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GEORGE LA KOFF
MARKJOI-INSON
Irndll(fio
GRUPO DE ESTUDOS DA
lN DETCltt.1JNAÇÃO E DA METÁFORA (C mM)
sob coordenação de Mam SOphitl ZmlOflo
e pela [r:t<lu tor:t Vtm Mahif
METÁFO RAS DA
VIDA COTIDIANA
/'\EIKftDO
ecJu~ \'iii lETRftS
nlulo oo;g; .... em '''!I'h: Mf/hop/l",.,... M. <l1'
c....o do. 01••;,<><, l hO u.;......;,.,. 01 CI\It.O(j<J Pr .... CNc:""". USA.
1980 .,.Ia 1'" U ........ ,v ot (1';"""0. TocIc>o os .... _ ,....... _ .
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d. Ifad<>o;lo MOI' ~ Z.""no!- C.~• • SI': Mo,.odo o;\e l o"":
Slo P.ul,,: Edv< . 2002. - ICoi'rIoA. ro,o, d. Unlli)l,li~o Apli..doi
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RUM: Antonio C,,1oo C,,""'O 11"""0
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Seipõono Di Pleno -.1loQueI_ Oegonuojn lPresõdentot
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SuMA/lia
3. A .f/S7EAiATlCIDADE METAFÓRICA:
REALÇ.A.NDO E ENCOB RiN DO . . 53
4. AS METAFORAS ORlENTACIONA TS .
5. METAFOlVl E COEIlliNOA Q)LTIlRAL ..
"
71
6. AS METAFORAS ONTOLÓGiCAS. . . . . . . . . . . . . .. 75
7. PERroN1FICAÇ/fO . .. 87
8. A METONÍMIA .. . . . . . . .. . . ... . .. . . . . . •...
II
22. / 1 CRL-1Ç/fO DA SIMlLAR/DADE . . . . . " . • •. • " . • •. 2<S
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APRESENTA(.Ao A EDI(AO DRASlLE1RA
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Som ente agora, vi nte e dois anos após sua pubUcação nos EU A, está
(
sendo publicado cm língua portuguesa este livro de Lakoff c Johnson,
considerado ho je uma obra pioneira, <\ue já se tornou dâssica na vaSta
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(
litcr:Hura sobre a mctâfom. E mbora Lakoff c seus associados tenham
(
muitas obras posteriores, que já se tornaram "uma clássica lis[3 de referên-
(
cias" (St'ccn 1999), o GnlpO de Estudos da Indeterminação e da Metâfom
(
(G El l\1) Optou por traduzir o M tlnpborJ IIIt /;,It '!J, porque ele representou O
(
marco inicial de um progmma inovador de pesquisa.
(
Por se r uma obra datada de 1980, pensamos cm elabo rar urna
<
apresentação ~ edição br;'l silcira para situar o leitor cm relação ao cOntexto (
no qual a obra surgiu, ou seja, Situar este livro cm relação ft ~ (
paradigmática gue se iniciou na década de 1970. Temos consciência, (
entretanlO, de que só é possível alcançar esse objetivo de fo rma sllperfici:ll, (
pois é impossível dar conta da vasta li teratura sobre a metáfor.!. e das (
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<J inúmems teorias que su rgirnm nos últimos frlnta anos. Gibbs (1999, p. 29),
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-, por exemplo, nos dá idéia da variedade de teori:'\s 'lue existem hoje sobre
< -& a met:ífor:t. afirmando que, sô no campO da psicologia cognitiva, temos as
(.l)
seguimes [(';or1:1.$:
(..)
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tcoria dodese<) uilíbrio de saliêllcin (Ol1ony 1979; Ono ny ~llIi.. 1985): teoria da inltmç30
( ..;,;..-à
de domínios (T ourll ngcn u e Slcmberg 198 1. 1982); teoria do mnpennW!nto de CSUlllUfõl
(
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<."'.
-" (Gentner 1989; GenlllCr e C remems 1988); ttoria da illC lu s30 de c lasse (Glucksberg e
Keys.1r 1990): e teoria da rnetMOrõl cooccpmnL (Lakoff 1987; Lakoff e Johnson 1980:
( ,J
(
....' , Oibbs 1994)
<j) dos c~mpos sem5micos (Kittay 1987); teoria da cri~30 de similaridade (Indurkhay,]
1992); e teoria da relev!lncia (Sperber e Wi lson 1985. 1986). ~m dúvida, há uma
( ~
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abundância de idf ias n~ tcntntiva de melhor nplicar a JIlclllforn. (pp. 29-30)1
<j)
(~
(i§) Pretende mos também falar das gr:tndes mud:lnç:ts que este livro
(jj\ provocou, assim como dar uma idéia de algumas obras posteriores do gru po
liderado por Lako ff e apontar alguns tópicos amais de pesquisa no quadro
I(, Jll
teórico da metáfora concepmal.
i( ~ I
J ~ I Embora a teoria propOStll. neste livro se ja apenas uma clemre as
!< ~ I inúmeros teorias sobre met:lforn que surgiram desde a década de 1970, ela
i( .3 I. Neuc luto Gibbl considcl'll ~ tCOfia ,lo Lakoff c Johnson como sendo do domínio d~ psicologia
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I cognitiva, m:l$ cla considcl'l\d:l USUAlmente como sendo do domJnio da lingUlstica cognitiva. Na
i<, l~ inlroduç30 DO li vro organi Uldo em pa m:ri. COln Steen. M~tlIphor iII coS"il;v~ U"S,dJlks. t.m~m
~ (\', o:Lotado de. 1999. Gibbs e SLecn consideram II. obnI de Lakoff como pcn enc:cllle DO domínio d~
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tem um fone poder e~plkativo e, por isso, sua publica.ção provocou um
forte impacto desencadeando inúmeras pesquisas.
Esta obm de L1koff e Johnson represem:l uma consolidação da mptum
parndigmfttic:l que vinha ocorrendo desde a déc:ld:l de 1970, pondo em crise o
cnfoque objetivism da medfora (ver cap. 26) c atriboindo a eb un)J/all/s
epistemológico. Essa. vimda. puadigmátic:l rompe com a tmdição retórica
iniciada com Arisrórcles, no sé<:ulo IV a.c., contribuindo assim definitivamente
pam nludar uma bistó":l de ma.is de deis milénios (L:lkoff 1986).
Na tradição retórica, a metáfora em (e é. ail)el:l) considenub um
fenômeno de lingu:lgem apenas, ou seja, um ornamemo lingüísrico, sem
nenhum valo r cognitivo. Era considerada um desvio ela linguagem usual e
própria de linguagens espccia.is, como a poética e apcrsu:l.siva . Além di sso,
o uso da metáfora era indesejável no discurso cienúfico. que deveria se
utilizar da linguagem lireral, considerada, então, clara, prccis:l e determina
da. Nessa visão, portamo, a ciência se fazia com a.mZlio c o li/eml, enquanto
:l. poesia se fazia com a/maginafão c a IIftlriJom.
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N o entanto, no sec\! O xx, pnmcJr:lmentc na filosofia, começa a se
2. /I _isilo ti.:l me!;'lf"", C()mQ fi&u"" de pcnumcnlO. e nil<> 'pcn~s ,Ii:: lin&u'j)em. jil. es la"3 p,e.scnle no
pcnSllmcnlOdo filÓIOro ita1i:anodo 06::ulo XV1I1 Gi.mbaUi'll Vito. l'.m e lc, lanlOOS núIO$qu.n10U
mnHor.. "'pre.scnl.m ,,,,,....,itaS dc d:1f rorma. expc,i~nçia. Todas 11$ fi&u.as dc linguagtm.• nlrC:os
qUlil . ,,,,,,Ior,,.. se dcsIac:I,i. cOlno I m.is in,pon.nlc, r.ri. m pane: da "u.bedori. potIÍt"'" corw;:eilO
inuodul.Ído por Vieo pa •• se ",(eri r '0 wnjunlo dc opcraçllcs cognilivas que levariam à CO/ISuuçi\<) do
.eol. lJe».a (01 "'''. pode-se _firmar que Viro descobriu a (u ....iIo cogniliva d:I met1(on. lendo sido
assim "'" fKccurnordo paradigma cogllilivo da melMora (HaskeIl1987).
12
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A mudança paradigmática rejeita esse pressuposto objeti\'ista e suas (
implicações, recusando a possibilidade de qualguer acesso verdadeiro à (
/' realidade do ponto de vista epistemológico. Como descre.ve Ortony (1993, (
r
pp. 1-2), :I iMi:l central do novo paradigma "é de (Iue a cognição é o (
resultado de uma construção mental. 9 conhecimento da realidade, tenhi? (
lsi]",õ"'~'g"c'imn;n""'p"c"<c"c'iP"ç'l'''o','n;;;,ll
, i "Ír~,g;',~,,~g;;e~ou na memória, precisa ir além da ,' (
:informação dada. Ele emerge da interação dessa informação com o con-I (
·texto no (Iual ela se apresenta ecom o conhecimento preexistente do sujeitai (
:~~nhec~:I~.r~ f\õrientaçãO geral de que o mundo objetivo não ê diretamentel (
acessível, mas sim constmído a partir de influências restritivas do conheci- (
mento humano c ela unguagem, é o postulado essencial do enfoquc (
rebtivista (E. Sapir 192 1; Whorf 1956). Por essa rnão, Ortony denomina (
esse novo paradigma de "constmtivista", embora considere essa denomi- (
nação longe do ideal. (
V~rias assunçõcs tradicionais a respeito da metáfora c da linguagem (
/- figurada cm geral pass1am a ser objclo de uma revisão crítica. D entre as (
9.~;;
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assll~ções
,t.td{~.
que, segundo Pollio, Smith e Pollio (1990), sofrem uma revisão, (
~ -I' r\êst~ a .... isão cartesiana segu ndo a qual a met~fora, assim como outras forma s (
J"" j,v'< . (
Jf'!-.t de linguagem figur:!da, "não é conceptualmente útil: guando usada, isso
~" acontece com o objeu\'o de enganar o pensamento racional ou de orna-
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menlar idêias prosaicas" (p. 142). No novo paradigma, ela passa a ter seu {
13
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I] que Gibhs (1994) considerou um verdadeiro "boonl' empírico na década de
(}J 1970. Essas pesquisas se baseanm, segundo Honeck (1980), no L'UO de que a
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lingu:l.gem figurada constituia um sério problema para as teorias de compreen-
5.10 e o seu esrudo poderia lançar 1\lzes sobre o processo de compreensão cm
<3
(j gemI. Johnson (1980) também justificava a necessidade de investigações empí-
riClS sobre o processo de compreensão da metáfora por ser um caminho p:tr.l
< ])
desvendar seu rtf/1m epistemológico?
<J
(} As investigações empíricas dessa década - (!uc se caracterizou por
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(:) 14
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Nesse contexto de efervescência de estudos sobre medfora t: cogni-
ç:io, mas seguindo um caminho diference do percorrido pelos psicólogos
cognitivistas, surge em 1980 o MeffJphorJ wc /ive ~, de Ltkoff e Joh nson,
provocando uma revolução n~ s pesquisas sobre a metHor.!..
4. Nós I. mos Inlduzido como ""'IMOO! do canal. ,nas Il olsbach. Gonçal.cs. M i~ li u'lIC~ c Go.n:Ol (2000).
na sua u·oduçio do anigode Reddy, Indu~inlm t<)IllO ,"",dr,,", do CondUlo.
15
c percebeu <)uc eles podem ser or)YInizados cm quatro categonas que
constituem o "arcabouço principal" da metáfora do canal, pois esses
enunciados evidenciam que:
CnlOS corporeamcntc e
~!fla ptSs:'Jpar.! outra; (2) na ~e. na.escÔ!i! as pessoas lusercm seus ns.1mcnlos e
, '"-' '\
\_senlim.:!~?!:~3.~ palavras; (3) ~'~P~,'~"~rn~,;,,d,,~,~';~~~m;t,':"~'~"'~'"~i'~"'1:fi 30 colHer IlCosanlClltos
e SCTíti mc:ntos~e.C(lfl(lu . -los l\.s ÕUlr.lS as; (4) ao OU I ler as pes8Qas eJl:trocm das
/"pensalTl!:ntos e 0$ SClltirncnt novamente.
palavl1lS o~
...-17 "----
(Reddy 1979. p. 290)
,~-
o que parece ser, ii primeira vista, simplesmenle uma forma concreta,
c até cngrnçaeb, de falar da comunicação, revela-se, na argumentação de
Rcddy, uma fo rma capciosa c nociva de se pensar a comunicação. Ou seja, a
meláfora do ca nal revela a crença de que a comunicação
.... é umtill
- .. -d-tEle ideal: .
~~--- "" ,, ~ ~,. ~.-,....-'-
uma comunicação com sucesso garantido, na qual o ouvinte (ou leitor) teria
o simples trabalho de pegar o signiucado que está nas palavras e colocá-lo na
sua cabeça. Em outras palavras, a metáfom do canal é uma "forma congelada
de pensar" (Mey 1994), automatizada, segundo a qual as pessoas pensam c
interagem, sem ter consciência dela, ou seja, ela constrói um quadro ilusório
da comunicação c nós nos comunicamos regidos pela crença de que o
fazemos de fo rma unívoca c transparente e não de que estamos constmindo
o sentitlo com base cm nossas experiências e conhecimento de mundo.
16
(
(
(
Seguindo a trilha aberta por Reddy. L.akoff c Johnson deram um (
tratamento mais explícito i . metáfora do canal ao descobrirem as metáforas (
~nccptua'i s subjacentes às expressões lingiiísticas metafóricas. Com isso (
eles demonstraram ([ueo que antes era percebido como expressões jingüis- .(
cicas individuais que reneciam metáfo ras mortas difere ntes, era governado (
por gcncr:I!izações: as mctil~o ras conceptuais O ll conceitos metafóricos (
(L1.ko ff 1993; G ibbs 1999). Assim L1koff e Johnson mostram que os (
enunciados analisados po r Rcddy são manifestações lingüísticas de mctá- (
foras conceptuais. Dessa forma, eles consideram a metáfora do canal como (
uma metáfo ra complexa, co nstituída por uma rede de metáforas concep- (
tuais (represe ntadas por maiúsculas), quc sc manifestam nos cnunciados, (
. 5
como se po d c vcr '!.JicgUlr: C
..e; .y(AV ~~ ' '''i..v.;''-<Â .
.r-. t ;;~ (
g<.JJ ~ 1\IENTE TI UM RECI PI ENTE (
;~- N:ío cOn Sig~esSa musica d:l. minha cabcça. . (
I Sua cabeça eJla.a lC idéias intcrcssantes. (
Será que vou consegui! m.ft(l7ssas cstatíscic:l.s n:l. tua cabeça? (
(
Quem
Não
te
B. IDÉIAS (OU SENTIDOS) SÁO 013JETOS
essa idéia?
c;gvs.cgYL~7Ch;;'cssa idéia cm nenhum luga r do texto.
(
(
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(
Você tIIC'Jlltnmí idéias melhores que essa na biblioteca. (
\ /.
(
(
(
5. L.>kQff e JQhnS(ll' ( I !>80. p. 10) apontam q~: " R.-ddy OOscrva que _ linguagem sobre li linguagem
é clIIUlUrod. npro~i",ada"ltnl e pela seguinl e llIel~r<>ra eOIllI" eu: IDÉIAS (OU SENTI DOS) SÃO (
OUJECTOS. EXPRF.ssÕES LlNGO fsnCAS SÃO Rr:CII'mNTES. COMUN ICAR É r:NVI AR "
(
La);off (1!>85) lICru<:o;:nt3, como primeiro conceito dc.ua rede: ~IEI'l"ffi i'l U1>1 RE0 1' IEI'fffi (DE
IDÉIAS ). E. [lara recharo cin:uilotla comunicação. pode·se ac,,:scc ntar; CO:>ll'RE!lNDI]R É PEGAR. (
(
(
17
(
( ~
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<J c. PALAVRAS oy..l~XrRESSOES UNGOiSTlCAS SÃO REoriENTES
(:J Não consjgo~hj nhas idéias em alavrns.
( II
O signi ficado é o qu t~as lavr. J, bem aí.
( :\li Ouando você tiver lima boa idi:ia, tente ,jp{~ imediatamente
~ r -,--a1áv-'"'
(
rmp r.'?!)
-' -
D. COMUN ICAR Ê ENVIAR OU TRANSFERIR 1\ POSSE .;Y..:.
.,.
( -C.
~.
Ati: que enfim você está conseguindo pauarsuas idéias parl mim.
(D Vou tentar pauaro qUi! tenho na cabeça.
( }1 Eu lhe dei eSS:l idéia.
( )
E. COMPREENDER ~ PEGAR (OU VER)
18
!:~~
i<!' "w,<
~j Enfatizamos fi influência de Reddy, por te r sido fi mais din:[~\ e
'V'imediata, fato reconhecido pelo próprio L,koff em seus textos de 1986 e
1993. Mas é importante observar que Lakoff c ] ohnson reconhecem sua
dívida intelectml a muitos outros pesquisadores nos ag r:ldccimcmos, em-
bora muitos deles não tenham suas idéias explicitamente disculidas no
corpo do trnbalho.
19
Esses enunciados revelam que nós concebemos a discussão como
---
uma guerra. Se nós a concebemos assim, agiremos de forma coerente com
--- ---
~._-~ -
essa concepção, ou seja, ~cussão have~ uma disputa pelo poder e
hav!!r:i vencedore;s vcncido~J)ara nos con scientizarmos desse conceito,
c-_--..- - ~.-
Lakoff e Johnson propõem que imaginemos uma cultura na ([ual a djscus-
5:10 seja vista como uma dança. Nessa visiio (ou conceito),
os parlicipantcs sejam vistos como d~nçarinos e em que I) objetivo seja reali1;.v uma dallÇa
(
,
de modu equ ili brado e csteticamente Igr.ldâve\. Nessa cultura, 3$ pessoas pcrccberi~m
20
(
(
(
G
Como eles demonstraram que grande parte dos enunciados da (
<'
,C
21
i.
(fi
( 2~ johnson mostram que compreendemos o mundo por meio de medraras,
( ~)
" pois muitos conceitos básicos, como tempo, quantidade, estado, ação etc.,
(~
alem de conceitos emocionais, como amor e raiv:l, são compreendidos
(d metaforicamente. Isso vem mostrar o importante papel que a medfora tem
() na compreensão do mundo, ela cultura e de nós mesmos. Desse modo, a
(y tcoria de Lakoff e Johnson, ao atribuir à metáfora um importante papel
( ."
j
cognitivo, contribuiu decisivamente para consolidar idéias de aurores como
( ')
• Hcsse 6 e Kuhn, que defendiam a idéia de que a metáfora e o raciocínio
( ~~
analógico desempenham um importante papel na atividade cicnúfica .
(3 Como conseqüência, as idéias objetivistas de que a ciência se faz com a
() razio co literal;e a poesia, com a imaginação e a metáfora perdeu a validade.
(.ll Aliás, Lakoff e Johnson também argumentam CJuc a metáfora une razão e
(:J imaginação, isto é, é uma racionalidade imaginativa, essencial tanto para a
(~
ciência conlo para a JilcraUlra.
CD , /
~,J1~m oposição ii teoria cartesiana, corpo e mente não são mais vistos
(~
(J!) l,' I;jt",;.!' ~~mo separados, pOIS, segundo ~akoff e Johnson, compreendemos .0
;1 ~ ~Ull( a r mela de metáforas c n í as co ase em nossa ex CrLênCla
(~
t( ,y\1 a rpara!. Nossa corporeidade c nossa men te interagem para dar sentido ao
(~
t" Joi.:~~ mundo. Esse aspecto fica c\'ideme, por exemplo, nas metáforas oriema-
( J!)
,I ~.f' ~r cionais, como FELI Z É PARA CU"'''A e n USTE É PARA BAIXO, que se
(3 ,,~t
(' r-
~ '~~'~~1anifestam cm enunciados como: "uloll me sentindo para n!hll", "e/e uM de
(J;l
tftf'('"v""mIo
I ,4'( OJe. E:.sse conceito
.
(ID I J (lslra' "; "ele
J '
{(I/tI em (lepnus(/O,
I - " ele uM' p(lra b'
"J (liXO h'"
(~
( ::11 6. lleuc. com seus lnob;itllns de t966 e 1\174, foi uma pioneiro ltO JIfll'POf uma recorocepluol;~ação
p;apcl da melJrora lia Itiviibdr:: cienllfica. (Hesse, M. Mocltls 11M nnnlOKitl iII Jcitnct. NOue DanlC,
do
q~ t Indiana. NOtre DanlC U.l'ress, 1966. TIt. JlruClUrtofscitmific ill/tUllct. Londres. MaeMil!an. 1974).
( ;:) I As idtil$ de I( uhn. relativl$ a urna levalorizaçllo das noçOc:1 de modelo e IlIciocfnio analógico.
( ti
(~
'I contribuíram pant UlTUI
cientifica.
.~;der ...io do I'I'pel da met,uOl1l cm Iodas as dimen.<õcs da atividade
(@
22
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(
"--
- '"
:!ff\ metafó[ic~ tem uma base fisica: quando estamos tristes, ficm~os con~ fi
} ~
r postura Calda, equando estamos felizes com a postura creta. ASSIm o efeIto
dominó leva a canceb.rmos outra dicotomia: a oposição mente/corpo.
Mas o efeito dominó não pá rfl por aí. O conceito da melHora como
um mecanismo fundamental de compreensão leva ao ques tio namento de
omras :lssunçõcs objetivis tas rchuvas ao sentido, à compreensão,:i verdade
e i objctividflde (ver caps. 25 e 26), culminando por qucsuon:\[, num sentido
ma is amplo. a oposição obje tivi smo/subjecivismo. Se o enfoque objetivism
o perava com as dicotomias - ~zão e emoção, li teral e meta fórico Ctc. -
7. D a foi rcc,J,(~d" em 1993. aprc: .. nlallllo t'ltOO um anigo de Lakoff c .. m de Gibbs. I"'kóIo&o
cogn;livisll que forneceu evidtocia cmpfricl da teoria"" Lakof( e .. us parceiros.
23
sistem:nicidade das expressões meta fóricas convencionais constitui "uma
importante font e de evidência de que as pessoas pensam metaforicamente."
(1" 42) - qu e fez com Clue a metáfora se transformasse em um tóp ico de
interesse cen tml para as humanidades e ciênci:IS sociais nos últimos 15 anos.
".
Nas obras posteriores, a teoria vai sofrendo trans formações e sendo
alicerçada em suportes mais sólidos. O próprio conceito de metáfora v:l i
se trans fo rmando. Neste livro, Lakoff e Jobn!ion usam o termo "metáfora"
-
para
~a
~e referir ao conceito metafórico, que consiste em experienciar uma
em termos de outrai O t~ rmo
24
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(
(
OOnlO um mape:unenlo (110 senli ~ mnlem{itico) <.Ie um do mínio de orige m (ncste caso, as
(
vi agens) a UIII <.IonÚn io nh'o (neste caso, o amor). O mapeamento é estmturado siSlemnti·
eamcnle. Há correspondências ontológicas, de ..cordo oom as quais as entidades no
(
domlni o do amor (por excmplo, o~ am anles, se us objclivos comuns. suas dificuldades. a (
relaç30 aJIIOU)Sa ele.) oorrespondem sistcmalicamcme a entidades no domfnio de li ma (
vi agcm (os viajamcs, o veiculo, os dc.stioos ele.).
(
(. ...........) (
(
Oque oonSI;tu i a me t:\foralema amor·como-viagcIII não é nenhuma pa lavra 0 11 e~pressào
particular. fi o mnpeamento olllológico e epiSlêmioo e nlll' domínios conceptuais. õo
(
o (
do mínio fonte das viagell$ ao domínio do amor. A metMora não é urna qucstl'io apc nas de
linguagem. mas de pen5<1memo e I1l7Ao. A linguagem é o refle~o do mapcamcnlo. O (
mapea mcnto é convencional. 11m dos IIOSSds modos convencionais de elllender o amor. . (
(Lakoff 1986. pp. 216 -2 17) J.
( \
I'; ~
i-i Para designar o nome do ma peamento, Lakoff c johnson ado taram
como estratégia representá-lo em letras maiúsculas, seguindo a fo rma:
Le
J: \
~
DOM INIO-ALVO ÉDO~ÚN I O-FONTE, ou também, DOMiN IO-ALVO COMO
4>"
DOMiN IO-FONTE.. E os nomes dos mapeamentos, que não devem seI , j(
confundidos co m os próprios mapeamentos, têm também uma forma , ,
.(
.:;, ~
proposicional. '- -(
\; \ ~
Q mapeamento AMOR É UMA VlAGEJo..I faz parte do nosso sistema ~' t(
~ concCj~rual e per~te explicar porque entendemos facilmente usos novos
'-.; -S )~tiv2s do m.are:lmento, por exemp~o, n:lli~g~agcm~:árl~_Es~o
.! , c (
" '-,
.. -'(
f-+t {, ~blet'v? ~.~~ Iivro .L1~O~~~~lyarce~ri~~~~ur~:.r,-;-- ( ~
1
de
- ,
;j ~ mostrar que as metáforas conceptuaiS fazem pane do sistema metafónso 0.(, (
de 1989, ou slja,
{
! _. ----
C:.. ~nvcnc lo n:l [ de ~a dete rmjnada g,l.~que elas nos permitem enten- (::t '< (
. der o uso criauvo que poet as fazem delas, Há também os livros de TurneI (
- ~-
(
(
(
(
25
'-
\ .©
(J com os mesmos objetivos: DtulbiJ IIN molhuojbtiJJI!J (1981) e lVading múui!:
3 tht sllf{!J of ElIglish in 1M agt' of rognifit't sátnft (1991).
\~
Um outro dsssnyoJyjmeoto importante no trabalho de Lakoff foi ;l
(d ênfase d:tda aos aspeçtos filosófico e epistemológico da significação nas
(fl línguas naturais, especialmente na obra Womtn,jirtand dDfIIP"OI/J Ihings(1981).
(3 J)(: fato, cerca de um terço dessa obr:a de 600 p:iginas é dedicado às
( )
implicações filosóficas de sua teona sobre a medfara e o sentido. Se
<,) Mttaphors 1I-'t lit't I!J era um livro pioneiro, IP'Oflltn, jirt and dangtT'OflJ Ibings é
( ]) ,.
• uma pesquisa sobre os fundamentos de uma teoria cognitiva da significa-
( flí ção, sendo !lssim muito mais ambicioso.
( ~~ I; E.Je foi redigido sob a égide de dois 6lósofos d:t.linguagem: \X.'i~nstein
( ;;J ~
e Putn:tm. Wittgenstein é reconhecido como o filÓsofo gue assestou
:; I( ~.
~!
poderoso golpe na teOria clássica de categorização. ao mostrar gue catego-
rias semânticas se orgaoizam em torno de semelhanças
. - de bmma entre _.
,,-
difuentes propriedades, conmditãndo jlssim a tradição aristotélicíl....ijUS:
~
.oer~
t.mova as propriedades semânticas como coodições necessárias e suficien-
tes para a identificação de u !llil~gori~.
26
Para fundamentar sua teoria da categorização, baseada nos modelos
cognitivos idealizados, L'lkoff se opõe ao modelo dominantt: nos campos
da scmântica e da filosofia da linguagem. Esse modelo dominante ê o da
semântica de condições de verdade. Para criticar esse modelo, Lako ff cita
os trabalhos de Pumam que problematizam as noções de verdade, de
refcrência e de interpretação embutidas na semântica dt:: condições de
verdade.
Dois aspectos do trabalho de Putnam parecem fundamentais parn a
empreitada teórica de Lakoff. Em
, primeiro lugar, a semântica de coodiçpes
de verdade estabelece uma conexão direta entre símbolos e çojSí\S,.s...p..JWI
isso pressupõe categorias "naturalizadas" no mundo, as~~ais os símbolos
lingiiísticos gossam se associar. No entanto , a referência
, não é dada
independentemente no mundo (a argumentação de Pumam é bastante
complexa e não vem ao caso aqu9.
---
mais dcsprovid Q~~tc ntido, mas usam tais símbolos porque eles fo.,.!.am
construídos Rda capacidade humana d":"c.:!.<:goriz!.ç~o. E a metáfora é U~:l
-
-"d"'-'c[c'o'Oc",,~,~d:c:,,:,:...:c:,!p:,:,=i,:j,=d:c:-.::h:u:m:,:,:,,=-.:dc--'------'.---"'=
produzir sentido'-='--_.
através da
~tcgoriza~
Em resu mo, o que era cm Melaphorl u:e live by urna pesquisa sob re um
tipo de linguagem (a linguagem figurada) abriu caminho para \!Ina indaga-
ção sobre a signific:lção lingüísuca de um modo geral no trabaU10 postcri~r
de L-1koff.
Quase duas décadas após a publicação de .\ltktphorr u·'(: h"LV: i!:;, George
L1koff c Mark Johnson repetem a p:trccria na obra PhilolOpo/ in Ihejlesh: Ih(
tmbodied /IIilld mld iII eballlllgt lo /t'u/em Ihollgbl, na qual enfrentam o desafio
de <lllcsuonar os alicerces da filosofia ocidental :llravés do que vêem como
resultados ou " lições" de pesquisas empíricas provenientes das ciências
cognitivas.
28
,
(
(
de comprecns:io c produção lingüística). Segundo os autores, a própria (
consciência vai além da percepção de fenômenos físicos, ou da consciência .<
de estarmos conscientes; esta só é viabilizada por este conjunto vasto,
inconsciente c inacessível que deve estar semp re cm funcionamento para
!
que a própria consciência possa operar.
recurso de pensamento 00go, um aparato cognitivo) ql1e nos faz falar, ver (
" (
c agir sobre determinados fenômenos de uma maneira e não de outra.
Medforas conceptuais como "DISCUSSÃO E GUERRA" e "TEMPO E (
( "
~' por Gibbs (1999a, 19%) e Steen (1999). Esses amores lev3ntam questões
sobre as internçõcs entre a metáforn na linguagem e a metáfora no pensa-
mento, ou, em termos mais concretos, levantam a questão centml: "Como
~
reflete aipo sobre a maneira IX:la qual elas possivelmente aensam merafo-
~~~ ....--.~
30
lingüística, não em processo de compreensão da metáfora, que de consi-
dera cumprirem o objetivo de reconstruir o c:lminho supostamente utiliza-
~. '--.---._- . - - .'_.--...
do pelos tin~stas cognitivos.
,,---.. . ~--
., cimento explicito da cultura e de seu papel importante, talvez definid or, das
l! experiências e, conseqüentemente, do pensar metafórico. E le acredita ser a
~ -'Yl.l.~ro prieda'.!':_5m~ente das int~çõcs do indi~duo ~~
mundo, c não das mentes individuais. Nossa contínua interação com domínios
<- -- . ---- .- ,. - - _.-.
~n~...lldo ~eal %~~=.~. ~~ f~.?te para ~etáforns rcquz a ne~_cssidade : Ic
reprcsentaffilOs diferentes metáforas conceplU:Us de uma maneira puramente
' _ . - .__
~n tema lizad a.
...:-:- .
Ele condui resumindo que a visão já tradicional de metáfora
--
conceptual a concebe cm termos do que está dentro das cabeças dos indivíduos.
O objetivo dcle roi chamar a atenção de estudiosos, especialmente l ingiii~ t2s
32
(
(
o trabalho de Lakoff e seus co laboradores usou a üngua como (
principal fonte de evidência {Ia existência de metáforas conceptuais, o que (
significa que a partir de :málises lingüísticas eles inferiram Cjue as metMoras (
existem na nossa mente. Ora, a~uestõesj:lue Çibbs levanta dizern.!fsPs.ll.0 (
à maneira r.da qual a I1lliMo~~ :~~::. existe na nossa mente, c essa é (
()
Ele csIll ~m ~jlatlo d~ a//lorJ I!Ic csl1 ap~jKonado. (Hc's ia love.)
( ];}
(51
(]> o caso acima é um exemplo de como certos estados são conccptua-
liz:'ldos como recipientes.
U
( ,~ Como Lakoff (1993) afirma que as metáforas conceptuais têm uma
;,'
( ':'op artigos; ou seja, ao invés de traduzir A DISCUSSÃO É UhiA GUERRA, Optrunos
::p.. por DISCUSSÃO Ê GUERRA. Um dos poucos conceitos que enunciamos em
português é TEMPO É DINHEIRO e o fazemos sem artigos. Consideramos que
a ausência de artigos dá um c:u'iÍter mais abstrato e geral.
~1
'. Procuramos também respeitar, na medida do possível, o estilo dos
autores, que se ca~cterjza por ser um estilo próximo do infonnal, afas[:In-
do-se um pouco do estilo do discurso cienúfico, talvez por ter a imenç:io
de se aproximar de seu ohjeto de esrudo: a linguagem cotidiana.
34
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37
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AGRADECIMENTOS
- As idéias não surgem do nada. Em linhas gernis, este livro representa u-;na síntese
de vârias tr:Idições inteJectu:lis e evidencia a influencia de nossos profe!;sores,
coleg:!5-, alunos e amigos. Por outro latl0, muitas idéias específicas viernm de
discussões com, literalmente, centenas de pessoas. Não podemos agradecer ade-
quadameiue a todas as Ir.lclições c pessoas às quais somos gr:ltos. O melhor que
podemos fazer é mencionar algumas delas e esperar que os outros se reconheçam
e saib:l.m que nós reconhecemos sua contribuição. As pesso~s abaixo estão entre
os que deram origem as nossas idéias principais.
Pele Beckcr c Chadotte unde: nos ajud:l.r.lm a perceber a forma pch qual ali pessoas
criam coerência em suas vidas"
39
Roger Schank (undamcnlar.I1TI a concepção original de gtJlalls lingüisucas de
George (L'Ikoff) que generalizamos como geJln/ls txptritndaú.
Nossas idéias sobre a rcbção entre mClâforn c ritual derivam da tr.ldição antropo-
lógica de Bronislaw /'Iblinowski. Cbudc Lêvi-Strauss, Victor Turner. Clifford
Gccrtz dCIH.re outros.
Nossas idéias sobre o modo como nosso sistema conceptml é formatado por
nosso const:mte funcionamento bem sucedido no ambiente fisico e çultural vêm
parcialmcnte da tradição de pesquisa sobre o deselwolvimento humano iniciada
com Jean Piaget e parcialmente da tradição da psicologia ecológica nascida do
trabalho de J.J. Gibson e Ja mes Jcnkins, particularmenle representada no trabalho
de Robert Shaw, Michael Turvey denlre Qutros.
Sandra ~'Ic ~'l orris Johnson, J:lmes Mclehert, Newton c Helen Harrison, e David
e ElIie Antin nos permitiram apreender o tl'1'lÇO eomum ii I".Xperiência estética e
outros aspeCtoS de nossa experiencia.
40
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PREFACIO
I cica c da fil oso fia contemporâneas, qlle tem sido aceitas como verdadei ras
na tradição ocidental desde os gregos, nos impediam até mesmo de
I levantarmos os tipos de questões às quais queríamos responder. O proble-
ma não co nsistia cm desenvolver Oll reformular alguma teoria já existente
do sentido, mas de revisar cenos postulados fu ndamentais da tr:l.dição ,
fIIo sófic:l. ocidental. Em particu l:!.r, isso nos impunha negar a possibilidade
de qualcluer verdade obje tiva ou absoluta e de rejeitar uma série de
postulados a ela ligados. Também nos obrigava a formular uma outra teoria
alternativa na qual a experiência e a compreensão humanas, e não a verdade
objetiva, desempenhariam um p:l.pcl central. No processo, nós propusemos
I
elementos de um enfoque experiencialista, não somente para questões da
lingtJ:lgem, verdade e comprecnsão, mas também para qucstões relacion a-
das ao que consideramos significativo cm nossa experiência cotidiana.
Berkel9, Califomifl
I de julho de 1979
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1. CONCEITOS DA VIDA COTIDIANA -(
r-
(
(
A metáfora é, para a maioria das pessoas, um recurso da imaginação
(
poética e um ornamento retórico - ê mais uma quesriio de lingtl:lgcm
(
extraordinária do guc de linguagem ordinária. Mais cio <Juc isso, a metáfora
(
é usualmente vista como um a característica restrita:i linguagem, uma questão
(
mais de palavras do que de pensamento ou açiio. Por essa razão, a maioria
das pessoas acha que pode viver perfeitamente bem sem a metáfora. Nós
(
descobrimos, aO contrário, que a metáfora está infiltrada na vida cotidiana, (
não somente na linguagem, mas também no_ pens~to C na ação. Nosso (
45 l
(
pessoas. Tal sistema concepnlal desempenha, portanto, um papel central na
definiç.io de nOSsa realid:tdc cotidiana. Se estivermos certos, ao sugerir que esse
(-1) sistema conceptual é em grande parte metafórico, em-:io o modo como pensamos,
(J} o que cxperienci:unos e o que f.'1zemos todos os dias são uma questão de metáfora.
(~ Mas nosso sistema conceptual não é algo do qual normalmente temos
( . .D consciência. Na maioria d os pequenos mos da nossa vida cotidiana, pensamos
l-:; e agimos mais ou menos automaticamente. seguindo certas linh:ts de conduta,
C3' que não se deixam apreender facil mente. Um dos meios de descohrj-bs é
(~ considerar a lingu:\gem. Já que a comunicação é b:tsead:l no mesmo sistema
lJl conceptual que usamos para pensar e agir, a linguagem é uma fon te de
-
a maior p:me de nosso sistema conceptual ordinário é de nalUreza met.. . fóriC3. E
encontramos um modo de começar a identificar em detalhes quais são as
meciforas que esrnmu"am no~m:l.neir:l. de perçebcr de pensar e de agir..
Pa.r:l. dar uma idéia de como wn conccito pode ser metafórico e estruturar
um.. . ativiclacle cotidiana. comecemos pelo conccito DIscussAo e pela metáfora
conceprual DISCUssAo É GUERRA. Essa meciforn est.'Í. presente em nossa
linguagem cotidiana numa grande variedade de expressões:
DISCUSSÃO É GUERRA
Seus argurnell!OS s30 jmlefensáveis. (Vour clnims are ;nd,fensible.)
Ele atacou lodos os pO/l/OS fracos da nlinha argumentaç~o. (B e arladttl ~ry ...t al
""iuI il1 m)' argumcnt.)
Suas crnicas rOTam dirtlo ao al,'O. (Uis cnticisms wcre riglrl 011 largel.)
,Dalrll( sua argumentaç30. (I demoluhed hi s argument.)
Jamais g(llrhei uma di5C1lss3Q com de. (I've never WOII an argument with !rim.)
" Vocf; n1lo concordn7 01:, atire! I Ok. araf/ue! (Vou disagree? Qka)', shool!)
/ Se v0c6 US.'Iressa ~rol~gia. ele vai unwgtl·/o. (lf )'O\! use lhnt.llmltgy, hc'U ....ipe)'DI1 011/.)
/ Ele dunjbou todos 6s meus nrgumentos. (Hc.llwl dowu ali of m)' nrgumenlS.)
46
(
É importante perceber que não somentefiJlamos sobre discussão em
n:rmos de guerrn. Podemos realmente ganhar ou perder uma discLlss3:o.
Vemos as pessoas com quem discutimos como um adversário. Atacamos
suas posições e defendemos as nossas. Ganhamos e perdemos terreno.
Pbnejamos e usamos estratégias. Se achamos uma posição indefens:lvel,
podemos aba~~-la e colocar-nos nu~~ linha de ataque. Muitas das coisas
que &remOJ numa discussão são parcialmente estrumrnclas pcio conceito de
guerra. Embora não haja batalha Asica há lima baralha verbal, que se reflete
na estrumra de uma discussão atague, defesa, contm-ataque Ctc. É nesse
.sentido que DIscussAo ~ GUERRA é uma metáfora gue vivemos na nossa
< ~ -
culo!!;)' da cstmO![3 as 3,"õeS que realizamos numa discussão.
c <:: - c::- . __ _ ~ .. _
Tentemos imaginar uma culmra em que as discussões não sejam vistas
em termos de guerra, em que não haja ganhadores nem perdedores, em que
ataC:lf ou defender, ganh:u ou perder terreno não tenham nenhuma signifi-
cação. Lnagine uma culmra em que uma discuss:io seja vista como uma dança,
em c]ue os participantes sejam vistos corno dançarinos e em que o objetivo
seja realizar uma dança de um macio equilibrado e esteticamente agradável.
Nessa cultum, as pessoas perceberiam as discussões de outra maneira,
experienciariam as discussões diferentemente, teriam desempenhos diversos
e falariam dcias de um modo diferente. Mas nós, provavelmente, não
consideraríamos essa atividade um discussão: as pesso:ts esmd:un simpl ~s
mente fazendo a.Igo diferente. Pareceria até estmnho ch:tmar o que elas
estari:tm fazendo de "discLlssão". Talvez o modo mais neutro de descrever
essa diferença entre essa cultura e a nossa fosse dizer que temos uma forma
de discurso estruturada em termos de b:nalha e elas, em termos de d:tnça.
Esse é um exemplo do que queremos dizer quando afirmamos que um
conceito metafórico, neSle caso, DlscussAo É GUERRA, estmtur:t (pelo
menos parcialmente) o que fazem os quando discu timos, assim como a
maneira pela qual compreendemos o que fazemos. A wéncia d'l metáfora i
47
I:h~ cOlItprunder e t..'>:fxtiendllr {(ma roisa tIIl ItrllJOI de outra. As discussões não são
subespécies de guerra. Discussões c guerras são coisas completamente
pli
1·1 diferentes discurso verbal c eDil flito anilado c as :leões correspondentes
:i ' s:io igualmente diferentes. Mas DISCUSSÃO é p arcialmente estruturada..Lco m -
- _._---
rrcendida, realizada e tratada cm lermos de GUERRA. O conceito é metafa-
. --
ricamente estruturado, a atividade é metafo ricamente estruturada c, em
conseqüência, a linwgem é metaforicamentc estrururada.
:~
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r··1 48
I
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(
(
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2. A SIST5\1ATICIDAIJE IJOS (
CONCEn OS METAFÓRICOS C
(
(
Discussões normalmente seguem padrões; isto é, há certas coisas que (
II
I
50 I
I
.•
Ele cst;i vivendo com tcmpo tmprtsfado.1 Ele está vivendo de gorjeta. ( He's living 011
borrowt:d time.)
Você n~o usa seu tempo Iucrmivamenlel VoeI! não aprove ita bem o se u tempo. (Vou
don', IlU yOllr time profllabl'j.)
Eu perdi muito tempo quando fiquei dOente. (11osl alaI o flirne whcn I gOI sic};:.)
Obrigu(Jo pelo seu tempo} Ob,igmlo pelo tempo dispc:n!ado. (Thallk )'oufor yOllr time.)
um:"! vez que estamos usando nossas experiências cotidianas com dinheiro,
com recursos limitados e bens valiosos p:"!nl concepUlalizar o tempo. Essa
maneira de conceber o tempo 030 se impõe de fonna alguma como lima
SI
,
necessidade a lodos os seres humanos; ela tS_!A.!i~os~~..:.1:'~' H á
culturas cm que o tempo niio é pensado desse modo.
"
52
(
(
(
(
(
(
(
3. A SISTEMATlGDADE METAFÓRICA .
REALÇANDO E ENCOBRINDO
~, Suas rn6es chegllmnr Olt 1lÓS. (Your rc::asons caUle Ihrough to us.)
( ); (: diOcil pór Ininhas id6as em palavras. (!t's di(ficuh 10 pU/ln)' ide::as illlO woros.)
4",
Quando você liver uma boa idtia, Ie::nle:: caplUm-la imediatame::nte:: em palavrnsJ Quando
você tiver uma 00., idtia. Ie::nle coloc6·la imediatamente em palavras. (Whe:n)"ou hm'e a
good idca, Iry 10 cnplUre it immediale::l)' iII words.)
Tente cOUxar m(lis idiIM em meoos palavras.. (t'ry \O pack roorc thougllls ÍtUo fe::wa words.)
Você simplesmente não pode rechear 11m3 rrase com ideias de qualquer m:lJlCillll. (You
ca n' , simpl)' stliflideas in/o li seme::nce any old wa)'.)
O signifie::ndo está bem ali IIIU palavrns. (TIle rncani ng is righllhere:: iII IJ~ words.)
54
N50force (coloq'''') suas id~i as em palavras errnd~s. (Don ' I/orce your m~anjngs imo lh e
wrong ,,"ords.)
Suas pal.lvrns ,ra~em pOIloo signi ficado. ( Uis words corry ' inle mcaning.)
A introdução colHI", IIlllitas idéias. (l~ introduction hlu a grta! lIeal OflhD Ugh l COlllenl. )
SU~S pal:tvr3$ P.1rt:l2 ll1 WlVas. (Your woros seem "oI/ow.)
A frase est~ se", sentido. m ,e senlence is wilhou/ meaning.)
A idt':ia está tllttrrada I'm pruigrafos terrivelmente deIlSOS. (11Kl idea is buritd ln terriol )'
, denSt: parngmphs.)
55
o sigllificado cstá btm (lli nas palavr.l$. (llIe meanillg is ri8hl Ilzcrc in lhe ,,"ords.)
ror Cavor, seme-se 110 lugar do SUcQ de maçil (1'1C3Se si! in lhe apple-juice st.ll.)
Isolacl:trncntc, essa frase não tem clualqucr scntido, jáquc a expressão "lugar .f
,
do suco de maçã" não ê uma fo rma convencional de se referir a qualquer
"
tipo de objcto. Mas a fras e faz cl aramente sentido no contexto no qual eb
foi enunciada: um hóspede veio tomar o café da manhã: H:lVia quatro
lugares armmados na mesa: três com suco de laranja e um com suco de
maçã. Era óbvio qual era a "cadeira do suco de maçã". E até mesmo na
I
manhã seguinte, cJuando não havia mai s nenhum suco de maçã, ainda era
bastante claro qual cadeira era a " cadeira do suco de maçã".
Além dessas fra ses que não tém sentido fora do contextO, há casos
em que uma mesma fra se tem significados diferentes para pessoas diferen-
tes. Considere o exemplo:
Essa frase tem uma significação muito difercnte para O presidente da MobiJ
Dil e para O presidente da Priends of The Ban h. O significado não está
"bem ati na sentença" - ele depende muito de qucm fala ou ouve a frase,
como também de SuaI> posições políticas e sociais. A metáfora do canal não
(
(
(
se aplica a casos nos quais o contexto é necessário para determinar se a (
{rase tem ou não significado ce se tiver, que significado ela tem. (
Esses exemplos mostram que os conceitos metafóricos aqui di scutidos (
II
I
I
I
I
I
4. AS METAFORAS ORIENrAClONAlS
59
I
Tais orientações mCL1.fÓricas não são :nbitrârias. Elas rêm lima b:lsC
na nossa experiência física c cultural. Embora as oposições binárias para
,I cima - para baixo, d CllUO - fom etc. sejam fisicas cm slIa natureza, as
melHoras oricntacionais baseadas nelas podem variar de uma cultura para
outm. Por exemplo, cm algum:l.s cultur:ls, o futuro está diante de nôs,
enquanto, cm outr.lS, cSI:í :lrrás de nós. Analisaremos, como ilustrnção, as
meláforas de cspacialização para cima - para baixo, '1uc foram csnldadas
intensamente por William Nagy (1974). Em cada caso, daremos uma breve
idéia de como cada conceito metafórico pode tcr surgido de nossa expe-
I, riência física c culturaL Essas explicações são sugestivas c plausíveis, mas
! não definitivas.
,
j, FEUZ~ I'ARA C IMA: llUsrn É PARA BAIXO
"
r 60
l:
(
(
(
Elc se kW1II1t1 ccdo. ( l1 c risc5 ear1y inlhe rnoming.) (
Ele caiu 00 sono. (He/dl aslccll.)
(
Ele mergullrou no sono. (He dmpped ofrlO slee p.)
(
Eleeslá 50b efei to da hipoosc, (Hc's w ufu hypoosis.)
Elc caiu cru coma profUlldo. (l1e 5(lII k inlo 3 coma.) (
(
.. Base físic:l: Homens e outros mamíferos dormem deitados e levan- (
l,lIli-se '1l1:mdo acordam. (
(
SAÚDE E VIDA SÃO PAR A CIMA; DOENÇA E MORTE SÃO PARA BAI XO
(
Elc está 110 allge da sua forma fIsica. ( I-I e'$ is ai lhe peak ofhea llh .)
(
L.iza.ro lewllltoll'se dos mortO$. (LM.arU$ rrue from lhe dC3d.)
EllI lennos de forp. cle está acima dc mim. (llc ranh aba"e mc in strcllg th .) (
(
(
61
(
( \J
( e-, Ele está sob meu controle. (Ue is under my conlrot)
Ele cai,. do poder. (I~cfe/l frorn pCI\O'u.)
(
L' Seu poder está c m d«IÚlio. (His power is on lhe du/in/!.)
( 'C';,.j
Ele t inferior a mim soci:llmente. (He is my social iJifuior.)
Ele está na lxue da pir5.mide social. (He is Iow noan 00 lhe lOIem pole.)
( íi''"
( [)
(I Base fis ica: Tamanho esci Iig-ado normalmente à força física e o
(l}
vencedor numa lut:l esta Donnalmeme por cima.
(i}
(~ MAIS É PARA CIMA; MENOS É PARA BAIXO
( liíJ o númcrode li \'1"O$ pubtieados a c:adl :tnOcominua subindo. (The numbcr ofbooks primed
each yeM keeps going up.)
( ~\
Seu númc:ro na listagem t alIO. (His drafl number is high .)
(I;; Minha renda subiu no ano JWSIdo. (My illCOtTle rou las1year.)
® A produçlo 3ftrstica nesleesUldo foi /.ti para b<JUo no ano p:1SSOOo. (The amounl of anislic
""ID'" "
----' __ is incredibily low.)· - - -
Sua renda cai~ no 1100 pas$3do. (His iOCOlIlLftll last ye:lf.)
i) Se você est! com muiloca!or, diminua o aquecedor. oryou're 100 hot. tum lhe hc:It down.)
,~~ ,
e
Na ~ <b ~ <fi" sãolllllalizJÇ6::s do con::eifO FUllJRO PARA aMA, pente..sc ocon::cito
meW6ricop:JrnSoserpos:sfw:l.~daprq>05içlo""p:jsnSo_CC'l';ecorrdlO","~ (N'.T.)
62
o Base física: Em geral, nossos olhos vão na direçio na qual normal-
mente nos movemos (para frente, em freme). Quando um objeto se
aproxima de uma pessoa (ou a pessoa se aproxima do objeto), o objt:to
parece ficar maior. Uma vez que o chão ê percebido como fixo, o tOpO do
objelo pa rece se mover para cima no campo de visio da pt:ssoa.
63
"
J"
"
,
,
Esse foi um truqu e /muo. (TIml W3S;lo lo", tri ck.)
Não seja ,/~sleal./ Não faça as coisas por baixo do ~1II0. (DoI1' 1 bc ",uf~lll{l1Id~á).
Eu não me abaixoria dinJ1!1l disso. I Eu não duarilllalllO. (I wouldn ' , SIOOp 10 IhJI.)
"
Isto csmri" aooi:co d~ miaLllslO 1130 está à minha altura. (TIJat would bc lN",mlh me.)
Ele caiu num abismo de depravação. (He fcll into lhe ab)'.!s o f deprav;IY.)
r-oi um golpe bauo. [11131 was a /ow-down Ihing to do.)
t Base fisica c social: BOM ~ PARA CIMA (base física), à qual acrescen-
tamos um a metáfora que discutiremos mais adiame, SOCIEDADE É Ut-.lA
PESSOA (numa versão em que o indivíduo lião se identifica com seu g mpo
sodal). Ser virtuoso consiste cm agir cm consonâncb com os padrões
p!opostos pel:t sociedade ('tue é uma pessoa), a fim de manter o bcm-estar
da sociedade. VlR11JDE É PARA CIMA porque ações virtuosas estão ligadas
~:'
'" ao bcm-estar social, de acordo com O ponto de vista da sociedade/pessoa.
" Como as metáforas de base social são parte da CUIt1.iI'~, o que conta é o
, ponto de vista da sociedade/ pessoa.
I'
l
,..'
I,:
" 64
I,
"t"
I~
(
(
capacidade cspccific:1fficntc humana de atividade racional que coloca os (
seres humanos acima dos Outros animais c lhes propicia esse con trole. (
CONTllOLE É PAltJ\ CIMA fornece uma base p;lra SER J-JUr.1ANO É PARA (
(
(
Condf/Jões
(
<J) "
d
"'~
sdecionarn um aspecto da felicidade diferente daquele expresso em
I
I.) "O meu astral estâ alto", Mas a metã(orn dominante em nossa
I J} cultura é FELICIDADE ~ PARA CI~tA, Há uma razão para__q u~
IJ) - ._~ falemãS -dããltura do- êxt;:s-~, ao invés da largura do t:xtase. Com
, efeito, a metáfora FELICIDADE É. PARA Clt.tA forma um sis tema
,
"'
66
,
67
"'tltifõm pode ser cQlllprrendidtl 011 (Iii lIIeJmo n:preJeJllada de formo adcqllat/tI,
intlepmdmfeflltllle de 11M base t>.periendal Por exemplo, MAIS É PARA CIMA
possui uma base experiencial muito diferente de FELICIDADE É PARA CIMA
ou RACIONAL É PARA CIMA. Ainda que o conceito PARA CIMA se ja o
mesmo cm todas essas mctâforas, :lS experiências nas quais elas se funda-
mentam são mui lO diferentes entre si. Não estamos defendendo que
existam diferentes PARA CIMA, mas que a verticalidade perpassa li nossa
experiência de diferentes modos c assim dá o rigem a diferentes metáforas.
I Ibase experiencial 1 I
MENOS PARA BAIXO
I' RACIONAl
Ibase experiencial 2 I
PARA CIMA
li I
EMOCIONAL
I
PARA BAIXO
68
(
(
mos a usar a p:llavra "é":lo fabr sobre metáfo ras como MAIS É PARA CIMA, (
mas o " é" deve ser visto corno uma abreviação para uma série de experiên- (
cias nas ' Iuais a metáfora se baseia e cm termos das quais nós a entendemos. (
(
o papel da base experiencial é importante na compreensão dos
(
resultados da metáfora que não co mbinam entre si, po rq lle eles se basci:trn
(
cm tipos disu ntos de experiência. Considerem os uma me táfora como
(
DESCONH ECIDO Ê PARA CIMA;CON HECIDO É PAnA BAIXO (por exemplo
(
em "Esta idéia está 1/0 (II' ("That's flp inlbt ttir") e "O problema altÍ (%cado"
(
('rr-ht: mal/tr is Jtl/ltd') . Essa metáfora tem urna base experiencial muito
(
parecida com aquela d e COMPREEN DER É PEGAR. como cm " Eu não
(
consegui j>egttra explicação" . Pensando cm coisas concretas, se voce pode
(
pegar :llguma coisa c tê-h nas mãos, pode o bservá-la aterUamente e ter lima
(
boa comp reensão dela. É mais fác il pegar algo e olhar cuidadosamente se
(
-esti~er no chão e~n um local fixo do que se e~tivcr n~luando no ar (como
(
uma folha de árvore ou de papel). A ssim DESCONHE.CIDO É PARA CIMA:
(
CONHECIDO É PARA BAIXO é coerente com COMPlmENDER I~ PEGAR.
"
( ~
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....,.' ,j:
~. EI
I
I
"Mai s é me lhor" ~ coere nte com MAIS f.: PARA CIMA e nOM É PARA CIM A.
"Menos é melhor" não seri a coerente com essas metáForas..
''0 futuro secl melhor" écocrm\c oom RJl1JRQ É I'ARA OMA e BOM É PARA CIMA
''0 fu turo será pior" nào seria coerente.
" Haverá mais no futuro" é eoerenle com M AIS É PARA CI MA e FUTURO É PARA
CIMA.
71
"O seu Slatus deverá ser rn ais alto no futuro" o! coerente com ALTO STATUS É
I',\RA CIMA c rVTURQ É PARA CIMA.
"
i comp:ltiveis com nosso sistema met:lfÓrico.
,
Os valores referidos acima são, gemlmente, c:lracterfsucos de nossa
II cultura, casO as coisas fossem iguais. Mas como as coisas não são usual-
mente iguais, há, com freqüência , conllitos entre esses valores c, conse-
I, q üen te mente, co nllitos entre as metáforas associadas a eles. Para explicar
" tais conflitos entre valores (c suas metáforas), precisamos encontrar as
diferentes prioridades auibuídas fi esses valores e suas mctáforfls pela
subcultura que os utiliza. Po r exemplo, MAIS t PARA CIMA sempre parece
ler prioridade já que tem a base fisica mais evidente. A prioridade de t,.·IAI$
É PARA CIMA sobre BOM t PARA CIMA pode se r vista em exemplos corno
"a innação está subindo" e "a taxa de crime está subindo". Assumindo-se
que inflação e taxa de crime são fenômenos ruins, essas frases só podem
ter o significado que têm, porque MAIS I~ PARA CIt.IA sempre tem prioridade.
r,/I
72
,
I,
[,;
(
(
(
De uma maneira geral, que valores são priorizados é parcialmente (
uma questão da subcultura na ql1~1 se vive e, parcialmente, dos valores (
pessoais de c lda um. As várias subculturas de uma cultura do minante (
com partilham certos valores básicos, mas lhes dão prioridades diferentes. (
( ) penham um papel bem mais importame do que aquele que exercem em nossa
( j passivo. Para nós, ATIVO ~ PARA CIMA e PASSIVO É PARA BAIXO, na maior
( ."~:s parte dos casos. Mas há culru ra.s em (Iue a passividade é mais valorizada do
75
i!
"
I I
deles entidades demarcadas por uma superfície.
~'
I"
" 76
.í
(
(
A in}loçdo a lá III<.emlo alrogos nos preços de mCK;lOorias e de gasol inaJ A itiflaç<7o t JIá
(
/cm/ldo .rlltl pane nas caixa.~ rcgistl1ldOr.lS e nas bombas de gasol ina. (lnflarioll is wkillg (
Compl1lr Icrrné a rnc lhorm:meiro tkselidar coma ilIj1aç<io. ( Hu yiug land is lhe best way
(
(
Refen'r-5t; (
Melllllcdo (/e iMeloJ c.~ lá enlouquccendo a minha mu lher. (My lear of ill5eC/J is driving (
my wi fc cr.lzy.) (
Aquela foi uma bela IH!sada. ( Illal was a be(lIllifu/ cmch.)
(
Eslamos Irabalhando CI11 d ircçllo à paz . 0Ve are working loward peilce.)
(
A c/a.ue mil/ia é utlm pot/ero5llforça Ji/MciQSll na pof{ticll americana. (Jllemuldle c/cus
is 3f1owerfill si/em force in Amerk lllll poli/ics.)
(
A wNlm de I/OSSO paú C.'\L~ cril jogo nesL1 gucna. (11/e 1IO//Ollrofa COluúry is aI stake in ~Iis war.) (
(
Quallfijicar
(
Tcrmin ar elile livro exigirá IIlIIita paciéncia. (II willl;lke a 101 of paliellcc 10 finish Ihis
(
0001:.)
(
Há UIII /O Óflio neste Ulumlo. (1bcre is so lIIucll ha/red in lhe world.)
Dul'onllcm lIIui/o poder político em [)claware. (Dul'ont has a lo/ ofpoliticlll po ...er in (
DclJware.) (
(
(
77 (
(
CD
( }) Há muita hOjlilidad~ cm YOCe. (You've got tOO ",uch hos/iliry in fOIl.)
(3) Pele Rose tem muito dirltullisnlO e ItclJico 110 basdx.III . (Pele Rose hasa 101 ofhlwl~ and
(] basebaJ/ mow-hQw.)
~
IdenTificor aspectos
( "}
O 1m/o mllude Juaptrsonalitlm/e vem ~ tona sob press~o. (The uglyside ofhis ~rsO/rnlity
]I comes OU1 undu pressurc.)
( ~ A bmw/idade do gucrro desumaniza todos nós. (The bmtaliry Dfwar dehumanizes us aH,)
"~
( 2 Eu n:lo consigo acompanhar () ritnw da vida modema, (I ean', kccp up with lhe JNlCt of
( 'j) i
:,
rrwdcm life.)
A sua Slllilü tnlociQIUJ/ tem dCleriorndo recentemente;, (1lis emo/loltal hUllth has deteri ()-
(] rntetl recently .)
(]I "
Nós nu nca chegamos a selll;r ti emoç/lo da y;,d,ia no Vietn!. (Wc never gOt la feel the
( -11 IhriU O/viclory in Victn:I.IIl.)
IdC11Iificar ClIUStU
A pressllo de suas rtsponsabi/idadts causou o seu esgotôlfllenlO. (lltc prtssure Df his
resporulbll",lS cause<! his brcakdow n.r
-_._- --_._----.---_.----
Ele fez aquilo de raiva. (He did iI OUI or allgu.)
A nossa influencia sobre o mundo lem declinndo pela nossafa/la defibra moral. (OU(
influence in lhe world 1111$ declined because or 0I1r /ack oJmoroljilur.)
A discón!io inluna Ih ..s CUSIOU a Iraflu. (fl1lernaf rJisseruion COSI Ihem lhe permont.)
Tr(l(arabje/iwll e mot;Wlrtlfõu
Elefoi p;nNovaloopeanbwicadefrmaejQrtuno. (Hewenl IONew YO<t lO~kfm'lo!andforrwlo!.)
( ""'\
'.'-
. : Aqui eslA o que VOl-t precisa fau r pam garo"t;r a sua uguTançajil1f/llceira. (Herc' s whal
':''\ you have lo do 10 jfl.SuTefim/llciol securi/y.)
( ljI
~I
Eu estou mudMdo o meu esti lo de vida para que eu possa tllCI)I,tra r a I'trdadtira
(
( ,[
'"
felicidade. (1'111 chnnging my way or !ire $O Ihal I canfilld /TUe happintsJ.)
O rIU ngini pronlmnenle diante de uma ameaça à StguTa/lça Illlcia"al. (TIle FB I will /lC1
~ quicldy in the foce or a IhrellllO /1lI/iO/IlI/ ucuriry.)
( ~ Ela viu o casamento como a sO/lIçilo (1.. seus problemas. (Shc saw geuing married as the
~
( SoIlIliOI1 10 hu prob/mu .. )
~~
( ~
( .~
78
(~
( ~
( "
'/ Como no caso das metáforas orientacionais, a maioria dessas expres-
sões não é sequer percebida como sendo metafóricas. Um:t razão par:'! isso
é que as metáforas ontológicas, como as orientacionais, servem a uma
variedade limitada de objecivos - referir-se '1u3ncificar, etc. M Cr:l.men te
conceber algum~ coisa não fisica corno uma entidade Ou substância não
nos permite compreendê-Ia muito. Mas as metáforas oncológicas podem
ser ainda mais cbboradas. Aqui estão dois exemplos de como a metáfom
onlológica MENTE É UMA ENTIDADE é desenvolvida em nossa cullura .
79
i Essas metáforas especificam diferentes tipos de objctos e nos diio
distiJlloS modelos IllCI:tfóricas do que é a mente, permitindo- nos, assim,
"
I da experiência mental. Quando urna máquina se quebra, ela simplesmente
deixa de funcionar. Quando um objeto delicado se quebra, seus pedaços
"
se espalham, talvez com conseqüências perigosas. Logo, por exem plo,
i'
,
e incapaz de funcionar por razões psicológicas, provavelmente diríamos
"Ele pifou".
(li tenha um interior e uma supe rfície delimitad a _ quer seja um muro, uma
, cerca, ou até mesmo u ma lin ha ou plano abstraros. Poucos instintos
(11 I
( ",) humanos são mais básicos do que a territorialidade, e essa definição de
~
( .~~
"
o,'" I!I
...,
, li) 1, 82
,
-
;j)
ii
;
a parte que podemos ver. D ado que um espaço físico demarcado é um
recipiente e que nosso campo de visão corresponde ao espaço físico
dem:l rcado, o concciLO metafó rico CAM1>OS VISUAIS SAO RECIPm~TES
surge naturalmente. Logo, podemos dizer:
o n3v io csul clllrlmdo 110 meu clI/llpa de vi SllO. (The ship is coming inlo view.)
Ele eSlá ao alcam:,; da minha visão} Esloo de olho nele. (Iluwe him iII sighl .)
Eu noo posso vl!·Io: . ~re está fW caminho. (I e:m'l sec him - lhe Irec is jll lhe way.)
Ele e!;Iá!ora de visão agora . (Hc's OUI ofsighl now.)
Aquilo estti /10 u mro de meu tampo de vis~o. (That's in lhe umuo( my fie/ti o f vi sion.)
Nlio há nada à vista. (Therc's nolhing in sighl.)
Eu n30 consigo ter 1000S os nav ios 110 meu eampo de vis30 ao mesmo tempo. (I e:m', gel
a/l oflhe ships iII sight at once.)
Você e!;t.á IUI corrida 00 Domingo?(AJe you in lhe roce 011 Suooay?) (corrida como
ODJlITO RECIPIENTE)
Você vai à corrida?(Are you $oing /O the roce'!) (corrida como ODJErO)
Você ~iu:l corrida?(Did you su IIIe racc:'!) (corrida como OI3Jl!TO)
83
",,
o fim da corrid a foi muito empolgante. (lbefil,ish of lhe race was really clldlillg.) (run
"
"
como EVENT O ODJETO dentro do OBJETO RECJP1E~TE)
Ilo uve muilll$/xxu lI,utU!IU no corrida. f l'lou\'e muitos bo' Jj" momentos na con'ida. ( nitre
", WilS (J 101 vi gCXHI nmnills. ;Il lhe rno;:e.) (corrida corno SUBSTÂNCIA cl n REC1PlEr-rrE)
,, Eu não pude fazer ",,,iloS spri,,/S att o final. (I couldn'tüolllm:Jr s/I,úrting unli11he end.)
(spriut - corrida de velocidade como SUBSTÂNCIA)
No meio dl.l corrida, a minha energia acabou. (lIolfway iII/O lhe face, I mn oul of energy.)
(corrida como OIlJETO RECU',IENTE)
Agora ele csl:1fom da corrida. (l lc 's QW O/lhe race IIOW.) (corrida como OBJETO
RECIPIENTE)
No lavar aj311C13, respinguei ~gua por 1000ochi\oJ Ao lavar a j,1nclo, rc~pi nguei ~g\la por
lodo o chão. ( III washing lhe window, I splashed W;UCf 311 OvC( lhe noor.)
CotTIoJerry f!.ICilp OJ/ de lavar asjanelas1(How did Jerry gerorll ofwashing lhe windows?)
""
!I:1 Fora lavar as janelas, o que mais você rez? (Ouuitle ofwashing Ihc windows, whal cise
d i!! yol.! d01)
,; QuanW lavagc rll de janela você fel?1 Quantas janelas você lavou? (llow mueh window-
:
i washing did you do?
Como vocêelJlrou na profissão de laVa!" j~nclas? (lIow did YOI; gel illlo window-washing
I as a profession1)
I! Ele está imersq na lavagem de janelas agora. ( He's immerstd iII washillg lhe windows
righ! now.)
Eu cO/QCo mui/a en ergia na lavagem dejaneJas. (I flUf 0101 of ellugy /rIlO washing
lhe windows.)
I
1 84
(
r (
!
(
Eu re/iromui/aJ(J/isf(JçiloJo lavagem de janelas. ( I gel a /01 afsatisfaclio/lou/ ofwash ing
(
windows.)
(
llti ",,,ita .Illli.<filçllo /11/ lav~gem de jnllelM. (17,.·re is (I 101 af m/isfaeriu" il/ wash ing
(
windows.)
(
Muitos tipos de estados podem [:l.lllbém ser conceptualizados como (
rccipicmes. Assim, temos exemplos como: (
(
Ele cs t:í em estado de amOf.1 Ele está apai xonado. (Ue's iII Jove.) (
ESl mJl()sfOf(l de perigo ngor:t. (Wc' re 01/1 of troublc now.)
(
Ele está saim/o do coma. (1Ie·5 coming (m / or lh e coma.)
(
Eu estou aos pollCOS cU/Mm/o f'm rOl1ll~. (I 'm slo,..ly gmblg imo shapc.)
(
i• Ele en/rou em um estado de euforia. (l lc C'llcrel! a slatc or cuphori a.)
Ele ca;'. MI depressão. ("cfeU imo a dcpressiorl.) l
Ele fi nalme nte emergi .. do estado cmatOn ico em que se erICon trav~ desde o fim da últi ma (
sema na. (lI e finally cmcrgedfrom thecnt 3loni c Slale he had bec n in si nce lhe cll d o r fi nais _ • _ _ (
wed:.)
(
(
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7. PERSONlFlCAÇrfO
A sua rtligiclo lhe diz que ele n30 pode beber bons vinhos rron<:eses. (His reUgiQ/! ulb
him lha! he cnnnOI drink fine F~ nch win es. )
A experiêncj(j(le MicheboIJ ·Morley gerOlI urna 110V~ 1eoria física. (111e Miche!son-lI1orley
experimem savt birth fO II new physical 1heOry.)
O célnur finalnM:ntc o fHgou. (Ctmcu finruly caught up w;/IJ him.)
87
...
Em cada um desses casos estamos vendo algo não-humano como
sendo humano. Mas a personificação não é um processo gerol! c único . Cada
personificação difere cm termos dos aspectos humanos que são sc1cciona-
dos. Considere os exemplos:
., O tlólarfoj desfrurdo pela illnação. (IlJe dollar has been dwrQyrd by innation.)
,, A innaç:\o rouoou as min has economias. (J nflal ion luu robbed me or lI1y savi ngs.)
A inflação I"dibriou melhores men tes econ(im;cas til' nosso paIs. (l" n .1lioo llas
" :IS
88
,
(
(
(
sentid o;J. fenômenos do mund o cm Term OS humanos, te rmos esses 'luc (
podemos entende r com base cm nossas p róprias mo tivações, objctivos, (
açõcs c características. Conceber algo tão abSlr~1t O como a inflação cm (
termos human os tem um poder explica tivo do tipo que faz sentido pa ra (
a mai or p:lrtc das pesso<ls. Quando estam os soFrendo perdas cconô mi- (
c:ts substan ci ais devido a co mplexos fatores po lítico-cconômicos, os (
quais ning ué m rC:l lmcntc compreende, :'l metáfora INFLAÇÃO É UM (
ADVERSARJO nos dá, pelo menos, uma ex plicação coerente d o po rque (
dessas perdas . (
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8. A METONÍMIA
- ----_.-.
Nos casos de personificação já examinados, atribuímos qualidades
humanas a entidades não humanas - tcorias, doenças infhção etc. Em taiS
casos, não estamos na verdade nos referindo a seres humanos. Quando
dizemos "A inflação roubou minhas economias", não esmOlas usando o
termo "inflação" para nos referinnos a tuna pessoa. Casos como esse
devem ser distinguidos de casos como
o S(urdJlrch~de preJ!J.Il/O esú eSllcnndo St~1 COI1"'}, (1'he Iram slINl ...ich is waiting fOfhis check.)
"
,, II outrn que ê relacionada a ela. A esse caso chamaremos de !!le!o"í1l,lrl. Aqui
l i estãO outros exemplos:
:l ; Ele gosta de ler O Marquês tle SI/de. (= o que o Marquês escreveu) (He liJ:es to rc:w.llhe
~ ~ \>..
i
..,
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"
i -1 ~
..
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~
~'lIrqrlÍs de Sndc.)
Ele e.~ t[\ na ,/(lllf;a) Elc dIlJl/;Il. C;; na profiss.'\o d3 dallÇJ) (lIc's iII tlnnce.)
o acrflico invadiu o mundo <.Ia arte. (= I) uso de tinIa acrnica) (Ac.y/ie has lak cn over lhe
I'
.1
s \ --. art world.)
i \ O lim/!S ainda nlkl chegOIl ~ oolcllva. (= I) rcpóner da T;'~,1cs) (111C Times hasn"\ arrivcd
~ m lhe press cOllfereoce )'ct)
I ~~
Mrs Gnmdy faz CM:l feia parnjuIIIs. (o: I) \'cstir ,icans)(Mrs. Grundy frowllsOIl blrl~j""'IJ. )
I -:s
i' NoWJs /implUlures ,II.' páw ·brisa o <lI:Lur30 wisfeito.(=o falO de ter limpadores de
pára-brisa novos) (Ncw ...intJslrjclll wipers will satisfy lIim.)
Estou com pneus nO)·QS. ('" carro, 111010 ele.) (I' \'e gOl allCw ur of "'/'/!Iels.)
Precisamos de sangue: "01'0 na organi:z.1ção. (: pessoas !>Ovns) (Wc neco.! some ncw blood
in the organization .)
Nesses casos, como nos OtlLros casos de metonímia, uma entidade está
sendo usada para se referir a outra. Metáfora e metonímia são processos de
I narureza diferente. A metáfora é principalmente um modo de conceber uma
92
,
(
(
(
cais:! cm Icrmos de outra, c SU:I função primordial é a compreensão. A (
metonímia, pór OUlro lado, tem principalmente uma função referencial, isto (
é, permite-nos usar uma entidade para "prmlllflf outra. Mas metonímia não (
é meramente um recurso rcrcrenáll. El:t também tem a função de propici:lf (
o entendimento. No caso da metonímia PARTE PELO TODO, por exemplo, (
há muitas partes '1ue podem rrpnIlIII{lrO tOdo. A parte sclccion:ula determina (
( .;)
Ela é só uma cam bonira. (Shc:'s jusl a pretfy face.)
( ~~
lIá uma impressilNUUlU qlmnlidade dI! canu lá na plaléia. (Thcrc are an Qwful /ot offoul
( -..,
.,
oul tJw::re in lhe lIudience.)
() I'red5lUnos de umas cams IIO\'W por aqui. (Wc need some neM' foICes around here.)
( )I
( }) " ... Esse tipo de metonímia funciona at.ivamentc cm nossa cultura. A
~
c .!ii tradição do uso de retratos, t:tnto na pinruraquanto na fotografia, é baseada
~
( ~ nela. Se você me pedir para mostrar uma foto de meu filho e eu lhe mostro
(
""
~' uma foto do rosto dele, você ficam satisfeito. Você achará que viu um
(
(
•
-"
1)
1
retratO dele. Mas se cu lhe mostrar uma fotograua de seu corpo sem o rosto,
você acha rá estranho e niio ficará satisfeito. Você poderá até perguntar,
( .::) I· "Mas como ele é?" Assim, a melonímia ROST O PELA PESSOA não é
( ]) , meramente uma questão lingüística. Em nossa cuhul'!L, nós olhamos o roS[Q
cD :'I: da pessoa - mais do que sua postura ou seus movimentos - a fim de ter
( ]I uma inf~nnaç1io bási~~ _d ~~_o.!!1.Q.a pe_s_soa_é. Nós percebemos o mundo em __ . __ _
( )- termos de uma metonímia, quando identificamos uma pessoa peJo rosto e
( ]I agimos de acordo com essa percepção.
(j Assim como as metáforas, as metonímias não são ocorrências casuais
(~ ou aleatórias para serem tratadas como exemplos isolados. Os conceitos
( "
,; metonímicos são também sistemáticos, como podemos observar em exem-
( b plos represemacivos existentes em nossa cultura:
( lli
c '" PARTE PELO TODO
~ Pon ha $1111 lrCueiro aqui! (Gct }"Oll r bUlI ovcr hcrc!)
( .;."
Nós n3.o contmlamos cabe/lidos. (We don't tlirc long/w;rs.)
( }}
(
-a Os Giams precisa m dCllm braço I/Iaisforte lI()carnpo direito. f llLe Gi:mlS I"IUd aSlrongu
am, in right lield.)
( ~ Tenho um novo 8 !'d/m/as. (I've gOI a oew fOllr-O/!-lhe-floor VoS)
(~
"~"
•
li
~ 94
." "I
PRODlITOR PELO I'RODlITO
Eu vou lo mar um lielHfrawlliJch. (1'L1 havl: a LitINfraumiJch.)
Ele compro u um Ford. (He bouglu:1 Ford.)
Ele lem um PiclUSO em seu gabinele. (He's gOI a Picasso iII hi s den.)
Eu odeio ler Ilddegger. (I halC 10 (cad HeideGger.)
O Senado acha que o aborto ~ imoral. (The Stllate lhinks abortion is immorn1.)
EII não aprovo os aIos do gOl·tmo. (I doo' t approve of lhe gOI'tmmeut's actions.)
95
\VlullillglOfI é insens(vel !ls nccessid:u.tesdo povo. (Wa.lhillg/QII is in sc lIsiti\"c to lhe nccds
o f lhe IJOOplc.)
O Kremlin ~U1e~çou bo icotar a próximn :;CSS~O de cO II \"c rsaçõcs da SA LT. (l1!e Kremlim
Ihrealencd 10 boyrou lhe nC1t1 round of SALT talk.5.)
PI/Til está lançando saias IongM nesta waç30. (/'mu is inlroducing longer skir1s Illis
senson.) Ilol/yl\'ood nuo é lI1ais o que era. (I{ol/)''''OOII iSIl ' [ .vhal illlscd tO bc.)
\Vali Slrul está em pânico. (11'(111 SlrUI is in li. p~nie.)
Tcm sido IIIH:I Gralllf CelJlrol Sral;oJl aqu i o dia tod01 TelH sido lima Cen lr(ll do LJrruil
aqui o d ia todo. ( It·s been Graml Cemml S(O/;Ol1 hcre ali day.)
,, '
a metonímia do PRODUTOR PELO PRODUTO afeta, ao mesmo tempo,
nosso pensamento e nossa ação. Do mesmo modo, cJuando uma garçonete
I:,
I:i,
96
(
(
(
diz "O sandu íche de presunto quer sua conta" , ela não es tá interess:lJa n:l
(
pcss,?a como pessoa mas somente como freguês; po r cssa razão o uso de
(
1:.11 metonímia é desumanizador. O próprio Nixon não deve ter lançado as
(
bombas em Hanói, porém, por meio eh metonímia do controlador pelo
(
controlado, nós não estamos somente dizendo "Nixo n bombardeou Ha-
(
nói", mas também pensamos nele como aquele que lançou as bomb:ts c o (
consideramos responsável por isso. Isso é possível em virtude da natureza (
da relação Illetonírnica na metonímia CONTROLADOR PELO CONTROLA- (
DO, que dá maior ênfase ao controlador do que ao controlado. (
Assim como as metáforas, os conceitos metonímicos estf1.lturam não (
somente nossa linguagem , mas tarnbêm nossos pensamentos, atitudes e (
ações e, t:tmbém, baseiam-se n:t nossa experiência . Na verdade, a funda- (
mentação de conceitos metonímicos é, em geral, m:tis ó bvia do q ue a (
fu nd:tmentação de conceitos metafórico-s, porque os primeiros, gernlme'nte, (
envolvem :lssociações físicas ou causais di retas. A metonímia PARTE PELO (
TODO, por exemplo, emerge das nossas experiências em relação ao modo
pelo q ual as panes estão geralmente relacionadas com O todo. A metonímia
) (
(
PRODUTOR PELO PRODUTO está baseada na relação de causalidade (e (
babitualm elHe física) entre o produtor e seu produto. A metonímia LUG A!t (
PELO EVENTO, por sua vez, está fundamentada em nossa experiência com \ (
a localização física dos acont'c cimentos. E assim por di:ulte. (
97 (
(
avestruz. A pomba ê concebida como sendo beb, am:ível, gentil c, sobre-
tudo, pacífica. Por scr uma ave, seu habitat é o céu que. metonimicamente,
representa a eternidade, o habitat do ESplRITO SANTO. A pomba é um .
páss:lro que voa graciosamente, desliza silenciosamente c é usualmente vista
saindo do céu e pousando sobre as pessoas.
Os sistemas conceptuais de culturas e reügiões sio metafóricos por
natureza. As metonímias simbólicas são elos cruciais entre a experiência do
( 11 cotidiano e os sistemas metafóricos coerentc.s que caracterizam as religiões
(~ e as culturas. As metonímias simbólicas, que sio fundamentadas em nossas
(li experiências tisicas, fornecem um recurso essencial para compreender os
() conceitos religiosos e culturais.
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9. DESAFlOS.ri COER~NCLA METAFÓRIC/j
99 I,
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N;t~ S<!l1lalH1S que lemos à nossa frelne .. , (l1l lhe w~ks [,head of us .. ,) (fu luro)
Tudo iSl0 ficou para a1r.'is agora. (fhaf S ali bch ind us 110W,) (passado)
E.~laIllOS o lhaudo flarafrell/e cm dircção 115 sernanas segu jllfc.J. I EstanlOs (U,fcl'clulo as
SClll311as seguinfes. (Wc're loo king ahclul to thefo/lowjng wceks.)
" o rientação frente-tpís, como se tivesse uma frente voltada para voei:. Isso
não é universal. !-lá línguas - o !-Iausa, por exemplo - cm que a pedra
A idtia deJ"I"ro ~J/ar atnire passadO~JlarMJr~nlt C$1' contida no .. ntido primeiro de J~g"ir. 0\1
seja. iralfllsJ~; ... nleSrn<.> acootece com preoedet, cujo primeiro sentido ~ iraJianu d~. (N.T.)
100
,
(
(
(
receberia a orient:!.ção contdri:!. e você diri:!. que a bo!:t es ti :nris d:!. pedra, (
~
( -,'
-: Vamos enfrentar o futuro de freme. (LeI'S lhe future head-on.)
EOCluanto expressões como a nossa fnnlt, tIl olho pam fnnlt e '!II j"nft
( ~ de nós orientam tempos em relação a pessoas, expressões como pnctfler e
( » I segl'lirorientam tempos com relação a tempos. Logo, tcmos:
( D A !lfÓ:o;ima semana c a semana scguilllC 3 da. (Nex t wed: DOO lhe wcd: following ir.)
.~
( Jj I
(} I Mas não:
( ~ A SCm;lJla seguinte I mim ... (Thc weck following me.)
(
( .~ , Já que tempos futuros estão voltados para nós, os tempos voltados
para "eles estão maiS longe aindã nof~ruro ~ - (od~~ -~;temPo-;-ft~ ---
(
(J
)
t seguem o presente. Ess:l é a razão pela qual as Jrmanas qUt Jt leguem são as
mesmas do que aJ JtmanaJ a nOJJa frtrtlt.
(I) II'
~ I, A finalidade desse exemplo não é simplesmente mostrar quc não há
d qualquer contradição mas também mostrar todos os detalhes sutis que :li
<) l.ileral cotidiana sobre o tempo, e é tão familiar que normalmente nem a
percebemos.
~
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~
I
ID t
;;J li" 102
- li
&)
.;:,j:
Coerfnda vermi lonmlênda
- .. __ ._---
_._-_.éo movimento relativo em..relação . ..... _- -- -----
a n6s, com - - . __ ..
O futuro na freme e o passado
:ltrás, isto é, eles são dois subC:lSOS da mesma metáfora, como mostra o
diagf:lma abaixo.
direç30 do kIlII'o
Essa é uma o utra forma de dizer que :lS duas metáfo ras têm em
comum um:l implicação importante. Ambas as met:íforns implicam que,
do nosso pOntO de vista, o tempo passa po r nós da frente para trás.
103
I. I Embora as duas metáforas não sejam consistentes (isto é, elas não
fomlam uma imagem única), das, no entanto, "se encaixam" por serem
SUbclllcgorias de uma cat.egoria maio r c, portanto, por tom partilharem um:1
mesma implicaçiio. Há lima diferença entre metá foras que sâo (Otrtllles (isto
é, que "se encaixam") entre si e aquelas que são {olls/slmln. Descobrimos
"
,. <JUC as ligaçõcs entre as metáforas envolvem, provavelmente, mais coerên-
I
!~
If
Teremos que si mplesmente segu ir caminhos separados. (\Vc"lI
scpamte ...a)'s.)
JUS! hJ ve 10 go ollr
Não podemos \'Ollar atr~ agora. (Wc cml 'I/um back now.)
'Eu acho q ue essa rel~ção niío vai darem lugar nen/lI4m. ([ dou't think Ihi s rc lationship is
going rm>11·here.)
O/ldt! nós estamos? (II'/lere are we1,)
Estamos p(Jrados. (Wc're 5/rlck,)
Tcm sido uma el lrrula 100lga e esbllracadl' . (11'5 bcc n a 10/lg. bump)' roml.)
Esta relação 6 Uni beco sem Sfdda. rnis relmionship is a dcad·elU/ slreel. )
Estamos si mplesmente giron(/o cm falso, (Wc' rc j uS! lpinllig our ",hub.)
I
I' O nosso easarncnlO t!slll t!ncol/wdo. (Ou r mnniagc is O/I lhe rocks.)
Sa(mos do trilho. ( We 've gouen oiflh e Ir(Jck,)
Esta relação t!s/á af"" dandQ. [fhis rdalionship i$fom,duill8.)
• 04
,,
t
(
(
VIAGEM
(
(
•
Viagem de carro viagem de trem
•
viagem de navio (
I .
Longa, estrada rUim,
I
sair do trilho
I
encalhado
(
(
Beco sem salda afundando
(
Girando em falso
(
(
(
Mais uma vez, não há uma única imagem consistente em que todas
(
as metáforas da VIAGEM se encaixem. O que as faz roereI/ler é o futo de serem
(
todas metáforas de VIAGElI-I, apesardc especificarem meios diferentes de viajar.
(
O mesmo fenómeno ocorre com a metáfora 'I13MPO É. UM OI3JETO EM
(
MOVUvlENro, pois um objeto pode se mover de várias maneiras pelas quais
(
algo pode se mover. Nesse sentido, o lempo voa, o lempo engahnba, o lempo corn:. De
(
um modo geral, os conceitos metafóricos são definidos não cm teonos de
(
imagens concretas (voar, engatinhar, descer a rua etc), mas, sim, cm tennos
(
de categorias mais gerais, como a da passagem.
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10. ALGUNS OUTROS EXEMPLOS
107
Precisamos cQ,lStmir um argumento foru para isso. I Precisamos eOllStroir um argumento
Precisamos I!searar /I tcoria com :'IfgumenlOS sólidos. (Wc need 10 bllllreu the lheory
A teoriaflCord "m pi ou cairá de acordo com aforça daquele argumento. I A teoria s"
SUSI"llIlUtÍ 0\1 cairâ de acordo com o ~so d:KJuc1e argumento. (Ille thcory will SWttd or
fali on the s/rellg/II of th:1.\ argutlw::nL)
I)cmOllSU'.lIal1J5 que a rn:ria nàJ ~n ~. (Wc ""ln shaw IIw.lhe thcory is withoutfollndation.)
Até ligara apenas juntamos o arcabouço da leoria. (50 far we h:lve pullogelhcr on ly lhe
Esle arg umento cheiro a peue ulragu.:/o,1 Este argumento cheiro mal, nll:ll argulllclIl
smc/lsfishy.)
Deixe·me cOlinhar isso lII~i s um pouco, (Lei me slew over Ihal for a whik:.)
Bem.cis uma teoria em que te:llmenle se podemertrl",has" delI/ui Uem, eis um;llcoria
que fCôl.lmente se pode.u.ooreor, (Now thc:re' 53 IJw::ory )'ou can really sink JOur rtc/h imo.)
No momento lentOS quefi/lraressa idtia. (We need 10 lellhal idca /1I!rcolme for:l while.)
108
(
(
(
Ele f um leitor voraz. (He's :I vomcioUJ reader.) (
NilO preci sa mos dar rudo /IU lJoca dos alullos.1 N:lo preci samos dar tudo lII(ufigCIIJO aos (
allloo.~. (Wc dou' t need 10 sJloon-fecd our s(mleul$.)
(
Elf' del'orOIl o livro. (110 devoured lhe book. )
(
Vamos deillM QSS.1 idfia colillhar em lXIII/lO maria por UI/I tem/lO. (Lct 's let IhM ide!l
(
simmtr 011 ,hc back bllnler for !I white.)
(
E.\ta f li parte carnosa do tt};IOJ Esta f a pane sl/culellla do te1.l0. ( Ini s is the IIIcU/y pari
or the paper.) (
Vamos deixar essa illfia e/Igro.rsar um pouco. 1 Vamos dei llõlf essa idt!ia clu'gllr 110 1/OIUQ. (
(LeI Ihal ideajell for a while.) (
Essa illfin vem f", nfli!rlI(lIIdo h:l anos . (Jllnl idca has beeu f,,,,,,e l1lll1g for years.) (
(
Com relação ii vida e à m orte, IDÉIAS SÃO O RGANISMOS, tantO de
(
PESSOAS com o de PLA NTAS.
(
\
lOf!iAS SÃO PESSOAS
(
A tooria da relnlivillade deli tllrll li uma série de itl éiM na flsica./ A tcoria da relatividade
gem" uma série de id6a$ na fisica. (The Iheory of re l3livity gllve blrlh 10 an enormous
(
nUnlber of ideM in physics.) (
Ele é o pni da biolo!;ia Illoderna. (Ho is lhofmheror !Ilodem bio logy.) (
Dequom foi Co<;ScrcbmIQ eerebm/71 Quemgeroll rslll Idtill ? (Whosc braille"illl was lhal1) (
Veja cm (111e as idéias dele di!.W'·llfam. I Veja no que deram as id6ns de le.
(
(l.ook 31 IVhal his itleas Im\"e spm'·lIed.J
(
Aquelas illéi3$ morri!rllm 1II/ltI alwm na Idade Média. ( 1110se idea.~ lIied oJJin the Mi ddJe
(
Ages.)
(
S lIas idéias l"i"'~riio pam sempre. (lI i ~ i,leas lVill/iI'i! 0 11 forevcr.)
A psicologi a cogni tiv a csl~ ainda e l11 sua in.f!ineia. , A psicolog iu cogn itiva aind a está (
tmgatillhmrdo. (Cognitive psychology is sliIl in ils itifimey.) (
Esta é lIl\la idéia que merece Str ri!Ssu.rcilada. (Jllat" s an idea thm OUI;11I10 bc resrlrrected.) (
De onde vocês de.tt:muraram e.~a idé ia7 (Wh cre did y Ol! diS "I' lha! idea7) (
(
(
(
\()<)
,
() ~
( ~
(j Ele soproll vida /lOva àquela idéia. I Ele deu vida /lova àquela id~ja. (He breollted ""IV lifc
;/110 lho! idea.)
( ;;i
( ])
(
\~
,
",
( .:;,.
IDÉIAS SÃO PLANTAS
Finalmente suas idéiasfn,tifimram. (Bis ideas have finaHy come tofrui/ialt.)
Aquela id6a morreu IlU vil/eira. I Aquela idéia morreu 1/0 pi. (Thal ideatlied On lhe vill/' .)
( ~ Esl.1 brotando uma nova teoria. mlUl'S a budding lheory.)
( ] uvar;! anos para que essa idéiaj/Qruça IOralmeme. (I! willl3ke yealS for lha! idea 10 come
IOfullj/ower.)
( ])
Ele vê a química como um simples rtlmo da fIsica (Ht views chemistry as a mereojJslwQ/
( J of physics.)
( j
A matemática tem muitas ramificações. (Mathematics has many bmnchel.)
( .1~
As umelUes das gr.mdes idéias dele formo p/amados na suajuvcntude. Cl1le ueds ofhis
( B greal idcas werc p/all/ed in IIis youlh.)
( .~
.:.: Ela tem imagillaç50 fértil. (She lias aieni/e imaginntion.)
( ]) I
Eis um3 idéia que gostaria depllllllar cm sua mcntc. (Here's an idea IIIat I'd likc to pIam
( 1>--
0
,~--
"
- - - - - inyourmind.)
)
'", Sua mentc não éiér/iI. (Bc has a bnrre'l núnd.)
(
," ,I
( )~
.'" IDáAS SÃO PRODUTOS
( :3
(.1l
( ])
I' Estamos realmente agi/amJa(sacudimla, aciananda, palinda} id6as novas. (We're reaJly
IUming - c/lUming, cranking. grinding _ aUI ncw ideas.)
Geranws várias id6as esl<l semana. I PradulÍnJos várias id~ ias esta semana. (Wc'vc
( ~) gf11eraud 1\ 101 of idellS this weck.)
'~
( .~ Ele produz idéia'l IIOVa'l em lUll ritmo esp.1l1toso. (He prodllCes new ideas ai ati astounding rme.)
SI/a pradutividurle ime/ee/ual diminuiu nos últinlOs anos. (Bis imd/cemal pradw.:livi/y
(3
has decreased in rccent years.)
( ::ii Temos qllepoliras ares/as desta idéia, ofiá·la, alisá·la. (Wc necd la take fOugh eriges af!
( ]I lha[ idea, hone iI dOWII, smoc/IJ it OUI. )
( ~ é uma idéia tosca; dcve se r refinUlJo.. (11'$ II rough idea ; iI needs lO bc refi'leI/.)
( ~
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( g~ I" 110
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IDÉIAS SÃO llENS DE CONSUMO
t\ form~ com 'luc você empacota suas idéias t importante. (lt' s im[lOrtnnl how you
package your idcas.)
Nilo desperdice seu pensamento com pequenos projetos. (Don't wasfe your thought$ on
small projeclS.)
i--~-~
Vamosjutrlar nossas idéias. (Lct's pool our ideas.)
I
Ele é um homem cI,,~io de recursos. (He is a resourcefol man.)
Essa idéia percorrerá 1//11 /o/lgo Cllmitlho. I Essa id6a vai dumr lili/iro. (Tha! idea
will go a long way.)
Deixe-me colocar meus (lois lostões. I Deixe-me dar minha pequell ll cOtltrib/l içãa. (leI
me pUl inmy Iwo ce'lls' war/h.)
Este livro é um tesouro de idéias_{F.ste livroé um achada. ("l1mt book is a Ir(lISIIre trol'e
of ideas.)
111
ID1~I AS SÃO INSTRUMENTOS CORTANTES
Essa idéia é iucisim . (ln al' s an incisi"e idc3.)
Isso ~ um corre diN!to "O corarão 00 assunto} Isw mala a qUClit!lu. (111al CUlS riglU lo /Irc
Ele ~ cona nte CO/lIO lima /lava/ha. (He has a rawr wit.)
Ele lem mC:1lIe afim/a. (He h.1S a kun mind .)
Ela corrQlI 05 ru gumC:nlos de le em lims.1 Ela picou OS argulnen!OS dele. (She CIII his
argulllellLS lo ribboru.)
- eri licism?)
I NoçõesfoTa de moda não têm lugar na socir:d ooe de hoje. (Ol.t1asl,iollcd Ilotious have
I- 110 Illace in loday's society.)
Elcmwuém·JeowalÍl.allo leilOO o Neli' Yark Review orBooks. I Ele mlm/i m.!C /ln /I1ml"
lendo o Neli' York Review of 1100k$. (He kcc l's IIp· /o ·II<11e hy read ing lhe Ncw York
Rev iew of Books.)
Uctkele)' é um ce ntro do pen samento dI: WIII8"lIrdll. (l3erkeley is a cc:ii tcr o f II I'ollt·ganle
IhoughT.)
A semiótica tOtuOu,se bastanl e cI,ique. (SeHliotics has become quilCehic.)
A idéia de revoluç30 uão est~ mais em ~'08a nos Estados Unidos. (111e idc:a o f revolmion
112
-
(
(
(
A 0 11110 d ~ gramá liça transfonnacional chegon aos Estados Unidos em meados dos anos (
60e acaba de fa;r.er sucesso na Eump.1. (Ibc tr:tnsfonnalional granUllõlf cmzc hillhe Uniled (
SI:LICS in lhe mid-sill1ics and has jusl made itlo Europe.)
(
(
Em"ENDER É VER; lDt.IAS SÃO FONTES DE LlJZ; D1SOJRSO É U,., l MEIO DE LlJZ
Veja o que você eslá dizendo. (1 Se<' what you'n: $ay ing.)
Isso parece diferenle do lUeu pcllll.! tle ~ÚIII. (1l1QQb diffcrent frommy pOÍll1O/I'ie .... )
(
Eles sentem um pelo o utro 11m3 nlf(lçlfo incorttrol áve l. fllIey are uncontro1l3bly atlme/cd (
10 each Olher. ) (
Irnediata1Tl~nle eles começaram a 8rl",j/ar um em tom o do OUtro. (1bcy gmvÍ/arcd lo caeh (
oth er immedi~tcl y.) (
Toda sun vi d~ gira em to rno dela. (11is whole life rcvol" cJ around her.)
(
A armos/era enlre elC$ é sempre carregada. filIe arma/phere around lhem is always
(
c/lllrged.)
(
(
(
11 3
(
( .,11
(
.";'~
H:I Lima im;rfvcl energia em seu relacionamento. (I11ere is incredible encrgy in lheir
( .,:.-
rclation$h ip.)
(
l~ Eles perdemm o (mpt U!. / Eles perderam ofogo. (The)' losl lhcir lIIomen tllm.)
(3
(]3 AMOR É UM PACIENTE
( @ Esta relação ~ tkK"titl. (Thi5 is 3 sid: rd ationship.)
(1: Eles It m um casame nt% rte e saudável. (11Iey !lave a slrong, heallhy marriage.)
(] O cas3mclllOest:i mo rto- não [JOde= rwUKiIIllIo. (Thc nwriagc isdrod - ir can '( bc m'ÍloM.)
O casamento deles n /II melhoram/o. (Thcir maniage is OII/he _rui.)
I ~
Nossa relação cstá em pi de [JQVo./ Estamos fOmnndo pi novamente. (Wc 're gening back.
ID 0 11 al/rlul.)
O Ore lacionamemo tleJesesld realmeflle em Ima [aromo (1lIC irrelntionship is in rtaUr good
( ~ shn"e.)
(? Eles têm um cas~menlO lelárgico. r nley' ve gO! n lú,JesJ m.1lTi~ge.)
(:ID O casamentO deles está nas ú/limas. (Their mruTiage is on ilS 111$1 /egJ.)
I]
<li
...
!
É um caso dugusuulo. (It's II/irtd affai r.)
----_.. _---
AMOR É LOUCURA
(]l
Sou louco por ela. (I'm crazy nbout her.)
( ]I Ela rrtefalpcnlera ca~fa. (S/le dri'~J me OUI of my mind.)
('"
.~ Ele t$flf sempre 10l/co por ela. (l'le conSlIllllly rtwes aOOut her.)
(~
AMOR é MÁGICO
(3 Ela lauçol/ Jtufeiliço sobre mim. (She crul her spelf over me.)
.~
( "
- A magia passou. (1bc mugic is gorte..)
( ~ Fui e,ifeuiçado. (I was spelJbound )
( ''-
},,~,
{ :!}
(li.'> 114
{ ~
( Q
Eu erafascinada por ele. ( I was I'lIIrmu::td by him.)
AMOR ~ GUERRA
Ele é conhecido por suas inúmeros co"quis/{u ripidas. (He is kllown for his many I1Ipid
conquars.)
Ela lutoll por e le, mas sua amante Vl'netl j. (Shefought/or him, but hi s mi stress WO/l 0111.)
Ele ganholl a m!io dela em casamentO. (fi e WOII her hand in rnarriage.)
l!Je a sllbjugorl, (Be ovtrpowerl'11 her.)
Ela vive cercada por seus pretendentes. (She is btsieged by her su itors.)
IMPORTANTE É GRANDE
Ele é um grande homc m na indústrin do vestuário. (Hc's n big mau in lhe garH\cnt
indus!ry.)
115
Ele é um gigante entrc os escri/OI'C$. (He's agiam mnong \Vri/crs.)
Esta é a maior id6a 111IC chega li propaganda em anos. (111at's tire bigSeSl idea la hit
advcrtisi ng in yeM$.)
Ele eslá acima de tados no selor industrial. (He' s /'eatl mui s/IQ1I/ders abOI'f! evcryonc io
r'{li alienas uma ptqll/!/la mentira inocente. (Thal was ollly a lili/e white lie.)
Flquci IXlSfllO diante d., mormMade do crime. (I ....':I.~ 3SlOIlndod 8t lhe ellOmlÍl)' of Ihc crime.)
Foi um dos /IIO;ores ,nolT\(;n/os na história dos Scriados Mundiais. (11m/ w as one of/ he
grl:a/Ut mo"",nts in World Serie.o; his/ol)'.)
Seus (CilOS sobup"jam os dos oornens inferioru. (liis accomplishments lo",u o vu lho5e
of lessu me n.)
Ele SC'llla-se oom os olhos grudados na TV. ( He si ls wilh his eyes S/ll et! 10 lhe TV,)
Seus olhos peglmim cada um dos dclaltles do modelo. (Hcr eye.o; pickt'd 0111 cvcry dclail
o f lhe pa liem )
Seus o lhos se e"c(mlraram. ( llw:ir cycs mct.)
Ela j:lInais li", os o lhos do rosto dele. (Shc /ICvcr tnOl'U hcr c)·cs.fron, his [xc.)
Ela co rreu os o lhos por tudo na sala. (Shoe ma hereyes OI'U el'erylhing in lhe room.)
Ele q\ICr lUdo ao alcaace de seus o lhos. (Hc w:m/!Ç evcrything ",ÍI/lin reaclr o(his eyes.)
1.
116
(
(
(
EfEITO E/l.KlCIONAL É CONTATO I'iS ICO (
A mone de sua mãe ol"l&i,, -o em cheio. (I-lis mo ther's dcath hil him lzard,) (
Aquela id6a derm/)ol/·lIIe. ( 111:11 idea bow/ed me ova.)
(
Ela é um ItOC'/IIle, (S he's a kmxlwul.)
(
Fui a/Íllgido pcla siZlÇeridadc dele. (I was $Iruck by his siIICCrily.)
(
Aquilo realmente me i"'IJreuiOJ1ou, ( 1113t real1y mede 011 impreuiolt ""I me.)
(
Ele deixou $I/U marca no mundo. (U e mode IJis ma, k on the world.)
Sua observação lOCou-me. (I was tour:/lrd by his remark.) (
Aquilo me ofos/o... mlat blcw me oway.) (
C
I!SfAOOS I'iSICOSOUEMOCIONAISSÃOFNnDADES DENTRO DEUMAPESSOA. °C
Ele tem dor lia ombro. (He has a pain ilz his shouldcr.)
(
Não me paS.l"1! a gripe. (Don't giv~ me the nu.)
(
Meu resfri ado pa.JWJ' 'ÚI cabeça paro o I'~i/o. (My cold ImJ gom:: from lhe /zead /O my clzest.)
(
SU:l5 ~forom embora. (I-lis pains wem away.)
A depressão dele voltO/I. (His (ic"prc:Ssion rúurned.) (
Chá quente e mel f:trilo você se livrar da tosse. ( UOI tea :md honey wil1 get rid ofyoor (
eOllgh.) (
Ele mal conseguia contu sua alegria. (Ue could barcly cOllloilt his joy.) (
O sorriso SlIm ;.. de seu rosto. (llle smile /efi his face.) (
Soldado. lire essa expressão de desprezo de seu rosto! ( \Vil'~ th31 srltCr of! your façe,
(
privale !)
(
Seus temores insistem cm l'oltor. (l-li5 fcal's krep comillg back.)
(
Tenho que cllflCOl/lIl1/r ess~ depressão '1"C mTo me lar811. (l· \·c gOI la ~1I(lke Qff thi s
Ocpression _ it kceps IImrg ing on.) (
Se você ap:mhou um res friado, tome mu ito c há para /ivror·u dele. (Ir you'vc gOI a cold, (
drin king lots o f te.1 will jlnsh it om oryour sistcm.) (
Não M um Iraço sequer de covardia /Zele. (nlere isu' t a Ifllct of oow~rdke iII hirn.) (
Não Irá "''' pi/Igo de honestidade lIel!!. (l-Ic haSlI'1 got a/IIIO/lesl /)OIlC illhis OO<1y.) (
(
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(
11 7
(
l!)
(')
VITAUDADE É UMA SUBSTÂNCIA
( il)
Ela e$tá cheia de força e vigor. (SIle '$ brimming wilh ~'im ::md vigor.)
( ~
Ela cslá lrimsbordamlo de vi lalidade. (She'$ ovuflowing wilh vilaJil)'.)
1l Ele ulá UIII e nergia. (He's devoid o/cnerg)'.)
(~ Nilo me sobra energia no fim do dia. (I 0011'1 have an)' energ)' /tfi olthe end o( the day.)
(@ 1$50 /irou muilO de mim. IS$(! algiu Illuito de mim. [Il'allook a 101 OUl of me.)
( $j
VI DA É UM RECIPIENTE
(~
Tive uma vida el,da, O ' ve hatl afulllife.)
A vida t \Y1tia para ele. (Lire is t mply for him .)
Ni\o sobrou mui/o,UI vida para ele, (lltere's "01 mllch /4/ for hi ..n iII life.)
A vida dela é um amomoodo de al ividodes. (Her life is crommed wilh aclivilies.)
Tire o ,m1timo da vida, (Gtl mOSI oul O/lhe life.)
A vida dele coflli"hn muila dor. (li is life comaiaed a greal deal of sorrow.)
Viva a vida plenameme. (Live your life 10 IlI e/ullesl,)
_ _ _ _ _ _ _ _ o _ _ _ _ _ _• ___ •
-~--
(o o-----
.';'." -I
VIDA É UM Jooo DE AZAR
<'~
Vou aprol'ârar a oponunidade.1 Vou arriscar minlla sane. (I'lIlaJ:e my chatlcts.)
(
TodílS 11$ probabWdadts sl10 conlra mim. (The odds art ugairul me.)
( 1$ Tenho uma cana ntl maagn. (I've got anllct upmyslu"t.)
\)) Ele /em lodos os ases. ( He's lto/ding aI/lhe aceJ.)
(]) É uma quCSl30 de cura ou coroa. ( h 's a IO$$'UP.)
( ~ Se voei joga r bem SllfU car/fU, voee eonscgu iroi.1 Se voetjolJardireilO, voee vai conseguir.
< 3l
(i)
( i.~ 118
(jj)
(~
Vamos mUI/el/lar (I apOSla, (LeI'S uI' I/U: (UI/c,)
Tal\'cz sejn necessirio aun~ma r lU apoSltu, (Mllybe we!leed 10 Jwuun l/II' 1'01.)
Acho quc dcvemos paJJar" "':l- (I t11inlr.; wc should slaml pai,)
Nesse último grupo ele exemplos, temos uma série do que chamamos
de "fórmulas do discurso", ou "expressões idiomáticas", ou "irens lexicais
fraseológicos", que funcionam de inúmeras maneiras como se fossem
palavr.l.s únicas; e a língua possui milhares deles. Nos exemplos apresenta-
dos, cada conju nto de itens lexicais fraseológicos está estnnurado de forma
coerente POt meio de um único conceitO metafórico, Embora cada um
d ~les seja um exemplo da metáfora VIDA Ê UM JOGO DE AZAR, eles são
normalmeme usados paro expressar li viela, não situações de jogo, São
formas usuais de se falar sobre situações d:\ vida, da mesma maneira que é
usual empregar a palavra "construir" quando se fala de ( eo~ias, É nesse
sentido que as incluímos no que chamamos de expressões literais estrUnL-
radas por conceilOS metafóricos. Quando dizemos "Tudo est:í contra nós"
ou ''Temos que aproveitar a oportunidade", toelos entenderão que não
estamos usando metáforas, mas que simplesmente es tamos USando a
linguagem no rmal do dia-a-dia para uma determinacla siruação, mas a
maneira de falar, de conceber e até mesmo de experienci:lf a simação seria
estruturada meraforicamente.
" 9
.... -- - -_. ._._--
I
I
I
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
11. A NA71JREZr] PARCIAL DA
ESTRUTURA lvlEIAFÓRiCA <
<
(
\
Até aqui descrevemos a natureza sistemática de conceitos definidos
(
metafo ricamente. Entendemos esses conceitos cm termos de várias mctá-
(
fora s. (por exemplo TEMPO É DINJ-IEIHO, o T EMPO É UM OllJET O MÓVEL
(
elc.). J\ estrutura metafórica dos conceitos ê necessariamente parcial c
(
reflete-se no léxico da linguagem, inclusive no léxico frasco lógico, que
abriga expressões de forma fixa, como, por exemplo, "estar sem base".
(
Uma vez que os conceitos são estruturados metaforicamente, de forma
(
sistcrnâúca, como, por exemplo, TEOIU AS SAO CONSTltUÇOES, é possível
(
usar expressões (cof/Jlmir, afirme) de um determinado domínio (CONsTRU-
(
ç ÃO) para fabr de conceitos correspondentes no domínio dellnido meta-
(
foricamente (TEOIU i\S). O ([ue (I/irem Of/ b(/u , por exemplo, significam no
(
domínio melaforieamente defi nido (rE01U i\) dependerá dos detalhes de
(
como o conceito metafórico TEORIAS SÃO CONSTRUÇOES for usado para
(
estrul'ma r o conceito de TEORI A.
(
(
121
(
(
<'1'1
(~ As partes do conceito de CONSTRUÇAO lIsadas para estruturar o
( '!) conceito de TEORIA são o alicerce e a parte externa. O telhado, os cómodos
(]) internos, as escadas e os corred o res são elementos de uma construção que
( }J aliurre (ou baJe) são exemplos da pane usada do conceito meta fórico e
( pertencem à nossa maneira o rd inária e literal de falar das teorias.
<3 Mas, o que dizer das expressões lingüísticas que refletem a parte "não
(11 usada" de metáfo ras, como ruORIA$SAO CONSlltUÇÓE.S? Seguem c]uatro
( ',illl exemplos:
( 1:
.:;:::- A teoria dele tem milh:lrc:$ de quartinhos e eorrc"ores· colllprido~ c tOnllOSOS. (His theory
l.~
I' has thOu SMds or lillle roolllS nnd 1011g, windil1g corridors.)
(')
__ Suas teorias são Bau holJ.'i 00 que se reFue. simplicidade pseudoruncional. (His theoric:s
(1) are Dauhaus in thcir pseudorullCtionaJ simpliciry.)
('j
I, Ele prdere pesadas teorias góticas cobc:rtas por gárgu las. (He prerers ma.ssivc Godlic
(ií I,
I
theories covcred with gargoyles.)
{) Teorias cOlllp le.,as normalmente aprcsemam problemas de enca namento. (Co mplex th eo-
1l
I ric:s usually have problcrns with the: plumbing.)
I
j
As frases citadas acima estão fora do do mínio da linguagem literal
~
no rmal e são pane do que chamamos de linguagem " figurada" o u "imagi-
'i\\
o~ nativa". Assim expressões literais ('Ele conslruiu uma teoda") e expressões
imaginativas ("Sua teoria reveste-se de gárgulas') podem ser exemplos da
tJ
mesma metáfora geral (TEOlUAS SAO CONSTRUÇOES).
ii
~ Aqui podemos distinguir três sub-espécies diferentes de metáfora
) imaginativa (ou não literal):
'\':
b:
)} 122
~
"
Exemplo de extensões da parte IlsOOa da rnc:láfora, como em " Esles falos s30 os lijol os e
a argamassa de minha teoria". Aqlli a pane externa da eoosuuç30 é mencionada, embora
a melMora TEORIAS SÃO CONSTRUçOES n30 compn:enda os mareriais usaclos.
Exemplo da pane n30 usada da meláfora lireral, COlllO em "Sr m reoria tem milhares ele
quartinhos e corredores compridos e tonuosos".
Exemplo de meláfora nova, iSlo I!, IlnUl metáfora nao usada para cstrururar partedc: nosso
siSlemn. conceptua l nomla!, mas parn CJlprcssarurnll nova manc:iradese pcnsarsobrea!go,
corno em "As teorias clássicas são palrian::as que gel11l1l.l11 muitos filhos, lllle lutam
irtCcssanremenle" . Cada 11m3 das SUD-c:spl!des si lua·se fora da parte usada do ooncti lo
melafórico que cstrulllra llOSS(I sislema eooct:ptual nonnal.
Cada uma das expressões metafóricas citadas até :tgora (por exemplo,
virá um tempo, (onsfnliruma teoria, flffl(flrUma idéia) é usada no interior de
um sistema global de conceitos metafóricos - conceitos que usamos
constantemente ao viver ou pensar. Essas expressões, como tod:ts as outras
palavras e itens lexicais fras:lis da língua, são fix:ldas por convenção. Além
desses casos, que fazem parte de sistemas metafóricos globais, existem
expressões metafóricas idiossiuwíticas, que ficam isolad:ts, e niio siio
usad:ts de maneira sistemática quer na linguagem, quer no pensamento. São
expressões conhecidas, como pi d:t mont:mha, cabtfo de repolho, pmlfl da
I mesa etc. Essas expressões são exemplos isolados de conceiros metafóri-
cos, cm que há apenas um exemplo da parte usada (ou talvez dois ou três) .
Dessa forma, o pé da montanha é apenas a parte uS:lch da metáfora
MONTANHHA É UMA PESSOA. No discurso normal, não falamos de cabef{l,
ombro ou tronco da montanha, embora, cm contextOs especiais, seja possível
canstmir novas expressões mctafÓ[IC:ls bascad:lS !las partes não usadas. D e
fato, há um aspecto d:1 metárora MONTANHA É Ul'IfA PESSOA que permite
a alpinistas dizerem os ombros da montanha (especialmente o espinhaço
próximo ao topo), c ainda, conquistar, l/flar, c, até mesmo, ser !!Jorio pela
montanha. E mais, há convenções 110S desenhos animados, cm CJuc mon-
tanhas são animadas e seus tõpos tornam-se cabeças; mas metáforas, como
I\-IONTANHA É UMA PESSOA, marginais na nossa culUlra e na nossa língua,
constituem problema, porque sua parte usada pode consistir em uma única
. expressiío convencionalmente fixa na língua, e elas não interagem sistema-
ticamente com outros conceitos metafóricos porq\le muito pouco debs é
usado, o que as torna relativamente desinteressantes para os nossos obje-
tivos, embora não totalmente, já que elas podem ampliar suas partes não
usadas para cunhar expressões metafóricas novas, fazer piadas etc. Nossa
capacidade de estender essas metáforas às partes não usadas indica que,
embora marginais, elas existem.
124
(
(
realmente apresentem lampejos de vida e, nesse caso, silo compreendidas, (
em parte, cm termos de conceitos metafóricos marginais como MONTANHA (
É UMA PESSOA (
como perder tempo, atacar pOJ/çõu; Jegu;r ((J!JI;lIboJ diferClltCJ ete., são refl exos de (
(
conceitos metafóricos siste"m:ítico s que estruturam nossas ações e pensa-
(
mentos. São "vivas" no sentido mais fundamental: são metMoras que
(
vivenciamos. O fato de estarem eS labelecid~s convencionalmente no léxico
da lingua não as torna menos vivas.
(
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125
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12. QUALÉABASEFOJWADORA
DO NOSSO SISTEMA CONCEPTIJAL?
127
baixo não ~p e n~ s relcv:lIll c fi atividade Císica, mas centralmen te rele\"ante.
A centralidade da orientação para cima-para baixo nos nossoS programas
motores c cm nosso funci onamento di:í.rio faz pensar que não há outra
alternativa par:l. esse conceito oricnt:l.cionaL ObjeLivamente f:l.bndo, no
entanto, h:í. muitos Olmos quadros possíveis para :l. orientação espacial,
incluindo coordenadas cartesianas que em si não têm orientação para
cima-para baixo. Entretanto, conceitos espaciais humanos incluem PARA
128
\
(
(
imcdiaras que nós então "interpretaríamos" em termos de nosso sistema (
conceptual. Suposições, valores e atitudes culturais niio siio conceitos que (
acrescentamos ii. experiênci:l. Seri:l mais correto dizer que toda a nossa (
experiência é tol~lllllente cultural e que cxperienciamos o "mundo" de tal (
manei ra que nossa cultura já está presente na experiência cm si. (
No entanto, mesmo se pregarmos (lue toda experiência envolve (
()
.- RECIPIENTE fundam enta-se na correlaçilo entre o que vemos e um espaço
I físico definido por fro nteiras, A met:ífora TE..\WO É UM OBJETO BI
\' .:)
''?
( » li MOVIMENTO fundamenta-se na correlaçilo entre um objelo movendo-se
() II, cm direção a nós e o tempo que l~va para nos alcançar. A mesma correlação
serve de base para a metáfora TEMPO É UM RECIPIENTE (como em "Ele
()
realizou a t:l.refa m dez minu tos''), em que o espaço, definido por fronte iras
~ ~
() e :l.travessado pelo objelo, é correlacionado ao lempo q ue o objeto leva para
-----------. ..-
_ que- é mais claramente delineado. C~nside re os seguintes exemplos:-- - - -
131
é estrulurfldo . Tal metáfora permite-nos perceber o conceilo de grupo
social com base na noção de espaço. A palavra "na/no" c o conceito
DENTRO DE são os mesmos nos [fês exemplos; não lemos três conceitos
diferentes de DE.NTno DE ou três palavras ho mófonas para expressá-lo.
Temos um conceito emergente DENTRO DE, uma palavra par:l ele, c dois
conceitos metafóricos (Iue parcialmente defi nem grupos sociais c estados
emocionais. O que esses casos mostram é que é possível haver tipos
igualmente básicos de experiências, mesmo existindo para eles conceptua-
lizações não igualmente básicas.
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I',
I 132
I,
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(
(
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(
(
(
(
(
(
13. O J--llNDAlvlEN70 DAS
(
METAFORAS ESTRUTURAIS
(
(
---- (
As tnctMoras baseadas cm conceitos fisicos sim ples - para cima _ (
para baixo, dentro-forn, objeto, substância etc. - são fundamentais no (
nosso sistema conceptual c, sem elas, não poderíamos viver no mundo que
(
nos cerca: não podcriamos raciocinar nem nos comunicar. Mas elas não
(
são muito ric:lS cm si mesmas. Dizer (Iue algu ma coiSa é percebida corno
(
OBJ ETO RECIPIENTE com uma orientação DENTRO-FORA não d iz muito
(
sobre tal coisa. Mas, como fo i o bservado com a metáfora lI1.ENTE Ê. UMA
(
M.AQU INA c com as várias metáforas de pe rsonificação, podemos elaborar
(
metáforas esp:lciais cm lermos muito mais específicos. Isso nos permite (
não só elaborar um conceito (como fi mente) com grande dctalhamento, (
cama também cncontr:u meios apropriados de salicnt:lr :llgllns aspectos (
desse conceito e obscurccer QUlroS . Metáforas estruturais (tais como (
OIscussAo RACIONAL ú". GUERRA) fornecem a mais rica fonte de I"al (
elabor:lçio. As medforas estru turais permitem-nos fazer mais do q ue (
(
(
133
(
l }
( ~:,
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"
( .•<'
institucionalizado o conflito fisico e empregado nossas mentes para desen-
",
(
volver meios mais eficazes de realizâ-lo, sua estrutura básica permanece,
( )
em essência, a mesma. Em lutas entre dois animais brutos, cientistas têm
(21
observado práticas de intimidação, de estabelecimento e de defesa de
r) , território, de ataque, de dcfes:1, de contra-ataque, de recuo e de rendição.
C' I, A luta humana envolve as mesmas práticas.
l "".,:,1
I'
, Portanto, uma das vantagens que há em ser um animal racional é que
(
l
.,,
:~
se pode obtet o que se deseja sem lcr que correr o risco de um conflito
fisico real. Como resultado, nós, humanos, desenvolvemos a instituição
( "~o
",JI
( >'~
.I
( }
134
,.
Discllssões que fazem uso de docas como essas s:to as mais comuns
em nossa cultma e, por serem tno freqücntes cm nosso cotidiano, às vezes,
nno são percebidas. No entanto, em scgmenros impormmes e influentes
135
,r
de nossa cultura, tais ticicas são, pelo menos, cm princípio, objcto de
d esaprovação, porque são considcrad:l.s " irracionais c "d esleais", Os mun-
dos acadêmico, legal, diplomático, cclcsiistico c jornalístico pretendem
apresentar uma forma ideal, ou "mais elevada" de DISCUSSÃO RACIONAL,
na qual todas essas tálicas são pro ibidas. As únicas tácicas permitidas nessa
DISCUSSAO RACIONAL são, em princípio, o estabelecimento d e premissas,
a citação d e evidência que sustente as premissas e a geração de conclusões
lógicas. Mas, atê mesmo nos casos mais ideais, cm '1uc todas essas condi-
ções são asseguradas, DIscussAo RACIONAL ainda é compreendida e
d esenvolvida cm termos de GUERRA. Ainda há uma posição para ser
cstabclccidã ~u defendida; você pode vencer- ou perder; você tem um
oponente c uja posição você ataea e tenta destruir e cujo argumento você
tenta dertotar. Se você é bem sucedido, você o elimina.
136
,
(
(
(
li Illausivcl3SSumir que (jlllimida{lio)
Clar.uneme.
(
Obviame!lle, (
Seria n~o cienllfi co deixar de", «(/1l1caça) (
J)i zer isso seri a COI1lClcr n falficin de
(
Como [)esçarles IlIOSt rOu (apelo ii (lII(on'({a(/e)
(
Hume observou que, ...
(
Rodapé 11.374: cf.Verschlugeuheimer, 1954
(
Palea ao Ir.lbalho o nccessirio rigor para.. .. (ifUIIIIO) (
VanlOS denominar lal teoria Racio nal ismo "Estrcilo" (
Numa exibição de "objclividadc acadêm ica", ..
(
(
o Irabnlho lião lcva a uma teoria foonal. «(feprccillç<iO)
Os seus resultados 1150 podem ser llllan tifi cados. (
Poucas pessoas hoje apoiam essa vis.'\o com seriedade. (
(
Tememos sucumbir :lO erro das abord!\gens posilivistas, .. (duaJio à mi/mil/mie)
(
O Deha viorismo levou a ...
(
(.;) que eles sejam do tipo adequado de carvão. Nos dois casos, o material vai
sendo progressivamen te fOl/l l1mido à medida que serve ao fim específico.
(li>
•• Resumindo :
\.)
<.) Um recurso material ~ um /ipo de substância
<21 pode ser 1UOnliftClldo de malleim bastan1e precisa
( ~ pode ler um valor por unidade
<-'
<.il 138
,< ]1)
I II
Tome o simples C3S0 em qu~ você obtém um proclUlo a p:mir d~ um3
matéria-prima. Há n ~cess id ade de um3 cem quantid3de de mbalho. Em
geral, quanto mais tmbalho você realiza, mais você produz. Parti ndo da
premissa de que isso é verdadeiro - de (Iue o tmb3lho é proporcional :l
quanuebde de procluto - podemos atribuir valor ao lrnbalho em termos do
tempo exigido parn produzir uma unidade do procluto. Um bom modelo
ilustr.luvo é a linha de produção de uma indústria, em que a maléria-prima
enem numa extremidade, o trabalho é realizado em estágios progressivos, cuja
dur:tção é definida pela velocidade da linha em si, e o produto sai n3 OllWI
139
tendência é não perccbe-bs como metMorns. Mas, como mostr:un as
considerações apresentadas acima sobre sua fundamentação na experiên-
cia, ambas são mctMorns cstmturais básicas nas sociedades industriais
ocidentais.
1,1
(
(
(
significado que tem em sua vida, esconde q uestões relacionadas ao fato de o
\
trabalho ser (ou dever ser) algo pessoalmente significativo e fonte pessoal de
(
satisfação.
(
A quantificaçiio do trnbalho em lermos de tempo, somada ii visiio de
(
tempo como algo que serve a um objetivo espeófico, leva à noção de TEMPO
(
DE LAZER, que é paralela ao conceito de TE~{PO DE TRABALHO. Numa
(
sociedad e como a nossa em clue a inativiclade não tem uma finalida de definida,
(
desenvolveu-se uma indústria inteirn dedicada ao lazer. Como resultado,
(
TEillPQ DE LAZER transfo rmo u-se cm RECU RSO também - a ser gasto
(
produtivamente, usado sabiamente, economizado, administrado, desperdi-
(
çado, perdido elC. O _que é escondid o pela metáfora do RECURSO para
(
trabalho c tempo é a maneira como nossos conceitos d e :rRABAU-IO e TEMPO
(
afelam nosso conceito de lJ\ZER, tornando-o algo que seassemclha de for:1m
marcante a TRABALHO.
(
(
As metáfo ras d o RECU RSO para trabalho e tempo escondem lodo tipo
de concepções de trnbalho e de tempo que existem em nossa cultura e em
\
(
algumas sub-culturas de nossa própria sociedade: a idéia de que o trabalho
(
pode ser divertimento, de (Iue a in:tuvidade pode ser produtiva, de que muito
do que classificamos como TRABALHO não tem um objetivo claro ou u m
(
141 (
(
(li
( )
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I , ,~
(j)
IJ)
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14. CAUSAUDADE.- PA1,CLALMENJE
EMERGENIE E l'ARCLAlMENJE ME IAFÓRlCA
143
Manipul(lrão dinlrl: oprotótipo do (DI/ceito de ü/f(/(I!itl(lde
144
(
(
(
partilha aspectos do que devemos chama r de caso " prototípico" o u "para- (
digm âtico" de causalidade direla. Esses aspectos partilhados incluem : (
(
o ngel11 e tcm corno ot>jctil'o algum:1mudança no es tado do p3Cicnle. (
" mu dança de estado f fisjc~.
(
o agcntc tem Utll "plano" ~rJ iuingir o objet; vo.
(
O plan o e xige IIIIC o agente use um programa motor.
(
O ô\gcl11e tem colllrole do programa mOlor.
O agente ~ o pri nd pal respons5vel pela rea lização do plano.
(
O agente f n fo nte de energ ia (isto é. o ngellte está dirccionando sua energia para o paci en te), (
e o paciel11eé o alvo da energia (islof. a mudança no pacien te deve·se a uma foutc cxterna (
de cncrgi:,).
(
O ngcl11c toca o pacicnle o ll .oom IiCU corpo ou com um in st rumcnto (isto ~. há uma
(
sobreposição espaci al e Icmpor.ll entre o qllc o agente faz e a mlldança no paciente).
O agentc reali7A1 o plano de manciro bem su ccdida. (
A mudança no paciente f pcrccplÍvcl. (
O agente monitoro a mud:mça no paciente por meio dc pcrccpç;to sensori al. (
Há um único agc lltc espccffico e um unjro paciente espccffico.
(
(
Esse conjunto de propriedades caracteriza manipui:lções diretas
(
"proto típicas" que são, por excelência, exemplos da relação de causalidade.
(
Estamos usando a palavra "protodpica" no sentido em qlle Rosch a usa na
(
sua teoria de categorização humana (1977). Seus experiment.os mostram
(
cjue as pesso:ls categoriZ:l m ob;elOs, niío cm termos de conjuntos teóricos,
(
mas em termos de protótipos e de semclh:lnç:ls de f:lmíli:l. Por exemplo,
(
pecjuenas aves que cantam, como tordos e pard:lis, são aves prolotípjms.
(
Gali nh:ls, avestruzes c pingüins são aves, m:lS niío siío membros centrais
(
da categoria - eles não são aves prolodpicas. Mas são aves, :lpesar disso, (
pois retêm semelhança suficiente com o protótipo; isto é, eles panllh:lm
(
(
(
(
145
(
suficiente número de propriedades relevantes do protótipo que permitem
que as pessoas os classifiquem como aves.
q
( -I) As doze propriedades apresentadas acima caracterizam uma relação
I
diário, a ocorrência de dois ou mais agentes,
_ ._
uso involuntário
.
ou nio
( ~--- I----controlad;-do p~ogrnma motor etc. (Na causalidade fisica, o agente e o
-$ ,
( .~ paciente sio eventOs, uma lei física assume o lugar de um plano, do objetivo
( _~ e da atividade motora, e todos os aspectos peculiarmente humanos são
(J> descartados.) Quando a semelhança de família com o protótipo é insufi-
( ;~ em que não houvesse desejo, nem plano, nem COntrole por pa rte do agente,
( .," nós provavelmente não consideraríamos esse caso uma instância de causa-
(3)
causalidadc a cada novo dominio de atividade - por meio de intcnção,
plano, inferências ctc. O conceito é estável por'lue continu:ltllOS a funcionar
com sucesso fundamentando-nos nele. Dado um conceitO de causalidade
que emerge de nOSSa experiência, podemos aplicá-lo a conceitos metafóri-
cos. Em "l-1arry elevou nosso moral contando piadas", por exemplo, tcmos
uma instância de causalidade em que Harry realmente fez nosso mo ral ir
PARA CIMA, assim como na metáfora FELIZ É PARA CI/'o.1A.
147
de papel passa :l ser um avião de papel. Nós o categorizamos de maneira
diferente - ele tem forma e função diferentes. É cssencialrnente essa
característica que coloca afnbn'Ctlfão à parte de outros tipos de manipulação
direta. Até mesmo uma simples mudança de estado, como a mudança da
água cm gelo, pode ser vista como um exemplo de fobn'co{iio, uma vez que
o gelo tem forma c função diferentes da água. Daí, temos exemplos como:
Da água, você l>Ode fa zer gelo, (You ca n make ice QUI afwater: você Imde (irllr gelo
da :lgua.)
De uma folha de jomal. eu fiz um avi1lo. (I Illade a paper airplane Oul af a sheet Or
rlewspapcr. Eu lini um avião de papel de uma (olha de jornaL)
Da nr];ila. eu fi z uma esHllua. (11llade a SlalUe oul ofcLay: Eu lirei Ullla estátua da argi la.)
~ I _.
~ ~_._.
148
(
(
(
U ma outra maneira d e conceptualizarmos ii atividade d e fabricação
l
é pela elaboração d o conceitO d e manipulação di reta, usando ou tra metá- (
fOr:l : SUBSTÂNCIA E NTRA DENTRO DO OBJéTO. Daí:
l
(
Eu fiz uma folha de jornal ~Ira r um avião (l made a shcct Df [}Cwspa!lcf illlo 011 airplane:
(
Eu fil, Ulnl folha dcjomaltransformar-sc em avião.)
Eu fiz a argila que você me c.\eu ..imr uma estát ua (I made the ela)' you gave me imo a (
Sla!ll e: Eu fi ~. a arg ila que você me deu trall sformM-se em uma estátua.) (
(
Nesses casos, o objelo é visto como um recipiente para o material. A (
metMorn SUBST ÂNClA ENTItA DENrno DO OI3JEIO ocorre amplameme no (
conceito de FADltICAçAO. ConceplUalizamos um grande númCfO de mud:l.nç:l.s, (
tanto n:l.tur:Us qU:l.nto m:muf.'\turndas, cm tennos dessa metáfo ra. Po r exemplo: (
(
. _A :igua viro .. gelo. (I11e water lumed !nto ice:_~ !igua transformou-se em ge~.) _.. __ _
(
A laGarta virou borbole ta. ( 111e eatcrpillar tllmcd 11110 a bultcrf1y: A lagarta tmnsformou-se
em uma borboleta.) l
Ela está devagar \';mndo uma linda mulher. (She is s low ly changing inlo a beautiful (
wonmn: Ela estã vagarosament e tmnsfornwndo-sc cm urna linda mul her.) (
(
A m e táfora OBJETO SAI DA SUBSTÂNCIA é também lIsada em o utros
conceitos além do de FABRICAÇÃO, mas de maneira m\lito mais limitada. (
Ela se aplica, sobretudo, às mudanças ligadas à evolução: (
(
Mamlferos vieram dos rt pteis. (Mnmmals dcveloped 0111 ()freptiles: Mamíferos dcscn -
(
volveram_se dOJ n!pleiS.)
Nosso muni s islem a leg al snill do dire ilo comum ing lês. (Qurprescntlcgal SySlc lll cvolvcd (
0111 ofEnglish cornlllon law: Nosso aluaI ~Slellla legal eyol uiu do direito comum Inglês.) (
(
(
(
(
149
(
(
j
( y
,
( j
, Desse modo, as duas metáforas que usamos para elaborar m:uupu-
( ~) b çõcs di retas no conceito de PAI3RICAÇAO são usadas independentemente
U Essas duas metáforas para MUDANÇA, <jue são usadas como parte
(...$ do conceito de FABlUCAÇAO, emergem naturalmente da experiência do
() nascimento, '1ue c seguramente a experiência humana mais fundamental.
(3 No nascimento. um objeto (c bebê) sai de um recipiente (a mãe). Ao mesmo
( -
c' tempo, a substância da mãe (sua c:trne e sanbtUc) está no bebê (ohjcto
() recipiente). A experiência do nascimento (também o crescimento na agri-
(
J
1< cultura) fornece a fundamentação para o conceito gcr:u de CRlAçAO, que
( .:', tem como essência o conceito de FABRICAÇAo de um objeto fisico, mas
(
.'l:' que sc este.nde par:l. entidades abstratas também. Podemos obsc[V'ar como
,
..) a criação em geral está fu ndamentada em mCláfoms de nascimento:
( .,,~
(;5-- -- ... _--
Nossa naç!lo lIasUU dl! um desejo de li berdade. (Our nation was bom QuI ofa desire for
(~~ frcedam.)
( ~ Os escritos dele s30 produtos de sua imaginllÇ!Ioflnil. (lIis wri ti ngs ~re products or his
d
fmi/i! imagi nation.)
( ,~
Seu experi mento gi!rou inúmeras IlOvas teorias. (His e~perimen t spllowtt!/I a host or new
( ) lhI:ories: Seu experimento duoWlu inúmeras IlOVllS teori as.)
(21 S uas aç&:s voo DpenllS criar violência. ( Your actions will only brud violence: Suas lIÇões
,"
~
A teorin da relatividade vit. a /II~ tlo.lia pela primeira VC1; em 1905. mIe lhcory of rcl~tivily
first saw lhe /igllf oftlay in 1905.)
~.
,",
~
~ '50
)
"
li
A Ulliversidade de C hicago foi o berço da ~rn nuclear. ( Ille U niv~rsjty of Chicllgo was
the bi,.,hp!ace of the nl.lcJ~ar age.)
Edwanl Teller c! o poi da bomoo de hidrogênio. (Edward Tellcr is lhe/m},uo{ lhe hydrogell
bomb.)
Sua vocaçiio p3lll matemático vâo de sua paiJollo pela ordem. ( l1e became n mnlhemut icinn
0111 o/a passion for order.)
Rm/f"Q
151
proouúr um conceito amplo de CAUSALlDADE, que tem muitos casos
especiais. As meLíforas usadas são OBJETO SAJ DA sussrÂNclA, SU nSTÂN-
CIAENTRA NO OBJETO, CRIAÇAO I~NASCIl'ImNTO e CAUSALl DADE(quando
um evento é causado por um esmdo) É EMERGENCIA (de um event%bjem
a partir de um estado/recipiente).
Vimos também que a essência prototipica do conceito de CAUSAUDA·
DE, a saber, a MANWULAçAO DlRETA, não é um primitivo semântico
inanalisável, mas lima gesta!t consistindo em propriedades que naturalmente
ocorrem juntas na nossa experiência cotidiana com manipulações dirctas. O
conceito protoúpico MANIPULAÇÃO DIRETA é básico e primitivo em nossa
experiência, mas não no sentido exigido por uma teoria de "bloco constru-
tor". Em tais teodas, cada conceito ou é tun bloco construtor indecomponível
c inanalisável ou pode ser dividido cm blocos constmlores de uma única
maneira. Ao invés disso, a teoria que proporemos no próximo capirulo sugerc_
- - . -- - -- --- -- - -- - - -_. ~
152
,
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
15. A ESlRUIURAÇAO COERENIE
(
DA EXPERlliNCIA
(
(
(
(
AJ Gestalts t:>.peritnrims e as diJtmlJões da e>.periémia (
(
Discorremos ;'ImpIamente nos capítulos precedentes sobre os con- (
ceitos metafóricos como maneiras de cstmturar parcialmente uma expe- (
riência cm termos de outra. Para compreendermos cm detalhe o 'Iue cst:i (
envolvido na estl'Uturação metafórica, precisamos, cm primeiro lugar, ter (
uma idéia do que significa uma experiência, ou um conjunto de experiên- (
cias ser coerente por ter uma estrutura. Por exemplo, sugerimos que uma (
discussão é uma conversa que é parcialmente estrunlrada pdo conceito de (
GUERRA (daí, fornecendo-nos a metáfora D lscussAO É GUERRA). Supo- (
nha que você está tendo uma conversa c repentinamente percebe que ela
<-
se tornou uma discussão. Que aspecto de uma conversa a faz torna r-se uma (
discussão e qual é a relação dele com a guerra? Para percebermos a diferença (
(
(
"3
(
entre uma conversa e uma discussão, nós precisamos, em primeiro lugar,
perceber o que significa estar envolvido em uma conversa.
o tipo m ais básico de conve rsa envolve duas pessoas falando uma
(
'- .::~
( Até mesmo num caso tão simples como uma conversa palid:t entre
(]I duas pessoas, muitas dimensões de estrurura podem ser vist<ls:
(J
() Participanlu:. Os participantes pertencem a uma certa espéCle
() _______cnc'c'=u='oal, isto é, os ho meni . E les assumem o papel de falantes. A- - -
( Ir conversa é definida poc aquilo 'Iue os participantes fazem e os
() m esm os participantes desem penham um papel durante toda a
() conversa.
o Parltr, As partes consistem em uma certa espécie natural de
(~
( .
Seqiiência Linear. Os turnos de fala dos participantes são organizados
em uma seqüência linear, tendo como condição gera! a alternânci:J.
dos fahntes . Algumas sobreposições são permitidas e hâ lapsos em
que um falante não assume o seu turno e o outrO continua. Sem tais
condições de seqüenciação linear das partes, oblêm-se um monó-
togo ou um amontoado de palavr:J.s, não uma conversa.
CaNsalidade: Espera-se que o fim de um turno de fala resulte no
início do próximo turno.
Propósito: Conversas podem cumpnr um número qualquer de
propósitos, mas toda conversa úpica partilha o propósito de
manter uma inreração social polida de maneira razoavelmen tc
cooperativa.
155
!
desacreditada, ao mesmo tempo em que lenta manter sua pfÔpria posição. A
discussão é também uma conversa, embora o elemento de coopcr:lção polida
para manter a estnl\urn de conversa possa dcsv:mcccr·sc se ela se tomar acirrnda.
Você tcm Unia opinião que WlIsidera importante. (tu umll posifíÜJ)
O outro I»rtieip::uuc n30 oonoortla com você. (t/'r uma posição Iliferm/e)
(: impo rtante para vocês dois. o u pelo menos para um de vocês. Ijue o outro desism de sua
opinião (render-se) e aceite a do Olltro (,·i/ória). (dc é 5ell ad'·cr.fúrio)
A difCIaÇI dcopffiiõcs lorna-se um conflito de: opiniões.. (aJ/ifIiJo)
Você PC'\S,1 nn rncUIOI" maneira deconveocê-Io aaccitar seu pellJtode vista.. (p1l/llQde wratégia)
econsidera que evidência você poder:\ tr.t7.cr pal<1 reforçar ~\la qUC$tão, (jorçru m(lrcia~<)
CO llsidct:lndo o que você percebe como ft:lquC1..aS da posição do OUlro, \'ocê faz.
perguntas e colocn objeçOcs plnncjadas pnr~ forçá-lo a desistir e adorar a sua opinião_
(lIIaqlle)
Você tcnta trocar:'lS premiss:'lSda conversa dc nlancira que \'oc,; fiquc numa j)Osiç30 ma is
forte. (""l1/obra)
Rc:spOtKlcndo!ls pcrgunti'lS cobjcçõcs do outro. \'00.: Icnla Inmncr S\ll própriaopiniào, (defesll)
À mooid a que a discussão se desenvol\'c. h.1 necessidade de re\'i s~o par:! poder rnanlcr sua
visão gcr.J1.. (recuo)
156
,
(
(
(
Você pode Icv:ul1:l/" IK)\.:IS questões e objeções (COlllra-a/at{u/!) (
Oll você se cansa e dccidt: parar de (liscu lir (Irlgiiir) ou nCllhuul de vocés dois conseguc
(
convcncer o outro (impasse), ou um de vocês dcsislC (rendiçüo)
(
(
o que confere coerência a essa lista de coisas que transformam uma
(
conversa em discussão é que elas con cspondem a elementos do conceito dc
(
GUERRA. O que se adiciona do conceito de GUERRA ao concdto de
(
, CONVERSA pode ser visto cm ternlOS das mesmas seis dimensõcs de eSlnnurn
que Comecemos em nossa descrição da estrutura da conversa. (
(
Parlia"palltes: Os tipos de participantes siio pesso;ls ou gmpo de (
pessoas. Elas desempenham papel de adversários_
(
Pr/der. 1\s duas posições.
Planejamento de estratêgias (
Ataque (
Defesa-recuo (
Manobra
(
Conua-ata(IUe
(
lmpasse
Trégua (
Rendição/Vitória (
Es!dgios: Condições iniciais: Participantes têm dife rentes (
posições. Pelo menos um descja (
que o outro se renda. Cada par- (
ticipante assume {Iue pode de-
(
fender sua posição.
(
Início: Um adversário ataca
f\'leio: Combinações de defesa/de manobrai (
de recuai de contra-ataque (
Fim: Ou trégua, ou impasse ou rendição I vitória (
Estado final: paz, vitorioso domina O perdedor (
(
(
(
157
(
' ~
( ;,*
{~
S tqiiênna lintllr: Recuo depois de ataque
( )
"
D efesa depois de :lt:t'luc
( ~ Contra-ataque depois de ata(!uc
(3 Cmlla/id(lde: Ataque resulta em defesa, ou co ntra~ataqlle, ou
( -' recuo, ou rim.
(2) Prop6Jilo: Vitória
<3
(J Compreender lima conversa como lima discussão envolve ser capaz
( J1i de sobrepo r a multidimensional estrutura de parte do conceito de GUERRA
(]l à estnltlira correspondente de CONVERSA. Tais estrururas multidimensio-
( )1) nais caracteriz:un gula/II EXPERlENCIAIS, que são maneiras de organizar as
( c)!)
I experiências em blocO! U/n/furadOJ. Na metáfora DISCUSSÃO t GUERRA, a
()
(
( ~ "
y I gu/all da CONVERSA ê cstmturacla através de correspo ndências com ele-
mentos selecionados da gn/fllI da GUERRA. Dai, uma atividadc, a fala, é
" ~~ truturada_ em termos de outra atividade, luta usica. E struturnr nossa' - - -
...:;;,-
( experiência em termos de t:tis IplalU multiditnensionais é o que torna a
~
( nossa experiência coerente. Nós cxperienci:tffios uma conversa como uma
"
( ~ discussio quando a gulalt da GUERRA enc:lÍxa-se em nossas ações e
( 'l pe rcepções nessa conversa.
( >:'$ ~
Compreender tais gU1a11! multidimcnsionais e a correlação entre elas
'I)
( ;"
é a chave da compreensão da coerência na nossa experiência. Como vimos
( ]" :lcima,gpfaIIJ experienciais são blocos multidimensionais estruUJr.l.dos . Suas
( ,.
;,~~
-
Pnrlidpnllfes; Essa dimensão emerge do conceito doSER como um ata r
passível de ser distinto das ações 'lue realiza. Distinguimos lambêm
tipos de participantes (por Olcmplo, pessoas, anim:lis, objetos).
Parln : Experienciarnos a nós mesmos como tendo partes (braços,
pernas etc.) que podem ser controladas de form:l independente.
D o mesmo modo. cxperienciamos os objetos fisicos cm tc:rmos
de partes que eles Itm natur:llmenle, ou parles que impomos :l
eles, seja em virtude de nossas percepções, de nossas intenções
com eles, seja peJa utilidade que atribuímos a eles. D e maneira
semelhante, impomos a estmtura parte-todo a e ventos e ativida-
des. E , como no caso dos panicipantes, distinguimos tipOJ de
partes (por exemplo, tipos de objecos, tipos de atividades elc.)
EJ/ágior. Nossas fun ções motoras mais simples implicam que
_______c'=o=nc1c,,=çc' cffieO='=-o lugar onde nos encontramos e a RQsiç~2-na <lual.
est:lmos situados (condições iniciais); pam realizar completmnem e
lima tal função motora, é preciso que comecemos a nos movimentar
(mício), que realizemos a ação necessária (meio) e que nos detenha-
mos (fim), quando tivermos atingido o estado finaL
StqiiE" da L·ntar. Novamente, o controle de nossas funç ões mo-
to ras mais simples exige que as coloquemos na seqüência certa.
Objttiw. Desde o nascimento (e mesmo antes), temos necessidades
e descjos e percebemos muitO cedo que podemos realizar certas
ações (chorar, mover-nos, manipubr objetos) para satisfazê-los.
159
I,
o que l;gllifim /{1I1 tollrtilo (olTtJjJonder (I 1/11111 exptribJ(ia?
160
(
(
(
que é "importante" na experiência podemos categorizá-la, entendê-Ia c t
rccupcr:í-b /la memória. Se lhe disséssemos que tivemos uma disclIssão (
ontem, cstarí:lmos contando a verdade se nosso concei to de uma DISCUS- (
sAo, lendo a nós como participantes, corresponder a uma experiência que (
(
(
161
(
( ]
( ])
() T omemos. por exemplo, DlscussAo É LUTA. É uma subc:ttegorização ou
(
~ uma metáfora? A questão aqui é se lutar e discutir são o mesmo tipo de
(.:) acividadc. Não é uma questão simples. Lutar é uma tentativa de conseguir
( :$ domínio que normalmente envolve ferir, infligir dor, machucar etc. Mas
( .) existe tanto do r flsica quanto o que se denomina dor psicológica; há
(
(
".,, domínio fisico e domínio psicológico. Se seu conceito de: LUTA envolve
tanto dor e domfnio psicológicos quanto dor e domínio fisicos, entio você
~
~
( 1\
:;;, uma discussão seria um tipo de luta, estruturada sob a forma de conversa.
(
~ Se, por o utrO lado, você concebe LUTA como puramente fisica e se você
( .,~ considera do r psicológica apenas como dor no sentido metafórico, então
( v você pode considerar DISCUSSÃO É, LUTA como metáfora.
(
~ __. __ .____ ~_q~es tã.2 ?qui ê_.ql:!.c:.~ b cª-t ego rizaç~º e metáfora são extremos de ___ _
( "l- - um rontinulIIlJ. Uma relação do tipo A é fi (por exemplo, DISCussAo Ê LUTA)
( ,) será subcategorização clara se A e B são o mesmo tipo de coisa ou atividade,
( ],I e será metáfora clara se A e fi forem claramente coisas ou acividades de
( :;;. tipos diferentes. M3S quando não é muito claro se A e fi são (, mesmo tipo
( .) de coisa ou atividade, a relação A é B fica em algum ponto no meio do
(
x'~ rontimlllm.
,)
o que ê importante notar ê que a teoria esboçada no capítulo 14
(
".;;~
permite tanto casos não muitO claIOS quanto casos inequívocos. Os casos
,1\ não muito claros envolveria os mesmos tipos de estruturas (com as
( ,'1;\
mesmas dimensões e mesmas possíveis complexidades) dos casos inequí-
(
~ vocos. Num caso não muito claro da forma A ê 6, A e B serão ambosgu la/U
(
(
'",
""
..:;;,:,
que estruturam certos tipos de atividades (ou coisas) e a única questão será
se as atividades ou coisas estruturadas por essas gUla/1J são do mesmo tipo.
( J)
~~
( "
162
( '~;}
I:;;:'
~
Até agorl, carlctcri zamos coerência em termos deges/alls expeden.
ciais, que têm v:hi:ls dimensões que emergem dirct:l.menlt! d l experiênci:l..
Algumas lpla/II sâo relativamente simples (CONVERSA) c algumas são
extremlmenre elabor:J.dlS (GUERRA). Há também gesla/Is com plexas que
são est rutur~\das em termos de outrasgesltJ!lJ. São o <Iue estamos ch:lrn an~
163
(
(
(
(
(
(
\
(
(
\
(
(
(
16. COE R ~NCLA META F6JUCA (
(
I
(
(
(
A !ptíIOJ tiptciaú'zados de "n! (o1/«jlo
(
lOS
(
•.
<)
(3
l
( } real de forma disfarçada ou refinada. Essas restrições adicionais definem
(~ D ISCUSSÃO RACIONAL como um ramo especializado do conceito geral de
( :1:.1
.~ DISCUSSAO, Além do mais, o objetivo da discussão é restringido mais ainda
(~ no caso de DISCUSSÃO RACIONAL No caso ideal, o objcuvo de vencer a
( ,J.' discussão é visto a selViço do objetivo mais nobre, o entendimento.
(
()
" No caso específico de DISCUSSÃO RACIONAL, há uma especialização
:l mais. Como :lS regras do discurso escdto não permitem as formas de
(ll\ diâlogo inerentes às discussões com dois participantes, desenvolveu-se uma
c.) fonna especial com um participante único. Aqui o ato de faJar torna-se
(.& especificamente atO de escrever, e o autor dirige-se, não a adversários reais,
(~
mas a um grupo ele :lclversarios hipotéticos, ou a adversários rcais que não esmo
( .@ prcsentes para se defenderem, p:1ra contra-atacarem etc. O que ocorre aqui
(~
é o conceito especializado de DISCUSSAO RACIONAL UNILATERAL.
(i- ---.-----
( !!I
Finalmente, há a distinção emre a discussão como procUJo (discucir) -' -
. e a discussão como produ/o (o que foi escdto ou dito no decorrer da
(j)
discussão). Nesse caso, processo e produto são aspectos intimamente
(
J relacionados,do mesmo conceito geral, aspectos que podem ser evidencia-
(JJ
cios e que não existem separadamente. ~ssim, ao falarmos do estágio de
(1'
lIm:l discussão, referimo-nos indiferentemente:lO processo ou ao produto.
( ~:
( "~
W
""
,,::'' '
conquistar :lS facções neutras para si. Para tanto, devem-se antecipar as
possívc.is objeções, defesàs, ataque etc. e levá-Ias cm conta enquanto se
(
~
( :,) 166
( ,~~ I
( ~ '!
constrói a discussão. Já que tratamos de DISCUSSÃO RACIONAL, devemos
adora r todas essas medidas, não apenas para vencer, mas par atingIr o
objetivo mais nobre de entendimento.
167
Esses são aspectos da discussão racional unilateral não nccessarl:l.-
mente presentes cm uma discussão comum do dia-a-dia. O conceito de
CONvEnS/\ çÃo c a metáfo ra DISCUSSÃO Ê GUERRA não cnfocam certos
llspectOs, que são emeiais numa DISCUSSAO RACIONAL idealizada. Conse-
(llicntcmcntc, o conceitO DISCuSSAO ÉGUERRA é posteriormente definido
por meio de outras metâforas que nos possibjlitam focar esses aspectos
importantes: DISCUSSAO É UMA VIAGEM, DISCUSSAO É UM RECIPlENTE c
DISCUSSÃO É UMA CONSTRUcAo . Como veremos, cada uma dessas metá-
foras ajuda-nos a capt3r alguns dos aspectos do conceito DISCu:SSAO
RACION AL. Nenhuma dclas consegue dar-nos o cntCildimcllto completo,
consistente c abrangente de todos os aspectos de uma discuss~o racional,
mas, juntas, podem dar-nos a compreensão coerente do que eJa é. Consi-
deremos agora o probl,=ma de várias metáforas diferentes, cada lima delas
estrururando parcialmente um aspecto do conecito, proporcionarem juntas
lima compreensão coerente do conceito como um todo.
I
,
unica estrutura metafôrica, começando pcla metáfora D1scussAo É UMA
VIAGEM. Essa metáfora descreve o objetivo de uma discussão: o fato de
ela ter um início, seguir de formaline:lr e progredir em estágios em direçã9
~,
a um objetivo. Em seguida, apresentamos exemplos evidentes da metáfora:
DISCUSSÃO É UM A VIAGEM
I'ar/imos P.1r:l provar que morccg05 são 3VCS. I PropuscnlO-nos a provar que mOTCecos
550 aves.! (We IUl\"c sei QIU 10 prove lha! bals ;ue birds_)
168
(
(
(
QUI/Ilda c""gamra,. (10 /10/110 seguim.. , veremos que a fil osofia está 1ll00ta) (\V/leU wc gel (
lO rlrc IlU' pailll, wc !;Irall sec tllJt phitosoph)' is de;ld.) (
Ati l/qui, vimos que nenhuma das teorias ntua is fUllcionamJ (So faro wc've $CC1I tllJt no
(
eurretlt theorics will work.)
(
AI"IJllfarCmOS 1"1$.<0 " passo. f (Wc will pmeud iII a SI..p by s'''p fashioll.)
Nossa //leia é moslrar que os beija-flores são essenciais par:! a dcfes:l milit:JJJ (Qur Boal (
is to shaw that hummillgbirds are esscntinl tO militaI)' defense.) (
Esta observação iuJico o caminho paru uma'soluç30 elegante. I (l11;s obscrva1ion paillu (
lhe way lo an elcgmlt solution ,) (
CI/cgw,wI a uma COllCltrs.lo penurbadoraJ (Wc /wvc arrir,..d ai a dislurbing cOl1elusion.)
(
(
o que sabemos a respcim d e viagens é qlle VIAGENS DEFINEl--1 Ur.I
CAr.UNHO.
(
(
V IAGENS DERNEl'-1 UM CAM I NHO
(
_. Ele d/iSl'jOll-SC do éaminhoJ (1Ics,raycdfml1l tliC p:1tll.)-
Elepor/;lI em dircçiio umda.1 (\ic's gone offin Ilre IVrollg dir..c/iO/l.) (
Eles estão nOSstguiI1Jo./ [The)"refoJlow;rrg us.) (
Estou pudido} (1'111 1051,) (
(
Se juntarmos DIscussAo É UM.A VIAGEM e VIAGENS DEFINEM UM (
CMUNI-IO, terem os: (
(
DISCUSSÃO DEANE UM CAM INHO (
Elc desviorl-se da dircç(io da t1i scu$sl'Io I (I-I e slro)"cdfrO/" 11,1' I;",~ of argumcn1. (
Você acompanha minha :ugumentaçlo?1 (Do youfoJ/()W 111)' argument 1) (
(
Estou perdido. I ( I 'm los/.)
(
Você está cami,l/rml(lo tlll cfrculos.1 (You're gOÍlJg aroU/rd in circlc.s.)
(
(
(
(
169
(
( };9 ,
o.' . I
--~
(
E m3.Ís, os caminhos são concebidos como superfícies (lm:lginc um
( -.?J
tapete desenrolando-se à medida que você caminha, criando, assim, um
( ~
caminho atcis de você):
( }
( 11> CAM INHO DE UMA VIAGEM I'! UMA SUPERÁCIE
( 1í' Cobr;/JWS muito 1:h30. (Wc: co~ud ;t Iot of groortd.)
"I
s
Aqui temos um conjunto de casos que correspondem na medfora
3
DlscussAo É Ur.ú\ VIAGEM . O '1ue os torna sistemáticos é um par de
D
c, implicações m etafóricas baseadas em dois fatos a respeito de viagens.
.'
1)
Os ( aIOS sobre vi agens :
.9
"
VIAGEM DEFINE UM CAMINIIO
~
CAMINHO DE UMA VIAGEM ~ UMA SUr l!RF1clE
~
II ,
..•
~ ,•,
170
;li
~
~
As implicações memrÓriC3$:
DISCUSSÃO É UMA VIAGEM
y lAGEM DEFINE 11M CAM INHO
l'onanlo, DISCUSSÃO DEFINE UM CAMfNHO
DISCUSSÃO Ê UMA VIAGEM
CAMINHO DE liMA y lAGEM É UMA SUI'EREfclE
Ponamo. CAMINHO DE UMA DISCUSSÃO Ê UMA SUPERF1CIE
I_______~D_JS~U~SAO É U~~ VIAGEM é apenas uma das metáforas q~e exj:t: c'"'--__
para d<=screver uma discussão: nós a utilizamos para salientar o objetivo, a
direção ou a progressão de uma cljscussão. Quando 110S referimos ao
conteúdo da discussão, usamos a metáfof:l .estrururalmente complexa
DISCUSSAO É UM RECIPIENTE. Recipientcs podem ser entendidos como
definidores de um espaço limitado (com uma superficie limitada, com u~
centro e uma periferia) e como detentores de uma substância (que pode
variar quanto à quantidade e pode ter um núcleo localizado no centro).
Usamos a metáfora DlscussAo É Ur.I RECIPIENTE quando queremos
ilumina r qualCJuer um desses aspectos da discussão.
D ISCUSSÃO É UM RECWIENTE
SU3 arguffil:nlaç30 n30 te m 1f1llilOCOlZl túdo. (Your nrgument doesn't hnve much cOfllm l. )
Aquele arguffil:l1to lfilTtuJo. ( nUlI nrgurn.en t Iras holes in ir.)
171
I Voei não tcm mui/o argumento, m:JS as objeções dele têm mC'JQj" Jllruló,lôa ~il)(l3 . (Vou
don', have ","eh of ~n ~rgunl(;lll, bm his Objecliol1 s havc cvc n Ics$ subslnlJcc.)
SIm nrguUlen l~ç~o é "aÚa. (Your argumeOl is 1'(ICIIQII$.)
Estou c<lIls.1da de seus argumentos vazios. (['lO tircd or your cmp/y nrgumcnts.)
Você 11:10 cncommrcf [)(jl.lCla jd~ia "II argumenlaçiio dele. (YOIl woo'IJim/lh:u idea in his
arg lllnenl)
UsIQ conclusão t.Jtá fom de disçussào. I De onde você liroll e$S.1 oondus~o1 (Illal
172
[I
(
(
A justaposlçiio é possh'd porque as metáfo ras da VIAGEM c do (
RECIPIENTEcomparúlham implicações. Ambas permitem-nos disú ngui r a (
forma dn argumenmção de seu cont'cúdo. Na metáfora da VIAGEM, O (
caminho corresponde ii forma da argu mentação e o chão percorrido (
(
,
"
'1
)
DISCUSSÃ O É UMA VIAGEM
À med ida Que ayaoç:aUlQS em uma yi ai'cm, crinrnos mais su~
Pon~mo, ii med ida que ~v.ulçan>os em uma discusslo, cri:lIl1os mais supcrfkie ,
( PortanlO, à medida que desenvolvemos uma discuss.w, cri amos mais supcrfrcie,
"
("t,
Aqui as duas implicações metafóricas têm a mesma conclusão. Isso
-,-
('
( .>
pode ser esquematizado pdo diagrama segui nte:
(:I
( )
-""-- - - - -
(
r]
"
• •
Outras lmpIicaç6es Amedida que avançamos em uma OUtras implicações
7::
OJanto maior a superllóa criada,
maior eKlensaG lerá a discus:>ao
Quanto maior a superlIóe criada,
mais cooteUdo terâ a di5cussOO
174
do recipiente e a superfície percorrida de chão, ambas são superficies em
virt\lde das propried:ldes topológicas comuns. Porém a imagem de super 4
Podemos agora acotnpan har Q CtllllilrM do u m e de sua discuss~o. (We ca" follow lhe
pllllt of llre COTe of lnc argument.)
115
o come,i,lo d,:u(8",nenUlçoo cominua d3 scguimc fOflll3. (llIc COme/II of lhe 3rgumenl
procceds;tS follows)
A direçiio de sua discussJo não tem subsliim;i(l. (The (lirCClinn of hi s aQ;ulllcnl has no
sllbúlmcc.)
Estou penurbad31'clo caminha I'mio de sua argumentaç50. (I am disturbed by the l·UCIWIU
pmll of your argUlnenl)
176
(
(
• Uma implicação met:lfóric:t compartilhada (comum) pode criar (
uma correspondência metafórica cruzada. Por exemplo, a implica- (
ção compartilhada À MEDIDA QUE AVANÇAMOS NA DISCUSSAo, (
MAlS SUPERFÍCIE li CRIADA , estabelece a correspondência entre a (
quantidade de chão percorrido na discussão (que aparece na metá- (
fo ra da VIAGEM) e aquanridade de conteúdo da discussão (presente (
n:l metáfora do RECIPIENTE). (
• As diferentes estrutuf:lS metafóricas de um conceito servem a (
diferentes objctivos na medida em que se enfatizam diferentes (
aspectos do conceito. (
• Todas as vezes que ocorre a justaposição de objctivos, há também (
a justaposição de met,'Í.foras c conseqüentemente existe coerência (
entfe elas. As metáforas que permitem mistura encontram-se nessa (
justaposição. (
• Em gera!, é mro encontrar total consistência entre as metáforas; ao (
passo que a coerência é um fenômeno frcqüente. (
(
(
(
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177
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( ,~
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1--- - -·-- o aspecto mais importante que devemos ter em mente em nassas '-
discussões a respeito da coerência metafórica é o papel do objetivo da
metáfora. A estrururação m etafó rica de um conceito, digamos, a ela m elá-
fora da V1AGEM para discussão, permite-nos apreender um dos aspectos
desse co nceito. Dessa (orm:t. uma metáfora é bem sucedida, na medida em
que atinge seu objctivo, a saber, fi compreensão de um aspectO do conceito.
Quando duas metáforas conseguem satisfazer a do is objetivos diferentes,
as justaposições nos objetivos correspondem a justaposições naS metáfo-
ras. A firmamos que essas justaposiçõcs podem ser carnclcrizadas e m
tem10S de implicações metafóricas compartilhadas e de correspondências
que se csmbelecem enuc as metHoras .
179
(1) frcclüentcmente encontramos metáforas que estnlruram parcialmente
um único conceitO e (2) quando discutimos um conceito, usamos OUtros
conceitos que, em si, são enlendidos em termos metafóricos e levam a
justaposições rnet:lfÓricas posteriores. Podemos isol:lr os falOres que pro-
duzem t:lis complexidades, examinando de maneira mais aprofund:lda o
conceito de DISCUSSÃO.
180
(
(
(
No capítulo anterior, vimos (11Ie a mctáfom {I;, VIAGE.I\I, no mínimo, (
cnfOC:l o conteúdo c a progressão c que a mctáforn do RECIPIENTE cnroea, (
no mínimo, o conteúdo , c que há uma just~\posição basead a na acumui:lção (
progressiva de conteúdo. Porém as duas metáforas servem a mais de dois (
objctivos c cstiío envolvidas cm cocrênciõl5 ainda mais complexas. isso pode
(
ser const:ltado ao consid erarmos uma terceira mctáfo r:l p:lra discussões: (
(
Dlscusslio É UMA CONSTRUÇÃO
Temo$onrcaOOllçQ p.1ra u m~ Brgurnell!;lÇ50 sólida, (Wc"-c gnl lhe!mmew<;Irk fOI" a $olid
(
argullIcnt) (
Se você n;,o olict!I"/;Qr ~u a argumenl:lç:w com falos .ró/idos. ludo irá miro (lf you do n'! (
.JIlPfHJrt your argurnc nl with Jo/id facls.. lhe who le Ihing will colfa/lst:.) (
Ele está tentando {!scomr sua mgultlen taç~o com It\uhos falOS irrelevanlC$, mas ;linda eslá
(
tudol1iOfrtig" queliObcrítica ela dl!.lmoronará. ( Ue is ll)'i ng 10 butrrr:ss his argumenl wi th
(
a 101 of im:lcvant fac\!;, bul iI is sliIl so.s/tllkythat ii wiU easily ftlll nparT uOOcrcrilicism.)
-~ Com ti alicerct: que você fe7., você v"i poder constmir uma discII ss;;o' bemfinnr:. (Wilh (
lhe grOlllld ...ork yOIl've got, yO\l can cOIl.l/mc/ a prcUy sll"tJIIg nrgu mcnl.) (
(
Juntas, as metáforas da VIAGEM, do RECIPIENTE cda CONSTRUÇ/\O (
focalizam todos os aspectos do conceito dc DISCUSSÃO aCima, como (
veremos a seguIr: (
(
VIAGEM RECI I'IENTE CONSfRUÇÃO (
conteúdo cOlllcúdo co nte údo
(
progressão progressão progressão
(
cará!cr dirc!o cari\ter básico car.ilcr básico
obv icdade forç :t força (
d3lcza CSlnnum (
(
Seguem alguns exemplos de como entendemos cada um desses (
aspectos cm lermos de metâforas: (
(
(
181
(
( lo
"
( )
VIAGEM
(~
Arl aqui, n30 cv/)rinll)$ mui/o chi/b} Aoli aq"i, alio caminhamos "",;10. (progress~o.
(;!l con teúdo) (So far, wc havcn' t cm'~'ro mI/eh rroE/ml,)
( )} Es.!a discu$.Slio gim ~m c(.-culm. (carátcr di relo) (This is li ro"'rdaoouf argumelll.)
( j) Devemos ir mais adiante 11;110 para que possamos "ue/nrameme o que cstá envolvido.
( g (progressão. obvietladc) (Wc neal fO go iMO Ihi.r fimha in order tO see c/clrr/y what's
() invo[vcd.)
( ""':
REC IPIENTE
(
()
" Você tCIIl Iodas as idéias certas em sua argu mcntaçl'to, mas li argumenlaç30 ainda n30 é
IranspflrI!Cn/C, (conteúdo, procrcssllo. cbreza) (You ha ....: ali lhe right ideas in your
argumenl, 001lhe lIrgumenl is s/iII no! tromparenl.)
Estas idéias formam o /ilícito sólido da argumentação. (força. c:uiJer bi5ico) ( 1l1Cse ideas
forrn lhe solid corl! orlhe nrgumef1l.)
(~
() CONSTRUÇÃO
:ti Conseguimos um aliurce parti D. WJ;umen!:!ç~ , agora pn:ciS<l!llOS de III/I arcabol jço
( !I-- sd/ido. (car:\ler basico, rorçll, esu"ll.lrn) (We've gOI aforlndo/io'r ror lhe argument, now
we necd a solid [ranrewort.)
r)
Cons/ru[nrO!lIli agora a maior pane da argumnllação. (progress30, corueúdo) (Wc have
(ll now COlIstnlCled mosr oflhe argl/meU/.)
(1)
( !J
No capítulo anterior, vimos que tanto viagens como recipientes
(1' defi niam superUcies, a que dava base à justaposição cntre as met:íforas da
( 'S~
V1AGEM e do RECiPI ENTE. O fato de uma construção ter superUcie, isto
(31 é, alicerce e cabeml ra externa, possibilita a justaposição com a metMara da
(]i>
CONSTRUÇÃO. E m cada um dos caSOs, a IJIperjirie define o (on/elido, mas de
(~
formas diversas:
.§)
~
" VIAGEM: A superflcie defin it!1I Jldo cam inho dll discussão '"tobre och30. e o conlelll:lo
;;)
é o choo coberto pel a discussilo.
:~
~
",,,>
, \ 182
..•.
...
1
;.
""
RECIPIENTE: O conteúdo esl.:i dentro do recipiente, cujos limites se definem por sna
superfície.
CONSTRUÇÃO: A supcrflcie corresponde às paredes externas e 00 alicerce, que delinem
~ pane interna da conslruÇ~. Mas, na meÚfol"l!. da CONSTRUÇÃO, de fonna diversa. do
que acontece com II metáfora do RECIPIENTE. o conteíído noo tstá /lO interior. ao inv&,
o alicerce e as paredes extcrn.lS consrituem o conteúdo. Ú. O que notnrnos nos exemplos:
'·0 alicerce de sua argunlenb;i'lo nao tem ·eon~údo surlCiente para fundo.rnentar SlIas
afinnaç3es" e ''O arcabcKtço de sua argumentnç1io n~o tem substância suficiente pnrn
su portar críticas".
183
Tanto na met:i.fora da cONSn wçAO como na metáfora da VIAGEM, a
sllper6cie definidora de profundidade é a slIpcrficie do chão. Na metáfora do
,
HEClPIENTE, é, novamentç, a superficie
. do. recipiente.
definidora de do recipiente
profundidõldc
À medida (]ue emmmQ!i IIM;!i profulIllllmeme UQ ~SSUl\tQ. des<:obrimos ... (As wc: gQ ;11/0
lhe topic IIIQrt dt:ep/y. we find ... )
CheglllllO!! a 14"'/IOI)IQ em que devemos /!.lp/omros probIeJl~'IS em /J{"e/ lIJiJU profiuulQ, (Wc:
ha\'c: come IQ () Jloint wha-e wc muSI. uplore lhe issucs 31 a deeflCr ICl~l.)
184
(
(
(
Já que a maior parte da viagem é feita sobre a superficic da terra, é (
essa superfície que define a projimdid(lde dos tópicos a serem cobertos. Mas, (
quando entramos em profundidade em qU:llquer um dos tópicos, deixalllos (
atrás de nós uma trilha (uma superfície), da mesma fo rma que fazemos em (
( '~
, baseia-se no fato de que todas as três possuem superfícies definidoras de
contellClo. À medida que a discussão prossegue, mai s superfície é criada e,
( .~ portanto, a discussão ganha mais conteúdo. Essa justaposição entre as três
<]> estrulllras merafóricas do conceito produzem metáforas mistas do se-
() guinte tipo:
(~
() Att aqui COIlstruimos o nócleo de nossa discuss30. (Safa, we have cOrlSlnlcud lhe core
(] of our nrgurncn l)
()
.~
( '"ii
(
( 186
(
(
metáforas do RECIPIENTE e da CONSTRUÇJi.O misturam-se livremente em
virtude da correspondência.
Esses polUOS s:loccl/lrais cm nossa argumentação econslitucm o aliceret: para ludo oquc
vierem seg uida. (These points Dfcet:lllralloour argument mlll provide lhefoum/atiol! for
aU lh al is 10 come.)
Podemos mil/ar a argu!!lenl:IÇoo mostrando que seus pontos ctl/trois silo fracos. (Wc cnn
umltmrim: lhe argumenl by showing thallhe u /llra/ points in ii are wcak.)
As idé ias ma is impol1011tes sobre as quais todo O resto se apóia, estão no mie/tO da
argument:lçiio. (The mosl impol1am idea.s, up(m which cvcrything cise resu. are aI lhe
cort o flhe argument.)
187
viagem avança. Esse fato leva-nos à metáfora DISCUSSÃO I~ UMA VIAGEM.
Quando seguimos o curso de uma discussão, vemos mais - C, como
COMPREENDER É VER, emendemos mais. Isso explica expressões como
v-----.~
as s '1lI1lIes:
r
Ae~ban'lOS de "erquc TOnlás de AqullIO usou detennlllooas IIOÇÕCS plntômeas (We hal'c
'!l
J
4,k
'\-l
JUS! obse,."ed lha! Aqumns used ecrt.1m rlatOllie 001i005,)
Telldo chegado 1110 10ll&e. podemos :lgom vereomo lIegel errou (Ifm_lIIg come tlmiar,
we ean IIOW lU how Hegel wcn! wrong.)
Porque uma viagem pode ter um guia que nos aponta coisas de
interesse durante o percurso, temos expressões como as seguintes:
~gora "wslrore~,,~:~~ G~~ inte~rclou mal ns eonsi~e~ de. Kant sobr: .3 Yon~~e.
~ (We willllOw showthal Grce n misintcrprctcd Kanl's aceount of will,) .
" *bStn.t que X n30 prov/!m de Y sem que se acrescenlcm ;t$SullÇÕeS. (ObJtn'e que não
se pode concluir X de Y. se m re<:orrt;r a premissas suplementares. (No /ict Ihat X does no!
follow rmm Y wilhout adtIcd assumptions.)
~ ~ ~cnJOs que ,,(/Ourar quc nenhuma prova como CSS3 foi cnCQf1tl'3da até agOf:l. (Wc ought
/0 pO;1II ol/Ilhal 110 sueh li proofhas yCI bccn found.)
188
I
(
(
(
nos rc,rela mais, o que nos permite vcr mais, isto ê. comprecnder maiS, (
como nas e>.:pressões segtJrntcs: (
(
(Jergll/ll/! mnis no argumcmo delee vodlfescobriril muito. (Digfllr/her in/o his nrgu mcnt (
( ~~d yoo w il1 disco"u a great dca.l.) (
V" Poderemos VCf isso, apenas se 1II1'f8ullulnUOSJ~':assuntos profmll/mnem/!. (Wc cnll.fee
(
<l' l'
thi s only ir wc (lell'e deeply iII/O Ihc i5Sues.) ..........
(
ArgulI'I<!Iuaçõcs um profu1I(Jidatlt: s30 praticameme inúteis, nn medida em que n30 nos
11Il)$lrllm muito. (S/i(ll/ow argu1llcnlS are praclieally
vcry mlle h.) G '* worthles.~, si tlee lhey dOtl'1 slmw !ls
(
(
A metHora COMPREENDGR É VER justapõe-se também à metMorn (
ela CONSTRUÇÃO, em que o <IUC é visto ê a estrurnra (forma, configuração, (
contorno ~ tc.) da argumentação: (
( :~
( l~ 190
(:\)
( '::~
exemplo, a vasta rede de coerências baseadas na metáfora DISCUSSÃO É
GUERRA. Nesse caso, é possivel perder ou ganhar, atacar ou defender,
planejar e perseguir uma estratégia etc. Nesse caso, segundo a metáfora da
CONSTRUÇÃO, as discussões podem ser fo rtalezas, de onde atacamos
argumentos, de onde abrimos brechas para rompê-los e destruí·los. As
discussões podem ser também nússeis, segundo a metáfora do RECIPIEN-
TE. Colocamos o desafio ''1o[ande bala" c o argumento que vem como
resposta pode acertar na mosca e atingir o alvo. Na defesa, podemos temar
derrubar o argumento de nossos opositores.
Agora nos parece claro que os mesmos tipos de coerências encon-
tradas nos exemplos simples ocorrem também em casos bem mais com-
plexos, COmo os que acabamos de examinar. O que a princípio pode parecer
acaso, expressões metafóricas isoladas - COmo, por exemplo, {obn'r aqlleJu
1_ _ _ pontoJ,Jo/otor rOtlJrq[orltJ eRI dimlJlõtJ (nfol'(or), aJingjr o mirllo de uma discus·
são/argumentação, "Ia((lr tinia pO.Ji(ão e !JI('1'.tllbar f I/tido - revelam-se como
não aleatórias. Elas são realmente parte de sistemas metafóricos que,
tomados no conjunto, servem à complexa finalidad e de caracterizar o
conceito de d iscussão em todos os seus aspectos, da maneira como o
concebemos. Embora essas metáforas não nos levem a uma unica imagem
concreta e consistente, elas são, todavia, coerenles e encaixam-se quando
há imbricações, embora o inverso não seja verdadeiro. As metáforas são
originârias de nossas experiências concretas, nitidamente delineadas, e
permitem-nos construir conceitos al tamente abstr.ltos e elabo rados, como,
por exemplo, o da discussão.
191
--. ------- -----
. '
I
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(
(
18. ALGUMAS CONSEQÜÊNCIAS PARA
(
AS TEOIV/IS DA ESTR[fl1jllA CONCEPTUAL
(
(
(
Qualc[ucr tcoria :'Id cquada do sistema conceptual humano tcri d e
(
dar conta de como os conceitos são I) cmbasados, 2) estruturados,
(
3) relacionados uns com os outros c 4) definidos. Fornecemos, até aqui,
(
uma formn provisória de cmbasamcnto, estruturação e relações entre
(
conceitos (subc:'Itcgorização, implicações metafóricas, partes, participantes
(
el'c.) para os casos que consiclcrnmos típicos. Além disso, argumentamos
(
que o nosso sistem:l conceptual é, cm grand e p:utc, cstmturndo mc.:t!l furi -
(
camcntc c nós demonstramos rapidamellte o que isso significa. Antes de
(
ex plorar as implicaçõcs (llIe nossa visão tem parn a definição dos conceitos,
(
precisamos olha r as duas maiores estratégias CJUC os lingüistas e os 1ógicos
(
tem usado para lidar, sem (1Ua1(1uCr rcferencia à mellÍfora, com o (Iue
(
cham:tmos de conceitos melafóricos .
(
As duas estratégias são a (lbJlrtlfão e a ho1J1Ollí",Út. Para ver como elas (
diferem do que propusemos, con sidere a palavra CHora em "Ele escorou o (
(
(
"3
(
,
\: ~
(D muro" e " Ele escorou sua argumentação com mais fatos", D o nosso pomo
de vista, entendemos IHora em "Ele escorou sua argumentação" em
<~ t Cn11 0S
e gernl com qualquer contelldo poderia ser uma abstração para AI; ruRA,
FEUClDADE, CONrROLE, t.l.AIS, VIR"IUDE, FU11JRO, RAZÃO e NO RTE e ser
encaixado precisamente em todos eles? Além disso, pa receria que PARA CIMA
e PARA BAIXO não pudessem cst:u no mesmo nível de abstração, já que PARA
CIl'.,.1A se aplica ao FlJI1JRO, enquantO PARA BAIXO não se aplica ao PASSADO.
Explicamos esse fato por mdo da estruturação metafó rica parcial. A teoria
da abstmção deve postular que PARA Cl1'I1A deve ser mais abstraIO elo que
PARA BAIXO, e isso não parece fazer sentido.
195
termos neut.ros cobrindo ambos os domínios. Por exemplo, cm Ingtes,
temos a metáfora AlI'IOR É UMA VlAGEM , mas nilo temos a I11ctMora
VIAGENSSÀQAMOR. A visão da abstração negnria ([ue o amor é entendido
cm termos de viagens c seria obrigada a afirmar, de forma contr:íria à
intuição, que amor c viagens são entendidos cm termos de alg\!m conceito
abstrato nCUlro entre eles.
I
claramente delineados (e geralmente menos concretos) são p:lrcialmcnle
i
! 196
I
(
(
(
posto que não pode explic:tr a tendência pam entender o menos concreto (
(
em termos do mais concreto.
(
Em quimo lugar, pa ra a teoria da abstmçiio, não há nenhum conceito
(
metafórico c, por isso, não há razão para se esperar o tipo de sisternaticid:tde
(
(Iue nós cnCOnlramos. Assim, por exemplo, não há razão para esperar que
(
um sistema inteiro de conceitos alimentares se aplique:1 idéias ou que todo
(
um sistema de conceitos de construção s~ aplique à discussão. Não há razão
(
para esperar o tipo de consistência interna que encontram os em casos de
(
TEMPO I~OBJETO l-oIÓVEL. De uma maneira geral, a visão da abslração não
(
pode explicar fatos ligados à sistcmaticidade interna das metáforas.
(
A absuaçiio também falha na explicação da sisrcmaticidade externa. (
Nossa proposta dá conta da maneira pela (lua] várias metáforas para um (
único conceito (por exemplo, a da VIAGEM, a da CONSTRUçAO, a do (
RECIPIENTE e a da GUERRA) justapõem-se da forma como o fazem. Isso (
é baseado nos p ropósitos compartilhados c nas implicações companilhadas (
dos conceitos metafóricos. A forma pela qual conceitos individuais (t·ais (
como NÚCLEO, FUNDAÇAO, COBERTURA, A13A TER etc.) combinam~se uns (
com os Olmos é predizívcl com base nos propósitos e nas implicações (
companilhaebs no sistema metafórico com um ·Iodo. J:í (Iue a teoria da (
abstração não tem nenhum sistema metafórico, ela não pode expüc:lr (
po rque metáforas podem se combinar como o fazem. (
Em sexto lugar, já que a proposta da abstração não tem estrururação (
metafórica parcial, da não pode dar conta das extensões metafóricas que (
estão na parte não lIsada da metáfora, como cm "Sua teoria é construída (
(
(
197 (
!( Jí)
,j ( D com reboco barato" e muitas que caem parte nlo uS:lda da
~
OUtr:lS O:J.
l(
I
mctiiforn TEORIAssAo CONSTRUÇOES.
I( ::3
!..,
1( d Por úlcimo, a hipótese da abstração presume que, no caso de AMOR
I( ]l É UMA VIAGEM, por exemplo, há um conjunto de conceitos abstratos,
(
,-,
w
( -lD 198
( 3i
~
(
conceitos completameme diferentes, independentes e não relacionados - e
seria novamente acidenta! que a mesma pal:tvra estivesse sendo usada. Oe
acordo com essa visão, a Língua Inglesa (e como p<XIemos perceber, t:unbém,
a lingua Portuguesa) tem dezenas de conceitos distintos e não relacionados,
todos acidentalmente expressos peJa palavra "na". Em geral, a reoria da
homonímia forte não pode dar conta das relações que identificamos em
sistemas de conceitos metafóricos; quer dizer, ela vê como acidental todo
fenômeno que nós explicamos em termos sistemáticos.
Em primei ro lugar, a posiçi'ío da homonímia (ort:e niío pode dar cont:t
da sistematicidade interna das metáfo ras. Por exemplo, seria possível, de
:tcordo com essa visi'ío, :telmior que "Eu estou p:tra cima" significa "Eu
estou [eüz" numa situação em que, simultaneamente, "11inha moral subiu"
significaria "Eu fiquei triste". Essa posição ni'ío pode explicar por que todo
I___---'un)_~onjunto de palavras usado para guerra se aplica ele forma sistemática
ii. discussão ou por que um conjunto de termos alimentares se aplica de
forma sistemática a idéias.
Em segundo lug.tr, a teoria da homonímia forte apresen!:. os mesmos
problemas em casos de sistemaocidaele externa. Quer dizer, ela não dá conta
da sobreposição de metMoras e da possibilidade de combiná-las. Eb não
pode explica r, por exemplo, por que a "distância cobena" em uma discus-
são pode se referir a algo como "conteúdo" da discussão. Isso se aplica cm
geral para todos os exemplos de combinação que apresentamos.
199
A homonímia fraca
200
(
(
(
tendemos a estrutu rar os conceitos menos concretos e inerentemente mais (
vagos (como aqueles para expressar emoções) em termos de conceitos mai s (
concrctos, os (1\I;\is são m;\is d;\mmcnle ddine;\dos em nossa experiência. (
A posição d~1 hOIl1Otúmia fraca negaria que entendemos O abstrato (
(
em termos do concreto ou que entendemos conceitos de um tipo em termos
(
de conceitos de um outro tipo. Ela sustenta que s6 podemos perceber
(
similaridades entre vârios conceitos e que tais similaridades darão conta do
(
uso das mesmas palavras pa ra os conceitos. Eb negaria, por exem plo, que
(
o conceito de ESCORA, quando faz parte do conceito de DlSCUSSAO, é
(
entendido cm lermos do conceitO fisico de ESCORA assim como é usado
(
em CONSTRU ÇÃO. Ela simplesmente slIstent:'\tia que aqueles são dois
(
conceitos distintos e que nenhum deles é usado para enlender o Outro, mas
(
que apresentam uma relação de similaridade abstrata. Da mesf!:la forma, ela
-(
diria que todos os conceitos correspondentes a 1111 ou para ti/mI não são
(
meios de compreender parcialmente os conceitos em termos de orientação
(
espacial mas, ao invés disso, são conceilOS totalmente indepenclellles (
relacionados por similaridade. Nessa visão, seria um acidente que a maioria (
dos pares de conceitos (lue exibem "similaridades" consist:ul1 em um (
conceito relativamente conere[Q e um conceito relativamcnte abstento (
(corno no caso de ESCOltA). Na nossa concepção, o conceito concreto está (
sendo usado pa ra entender o conceito mais abstrnto; na visão deles, não (
haveria razão pa ra prever mais similaridades entre um conceito abstr:\lo c (
um concreto do que enlfe dois conceitos abstrat'Os ou dois conceit'Os (
concretos. (
: ( lt\ NALIDADE, MAIS etc.? Que similaridades (que não são em si mesmas
metafóricas) poderia haver entre uma MENTE e um OBJETOQUEBRADIÇO,
It, '" ou entre IDÊIAS e AUl'>ffiNTO? O que hã de não metafórico num fragmento
l( 11
;I "
de tempo tomado nele mesmo que possa lhe dar essa o rientação PARA
( :9 essa o rien taçii.o para frente/ par:a trás deve ser um:!. pro pried ade inerente de
(
...,
~
frngmentos do tempo, caso se queira explica r por uma similaridade con ~
.!y
de corre~pondências sistem:iticas em nossas experiEncias, por exemplo,
eStar numa posição dominante em uma luta e senti r~se fisicamente para
1) cima. Mas há uma diferença entre as correspondências em nossa experiên-
3
-
w
Ci:l e as similaridades, já que uma correspondência não é necessariamente
baseada em qualquer similaridade. Tais correspondências peunitem-nos
~ predizer o domínio de meráforas possíveis em oposição à concepção
~ homonímica frdea que não tem nenhum poder de previsão. Ela simpl es ~
]1 mente tenta proporcionar um rdato posterio r das similaridades já existen-
~ tes. Assim, nos casos em que as similaridades podem ser encontradas, a
~ posição da homonímia fraca não dá COOl.'!. de explicar a sua existência. Até
1) onde sabemos, ninSllém sustenta a posição da homonímia forte, de acordo
~ com a qual conceitos expressos pela mesma palavra (como os dois sentidos
~
@
~
"
., 202
r- I
de "escora" ou dos muitos sentidos de "na'), s1io independentes e n1io rêm
relações significativas. Aqueles que sustentam a posiç1io da hornonímia
tendem a identificar-se com a posição fraca, segundo a qual as interdepen-
dências e inter-relações {rue são obserndas entre conceitos são vistas como
simibridades baseadas na natureza inerente de um conceiro. Contudo, até
onde sabemos, ninguém forneceu o que seria o início de uma explicação
detalhada de uma teoria da similaridade que pudesse lidar com o amplo
leque de exemplos que discutimos. Embora virtualmente todos os teóricos
da homonimia ado tem :l versão fraca, l1a prática parece haver :Ipenas teorias
forte s da homonímia, poStO que ninguém tentou providenciar uma expli-
cação dctalhad:l da similaridade que seja necessária para mante r a versão
fraca. E há uma boa razão para que não tenha havido nenhuma tentativa
de fornecer tal pcoposta detalhada dos tipos de exemplos que temos
____~i s~utid o._~ _r.:t:~o é ct~ tal explicação_~igi ri a 9~tratasse do p.!'oblema
de como percebemos e compreendemos domínios da experiência que não
são tão bem definidos cm termos próprios e devem ser entendidos em
termos de outros domínios de nossa experiência . Em geral, fil óso fos e
lingilistas não têm se preocupado com tais quesrões.
203
i
i
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
19. DEHNlÇAO E COMPREENSAO (
(
l
(
Vimos gue a mctâfora pe rmeia nosso sistema conceptual no rmal. (
Pelo fato de tantos conceitos, que s:ío importantes para nós, serem o u (
abstralas ou não claram ente deli neados em nossa experiência (as emoções, (
as idéias, o tempo elc.) prccis:lmos apreendê-los por meio de Outros (
conceitos que entendemos cm termos mais cb ras (:lS o rientações espaciais,
os o bjctos etc.). Essa necessidade introduz a dcfiniçiio metafórica cm nosso (
sistema conceptual. Temamos, por m eio de exemplos, dar alg umas indica- (
falamos. (
~::>
sistem:hicas como A.t\-IOR É UMA VIAGEM, DISCUSSAO Ê GUERRA, TEfo,lPO
"
\ JJ 11 DINHEIRO erc. Por exemplo, se você procurar a palavra "amor" no
() dicionário, você encontrará entradas que mencionam afeição, carinho,
( paixão, e até desejo sexual, mas não há menção à forma como compreen-
5>
~
( ~i demos amor por meio de metáforas como AMOR É UMA VlAGEJ..i, M-IOR
É. LOUCU RA, AMOR É. GUERRA Ctc. Se tomarmos expressões !"ais como
U
( ;. "Olhe até onde chegamos" ali "Onde eStamos agora?", não haveria ma-
( ;-
estranho ver em um dicionário " Ioucurn" ou "via jando" como sentidos de
"amor". Eles não sio sentidos de "amor", assim como "comida" não é
sentido de "idéias" . As definições de um conceito não são dadas com a
ajuda de elementos que são inerentes ao conceito em si mesmo. Nós, ao
contrário, estamos interessados em saber como os humanos apreendem o
conceito - como eles o compreendem e como agem em função dele.
207
Uma questão fundamental coloca-se cnt:i.o: o que cansuru1 um
"domínio básico da ex.periência"? Cada um desses domínios ê um conjunto
no interior de nossa experiência, conccptualiz:\da pelo que chamamos de
uma gplall e.,~timci(/l T ais gula/I! são bá!Í{(1J txptrimaa/nltflft p orC!llC são
conjuntos estnlturados nas experiências humanas recorrentes. Elas reprc-
scnt:un organizações coerentes de nossas experiências cm termos de di-
mensõcs naturais (partes, etapas, causas etc.). Os domínios da experiência
organizados como gesla/ls cm lermos de tais dimensões naturais nos pare-
cem ser tipos "aturai! de t:>.ptriblna.
208
(
(
(
definidos cm seus própnos termos p:lfa s:ltisf:lzer :lOS p ropósitos de nosso
(
:lgir cotidi:lno.
(
Assim também sugerimos que os conceitos US:lOOS cm definições
(
mct:l fóri cas para dcflniroutros conceitos [:lmbém correspondem :lOS tipos
(
n:lturais de experiênci:l. Exemplos disso são ORIE.NTAÇi\O ESPACIAL,
(
OBJETOS,SU 13STÂNC[AS, vIsAo, VIAGENS, GUERR A,LOUCURi\, CO,","I[ DA, (
CONSTRUÇÃO etc. Esses conceitos que designam tipos n:..turais de expe- (
riencia e objetos são estrutur:!dos de forma s\diciemcmente elar:! e com o (
tipo :..cleq\l:..do de estrutura in terna para servi r à tarefa de definir outros (
con ceitos. Quer dizer, eles proporcionam:.. forma certa de estrutura q\le (
nos permite lidar com aqueles tipos naturais de experiência (\\1e são menos (
concretas ou menos cl:uamcntc definidas em seus próprios termos. (
O (\ue resulta disso é <Jue algumas espécies de experiência são (
-_ .. parcialmente metafóricas por natureza,·poslÕ que a l netâfora desempenha (
um papel essencial na caracterização da estrutura da experiência. A discus- (
são é um cxemplo evidente, jâ clue cxpcrienciar cert:1S atividades como falar (
c escutar cm termos de discussão exige parcialmente a estrutura dada ao (
conceito de DlSCUSSÀQ pclrt met:íforfl DI SCUSS ..\O (.: GUERRA. A experiên- (
cia do tcmpo é um tipo natural de cxperiência (\UC é entendida quasc (
De man eira simihr, todos os conceitos (por exemplo, CONTRO LE, STATUS, (
FELICIDADE) que são orientados PARA Clr-."lA / PARA BAIXO e OutfOS (
conceitos de csp:Jci:1!iz:!ção esti'io bascados em tipos naturais de expcrienda (
que sio parcialmente entendidos em termos metafó ricos. (
(
(
(
(
209 (
(
j
( )
Propni dfldes if/!emclo!l(/Ú
( ')
(j) Vimos que nosso sistema conceptual ê baseado em nossas experiên-
\ 'li cias no mundo. T anto os conceitos dirctamente emergentes (PARA CIMA /
o PARA BAIXO, ODJETO, e MANIPULAÇÃO DIRETA) como as met:'ifo ras
( '~
(como FELI Z É PA RA ClM/\, EVIlNT OS sAo OBj E1'05, DISCUSSÃO É GUER-
(,
( "J) RA) estão baseados na nossa constante intcroção com nosso meio fisico e
cultural. Assim rambem as dimensões em termos das quais estrutur.tmos
() nossa experiência (por exemplo, partes, etapas, propósitos) emergem na-
() turalmente da nossa atividade no mundo. O tipo de sistema conceptual que
(} possuímos é um produto da espécie de seres que somos e do modo como
() interagimos com nosso ambicnle fisica e culturnl
( }
(
, N ossa preocupação co m o modo como emendemos nossa experiência
levou-nos a uma visão de dtjilli(iio que é muito diferente da visão tradicional.
,
( :~ 9 ~!l..!~ de visu tr~icional busca s~Lobjetiy.o~. e pressupõe que experiên-
(~.r-
cias e objetos têm propriedades inerentes e qúe seres humanos os compreen-
lO , dem somente em termos dessas propriedades. A definição p:l.ra o objetivismo
() é uma questão de dizer quais são as propriedades inerentes, levando-se em
n COnta as condições necessárias e suficientes para a :lplicação do conceito. O
() "amor", n:l visão do o bjetivismo, tem vârios sentidos, cada um dos quais
( ~ ." pode ser defin ido em tennos de propriedades inerentes, tais como carinho,
( :. afeto, desejo sexual etc. Contra essa visão, poderiamos sustentar que com-
l>
( ) 210
( ~
( " li
Para termos uma idéia mais clara do que s~o as i,(opriedades intera-
cionais em geral, olhemos as propriedades imerncionais de um objetO.
Considere o conceito de ARMA. Você pode pensar que esse conceito poderia
ser caracterizado totalmentc em termos de propriedades inerentes ao objetO
em si mesmo, por exemplo, sua fonna, scu peso, o modo ~omo suas partes
se juntam etc. l"bs nosso conceito ê1e ARMA vai além disso, de uma forma
CJue pode ser constatada quando aplicamos diversos modificadores ao con-
ceito. Por exemplo, considere a diferença enue os modificadores PRETA e
FALSA quando :lplicados a ARMA. A diferença principal para a explicação
objetivista de definição t que uma I\R..\lA PRETA é uma ARMA enquanto uma
ARMA FALSA não é uma ARMA. PRETA acrescent:luma propriedade adicional
:l AfU..1A, enquanto FALSA, aplicada ao conceito de ARMA, conduz a um outro
conceito que não é uma subcategoria de ARMA. Isso é praticamente tudo o
que diz a visão objetivista, que possibilit:t as implic:lções seguintes:
o que tal visão não faz ê dizer o que i uma arma Elisa. Ela niio dá
conta de implicações como:
211
Para dar conta de urna liSla indefinidamente longa de implicações,
precisamos de um:! explicação dcralh:tda de como FALSA modifica o
conceito de ARl\V\. Uma arma falsa tem de se parecer mui to com uma arma
para o pro pósilO cm mente. Quer dizer, ela deve ter, contcxtllalmcntc. as
propriedades pcrccptuais :lpro priaclas a lima :uma. Você tem de ser capaz
de realiza r adequadamente as manipulações físicas q ue faria com uma aml:1
real (por exem plo, segurá-Ia de uma certa manei ra). Em outras pal:wr.ls,
uma arma falsa deve manter o que podemos charnardc pro priedades ligadas
às :n ividadc m otoras de uma arma. Ném di sso, o motivo de ter uma arma
fal sa é qlle ela servirá a alguns d os pro pósitos para os quais uma :uma real
pod eria servir (:l!llcaçar, ser exibida etc.). O que to rna falsa uma arma falsa
é (lue ela não pode funcionar como uma arm:'! re ~!. Se ela serve p:tr:l atirar
em você, ela é lima arma real, não é uma anna falsa. Por fim, a arm a falsa
não pode ter sido feita o riginalmente para fun cionar como uma arma: uma
arma quebrada o u inutilizada não é uma arma falsa.
FAl-'i A preserv a: I'ropried~dcs percepl u~i s (u ma nrma f~l sa se Imrcce com urna õ\ml a)
l'ro!lriedatlcs ligadas ls ~l i Y idadcs Inotoras (você pode manl.lscl· l~ como uma arma)
Propriedades intencionais (e ln .>erve 3 alguns propósitos de uma anna)
FALSA neg a: Propriedades ruocionais (u ma arma falsa n:lo serve para ~lirar)
HistÓria run cional ($C rO$Se rt ila para ser urna arma real. t lltão n ~o seria ralsa)
I
I'
E ssa explicação de como fALSA afeta o conceitO de AR/viA indica que
esse conceito tem, no mínimo, cinco dimensões, três das quais são preser~
vadas po r FALSA c duas das quais silo negad as. 15so sugere que conccpll1a-
li za mos uma arma e m termos de uma gulall multidime nsiOtl:l1 de
212
(
rr :;r~ '1
,.! (
riência no mundo. (
(
(
Caltgorizafiio
(
(
Na visão objetivista clássica, podemos compreender (c assim definir)
(
um objem tot':llmente cm lermos de um C01!}Imlo das suas propriedades
(
intrenltJ. Porém, como aC:lb:lnlOS de ver, pelo menos algum:l.s das proprie-
(
dades que caracterizam nosso conceilO de um objeto são intcracionais.
(
Além di sso, as propriedades não formam simplesmente um con j\1nlO, mas
(
umagesftJ/teslrtllurnd:l com dimensões que emergem naturnlmenteda nossa
(
experiência._
(
A explicação ob jetivista de definição também é inadccluada de um
(
O ULro modo parn explicar nossa compreensão de conceitos. Na visão do
(
objeuvismo, uma categoria é definida em termos de uma teoria dos
(
conjuntos: ela é caracterizada por um conjunto de propriedades inerentes
(
às enti(b dcs da categoria. Tudo no universo est'i ou dentro ou fora da
(
(
(
213
(
!
Cll
(»
<? categoria. O s objetos 'tue estão em uma categoria são aqueles que têm todas
( ) :15 propriedades inerentes requeridas. Qualquer objeto que não tenha uma
(}
(
, ou mais das propriedades inerentes fica fora da categoria.
Ii
( ')
( ,
"'
o 214
(i)
("""
c:l.deiras de b:l.lanço como por cadeiras de b:l.rbeiro. Aind:l. assim
as duas são cadeiras, porque cada uma, nas SU:l.S diferentes
formas, está suficientemente próxim a da protótipo.
3) As propriedades interncianais são proeminentes entre os tipos de
propriedades que entram na determinação de seme.lh:l.nças de
família. As cadeiras compartilham com os bancos e outros tipos
de assemos uma propriedade funcional, a de possibilitar que nos
sentemos. Porém a le'1ue de ATIVIDADES MOrORAS, permitido
por cadeiras, é fre'1üentemente diferente do de b:l.ncos e de out.ros
assentos. Assim as propriedades imeracionais relevantes para
nossa compreensão de cadeiras incluirão as propriedades percep*
tuais (a maneira como cl:ls se apresentam, o modo como :IS
215
ESTRITA!\tENTE Fi\lJ\NDO: Esta express30 designa os casos não
protolípicos que comumente pcrtcnccrn it categoria. Estrit:unen-
te falando, galinhas, :tvestnlzes c pingüins são pássaros mesmo
que eles não sejam pássaros por cxcelcncia. Tubarões, baiacus,
bagres, kinguios, não são peixes por excelência, maS são peixes,
estritamente falando.
I:
216
(
(
(
ções práticas de forma sensata, para fornecer novas pcrspeclivas e para (
interpretar fen ômenos ap:Hentemente díspares. (
(
(
5) As categorias são abertas. As definições metafóricas permitem-
(
nos lidar com os seres e as expeciências que já categorizamos ou
(
das podem tambêm nos leva r a uma recalegorização. Por exem-
(
plo, considerar AtliOR CO!"110 GUERRA pode nos permitir inter-
(
pretar cenas experiências vividas como experiências de AMOR de
(
um certo tipo ou de o utro, embora não possamos dar-lhes uma
(
interpretaç~o coerente. A metáfora AtI·rOR Ê GUERRA pode led.-
lo a categorizar certas experiências como experiências de AMOR \
(
que at'ê então você não recon hecia como tais. Os delimitadores
(
t:tmbêm rev.elam a narur~ ~~ a~c r~~~e r~:::as :~tego ~ias, ~:.r
(
dizer, um objclo pode ser visto como pertencendo a uma cale-
(
gocia ou não, dependendo dos nossos propósitos de classificação.
(
Embora as categorias sejam abertas, a categorização não é arbi-
(
trária, posto que tanto as metáforas como os delimitadores
(
definem (ou redefinem) as categorias de forma sistem:í.tica.
(
(
ReJ/lfllo (
(
Ex plicar a maneira como as pessoas compreendem suas experiências
(
exige uma concepção de definição muito diferente da visão tradicional.
(
Uma teoria experiencial de definição utiliza uma noção diferente do que
(
deve ser definido e do que permite definir. Em nossa p roposta, os conceilOs
(
individu:tis não s:io definidos de uma forma isolada, mas, ao contrário, eles
(
são definidos cm termos de seus papéis nos tipos natmais de expe riências.
(
(
(
2 17
(
( .~
( :~
~$'
. Os conceitos nião são definidos exclusivamente em termos de propriedades
~ inerentes; ao invés disso, eles são definjdos basicamente em termos de
( ... propriedades inre rncio n:Us. Finalmente, definir não é uma questão de
'~,
( j enunciar um conjunto fixo de condições suficientes e necc s s~ [i:ts para a
(~ aplicação de um conceito (embora isso possa sec possível em cerros casos
( ') especiais, tais co mo na ciência ou em ou traS disciptinas técnicas, e mesmo
(} aí isso não é sempre possível); ao invés disso, os concdtos são definidos
( ]:i por protótipos e por tipos de relações entre eles. Em lugar de serem
n rigid:uncnte defi nidos, o s conceitos que brotam de nossa experiência são
(]I abertos. As melMaras c os delimitadores são instrumentos sistemáticos I,ara
(] definir me.Ulor um conceito e para modific:U' seu âmbito de aplicabilid ade.
(
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(
20. COMO A METAFORA PODE
DARSENrIDOA FORMA
219
cria ligações diretas e au tomáticas entre forma c conteúdo, com base em
met:ífoms gerais de nosso sistema conceptlml. E ssas ~ gações tornam a
relação entre forma e conteüdo nada arbitrária e parte do sentido da frase
pode vincubr-se exclusivameme:1 forma que ela passa a ter. Assim, como
. afirma Dwight Bolinger (1977), as paráfrases absolutamente exalas são
impossíveis, porque essas pretensas paráfrases são expressas de formas
diferentes. Podemos agora propor a seguinte explicação:
220
(
(
(
nada, não sabemos ~e ela é universal. Esperamos, entretanto, que algumas
(
espacializações metafóricas da üngua ocorram em todos os idiomas e,
(
mesmo que os detalhes sejam diferentes, n:io seda surpreendente encontrar
(
essas correlações de quantidade.
(
Um exemplo inglcs de Mi\IS fORI\11\ É MI\IS CONTEÚDO t a iteração: (
Ele correu e correu e correu e corre u. (
(
Que i~dica mais corrida do que simplesmente
(
Elecorrcu. (
(
De foona similar,
(
Ele é muito muito muito ~ho.
(
indica <jue ele é mais alto do que (
(
Ele é muito ~Ito.
(
o alongamentO de uma vogal pode ter o mesmo efei to. Dizer (
(
(
indica que o referente é maior do que se dissermos apenas:
(
Ele 6 gmndc! (
(
Muitos idiomas, em todo o mundo, recorrem ao recurso morfológico
(
da ndllplira(iio, isto é, da repetição de uma ou duas sílabas da pala\'ra, ou de
(
toda a pabv ra. Pelo que sabemos, todos 05 casos de reduplicação, nos
(
diferentes idiomas cio mundo, são exemplos em que j\lA IS FOIU\iA indica
(
MAIS CONTEÚDO. Os recursos mais comuns são:
(
A reduplicaç30 ~pl iead.l.l subst~lIlivo no si ngular Ir3nsfonn ... ·$C e m plural ou coJetivo. (
(
(
(
(
.,
(1l
(il
'"
( ,>
O!
;\ redup l icaç~o ap licada n verbo indica conti nu idade ou completu de.
A reduplicação ap licada a adj clivo indica imensificação ou aumento.
A reduplicaç~o aplicada ii uma palavra que signifiq ue !lC<lucno indica diminuição.
()
('} A generalização ocorre da seguinte fo rma :
n Um substant ivo refere-se a um objelo de determi nado ti po.
(-, Mais desse substanti vo significa mais objetos desse tipo.
() Um verbo rerere-se a um a aç~o.
Mai s desse verbo significa mais ação (ta lvez até a su a conclusão).
( -~
.'
Um adjetivo representa uma propriedade.
( )
( }J
, Mais desse adjet ivo significa lllais dessa propriedade.
Uma palavra designa algo pequeno.
.
( -'l!
Mais dessa palavra signifi cA algo 1f!.Cllor.
(;
(li - Mtlior proximir/ade, Jnaior efeito
(1\
- --- ----- - _ ..- - --- -- - . _ - - ---- - - --------_.--
n Um exemplo muito mais sutil da maneira pela qual a metáfora dá
() sentido à forma ocorre em lnglês Ce possivelmente em outras línguas
(j i também, embora eShldos detalhados não tenham sido realizados). O I nglês
n ,:! tem uma metáfonl convencional:
() I,t QUANTO MAIOR ~ A PROXfMIDADE, MAIOR É O ErElTO
c1
() 1'1 Assim a frase
;1
()
Ir Quais silo os home ns mais prdrimQf a Khomein ?
o I~ I significa
(".'
(:I>
iiil~ Quais 51\0 os homens que v;ercem maior infl" ência sobre Khomeini?
I'
<l 'I' ~
Nesse caso, a metáfora tem efeito puramente semânlÍco, vincula-se
<» l
( ~." j ao significado da palavra "próximo". Entretanto, iI metáfora pude também te
()\
() 222
(1l
II
(\'
ap/irar à jorma s;,llâhm tlt lIIJ/a frou, isso porque, entre outns coisas, a sintaxe
de uma frase indica O grnu de PROXIMIDADE entre duas expressões. Nesse
caso, A PROXIMIDADE é uma proxim iebde de jornm.
~~~~~---"
H!i!:i . um~rcgra. em i nglês, chamada algumas_vezes ,ltJ/o((1l!1e!1Jo tia
fuga(lio, cujo papel é deslocar a negação siruada nonnalmente ao hdo cio
predicado que eh logicamente nega; por exemplo:
Aqui logicamente o flão nega mais o partir do que o ad)(1r. Essa frnse
tem qU:lSC o mesmo significado que
223
Karl Zimmcr (cm comunicação pessoal) observou que o mesmo
princípio governa diferenças do tipo:
Harry is unhapp)'.
(Harry esH\ inreli7~)
particula lião. A negativa tem efeito mais forte cm }-/rmy tJlá infeliz do que cm
Ht1I7)' lião eslá filiZ. JliftliZ s:gnifica lIú:e, enqu:lOlO I/ão feliZ ê aberta ii interpre-
tação por ser neutra - nem infeliz. nem triste, m:'lS entre as duas interpretações.
Esse é um fato típico da diferença entrc negativas c prefixos negativos, tanto
cm Inglês corno cm Olllras línguas.
A mesma metáfora pode ser obscrvaeb cm funcionamento nos
seguintes exemplos:
I
,i,. A segunda frase indica que achei que a cadeira era confortável por
tXpen"élldl/ tlinta - sentei-me nela. A pruneira frase deixa aberta a possibili-
224
(
(
(
(\:Ide de ter d escoberto indireltllJltllle _ di.f:,r.Jmos, posso ter perguntado a (
alguém o u ter feito uma pesquisa de opinião. Na segu nda frase, a forma Eu (
está MAIS PRÓXJMA das formas rarltim c conjorl{iveL A sintaxe da fra se indica (
o c;rátcrdireto da experiência com a cadeira; experiência pela qual dcscobr.i (
que a c:\dcira era confonavel. Quanto /"o.l.AlS PRÓXJt"dA a rorma Eu estiver (
d as formas ({[(!tira c COlljottât'Cl, mais di reta será a experiência indicada. Aqui (
a si ntaxe tem o efeito d e indicar o car:'iter direto da experiência c a (
PRO XIMlDAD E. indica a FORÇA daquele EFEIT O. E sse fenô meno c m l nglês (
(
O efeilo qlle a sill/(lxc Ir!ll nessas fra ses é mostra r quão direto é o vínculo (
causal entre o (Iue Sam fez e o que acomeceu a J-I arry. O p ci ncípio fu nciona (
da seguinte forma: (
(
(
(
(
225
(
(í~
"
(
Qu~nlO MAIS I'RÓXIMA estiver a forma que indica D RELAÇÃO DE CAUSALI-
(jj
DADE ~b forrn~ qu e ind ica o EFEITO, MAIS FO RTE será o vlnc"lo c~us!l.L
()
o "
Em Sa", fhalou l-/any, há uma fo rma única - a palavra mnlar - que
"
'.",,-
( '~) cos, como na frase "Quem são os homens mais próximos de Khomeini?".
ou pode unir afomlt1 ao sentido, uma vez que PROX1MI DADE pode indicar
( ';: uma relação entre duasfonIJas numa fra se. As sutis nuanças de sen tido que
I observamos nos exemplos dados acima siio conseqüência niio de regras
\1l ,I especiais do J nglês, mas de urna metáfora de nosso sistema conceptual que
\J ,[
() se aplica narnralmenre àfomltl da üngua.
<'"
()
("'1>
( 't)
~ 226
(~
I
A Oáenlo(fio "til pá!lltiro"
vemos mais AQUI do que LA, e AGORA mais do que ENTÃO (naquele
1_ __ ---'t~RO). EsseJato determina o que COOpC[ e Ross chamam de orientação - --
EU PRIMEIRO: PARA CIMA, PARA FRENTE, ATIVO, 13m.." AQU I c AGORA
são todos orlent:1dos para a pessoa canônica; PARA BAJXO, PARA TRÁS,
PASSIVO, MAU, LÁ e ENTÃO são orientações distantes da pessoa ca nônica.
i
227
o princípio gemi é o seguinte: A palavra cuja significaç:io se aproxima
mais das propriedades da pessoa protoúpica é colocada, em geral, em
primeiro lugar.
228
\ ,
(
(
(
Cotfillaa "'eftifón'ca lia gramá/ic(J (
(
Um lnstrumenlo É um Companheiro (
(
As crianças, ao brincarem, costumam transformar seus bringucdos (
em companheiros, conversam com elcs, costumam colod-los juntO ao (
travessei ro â noite etc. As bonecas parecem feitas para isso. Essc compor- (
tamento tambêm ocorre com adullOs, que tratam cenas instrumentos (
significativos, como carros ou revólveres, como companheiros, d:io nomes (
a eles, conversam com eles. Da mesma maneira, em nosso sistema concep- (
tual há a metáfora conceptual INST RUMENTO Ê. Ul">1 COt\IPANHEIRQ que se (
reOete nos seguintes exemplos: (
(
IN!ITRU},1ENTO É UM COMPAN HEIRO
(
Eu e meu velho Chevy já vi mos muilo do pnfs junlos.
f': Quem vai me rn7.er paror?
(
R: Eu e:l. velha Betsy aqu i (disse o v3C\ueiro procumndo por- seu 1'e'·Ólver). (
Oomenico vai sair cm um lour com seu inestimável Sttadivarius sem preço. (
Slcero, o M~giCQ. e sua Gai ta MtigicJ, est ar~o se apresenlando hoje ii noile no RiJllo. (
(
cJ em Pormguês, não é por acaso que (om também indique INSTRUMENTA LI-
() DADE, como em:
('3)
() Eu rmiei o salame com urna faea. (INSTRUMENTO)
( '"]I
() A razão pela qual esse fenômeno não é arbitrário é que nosso sistema
( -) conceptual está estruturado pela metáfora INSTRUMENTO É. UM cm,lPA-
( "~ NHElRO. É um fato sisltmátiro, e não aciden tal, que, no Português e no
( ~ Inglês, a mesma palavra indique COM PA.t'\JHIA e INSTRUMENTAUDADE.
(~ Isso é um fato gmmarical (olrtrlle com nosso sistema conceptual.
(1) o princípio seguinte não diz respeito somente ao Português ou ao
() Inglês, mas, com algumas poucas exceções, aplica-se a todas as linguas do.
( -.,__ II ______ ·m_und9~;_ _ _ _ _ __
CJ
( j A plllavrtl ou recurso grtlmalienl que indica COMPANHIA indica tnmbém lNSTRU-
( ,,
-,
MENTALIDADE.
()
Uma vez que as experiências, com base na met.ífora INSTRUMENTO
(1
n. ,"
É. UM COMPANHEIRO, sejam provavelmente universflis, é nanual que esse
princípio grflmatical exista na maioria das ünguas. Aquelas nas quais se
( .~
') aplica o princípio são coerentes com a metáfo1'll; :tquclas nas quais ele não
se aplica não são coerentes com a metáfora. Em lingufls em que não se
encontra coerência com INSTRUMENTO É UM CO/'.fPANHEIRO, é comum
encontr:u-se outra coerência conceptual em seu lugar. Assim, há línguas
em que se indica INSTRUMENTO por meio do verbo Iflar 0\1 .em que se
}
I. \
A "lógica" de IIRlfi língl/fi
231
ci:tis (como comprimento) c relações (como proximidade) . Entretanto, as
metMoras espaciais inerentes ii nosso sistema conceptual (como PROXIMI-
DADE ' n~1 EI--"EITO DE r-ORÇ,\) iria, :lUtomatÍC:llncntc, estruturar relações
entre forma c con teúdo. Na medida em que alguns aspectOS do semido de
lima frase são conseqüências de certas convenções rebtivamcntc arbitr:trias
da língua, outros aspectos do sentido surgem cm vi rtude de tentarmos
tornar o que dizemos coerente com nosso sislcnl:l conceptual. Isso inclui
a fol7l/(/ daq uilo <!ue dizemos, já que a fonn:l é conccptualizada cm termos
espaCiais.
Aquilo ninda está IIQ ar. (I"IIal'S still!lp i'l lhe air.)
Gostnria de /eVlmrar nl gum3s pcrgUn13S 3 respeito disso. (I'd li ~e /O mise SOIlIC questions
nooul lhal.)
232
(
(
Isso ruselllll a questão} 1$50 cs/abdccc a questão. (11m t JcI/les the questi on.)
(
(O as:sunto) está IIQ llr I",ra ser pego. (h' s SliII up for grabs.)
(
VanlQs ICl'lIIlIá·/o (o a S~lI l1to) para di sç uS&lo. (Lct' s brillg ir up ror di sçuss ion.)
(
(
E a razão do verbo levaI/lar ser usado em lev(Jll/(Jr IIII/(J objertio (reJpoJlrI)
(
ê porque conceptualizamos a resposta como se ela começasse de baixo C
(
terminasse onde estamos, em cima.
(
Perguntas ind!c:ltl1 basic:lmcntco desconhecido. O uso da ento nação (
para cima nas perguntas ê, po rtamo, cocreme com DESCONHECIDO I~ (
PARA CIMA. O uso da ent onação para b:lixo , nas afirm:lções, é, po rtanto , (
coerente com CON HECIDO ÊPA ltA BAIXO. Na realidade, as pergun las co m (
entonação para baixo não são compreendidas como perguntas verdadeir:ls, (
mas como perguntas retóricas que indicam ifirmações. Por exemplo, (
__ "Você vai aprender um dia?" dito com entonação parti baixo ê uma fonna (
de dizer-se indiretamentc "Você jamais vai aprender". Da mesma forma, (
as afirmações com entonação para cima indicam incerteza ou inabilidade (
para fazer com que algo tenha sentido. Por exemplo, "Seu nome é Fred", (
dito com intonaç.1o para cima, in<\jca que não temos certeza e precisamos (
da con firmaç ão. "O Brasil perdeu a Copa de 2002 " indica incredulidade (
o u perplexidade, isto ê, não cond iz com o que sabemos. Esses são exemplos (
do uso da entonação para cima e para baixo coerentes com a metMora (.
DESCO NHECIDO É PARA CI MA, CONHECIDO É PARA BAIXO. (
Conseqüentemente, as pergumas wh-, em Inglês (QUEM, Q U/\ NDO, (
ONDE, DE QUEM, cm Po rtuguês, têm ellto nação descendente, por exem- r
plo, "\XIho didJohn see yesterclay?" ("Quem o João viuontem?'j. Achamos (
que isso se explica porque conh ecemos qua se todo o conteúdo da resposta (
e apenas uma única parte da informação não é conhecida. Por exemplo, (
(
(
(
233
(
,
, .,
() "Quem o João viu ontem?" pressupõe que o João viu alguém ontem. Como
( ~
é de se espemr, as línguas tonais geralmente não usam a COlOn:l.ç5.o para
( -'
--- fazer perguntas, normalmcme elas usam parúcubs interrogativas. Em geral,
n quando a cntonação assinala a diferença entre perguntas e aürmações, a
(1} emanação p:U:l cima acompanha perguntas sobre o desconhecido (sim-
(
não) e a emanação para baixo, perguntas sobre o conhecido (afirmações).
( "-'~
" Esses exemplos indicam que esse tipo de regularidade da forma
( .
lingüística não pode ser explicado apenas em termos formais. Muitas dessas
()
regularidades fazem sentido apenas quando interpretadas como aplicação
( ')
de metáforas ?t nossa conceptualização espacial da forma lingliística. Em
()
()
n
~...,
()
()
,)
,)
')
234
-.
21. O SE.NT7DO NOVO
235
sugerir que as metáforas novas dão sentido a nossa experiência da mesma
m anei ra que as metáforas convencionais o fnem: elas propiciam estmturas
coerentes, ilum inando algum as coisas c ocultando outras.
li ,
j ,
,
essa m etáfora:
I o amor é trnbalho.
I o amor é ali vo.
o amor exige cooperação.
'I
~ O :unof CJlige dedicaç30.
o amor exige compromiS50.
O IImor exige disci pl ina.
O alllo r envolve responsabilidade p;irtilhada,
me outros. Por exemplo, o lado ativo do amor é trazido para primeiro plano (
pela noção de trabalho, tanto cm TR ABALHO COLABORATIVO como em (
OBRA DE ARTE. Isso exige o rnascaramento de certos aspectos do :uno r, (
d \
() 238
<'
('
'! I
Em quartO lugar, as metáforas podem, assim, ser apro priadas po rque
s:lnciona m açõcs, juslificam inferências e ajudam-nos a estabelecer meras.
Por exemplo, cercas :tções, inferênci:ts e metas são ditae!:t s pe!:t medrara
I\MOR É UfI.'lA OBRA OH A RTE. COLA BORATIVA, mas nio peh m etá fora
AMOR É LOUCURA. Se o amor é lo ucura, nio me concentro no que tenho
de fazer para mantê-lo. Po rém se é trabalho, então de exige :l.Iividade e, se
é uma obra de :trte, requer um tipo muito especial de atividade e, se é
colabo rativa, então ela é ainda mais restrita e específiGa.
Em quinto lugm, o sentido que lima metMora te r.í para mim será, em
parte, determinado por fatores culmrais e, em parte, ligado :is minhas
experiências passadas. As-diferenças culturais podem ser enormes porque,
na metáfora acim:t discutida, cada um dos conceitos - ARTE, TRABALHO,
COLABORAÇÃO c AMOR-, pode variar amplamente de cultura para cultura.
Assim, M10R É UMA OBRA DE ARTE COLABORATIVA significaria coisas
muito diferentes para um ro~ântico europe u do século dezeno ve e para
um esquimó da Groelândia da mesma época. Have rá também diferenças,
em uma mesma cultura, baseadas nas diferentes visões dos indivíduos sobre
trabalho e :l.rte. AMOR ~ UMA OORA DE ARTE COlABORATIVA sigoificar.í
algo muito diferente para um adolesceme de quatorLe anos, em seu
primeiro encontro, e para um casal de artistas maduros.
239
o amor é um objclO a sc:r oolocado cm e~posiçlio.
O nmor c~iSI': para ser julgado c ndmirndo pelos outros.
O mno.. cri;!. um3 iluslio.
O amor c~ige que se esconda 3 ,·crdade.
I , 240
(
(
(
se precipil.'lf. E ii 'lUC você não rcm controle total sobre o (Iue compõe a
(
solução, você está sempre encon trando problemas novos C antigos preci-
(
pitando-se c problemas al uais dissolvendo-se cm parte por causa de seus
(
esforços c cm parte :l despeito de qualquer coisa que você faça .
(
A medfa ra QUíM ICA di-nos um" nova perspectiva dos problemas (
humanos. Eb c:lpropriada para a experiência de descobrirmos que proble- (
mas que achávamos estar "solucionados" estão sempre de volta. A metá- (
fora QUíMICA diz que os problemas não são o tipo de coisa fcita pa ra (
desaparecer p:lra sempre. É inútil trnt:Í-los como coisas CJuc podem ser (
"solucionadas" de uma vez por todas. Viver cm funçã o da metáfora (
QUíMICA seria aceitar o fato de que nenhum problema dcsaparccc"rá p:l.ra (
semp re. Ao in vés de direcionar suas energias no sentido de solucionar seus (
problemas de uma vez por todas, você d irecionaria suas energias em busca (
. - - - de um cat:l.lisador que pudesse dissolver seus problemas mais urgentes, pelo (
maio r tempo possível, sem precipitar outros pio res. O reaparecimento ele (
um problema é visto como u ma ocorrência natural e não como uma falha (
de sua parte em encontrar "a maneira cena de solucioná-lo". (
Viver em função da metáfora QUir-.UCA significaria que seus proble- (
mas rêm um tipo de realidade diferente para você. A solu ção tempo r:\ria (
seria um feito e não um frCltasso. Os problemas fariam pane da ordem (
natural das coisas, não desordens a serem "sanadas". A fo rma de você (
entender 5\1:1 vida cotidi:l.na c scu modo dc agir seria difercnlc se você (
vivesse em função da mctáfora QUíMICA. (
(,) é uma outra espécie de acividadc metafórica. !-loje, a maioria de nós lida
(]) CABEÇAS caracteriza nossa realidade presente. Uma mudança para a rncní-
fora QUíM1CA c:lf:lctcrizaria uma realidade nova.
( -, Mas de modo algum é tarefa fácil mudar as metáforas em função das
"
c.' ~ quais vivemos. Uma coisa é e star consciente das possibilidades inerentes à
(J metMora QUiM1CA, Outra, muito diferente e mais difícil, é viver em função
( -:;:; deb, Cada um de nós, consciente ou inconscientemente, já identifico u
"
(J) centenas de problemas e estrunos cm constante trabalho para solucionar muitos
( ,~-'-'-- deles via-; ·~etá-fo~- QUEBRA-CABEÇA. Nossa vida cotidiana é inconsciente-
() mente estnlnlrnda cm tconos da metáfora do QUEBRA-CABECA e não seria
242
~
.,]1
mudanças culturais surge da introdução de novos conceitos met:tfóricos e
da perda de antigos. Por exemplo, a ocidentalizaç~o de culturas em lodo o
mundo ocorre em parte pela inrroduçião da metáforn TEM.PO t DINHEIRO
nessas diversas culturas.
243
Cada cultura deve pro pici:u uma fo rma mais ou menos bem sucedida
ele lidar com o seu ambiente, tanto adaptando-se a ele como o transfor-
mando. E mais, cada cultura deve definir uma realidade social na quru as
pessoas lenham papéis <Juc faç;un sentido para das c cm te rmos dos quais
possam agir soci:llmcntc. Não seria surpreendente que a realidade social
definida por uma cultura afclassc sua co ncepção de realidade fisica. O que
é rcal pa ra um indivíduo co mo membro de uma cultura é produto ramo de
sua realidade sodal, como da m:lOcirn como ela mo lda a sua experiência do
mundo fisico.Já que a maior parle de nossa realidade social é entendida cm
term os metafó ricos e já que nossa co ncepção de mundo fisico é, em parte,
metafórica, a metáfora desempenha um papel muito significativo na dete[-
minação d o que é real para nós.
I
244
(
(
(
(
(
(
(
(
(
\
(
(
(
22. A CRLAÇAQ DA SIMILARIDADE
(
(
(
(
Vimos que muitas de nOS Sa s experiências c :u..i vidad es são metafó ricas
(
por natllrCZ:1. c que muito de nosso sistema conceptual ê cstmtur-ado pela
(
metáfora. Como vemos simil:uíd:tdcs cm lermos das categorias de nosso
(
sistema conceptual c cm termos dos tipos naturais de experiências que
(
lemos (ambos podendo ser metafóricos), conclui-se que muitas das simi-
(
laridades que percebemos são resultado de metáforas convencionais que
\
são parte ,de nosso sistema conceptual. J:í: o bservamos isso no caso das
(
1II! ltÍforas onmMcifmaiJ. Por exempl o , as orientações I'II A I$ É PARA CIMA c
(
FELIZ Ê PARA CIMA induzem uma similaridade que percebemos entre MAIS
(
c FELIZ e que não vemos entre MENOS c FELIZ.
(
As meláfoms ofllológi({JJ também produzem simibridadcs possíveis. (
Vimos, porexemplo,'1ue a visão de TEMPO eTRABALHO co mo Sllbstâncias (
uniformes, metaforicamente, permite-nos perceber ambos como sendo (
similares a recursos físicos e assim similares entre si. Sendo assim, as (
(
245 (
( }l
( 1~
-'
( ,1 metMoras TEMPO É UMA SUBSTÂNCIA e TRABALHO Ê UMA SUBSTÂNCIA
( .:i') permitem-nos conceber tempo e trabalho como similares em nossa cultura,
C) pois ambos podem ser quantificados, a ambos pode-se atribuir um valor
(
T" por unidade, podem servir a um fim determinado e podem ser consumidos
( ) progressivamente. Como essas metáforas exercem um pape! na definição
n do que é rcal pafa nós na nossa cultura, a similaridade entre tempo e trabalho
( ":~~ é ramo baseada na metMora quanto é real em nossa cultura.
( '~~
Ai metáfora! n /mIl/mil de nosso sistema conceptual também criam
( j,l
similaridades. Desse modo, a metáfora IDÉIAS sAo Al.JlI4ENTO estabelece
(
( '"
])
similaridades entre idéias c aJimcf!-tO. Ambos podem ser digeridos, engo~dos,
devorados e re-aquecidos e ambos podem nutrir você. Essas similaridades nfio
c'D
( 1), existem independentemente da metáfora. O conceito de engolir comida é
independente da metáfora, porém o conceito de engolir idéias surge
(})
( ')
-i __ ._ someme em virtude da metáfora. Na verdade, a metáfora IDÉIAS SAO _ __
.,- I ALIMENTO está bas,eada em metáforas ainda mais básicas. Por exemplo,
( ~
está fundamentada parcialmente na metáfora do CANAL de acordo com a .
( ])
qual IDÉIAS sAo OBJETOS que vem a nós do exterior. Ela também presume
(J\ a metáfora MENTE É UM RECIPIENTE q\le estabelece uma similaridade enlre
(} a mente e o corpo - ambos sendo RECIPIENTES. Juntamente com a
( ".~~- ,
metáfora do CANAL, temos uma metHora complexa na qual IDÉIAS sAo
( ")
OBJETOS QUE ENTRAM NA MENTE, tal como pedaços de alimento são
( 'D objetos que entram no corpo. É nessa similaridade criada metaforicamente
( '~l
eõtre idéias e alimento que a metáfora IDÉIAS sAo ALIMENTOS é parcial-
", ,
( .
mente baseada. E, como vimos, essa própria similaridade é uma conseqüên-
( }1
cia da medfor:t do CANAL e da metáfora MENTE É UM RECIPIENTE.
"}\
( J
~
A metáfora IDÉIAS SAOALlMENTO é apropriada à nossa experiência
( {i
por causa dessa. similaridade que é metaforicamente induzida. A metáfora
( J~
( ~!l
( '. ,~'1
246
~
~
(
IDÉIAS sAO ALIMENTO é, ponamo, p:trcialmente fundamentada n:!.s me-
dforas MENTE É UM RECIPIENTE e do CANAL. Como um:!. conseqüência
da metáfora rDÉIAS SÃO AUMENTO, obtêm-St: novas simihridadcs- (meta-
fóricas) entre idéias e alimento: ambos podem ser engolidos, digeridos e
devorados, e ambos podem nutrir você. Esses conceitos sobre alimento
fornecem- nos um modo de entender os processos psicológicos para os
quais nilo temos meios diferos nem bem definidos de concepl\lalização.
247
outros c ainda esconde OllUOS. Em particular, ela :Hcnua aquelas experiên-
cias (Iue se njust:nll à metáfora Al\IOR É UMA FORÇA Fis ICA. Po r "atenuar',
entendemos 'luc ê consisteme com certas experiências amorosas, mas não
focaliza experiências de amor que poderiam ser razoavelmente descritas
por " H á um magnetism o cnuc nós". ''Nós sentimos faíscas" etc. Além
disso, esconde :!.{Iudas experiências :lmorosas que se encaixam na metáfora
1\lI.1QR I~ GUERRA, pa reluc não há sobreposição consistente entre as duas
metáforas. Os aspectos colabomtivo c coopcmtivo da metáfora AMOR É
,- UMA OBRA DE ARTE COLADOIV\TIVA são inconsistentes com Cc portanto
248
(
(
(
,n
d)
(
tuindo um todo coerente.
250
industrial como a fl ossa, há uma correhção entre a quantidade de
tempo <Iue uma tarefa tom:t .e a quantidade ele trabalho para
completar a carefa. Essa correlação é parte do que nos permite
ver TEMPO e TRABALHO metaforicamente como IU;;:(UHSOS c
assim perceber uma similaridade entre eles. É import:lnre lembr:tr
que correlações não são silllilarid:tdes. )\s metáforas que são
b:lseadas em co.rrelações em nossa experiência definem conceitos
em termos dos quais p ercebem(>s similaridades.
2. As metáforas convencionais de tipo estrutural (por exemplo,
IDÉIAS sAo AU r.iliNTO) podem ser baseadas em similaridades
(Iue se originam de metâ[oras orient:lcionais e ontológic:ls. Como
vimos, por exemplo, IDÉlAS SAO AUMENTO é baseada em
IDÉIAS sAo OBJIrrO (oncológica) e ME.i'\lTE É UM RECIPICN11:;
__ ._____ .___ (~.tológ~c.a e ~ri;.I2!~c i o~~I).:... A similaridade estrut1!r~ e ~ __ .
IDÉIAS e ALIMENTO é induzida peb metáfora e faz surgir simi-
laridades met;tfóricas (idéias e alimento podem ser engolidos,
digeridos e devorados, podem propiciar nutrição etc.).
3. As metáfor.ts novas são principalmente estmturais. Elas podem
criar similaridades do m esmo modo que as met:lforas estruturai s
convencionais que são estruturais. Isto ê, elas podem ser b:lseadas
em similaridades que emergem de met:lforas oriem:lcion:lis e
oncológicas. Como vimos, PROBLEMAS sAo PRECIPITADOS Et-.·I
UMA SOLUçAO QUíMICA b:tsei:t-se fi:l metáfor:l. física PROBLE-
MAS sAo OBJETOS SÓLIDOS. Essa metáfora cri:t similaridades
entre PROBL..EJ-.iAS e PRECIPITADOS, pois :tmbos podem ser
identificados e analisados e pode-se atuar sobre: eles. A metfi(or:l.
PROBLEMAS sAO PRECIPITADOS cria novas similaridades, a sa-
251
l~
ber, problemas podem parecer resolvidos (dissolver-se em solu-
"
ções) e mais tarde reaparecer (precipitar-se).
4. As metáforas nOVaS, em virtude de SuaS implicações, sclecionam
um domínio de experiênci:ls, iluminando-as, atcnu:mdo-as c
escondendo-as. A mctáfOr;l car:lcteriza uma similaridade entre
um domínio inteiro das experiências iluminadas e alguns Outros
, domínios de experiências. Por exemplo, MIOR É UMA OI3Rl\ DE
I
AR'm COLADORATIVA scleciona um certo domínio de nossas
"
experiências amorosas e define uma similaridade eshllltlml entre o
domínio inteiro de experiênci:ls illlminadas c Odomúlio de experiên-
cias envolvidas cm produzir obras de arte colaborativas. Pode haver
similaridades isobcbs entre experiências amorosas e artísticas que
sejam independentes,da metáfor;l, porém da pennite-nos encontr:lr
- - coerência nessas similaridades isoladas em lCrinasdas similaridades-
estruturais globais induzidas pela metáfora.
5. As similaridades podem ser similaridades em reb,ção a uma
metáfora. Como vimos, a medfora AMOR É UMA OBRA DE ARTE
I COLADORATI VA define um h'po único de simib ridade. Por exem-
·1 plo, uma experiência amorosa frustrante pode ser entendida
como similar a uma experiência anística frustrante, niio simples-
mente por ser frustrante, mas por envolver o tipo de frustração
pecuti:lr fi produçii~ de obras de arre cobborativas.
tiea d a forma "A ê como B, nos aspectos X,Y,Z ... ". "Os aspectos (
isoi:lclas". (
(
3. Uma metMora po<le. portanto, somente descrever similaridades
(
preexistentes. Ela não pode c ri~ ·[as.
(
(
Embora tenhamos apresentado evidências contta. uma boa parte da
(
teoria da compar:lção, accit:lrnos o que consideramos sua tese básica, ou
(
seja, que as metáforas podem ser baseadas cm similaridades isoladas.
-(
Discordamos da teoria da com paração mantendo que:
(
(
1. A metáfora é primordialmente uma gucstão de pensamento e (
ação e somente secundariamente uma questão de linguagem. (
2. o. As metáforas po<lem ser baseadas em similaridades, apesar de, (
cm muitos casos. essas simii:lridades serem elas mesmas baseadas (
em metáforas convencionais que não são baseadas cm similari· (
dades. Essas similaridades baseadas em metáforas convencionais (
são. entretanto, !lOis elll nossa {fIIIllra. pois as metá foras convencia· (
nais definem parállrnente o que emendemos por real. (
b. Embo ra a metáfora possa ser baseada parcialmente cm simila· (
ridades isolada s, consideramos similaridades importantes aquelas (
criadas pela metáfora. conforme descrevemos acima. (
(
(
(
253
(
,"
(~
(11 3. A função primeira da metáfora é dar uma compreensão parcial
(l} de um tipo de experiência em termos de um outro tipo de
(
(1)
" ,;) experiência. Isso pode envolver similariebdes preexistentes iso-
ladas, a criação de novas similaridades e assim po r diante.
( )
(' É importante ter em mente que a teoria da compar:l.ção mUltO
<}; freqüentemente caminha lado a bdo com uma filosofia objecivista, na qual
() todas as similaridades são objeciv:l.s, isto é, elas são inerentes ils próprias
r:;,
( y entidades. Argumentamos, ao contcirio, que as únicas similaridades rele-
vantes para a metáfora são as slim'/llddadu ~xperienciad(JJ pelflJ jHHoaS. A
d iferença entre similaridades obj(livas e similan"dmltJ txptriendaiJ ê essencial e
será discutida em detalhes no capítulo 27. Resumindo,).Im objetivista diria
( ~~ .. que os ohjetos têm as propried:ldes que têm independentemente de quem
( ; :l!...c:.xpe.!i~ciei..9s obje!Quão oij!!.illf!.,,!!llle !.i!!!i&!.fP. .se e,eL~O,mp::v:Jilh~ _ _
d essas propriedades. Par:t um objetivist:l, não faria sentido falar em metiifo-
(~ r:lS como "madoraJ de JimilaridndeJ', pois isso exigiria que as metáforas
()I fo ssem capazes de mudar a n:ltureza do mundo exterior, dando existênci:!
d a similaridades objetivas que não existiam previamente.
(J)
Concordamos com os objetivistas num ponto importante: que as
(' ) . coisas no mundo realmente exercem uma função de impor restrições ao
( "'~
nosso sistema conceptual. Mas elas exercem esse papel JOf»Ulle nlrmiJ de
(~ 1I0JJIl experibma (Of» elm. Nossas experiências (1) irfio diferi r de cultura para
(~
cultu ra e (2) podem depender de nossa comprecnsfio de um tipo de
() experiência em terfI10s de outr,o, isto é, nossas experiências podem ser
metafóricas por n:H\lfeza. T ais experiências determinam as categorias de
nosso sistema conceptual. E propriedades e similaridades, nós insistimos,
existem e podem ser experienciadas somente em relação a um sistema
,,
( '}~
254
(~ .
.)'
conceptual. Assim, o {mico ripo de similaridades relevantes às metáfora s
são as similaridades exptdmtil1is, não oljetil/l1!.
Nossa posição geral é que as metMoras conceptuais são [undameJl-
tad:ls em corre/{I(õu dentro de nossa expe riência. Essas correlações experien-
ciais podem ser de dois tipos: fO-OCOmnnl1 expen"tllnll/ e ú",i/an"dl1de
expuienn"al. Um exemplo de co-ocorrência experiencial poderia ser a
metáfora IvIAIS É PARA CIMA, guc é fundamentada na co-ocorrência de
dois tipos de experiências: adicionar mais substância e ver o seu nível
sub ir. Agui não h:i qualquer similaridade experiencial. Um exemplo de
similaridade experiencial é VIDA É UM JOGO DE AZAR, em que alguém
experiencia ações vividas como jogos de apostas e as possíveis conse-
qüências dessas ações são percebidas como ganhar ou perder. Aqui fi
255
I
I-
,
j
,
li
,
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
23. METAFORA, VEfU)ADE E AÇAO
(
(
(
(
No capítulo anterio r, aprescnramos :IS segu intes hipóteses:
(
(
As rnceMorru; cêm implicações fili e iluminam c d~o çocrência o delcnninados aspccl05 de
(
1I0SS,1 C.lCrcriêncin.
Talvc>:. um.1 determinada mel~r0f3 sc:ja a IÍni<.:a forma de iluminar e de orgaui/.ar COI..'feu- (
temente esses aspectos de IlOssa e;r;periência. (
As metáforns podem criarrcalidadcs parn nós, cspecialmcntcrc;JJid[l[lcssociais. Uma rnel.'if()(;l (
pode :lSSim sef um guia 1).'Ir.I açõcs futuras. Essas:lÇÕC$. f. daro, irão adequar-se à metáfora.
(
Is,o;o, por ~lIa vez, n:fon;IIl1\ o Jx:xlcrda InclMora de tOnlar a e..;pcriênda çocrel1lC. Nes.<;e sentido,
(
as metáforas podem 5Ct profeci'lS aulo-suficicntcs.
(
n "';"
DE. ENERG IA SUAVE. usa suprimentos energéticos flexíveis, renováveis, sem
( J:,l necessidade de defesa militar ou controle geopotitico, não destruidores do
(]) ambien te e requerem apenas baixo investimemo decapitai, baixa tecnologia
(]I e mão-de-obra não qualificada. I ncluem energia solar, eólica e hidroelétrica,
259
estr.ltegicamerlt'e empregadas, forçasse as naçõcs da OPEP a COrtarem pela
metade o preço do peuó!co, então você diria que ele realmente venceu \lllla
bat:llba imponante. Mas, se suas estratégias tivessem apenas produzido um
congelamento lcmpor:írio de preços, você não estaria tão seguro e podcria
cstar cético.
260
,
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
24. A VERDADE
(
(
(
(
(
Por que a preoCllpnção (0111 f/!lf(1 teoria dfllltrdade? (
(
As metáforas, como vimos, são conceptuais por natu reza. Elas são (
um dos nossos principais veícu los para a compreensão. Desempenham um (
papel ccntr:ll na constmção da realidade social C política. Na Filosofia, (
contudo, são vistas normalmente como "questões apenas de linguagem" c (
as discussões filo só ficas sobre a metMoGl não lr.ltam da sua natureza (
conceptual, nem da sua contribuição para fi compreensão ou da sua função (
na realidade cultur:l1. Pelo cOlllrário, os filósofos tendem fi compreender :ls (
metáforas como expressões imaginativas fom do comum ou como expres- (
sões ]ingiiísticas poéticas, C O foco de suas discussões tem sido se essas (
expressões lingüístiClIS podem ou não ser verdadeira!. 5u:l preocupação com (
a verdade surge de I1ma preocupação com a objetividadc: para elc~. a /itrdadt (
(
(
261
)
~
"
é oijttiva, ob/oÚ/la. Concluem, habitualmente, que as metáforas não podem
) expressar verd:tdes de forma dircta e, se enunciam verdades, fazem -no
apenas indiretameme, via alguma paráfrase "literal" não metafórica.
( 2l 262
A illlPorlíincia da t'trdadr ti" nOJJaJ vidll! diáâll!
2.3
cm nosso campo visu:tl c uma bola clllre nós c a pcdrn, digamos a um melro
da pedra; pcrccbcriamos a bola como se estivesse em freI/te à pedra. Os
Hausas fazem uma projcção difcrcllt'c da nossa c compreenderiam a bola
como se estivesse (1lrtÍJda pedr:!. Assim, a o ricmaçiio frCllIc -amis n5:o é uma
propriedade inerente a objclOs como pedras, mas é antes uma orientação
que projetamos sobre eles c o modo como fazemos isso nria de cultura
para cultura. Com relação a nossos objctivos, podemos conceber as coisas
no mundo como recipientes , ou não. Podemos, por exemplo, conceber
um:!. clareira cm uma florcst;t como um RECIPIENTE c senti rmo-nos
DEI\.'11tQ da clareira, ou FORA dela. Ser um recipiente niio é uma propric-
- dadc inerente àCJuclc lugar na mata onde a vegetação é meno s densa; c uma
p ropriedade que projetamos nele rebcionada à maneira como agimos cm
relação a ele. Com relação a outras percepções e fin:llidades, podemos
perceber o resto da floresta fora d a clareira como um outro recipiente e
sentirmo-nos DENTRO da floresta. Podemos fazer as duas coisas simulta-
neamente e então falar cm SAl R DA floresta e ENTRAR na clareira.
com ela e sua cabeça estiver orientada para fOra da parede. O mesmo se
aplicapara a mosca no tetO: nós a concebemos como se estivesse tllI afila '/0
teta e não debaixo dcle.
,
I' Percebemos, conforme lambêm já vimos, vários elementos do mun-
d o natural como entidades, quase sempre projetamos fronteiras e superfí-
264
,
(
(
,) , II (
:~~,cÍ!ob" cio>, cmbo~ eb não tenl"m f<amei", ou sUI'"ficics cI,,,s (
~'ffê' rta(bs naturalmente. I\ssi m, conseguimos conceber um bloco de nc- (
. ,<
::' ' Iloa como lIm ) entidade que pode estar arima da baía (que imagin:ul1os (
como entidade) c IllI freI/te da mont:l.I1ha (concebida como uma entidade (
com uma oriemação I·REJ'JTE.A~S). Em virtude dessas projeções, um:l (
frase como "A neblina está cm frente da montan ha" pode ser Iltrdtldciro. (
Como é típico enl nossa vida Cluolid iana, a vcrdaclcé rcbtiva:i compreensão (
c a veracidade de uma fmsc como essa depende da maneira normal como (
compreendemO! o mundo, projetando uma orientação c uma cstmlurn de (
entidade sobre de. (
(
(
o papel da catrgot1i!,{,io 11'1 l-oerd(lde (
c
-
P:tra compt:ccndc r o mundo c agir nele, temos de c:ncgúizar o s
objetos e :15 expcriênci:ls de fom1:1 que passem :I r:lzer sentido para nós. c
(
Alb'um:l.s de nossa s categorias emergem dirct:lmente de nossa experiência,
(
devido li forma de ~1 0SS0S corpos e à natureza de nossas interações com as
(
outras pessoas e com nosso':lmbieme físico e social. Como vimos em nossa
(
discussão do exe mplo da Atu.1A FA LSA no capítulo 19, há dimensões
(
naturais para nOS$as categorias de objelos: a perreptul1l, baseela na concepção
(
do objeto por meio de nosso aparato sensorial; li !!Iotora, baseada na
(
natureza das intcrações motor:!s com os objelos; a fUllrional, baseada cm
(
nossa concepção d as fun ções do objeLO; e a intencioNfll, baseada nos usos
que podemos faze.r de um objeto em determinada situação. Nossas cate-
(
gorias para lipos de objetos são, portanlO,gutáIJi(flJ possuindo, pclç menos,
(
essas dimen sões n::llmais e (:tda uma delas especifica propriedades inl era-
(
cionais. Da mesm::l forma, há dim ensões natu mi s em lermos das <j\.lnis
(
(
-'
, _.'
(:!'
C)
(li categorizamos eventOs, :ltividades e outras experiências como conjuntos
( -' '
estnlturados. Conforme vimos em nossa discussão sobre CONVERSAÇÃO
("
()
Jtqiié"cia Jinulr,jinaJidtJIle e ((lI/Ia.
A C:ltcgorizaç:io é uma forma narural de identi fi car um tipo de objeto
( ); ou de experiência iluminando certas propriedades, atenuando outnlS c :lté
\} escondendo OUtnls. Cada uma das dimensões indica as propriedades que
( ) s:io iluminadas. Para iluminar determinadas propriedades, é necessário
( "- atenuar ou esconder outr:lS, que ê o que ocorre cada vez que se categoriz:\
"'"
..J algum:\ coisa. Ao focarmos um conjunto de propriedades, desviamos nossa
() atenção das o utrns. Ao descrevermos fatos do dia-a-dia, por exemplo,
(] usamos calegorizações para pôr em evidência determinadas propriedades
(}l que correspondem ~s nossas intenções. Cada descrição irá iluminar,atenu:lr
()\ _ _ _ _o_u_'_s_'"_nde: : : e~:)[ ,~~.:~p,~lo~,_______- ____-_.___-
~
( )
(}
( }1 266
(3 \\
( ~
uma escolha de categoria, pois temos algum motivo para foca r determina-
das propriedades e atenuar outras. T oda a6 rmação verdadei ra, portanto,
necessariamente exclui O que é atenuado ou escondido pelas categorias
usadas nd~1..
Além disso, uma vez que as dimensões nalUrflis das calcgo ri:ls
(perceptual, funcional etc.) su rgem de nossas internções com o mundo, as
propriedades descrit."ls por essas dimensões não são propri e~ ad es dos
objetos mI Ii mUfJIOI, mas são antes propriedades interadonais baseadas no
aparnlO perceptual humano, n:l.S concepções hum:mas de função etc. Daí
as afirmações verdadeiras feita s em termos de c:ncgorias tipicamen te
humanas não predicam propriedades do! objelo! em Ii n/umo! mas antes propn"e-
dades inlemciol/(tis que fnem sentido apenas em relação ao agir hum ~H1 o.
267
Isso mostra que nossas categorias (por exemplo, C:\DEIlt.'\) não siio
rixadas rigidamente em termos de propriedOldes inerentes aos objctos em
si mesmos. O que conta como instància de uma c:1tcgoria depende de nossa
imenção ao usar a cOl tegoria. Essa é a mesma eonstat:lç:io que fizemos
acima, cm nossa discussão sobre Difilllfão, cm que mostramos que catego~
A França é hellagona1.
O Missouri é um para le logmma.
A term é uma es fem.
A Wi1i~ tem a rorm~ de lIm~ bom.
Um ál omo é um siS1e ma solar minúsculo, com °núcteo 110 ccn1ro e clélrons girando em
lorno dele.
A luz é eompoS13 de par1fculns.
A luz é compoSla de ond as.
268
(
(
(
lodos nós, mas nio o scr:í se objetivo é determinar precisamente a órbita
(
de um satélite. Nenhum fís ico que se preze acredita, depois de 1914, que
(
um :ítomo seja \Hn pequeno sistema solar, embora seja verdade par:\ c)u:lse (
todos nós, com relação a nOSS:lS necessidades da vida diária e a nosso nível (
geral de conhecimentos em m:ltemática e fís ica. "A luz é composta de (
particulas" parece contradizer "A luz é composta de ondas", porém ambas (
são tomadas como verdades por físicos com relação a que aspectos da luz (
sejam selecionados por experimentos diferentes.
( J
o que ludo isso mostra ê que :1 verdade depende da categorização (
das quatro manei ras que seguem : (
['
. )
• Uma afirma çio pode ser verd:ldeirn :l1>cnas com relação a :Llguma (
compreensio que temos dela. (
269 (
(
"
-'
'~ o (Plt i n{(tI/firiD parti que It (onprttnda l/n/a silJlp/ufraSl fomo IItrdar/tim?
r) Para interpretar ullla frase como vcrcbdei ra, precisamos, cm primeiro
( )
lugar, compreendê-h. V:l.mos olhar para uma p:lrte do que está envolvido na
() compreensão de frases simples como "A neblina CSL'Í cm freme à mOnt:mha" ou
( ')
( -, 'John disparou a :l.nn:t cm H arry". Frnses corno essas são sempre enunciacl:J.s
como parte de um clctenninado tipo de discurso c compreendé-b s em um
n contexto discursivo envolve complicações de um tipo não ncg!igcnci{IVel que,
n p:1m nossos propósitos, d evemos ignorar aqui. Porém, mesmo ignorando algu-
() mas das comple..xidadcs do contexto discursivQ, a co mpreensão de t.'l.is frases é
(
'"
"
muito complexa. Considere o que deve ser par:t nós compreender como
\'crdadcir:t a frase "A neblina cst.í. em frente à montanha", Como yi mos acima,
temos de ver "a nebEn:t" e " a mo ntanha" com o entidades, por meio de projeção,
( propósitos, se o que vemos como "a neblina" está CX:lL'u nente entre nós e o que
reconhecemos como "a monlluilia", mais próximo dcl.., e não ao seu L1do ou acima
( )
deh etc, Hâ três projcçc5es sobre o mundo, além de algumas cletcnninaÇÕC5
(
"
,
prngrn:lticas que têm rcL1ção com nossas percepções e objetivos pam decidir se a
n rcL1ção t1J/ fimte é mais apropriada do quc outrns rebçõcs possíveis, Assim,
()
compreender se "A neblina está em frente à montalilia" é ou não verdadeirn, nio
()
é simplesmeme uma' qucsclo de (a) perceber cntidades pré-existcmcs c bem
( ':~
definidas no mundo (a neblina ea montlll1h:t) e (b) vw fiarr se alguma rcl.1ção inerente
() (Independente de qualquer observ:ador humano) mantém-se entre essas entidades
()
bem definidas, Ao co ntrário, é uma qucs60 de pmjcção hum:ma e julgamento
<) humano, reL1tiva a detcnnin.'1das finluid:tdes.
() "John disparou a arma cm Harry" lcvanta outras questões. Há as
( )
Clllcstõcs óbvias d e sclecio nar pessoas chamad as Johll e J-larry, scledonar o
U
( ~
( ) 270
(
, "' ":'
~
objeto que se encaixe na categoria ARMA, compreender o que significa
disparar uma llfma e dispará-la em alguém . lvlas não compreendemos esse
tipo de [rases no vácuo. Nós as compreendemos em rdação a certas
c:ltegori:ls m:lis ampbs de experiência, por exemplo, atir:lf em alguém,
assustar alguém, aUlar em um número de circo ou fingir qU:l.lqller um desses
atos em uma peça de teatro, em um filme ou em uma brincadeira. Disparar
uma arma pode ser uma instáncia de qualquer um desses casos e é o
contexto que determin:l de qual se trata. Há, porém, apenas um pequeno
nÍlmero de categorias de experiência nas quais disparar uma arma caberia,
sendo a mais comum de todas a de ATIRAR EM ALGUt:<Jo.f , uma vez que ·
existem muitas formas usuais de assustar alguém, ou de amar em um
número de eirco, mas apenas uma maneira normal de atirar em alguém.
271
PtlrtiripmlleJ: John (o fltimdor'), Harry (o (1",'0), a arma (o im/n/metl/o),
a bala (imll1"IIetllo, ",iJJi~
p(lriu: t...lira r a arma no alvo
Atirar
A bala atinge o alvo
O alvo é ferido
Ektpm: Pri-(ol/di(iiO'. O atirador carregou a arma
["iriO'. O atirador mira a amla no alvo
Meirr. o atirado r dispara a arma
Fil/r. A bala atinge o alvo
Eslado fil/aI. O ak o é fcrido
CtlfUtr. O começo e o meio habilitam o rim
O meio e o fim causam o estado final
Dljclivo: Mela: Estado fi nal
P/miO'. Encontrar a pré-condição, exe-
cu tar o início e o meio
272
,
(
(
(
recurso a Ruoc Goldbcrg, no qual o gatilho está preso por um cordão, (
dig:tmos, à m:1çancta de uma porta. (
dos. Mas o que aCOlHece (Iuando existe uma discrepância emre nossa (
compreensão IIOrHltl/da frase c nossa compreensão dos eventos? Digamos, (
(
por crcmplo, guc John, ii. m:tndra engenhosa de Rubc Goldbcrg. coloque
a arma apontada para o lugm onde Harry estada em um determinado (
"
( p
(')
Podemos resumir os resultados desta seção da seguinte fo rma:
, da situação.
( ,!;o'
2. Compreendemos uma fmse como verdadeira quando nossa COIll-
e; preensão dela corresponder O máximo possível a nossa com-
()
preensão da situação.
(~
'% 3. Compreender um:!. dt:tcrmin:tc!a situação ele fo rma quê ela pOSS:l
( >
"' se :tdequar a nossa compreensão de uma fra se pode requerer:
( .,'"
( ') a. Projetar uma orientação sobre algo que não possui qualquer
( :" - - - - - - - - - - -orientaçàõ-inerefite (pOr"exemplo, ver a montanna como se
tivesse uma frem e)
( )
( ). b. Projetar uma estrutura de entidade sobre algo que não é
( ') delimit:tdo claramente (por exemplo, o nevoeiro, a montanha)
( ") c. Prover um pano de fundo cm termos do qual a [ruse f:tç:"1
sentido, isto é, recorrer a uma gplnli experiencial (por exemplo,
( )
(J Al1RAn EJ,i ALGU~M. ATUAR EM UM NÚMERO DE CIRCO) e
(
"-~ coml>reender a situação em termos dessa b""rlalJ
-
(
( _~
~
, de suas categorias (por e.xcmplo, AMIA, DISPARAR), definidas
po r protótipo e tentar compreender a siruação em termos
dessas mesmas categorias
Ct)
274
<
f
275
fisica (para cima). A única diferença consiste cm ver se nossa projcção
envolve ou não aJ m CJIJJaJ espécies de coisas ou difercllleJcspécics de coisas.
276
,
(
(
(
é um tipo de experiência metafóriC:l estruturada pc.la metáfora conyenciooal (
DISCUSSAO I~ GUERRA, segue·se que uma situ::tção n:1 qual há uma discussão (
pode ser compreendida nesses rermos met:1fÓricos. Nossa compreensão (
de uma situação de discussão envolver{i vê-la sirnultaneamente l::trrto em (
termos da g(lfalt da CONVERSA, qllílnlO díl gesla!' da GUERRf\. Se nossa (
compreensão da situação fOf tal que uma parte da convers::t corresponda a (
uma defesa bem sucedid::t na gulall da GUERnA, então nossa compreensão (
da rra se corresponder{i ii. nossa compreensão da situação e consideraremos (
a rrase verdadeira. (
A vida ~ ". urna fábula contada por um idiota, reptem de som e fúria, sem nenhum sentido.
( j
(nik> convtJ>Cional)
()
()
Comecemos pela frase "COlHe-me a hisró[ia de sua vida", que
()
contém a metMor:! convencional VlDA t Ur,[i\ HISTÓ1UA. Essa é uma
<) metáfora profundamente enraizada em nossa cultul1l. Presume-se que a
( ) vida de tOdas as pessoas seja estrulur:lda como uma história e que tocla a
r}
tradição biográfica c autobiográfica esteja baseada nessa presunção. Supo-
()
_.---- nha que alguém lhe peça para contar ahistória de sua vida. O quê você faz? _____
o Você constrói uma narrativa coereme que começa no início de sua vida e
n segue :né o presente. Normalmeme, a narrativa terá os seguintes traços:
()
('I
Particip(UlIN:
() voca e Oturas pessou que "lêm desempenhado um papel" em sua vida
n Partts:
Causn!illade;
As várias relações causais e lllre os episódios e os es!~dos
FiI'alidlllJe:
M elfl; Um estado desejado (flue pode $c:r no (U[uro)
Plano: Um~ se(llIfnci3 de episódos que você illicb e que tEm urn~ conexi'io cnl,lsnl com a
mela
ou: Um evento o u conjunLO de eventos, que o r~ça atingir um e~l ;\gio significo!ivo, de
modo que você alc:mce a mela por meio de UIIUI sme de el:Jl)a$ namrnis
279
Vamos questionar agor.! o que esd enyolYido em compreender como
verdadeir.! a metáfora n1\o convenciam I "/\ vida é ... uma fábul:1 cOOlada
por um idiota, repleta de som C fúria, sem nenhum sentido". Essa metáfora
n:io convencional evoca a metáfora convencional VIDA I~ UtvlA HISTÓRIA.
O fato mais salientc cm histórias contadas por idiotas ê que elas n:io sào
coerentes. Elas começam como se fossem histórias coerentes, com etapas,
conexões causais e finalidades gerais, mas, de repente, começam a mudar
continuamente, o que torma impossível encontrar coerência na conti nlli ~
dade ou qualquer coerência global. L ma hiStória de yida desse ripo n~o teria
qualquer eSlnuurn coerente p:ua nós e, portanto, nenhum modo de dar ãs
nossas vidas sentido ou importância. Não haveria um meio de iluminar
eventos significativos de sua vida, isto e, nfio poderia mostmf que eles
servem a uma finalidade, têm uma conexfio causal co m outrOS eventos
significativos, correspondem a etapas etc. Em uma vida compreendida
como uma fábula, os episódios "chcios de som e fúria " representariam
períodos de frenesi, de luta agoniante e talvez de violência. Em uma história
de vida típica, esses acontecimentos seriam vistos como momentos -
traumáticos, eatárticos, desastrosos ou até rel:1cionados com os momentos
mais intensos da vida . Porem, o modificador "sem nenhum sentido" nega
a importância de todas essas possibilidades, sugerindo, ao contrário, que
os episódios não podem ser vislos cm termos de conexões causais, de
finalidades, ou de etapas identificáveis cm algum todo coerente.
Se, de fato, vemos nossas vidas e as vidas dos Outros dessa forma, enrijo
poderiamos considemr a metáfora verdadeira. O que torna possível pam
muitos de nós vcmlOS essa metáfora como verdndeim é quc normalmente
compreendemos nossas experiências de vida cm termos da !l1c[..1fora VI DA
É UMA HISrÓ!UA. Constantemente, procuramos dar sentido a nossas vidas
por meio da busca de coerências que se encaixarão em algum tipo coerente
280
(
(
(
de história de vid:l. E constantemente contamos essas estórias e vivemos cm (
temlOS del:!s. Na medid:l cm que as circunst:lnaas de nossas vi(hs mudam, (
revisamos constantemente nossa história de vida, buscando novas coerências. (
A meLífora VlOA li ... UMA FAUULA CONTADA POR U!'IllDIOTA pode (
muito bem corresponder ii vida de pessoas cujas circl1nstâncias de vida (
mudam tão radicalmente, tão rapidamente e tão inesperadamente, que (
nenhuma história de vida coerente jamais pareça possível pam elas. (
Embora tenhamos visto <[ue cssas metHoras novas c ni'ío conven - (
cionais irão a{!:lptar-se ao que, em geral, compreendemos como verdade, (
enfatizaríamos mais uma vez que essas questões de verdade são as c]uestões (
menos relev:mtes e interessantes que surgem no estudo da metáfor:l. O (
valor rea l da metáfor:l V I DA É ... UMA FABULA CONTADA POR UM IDIOTA (
é que, ao faze r-nos tentar compreender de que form:t ela pode ser verda- (
deira, ela torn:t possível um:t nova com preensão de nossas vidas. Ela (
ilumina o fato de que constantemente agimos sob a expectativa de (
sermos capazes de encaixar nossas vidas cm alguma hi stória de vida (
coerente, mas que essa expectativa pode se r constantemente frustrad:t (
qu:mdo :ts experiências mais salientes cm noss:.s vidas, aquelas cheias (
de som c fúria, não se encaixam em qualque r conjunto coerente c, (
portanto, nada sign ifi cam. Normalmente, q\lando construímos um:'! (
história de vida, deixamos de I:ldo muitas experiências extremamente (
importantes em função da busca de coerência. O que a metáfora V1DA É ... (
Utv1A FÁBULA CONTADA POR U/IIIDIOTA faz é evocar a metáfo ra VIDA E (
UMA HISTÓ RIA, (Iue implica "iver com a expectaliva constante de encaixar (
episódios importantes cm um conjunto coerente ~ uma história de vida (
sadia. O efeito da metáfora é evocar essa expcctativa e demonstrar que, na (
realidade, ela pode ser constantemente rrustrad:l. (
(
(
(
281
(])
n
o COIIIPrtwder tlma JillfortiO: 1/111 rUI/filO
<)
Neste capímlo, desenvolvemos os elementos de um~ teoria experien-
( )
cial da verdade. Ela baseia-se na compreensão. O que é central para essa teoria
( )
é nossa análise do que significa compreender uma situação. Eis :lCJui um
n resumo do CJllC dissemos sobre o assunto até aqui:
()
('J Compreensão direta imediata
(~
d Há muims coisas que compreendemos direlamente a partir de nosso
() envolvimento 6sico direto como uma parte inseparável de nosso ambiente
() imediatO.
""
ser iflenmles ao objeto ou a experiência, mas, ao contr:í rlo, as
propriedades i/lltrnciOl/(lit.
Compreensão indireta
( ':,
{J
(
(A 286
( ~,
( "",
A natllftZtJ da explicação experimtialú/a da verdade
Umn tcoria tia verdade 6 uma teoria do qu e significa compreemler uma nfinnnçHo como
verdadeira ou falsa em uma determinada situaç30.
A correspo ndênci a entre o que diurnos e um eSMdo Ile coisas no lTlundo é sempre mediada
por nossa compree nsão tlessa afirmação e do estado de cois.1s. Natumhnente, nossa
compreensão da silllação resulta de nossa int~raç30 com a si tu ação elo si. Porém, somos
capuzes de produzi r afinnnções verdadeiras (ou falsas) sobr~ o mundo porque é possível
nossa compreemiio da ajimmção adequar-se (ou n~o) à nossa cOll1preenJão da Jrwaçi!o
na qual eb é produzida.
Na medida em que compreendemos as situ ações e afirmações em termos de nosso sistema
conceptual, ii verdade par.! nós é sempre relativa a esse sistema conceptua l. Da mesma
fonn a,já que essa compreensão é sempre parcial, n~o (emos acesso ii ·'toda verdade" ou
ii uma explicação definitiva da realidade.
287
Em segundo lugar, compreender <lua!(lller coisa exige que :1 encaixe-
mos em um esquema coerente, relativo a um sistema conceptual. Assim a
verdade dependerá sempre parcialmente da coerência. Isso nos dá os elemen-
tos de uma leoni, da fotri"ri(l.
Em terceiro lugar, a compreensão exige tamocm wna base na experiência.
Sob o p(~nto de vista expericncialista, nosso sistema co nceptual emerge de nosso
agir eonstantc c bem succ<lido em nosso ambiente fisico e culturnl. Nossas
categorias de experiência c as dimensões a partir das quais siio eonsuuidas niio
apenas emergem de nossa c.\-pcriência, mas cst:lo sendo constantemente testadas
po r meio do agir continuo c bem sucedido de todos os membros de nossa cultura.
Isso nos fornece os elementos de uma !eOli" pnlg!l/(Ílim.
Em quarto lug:lr, a teoria expericncialist:\ da ve[d:ldc tem alguns
clementos em comum com O realismo clássico, mas eles n:io incluem sua
i~~ is_tê_n-,~a na verdade absoluta. Ao contrário, na teoria exppicrycialisL"l,
considera-se como um dado q ue:
o mundo tisico f o que é. As culturas são o que são. As pessoas S.10 O que são.
As pesso.u imcragcm. com sucesso, com seu ambiemc físico e cultUr.ll. Elas estlio
COlIswJltcmcnle interagindo com o mundo real.
A categori1..1ção humana f restringida peln real id<lde. ua medida cm qlle ela é c ~ractcri7~1da
em termos das dimensões naturais da c.lpcriência que s30 COll5tanternente testad as por
meio da inter.Jção Ilsica e cu ltural.
O reali srnoelfiss icu apega-se mais ~ realidade Ilsic:1 do que 11 renlidade cultural ou pessoal.
Porém. as instituições soci ai s, política.... económicas e religios.u e os seres humanos que
atu;ln\ 00 interior delas 1130 sàO HlWOS reais do que as árvores.. as mC$asou as pcdro$. Na
medida em que nossa explicaç50 de realidade relacion~· se tanlo à rcalidade soc ial e pessoal
como 11 rcalidade Ilsica. pode-seconsider:l- Ia uma lcnlaliv<I deexlenslio da U<ldição realista.
" teoria cx l)Crienciatista difere do re:llismo el:issico objetivo basicamente 00 segu inte: Os
conecitos IIUrHanos não correspondem:'ls propriedades inerentes dos objetos. mas apenas
11$ propriedades intcr.lcionais. Isso é nalur;J!. uma vez 'll'e OS conceitos podem ser
1I)ClafóricQs por nalUrez,1 e podem ser diren:ntes de cultura p:Im eultur:J..
288
(
(
(
na com preensão. Nosso ponto de vista coincide também com alguns dos (
'~$
'"" fi flfOlIIflllha, c uma relação em frente (J relacionando as duas entidades.
Porém, esses modelos não correspondem ao mundo em si, livre da
' 11 compreensão humana, pe is, no mundo, não há entidades bem definidas
,, ~ . ,~
-~:
iI montanha" em termos de modelos teóricos não será uma explicação da
verdade oljetiva, (lbIo/lI/a, pois ela envolve a inclusão de elementos da
compreensão humana nos modelos .
C".-
(
., o mesmo pode ser dito sobre as tentativas de fornecer uma teoria
da verdade que conside re as restrições da clássica definição de verdade
( 'r:~
,
"~ de Tarsk.i:
( ~
"S" é verdadeiro se e apenas sep . .(ondep é uma afinnação em alguma linguagem lógica
( 9 aplicável unlversalmellle)
( "1)
( ')
(l~
» 290
"::"
( !)
~
o protótipo par:l tais tcorias, ê o conhecido exemplo
"A neve é br:mcn" é verdadeiro se e apenas se a neve for bra'lCa.
291
Nesse ponto nossa teoria difere radicalmente das teorias tradicionais
a respeito do sentido, que postulam ser possivel dar uma explicação da
verdade cm si mesma, livre da compreensão humana, c fundamentam suas
tcorias do sentido nessa concepção da verdade. N:io vemos possibilidade
de um programa como esse fllndonar c pensamos que a (mica respoSta é
basear tantO a tcoria do sentido como a teoria da verdade na teoria da
compreensão. A metáfora, tanto a convencional como a não convencional,
desempenha um papel cenlral cm lal programa. Ela é um mecanjsmo
essencial da compreensão c tcm pOllCO ou nada ::a vcr com a realidade
objctiva, se é que tal coisa existe. O fato de nosso sistema concerrual ser
inerentemente metafórico, o fato de compreendermos o mundo, de pen-
sarmos e de agirmos em termos metafóricos e o faLO de as met:íforas não
poderem ser simplesmente compreendidas, mas também poderem ser
significativas e verdadeir:l.S ....: todos esses f:l.tos sugerem que uma teoria - --
aclccluada do sentido e da verdade só pode ser baseacl:t na compreensão.
292
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
25. Os MIras DO OBJE7TVISMO E DO SUDJE1TV1SMO (
(
(
(
(
AI OpçMJ oftrrddaJ pt/a nO$1(1 mllflm (
(
Demos uma explicação do m odo como a verdade está funda mcmad:J.
(
na compreensão. Argumentamos <luc a verdade é sempre relativa a um
(
sistema conceptual , que qU:lklucr sistema conccpm al humano é, cm grande
(
parte, metafórico pornaturcza c, p onamo, que não há vcrd:ldc inteiramente
(
objctiva, incondi çioll:-tl ou absoluta. Para muitas pessoas cri:ldas na cultura
(
cicntilic:l Otl cm outras subculturas cm que a ve rdade absoluta é aceita sem
(
qucsuon;llnemo, essa vis:i.o parecerá uma vol la :i. subjetividade c :1 arbitra-
(
riedade- remetendo-nos ii noçãoclc Humpty D umpty, segundo a qual uma
(
coisa significa "cx:ttamCIllC o que eu (lucro que ela signifique, nem m:üs
(
nem menos", Pela mesma r.l.zão, :lCluclcs que se identificam com a tradição
(
rom~ntica podem considera r qllalqller vitória sobre o objctivismo como
(
(
(
293 (
um triunfo d:l imaginação sobre a ~iência - um uiunfo da visão segundo a
qual cada indivíduo cria sua própria realidade, sem qualquer restrição.
(
--,
j>'
riência; eles organizam nossas vidas. Como as metáforas, os mitos são
,~ necessários para fazer sentido do que se passa ao nosso redor. Todas as
( .i;'!
culturas têm mitos e as pessoas não podem viver sem des assim como não
C'1) podem viver sem a metâfo ra. E assim como consideramos freqüentemente
( '"j
_ as metáforas de nossa cultura como verdades, do mesmo modo t:lmbém _
(~~-I
consideramos freqüente mente os mitos de nossa cultura como verdades.
D esse modo, o mito do objetivismo é parúcu!:'trmeme insidioso. Não somen-
--;,
C. te ele pretende não ser um mito, como também de rebaixa e menospreza os
(} mitos e as metáforas: segundo o mito do objetivismo,os mitos e as medforas
não podem ser levados a sério, pois eles não são objetivamenre verdadeiros.
O
( ') Como veremos, o mito do objetivismo não é em si mesmo objetivamenre
verdadeiro. Mas isso não deve tomá-lo alvo do desprezo e do ridículo. O
("8
miro do objetivismo faz p:ute da vida cotidiana de cada membro da nossa
(') cultura. Ele deve ser examinado e compreendido. Pensamos também que ele
() deve ser sllplememado niio pelo seu oposto, o miro do subjetivismo, mas
('} po r um novo mito experiencialista, o qual nos parece corresponder melhor
(") às realidades de nossa experiência. Para deixar mais claro como seria a
( 1, alternativ:t experienciaJista, precisamos examinar em det.'llhe, primeiramente,
f ~,
C,
( i" os miras do objetivisrno e do sllbjetivismo.
()
(~ 294
(
( -
o nú/o do oijttiltisnJo
o mito do objecivismo diz (Iuc:
1. O mundo ê constituído por objetos. Eles têm propriedades
independentes de quaisquer pessoas ou outrOS seres que os
experienciem. T omemos, por exemplo, um rochedo. Ele é um
objeto separado c é duro. Mesmo se não existissem no universo
Outras pessoas ou outros seres vivos, ainda assim ele seria um
objeto separado e ainda seria duro.
2. Adquirimos nosso conhecimento do mundo expcrienciando os
objcros e chegando a saber que pr?priedades os objctos têm e como
des se relacionam entre si. Por exemplo, nós nos damos COnta de
que uma pedra constimi um objeto separado olhando*a, sentindo-a,
deslocando-:'I etc. Descobrimos que ela é dum ao tod-la, ao tent:'lr
- :i-pená-Ia, ao chut:í-l~;o jÕg.í-Iãconm :t1go mâis m:'lcio elc.
3. Compreendemos os objelOs de nosso mundo em lennos de
categorias e de conceitos. Essas categorias c conceitos correspon-
dem :is propriedades que os objcros têm em si mesmos (ineren-
temente) e às relações entre eles. Assim, temos a palavra "pedra"
que corresponde ao conceito PEDRA. Diante de uma pedra,
podemos dizer que ela está na categoria PEDRA e que um piano,
uma árvore, 0\1 um tigre não est:uiam. Nessa categoria, as pedras
têm propriedades inerentes independentes _de quaisclucr seres: das
silo sólidas, duras, densas, encontram-se na natureza etc. Compreen-
demos O que é uma "pedra" em tconos dessas propriedades.
4. Há uma reali(bde objetiva e podemos dizer coisas que são
objetivamente, abso!lltamente e incondicionalmente verdadcir:lS
e falsas sobre ela. Mas, como seres humanos, estamos sujeitos a
295
erros, ism é, a ilusões, a erros de percepção, a erros de julg:mlcnto,
a emoções e viêses pessoais e culturais. Não podemos confiar
nos julgamentos subjetivos dos indivíduos . A ciêncifl nos oferece
Utnfl metodologifl que nos permite ultmpassar nossas limitações
subjetivas c atingir fi cOlllprecns~o fi partir de um pontO de viwl
universalmente vâlido e despro"ido de viés. A ciênci:l pode, cm
últi11l:l instância, dar-nos um:l explicação correta, dcfinitiv:l e geral
da realidade e, graças a essa metodologia, ela progride continua-
mente em direção a esse objetivo.
5. As palavras têm significados fixos, isto é, nossa linguagem ex-
pressa os conceitos e as categorias em termos dos quais pensa-
mos. Pam descrever a realidade corretamente, preci samos de
palavras cujos significados sejam claros c precisos, palavras que
_~correspondam _à rça!.idade. Essas palavras podem surgir natuml-
mente, ali podem ser termos técnicos de uma leoria cientifica.
6. As I>cSSO:lS podem ser objetins e podem falar objetinmente, mflS
SÓ O conseguem se utilizarem uma linguagem que seja clara e
296
(
(
(
mesmos, os OUlroS e o mundo externo. A objelividade permite-
(
nos ultrapassar preconceitos pessoais e viéses, sermos justos c
(
termos um ponto de vista sobre o mundo desprovido de viés.
(
9. Ser objelÍvo é ser meional; ser subjetivo ê ser irracional e se deixar
(
dominar pelas emoções.
(
10. A subjetividade pode ser perigosa, pois ela pode provocar uma (
perda de contam com a realidade. A subjetividade pode ser
injusta, urna vez que adota um ponto de vista pessoal e, portanto, {
enviesado. J\ subjeti\'idade é complacente, pois ela exagera a (
importância do indivíduo. (
(
o mito do J//ljefilll!!lJo (
(
Q mito do subjetivismo diz que:
(
(
1. N a maioria de nossas atividades pdtieas di:írias, dependemos de
(
nossos sentidos e desenvolvemos intuições nas quais confiamos.
(
Quando surgem questõcs importantes, não importa ° '1ue os
(
OUlrOS possam dizer, nossos próprios sentidos e nossa intuição
(
são nossos melhores guias pam a ação.
(
2. As coisas mais impo rtantes em nossa vidas são nossos sentimen-
(
tos, a sensibilidade estética, as prâticas morais e a conscicnda
(
espiritual. Eles são pur:lmente subjetivos. Nenhum deles é pu ra-
(
mente rncional ou objetivo.
(
3. A arte e a poesia transcendem a racionalidade e a objetividade c
(
colocam-nos em conrato com a realidade m:lis importante de
(
nossos sentimentos e iuttliçõcs. Alcançamos essa conscicncia
(
mais pela imaginação do que pela razão.
(
(
297 (
(
,
')
") 4. A linguagem da imaginação, especialmente a metáfol1l. , ê neces-
! sária para expressar .os aspectos de nossa experiência que são
'} únicos e mais significativos p:lrn. nós. No que diz respeito li
I 'b 5. A objcuvidadc pode ser perigosa, porque lhe escapa o que é mais
(; significaúvo e importante para os indivíduos. A objctividade
(
"
, deSllmana. Não existem meios objecivos e raciortais para com-
preender nossos sentimentos, nossa sensibilidade estética etc. A
I
()
( ') ciência não tem qualquer utilidade quando se trata das coisas mais
1
importantes em nossas vidas.
( '}
('1
Medo da metáfora
-I
($
( ~.
•> o objetivismo e o subjetivismo precisam um do ou [[O para existir .
1
(') C:lda um se define po r oposição ao outro e vê o outro como inim igo. O
() objetivismo tem po r aliadas a verdade científica, a racionalidade, a precisão,
1
(y a justiça e a imparcialidade. O subjetivismo tem por aliados as emoções, o
(~ conhecimento intuitivo, a imaginação, os sentimentos humanos, a arte, bem
(, como uma verdade "mais alta". Cada um deles é mestre em seu próprio
1
·"e
( y domínio e vê seu domínio como superior ao outro. Eles coexistem, mas
( -"~ em domínios separados. Cada um de nós tem um domínio em sua.vida em
I
( que é apropriado ser objetivo e um domínio e m que é apropriado ser
(
,
.>
n
I" 2')8
-,
( l'
(~ II
Alguns de nós tentamos até viver nossas vidas intei ras totalmente sob um
mito ou o outro.
Na culnua ocidental como um todo, o objetivismo é, de longe, o mais
poderoso, pretendendo reger, ao menos nominalmente, os domfnios da
ciência, da lei, do governo, do jornalismo, da mOf:lli(bdc, dos negócios, ela
economia e do saber. Mas como argumentamos, o objctivismo é um mito.
Desde a :mtigilidade grega existe na cultura ocidental uma tensão
entre, de um lado, a verdade e, ele outrO, a arte, sendo a :lrte vista como
uma ilusão e aliada, por meio da sua ligação com a poesia t o teatro, :i.
tradição da arte oratória pública e persuasiva. Piado viu a poesia e a retórica
com suspeita e baniu a poesia de sua utópica Republica porque ela nilo
oferece nenhuma verdade por si mesma, atiça as emoções e, desse modo,
cega a espécie humana para a verdade real. Platão, como é úpico dos
I_~~~ce='o,,,-ri,,-
t ,ores Rersu~~vo~mostra que a :::.er~lad e é absoluta e a arte. ,:,era~são
pelo uso de um instmmento retórico poderoso, sua Alegoria da Caverna.
Até os dias atuais, suas metáforas dominam a filosofia ociden tal, oferecen-
do uma formulação sutil e elegante para sua visão de que a verdade é
absoluta. Aristóteles, por outro belo, atribui um valor positivo ii. poesia: "É
uma grande coisa, de fato, fazer uso adequado das formas poéticas,... Mas
o mais importante, de longe, é ser um mestre da medfora". (poética 1459a);
"as palavras comuns transmitem somente o que já sabemos ; é peJa metáfora
que podemos melhor produzir algo novo" (Retórica 1410b).
Mas, embora a teoria de Aristóteles sobre o funcion amento das
metáforas seja o fundamento da teoriacJássica da metáfora, sua formulação
sobre a capacidade de a metáfora produzir ~onb ecimcnto nunca foi reto-
rnada no pensamento filosófico moderno. Com o surgimento da ciência
empírica como um modelo de verdade, a suspeita em relação :1 poesia e ii.
retórica dominou o pensamento ocidental, e:). medfora e os outros recursos
299
figurados tomaram-se novamente objero de menosprezo. Hobbes, por
exemplo, acha as metáforas absurdas e um mal entendido emocional; e\o.s
são "igllU f(/Ilfi'~' c rnciocinar com base nelas é perder-se entre absurdos
inumernveis; e seu fim, conflitOs, discórdia e desprezo" (Leviathan, p:lrt'e
1, cap. 5). Hobbes acha absurdo "o li SO da metáfora, dos tropas e de outras
figuras de retó rica em lugar das palavr:ts no sentido próprio. Jsso porque,
embora seja legítimo dizer, na linS'lagem comum, "o eaminho vai" ou
"co ndu za aqui e 1:1", "o p rovérbio diz isto ou aquilo", cmbOr:t caminhos
não possam ir, nem provêrbios falar; tais maneiras de falar não devem ser
admitidas no cálculo e na busca da verdade" 0bid.).
Lockc, concinuanclo a tradição empirista, demonstra idêntico despre-
zo pelo discurso úS'lrado, que vê como um instrumento de retórica e um
inimigo da verdade:
se quisermos fal~f das coisas como elas soo. devemos reconhecer que t?da a arte da
TCtórica, além da o rdem e dn elnre1.n; lodn:l apliC3ç~o artificial e figurad a de l);ll avras
'Iu e as regras d~ e]()(IUência invclllar.llTl, n;'lo se rve m se não para insi nuar idéias erradas
no espfrito, p31'3 mover paillõe5 e. por mei o di sso, pertu rb~r o julgamento ; e, então, sao
de ratO fraudc s perfcilas: e. portamo. e mbora a oralóri~ J3udal6ri~ e pe rmi ssfve l poss,1
'omá-Ios ~rengas c di scursos dirigidos ~o povo, indubit aveJruente, é preciso ev itá-lru; por
completo cm todos os discursos que prelendcm infonnM o u inst ruir: e em que a " crdadc
e o eonhedme nlo es'ão em quest~o, n~o sc podc pensar CJue sejam onlra co is~ ~ nOO ser
°
um grande t1dci lQou da Irngu~ Otl da pessoa CJuc as uliJi 7~ 1 ... É evidente qllaUlo os homens
amam enganar e scr cng anados, 11m3 VC'l. qlle a relórica . esse instrumento podcroso do erro
e do engaoo, .em seus professores est abelecidos. ~ ensinadJ publicmnellle e sempre leve
grande rcputaçi\o. (fmllio Sobre II Comprce"s{iQ '(lIl11l11W, livro 3, eap. 10).
300
(
(
(
verdades podem ser expressas. Empregar as palavras metaforicamente é
(
usá· las cm um sentido impróprio, para excita r a imaginação c também as
(
emoções, e cntão conduzir-nos par:l longeda verdade e na dircção da ilusão.
(
A desconfiança e o medo empiristas da metârora são resumidos admJr:l'lel-
(
mente por $amud Parkcr:
(
(
Todas as Teorias Filos6ficas que se expressam SO Ul ente cm Termos metaf6ricos n~o
(
são Ve rdades rcais, mas meros produtos da lrnaginaçno vestidos (como bonecas de
crianças) com um3.'i poucas brilhantes palay ras yazi as ... Assim, suas rantasias debo- (
chadas e luxuriantcs elevam-se no Lei to da Raz50, e n~o SO mente macula m· na com (
suas Caricias impuras e ilegítimas. m3S, em lu ga r de concepçõcs e noções reais d3.'i (
Coisas, impreg nam a IIICllle eom '13<1a mais que Falltasmas Inoonsistemes" (C"'"SlIrl/
(
Livre Imparcial da ,.-i{a.T()jia Pia/única 1666).
(
( ') " ,,
I A tr:ldição romântica,:lo adotar o subjeuvismo, reforçou a dicotomb
(') o bjetivismo, cujo pode r co ntinuou a aumentar desde cntão. Enu etanlo, os
,:(, românticos criaram um domínio para si mesmos, cm que o subjetivismo
( ~
continua a imperar. É um terreno empobrecido se comparado ao do
(~
o bjetivismo. Em ter":l0s de poder rc:tl cm nossa sociedade na ciência, n3S
('j)
leis, no governo, nos negócios, e na mfdia o mito do objetivismo reina
(~
supremo. O subjetivismo conquist'Ou um dominío p:l.ra si m esmo na arte c
( '~
ta l v~z na religião. Muitns pessoas nessa culnm\ vêcrn· no como um :l.pêndice
c"~
do reino do objetivismo e como um refúgio para as emoções e para a
("'J imaginação.
(1
c,
, . A ftrrara 0Pfiío: lima Iínfnt txpm"tncialúla
":;:
302
preensão das metáforas poéticas cm termos de implicações e de inferências
metafóricas, vemos (]ue os produtos da imaginação poética são, pelo
mesmo motivo, em parte racionais por natureza.
A metáfora. é um dos mais importantes instrumentos para tentar
compreender parcialmente o que não pode ser compreendido em sua
totalidade: nossos sentimentos, nossas experiências estéticas, nossas pciti-
cas morais e nossa consciência espiritual. Esses esforços da imaginação não
são dcstin!ídos de racionalidade; como se utilizam da lnelMora, empreh'anl
uma racio nalidade imaginativa.
Uma abordagem experiencialista permite-nos estabelecer também
uma ponte entTe os !11itos objetivista e subjetivisra no (lue se refere à
im],arcialidade e à possibilidade de ser justo e objelivo. As duas escolhas
oferecidas pelos mitos são a objetividade absolura porurn lado, e a intuição
purameme subjetiva po r oun o. Vimos que a verdade é relativa :\ compreen-
- __ o ---S5:o: o-qt~e · significa que não h1 po~ro· de-vi~ ta· ;bsoluto, .a partir do rj~;'11 -se ··
possa obter verdades absolllms objetivas sobre o mundo. Isso não significa que
não existam verdades; significa apenas que a verdade é relativa ao nosso sistema
concepnml, que é fundamentado sobre, e constantememe testado por, nossas
experiências e as de outros membros de nossa cultura cm nossas interações
diárias com outras pessoas e com os nossos ambientes físico e cultural.
Embora niio exista objetividade absoluta, pode existi r um tipo de
objetividade relativa ao sistema conceptual de uma cultura. 1\ (IU CSlão da
imparcialidade e da justiça no 90míniO social é a de c.levar-se acima dos
viéses ittdúidlf(lis relevantes. A questão da objetividade na experimentação
científica é a de descartar-se dos efeitos da ilusão e dos erros illfliddllais. Isso
não quer dizer que conseguiremos sempre, ou mesmo para semp~e, ser
bem sucedidos em descartar nossos viéscs individuais para atingir uma
objctividade completa relativa a um sistema conccptu:ll e a um conjunto de
303
v:t.1ores cult\ lrais. Quer dizer apenas ()ue a pura intuição subjetiva não é
sempre o nosso único recurso. Nem quer dizer que os conceitos c valores
de uma cultura particular constituem o ~rbitro fil,al da justiça no interior
dessa culnml. Podem existir, c normalmente existem, conceitos e v:l.lores
transculturais que definem um modelo padroio de justiça muito diferente do de
uma culnml particular. O que em justo na Alemanha Nazista, por exemplo, não
er:l j\lsto aos olhos da comunidade mundial. Mais próximos de nós, h~ os casos
nos tribunais que envolvem, com freqüêncb, questões de justiça entre subcul·
turas com valores conflitantcs. Aqui a cultura majocit~ria define habitualmente
a justiça relativa a !eu! valores, mas esses valores culturnís dominantes mudam
com o tempo e csmo sempre sujeitos à crítica pelas outras culttlr:ls.
304
\
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
26. O MITO DO OBjEITVlSMO NA FILOSOFIA
(
E NA UNcüisTlCA OCIDENTAIS
(
(
(
(
NOJJO dUtlfio ao ",;10 oljclivúla (
(
o mito do o bjctivisll\ o d o minou:t cultura ocidental, particularmente (
a filosofia ocide!).tal, desde os pré-socráticos :llé nossos dias. A idéia de que
(
lemos aceSSO:l verdades absolutas c incondicionais sobre o munclo éo pilar
(
da tradição filosófica ocidental. O mito da objctividadc norcscclI tanIa 11:l
(
tradição racionalista quanto na empirista que, a esse respeito, di ferem
,
(
,
>
urllversalmemc válidas pc.lo uso de nossa rnzão tmiversal (seu legado raciona-
<li lista). A tradição objcuvista na filosofia ocidental é preservada até hoje entre os
(
seguidores dos positivistas lógicos, na trndição de Frege, na de Husserl e, na
(Íl
lingiiística, com O nco-racionalismo, que veio da tradição de Chomsky.
()
Nossa concepção de metáfora vai contra essa tradição. Consideramos
(}
n ~~
a metáfora essencial à compreensão humana c um mecanismo de criação de
( .::;'
novos sentidos e de novas realidades em nossas vidas. Isso nos coloca em
oposição à maior parte da rrndição filosófica ocidental, que {em visto a
meL-ifora como um agente do subjetivismo e, por conseqüência, como
~
( ;"I
i--- _. -- subversivo na busca da verdade absoluta. Além disso, nossas visões da metáfo ra
() I convencional - que impregna nosso sistema concept\lal e é um mec;mismo
() essencial para a compreensão - coloca-nos em desacordo com as visões contem-
( ) porâneas de linguagem, sentido, verdade e compreensão que dominam a
() rtteme filosofia analitica angla-americana e que são aceitas em boa parte da
lingüistica modema, bem como em outraS disciplinas. A segWnte lista é repre-
()
<-
-, sentativa dessas assunçõcs sobre linguagem, sentido, verdade e compreensão.
Nem todos os filósofos e lingüistas objetivisms aceitam todas elas, entretanto
~) as figuras mais influentes parecem aceitar a maioria delas:
r ,.[:'
~,
; 306
"}
o sentido de uma frase pode ser obtido a partir do scntido de suas pnrtc.s e pela estrutura
da frase.
A cornunicação t uma questão de lr.msmitir, de um falanto: p~rn um ouv illte, uma
mensagem com um sentido fixo.
O modo como uma pessoa compreende uma fmse eoque significapnra ela t uma função
do scntido objctivo da frase c do que a pessoa acmIita sobre o mundo e sobro: o COllteX IO
307
d:ls tendênci:ls dominantes na tradição filosôfica ocidental? Um:l resposta
para isso exige uma exp~cação mais detalhada do que a que oferecemos até
o momento a respeito das assunções objetivistas sobre a linguagem, a
verdade e o senúdo. 1550 exige explicitar com mais detalhe: (:I.) o que são
as teses objetivistas; (b) como elas são justificadas c (c) (\uais s50 suas
implicações para uma teorÍ:t geral da língua, da verdade e do sentido.
Como (lJ teoriaJ cltiJúcnJ do unlido estão eIImizadaJ 1/0 milo do oljetivú!!JO
o sentido é objct:lvo
308
\
(
(
çõcs d:1 língu:1 atribuem a cad:1 frase um senlido oljelivo, que determina as (
(""
( )
Não é isso (Iue queremos d izer po r "compreensão". Quando afi rma-
mos (Iue o objetivisI3 vê o sentido como algo independente da compreen-
()
são, estamos tomando "compreensão" cm nosso sentido não no dele.
n
()
o sentido é descorporificado
()
()
Na visão objctivista, o sentido objetivo não é sentido parti alguém.
() Pode-se dizer que as expressões de uma língua natural têm um sentido
()
objctivo somente se esse sentido fo r independente de qualquer coisa que
( ')
os seres humanos possam fazer, inclusive falar ou agir. Isto é, o sentido
() ,. deve ser descorporificado. Frege, por exemplo,. distingue o_"sentido'!.... __ _
o (Sinn), o sentido objetivo de um signo, da "idéia" que surge
( J
() das memÓriasedas impressilessellsfve is que ti ve edos atos. tanto internos quantoextemos,
( ..
"
'
que realizei... A idt ia t subjetiva... Sob essa perspectiva, n~o t necessári o ter escrúpulos
para filiar simplesmente 1/0 sentido, uma ve~ que no caso de uma idii.., deve-se, elitrita-
( ':'
mente falando. acrescentar a quem ela pertence e em que ipoca. (Frege 1966, pp. 59-60).
( ~
l I
o "sentido" de Frege é um sen tido objecivo e descorporificado. Cada
c~p ressão li ngüística em lima língua tem um sentido descorporificado
associado a ela. Isso é uma reminiscência da metáfora do CAt~AL, em que
"O sentido está ali mesmo, nas palavras."
, A tradição fregeana continua até os dias de hoje no trabalho dos
,
,.,'
discipulos de Richard Momague bem como no de muitos outros. Em
----
Corresponder aJ palavraJ ao /H/Indo, StJII
(ollJidemr pesJoaJ 01( rol1Jprenmio hllmana
Minhas propostas t.ambtm n!o se Djusmr~ às eJtpe<:tativas daqueles que, :lO analisar o
sentido, voltem·se imediatamente para a psicologia e a sociologia dos usu.irios da língua:
par:l. as intenções. as eJtperiencias sensoriais e as idtias mcn tais, ou pam as regms sociais,
:1$ convenções e as regularidades. Distingo dois lópiOOS: primeiro. li descrição das Ifnguas
ou gmm.il icas possiveis como sistemas sern5nticos abstmtos IlOS quais os símbolos se
associam II aspectos do mundo; segundo. li descriçAo de fatos psicológicos e sociológicos
nos quais um desses sistemas se m5nticos abSU":ltos em pJ.rticllln.r~ lUilimdo por uma pessoa
011 comunidade. Misturnr esses dois lópioos só resul!a em oonfusl\o. (Lewis 1972, p. 170).
31 1
Lewis segue aqui a prática de MontaS\le ao tentar explicar como a
linguagem corresponde ao mundo - "como os símbolos são associados a
aspectos do mundo" - e isto de uma maneira suficientemente geral c
arbitrária para corresponder a qualquer fatO psicológico ou sociológico
relacionado ao uso e a compreensão da linguagem pelos homens.
312
,
(
(
o sentido é independente do uso (
(
A concepção objcuvist:l de verdade exige que o sentido também seja
(
objctÍvo. Se o sentido deve ser objctiv9, eleve excluir todos os dementos
(
subjclivos, isto é. 'lufllqucr coisa peculiar a um contexto, a uma cultura ou
(
:l um modo de compreensão particulares. Como coloca Donald Davidson, (
"O sentido literal c as condições de verdade podem ser atribuídos às (
palavras c às frases isohdas de contextos ele uso particulares" (1978, p. 33).
(
(
o sentido é composidonal- a teoria dos constituintes Iingüísticos (
(
De acordo com o mito do objctivismo, o mundo é constituído de (
objctos: eles aprCSCIll:lm propriedades inerentes bem definidas, inde- (
pendentes de qualqllcr se r que as cxperencic c há relações (iX:lS entre elas (
em um determinado momento no tempo. Esses aspectos do mito do (
objetivismo fazem surgir uma teoria do senLÍdo em termos de constituintes (
lingüísticos . Se o mundo é feito de objetos bem definidos, podemos (
dar-lhes nomes cm uma língua. Se os objetos têm propriedades inerentes (
bem definidas, podemos ter uma língua com predicados de um unico lugar, (
correspondendo a cada uma dessas p ropriedades. E se os objetos têm entre (
si relações fixas (pelo menos em um dado instante), podemos ter urna língtm (
com predicados de lugares múltiplos, correspondendo a C:KIa relação. (
Se assumirmos que o mundo é dessa forma e (llle existe uma língua (
assim, podemos, ao utiliza r a sintaxe dessa língua, construir frases que (
possam corresponder dirctamente a qualquer situação no mundo. O sen- (
tido da frase inteira será suas condições de verdade, ou seja, as cond ições (
sob as qurus a frase puder ser adequada a alguma situação. O ~cntido da (
(
(
(
313
(
\2
( )
(1 frase inteira dependerá completamente dos sentidos de suas panes e do
( ) modo como eb s jun tas se ajustam. O sentido das parles especificará que
<) nomes podem designar que objetos e que predicados podem designar que
( ') pro priedades e relações.
315
fnses são escritas, podem ser prontamente tratadas como objct'Os. Essa foi
a premissa da lingüística objcrivista desdc a sua origem na antiguidade até o
presente: as expressões lingüísticas são objetos 9ue tém propriedades em e
por si mesmos e que têm relações fixas uns com os outros, inde-
pendentemente de qualquer pessoa que as fale ou as compreenda. Como
objetos, ebs têm partes - sào feitas de constituintes lingilisticos: as pabvras
são fcims de r.lízes, de prefixos, de suftxos, de infixos; as frases são feitas de
palavras e frases; os discursos são feitos de frases. Em uma língua,:ls rebções
entre as partes são clivers:ls, dependendo da estrutura de seus constiruintcs c
de suas propriedades inerentes. O estlldo da estrutura dos constituintes
lingüísticos, das propriedades inerentes de suas partes e das relações entre
elas tradicionalmen te denomina-segmlllátiCfJ.
A lingüística objetivista vê a si mesma como a única abordagem
ciel/lifim do lingi.iístico. Os objetos dcvem ser capaz~: .~~: _s~~'l~ sados
em e por si mesmos, independentemente de COnlextos ou da manei r:l
como as pessoas os compreendem. Como na fil osofta objetivist:l, há t:lntO
tradições empiristas quanto racionaliStaS na lingüístic:l . A tradição empi-
rista, rcpresentada pelo estrururnlismo americano de Bloomfic!d, Harris
e seus seguidores, considera os textos como os ún icos objetos de estudo
cientifico. A tradição racionalista, representada por estrururalistas euro-
peus, como J akobson, e po r figura s american:ls, como Sapir, Whorf e
Chomsky, entcnde :1 linguagem como tendo uma realidade mental e as
exp ressões linb>üistjcas como obje[os mentalmente rcais.
316
\
(
(
relações fixas entre os objctos. De acordo com o mito do objcuvismo, os (
objetos Iingiiísucos que existem - e sua estrutura de constituintes Iingü ís- (
cicos, suas propriedades e suas relações-são independentes do modo como (
as pessoas os compreendem. Segue-se dessa visão das expressões jingüís- (
ricas como objcms que a gramaüca pode ser esmdada independentemente (
do sentido a li da compreensão human:1. (
(
Essa tradição é condensada pela lingüística de Noam Chomsky que
tem sustentado firmemente que a gramâtica é uma cllIesdo de pura fO;l11a,
(
(
independente do sentido ou da compreensão humana. Qualquer aspecto
(
da linguagem que envolva a compreensão htlt'l~ana, para Chomsky, está,
(
por definição, fom do estudo d a gramática nesse sentido. O uso do termo
(
"competência" po r Chomsky, cm oposição a "perro rmanec", é uma
(
tentativa de de fi nir certos aspectos da língua como os únicos objelos
(
legílimos do que ele considem lingüística cienLÍfica, isto é, o que denomi-
(
namos tingüística objetivista na versão racionalista, incluindo apenas
(
questões de pura fo rma e exclui ndo Iodas as questões de compreensão
(
humana e de uso da língua. Embora Chomsky veja a lingüística como um
(
mmo da psicologia, eh é, para ele, um r:lIno independente, que. não é, de
(
modo algum, dependente da maneira como as pessoas realmen te com-
(
preendem a língua.
(
(
J\ teoria objetivista da comunicação:
(
uma versão da metâfor.l do CANAL
(
(
Para a lingüística e para a filoso fia objctivisras, senlidos c exprcssões
(
lingüísticas são objclos com cxistência indepcndcntc. Essa visão originou
(
uma teoria d:1com unicação que se aju sta muito bem :l melHora do CANAL:
(
(
(
317
(
,
,
( "
- ,
, Sentidos são objelOS.
( '" E:tpre$SÕCS ]ingUfsticns são objetos.
(~
E:lIpre5SÕcS li nglHsticns têm sclHidos (em si).
('"')
Na corn unicaç30, o falante env ia um St:mido fixo para o OIIvillle, via expressão lingllfSlica
associada a esse sentido.
( ')
"~
( -> De acordo com essa abordagem, é possível dizer objetivamcmc o CJue
"
(
" você quer c1i".er e as falh as na comunicnção são problemas de erros subjccivos:
('\l já que os sentidos estão objetivamente ali mesmo, nas pab.vras, Otl você não
(; usou as pab.vrns corretas para dizer o que queria Oll foi mal com preendido.
(-'J
() o que seria uma abord:lgem objetivist:l da compreensão
( )
( '" " Já demos uma explicação do que o objetivist:l compreende por
o _sentido objetivo literal d e u ma frase, que r dizer, compreender as cond ições · . - - -
(") sob as quais uma frase seria objetivamenre verdadeira ou fa lsa. Os objeti-
() vistas reconhecem, entret~ nto, que uma pessoa pode compreender que uma
(" ) , frase, em um dado COntexto, significa algo diferente do sentido objetivo
(;! literal. Esse outro sentido é geralmente denominado "sentido do falante"
() ou "sentido do enu nciado r" c os objetivistas reconhecem, habitualmente,
,/ ') que qualquer explicação completa da compreensão terá de explicar esses
nA, casos também (ver Grice 1957).
3"
Essa explicação do sentido do fabnte poderia ser representada, no
contexto sarcástico apropriado como:
(A)Ao se enunciar uma frase S (S = "Ele t um verdadeiro gê nio"), qlle tem o se mido
objctivo SO (50 = ele possui grandes poderes intelectuais), o falanl e pretenrle tmnSmilir
ao ouvin te o sentido objc ti vo SO' (SO' = ele t um completo idiota).
3 19
figur:tda, cm particular, a metáfora. A concretiz.ação do progr:una envolve-
ria a fo rmulação de princípios ger:tis que responderiam ii. seguinte questão:
320
(
(
A explicação objctivisL'lda compreensão é, pois, scmprc bascada cm uma (
concepção de vercl:tde o bjeriva. Inclui do is ripos de compreensão, direta e (
indireta. A compreensão direta é fi compreensão de um sen tido literal objetivo (
de uma frase, em termos das condiçõcs nas quais ela pode ser objetivamenle (
verdadeira. Acompreensão indircta envolve reconhecerquando o falante utiliza
uma frase para mnsmitir um sentido indircto, que pode scr também ronlprrell- (
dido dlirMflltl/fe, em termos de condições de verdade objctiva. (
:Hltomácicas: (
(
!'or definição. n(lo porle existi, lima C;Qüa c;o mo um CQll c;ei/o ou se n/ido metafó-
(
rico. Os sC lltidos s~o objeti vos c es pecificam 3S condições de verdade objctiva. (
Por dcfini ç50. s ~o modos de ca ra cteriza r o mundo tal CO III O e le é o u poderia ser. (
_ _ _ _ _ _ As cOndiçõcs de verdade o bjetiva, simplesmen te. não forn ecem me ios para ver
(
uma coisa em termos de ou tra. 1'0r13 11tO, os sen tidos obj etivos nllo P'Odern ser
(
metafó ri cos.
Já que a meláfom lIIio pode ser IImll qlles/rJo de sentido. elo pode ser sonU'Ille
(
I"'IU !/Ue5 /rio de Ung/lat;em . Uma metHo ra, so b a concepção objet ivistn. pode. no (
m:iximo, fornece r-Ilos um modo indircto de fa/a r so bre 31gum se ntidu objetivo (
SO', P'Or meio do empre go de palavras em uma llng ua que se ria usada, literalmen- (
te, para falar de o utro se ntid o objetivo 50. usu:lI rn ente fal so, de modo fl ag rant e.
(
Novamenle por definição. não pode haver qualqller c;oisa c;{Jmo lima meláfora
(
lilUal (co",·c ll ciQlwl). Uma frase é usada 1'1eralmente quand o SO ° = SO. istu é.
quando o se ntido do fa lan1e é o se utido objctivo. Met Horas so men tc podem surgir (
quando SOo "I- 50 . Desse modo. de acordo com a definição o bjelÍ vist a. UIIIJ (
mCIMora literal é. em te rm os, uma contradição c uma linguagem literal n3.o pode (
se r metafórica.
(
A metáfora {lo/Ie cOllfriblli, apl' nllS {llI ra /1 c;omp rcensiio. fOle/ldo" IOS ver sintill/'
(
ridmles objc/i'·as. is/o é. similaridades c/llre os se ntidos objeti"os SO e SO·. Essas
(
similaridades dcvc lII ser bascad:.s em propriedades partilhodns ill uelllCS aos
obje to s - propriedade s qu e 0$ obj etos realmcn1e têm. em e P'Or si mcs mos. (
(
(
321
(
\ !)
'O)
( ,"
() Portamo, a concepção objetivista. do sen tido é completamt:rItc con-
("
, metáfora tem permanecido entre nós desde a época dos gregos. Ela
(') corresponde à metáfora do CANAL ("O sentido esd. ali mesmo, nas
(~
('li
".,.
( -,.-
( "'
", -_.
- f-~~~-" --- - - --
( ~~
~;
( "
(')
(l
(')
(~
('>
(l
('\
'J
(~,
n
('\
.f"'\
r',
'
, ii 322
,")
," li
27. COMO A NLEI;'<Ú'ORA REVELA
AS LlMIrAÇÕES DO MITO DO OBJETTVlSMO
323
Os problemas concernentes ao sentido nas linguas naturais e ao modo
como as pessoas compreendem tanto sua língua quanto suas experiências s:io
pam nós probletms empíricos e não objelo de assunçõcs e argul11ent.'lçõcs
filosóficas a pri()á. Sclccionamos a medfom e o modo cofl.lo a compreendemos
entre os possíveis domínios de evidências que poderiam sustentar essas questões.
Focalizamos a metáfora pelas (1U.'ltrO razões seguintes:
Na tradição objctivista, a metáfora é, quando muito, de interesse
marginal e é excluída totalmente do esrudo eh semântica (sentido objetivo).
Ela é vista como apenas margimlmente relevante para uma cxplicaç:io da
verdade.
Contudo descobrimos que a metáfora está preseme, não só cm nossa
linguagem mas cm nosso sistema conceptual. Parece inconcebível para nós
que um fenômeno tão fundamental para nosso sistema conceptual não seja
central para uma explicação da verdade e do sentido.
324
\
(
(
( )
( ) Duas condições precisam ser preenchidas para que a explicaç:ío
()
objecivista seja sustentável. Primeiro, o sentido pretendido pelo faJame 50',
()
referente a idéias, deve ser um sentido dado objetivamente, tendo condi-
( j
ções de verdade objctiva. Em outras palavras, as afirmações seguintes sobre
(")
a mente e as idéias devem ser olv"tlivoll1tnft verdadeiras por causa de suas
(
- - - - - - - propriedades inerentes: -
()
() As idtiM devem, em vinude de suas propriedades Íllfremfs, se r o tipo de coisa que pode
-, ter uma foon." ser transfonnada e ser absorvida peJa mente.
(
c) A mente deve, e m virtude de suas propriedades inercmu, ser O tipo de coisa que pode
realit.ar ações, trnnsform.v id6as e absor.. é-las.
(\
326
A palavra diguiroôginalmeOle se referin a um conceilO al ime ntar.
Por uma IIICtáfor.l ··VIVII", a palnvm diguir foi transftrida paro um stnüdo obj.:üvo
pree~isttntt 00 reioo das id~i3S, com base em similnridades objetivlls pre.:~istenles entre
alimento e idéias,
Eventuahneme. II metáfor.l "morreu·' e o uso metufórico de digui, umll jJlj(j tomotl-se
convencioML Dicuj" pOrtanto, obteve um segundo sentido literal objetivo, o que ocorTC
em SO', Isso ~ visto, sob a perspectiva objetivistn, como um modo típico de forneeer
palllvms paro sentidos pree~isten tes p:tra os quais falta m p.lla\'ras queos e.x pressem. Todos
esses casos serinm conside mdos homOni mos.
------~ ~-~-~-----
327
.•
'
328
(
(
entre nós" c "Essa relação está morrendo". O conceito de Af,IOR niio é (
inerentemente bem definido. Nossa cultu ra oferece-nos modos convencio- (
nalizados de ver as ex periências amorosas via medforas convencionais (
como AMO I~ É. UMA V1 f\GEM, AMOR Ê UMA FORÇA FíSICA etc., e nossa (
linguagem reflete-as. Mas, de acordo com a explicação objetivista (baseada (
ou nas metHoras mort:lS, na homo rúmia fraca, ou n:l abstração), o conceito (
( ,.~
.-
( ]\ d:1similaridade (i ncluindo negar que já houve algum dia qualquer med.fara
( ~~ entre eles) e voltar-se par:'! a posição de homonímia forte. De aco rdo com
( ) essa visão, há uma palavra digtdrc0m. dois sentidos totalmente diferentes
~
(') e não rcb.cionados - tão diferentes quanto os dois sentidos para pI/III (mil
( "\ ,hl/Ie no futebo l americano t IIIlJ barro aberto de fundo achatado (0'" ponta!
( . .,. quadradas.· Como vi mos (no capírulo 18), a posição da homonímin forte
y
l) não dá cont:!.:
()
Da sistematicidade interna
()
Da sislcmaticidade uterna
() Das extensões da parte usada da metâf0f3
<) Do liSO de uperi\!nd a concreta p:1I3 estruturar txperiência abstraIa
('~ Das similaridades que, de rato, conS intamos entre os dois sentidOS dedigtrir. baseados na
( )
330
ler que levarem conta a sistematicidade. a similaridade,:t com preensão tlC.
Para ess:t concepção, os usos metafóricos convencion:tis de d{geârenvolvem
meramente homonimias e não quaisquer metáforas, viv:\s ou mort:ts. As
únic:ts metáfo ras que eles reconhecem são as metáfor:ts não convencioll:lis
(por exemplo, "Suas idéias são fe it:ts de es tuque bar:ttQ" oU "O amor e uma
obra de arte colaborativa"). Já que essas são questões de sentido do fabnre,
eles cliôam, e não do sentido literal objetivo de Ullla frase, questões de
verdade e de sentido que surjam em relação a elas deve m ser trMadas pela
explicação do sentido do fa bnte dada !Icima.
33 1
Essa resposta objelivista desL1ca perfcit:unenle a diferença fundamen-
tai entre objetivismo e experiencialismo. Ela, no fundo, ê uma reafirmação
de sua preocupação funda menml com a "verdade absolul:l" e o "sentido
objetivo", inteiramente independente de qualquer coisa que lenha a ver com
o agir e a compreensão humanos. Contra isso, lemos sUSl'enUldo que não h:í.
nenhuma razão par:t crer que exista uma verdade abSOluta ou um sentido
objetivo. Ao invés disso, sustentamos que é possívc.l dar uma explicação de
verdade c sentido somente relativa ao modo como pessoas funcionam no
mundo e como o compreendem. Estamos simplesmente num uni"'erso
filosó fi co (li fere nte dos objetivistas.
332
(
(
núme ros. As entidades 1l1alemáticas têm propriedades inerentcs, por exelll- (
pIo, O 1m ê ímpar. E há relaçõcs fixas entre as entidades, por exemplo, o IIO/.'C (
é o quadrado de frif. t\ lógica Illat"emática Coi desenvolvida como pan e de
uma iniciativa de forntte r fun damentos para a matemática clássica. t\ semân-
<
(
tica formal também se desenvolveu com esse intuito. Os Illodelos usados na
(
semântica fo rmal silo exemplos do que chamaremos de "Illo<lclos objeLÍvis-
(
tas" - modelos apropriados aos universos do (liscurso nos quais há entidades
(
distintas que tcm propriedades inerentes e nos (]uais há relaçõcs fixas entre
(
as entidades.
(
t-.h s, o mundo real não é um universo o bjetivista, esp<.!cialmente
(
mqucJes aspectos que têm a ver com os seres humanos: a experiência
(
hum:ma, as instinlições humanas, a linguagem humana, o sistema conceptual
(
humano. O que significa ser um objetivism radic:!l é alefj<l r que há um modelo
(
obje ü~ista que se e~c:! ixa no mundo com? ele [ealn.le~~e é. Acabamos de
(
argumentar que a f!..loso fi a objetivist:l ê empiricamente incorrela por fazer
(
predições fa ls:ls sobre a linb'llagem, a verdade, a compreensão c o sistema
conceprual humano. Com base nisso, alegamos que a filosofia o bjetivista (
fornece uma base inadequada par.l as ciências humanas. Co!1t\l(!o, muitos (
matcmáticos, lógicos, Iingüistas, psicólogos c cientistas da área da comput:l- (
ç~o, que tcm idé.i:ls reconhecidamente brilhantes, clabornram modelos obje- (
uvistas para uso nas ciências humanas. Será q\le estamos afirmando que lOdo (
o lrabalho dcles é inútil e que os modc.los objetivislas não devem ler lugar (
nas ciências humanas? (
(
{
7
()
fJl realmente ê. Mas se rejeitarmos essa premissa, que papel resta parn os
() modelos o bjetivist':ls?
( ,~ Antes de podermos responder a essa pergunta, devemos CXamlO:lf
O
( , ir>Cluindo um início. um destino. um
C:UUillho, e Dssim por diante.
c~nlÍnho, 3 distallCia que j~ percOlTemos nesse
(. ' Por ser cada metáfora individual, illlemameme collsistente. cada conjunto consisteme de
334
aqueb situação em termos de um modelo objetivista. O que fica de fo ra
siio as bases experiendais das medforas e o que as metMoras escondem.
335
modelo é um reflexo preciso d:l re:llid:lde. Há urn:l bO:ll.lôO peb qml nossos
sistelll:ls conceptuais têm metáforas inconsistentes pal.l \,1m único conceitO.
1\ razão é <luC n:io há um:l metáfora úmca que silVa. Cada metáfora permite
compreender um aspecto do conceito, escondendo outros. Operar apenas
em termos de um único conjunto consistente de metáforas ê esconder muitos
aspectos da realidade. Agi r de modo bem sucedido em nossas vidas cotidi:mas
parece exigir uma constante transferência de metáforas. O liSO de muitas
metáforas que s:io inconsistentes entre si parece necessário para. nós se
(lucremos compreender os detalhes de nossa. existência diária.
336
(
(
Contud o, o estudo de modelos computacionais pode nos revelar muito
(
sobre as capacidades intelectuais humanas, especialmente nas áreas cm q ue o
(
homem pens:"! e age cm partC Cm termos de modelos o bjetivist:ls. Além disso,
(
as técnicas fo rmais atuais na ciência da co mputa ç~o prometem fo rnecer
(
representações de conjllnlOS illfOlIJultlllU de metáforas. Isso até poderia levar a
l
illsighlJ sobrc o modo como as pessoas pensam e agem em termos de conceitos (
met afóricos coerentes, mas inconsistentes. Os limites do estudo fo rmal pare~ (
cem estar nas bases experienciais de nosso sistema conceptual. (
(
Sílltm (
{
Nossa concl \.l S~O geral é que o programa objetivista é incapaz de dar (
uma explicação satisfatória da compreensão humana e de qualquer questão (
q ue exija tal explicação. Entre essas questões estão: (
l
• o sistema conceptual humano e a natureza da racionalidade humana; (
• a comunicação e a lingu:tgem humana; (
• as ciê ncias hum:lnas, cspeci:llmente a psicologia, a antro pologia, :l (
sociologia e a ]ingiiística ; (
• os valo res es téticos e morais; (
• a compreensão cientifica, via sistema concep tual humano; (
• qualquer modo em q ue os fundamentos das matemáticas baseiem ~ (
se na compreensão humana (
(
Os elementos básicos de uma explicação experiencialista de com-
(
p reens30 - :'iS propriedades intcracionais, as gtJlrtllJ exptáena'aü t OJ COIm:iloJ (
meltifóácoJ - patuem Jer nectIJfírioJ pam qua/qllcr Im/amcllto adeq/lado dUJ(lJ 'luulÕtJ
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28. flLGUAiASDVADEQUAÇÕES
DO MITO DO SUBJE77VISMO
339
Consideremos brevemente algumas posições subjeuvistas em relação
ao modo como as pesso:!.s compreendem sua experiência e sua linguagem.
Os exemplos vêm principalmente da tradição romântica e são encontrados
nas illlerpretações conrempo r;i/lea s (provavelmenle fIIÓJ interpretações) da
reccnte fil oso fia européia, cm particub.r nas tradições da Fenomenologia c
do Existencialismo. Essas interpretações subjetiviSl:ls são popularizações
de lal modo amplas que escolhem e sclecionam clemenlos da filosofi a
européia al1ti~objctivisra, (re{!üenlemen te ignorando o que to rna cerlas
tenclcncias do pensamento europeu sêrias tentativas de fornecer uma base
para as ciências humanas. Essas posições sub jetivistas, enumeradas abaixo,
podem ser caracterizadas conjuntamente co mo "fenomenologia do cafcú*
I
nho". E las incluem:
I
• O !til/ido i illlliLiduaf. O sentido' é serilpre ref., tÍVõ -ãõ que êS"ignifi. --I
cante e significativo para uma pessoa. O que um indivíduo acha
signiGcante e o que significa paro ele é uma questão de intuição, de
imaginação, de sentimento e de experiência individtml. O (llIe
alguma cois:!. significa parn um indivíduo nunca é totalmente
conhecido ou comunicado a nenhuma outra pessoa.
• A experiência i pural!1C!1le bolú/iCtT. Não hfi qualquer estmlur:lção de
nossa experiência. Qualquer estrutura {lue nós ou outra pessoa
impusermos sobre nossa experiência é completamente artificial.
• OJ Jm/MoJ IIno li", (JlII1/qfll:r ti/m/11m tla/llml. O sentido para um
indivíduo é uma questão de seus sentimentos, suas expedências,
suas inUliçõcs e seus valores particulares. E les são puramenle
holísticos; não têm qualquer estrutura natura!. Conseqüentememe,
os sentidos não têm qualquer estmtura natural.
340
(
(
(
• o COlltexto é deses/m/flrado: O eonte"to necessário para compreender (
um enunciado - físico ou culturalóu pessoal ou interpessoal - niio
(
tem estrutur:l. nat\lral. ·
(
• O sentido não pode ser /la/ura/ Otl adefjuadrl!!lC/l/e n:presentado: Essa é uma
(
conseqüência do fato de que os sentidos não têm ep.lalquer estru-
(
tura natural, de 'lue nunca serjo conhecidos ou comunicados (
totalmente para uma outra pessoa e de que o contexto necessário (
para compreendê-los é desestrutmado. (
(
Essas pOS1ÇÕes subjetÍvisras todas dependem de um pressuposto (
básico, ou seja, o de 'lue a experiência não tem eSlrutllta natma! e, portanto, (
niio pode haver qU:lI'luer restrição externa natura! sobre o sentido e a (
verdade. Nossa resposta é conseqüência ditet:l. de nossa descrição do modo (
como nosso· sistema· conceptual está fuodament:ldo: Argumentamos que (
nossa experiência é estruturada holisticarnente em termos degcsltJ/ú expe- (
rienciais. Elas têm uma estrutura que não é arbitrária. Pelo contrário, as (
dimensões 'lue ca racterizam a cstmtura dessasgesta/ts emergem naturalmen- (
te de nossa experiência. (
Isso niio significa negar:l possibilidade de que o sentido que qua!(luer (
coisa tenha para mim esteja base:1do nos tipos de cxperiênci:1s flue cu já t
tive c 'lue você não teve, c que, portanto, eu niio conseguirei comunicar (
completa e adequadamente esse sentido para você. No entanto, a metáfora (
fornece um modo de comunicar pt/ma/mente as experiências niio comparu- (
lhadas e ê a eStruUJr:"1 natural de nossa experiência 'lue torna isso possível. (
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29. AAUERNA1TVAEXPERJENClAUSTA.·
DANDO NOVO SEN1TDOAOS VEUIOS MITOS
t•
ações nos meios cultural e fisico. O mito é também motiv:tdo por um:l.
343
preocupação com a justeza c a !mparcialieb dc nos casos cm que isso é
impOrL;lIllC c pode ser atingido de uma m:lllcira razo:lvel.
i
,i O mito cxpcricnciaüst:', como temos esboçado, compartilh:l essas
preocupações. O cxpcricncialismo afasta-se do objctivismo, no entanto,
cm duas ques tões fundamentai s:
::1
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I,
o cxpcricncialismo responde negativamente :ts duas questões. A
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30. COMPREENSAo
I- - - - -- - ycmos que na, por {rir dos mitos t:l.ntodo objetivismo- quanto' do--~·
subjetivismo, uma única motivação, isto é, a preocup:lção com a compreensão.
O mito do objeovismo reflete: a necessidade humana de compreender o mtUldo
exterior a fim de poder agir eficientemente nele. O mito cio subjctivismo est:i
centrado cm aspectos interiores da compreensão - o que o indivíduo acha
sigru6cativo c o que faz com que sua vida valha a pena. O mito expecienci.1.list.1
sugere que essas não são preocupações opostas; ele oferece uma perspectiva na
<lua] os dois tipos de preocupações podem se unir simult:UlL"amente.
Os velhos mitos partilham uma perspectiva comum: o homem sepa-
rado de seu meio. No mito do objetivismo. a preocupação com a verdade
surge de uma preocupação com uma lHU:lção bem sucedida. Dada um:!
visão de ser humano separado de seu meio, um:t :tm:tção bem sllcedid:t
,
signific:t dOl!línio sobre o meio. Daí as metâforas objetivistas CON HECIMEN-
TO É PODER e CIÊ1.'.IClA FORNECE CONTROLE DA NATUREZA.
347
!\
o principal tema do mito do subjctivismo é a tentativa de superar a
aijcnaçiio (Iue rcsult!\ de olhar o ser humano separado de seu meio c de
OUlros seres humanos. I sso consiste num envolvimento do ClI - da indivi-
duaüd;lcle - c de uma grande confiança nos sentimentos, na inLUição c nos
valores pessoais. 1\ versão ro mântica envolve deleitOlr·sc nos sentidos e
sentimentos c tentar obter uniiio com a natureza por meio de apreciação
passiva dcla.
o mito cxpcricncia lista con sidera O homem C0l110 parte do meio, não
separado dcle c focaliz a a constante intcração do homem com o ambiente
físico c com as outras pessoas. Vê essa intcmção com O meio envolvendo
a transformação lln.hl.1:l. Você não pode agir no meio sem tr:msformâ-lo ou
sem ser transformado por ele.
348
(
(
(
civista de uma explicação da verdade. É por meio da estnlluraçiio coerente (
eh experiência que a :llternaciva experienci:llista s:lusfn :i neccssichde (
subjetivista de sentido pessoal e signi ficante. (
Porém, o experiencialis mo o ferece mais do que apenas uma síntese (
o 'I
mundo e de ajustar o modo como você categoriza sua experiênci:-.. Os
("'>J problemas de compreensão mútua não são exóticos; eles surgem em todas
(1 as conversas prolongadas em que a compreensão é importante.
() Nos casos verdadeiramente importantes, o sentido quase nunca é
() 11
comunicado de acordo com a metáfora do CANAL, isto é, quando uma
\ J pessoa transmite uma proposição fixa e clara para uma outra pessoa por
(J meio de expressões em um.a linguagem ordinária, em que ambas as panes
"
( . têm em comum todo o conhecimento relevante, os princípios, os valores
( ; etc. Quando a situação está complicada, o sentido é negociado: você
(, lentamente descobre o que vocês têm em comum, sobre o que é mais
( I
(.
., seguro falar, como você pode comunicar experiências não compartilhadas
ou criar uma visão compartilhada. Com a necessária flexibilidade para
O ,, alterar sua visão de mundo e, com sorte, com capacidade c tolerância, você
,
( " pode alcançar uma compreensão mútua.
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(' 350
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C
As teorias da comunicação baseadas na metáfora do CANAL mudam
do patético para o perverso, quando aplicadas indiscriminadamente em
grande escala, por exemplo, na fiscalização do governo ou nos :lrquivos
computadocizados. Nesse caso, o que é mais decisivo para a verdadeim
compreensão quase nunca é incluído e :lssume-se que as pabvras no :trquivo
têm sentido em si mesmas - sentido descorpotificado, objetivo, compreen-
sível. Quando a sociedade vive em larga escala pela metáfora cio CANAL, o
equivoco, a perseguição e muitos ourros males são resultados prováveis.
A (1II10fOmpru!I5iío
,
em nossas t::xperiências diversas p:lra dar coerência a nossas vidas. Assim
como tentamos enContrar metáfo ras para iluminar e tornar coereOle o que
351
•
"
o nl"a!
Estamos constantemente realizando rimais, desde rimais eas u:lis
como: faz er o café de manhã na mesma seqüência de estágios a cada dia c
assistir às notícias das onzc horas atê o fim (depois de já [(~ r assistido :J. elas
352
(
(
(
às seis horas), até ir a jogos de fu tebol, a jantares de Dia deAção de G raças, \
a aulas universitárias de vis itantes importantes e assim por diante, até às (
mais solenes práticas religiosas. Todas são práticas estruturais repetidas, (
algumas conscientemente projeradas em detalhes, algumas mais conscien- (
temente representadas 'Iue outras e algumas surgindo espontaneamente. (
Cada ritlml é um aspecto repetido, coerentemente estfllturado e unificado (
de nossa experiêncü. Ao pratid-los, damos eSlmtura c sentido a nossas (
atividades, minimizando o caos e a disparidade em nossas ações. Em nossos (
termos, um rinJal é um tipo degesta/! experiencial. É uma seqüência coerente (
de ações, estruturada em termos das dimensões naturais de nossa experiên- (
cia. Os rituais religiosos são normalmente atividades de lipo metafórico (
que, cm geral, envolvem metonímias - objetos do mundo real significando (
entidades do mundo tal como são definidas pelo sistema conceptual da (
religião em qllestào:-A -estrutma coerente do ritual religioso reflete um (
aspecto da realidade tal como ela é percebida por e.ssa religião. (
353
(
()
CD
(} por exemplo, "Você não sabe para que está abrindo a porta", "Vamos
() arrcgnçar nossas mangas c começar a trabalhar" etc.
Cj! Sugerimos que:
()
() • As metáforas pelas quais vivemos, culturais ou pessoais, são par-
() cialmente preservadas cm rimaI.
() • As metáforas culturais, e os valores implicados por elas, siio pro-
() pagadas por ritual.
() • O ritual consumi uma parte indispensável da ba,sc experiencial de
() nossos sistemas metafóricos culturais. Não pode haver cultura sem
() ritual.
()
() Da mesma forma, niio pode haver visiio coerente do eu sem ritual
()
-'
, mesmos e com nosso sistema de metáforas c metonimias pessoais. Nossas
concepções de nós mesmos normalmente inconscientes e implícitas e os
l)
( ;. valo res pelos quais vivemos são talvez mais fonem ente reOecidos nas
( . pequenas coisas que fazem os e repetimos, iS[Q é. em rituais casuais que
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emergiram espontaneamente de nossa vida quotidiana.
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()
() ri experiintia ti/ética
I ,
Na perspectiva experiencialista, a metáfora é uma questão de racióna~
lidade imaginativa. Ela pennite uma compreensão de um tipo de experiência
em lermos de uma outra, criando coerência em virtude da imposição degp/alls
354
que são CSlrUturadas por meio de dimensões natmais da experiêncIa. As
medforas novas são capazes de criar novas compreensões e, portantO, 1l0v:as
realidades. I sso deveri:a ser óbvio no caso d:a metáfo ra poêric:a em que a
linguagem ê um meio peJo qual novas metáforas concepmais são criadas.
A politica
355
adequada da <juest.1.o, porém, até onde sabemos, nenhuma ideologia política
trata a quesrno principal de frente. D e fato, muitas ideologias argtlffientam
que questões de sentido eultur:11 ou pessoal são secundárias, ou são para ser
trntadas mais tarde. Qualquer uma dessas ideologias é desumaniZ:ldOI":l.
As ideologias políticas e econôm!cas são estrurur-aclas cm termos
metafóricos. Como todas as outras metáforas, as metáforas políticas e
cconônucas podem encobri r aspectos da realidade. Mas, n:\ área de política
e economia, as metáforas sigtuficam mais, porqlle restringem nossa existên-
cia. Uma metá fora em um sistema politieo e cconômico, cm virrude do quc
ela esconde, pode levar :i. degradação humana.
Considere apenas um exemplo: 11lJ\BAI..HOE Ul\l RECURSO . A maioria
das teorias econômicas contemporâneas, capitalistas Oll socialistas, trata o
trabalho como um recurso natural ou um bem, equivalente a matérias-primas,
_ _ _ _~ falam nos mesl.nos termos sobre sell CllstO c sua ofem. O que é oculto pela
metâfora é a narureza do tl":lbalho. Nenhuma distinção é feita entre {I":lbalho
significativo e trabalho desumanizador. Em Iodas as estaústicas sobre traba-
lho, não há nenhuma sobre trabalho SigllifiC(/liw. Qu:mdo aceitamos a met:i fora
·rnAI3AUIQ É UM RECURSO e assumimos que o custo de recu rsos definido
assim deveria ser mantido baixo, emão a mão-de-obra barata to rna-se algo
bom, cCjuivalente a pctróleo bar:lto. A exploração de seres humanos por meio
dessa metáfora é mais óbvia em países 'lue se gabam de "uma o ferta
virtualmente inexalldvcl de mão de obra barata" - uma afirmativa econômica
neutra que oculta a realidade de degradação humana. Porém, virtualmente
todas as maiorcs naçõcs industrializadas, capitalistas ou socialistas, usam a
mesma mcráfora em suas teorias e polfticas econÔmicas. A aceitação cc&ra da
llletMOr:l pode ocultar realidades degradantes, seja a do trabaUlo destituído
de sentido para oper.í dos e para profissionais cohrinho-branco nas socieda-
des 'avançadas'; seja a da escravidão virtual no mundo inteiro.
356
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POSFAoo (
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Colaborar na escrita deste livro nos deli a oportunidade de explorar
(
nossas idéias não somente discutindo entre nós, mas, literalmente, com
(
centenas de pessoas - alunos c colegas, amigos, parentes, conhecidos c até
(
com os estran hos da mesa ao lado num café. E após Icrm os refletido sobre
(
todas as conseqüências de nossas idéias p:lra a ftIosofia e para a [ingüística,
(
o que ficou de mais importante cm nOSS:lS mentes fo ram as própnas
(
met.'Í.roras c os insights que elas nos trouxeram sobre nossas própnas
(
experiências cotidianas. Nós ainda fi camos maravilhados qu:tndo nos
(
percebemos c aos outros ~l ll oss a volta vivendo guiados por mctMoras, Ims
(
como 'mMPO É D I NH EIItO, AMOR Ê UMA VIAGE.M E PROBLEMAS SAO
(
QUElm.A.CABEçAS. Pensa mos sem cessa r ([ue é import':lnte perceber (Iue
(
a mandr:t como aprendemos a ver o mu ndo não é a ll11ie:t mand ra c que é (
possível ver alêm das 'verdades' de noss:t cul tura. (
I
j 357
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O· Mas as metáforas não são meramente fenômenos que devem ser
O decifrados. De f.uo, só é possível decifrá-Ias usando Qutms metáforas. Ê
O como se a habilidade de compreender a experiência por meio da metHara
(j\ I
fos se um dos cinco sentidos, como ver, ou tocar, ou ouvir, O que quer dizer
C.) que nós 56 percebemos e experienciamos uma boa p:tne do mundo por
(..Jl> meio de metáforas. A me tHora é parte tão importante da nossa vida como
o
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j o toque, e cio preciosa quanto.
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358
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1
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360
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