda


à realidade. Someme falando desse modo, as pessoas podem se
comunicar com precisão sobre o mundo externo c fazer declarações
que podem ser objetivamente verdadeiras ou falsas.
7. A metáfora e os outros tipos de linguagem poétiC:l, imagin:ath':l,
retónc:a ou figurada podem sempre ser evil:ldos ao se f:t!;Jr objetiv:a-
mente, e deveriam scr evitados, pois seus significados não são claros
nem precisos e não correspondem de um modo claro à realidade.
8. Scr objclivo é geralmcnte uma coisa boa. Somente o saber
objetivo é realmente um saber. Somcntc sob lHll:a perspectiva
objetiva e incondicional podemos de fato compreender nós

296
(
(
(
mesmos, os OUlroS e o mundo externo. A objelividade permite-
(
nos ultrapassar preconceitos pessoais e viéses, sermos justos c
(
termos um ponto de vista sobre o mundo desprovido de viés.
(
9. Ser objelÍvo é ser meional; ser subjetivo ê ser irracional e se deixar
(
dominar pelas emoções.
(
10. A subjetividade pode ser perigosa, pois ela pode provocar uma (
perda de contam com a realidade. A subjetividade pode ser
injusta, urna vez que adota um ponto de vista pessoal e, portanto, {
enviesado. J\ subjeti\'idade é complacente, pois ela exagera a (
importância do indivíduo. (

(
o mito do J//ljefilll!!lJo (
(
Q mito do subjetivismo diz que:
(
(
1. N a maioria de nossas atividades pdtieas di:írias, dependemos de
(
nossos sentidos e desenvolvemos intuições nas quais confiamos.
(
Quando surgem questõcs importantes, não importa ° '1ue os
(
OUlrOS possam dizer, nossos próprios sentidos e nossa intuição
(
são nossos melhores guias pam a ação.
(
2. As coisas mais impo rtantes em nossa vidas são nossos sentimen-
(
tos, a sensibilidade estética, as prâticas morais e a conscicnda
(
espiritual. Eles são pur:lmente subjetivos. Nenhum deles é pu ra-
(
mente rncional ou objetivo.
(
3. A arte e a poesia transcendem a racionalidade e a objetividade c
(
colocam-nos em conrato com a realidade m:lis importante de
(
nossos sentimentos e iuttliçõcs. Alcançamos essa conscicncia
(
mais pela imaginação do que pela razão.
(
(
297 (
(
,
')
") 4. A linguagem da imaginação, especialmente a metáfol1l. , ê neces-
! sária para expressar .os aspectos de nossa experiência que são
'} únicos e mais significativos p:lrn. nós. No que diz respeito li

(~ compreensão pessoal, os significados ordinários das palavras,


-~
,. baseados no senso comum, não são suficientes.

I 'b 5. A objcuvidadc pode ser perigosa, porque lhe escapa o que é mais
(; significaúvo e importante para os indivíduos. A objctividade

() pode ser injusta, porque da deve ignorar os domínios mais


c''''') relevantes de nossa expeciênda a favor do abstrato, do universal
1
() e do impessoal. Pela mesma razão, a objctividadc pode ser

(
"
, deSllmana. Não existem meios objecivos e raciortais para com-
preender nossos sentimentos, nossa sensibilidade estética etc. A
I
()
( ') ciência não tem qualquer utilidade quando se trata das coisas mais
1
importantes em nossas vidas.
( '}

('1
Medo da metáfora
-I
($
( ~.
•> o objetivismo e o subjetivismo precisam um do ou [[O para existir .
1
(') C:lda um se define po r oposição ao outro e vê o outro como inim igo. O
() objetivismo tem po r aliadas a verdade científica, a racionalidade, a precisão,
1
(y a justiça e a imparcialidade. O subjetivismo tem por aliados as emoções, o
(~ conhecimento intuitivo, a imaginação, os sentimentos humanos, a arte, bem
(, como uma verdade "mais alta". Cada um deles é mestre em seu próprio
1

·"e
( y domínio e vê seu domínio como superior ao outro. Eles coexistem, mas
( -"~ em domínios separados. Cada um de nós tem um domínio em sua.vida em
I
( que é apropriado ser objetivo e um domínio e m que é apropriado ser

(~ subjetivo. As porções de nossas vidas govemadas pelo objetivismo e pelo


( ,
..~ subjetivismo variam muito de pessoa para pessoa e de cultura para cultura.

(
,
.>
n
I" 2')8
-,
( l'
(~ II
Alguns de nós tentamos até viver nossas vidas intei ras totalmente sob um
mito ou o outro.
Na culnua ocidental como um todo, o objetivismo é, de longe, o mais
poderoso, pretendendo reger, ao menos nominalmente, os domfnios da
ciência, da lei, do governo, do jornalismo, da mOf:lli(bdc, dos negócios, ela
economia e do saber. Mas como argumentamos, o objctivismo é um mito.
Desde a :mtigilidade grega existe na cultura ocidental uma tensão
entre, de um lado, a verdade e, ele outrO, a arte, sendo a :lrte vista como
uma ilusão e aliada, por meio da sua ligação com a poesia t o teatro, :i.
tradição da arte oratória pública e persuasiva. Piado viu a poesia e a retórica
com suspeita e baniu a poesia de sua utópica Republica porque ela nilo
oferece nenhuma verdade por si mesma, atiça as emoções e, desse modo,
cega a espécie humana para a verdade real. Platão, como é úpico dos
I_~~~ce='o,,,-ri,,-
t ,ores Rersu~~vo~mostra que a :::.er~lad e é absoluta e a arte. ,:,era~são
pelo uso de um instmmento retórico poderoso, sua Alegoria da Caverna.
Até os dias atuais, suas metáforas dominam a filosofia ociden tal, oferecen-
do uma formulação sutil e elegante para sua visão de que a verdade é
absoluta. Aristóteles, por outro belo, atribui um valor positivo ii. poesia: "É
uma grande coisa, de fato, fazer uso adequado das formas poéticas,... Mas
o mais importante, de longe, é ser um mestre da medfora". (poética 1459a);
"as palavras comuns transmitem somente o que já sabemos ; é peJa metáfora
que podemos melhor produzir algo novo" (Retórica 1410b).
Mas, embora a teoria de Aristóteles sobre o funcion amento das
metáforas seja o fundamento da teoriacJássica da metáfora, sua formulação
sobre a capacidade de a metáfora produzir ~onb ecimcnto nunca foi reto-
rnada no pensamento filosófico moderno. Com o surgimento da ciência
empírica como um modelo de verdade, a suspeita em relação :1 poesia e ii.
retórica dominou o pensamento ocidental, e:). medfora e os outros recursos

299
figurados tomaram-se novamente objero de menosprezo. Hobbes, por
exemplo, acha as metáforas absurdas e um mal entendido emocional; e\o.s
são "igllU f(/Ilfi'~' c rnciocinar com base nelas é perder-se entre absurdos
inumernveis; e seu fim, conflitOs, discórdia e desprezo" (Leviathan, p:lrt'e
1, cap. 5). Hobbes acha absurdo "o li SO da metáfora, dos tropas e de outras
figuras de retó rica em lugar das palavr:ts no sentido próprio. Jsso porque,
embora seja legítimo dizer, na linS'lagem comum, "o eaminho vai" ou
"co ndu za aqui e 1:1", "o p rovérbio diz isto ou aquilo", cmbOr:t caminhos
não possam ir, nem provêrbios falar; tais maneiras de falar não devem ser
admitidas no cálculo e na busca da verdade" 0bid.).
Lockc, concinuanclo a tradição empirista, demonstra idêntico despre-
zo pelo discurso úS'lrado, que vê como um instrumento de retórica e um
inimigo da verdade:

se quisermos fal~f das coisas como elas soo. devemos reconhecer que t?da a arte da
TCtórica, além da o rdem e dn elnre1.n; lodn:l apliC3ç~o artificial e figurad a de l);ll avras
'Iu e as regras d~ e]()(IUência invclllar.llTl, n;'lo se rve m se não para insi nuar idéias erradas
no espfrito, p31'3 mover paillõe5 e. por mei o di sso, pertu rb~r o julgamento ; e, então, sao
de ratO fraudc s perfcilas: e. portamo. e mbora a oralóri~ J3udal6ri~ e pe rmi ssfve l poss,1
'omá-Ios ~rengas c di scursos dirigidos ~o povo, indubit aveJruente, é preciso ev itá-lru; por
completo cm todos os discursos que prelendcm infonnM o u inst ruir: e em que a " crdadc
e o eonhedme nlo es'ão em quest~o, n~o sc podc pensar CJue sejam onlra co is~ ~ nOO ser
°
um grande t1dci lQou da Irngu~ Otl da pessoa CJuc as uliJi 7~ 1 ... É evidente qllaUlo os homens
amam enganar e scr cng anados, 11m3 VC'l. qlle a relórica . esse instrumento podcroso do erro
e do engaoo, .em seus professores est abelecidos. ~ ensinadJ publicmnellle e sempre leve
grande rcputaçi\o. (fmllio Sobre II Comprce"s{iQ '(lIl11l11W, livro 3, eap. 10).

o medo da metáfora e da retórica na tradição empirista é um medo


do subjctivismo - um medo da emoção e da imagim.ção, As pabvras são
vistas como se tivessem "sentidos próprios" cm termos dos quais as

300
(
(
(
verdades podem ser expressas. Empregar as palavras metaforicamente é
(
usá· las cm um sentido impróprio, para excita r a imaginação c também as
(
emoções, e cntão conduzir-nos par:l longeda verdade e na dircção da ilusão.
(
A desconfiança e o medo empiristas da metârora são resumidos admJr:l'lel-
(
mente por $amud Parkcr:
(
(
Todas as Teorias Filos6ficas que se expressam SO Ul ente cm Termos metaf6ricos n~o
(
são Ve rdades rcais, mas meros produtos da lrnaginaçno vestidos (como bonecas de
crianças) com um3.'i poucas brilhantes palay ras yazi as ... Assim, suas rantasias debo- (
chadas e luxuriantcs elevam-se no Lei to da Raz50, e n~o SO mente macula m· na com (
suas Caricias impuras e ilegítimas. m3S, em lu ga r de concepçõcs e noções reais d3.'i (
Coisas, impreg nam a IIICllle eom '13<1a mais que Falltasmas Inoonsistemes" (C"'"SlIrl/
(
Livre Imparcial da ,.-i{a.T()jia Pia/única 1666).
(

Assim .que li ci~nci ll tornou-se mais poderosa vi:~ec n o l ogi a e q~e li


(

Revolução lndustrial tornou-se uma realidade desumanizadora, ocorreu (

uma reação entre os poetas, os artistas e os fi lósofos ocasion:tÍs: o desen· (


volvimento da tradição romântica . Wordsworth e Colcridge deixaram (
alegremente aos em pi ristas desumanizados a razão, a ciência e a objetivi- (
dade e exal taram a imaginação como um meio mais humano de se atingir (
uma verdade mais elevada, tendo a emoção como um gul:! natural cl:\ (

compreensão de si mesmo. A ciência, a razão e a tecnologia alienaram o (


homem de si mesmo e de seu ambiente natural. Os rom:'inticos viam a (
poesia, a arte e um retorno:l natureza como um meio de o homem recuperar (
su:! humanidade perdida . A arte e a poesia eram vistas não como produto (
da razão mas como "a inundação espontânea de poderosos senti mentos." (
O resultado dessa visão romântica era a alienação do artist:t e cio poeta dft (
maior parle (1:\ sociedade. (
(
(
(
30 1 (
(
\ ,;)
( ~~

( ') " ,,
I A tr:ldição romântica,:lo adotar o subjeuvismo, reforçou a dicotomb

( '1) , entre verdade e razão de um lado c :m c e imaginação de Outro. Ao

(~ •I• renunciarem à racionalidade, os rom:i.nticos fizeram o jogo do milo do

(') o bjetivismo, cujo pode r co ntinuou a aumentar desde cntão. Enu etanlo, os
,:(, românticos criaram um domínio para si mesmos, cm que o subjetivismo
( ~
continua a imperar. É um terreno empobrecido se comparado ao do
(~
o bjetivismo. Em ter":l0s de poder rc:tl cm nossa sociedade na ciência, n3S
('j)
leis, no governo, nos negócios, e na mfdia o mito do objetivismo reina
(~
supremo. O subjetivismo conquist'Ou um dominío p:l.ra si m esmo na arte c
( '~
ta l v~z na religião. Muitns pessoas nessa culnm\ vêcrn· no como um :l.pêndice
c"~
do reino do objetivismo e como um refúgio para as emoções e para a
("'J imaginação.
(1
c,
, . A ftrrara 0Pfiío: lima Iínfnt txpm"tncialúla
":;:

preensão e da verdade é uma alternativa que nega que o objecivismo e o


subjetivismo se jam nossas lmicas escolhas. Reje.itan\os a concepção obje-
civista de lima verdade absoluta e incondicional, sem adotar a alternativa
subjetivisla de verdade o btida apenas po r meio da imaginaçi'io não restrin-
gida por circunstâncias ex ternas. A razão de focalizarmos tanto nossa
atenção sobre a metáfora é que eh une razão e imaginação. A razão, no
mínimo, envolve a calegorização, a implicação, a inferência. A imaginação,
em um dos seus muitos aspectos, implic:lVcr um tipo de coisa em termos
de um o utro tipo de coisa o que deno minamos pensamento metafó rico.
A metáfora é, pois, uma raciollalidadt ilflagillalh'fl. Como as categori:ts de
nosso pensamento co tidiano são larg:J mente metafóricas e os nossos
raciocínios diários envolvem implicações e in ferências m etafó ricas, a racio-
nalidade o rdinária é, pois, imaginativa por narurcza. D evido a nossa com -

302
preensão das metáforas poéticas cm termos de implicações e de inferências
metafóricas, vemos (]ue os produtos da imaginação poética são, pelo
mesmo motivo, em parte racionais por natureza.
A metáfora. é um dos mais importantes instrumentos para tentar
compreender parcialmente o que não pode ser compreendido em sua
totalidade: nossos sentimentos, nossas experiências estéticas, nossas pciti-
cas morais e nossa consciência espiritual. Esses esforços da imaginação não
são dcstin!ídos de racionalidade; como se utilizam da lnelMora, empreh'anl
uma racio nalidade imaginativa.
Uma abordagem experiencialista permite-nos estabelecer também
uma ponte entTe os !11itos objetivista e subjetivisra no (lue se refere à
im],arcialidade e à possibilidade de ser justo e objelivo. As duas escolhas
oferecidas pelos mitos são a objetividade absolura porurn lado, e a intuição
purameme subjetiva po r oun o. Vimos que a verdade é relativa :\ compreen-
- __ o ---S5:o: o-qt~e · significa que não h1 po~ro· de-vi~ ta· ;bsoluto, .a partir do rj~;'11 -se ··
possa obter verdades absolllms objetivas sobre o mundo. Isso não significa que
não existam verdades; significa apenas que a verdade é relativa ao nosso sistema
concepnml, que é fundamentado sobre, e constantememe testado por, nossas
experiências e as de outros membros de nossa cultura cm nossas interações
diárias com outras pessoas e com os nossos ambientes físico e cultural.
Embora niio exista objetividade absoluta, pode existi r um tipo de
objetividade relativa ao sistema conceptual de uma cultura. 1\ (IU CSlão da
imparcialidade e da justiça no 90míniO social é a de c.levar-se acima dos
viéses ittdúidlf(lis relevantes. A questão da objetividade na experimentação
científica é a de descartar-se dos efeitos da ilusão e dos erros illfliddllais. Isso
não quer dizer que conseguiremos sempre, ou mesmo para semp~e, ser
bem sucedidos em descartar nossos viéscs individuais para atingir uma
objctividade completa relativa a um sistema conccptu:ll e a um conjunto de

303
v:t.1ores cult\ lrais. Quer dizer apenas ()ue a pura intuição subjetiva não é
sempre o nosso único recurso. Nem quer dizer que os conceitos c valores
de uma cultura particular constituem o ~rbitro fil,al da justiça no interior
dessa culnml. Podem existir, c normalmente existem, conceitos e v:l.lores
transculturais que definem um modelo padroio de justiça muito diferente do de
uma culnml particular. O que em justo na Alemanha Nazista, por exemplo, não
er:l j\lsto aos olhos da comunidade mundial. Mais próximos de nós, h~ os casos
nos tribunais que envolvem, com freqüêncb, questões de justiça entre subcul·
turas com valores conflitantcs. Aqui a cultura majocit~ria define habitualmente
a justiça relativa a !eu! valores, mas esses valores culturnís dominantes mudam
com o tempo e csmo sempre sujeitos à crítica pelas outras culttlr:ls.

O que tanto O mitO do objetivismo como o do subjetivismo ignoram


é ° modo como compreendemos o mundo por meio de nossa i!lfemfão com
- ~ -ele.
- O que
.. o _objeuvismo
. . . . .-
deixa
-
escapar.é.O. fato de que a c9mpreensão, e,
-- . . .

p:ort:mto, a verdade, são necessariamente relativas a nossos sistemas con-


ceptuais culnn:ais e ' Iue não podem ser enquadradas em um sis tema
conceptual absoluto ou neutro. O objeuvismo também deixa escapar o fato
de que os sistemas conceptuais. humanos são de natureza met:l(órica e
envolvem uma compreensão imaginativa de um tipo de coisa em termos
c
de um outro. O que o subjetivismo deixa escapar especificamente que nossa
comp reens~o, mesmo nossa mais imaginativa compreensão, dá-se em t'e nnos
de UI11 sistema conceptual fundamentado sobre nosso funcionamento bcm
sucedido cm nossos ambientes fisico c cultural. Ele n~o leva cm conta
igualmente o fato de que a compreensão metafórica envolve a implicação
metafórica, que consumi lima fonna imaginativa da racionalid:ldc.

304
\
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
26. O MITO DO OBjEITVlSMO NA FILOSOFIA
(
E NA UNcüisTlCA OCIDENTAIS
(
(
(
(
NOJJO dUtlfio ao ",;10 oljclivúla (
(
o mito do o bjctivisll\ o d o minou:t cultura ocidental, particularmente (
a filosofia ocide!).tal, desde os pré-socráticos :llé nossos dias. A idéia de que
(
lemos aceSSO:l verdades absolutas c incondicionais sobre o munclo éo pilar
(
da tradição filosófica ocidental. O mito da objctividadc norcscclI tanIa 11:l
(
tradição racionalista quanto na empirista que, a esse respeito, di ferem
,
(

apenas cm suas explicações de como chegamos a tais verdades absolutas:


(
Para os racio nalistas, apcna5 nossa capacidade inata de raciocinar pode
(
dar-nos O con hecimento das coisas como elas realmente s30. Para os
(
empiristas, rodo o nosso conhecimento do mundo surge (dirct:t ou indirc-
(
lamente) de nossas percepções sensoriais e é construído a partir de sensa-
(
ções. A síntese de Kant do racionalismo e do empirismo pertence também
(
(
305 (
(
ii tr.ldição objetivist':t., apesar de sua :ttg\lmcntação de que não pode haver
qu:t!quer tipo de conhecimento das coisas em si mesmas. O que torna K:mr
( "f~
um objecivisl:t. é sua reivindicação de que, em relaÇio ils coisas que lodos os
(]I
seres humanos podem ~pccienciar por meio de seus sentidos (seu legado
("'J
empirista), podemos obter conhecimento válido universalmente c leis morais
( '.~

,
>
urllversalmemc válidas pc.lo uso de nossa rnzão tmiversal (seu legado raciona-
<li lista). A tradição objcuvista na filosofia ocidental é preservada até hoje entre os
(
seguidores dos positivistas lógicos, na trndição de Frege, na de Husserl e, na
(Íl
lingiiística, com O nco-racionalismo, que veio da tradição de Chomsky.
()
Nossa concepção de metáfora vai contra essa tradição. Consideramos
(}
n ~~
a metáfora essencial à compreensão humana c um mecanismo de criação de
( .::;'
novos sentidos e de novas realidades em nossas vidas. Isso nos coloca em
oposição à maior parte da rrndição filosófica ocidental, que {em visto a
meL-ifora como um agente do subjetivismo e, por conseqüência, como
~
( ;"I
i--- _. -- subversivo na busca da verdade absoluta. Além disso, nossas visões da metáfo ra
() I convencional - que impregna nosso sistema concept\lal e é um mec;mismo
() essencial para a compreensão - coloca-nos em desacordo com as visões contem-
( ) porâneas de linguagem, sentido, verdade e compreensão que dominam a
() rtteme filosofia analitica angla-americana e que são aceitas em boa parte da
lingüistica modema, bem como em outraS disciplinas. A segWnte lista é repre-
()
<-
-, sentativa dessas assunçõcs sobre linguagem, sentido, verdade e compreensão.
Nem todos os filósofos e lingüistas objetivisms aceitam todas elas, entretanto
~) as figuras mais influentes parecem aceitar a maioria delas:

r ,.[:'
~,

A verdade é uma questllo de corrcspondência entre palavras e mundo.


( }
Uma lcoria do scmido par:! as línguas nalUr:US funda·se em uma l cori ~ da \·erd~de.
1; independ eme dO modo como as pessoas compreendem e us., m a IIngua.
:~ O scntilJo é objelivo e ni!o-corporific:KIo. independente da compreens30 humana.
-~ As frases s30 objetos abslrluos oom estruturas inerentcs.
\,
I

; 306

"}
o sentido de uma frase pode ser obtido a partir do scntido de suas pnrtc.s e pela estrutura
da frase.
A cornunicação t uma questão de lr.msmitir, de um falanto: p~rn um ouv illte, uma
mensagem com um sentido fixo.
O modo como uma pessoa compreende uma fmse eoque significapnra ela t uma função
do scntido objctivo da frase c do que a pessoa acmIita sobre o mundo e sobro: o COllteX IO

cm que;! frase foi enunciada.

Nossa concepção de metáfora convencional ê inconsistente com


todas essas assunçôes. O sen tido de uma frase é dado em termos de uma
estnaum conceptual. Como vimos, a maior parte da estrutura conceptual
de lima língua nantraLé meta fórica por narnreza. A estrutura concep,ual
fundamenta-se na experiência física e cultm:tl, assim como as metiifoms
convencionais. O sentido, portanto, jamais é descorporificado ou o bjetivo
.! est~~e.mP!!:....ft:nda..m~~~ado na aquisiçã_,! .!:_ ytili~ação d :....~!::' _ ~stellla
conceptual. Além disso, a verdade i: sempre dada em rclaç1io a um siSlema
concepnlal e às metiifoms (!ue o estmNram. A verdade, portanto, não é
absoluta nem objcciva, mas baseada na compreensão. Assim sendo, as
frases não têm sentidos inerentes e objetivamente dados e a comunicação
não pode sef a mera tr:msmissão de tais sentidos.
Não é tão óbvio o motivo de nossa concepção dessas questões ser
tão diferente dos posicionamentos cliissicos da fitosofia e da lingüíslica. A
raZ30 principal parece ser que todos os posicionamentos cliissicos esriio
baseados no mito do objcuvismo, enquantO nossa abordagem da metáfora
é inconsistente com ele. Uma divergência tão radical com as teorias
dominantes sobre tais questões biisicas demanda uma explicação. Como
seria possível um:\. concepção d:\. metáfora colocar cm questão as leses
fundamentais sobre a verdade, o sentido e a compreens30 que emcrgirlm

307
d:ls tendênci:ls dominantes na tradição filosôfica ocidental? Um:l resposta
para isso exige uma exp~cação mais detalhada do que a que oferecemos até
o momento a respeito das assunções objetivistas sobre a linguagem, a
verdade e o senúdo. 1550 exige explicitar com mais detalhe: (:I.) o que são
as teses objetivistas; (b) como elas são justificadas c (c) (\uais s50 suas
implicações para uma teorÍ:t geral da língua, da verdade e do sentido.

O objetivo desta aná~se não é distingui r simplcsmellle nossa con-


cepção de língua das visões clássicas, mas mostrar, por meio de exemplos,
quanto O mito do objetivismo influenciou a cultura ocidental, de maneira
<1ue usualmente não nos apercebemos. Mais import:lnte, queremos mos-
trar que muitos problemas de nossa cultura podem vir de uma aceitação
cega do mito do objetivismo e que há uma outra :lltern:ltiv:l p:lra evitar o
recurso à subjetividade radical.

Como (lJ teoriaJ cltiJúcnJ do unlido estão eIImizadaJ 1/0 milo do oljetivú!!JO

O mito do objetivismo, b:lse da tr:ldição objetivista, tem eon scqüên-


ci:ls muito específicas para uma teoria do sentido. Gostaríamos de mostmr
exalamente <juais são essas conseqüências, como elas surgem do mito do
objeuvismo e por que elas são insustentáveis de um ponto de vista
cxpe ri encia~sta. Nem lodos os objetivistas defendem as seguintes posições,
porém é comum a eles sustentar, sob uma forma ati outra, a maioria delas.

o sentido é objct:lvo

o objet:ivista caracteriz:l o sentido puramente em termos de condi-


çõcs de verdade ou de f:llsidade objeuvas. Na visão objctivista, as conven-

308
\
(
(

çõcs d:1 língu:1 atribuem a cad:1 frase um senlido oljelivo, que determina as (

condições de vcrd:1de objcciva, dados certos elementos do contexto deno- (

minados "inc\exiC:Lis": quem é o falanlC, quem é o ouvinte, O tempo e o (

lugar do enunciado, os objetos referidos por pabvras como "aquilo" ati (


(
"isto" etc. Assim, o sentido objelivo de lima frase n~o depende do modo
(
como uma pessoa qualquer a compreende ou se ela chega a compreendê-la
(
ou não. Por exemplo, um papagaio poderia ser acin:1do :I. dizer "Eslá
(
chovendo" sem qualcluer compreensão do sentido dessa frase. J...fa s a frase
(
{cm ° mesmo sentido objetivo se for dita por um papagaio ou por urna
(
pessoa c sem verd:ldci ra, se estiver chovendo, c será f:llsa, se não estiver
(
chovendo. Segundo:1 teoria objetivista do sentido, uma pessoa compreende
(
o sentido objeLivo de uma fra se se compreender as condições sob as quais
(
secia verdadei ra ou falsa.
(
o objetivist:l considera n~o apenas que condições de verdade e
(
falsidade objetivas existam, mas que as pessoas têm :lcesso a elas. Isso é
(
considerado óbvio. Olhe em torno de você. Se há um lápis no piso, então
(
a frase "Há um lápis no piso" é verdadeira e, se você fala Português e pode
(
perceber o lápis no piso, você corretamente a :l.ceit:t rá como verd:tdcir:1.
(
Assume-se que ess:ts (rases sej:lm objetiv:l.mente verdadeiras ou fa lsas e que
(
você. tem acesso a uma <Iuantidade incontável de tais verdades. Uma vez
(
(Iue as pessoas podem compreender as condições sob a.s <Iuais uma Crase
(
pode ser objetivamente verd:ldeira, uma Iingua pode ter convenções po r
(
meio das qU:lis t:lis sentidos objetivos são atribuídos a frases. Portanto, na
(
abord:tgem objetivista, as convenções que uma língu:l possui pa ra emp:tre-
(
lha r frases com sentidos objetivos dependerão da. capacidade de os (:llantes
(
dessa língua comp reenderem as frases como tendo esse sentido objetivo .
(
Desse modo, quando o objcuvista fal:! de compreender o sentido Oiteral)
, (
(
(
309
(
( '1> de uma frase, de csd. fal ando de compreender o que faz uma fra se ser
(
"'
) objetiv:tmente verdadeira ou falsa. Em geral, a noção objcuvista de C:Orn-
() preensão limita-se à compreensão das condições de verdade e de falsidade.

(""
( )
Não é isso (Iue queremos d izer po r "compreensão". Quando afi rma-
mos (Iue o objetivisI3 vê o sentido como algo independente da compreen-
()
são, estamos tomando "compreensão" cm nosso sentido não no dele.
n
()
o sentido é descorporificado
()
()
Na visão objctivista, o sentido objetivo não é sentido parti alguém.
() Pode-se dizer que as expressões de uma língua natural têm um sentido
()
objctivo somente se esse sentido fo r independente de qualquer coisa que
( ')
os seres humanos possam fazer, inclusive falar ou agir. Isto é, o sentido
() ,. deve ser descorporificado. Frege, por exemplo,. distingue o_"sentido'!.... __ _
o (Sinn), o sentido objetivo de um signo, da "idéia" que surge
( J
() das memÓriasedas impressilessellsfve is que ti ve edos atos. tanto internos quantoextemos,
( ..
"
'
que realizei... A idt ia t subjetiva... Sob essa perspectiva, n~o t necessári o ter escrúpulos
para filiar simplesmente 1/0 sentido, uma ve~ que no caso de uma idii.., deve-se, elitrita-
( ':'
mente falando. acrescentar a quem ela pertence e em que ipoca. (Frege 1966, pp. 59-60).
( ~

l I
o "sentido" de Frege é um sen tido objecivo e descorporificado. Cada
c~p ressão li ngüística em lima língua tem um sentido descorporificado
associado a ela. Isso é uma reminiscência da metáfora do CAt~AL, em que
"O sentido está ali mesmo, nas palavras."
, A tradição fregeana continua até os dias de hoje no trabalho dos
,
,.,'
discipulos de Richard Momague bem como no de muitos outros. Em

) nenhum desses trabalhos sobre semântica, o sentido da frase t. tomado


) 1
)
310
J,
como dependente de qualquer maneir:l. do modo como um ser hum:mo
poderia compreendê-lo. Conforme Montague afirma, "Como Donald
Davidson, vejo a construção de uma teoria el:! verdade -ou melhor, de lima
noção mais geral de verdade sob uma interpreta ç~o arbitrária - como a
mera básica de uma sintaxe e de uma semintic::l séri::lS" (1974, p. 188). As
palavras importantes aqui são "imerpretação arbitrária." Montague ::lssmne
que as teorias do sentido e da verdade são empreendimemos pUr.lmente
matemáticos e sua meta era manter uma "interpretação arbitrária", não
atingid::l absolutamente por qualquer coisa que tivesse a ver com seres
humanos, particularmente, por problemas de psicologia hum::l l1::l e de
compreensão humana. Ele pretendia que seu trabalho fos se aplicâvcl a
qualquer tipo de ser no universo e que fosse livre de qualquer limitação
imposta por qualquer tipo particul:!r de ser.

----
Corresponder aJ palavraJ ao /H/Indo, StJII
(ollJidemr pesJoaJ 01( rol1Jprenmio hllmana

A tradição objetivista considera a sem5ntica o estudo de como as


expressões lingüisticas podem corresponder diretamente ao mundo, sem a
intervenção da compreensão hum::lna. Talvez, a formulação mais clara
dessa posição seja dada por David Lewis:

Minhas propostas t.ambtm n!o se Djusmr~ às eJtpe<:tativas daqueles que, :lO analisar o
sentido, voltem·se imediatamente para a psicologia e a sociologia dos usu.irios da língua:
par:l. as intenções. as eJtperiencias sensoriais e as idtias mcn tais, ou pam as regms sociais,
:1$ convenções e as regularidades. Distingo dois lópiOOS: primeiro. li descrição das Ifnguas
ou gmm.il icas possiveis como sistemas sern5nticos abstmtos IlOS quais os símbolos se
associam II aspectos do mundo; segundo. li descriçAo de fatos psicológicos e sociológicos
nos quais um desses sistemas se m5nticos abSU":ltos em pJ.rticllln.r~ lUilimdo por uma pessoa
011 comunidade. Misturnr esses dois lópioos só resul!a em oonfusl\o. (Lewis 1972, p. 170).

31 1
Lewis segue aqui a prática de MontaS\le ao tentar explicar como a
linguagem corresponde ao mundo - "como os símbolos são associados a
aspectos do mundo" - e isto de uma maneira suficientemente geral c
arbitrária para corresponder a qualquer fatO psicológico ou sociológico
relacionado ao uso e a compreensão da linguagem pelos homens.

Um:l teoria do sentido é baseada em uma teoria da verdade

A possibilid:lde de uma concepção de verdade o bjetiva, inde-


pendenle de qualquer compreensão humana, la ma possível uma teo ria do
sentido objetivo. Sob a concepção objetivista da verdade, é possível uma
frase po r si mesma corresponder ou não ao mundo. Se ror o casa, ela é
verdadeira; se não, ela é fa lsa. Surge daí uma explicação objeuvista do
sentido, baseada na verdade. Nov:lmeme é Lewis- quem :l fonnul:l mais
cI:tmmente: "Um sentido para uma frase é algo que determina as condições
sob as qU:lis uma frase é verdadeira ou falsa" (1972, p. 173).

Isso fo i generalizado para dar sentido às frases performauvas, como


as orden s e as promess:ls, por meio da técnica de Lako ff (1972) e Lewis
(1972). Essa técnica utiliza a definição de verdade eIll termos de "corres-
pondcncia com o mundo", que se define tecnicamente pelas condições de
satisfação em um modelo. As condições de relicidade de atas de rala são
definidas simibrmente em termos de condições de satisfação ou de "cor-
respondência com o mundo". Quando falamos em "verdade" ou "f:llsida-
de" mais :ldi:lnte, deve-se compreender que estamos fabndo cm termos de
condições de satisfação e que estamos incluindo tanto os atas de fala como
as declarações.

312
,
(
(
o sentido é independente do uso (
(
A concepção objcuvist:l de verdade exige que o sentido também seja
(
objctÍvo. Se o sentido deve ser objctiv9, eleve excluir todos os dementos
(
subjclivos, isto é. 'lufllqucr coisa peculiar a um contexto, a uma cultura ou
(
:l um modo de compreensão particulares. Como coloca Donald Davidson, (
"O sentido literal c as condições de verdade podem ser atribuídos às (
palavras c às frases isohdas de contextos ele uso particulares" (1978, p. 33).
(
(
o sentido é composidonal- a teoria dos constituintes Iingüísticos (
(
De acordo com o mito do objctivismo, o mundo é constituído de (
objctos: eles aprCSCIll:lm propriedades inerentes bem definidas, inde- (
pendentes de qualqllcr se r que as cxperencic c há relações (iX:lS entre elas (
em um determinado momento no tempo. Esses aspectos do mito do (
objetivismo fazem surgir uma teoria do senLÍdo em termos de constituintes (
lingüísticos . Se o mundo é feito de objetos bem definidos, podemos (
dar-lhes nomes cm uma língua. Se os objetos têm propriedades inerentes (
bem definidas, podemos ter uma língua com predicados de um unico lugar, (
correspondendo a cada uma dessas p ropriedades. E se os objetos têm entre (
si relações fixas (pelo menos em um dado instante), podemos ter urna língtm (
com predicados de lugares múltiplos, correspondendo a C:KIa relação. (
Se assumirmos que o mundo é dessa forma e (llle existe uma língua (
assim, podemos, ao utiliza r a sintaxe dessa língua, construir frases que (
possam corresponder dirctamente a qualquer situação no mundo. O sen- (
tido da frase inteira será suas condições de verdade, ou seja, as cond ições (
sob as qurus a frase puder ser adequada a alguma situação. O ~cntido da (
(
(
(
313
(
\2
( )
(1 frase inteira dependerá completamente dos sentidos de suas panes e do

( ) modo como eb s jun tas se ajustam. O sentido das parles especificará que

<) nomes podem designar que objetos e que predicados podem designar que
( ') pro priedades e relações.

( )\ As teorias objc tivist:ls do sentido são todas de natureza composicio-


( ) nal, istO é, todas elas são teorias de constituintes Iingüísticos e elas têm de
(') ser. Isso porque, para o objetivista, o mundo i fei to de blocos para
() construção: objct'os definív eis, pro priedades inerentes e relações claramen-
(~ te delineadas. Além disso, cada frase de uma língua dc"c conter lodos os
( -,' constituintes necessários, de mod o que, juntamente com fi sint:lxe, nada
() mais seja necessário para oferec~ r condições de verdade it frase. O "algo
(j mais" q ue é excluído é q ualquer tipo de compreensão humana.
( j
( ~,
-' ___O
" -o
, ,,bj.etivisl!!..D p_eEnice ;l. rclatividade__
(J
( ,"'• o ntológica sem a compreensão humana

Os positivistas lógicos (por exe:mplo, Camap) tentaram cumprir um


()
(~ program a ob jetivista ao tentar construir uma linguagem Oógic:l) form:U.
universalmente aplidvel, q ue tivesse todas as pro priedades de constituintes
C)
lingiiísticos mencionadas acima e todas as Outras C:lractcrísticas discutidas até
C)
aqui. Richard Montague (1974) afirmou ter fornecido uma "gram:ític:l uni·
()
vers:U." que mapearia as línguas nauu"is em uma tal linguagem formal
"
~
, '
,~
universalmente aplicáveL
Quine, reagindo a essas alegações universalistas, sustentou que cada
" .> üngua possui sua própria ontologia construída dentro dela eque oCllle conta
)
como um objcto, propriedade ou relação pode varia r de língua para üngua .
.)
, ) Essa posição é conhecida c~ m o a tese da "rebtividade ontológica".
.' ,
.,'
,
,
J
.
.' 3 14
É possível manter essa tese da relatividade ontológica no imerior do
programa objctivista sem recorrer fi compreensão humana ou à diferenç:l
cultural. Essa posiçiio relativista renuncia ii. possibilid:tde de construir uma
linguagem lógica, única, universalmente aplicâvel, na qual (o(bs as línguas
naturais possam ser traduzidas :lclCCjll:lclamente. Eb sustenta, :10 contrário,
que cada língua natural recorta o mundo de modos diferentes sempre
selecionando objetos, propriedades e relações que li existem realmente.
Mas, uma vez que diferentes línguas pode", ter difercntes antologias cons-
trufdas, nada g:lrame que duas línguas serio, em geral, comensuráveis.

A versiio relativista da concepção objetivista do sentido sustenta


assim que o sentido e as condições de verdade são dados objctivameme,
não em termos universais, mas apenas em relação a uma língua dada . O
objetivismo relativista adere tambem ao mito objetivist:l ao argumentar que
_____ a verdade é objeciva e que há objetos_no_mundo_ com propriedades_~

inerentes. No ent"anto, de acordo com o objecivismo relativista, as verdades


dizíveis em uma língua podem não ser trnduzívcis em uma outra, uma vez
que cada língua pode recortar o mundo de modo diferente. Enrretanto, :IS

entidades que a língua selcciona, n#ão importa quais sejam, existem nn


mundo objcclvameme como entidades. A verdade e o sentido são ainda
objetivos nessa abordagem (embora relativos a um:l língua dada) e a
compreensão humana ê excluída como se fosse irrelevante para o sentido
e a verdade.

Expressões lingüísticts são objetos: premissa (b lingüíscica objetivista

De acordo com o mito do objetivismo, os ohjctos apresentam pro-


priedades em c por si mesmos e mantêm relações uns com os outros,
independentemente de qualquer ser que os compreenda. Quando palavras e

315
fnses são escritas, podem ser prontamente tratadas como objct'Os. Essa foi
a premissa da lingüística objcrivista desdc a sua origem na antiguidade até o
presente: as expressões lingüísticas são objetos 9ue tém propriedades em e
por si mesmos e que têm relações fixas uns com os outros, inde-
pendentemente de qualquer pessoa que as fale ou as compreenda. Como
objetos, ebs têm partes - sào feitas de constituintes lingilisticos: as pabvras
são fcims de r.lízes, de prefixos, de suftxos, de infixos; as frases são feitas de
palavras e frases; os discursos são feitos de frases. Em uma língua,:ls rebções
entre as partes são clivers:ls, dependendo da estrutura de seus constiruintcs c
de suas propriedades inerentes. O estlldo da estrutura dos constituintes
lingüísticos, das propriedades inerentes de suas partes e das relações entre
elas tradicionalmen te denomina-segmlllátiCfJ.
A lingüística objetivista vê a si mesma como a única abordagem
ciel/lifim do lingi.iístico. Os objetos dcvem ser capaz~: .~~: _s~~'l~ sados
em e por si mesmos, independentemente de COnlextos ou da manei r:l
como as pessoas os compreendem. Como na fil osofta objetivist:l, há t:lntO
tradições empiristas quanto racionaliStaS na lingüístic:l . A tradição empi-
rista, rcpresentada pelo estrururnlismo americano de Bloomfic!d, Harris
e seus seguidores, considera os textos como os ún icos objetos de estudo
cientifico. A tradição racionalista, representada por estrururalistas euro-
peus, como J akobson, e po r figura s american:ls, como Sapir, Whorf e
Chomsky, entcnde :1 linguagem como tendo uma realidade mental e as
exp ressões linb>üistjcas como obje[os mentalmente rcais.

A gramática é independente do sentido e da compreensão

Acabamos de ver como O mito do objetivismo deu origem a uma


visão de lfngua em que :IS expressões lingüísticas são objetos com proprie~
dacles inerentes, com lima estmtura de constituintes lingiiísticos e com

316
\

(
(
relações fixas entre os objctos. De acordo com o mito do objcuvismo, os (
objetos Iingiiísucos que existem - e sua estrutura de constituintes Iingü ís- (
cicos, suas propriedades e suas relações-são independentes do modo como (
as pessoas os compreendem. Segue-se dessa visão das expressões jingüís- (
ricas como objcms que a gramaüca pode ser esmdada independentemente (
do sentido a li da compreensão human:1. (
(
Essa tradição é condensada pela lingüística de Noam Chomsky que
tem sustentado firmemente que a gramâtica é uma cllIesdo de pura fO;l11a,
(
(
independente do sentido ou da compreensão humana. Qualquer aspecto
(
da linguagem que envolva a compreensão htlt'l~ana, para Chomsky, está,
(
por definição, fom do estudo d a gramática nesse sentido. O uso do termo
(
"competência" po r Chomsky, cm oposição a "perro rmanec", é uma
(
tentativa de de fi nir certos aspectos da língua como os únicos objelos
(
legílimos do que ele considem lingüística cienLÍfica, isto é, o que denomi-
(
namos tingüística objetivista na versão racionalista, incluindo apenas
(
questões de pura fo rma e exclui ndo Iodas as questões de compreensão
(
humana e de uso da língua. Embora Chomsky veja a lingüística como um
(
mmo da psicologia, eh é, para ele, um r:lIno independente, que. não é, de
(
modo algum, dependente da maneira como as pessoas realmen te com-
(
preendem a língua.
(
(
J\ teoria objetivista da comunicação:
(
uma versão da metâfor.l do CANAL
(
(
Para a lingüística e para a filoso fia objctivisras, senlidos c exprcssões
(
lingüísticas são objclos com cxistência indepcndcntc. Essa visão originou
(
uma teoria d:1com unicação que se aju sta muito bem :l melHora do CANAL:
(
(
(
317
(
,
,
( "
- ,
, Sentidos são objelOS.
( '" E:tpre$SÕCS ]ingUfsticns são objetos.
(~
E:lIpre5SÕcS li nglHsticns têm sclHidos (em si).
('"')
Na corn unicaç30, o falante env ia um St:mido fixo para o OIIvillle, via expressão lingllfSlica
associada a esse sentido.

( ')
"~
( -> De acordo com essa abordagem, é possível dizer objetivamcmc o CJue
"

(
" você quer c1i".er e as falh as na comunicnção são problemas de erros subjccivos:
('\l já que os sentidos estão objetivamente ali mesmo, nas pab.vras, Otl você não
(; usou as pab.vrns corretas para dizer o que queria Oll foi mal com preendido.
(-'J
() o que seria uma abord:lgem objetivist:l da compreensão
( )
( '" " Já demos uma explicação do que o objetivist:l compreende por
o _sentido objetivo literal d e u ma frase, que r dizer, compreender as cond ições · . - - -
(") sob as quais uma frase seria objetivamenre verdadeira ou fa lsa. Os objeti-
() vistas reconhecem, entret~ nto, que uma pessoa pode compreender que uma
(" ) , frase, em um dado COntexto, significa algo diferente do sentido objetivo
(;! literal. Esse outro sentido é geralmente denominado "sentido do falante"
() ou "sentido do enu nciado r" c os objetivistas reconhecem, habitualmente,
,/ ') que qualquer explicação completa da compreensão terá de explicar esses
nA, casos também (ver Grice 1957).

r·!,, Considere, por exemplo, a frase "Ele é um verdadeiro gênio", enunciada


-
em um COntexto em que o sarcasmo é claramente indicado. Na explicação
objetivista, há um Jeflhilool!letiwda frase ''Ele é wn verdadeiro gênio": ele possui
grandes poderes intelectuais. Mas, ao enunciar a frase sarcasticamente, o falante
pretende transmitir o sentido oposto: ele é um completo idiota . O "sentido
'-',
do falante" opõe-se aqui ao sentido objelivo da fra se.

3"
Essa explicação do sentido do fabnte poderia ser representada, no
contexto sarcástico apropriado como:

(A)Ao se enunciar uma frase S (S = "Ele t um verdadeiro gê nio"), qlle tem o se mido
objctivo SO (50 = ele possui grandes poderes intelectuais), o falanl e pretenrle tmnSmilir
ao ouvin te o sentido objc ti vo SO' (SO' = ele t um completo idiota).

É assim que o sentido pamalguém seria explicado em um quadro teórico


objetivist:l, A frn se (A) poderia ser objetivamente verdadeira ou falsa em um
determinado contexto. Se <A) fo r verdadeira, então a frase S ("Ele é um
verdadeiro gênio') pode signi ficar tle i 11111 rompIdo idiota, tanto para o f.'1.lante
quanto para o ouvinte, se O ouvinte reconhece as intenções do falame.
Essa técnica, c[ue se originou com os teóricos dos atas de fala , Foi
adaptada à tradição objetiv.ista como um meio de obter o sencido para
I -----;alguémapartir~ dOSci1Ucro- õ Gfctlvo dá frase, Tsto é, de 's uas condições
objetivas de verdade ou de fa lsidade. O arciAdo técnico envolve a utilização
de dois sencidos objecivos, SO e SO', junco com a fras e (A), que também
possui um sentido objetiva capaz de dar cOnt:l do sentido do falante e do
sentido do ouvinte, atI seja, um sentido pam alguém. Certamente, isso
envolve o recanhecimemo das intenções do locutor como, objeLÍvamente,
reais, o que poderia ser negado po r alguns objetivis tas.
O exemplo dado é o de sarcasmo, em que SO e SO' apresentam
sentidos opostos, ou seja, condições de verdade opostas. Falar literalmente
seria o caso cm que SO = 50'. O p rograma objetivista vê isso como uma
técnica geral que permite explicar todos os casos de sentido para uma
pessoa, especialmente aqueles em que um falante diz algo e pretende
significar outra cais:'!.: exagero, eu femismo, alusão, iro nia e toda linguagem

3 19
figur:tda, cm particular, a metáfora. A concretiz.ação do progr:una envolve-
ria a fo rmulação de princípios ger:tis que responderiam ii. seguinte questão:

O~da a frase S e o se u scntido Ii/eral objctivo 50 c dado o relevante co nheci mento


do comexlO. que princlpios específicos nos permitcm predizer qual scr.'i o stll/ido do
lo/ali/i! SO' nesse: contexto?

1sso se aplica, cm particular, ao caso da metáfora. Po r exemplo, "Esta


leoria é Ceita de estuque oaralO" tcria, pela explicação objctivista. um sentido
objetivo literal (SO) fal so, qual seja, uM Itoria i ftita dt argaf/laJJa barata. O
semido oojetiva literal é falso, pois teorias não são, absolutamente, o tipo
de coisa que pode ser Ceita de argamassa. Entretanto, "Esta teoria é feita
de estuque barato" poderia ler um sentido pretendido pelo falante SO ' que
poderia ser verdadeiro, a saber, ula Itoria i fraca. Nesse caso, o problema __ _ ,
seria Cornecer princípios gerais de interpretação por meio dos quais um
o uvinte poderia mover-se da fra se S ''Esta teoria é feita estuque baratO"
para O sentido prete ndido pelo falante SO' (uM/toria i finca) via sentido
obietivo $0 (Ufa teoria l ftiltl de a'!,a"'aJJfI baralll).

O objecivista vê to<las as meláforas como casos de signi ficação


indire!a, em que SO *SO'. T odas as frases que contém metáforas apresen-
tam se ntidos objetivos que são, no caso tipico, ou f:tlsos de m:meim
flagrante (por exemplo, "!" teoria é fcita de estuque barato"), ou evidente-
mente verdadeiros (por exemplo, "Mussolini era um animal' l Compreen-
der como metafórica a frase (por exemplo, "A teoria é fei ta de estuque
barato'') envolve sem pre compreendê-la incliretamente como tr:lOsmicindo
um sentido objetivo 50' (tI flOri'l i frala), que é diCerente do sentido literal
objctivo SO (a leona i foi/a de a'!,allMJSa bt1raM) .

320
(
(
A explicação objctivisL'lda compreensão é, pois, scmprc bascada cm uma (
concepção de vercl:tde o bjeriva. Inclui do is ripos de compreensão, direta e (
indireta. A compreensão direta é fi compreensão de um sen tido literal objetivo (
de uma frase, em termos das condiçõcs nas quais ela pode ser objetivamenle (
verdadeira. Acompreensão indircta envolve reconhecerquando o falante utiliza
uma frase para mnsmitir um sentido indircto, que pode scr também ronlprrell- (
dido dlirMflltl/fe, em termos de condições de verdade objctiva. (

A explicação objctivista da metáfora apresenta quatro conseqüências (

:Hltomácicas: (
(

!'or definição. n(lo porle existi, lima C;Qüa c;o mo um CQll c;ei/o ou se n/ido metafó-
(
rico. Os sC lltidos s~o objeti vos c es pecificam 3S condições de verdade objctiva. (
Por dcfini ç50. s ~o modos de ca ra cteriza r o mundo tal CO III O e le é o u poderia ser. (
_ _ _ _ _ _ As cOndiçõcs de verdade o bjetiva, simplesmen te. não forn ecem me ios para ver
(
uma coisa em termos de ou tra. 1'0r13 11tO, os sen tidos obj etivos nllo P'Odern ser
(
metafó ri cos.
Já que a meláfom lIIio pode ser IImll qlles/rJo de sentido. elo pode ser sonU'Ille
(
I"'IU !/Ue5 /rio de Ung/lat;em . Uma metHo ra, so b a concepção objet ivistn. pode. no (
m:iximo, fornece r-Ilos um modo indircto de fa/a r so bre 31gum se ntidu objetivo (
SO', P'Or meio do empre go de palavras em uma llng ua que se ria usada, literalmen- (
te, para falar de o utro se ntid o objetivo 50. usu:lI rn ente fal so, de modo fl ag rant e.
(
Novamenle por definição. não pode haver qualqller c;oisa c;{Jmo lima meláfora
(
lilUal (co",·c ll ciQlwl). Uma frase é usada 1'1eralmente quand o SO ° = SO. istu é.
quando o se ntido do fa lan1e é o se utido objctivo. Met Horas so men tc podem surgir (
quando SOo "I- 50 . Desse modo. de acordo com a definição o bjelÍ vist a. UIIIJ (
mCIMora literal é. em te rm os, uma contradição c uma linguagem literal n3.o pode (
se r metafórica.
(
A metáfora {lo/Ie cOllfriblli, apl' nllS {llI ra /1 c;omp rcensiio. fOle/ldo" IOS ver sintill/'
(
ridmles objc/i'·as. is/o é. similaridades c/llre os se ntidos objeti"os SO e SO·. Essas
(
similaridades dcvc lII ser bascad:.s em propriedades partilhodns ill uelllCS aos
obje to s - propriedade s qu e 0$ obj etos realmcn1e têm. em e P'Or si mcs mos. (
(
(
321
(
\ !)
'O)
( ,"
() Portamo, a concepção objetivista. do sen tido é completamt:rItc con-

(~ trária a rudo que sustentamos neste livro. Essa vis:io de sentido e de

("
, metáfora tem permanecido entre nós desde a época dos gregos. Ela
(') corresponde à metáfora do CANAL ("O sentido esd. ali mesmo, nas

() palavras') e adequa·se ao mito do objetivismo.


(')
()
(')
o
()
( )

(~
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".,.
( -,.-
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, ii 322
,")
," li
27. COMO A NLEI;'<Ú'ORA REVELA
AS LlMIrAÇÕES DO MITO DO OBJETTVlSMO

- --- - O cerne datrndlção oojetiVisrn em "filosofia vem diretament-e do miro'-


do objetivismo: o mundo é feito de objctos distintos, com propric{bdes
inerentes e relações fixas entre eles a qualquer instante. Argl.1ment:tmos, com
b ase nas evidências lingiiísticas (especialmente a met:í.rOr.l), que a fiJosofi:l
objetivista deixa de explicar a maneira como compreendemos nossa expe-
riência, nossos pens:unentos e nossa linguagem. Uma explicação adeqll:lda,
nós :u:gument:UllOs, requer q ue

• consideremos os objctos somente como entidades relativas às


nossas internções com o mundo e às nossas projeçõcs sobre ele;
• consid eremos:lS p ropriedades como interncion:lis ao invés de inerentes;
• consideremos as categorias como guJallI experienciais definicbs via
protótipo, ao invés de considerá-las como rigidamente fixadas c
definidas via uma teoria estabelecida.

323
Os problemas concernentes ao sentido nas linguas naturais e ao modo
como as pessoas compreendem tanto sua língua quanto suas experiências s:io
pam nós probletms empíricos e não objelo de assunçõcs e argul11ent.'lçõcs
filosóficas a pri()á. Sclccionamos a medfom e o modo cofl.lo a compreendemos
entre os possíveis domínios de evidências que poderiam sustentar essas questões.
Focalizamos a metáfora pelas (1U.'ltrO razões seguintes:
Na tradição objctivista, a metáfora é, quando muito, de interesse
marginal e é excluída totalmente do esrudo eh semântica (sentido objetivo).
Ela é vista como apenas margimlmente relevante para uma cxplicaç:io da
verdade.
Contudo descobrimos que a metáfora está preseme, não só cm nossa
linguagem mas cm nosso sistema conceptual. Parece inconcebível para nós
que um fenômeno tão fundamental para nosso sistema conceptual não seja
central para uma explicação da verdade e do sentido.

Observamos que a metáfora é um dos mecanismos mais básicos que


temos para compreender nossa experiência. Isso não está de acordo com a
ótica objctivista pela qual a metMom é de interesse apenas periférico na
explicação do sentido e da verdade e que, na melhor das hipóteses, desem-
penha um papel marginal na compreensão.
Descobrimos que a metáfora pode criar sentidos novos, criar similari-
dades c, desse modo, definir uma nova realidade. Tal ponto de vista não tem
lugar na eoncepç:io tradicional objetivista do mundo.

A trxp!iCtJ(ão oijctitista de metáfora cO/lvenciona!

Muitos dos fatos que discutimos são conhecidos há muito tempo na


tradição objetivista, mas têm recebido interpretações inleimmente diferen-
tes lb nossa.

324
\

(
(

Os conceitos metafóricos convenciol1:1is que consideramos como (

estruturadores de nosso sistema conceproal cotidi:lllo são vistos pelos (

objetivistas como inexislemes_ As metMorns, p:lra eles, são quest1io de mera (


linguagem; não há coisas tais como conceitos meta fóricos_ (
(
As p:llavr:ls c expressões, usadas como exemplos de concei tos me-
(
tafóricos (como digen'r em "Nilo consigo digerir todos esses falOS'), não
(
seriam consideradas pelos objetivist:ls como instâncias de metMora viva de
(
modo algum. Para eles, a p:llavra digen'rtcria dois sentidos literais (obj etivos)
(
distintos e diferentes - digen'rr para alimento e digen'r"2 p:lfa idéias. Desse
(
modo, ha"eria duas palavras .digen-r <lue são homônimas, como as dU:ls
(
palavras h'lIIco (ballco ,It fel/lllrc bal/co onde ugmmln dinheiro) .
(
Um objetivista poderia admitir (Iue digen'r URlO Miia foi mil dia uma (
metMor:l, mas ele diria que ela não é: mais metafórica. Para ele, é uma (
" metáfora mona", uma metáfo ra 'lue se tornou convencionaliz3da e que (
("em seu próprio sentido literal. 1sso quer dizer que existem duas palavras (
hOmônim:lS digen"r:
<
o ob jedvist:l p rovavelmente admitiria que digen'n e digen"rz têm (
sentidos semelh:tnles e que a similaridade é a base para a meláfora origiml. (
lsso, ele diria, explica porque:l mesma p:llavra é usada pa ra expressar dois (
sentidos dife renles; foi rnenífora um dia e tornou-se lima parte convencio- (
naliZ:lda d:l linguagem; morreu e tornou-se congc1:lda, e seu velho sentido (
metafórico passou :l ser considerado um-sentido literal novo. (
o objetivista observaria que as similaridades sobre :lS quais a metá- (
fora morta foi baseada podem, em muitos casos, ser percebidas ainda hoje. (
(
D e acordo com :l explicação objelivista, a metáfora original foi lima
(
questão de uso e de sentido do fa lante, nilo de sentido literal objelivo. Teri:!
(
(
(
325 (
,
( ~~
(
(
".))
~"
surgido graças à fórmula geral do sentido do falante aplicada a es te caso
(cm que digtn"r referia-se apenas a alimcmo):
<)
(') Aoe/mnelaf a fraseS (S = "N30coru;godi,erirsull5 ido!ias")comoserltido liter.d objcti vo
SO (SO = Nilo pude trarlsfonnar suas idtias. pela aç30 química e muscular 110 canal
( \'l),
aliulentar, em Um.l forma que meu corpo pudesse absorver), o falame pretende tmnsmitir
( " 1\0 ouvimeo sentido do falante SO' (SO' ::: Eu n30 pudelr.msfonnar suas idt ias, pela aç30
( "
"' rnent~l, em urna fonna que minha mente pudesse a~r).

( )
( ) Duas condições precisam ser preenchidas para que a explicaç:ío
()
objecivista seja sustentável. Primeiro, o sentido pretendido pelo faJame 50',
()
referente a idéias, deve ser um sentido dado objetivamente, tendo condi-
( j
ções de verdade objctiva. Em outras palavras, as afirmações seguintes sobre
(")
a mente e as idéias devem ser olv"tlivoll1tnft verdadeiras por causa de suas
(
- - - - - - - propriedades inerentes: -
()
() As idtiM devem, em vinude de suas propriedades Íllfremfs, se r o tipo de coisa que pode
-, ter uma foon." ser transfonnada e ser absorvida peJa mente.
(

c) A mente deve, e m virtude de suas propriedades inercmu, ser O tipo de coisa que pode
realit.ar ações, trnnsform.v id6as e absor.. é-las.
(\

f .) Em segundo lugftr, a metáfora deve ser originalmente baseada nas


similaridades p reexistemes entre SO e 50', isto é, a mente e o canal
r,, alimentar devem ter propriedades intrtnleJ em comum, assim como as idéias
I
" ,, I,
e o alimento devem ter propriedades il1trtnfu em comum.

., Resumindo: a expticaç:ío da metá fo ra mo rta sobre digeJfr70 argumen-


taria o seguinte:
-,
,',

326
A palavra diguiroôginalmeOle se referin a um conceilO al ime ntar.
Por uma IIICtáfor.l ··VIVII", a palnvm diguir foi transftrida paro um stnüdo obj.:üvo
pree~isttntt 00 reioo das id~i3S, com base em similnridades objetivlls pre.:~istenles entre
alimento e idéias,
Eventuahneme. II metáfor.l "morreu·' e o uso metufórico de digui, umll jJlj(j tomotl-se
convencioML Dicuj" pOrtanto, obteve um segundo sentido literal objetivo, o que ocorTC
em SO', Isso ~ visto, sob a perspectiva objetivistn, como um modo típico de forneeer
palllvms paro sentidos pree~isten tes p:tra os quais falta m p.lla\'ras queos e.x pressem. Todos
esses casos serinm conside mdos homOni mos.

Em geral, um objetivista rcria que [[":Irar lodoI os nossos ,bdos de


metáfo ra-convencio nal de llcordo com a posição de homolúmia (nonn :l.l-
mente a versão fraca) ou pela posição abstracionista. Ambas as posições
dependem da existência de similaridades preexistentes baseadas em proprie-
dades inerentes.

------~ ~-~-~-----

o que está e rrado com II explicação objctivista


Como acabamos de ver, a explicação objetivista de metáfora conven-
cionai requer ou uma visão abstrncionista ou uma visão de homonímia. Além
disso, a explicação objetivista tanto da metáfora convencio nal como da
não-convencional baseia-se nas similaridades inerentes preexistemes. Já apre-
sentamos argumentos detalhados contra todas est.1S posições. Esses argu-
mentos adquirem importância especial aqui. Ela mio !Olllt1/le demollIlm'" que {/
timo oijeHtuta da IIIt1áfora i ;lIadetl'ltlda 11111$ que °programa ol!Jelilli.r1tr iflleiro está
baseado em aJslm(Õe! errónea!. Para ver exat:unente cm que a explicação objeti-
vista <1:1. metáfora é inadequada, vamos recordar as partes relevantes de nossa
arb'Umelltação contra as visões do abstracionismo, ,Ia homoními:l. e da
similaridade naquilo que diz respeito à explicação objetivista sobre:l. mecifora
conllellrlon(ll.

327
.•
'

A posição da simila ridade

Vimos cm nossa discussão sobre a metáfora IDÉIAS SAo r\UM ENTO


(Iue, embora a metáfora estivesse baseada cm simila ridades, essas similari-
dades por si só não eram inerentes, mas baseadas cm QulraS metáforas -
cm especial, as metáforas MENTE É UM RECIPIENTE, IDÊ1ASSA0013JETOS
c do CANAL. A visão de que IDÉlASSAoOBJETOS é uma projcção do J/(l/f(!
de entidade sobre o fenômeno mental via uma mctáfor:l ontológica. A visão
de que r-.fENTE É UM RECI PIENTE é uma projcção do I1alltsclc cntid:ldc com
orientaçiio dentro-fora cm nossas faculdades cognitivas. Essas não sào
propriedades olietiwJJ illmnles das idéias c da mente. Elas são propriedades
ill/crunol/aisc refletem o modo como COfutb(1l10J o fenômeno mental por meio
da mctMor:l.

o mesmo acontece no caso de nossos conceitos de TEMPO e de


AMOR. Compreendemos fra ses como "O tempo de :lgir chegou" e " P reci-
samos administrar nosso tempo" em termos das metáforas TEMPO É UM
OB)ETO QUE SE l'I lOVE e TEMPO É DINHEIRO, respecuvarncnlc. M~s na
explicação obielh·isla nio existiriam tais met:ifor:a.s. Chtgarc adminúlrarnessas frases
seri:ltn metfif9 faS mo rtas, isto é, homônimos, derivando historicamente de
metáforas que um dia foram vivas. Essas metáforas teriam que ter sido
baseadas nas similaridades inerentes entre tempo e objetos que se movem,
po r um lado, e tem po c dinheiro, por outro. Mas, como vimos, tais
similaridadeS" não são inerentes; elas são, elas mesmas. criadas via metáfo ras
ontológic:ls.

É aind:l mais difícil :lrgumenta r :l f:lvar de um:l análise em lermos de


similaridade inerente para expressõcs envolvendo a conceito AMOR, tais
como "Essa relação não está indo a lugar nenhum", " Havia um magnetismo

328
(
(
entre nós" c "Essa relação está morrendo". O conceito de Af,IOR niio é (
inerentemente bem definido. Nossa cultu ra oferece-nos modos convencio- (
nalizados de ver as ex periências amorosas via medforas convencionais (
como AMO I~ É. UMA V1 f\GEM, AMOR Ê UMA FORÇA FíSICA etc., e nossa (
linguagem reflete-as. Mas, de acordo com a explicação objetivista (baseada (
ou nas metHoras mort:lS, na homo rúmia fraca, ou n:l abstração), o conceito (

Af.,·fOR deve ser suficientemente bem definido cm termos de propriedades (

inerentes para sustentar similaridades inerentes a viagens, a fenômenos (


c!etromagnéticos e gravit:1cionais, a pessoas doentes etc I\ qui, o objetjvista (
não somente terá que defender que o amor tem propriedades inerentes (
semelhantes :\s propriedades inerentes a viagens, ao fenômeno e1ctromag- (

nético e às pesso :l S doentes; ele deveni mmbém afirm:1 r que O :lmor é (

definido de modo claro o suficiente cm termos dessas propriedades (


inerentes de modo que cssas similaridades possam exis tir ~--~ - (
Resumindo, as explicações objeuvistas usu:lis desses fenômenos (me- (
dfara morta, homonímia com similaridades, ou abstração) todas dependem (
das similaridades preexistentes baseadas nas propriedades inerentes. Em (
geral, as similaridades existem mesmo, mas não podem estar baseadas em (
propriedades i llewnfCJ. As similaridades surgem como mtdltJdo das metMoms (
conceptuais c, portamo, devem ser consideradas similaridades il1/tmciol1ou, ao (
invés de pro priedades inerentes. Mas a admissão de propriedades interacio- (
nais é inconsistente com a premissa básica da filosofia objctivista. Seu cuSto (
é abandonar o mito do objeti ....ismo. (
(
A dt:sculpa objelivlsra: "não é da nossa conta" (
(
A úrUC:t alternatln que resta p:lra o objclivisl':l é desistir de qualquer (
relaciOI1:lme mo entre os sentidos de áigen'r ALIMENT O e IDÉ.I A em termos (
(
(
329
(
~

( ,.~
.-
( ]\ d:1similaridade (i ncluindo negar que já houve algum dia qualquer med.fara

( ~~ entre eles) e voltar-se par:'! a posição de homonímia forte. De aco rdo com
( ) essa visão, há uma palavra digtdrc0m. dois sentidos totalmente diferentes
~

(') e não rcb.cionados - tão diferentes quanto os dois sentidos para pI/III (mil

( "\ ,hl/Ie no futebo l americano t IIIlJ barro aberto de fundo achatado (0'" ponta!
( . .,. quadradas.· Como vi mos (no capírulo 18), a posição da homonímin forte
y
l) não dá cont:!.:

()
Da sistematicidade interna
()
Da sislcmaticidade uterna
() Das extensões da parte usada da metâf0f3
<) Do liSO de uperi\!nd a concreta p:1I3 estruturar txperiência abstraIa
('~ Das similaridades que, de rato, conS intamos entre os dois sentidOS dedigtrir. baseados na

o eonceptuall7..flção metafórica das idéilLS em termos de alimento.

( )

C '~- 1-- - - - - - É claro que um filósofo ou um lingüisra·objetivista podedn admitir"----


que ele não pode descrever adcqu:ldamemc tais sisternaticidadcs, similari-
\ ",
( , dades e modos de compreender o menos concreto em termos do mais
concreto. Isso poderia não perturbá-lo em nada. Afinal de contas, ele
()
argumentada que essa explicação não é da sua conta. Tais coisas interessam
('
ao psicó logo, ao neurofisiologista, ao mólogo ou a outra pessoa qualquer.
Seria, na tradição de Frege, a separação entre o "sentido" e as "idébs" e a
,
separação de Lewis entre os "sistemas semânticos abstratos" e os "fatos
,. sociológicos e psicológicos". A visão da homonímia, eles argumentariam,
,
"
é adequada para suas próprias finalidades objetivistas, ou se ja, para fornecer
,, condições de verdade objetivas para as expressões lingüísticas e dar uma
descrição do sentido literal objetivo em termos delas. Isso, presumem des,
)
poderia set feito independentemente para os dois sentidos de digedr sem
><-)
• 01318n3 em POTlUguês. (N.T.)

330
ler que levarem conta a sistematicidade. a similaridade,:t com preensão tlC.
Para ess:t concepção, os usos metafóricos convencion:tis de d{geârenvolvem
meramente homonimias e não quaisquer metáforas, viv:\s ou mort:ts. As
únic:ts metáfo ras que eles reconhecem são as metáfor:ts não convencioll:lis
(por exemplo, "Suas idéias são fe it:ts de es tuque bar:ttQ" oU "O amor e uma
obra de arte colaborativa"). Já que essas são questões de sentido do fabnre,
eles cliôam, e não do sentido literal objetivo de Ullla frase, questões de
verdade e de sentido que surjam em relação a elas deve m ser trMadas pela
explicação do sentido do fa bnte dada !Icima.

Em suma, o único ponto de visl:\ o bjetivista internamente consisl'en-


te de metáfora convencional seria que as questões de que lr:\lamos :He aClu i
- as propriedades das metáforas convencionais e o moela como as usamos
na compreensão - estão simplesmente fo ra do escopo de seus estudos.
I- - - - Jnsistiriam que não são responsáveis por tais ques tões e qu e nenhum fato
desse tipo concernente à metáfora convencional poderia ter susten tação no
programa objecivista o u em algo que eles, como objetivistas, acreditassem.
Eles poderiam admitir que nossas im'estigações da metáfora de-
monstmm corret.1mente que as propâfdades illlemâollni! e as gesln/ü txpttittl·
tini! são, de fato, necessárias para explicar como os seres humanos
compreendem suas experiências via med ram. Mas, mesmo adm itindo isso,
continuari:tm ainda a ignorar tudo o que temos feito, com base nos
seguintes fundamentos: poderiam dizer simplesmente que os experiencia-
listas só estão preocupados com o modo como os seres humanos com-
preendem a realidade; dadas todas as suas limitações, o objetivismo não
está preocupado com o modo como as pessoas colllprund(!lJ algo como
verdadeiro, mas com o que significa para algo l'm/"'l:fIle ftl' verdatleiro.

33 1
Essa resposta objelivista desL1ca perfcit:unenle a diferença fundamen-
tai entre objetivismo e experiencialismo. Ela, no fundo, ê uma reafirmação
de sua preocupação funda menml com a "verdade absolul:l" e o "sentido
objetivo", inteiramente independente de qualquer coisa que lenha a ver com
o agir e a compreensão humanos. Contra isso, lemos sUSl'enUldo que não h:í.
nenhuma razão par:t crer que exista uma verdade abSOluta ou um sentido
objetivo. Ao invés disso, sustentamos que é possívc.l dar uma explicação de
verdade c sentido somente relativa ao modo como pessoas funcionam no
mundo e como o compreendem. Estamos simplesmente num uni"'erso
filosó fi co (li fere nte dos objetivistas.

A irrelevância da fil oso fi a objctivista para problemas huma nos

Apesar das grnndes discordftncias, estamos no mesmo universo filo-


sófico dos objetivistas que pensam qtie pOde haver uma perspectiva objcti-
vista adequada da compreensio humana, de nosso sistema conceplllal e de
nossa língua natur:tl. J :í. discutimos em detalhe que a metâfora convencional
está infiltrada na linguagem humana c no sistema concepnml humano e que
ela é um veículo prim:í.cio para a compreensão. T:1mbêm já apresentamos
uma explicação adequada de compreensão que re'luer propriedades intera-
cionais e guM/li expericnciais. Uma vez que todas as explicações objetivistas
necessitam de propriedades inerentes e a maioria delas requer uma visão
teór:ica de categorização, elas deixam de dar uma cxplic:1çi o de como os seres
humanos concepn.mlizam o mundo.

Modelos objetivistas externos à filosofia objetivist:l

A rnatcm:í.tica d :í.ssica compreende um universo objetivista. Tem


entidades que são dar:\mente distintas umas das out.r:ls; por exemplo, os

332
(
(
núme ros. As entidades 1l1alemáticas têm propriedades inerentcs, por exelll- (
pIo, O 1m ê ímpar. E há relaçõcs fixas entre as entidades, por exemplo, o IIO/.'C (
é o quadrado de frif. t\ lógica Illat"emática Coi desenvolvida como pan e de
uma iniciativa de forntte r fun damentos para a matemática clássica. t\ semân-
<
(
tica formal também se desenvolveu com esse intuito. Os Illodelos usados na
(
semântica fo rmal silo exemplos do que chamaremos de "Illo<lclos objeLÍvis-
(
tas" - modelos apropriados aos universos do (liscurso nos quais há entidades
(
distintas que tcm propriedades inerentes e nos (]uais há relaçõcs fixas entre
(
as entidades.
(
t-.h s, o mundo real não é um universo o bjetivista, esp<.!cialmente
(
mqucJes aspectos que têm a ver com os seres humanos: a experiência
(
hum:ma, as instinlições humanas, a linguagem humana, o sistema conceptual
(
humano. O que significa ser um objetivism radic:!l é alefj<l r que há um modelo
(
obje ü~ista que se e~c:! ixa no mundo com? ele [ealn.le~~e é. Acabamos de
(
argumentar que a f!..loso fi a objetivist:l ê empiricamente incorrela por fazer
(
predições fa ls:ls sobre a linb'llagem, a verdade, a compreensão c o sistema
conceprual humano. Com base nisso, alegamos que a filosofia o bjetivista (
fornece uma base inadequada par.l as ciências humanas. Co!1t\l(!o, muitos (
matcmáticos, lógicos, Iingüistas, psicólogos c cientistas da área da comput:l- (
ç~o, que tcm idé.i:ls reconhecidamente brilhantes, clabornram modelos obje- (
uvistas para uso nas ciências humanas. Será q\le estamos afirmando que lOdo (
o lrabalho dcles é inútil e que os modc.los objetivislas não devem ler lugar (
nas ciências humanas? (

Não estamos, de modo algum, argu ment.1ndo tal coisa. ,\credimmos (

que os modelos objetivist.1S como as entidades matemáticas não têm neces- (


sariamente que estar amarrados :l. filosofia objetivist.1. Pode-se acreditar que (
os modelos o bjeuvistas têm uma funçilo - até mesmo importante - nas (

ciências humanas, sem adotar a premissa o bjetivisla de que existe um modelo


objeuvista que se encaixa completa e precisamente no mundo como ele (
(

(
{
7
()
fJl realmente ê. Mas se rejeitarmos essa premissa, que papel resta parn os
() modelos o bjetivist':ls?
( ,~ Antes de podermos responder a essa pergunta, devemos CXamlO:lf

I ) algumas das propriedades das medforas ontológicas e estntrurais:


( 'b
As metáforas ontológicas esllio entre os recursos mais Msicos que temos parncomprecndt!r
( ,~
nossas uperiêooas. Cada metáfora eslrulur.d lem um conjunto coerente de melHoms
t)
ontológicas como $t1bpllrteS. Usar um conjunto de metáforas omológic:I$ para compreen-
() der uma dClcnninnda Siluaç30 ~ impor urna estruwra de entidade sobre essa siluaçilo. Por
i) e.u :mplo, AMOR É Ufo,-tA VIAGUM impõe sobre AMOR unta eSln ltura de entidnJe

O
( , ir>Cluindo um início. um destino. um
C:UUillho, e Dssim por diante.
c~nlÍnho, 3 distallCia que j~ percOlTemos nesse

Cadn metáfora eSlOltural individunl é intemnJ!1Cnte coerente c impõe 1,11)13 es trutura


( .!j
coerente sobre o conceito que ela estrut ura. Por exemplo, a met:lforn DISCUSSÃO (l
( ~ GUERRA impõe uma estrutura de GUERRA irt1C:rn:unellle coerente sobre o conceito de
<.•. ',.~ DISCUSSÃO. Quando compreendemos Oamor apenas em termos da metMora AMOR (l
UMA VIAGEM, estamos impondo uma estru tura internamcmecoerente de VIAGEM 30
cooceito de AMOR.
Embora di ferentes IlICt:1fOras para o mesmo conceito n30 sejam cm geral consistentes umas
com as outras, ~ posslvel encontrar conjuntos de metMoras que sejam consistentes entre
.si. Vamos chamM a estes de conjunfos cO/uisunfu de meulfoms.

(. ' Por ser cada metáfora individual, illlemameme collsistente. cada conjunto consisteme de

U met:lforns pennite·nos a compreens3o de uma si tuação em termos de uma esU"Utura de


entid3de bem definida, com relllÇÕes consistentes emre as entidades.
<-J O modo como um conjunto consistente de metAforns impõe uma estrutura de entidades,
~ ')
npreselltnndo um conjunto de relações en tre :IS elltidades, pode ser representado por 11111
(J modelo objeti vista. No modelo. rui entidades são aquelas impostas pelas metáforas -
') ontológicas e as relações entre as entidades s30 aquelas d:.das pelas estruturas internas dlL'l
~ - ,") mctMorns estmturais.

Resumindo: Tentar estru turar uma silUação em termos de um con-


junto consistente de medfor.lS é, em pane, semelhante a tentar estrutura r

334
aqueb situação em termos de um modelo objetivista. O que fica de fo ra
siio as bases experiendais das medforas e o que as metMoras escondem.

A pergunta natural a ser feira, então, é se 3S pessoas realmemc pensa m


c agem em termos de conjuntos consistentes de metáforas. Um caso
especial em que elas o fazem é na fommbçiio de teorias cienúficas, digamos,
na biologia, na psicologia, ou na lingüíslica. As teorias cientificas fo rmais
são tentativas de estender consistentemente um conjunto de metMo ras
ontológicas e estmturais. Mas, além da teorização cienúfica, sen timos que
as pessoas tentam pensar e agir em termos de conjuntos consistentes de
metMoras em uma ampb variedade de situações. São os casos em que se
pode achar que as pessoas estão tentando aplicar modelos objeuvistas às
suas experiências.

Há um motivo excelente para que as pessoas vejam um3 situação de


--_ --- sua vida em teonos de um modelo objetivista, isto é, em termos de um
conjunto consistente de mct:íforns. O motivo é, simplesmente, que, se
podemos fazer isso, podemos L"1Zer inferências sobre aqueb situação que
não entrarão em conflito umas com as outras, ou seja, seremos capazes de
inferir expectativas e sugestões de comportamento não conilirantes. E é
um consolo - extremamente con fortante - ter uma visão consistente do
mundo, um conjunto claro de expectativas e nenhum conflito sobre o que
você deveria fazer. Os modelos objetivistas têm um fone apelo - e pela
mais humana das razões.

Não desejamos depreciar esse apelo. É como o npeJo de enCOnlrar


coerência na vida ou em algum âmbito de experiências da vida. Ter uma base
para expectativas e açõcs é importante para a sobrevivência. Mas, uma coisa
é impor um modelo objetivista ún ico sobre algumas situações restritas e :lgir
em termos desse modelo - talvez com· sucesso; e outra é concluir que o

335
modelo é um reflexo preciso d:l re:llid:lde. Há urn:l bO:ll.lôO peb qml nossos
sistelll:ls conceptuais têm metáforas inconsistentes pal.l \,1m único conceitO.
1\ razão é <luC n:io há um:l metáfora úmca que silVa. Cada metáfora permite
compreender um aspecto do conceito, escondendo outros. Operar apenas
em termos de um único conjunto consistente de metáforas ê esconder muitos
aspectos da realidade. Agi r de modo bem sucedido em nossas vidas cotidi:mas
parece exigir uma constante transferência de metáforas. O liSO de muitas
metáforas que s:io inconsistentes entre si parece necessário para. nós se
(lucremos compreender os detalhes de nossa. existência diária.

Uma utilidade óbvia para o estudo dos modelos objetivistas formais


nas ciências bum:mas ê que eles nos permitem compreender, em pr/rfe, a
h:lbilidade de raciocinar e agir cm lermos de um conjunto consistente de
metáforas. Essa atividade é comum e importante de ser compreendida. Ela
também pode nos permitir ver o que- estaria errado com a imposição de
uma neeessid:1de de consistência - ver que qualquer conjunto consistente
de metáforas provavelmente esconderá indefinidamente l11uitos aspectos
da realidade - aspectos que só podem ser iluminados por meio de outras
metáforas incom patíveis com o conjunto consistente.

Uma limitação óbvia para os modelos form:ti s ê que, até onde


podemos imaginar, eles não fornecem meios para incluirmos a base expe-
riencial da metáfora e, assim, n:io fornecem meios para estabelecer o modo
como conceitos metafô ricos permitem-nos compreender nossa experiên-
cia. Há um corolário disso que tem a ver com 3 questão de se algum dia
um com putador poderia ou niio compreender as eois3s do mesmo modo
que:ts pessoas o fazem. 1\ resposta que damos é não - simplesmente porque
a compreensão exige a experiência e os computadores niio têm corpos e
não têm experiências humanas.

336
(
(
Contud o, o estudo de modelos computacionais pode nos revelar muito
(
sobre as capacidades intelectuais humanas, especialmente nas áreas cm q ue o
(
homem pens:"! e age cm partC Cm termos de modelos o bjetivist:ls. Além disso,
(
as técnicas fo rmais atuais na ciência da co mputa ç~o prometem fo rnecer
(
representações de conjllnlOS illfOlIJultlllU de metáforas. Isso até poderia levar a
l
illsighlJ sobrc o modo como as pessoas pensam e agem em termos de conceitos (
met afóricos coerentes, mas inconsistentes. Os limites do estudo fo rmal pare~ (
cem estar nas bases experienciais de nosso sistema conceptual. (
(
Sílltm (
{
Nossa concl \.l S~O geral é que o programa objetivista é incapaz de dar (
uma explicação satisfatória da compreensão humana e de qualquer questão (
q ue exija tal explicação. Entre essas questões estão: (
l
• o sistema conceptual humano e a natureza da racionalidade humana; (
• a comunicação e a lingu:tgem humana; (
• as ciê ncias hum:lnas, cspeci:llmente a psicologia, a antro pologia, :l (
sociologia e a ]ingiiística ; (
• os valo res es téticos e morais; (
• a compreensão cientifica, via sistema concep tual humano; (
• qualquer modo em q ue os fundamentos das matemáticas baseiem ~ (
se na compreensão humana (
(
Os elementos básicos de uma explicação experiencialista de com-
(
p reens30 - :'iS propriedades intcracionais, as gtJlrtllJ exptáena'aü t OJ COIm:iloJ (
meltifóácoJ - patuem Jer nectIJfírioJ pam qua/qllcr Im/amcllto adeq/lado dUJ(lJ 'luulÕtJ
(
h"mmlaJ. (

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( ,
28. flLGUAiASDVADEQUAÇÕES
DO MITO DO SUBJE77VISMO

Nãc itltura 6Cidelltal; a principal alternativa ao objclivismo tcm sido -


tradicionalmente o subjetivismo. Discutimos que o mito do objetivismo é
inadequado para dar conta da compreensão humana, da linguagem huma-
na, dos valores humanos, das instituições humanas sociais c cu lturais c de
rodo que tratam as ciências humanas. Assim, de acordo com a dicotomia
que nossa cultura impôs a nós, ficaríamos apenas com a subjetividade
radical, que nega a possibilidade de <:Jualqucr explicação científica "sistema-
tizada" da realidade humana.

M:1S, :ugumentamos que o sllbjctivismo não é a única altern:ttiva para


o objetivismo e que há uma terceira opção: o mito do expcriencialismo, qu e
consideramos como uma possível base metodológica c filosófica adequll(b
para as ciências humanas. Já diferenciamos essa alternativa dll perspectiva
objetivjsta, e é importante diferenciá-la também da perspectiva subjetivista.

339
Consideremos brevemente algumas posições subjeuvistas em relação
ao modo como as pesso:!.s compreendem sua experiência e sua linguagem.
Os exemplos vêm principalmente da tradição romântica e são encontrados
nas illlerpretações conrempo r;i/lea s (provavelmenle fIIÓJ interpretações) da
reccnte fil oso fia européia, cm particub.r nas tradições da Fenomenologia c
do Existencialismo. Essas interpretações subjetiviSl:ls são popularizações
de lal modo amplas que escolhem e sclecionam clemenlos da filosofi a
européia al1ti~objctivisra, (re{!üenlemen te ignorando o que to rna cerlas
tenclcncias do pensamento europeu sêrias tentativas de fornecer uma base
para as ciências humanas. Essas posições sub jetivistas, enumeradas abaixo,
podem ser caracterizadas conjuntamente co mo "fenomenologia do cafcú*
I
nho". E las incluem:
I
• O !til/ido i illlliLiduaf. O sentido' é serilpre ref., tÍVõ -ãõ que êS"ignifi. --I
cante e significativo para uma pessoa. O que um indivíduo acha
signiGcante e o que significa paro ele é uma questão de intuição, de
imaginação, de sentimento e de experiência individtml. O (llIe
alguma cois:!. significa parn um indivíduo nunca é totalmente
conhecido ou comunicado a nenhuma outra pessoa.
• A experiência i pural!1C!1le bolú/iCtT. Não hfi qualquer estmlur:lção de
nossa experiência. Qualquer estrutura {lue nós ou outra pessoa
impusermos sobre nossa experiência é completamente artificial.
• OJ Jm/MoJ IIno li", (JlII1/qfll:r ti/m/11m tla/llml. O sentido para um
indivíduo é uma questão de seus sentimentos, suas expedências,
suas inUliçõcs e seus valores particulares. E les são puramenle
holísticos; não têm qualquer estrutura natura!. Conseqüentememe,
os sentidos não têm qualquer estmtura natural.

340
(
(
(
• o COlltexto é deses/m/flrado: O eonte"to necessário para compreender (
um enunciado - físico ou culturalóu pessoal ou interpessoal - niio
(
tem estrutur:l. nat\lral. ·
(
• O sentido não pode ser /la/ura/ Otl adefjuadrl!!lC/l/e n:presentado: Essa é uma
(
conseqüência do fato de que os sentidos não têm ep.lalquer estru-
(
tura natural, de 'lue nunca serjo conhecidos ou comunicados (
totalmente para uma outra pessoa e de que o contexto necessário (
para compreendê-los é desestrutmado. (
(
Essas pOS1ÇÕes subjetÍvisras todas dependem de um pressuposto (
básico, ou seja, o de 'lue a experiência não tem eSlrutllta natma! e, portanto, (
niio pode haver qU:lI'luer restrição externa natura! sobre o sentido e a (
verdade. Nossa resposta é conseqüência ditet:l. de nossa descrição do modo (
como nosso· sistema· conceptual está fuodament:ldo: Argumentamos que (
nossa experiência é estruturada holisticarnente em termos degcsltJ/ú expe- (
rienciais. Elas têm uma estrutura que não é arbitrária. Pelo contrário, as (
dimensões 'lue ca racterizam a cstmtura dessasgesta/ts emergem naturalmen- (
te de nossa experiência. (
Isso niio significa negar:l possibilidade de que o sentido que qua!(luer (
coisa tenha para mim esteja base:1do nos tipos de cxperiênci:1s flue cu já t
tive c 'lue você não teve, c que, portanto, eu niio conseguirei comunicar (
completa e adequadamente esse sentido para você. No entanto, a metáfora (
fornece um modo de comunicar pt/ma/mente as experiências niio comparu- (
lhadas e ê a eStruUJr:"1 natural de nossa experiência 'lue torna isso possível. (
(
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341 (

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29. AAUERNA1TVAEXPERJENClAUSTA.·
DANDO NOVO SEN1TDOAOS VEUIOS MITOS

- - -- - - O f.-!.to deos mitos do subjetivismo ceJo-objetivismo terem dominado


por tantO tempo a cultura ocidental indica que cada um tem lima função
importante. Cada mito é motivado por preocupações reais e razoáveis, e
cada um tcm um funda mento cm nossa experiência cultural.

o que o expedencinh'smo pnJtrvtl das pnoflrpaçõts 11ft Nlolit'(Jf!J o ol(jetinJ!IIo


A preocupação fundamental do mito do objetivismo é o mundo
externo ao indivíduo. O mito corrctamente enfauza O fato de que h:i. coisas
reai s, existindo indcpendememc:nrc de n6s, que restringem tanto o modo
como interagimos com elas quanto o modo como nós as compreendemos.
O cnfocjue do objctivismo na verdade e no conhecimento factual baseia-se
na impon'3.ncia desse conhecimento para sermos bem sucedidos n:lS nOSS :lS

t•
ações nos meios cultural e fisico. O mito é também motiv:tdo por um:l.

343
preocupação com a justeza c a !mparcialieb dc nos casos cm que isso é
impOrL;lIllC c pode ser atingido de uma m:lllcira razo:lvel.
i
,i O mito cxpcricnciaüst:', como temos esboçado, compartilh:l essas
preocupações. O cxpcricncialismo afasta-se do objctivismo, no entanto,
cm duas ques tões fundamentai s:

!l"istc ullla vcrdnde absoluta?


A ve rdad e absoluta é necessária para alcançar as preocupações enunciadas acima - a
prcocup:lçno co m o conhecim c!>lo 'lu e nos permite ag ir CQ III sucesso e li preocupaç30
com a j usteza e a illlparcia)i(ladc?

::1
!.
I,
o cxpcricncialismo responde negativamente :ts duas questões. A

II verdade é sempre relativa â compreensão, que se baseia num sistema


conceptual não-universal. Mas isso não impede a satisfação da s preocupa-
ções legítimas sobre o conhecimento e a imparcialidade que têm motivado
I
,i o mito do o bjeti ....ismo h:i séculos. A objetividade ainda é possível, mas
assume um novo sentido. Ela ainda pressupõe olhar além do viés individual,
seja na questão do conhecimento, seja na de valor. Mas, quando a objcti-
vidacle é razoável, nilo recluer um ponto de \·ista :lbsoluto universalmente
válido. Ser objctivo é sempre relativo a um sistema conceptual c a um
conj unto de valo res culturais. Uma objctividadc razoável pode se r impos-
sível quando há sistemas conceptuai s conflitantcs ou valores culturais
con nit':lntcs, e é importante poderndmitir e reconhccer qu:lndo isso ocorre.

I)e acordo com o mito expcriencialista, O conhecimento cientifico


aimh é possível. Mas desistir do postulado da verdncle a~soltlta poderia
tornar a pr:ítica científica mais responsável, uma vez Cjue haveria uma
co nsciência ger:ll de <lue uma teo ria científica pode esconder ao mesmo
tempo que revela. Uma noção gernl de que a ciência não p roduz a verdnde
j
1 344
(
(
(
absolut'a sem dúvida mudaria o poder e o prestígio da comunidade científica (
bem como as práticas financiad0l!ls do governo fede ral. O resultado seria (
uma avaliação mais mdonal do (1\le é o conhecimento científico c dc quais (,
são suas limitações. (
(
(
o (Jllt o expen"mtin/úmo pmtlVfl da! prrompnfõu que lJIotiva'" o !lIijetilis!lJo
(
o que 1cgilimamenLc motiva o subjetivismo é a consciência de que (
o sentido é sempre o sentido para lima pessoa. O 'lue tem sentido para mim (
é uma questão do que é importante para mim. E o que é importante para (
mim não dependcrfi somente de meu con hecimento racional, mas tambêm (
de minhas experiências pass:lclas, de meus valores, de meus sentimentos e (
de meus ill!ighl! intuitivos. O selllido não é pré-determi nado; é um:!. questão <-
de im:lginação e um:l {l\lestão de coerênci:t construtiv:l. A ênfase objetivista --- -(
em atingir um ponto de vista universalmente vâlido deixa escapar o (Iue é (
importante, revelado r e coerente p:!.Ta o indivíduo. (
(
o mito experiencialism admite que a compreensão envolve todos
(
esses elementos. Sua ênfase n:l imeração c n:!.s propriedades imeracionais
(
demonstra que o sentido é sempre sentido para uma pesso:!. . E sua ênfase
(
na construção da coerência, viagt!ta/tsexpericnciais fornece uma explicação
(
do que significa lima coisa ser significativa para um indivíduo. Adcm:lis,
(
dá uma explicação do modo como a compreensão usa os recursos primários
(
da im:"!ginação vi:"! metáfora e de corno é possível (br novo sentido 3
(
experiência e criar novas realidades.
(
O expericncialismo diverge do subjetivismo na rejdção d:l idéia
(
romànúca de que:l compreensão imaginativa não sofre nenhuma restrição.
(
(
(
(
'15
(
UI
()
(} Em suma, vemos o mito do experiencialismo como capaz de satis-

O fazer as preocupações reais c razo:i.veis que têm motivado tanto o mito do


I
( :;; I subjetivismo como o do objetivismo, mas sem a obsessão objctivista com
( ~,) a verdade absoluta, nem com a insistência subjctivista de que a imaginaçiio
( ) é livre de 'lualquer restrição.

(
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I
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3"
~~ II
30. COMPREENSAo

I- - - - -- - ycmos que na, por {rir dos mitos t:l.ntodo objetivismo- quanto' do--~·
subjetivismo, uma única motivação, isto é, a preocup:lção com a compreensão.
O mito do objeovismo reflete: a necessidade humana de compreender o mtUldo
exterior a fim de poder agir eficientemente nele. O mito cio subjctivismo est:i
centrado cm aspectos interiores da compreensão - o que o indivíduo acha
sigru6cativo c o que faz com que sua vida valha a pena. O mito expecienci.1.list.1
sugere que essas não são preocupações opostas; ele oferece uma perspectiva na
<lua] os dois tipos de preocupações podem se unir simult:UlL"amente.
Os velhos mitos partilham uma perspectiva comum: o homem sepa-
rado de seu meio. No mito do objetivismo. a preocupação com a verdade
surge de uma preocupação com uma lHU:lção bem sucedida. Dada um:!
visão de ser humano separado de seu meio, um:t :tm:tção bem sllcedid:t

,
signific:t dOl!línio sobre o meio. Daí as metâforas objetivistas CON HECIMEN-
TO É PODER e CIÊ1.'.IClA FORNECE CONTROLE DA NATUREZA.

347
!\
o principal tema do mito do subjctivismo é a tentativa de superar a
aijcnaçiio (Iue rcsult!\ de olhar o ser humano separado de seu meio c de
OUlros seres humanos. I sso consiste num envolvimento do ClI - da indivi-
duaüd;lcle - c de uma grande confiança nos sentimentos, na inLUição c nos
valores pessoais. 1\ versão ro mântica envolve deleitOlr·sc nos sentidos e
sentimentos c tentar obter uniiio com a natureza por meio de apreciação
passiva dcla.

o mito cxpcricncia lista con sidera O homem C0l110 parte do meio, não
separado dcle c focaliz a a constante intcração do homem com o ambiente
físico c com as outras pessoas. Vê essa intcmção com O meio envolvendo
a transformação lln.hl.1:l. Você não pode agir no meio sem tr:msformâ-lo ou
sem ser transformado por ele.

No mito cxpedencialista, a compreensão emerge da inter.tção, de


_.- - ----~- - --
-unla const,'lllle-negoci:íçã;; co~ o meio e com as Outras pessoas. Ela emerge
da seguinte maneira: a natureza de nossos corpos e de nosso ambiente fisico
e culmral impõc uma estnltura sobre nossa experiência em função de
dimensões narur:lis do tipo (Iue discutimos. A experiência recorrente leva
à formação de categorias que são gulo/IJ experienciais com aquelas dimen-
sõcs naturais. Essas gula/II definem a coerência em nossa experiência.
Compreendemos diretamentc nossa experiência quando vemos <JlLe ela é
estruturada de fo rma coerente em termos degu/a/IJ (Iue emergiram direta-
meme (la interação com Ce em) nosso meio. Compreendemos a experiência
metaforicamente (Iuando usamos umagu lllllde um domínio de experiência
para estruturar a experiência cm outro dominio.

Em uma perspectiva experiencialisla, a verdade depende da com-


preensão C]ue emerge d:!. ação hum:!.na no mundo. É por meio de tal
compreensão que a alternativa cxpcrienci:J.lista satisfaz à necessidade obje-

348
(
(
(
civista de uma explicação da verdade. É por meio da estnlluraçiio coerente (
eh experiência que a :llternaciva experienci:llista s:lusfn :i neccssichde (
subjetivista de sentido pessoal e signi ficante. (
Porém, o experiencialis mo o ferece mais do que apenas uma síntese (

que satisfa z as preocupações motivador.ts do ob jetivismo c do subje tiv i s~ (


(
mo. A explicação experienciali sta da compreensão oferece ullla perspectiva
mais rica :l respeito de algumas das mais importantes áreas da experiência (

em nossas vidas di:írias: (


(
A com uni cação interpessoa l e a compreensão mútua (
A nlltocOl11prccns~o
(
O rimnl
(
A cxperi êoc ia es tética
(
A polítiCll
(
Sentimos que tanto o obj etivi sll1o qu:mtQ o sub jelivismo oferecem (

visões empobrecidas de lodas essas áreas porqlle um perde os interesses (

motivadores do outro. O que ambos perdem em todas essas áreas é uma (

compreensão criativa com fundam entos interncionais. Vamos agorn passar (


a uma explicação experiencialista da natureza eb compreensão em cada lima (
dessas áreas. \
(
(
A fOfmmira(iio inlerptJJoal e a fOfflprulIJiio mlÍtllo
(
(
Q uando as pessoas niio pa rtilham a mesma cultUr:l., o mesmo conhe-
(
cimento, os mesmos valores c os mes mos princípios,:1 compreensão
(
mútua pode ser especialmente difícil. Tal com preensão i possível alr:1vés
(
da negociação de sentido. Para negociar o sentido com alguém, você deve
(
(
(
349
()
(j
("I tornar-se consciente das diferenças de experiências de mundo anteriores
.'
( ) de ambos e respeitá-Ias <Iuando forem importantes. Você necessita de
() diversidade suficiente de experiências culturais e pessoais pafa ter consciên-
(') cia de que existem visões divergentes do mundo e como elas podem ser.
( ') Você também precisa de paciência, de uma certa flexibilidade em sua visão
() de mundo e de uma generosa tolerância com relação a erros, bem como
"'11 de um talento para encontrar a metáfora correIa para comunicar as p:trtes
\ >
() relevantes das experiência s não partilhadas, ou para ilumin:tras experiências

n partilhadas e, ao mesmo tempo, atenu:tr:l importância de outras. A

d imaginação metafórica é uma capacidade decisiva para criar relações e pa~


(') comu nicar a narureza de experiências não partilhadas. Essa capacidade

n i consiste, de uma manei ra gemi, na habilidade de flexibili zar sua visão de

o 'I
mundo e de ajustar o modo como você categoriza sua experiênci:-.. Os
("'>J problemas de compreensão mútua não são exóticos; eles surgem em todas
(1 as conversas prolongadas em que a compreensão é importante.
() Nos casos verdadeiramente importantes, o sentido quase nunca é
() 11
comunicado de acordo com a metáfora do CANAL, isto é, quando uma
\ J pessoa transmite uma proposição fixa e clara para uma outra pessoa por
(J meio de expressões em um.a linguagem ordinária, em que ambas as panes
"
( . têm em comum todo o conhecimento relevante, os princípios, os valores
( ; etc. Quando a situação está complicada, o sentido é negociado: você
(, lentamente descobre o que vocês têm em comum, sobre o que é mais
( I
(.
., seguro falar, como você pode comunicar experiências não compartilhadas
ou criar uma visão compartilhada. Com a necessária flexibilidade para
O ,, alterar sua visão de mundo e, com sorte, com capacidade c tolerância, você

,
( " pode alcançar uma compreensão mútua.
(
\
('
(' 350

n
C
As teorias da comunicação baseadas na metáfora do CANAL mudam
do patético para o perverso, quando aplicadas indiscriminadamente em
grande escala, por exemplo, na fiscalização do governo ou nos :lrquivos
computadocizados. Nesse caso, o que é mais decisivo para a verdadeim
compreensão quase nunca é incluído e :lssume-se que as pabvras no :trquivo
têm sentido em si mesmas - sentido descorpotificado, objetivo, compreen-
sível. Quando a sociedade vive em larga escala pela metáfora cio CANAL, o
equivoco, a perseguição e muitos ourros males são resultados prováveis.

A (1II10fOmpru!I5iío

A capacidade para a :tmocompreens3o pressupõe a capacidade para :l.


compreensão miitua. O senso comum diz-nos que é mais fácil compreen-
1___ --"
dc,.rTl!oS a nós mesmos do que compreender outrns pessoas. Afinal, tendemos
a pensar que temos acesso direro a nossos próprios sentimentos e idébs e
não aos de outrem. A :l.utocomprecnsão parece amerior à compreensão
mútua e, cm certos aspectos, realmente o é. Po rém, qua]c!uer compreensão
realmente profuncb de por que fazemos o que fazem os, sentimos o que
sentimos, mudamos como mudamos e até acreditamos no que acreditamos,
leva-nos para além de nós mesmos. A compreensão de nós mesmos não é
diferentt:: de outras formas de compreensão - ela surge de nOSS:lS constantes
interações com nosso meio fisico, cultural e interpessoal. No minimo, as
capacidades exigidas para a compreensão múrua são necessárias atê mesmo
para se chegar à autocompreensão. Assim como na compreensão mútua
busC:lmos coisas comuns em nossas experiências ao falannos ccrn outras
pessoas, na autocompreensão estamos sempre buscando o que ê uniforme

,
em nossas t::xperiências diversas p:lra dar coerência a nossas vidas. Assim
como tentamos enContrar metáfo ras para iluminar e tornar coereOle o que

351

"

temos cm comum com alguém, também lentamos cncontr.lr mCI':íforas


pessoais para iluminar c tOrnar coerentes nosso próprio p:lss:lClo, nossas
ativkb dcs presentes, nossos sonhos, nossas esperanças c nossos o bjcuvos.
Uma grande parcela de aUlocompreensão é a procura de metáforns pessoais
apropriadas que dêem sentido a nossa vida. A aUlocomprcensão exige infinim
negociação c renegociação do sentido de suas experiências com você mesmo.
Em terapia, por exemplo, muito da autocomprccnsão envolve reconhecer
consciCIllClnCntc antigas medforas inconscientes c como vivemos por meio
dclas. Envolve a constante constnlção de nav:!s cocrênci:lS cm nossas vicbs,
coerências {Iue dão novos sentidos a vdhas cJ<:pcriências. O processo de
autoco mprccnsão é o desenvolvimento continuo de novas hislôrias de vida
t para você mesmo.
I
I
A abordagem experiencialista do processo de :lutocompreensão
envolve:

• Desenvolver uma conscientização da s metáforas por meio eb s


q uais vivemos e uma conscicntização de onde elas entram e não
entram cm nossas vidas d iárias;
• Tcr experiências que podem fonmr a base de meL-iforas alternativas;
• Desenvolver uma "flexibilidade experiencial";
• ElIgajar-~c cm um processo infind:ivcl de ver sua vida por meio de
novas metáforas altern:lti\'as .

o nl"a!
Estamos constantemente realizando rimais, desde rimais eas u:lis
como: faz er o café de manhã na mesma seqüência de estágios a cada dia c
assistir às notícias das onzc horas atê o fim (depois de já [(~ r assistido :J. elas

352
(
(
(
às seis horas), até ir a jogos de fu tebol, a jantares de Dia deAção de G raças, \
a aulas universitárias de vis itantes importantes e assim por diante, até às (
mais solenes práticas religiosas. Todas são práticas estruturais repetidas, (
algumas conscientemente projeradas em detalhes, algumas mais conscien- (
temente representadas 'Iue outras e algumas surgindo espontaneamente. (
Cada ritlml é um aspecto repetido, coerentemente estfllturado e unificado (
de nossa experiêncü. Ao pratid-los, damos eSlmtura c sentido a nossas (
atividades, minimizando o caos e a disparidade em nossas ações. Em nossos (
termos, um rinJal é um tipo degesta/! experiencial. É uma seqüência coerente (
de ações, estruturada em termos das dimensões naturais de nossa experiên- (
cia. Os rituais religiosos são normalmente atividades de lipo metafórico (
que, cm geral, envolvem metonímias - objetos do mundo real significando (
entidades do mundo tal como são definidas pelo sistema conceptual da (
religião em qllestào:-A -estrutma coerente do ritual religioso reflete um (
aspecto da realidade tal como ela é percebida por e.ssa religião. (

Os rituais pessoais cotidianos são também gesta/Is experienciais, (

consistindo cm seqüências de ações estruturadas pelas dimensões naturais (

da experiência - uma estmtura parte-todo, etapas, relacionamentos causais (

e meios para atingir met~s. Os rituais pesso~is são, portanto, espécies (


n~tur~is de :ttivjd~dcs para indivíduos e para membros de uma subcultura.
Eles podem ou não ser espécies metafóricas de atividades. Por exemplo, é (

comum cm Los Angeles participar da atividade ritualístic~ de dirigir pas- (

s~ndo pelas casas de estrelas de Hollywood . Esse é um tipo metafórico de (

ativid~de baseado na metonimia CASA REPRESENTA A PESSOA e a metáfora (


PROXll\fJ DADE FíSICA É PROXiMIDADE PESSOAL. Outros rituais diários, \
metafóricos ou não, fornecem gula/t.f <jue podem ser a base de metáfor~s.
(
(
(
(

353
(
()
CD
(} por exemplo, "Você não sabe para que está abrindo a porta", "Vamos
() arrcgnçar nossas mangas c começar a trabalhar" etc.
Cj! Sugerimos que:
()
() • As metáforas pelas quais vivemos, culturais ou pessoais, são par-
() cialmente preservadas cm rimaI.
() • As metáforas culturais, e os valores implicados por elas, siio pro-
() pagadas por ritual.
() • O ritual consumi uma parte indispensável da ba,sc experiencial de
() nossos sistemas metafóricos culturais. Não pode haver cultura sem
() ritual.
()
() Da mesma forma, niio pode haver visiio coerente do eu sem ritual

() pessoal (normalmente do tipo casual e que emerge espontaneamente).

c; Assim -colnonoS"SiSmetáforas pcssoaisnão -s~oal eatódas, mas formam


sistemas coerentes com nossas personalidades, nossos rituais pessoais nio
()
( "\ são aleatórios, mas são coerentes com nossa visão de mundo e de nós

()
-'
, mesmos e com nosso sistema de metáforas c metonimias pessoais. Nossas
concepções de nós mesmos normalmente inconscientes e implícitas e os
l)
( ;. valo res pelos quais vivemos são talvez mais fonem ente reOecidos nas
( . pequenas coisas que fazem os e repetimos, iS[Q é. em rituais casuais que
.I
emergiram espontaneamente de nossa vida quotidiana.
U
()
() ri experiintia ti/ética

I ,
Na perspectiva experiencialista, a metáfora é uma questão de racióna~
lidade imaginativa. Ela pennite uma compreensão de um tipo de experiência
em lermos de uma outra, criando coerência em virtude da imposição degp/alls

354
que são CSlrUturadas por meio de dimensões natmais da experiêncIa. As
medforas novas são capazes de criar novas compreensões e, portantO, 1l0v:as
realidades. I sso deveri:a ser óbvio no caso d:a metáfo ra poêric:a em que a
linguagem ê um meio peJo qual novas metáforas concepmais são criadas.

No entanto, metâfom não é memmente um:l. questão de linguagem.


Eb é t.1.mbêm uma CJuesrão de estrutura conceptual. E estmmra conceptual
não é simplesmente uma questão de intelecto - ela envolve tod:l.s as dimen-
sões natumis de nossa experiência, incluindo aspecl'OS de nOSS:lS experiências
sensoriais: cor, forma, textura, som etc. Essas dimensões estrururam não
somente :IS experiências de mundo, mas também as experiências estéticas.
Cadafomlfl arusuca seleciona certas dimensões de nOSSa experiência e exclui
outras. Os uabalhos de arl/.! fornecem novas maneiras de esmmlrar nossas
experiências em tcnnos dessas dimensões natur:l.Ís. Os trabalhos artísticos
fornecem nov:l.sgeslalüexperienciais e, portanto, novas coerências. Do ponto
- - - -,de vistlcexpenencialisra;a arte é;,geralmente, uma questão de racionalidade- - -
imaginativa c um meio de criar novas realidades.
A experiência estética não está então limitada ao mundo oficial da arte.
Ela pode ocorrer em qualquer aspecto de nossas vidas diárias - sempre que
nos damos cont.'l de, ou criamos para nós mesmos, novas coerências que não
são parte de nosso m odo convencional de percepção ou de pensamento.

A politica

O debate político no rmalmente lmU de q uestões de liberdade e


economia. Mas pode-se ser ao mesmo tempo livre e financeiramente seguro
enquanto se leva uma existência sem sentido e v:azia. Vemos os conceitos
metafóricos de LIBERDADE, IGUALDADE, SEGURANÇA, IN DEPENDÊNCIA
ECONÓMICA, PODER etc. como scndo diferentes maneirns de se elar ilJ(lirt-
lamenlt sentido 3. e.xistência. Eles são aspec tos necessários a uma discuss3:o

355
adequada da <juest.1.o, porém, até onde sabemos, nenhuma ideologia política
trata a quesrno principal de frente. D e fato, muitas ideologias argtlffientam
que questões de sentido eultur:11 ou pessoal são secundárias, ou são para ser
trntadas mais tarde. Qualquer uma dessas ideologias é desumaniZ:ldOI":l.
As ideologias políticas e econôm!cas são estrurur-aclas cm termos
metafóricos. Como todas as outras metáforas, as metáforas políticas e
cconônucas podem encobri r aspectos da realidade. Mas, n:\ área de política
e economia, as metáforas sigtuficam mais, porqlle restringem nossa existên-
cia. Uma metá fora em um sistema politieo e cconômico, cm virrude do quc
ela esconde, pode levar :i. degradação humana.
Considere apenas um exemplo: 11lJ\BAI..HOE Ul\l RECURSO . A maioria
das teorias econômicas contemporâneas, capitalistas Oll socialistas, trata o
trabalho como um recurso natural ou um bem, equivalente a matérias-primas,
_ _ _ _~ falam nos mesl.nos termos sobre sell CllstO c sua ofem. O que é oculto pela
metâfora é a narureza do tl":lbalho. Nenhuma distinção é feita entre {I":lbalho
significativo e trabalho desumanizador. Em Iodas as estaústicas sobre traba-
lho, não há nenhuma sobre trabalho SigllifiC(/liw. Qu:mdo aceitamos a met:i fora
·rnAI3AUIQ É UM RECURSO e assumimos que o custo de recu rsos definido
assim deveria ser mantido baixo, emão a mão-de-obra barata to rna-se algo
bom, cCjuivalente a pctróleo bar:lto. A exploração de seres humanos por meio
dessa metáfora é mais óbvia em países 'lue se gabam de "uma o ferta
virtualmente inexalldvcl de mão de obra barata" - uma afirmativa econômica
neutra que oculta a realidade de degradação humana. Porém, virtualmente
todas as maiorcs naçõcs industrializadas, capitalistas ou socialistas, usam a
mesma mcráfora em suas teorias e polfticas econÔmicas. A aceitação cc&ra da
llletMOr:l pode ocultar realidades degradantes, seja a do trabaUlo destituído
de sentido para oper.í dos e para profissionais cohrinho-branco nas socieda-
des 'avançadas'; seja a da escravidão virtual no mundo inteiro.

356
(
.-
'. (
(
(,
(
(
(
(
(

(
(
(
(
POSFAoo (
(
(
(
Colaborar na escrita deste livro nos deli a oportunidade de explorar
(
nossas idéias não somente discutindo entre nós, mas, literalmente, com
(
centenas de pessoas - alunos c colegas, amigos, parentes, conhecidos c até
(
com os estran hos da mesa ao lado num café. E após Icrm os refletido sobre
(
todas as conseqüências de nossas idéias p:lra a ftIosofia e para a [ingüística,
(
o que ficou de mais importante cm nOSS:lS mentes fo ram as própnas
(
met.'Í.roras c os insights que elas nos trouxeram sobre nossas própnas
(
experiências cotidianas. Nós ainda fi camos maravilhados qu:tndo nos
(
percebemos c aos outros ~l ll oss a volta vivendo guiados por mctMoras, Ims
(
como 'mMPO É D I NH EIItO, AMOR Ê UMA VIAGE.M E PROBLEMAS SAO
(
QUElm.A.CABEçAS. Pensa mos sem cessa r ([ue é import':lnte perceber (Iue
(
a mandr:t como aprendemos a ver o mu ndo não é a ll11ie:t mand ra c que é (
possível ver alêm das 'verdades' de noss:t cul tura. (

I
j 357
(
(

(
(
c..'.l
O
O· Mas as metáforas não são meramente fenômenos que devem ser
O decifrados. De f.uo, só é possível decifrá-Ias usando Qutms metáforas. Ê
O como se a habilidade de compreender a experiência por meio da metHara
(j\ I
fos se um dos cinco sentidos, como ver, ou tocar, ou ouvir, O que quer dizer
C.) que nós 56 percebemos e experienciamos uma boa p:tne do mundo por
(..Jl> meio de metáforas. A me tHora é parte tão importante da nossa vida como
o
(j
C) 1,
j o toque, e cio preciosa quanto.

()
u
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(j)
ü ~ _______~__~_______________
(T·
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j
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358
J,
1

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