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sentido jurídico proposto por Kelsen traz com ele 2

desdobramentos:
I. Sentido lógico-jurídico: É a Constituição
hipotética que foi imaginada antes de escrever seu
texto.
TEORIA GERAL DA CONSTITUIÇÃO
II. Sentido jurídico-positivo: É a norma suprema
em si, positiva, que efetivamente se formou e que
DA CONSTITUIÇÃO servirá de base para as demais do ordenamento.

CONCEITO Diz-se que a norma em sentido lógico-jurídico é o


fundamento de validade que legitima a feitura da norma
jurídico-positiva.
A Constituição é um conjunto de normas jurídicas
supremas que estabelecem os fundamentos da
d) Concepção Cultural: Konrad Hesse, na sua obra a Força
organização de um estado e da Sociedade, dispondo e
Normativa da Constituição diz que a Constituição seria a
regulando a forma de estado, a forma e sistema de
força ativa e ordenadora da vida do Estado e da
governo, o seu regime político, seus objetivos
sociedade, para produzir e manter a sua força normativa,
fundamentais, o modo de aquisição e exercício do poder,
deve interagir com a realidade político-social, de forma
composição, as competências e o funcionamento de seus
recíproca. Resgatou o pensamento de Ferdinand Lassale, e
órgãos, os limites de atuação e a responsabilidade de seus
o flexibilizou, dizia que Lassale havia pecado em ignorar a
dirigentes, e fixando uma declaração de direitos e
força que a Constituição possuía de modificar a sociedade.
garantias fundamentais e as principais regras de
Desta forma, a norma constitucional e a sociedade seriam
convivência social.
reciprocamente influenciadas.

SENTIDOS DA CONSTITUIÇÃO e) Concepção Axiológica: Ronald Dworkin dizia que a


constituição é um sistema objetivo de valores (que são
a) Sentido sociológico: Lassale, em seu livro “¿Qué es una revelados através dos princípios e dos direitos
Constitución?”, defendeu que uma Constituição só seria fundamentais).
legítima se representasse o efetivo poder social, refletindo
as forças sociais que constituem o poder. Caso isso não
h) Concepção Aberta: possui texto adaptável às novas
ocorresse, ela seria ilegítima, caracterizando-se como uma
circunstâncias do Estado, sem necessidade de grandes
simples “folha de papel”. A Constituição, segundo o autor,
reformas, necessitando apenas de algumas adaptações.
seria a somatória dos fatores reais do poder dentro de
uma sociedade. Assim, a existência da Constituição
independe de documento escrito, mas sim, decorre dos SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO
eventos determinantes da sociedade. Dessa forma,
Lassale dizia que todos os países possuem, em todos os
momentos da sua história, uma constituição real e efetiva.

b) Sentido político: Carl Schmit distingue Constituição de


lei constitucional. Constituição, conforme o autor só se
refere à decisão política fundamental (estrutura e órgãos
do Estado, direitos individuais, vida democrática etc.); as
leis constitucionais seriam os demais dispositivos
inseridos no texto do documento constitucional. Nessa
visão, em razão da Constituição ser produto de uma certa
decisão política, ela seria, nesse sentido, a decisão política
do titular do poder constituinte. Schimitt pregava que a
Constituição formal, escrita, não era o importante, pois,
deve-se atentar ao conteúdo da norma e não à sua forma A Constituição ostenta posição de proeminência em
(conceito material de constituição). relações ás demais normas, seja quanto ao modo de sua
elaboração, seja quanto à matéria de que tratam. Para
c) Sentido jurídico: Hans Kelsen alocando a Constituição ilustrar essa supremacia Kelsen utilizou uma pirâmide, que
no mundo do dever ser, e não no mundo do ser, que a Constituição é mais "enxuta", tem poucos detalhes
caracterizando-a como fruto da vontade racional do e é dela que irradiam todas as outras normas, que vão
homem, e não das leis naturais. Isso significa que a cada vez encorpando mais o chamado "ordenamento
Constituição tem origem nela própria. Não se apoia em jurídico".
qualquer pensamento filosófico, político ou sociológico. É
uma norma maior, uma norma pura, fundamental. Para OBJETO DAS CONSTITUIÇÕES
Kelsen, o que importa para ser Constituição é ter a forma
de uma Constituição (conceito formal de constituição). O
Têm por objeto definir a estrutura do Estado, os seus b) Formal: independe do conteúdo, basta que o assunto
princípios fundamentais e a organização do poder político. seja tratado em um texto supremo.
Podendo estabelecer as principais regras de convivência
social e implementar a ideia de Direito e inspirando todo o Quanto à Elaboração
sistema jurídico e por fim fixando os fins sócios-
econômicos do Estados e da base da Ordem Econômica e a) Dogmática: elaborada por um órgão Constituinte
Social. consolidando o pensamento que uma sociedade possui
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES naquele determinado momento. É sempre escrita.
b) Histórica: não é elaborada em um momento específico,
Quanto à Origem ela surge ao longo do tempo. Não precisa ser escrita, pois
possui seus fundamentos já solidificados.
a) Promulgada (democrática/popular): aquela legitimada
pelo povo. É elaborada por uma assembleia constituinte Quanto à Alterabilidade
formada por representantes eleitos pelo voto. Ex.
Constituições de 1891, 1934, 1946 e 1988. a) Rígida: se sobrepõe a todas as demais normas. Assim,
somente um processo legislativo especial e complexo
b) Outorgada (imposta): aquela imposta unilateralmente poderá alterar seu texto. Ex. 1988.
pelos governantes sem manifestação popular. Ex. 1967.
b) Flexível: está no mesmo patamar das demais lei, não
c) Cesarista (ou bonapartista): carta considerada necessitando nenhum processo especial para alterá-la.
outorgada, porém, é submetida a uma votação popular
para que seja ratificada. Não se pode dizer que essa c) Semirrígidas: Possuem uma parte rígida e outra flexível.
participação popular torna a constituição democrática. Ex. Constituição Brasileira de 1824.

d) Pactuada: compromisso político instável entre duas d) Imutáveis: Não podem ser alteradas.
forças políticas opostas, como termo da relação de
equilíbrio a monarquia limitada. Ex. Constituição Francesa Quanto à Finalidade
1291.
a) Garantia (negativa): se limita a trazer elementos
Constituição é o nome que se à promulgada e Carta é o limitativos do poder do Estado.
nome reservado para aquela Constituição outorgada.
b) Dirigente: possui normas programáticas traçando um
Quanto à Forma plano para o governo.

a) Escrita (ou instrumental): formalizada em um texto c) Balanço: utilizada para ser aplicada em um
escrito, documento único. Ex. CF de 1988. determinado estágio político de um país. De tempos em
tempos é revista para se adequar o texto à realidade
b) Não-escrita (costumeira): não se manifesta em social.
estrutura solene. A matéria está assentada pela
sociedade. Quanto à Relação com a Realidade

Quanto à Extensão a) Normativa: Constituição que é efetivamente aplicada,


normatiza o exercício do poder.
a) Sintéticas: concisas, aquelas que se restringem a tratar
das matérias essenciais a uma Constituição, basicamente b) Nominal (nominalista): ignorada na prática.
a organização do Estado e direitos fundamentais. Ex. EUA.
c) Semântica: serve apenas para justificar a dominação
b) Analíticas: tratam de várias matérias que não são as daqueles que exercem o poder político.
fundamentais. Elas são a tendência das Constituições
atuais, já que se percebeu que o papel do Estado não Quanto à Dogmática
pode se limitar a garantir as liberdades do povo, mas deve
agir ativamente para assegurar os direitos. Ex. CF/88. a) Ortodoxas: influenciada por ideologia única.

Quanto ao Conteúdo b) Ecléticas: influenciada por várias ideologias.

a) Material: adotam-se como constitucionais apenas as Quanto ao Local de Decretação


normas essenciais a uma Constituição.
a) Heteroconstituições: constituições elaboradas fora do a atuação dos poderes estatais. Ex. Título II (Dos Direitos e
Estado no qual elas produzirão seus efeitos. Garantias Fundamentais);

b) Autoconstituições: constituições elaboradas no interior c) Socioideológicos: tratam do compromisso entre o


do próprio Estado que por elas será regido. Ex. CF/88. Estado individualista, que protege a autonomia das
vontades, com o Estado Social, onde as pessoas fazem
Quanto a validade parte de uma coletividade a ser respeitada como um todo.
Capítulo II do Título II (Dos Direitos Sociais);
a) Orgânica: há uma unidade, como se fosse um
organismo. Há uma interconexão entre suas normas. d) Estabilização Constitucional: consubstanciados nas
b) Inorgânica: não há uma unidade documental na normas constitucionais destinadas a assegurar a solução
Constituição. Ex. Constituição de Israel. de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do
Estado e das instituições democráticas. Constituem
Classificação da Constituição Brasileira de 1988: instrumentos de defesa do Estado e buscam garantir a paz
Promulgada, escrita, analítica, rígida (superrígida), formal, social. Ex. art. 102, I, “a” (ação de inconstitucionalidade);
dogmática, dirigente, eclética, normativa.
e) Formais de aplicabilidade: regras de aplicação da
ESTRUTURAÇÃO E ELEMENTOS Constituição. Ex. Preâmbulo.

CONSTITUCIONALISMO
ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO

Podemos dizer que a Constituição surge através do


a) Preâmbulo: tem por finalidade retratar os principais
"Constitucionalismo". Ou seja, chama-se de
objetivos do Texto Constitucional, enunciando os
constitucionalismo a evolução das relações entre
princípios mais valiosos. O STF decidiu que o Preâmbulo
governantes e governados que faz surgir a Constituição. É
não tem valor jurídico-normativo, pois não se situa no um movimento que visa estabelecer limites: direitos e
âmbito do Direito, mas no domínio da Política. Assim, não garantias fundamentais, separação das funções, estrutura
é parâmetro de controle de constitucionalidade. Não estatal e forma legitima de aquisição de exercício do
sendo de reprodução obrigatória nas constituições poder político.
estaduais.
HISTÓRICO DO CONSTITUCIONALISMO
b) Dogmática: texto articulado que reúne os direitos civis,
políticos, sociais e econômicos que são veiculadas. a) Constitucionalismo Antigo: Manifestado
primeiramente na civilização hebraica (teocrática) onde o
I. Normas Constitucionais originarias: nascem com poder era limitado pela "Lei do Senhor" e posteriormente
a constituição, que gozam de presunção absoluta na civilização grega (polis) onde havia inclusive uma
de constitucionalidade, não podendo ser escolha de cidadãos para os cargos públicos, também se
declaradas inconstitucionais; manifestou posteriormente em Roma (antiga República
Romana);
II. Normas Constitucionais derivadas: inseridas por
meio das emendas, que gozam de presunção b) Constitucionalismo da Idade Média: Marcado pela
relativa de constitucionalidade. Magna Carta de 1215 onde o rei João "sem terra" teve de
assinar uma carta de limitações de seu poder para que
c) Disposições Transitórias: realiza a integração entre a não fosse deposto pelos barões. Nessa linha, além dos
nova ordem constitucional e a que foi substituída ou pactos, destacam -se o que a doutrina chamou de forais
ou cartas de franquia, também voltados para a proteção
disciplinar provisoriamente sobre determinada situação
dos direitos individuais. Diferenciam -se dos pactos por
enquanto não regulamente lei definitiva no país – ADCT.
admitir a participação dos súditos no governo local
(elemento político);
Não há hierarquia entre as normas constitucionais.
c) Constitucionalismo Moderno: Marcado pela Revolução
ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO Francesa e pela Independência dos Estados Unidos, onde
o povo realmente passava a legitimar a Constituição e
a) Orgânicos: regulam a estrutura do Estado e do Poder. exigir um rol de garantias perante o Estado. Embora parte
Ex. Título III (Da organização do Estado); da doutrina defenda que em tempos remotos já existia
algo que pudesse ser chamado de Constituição, o termo
“constitucionalismo” é recente (tem pouco mais de 200
b) Limitativos: manifestam-se nas normas que compõem
anos) e está ligado a esta limitação do Poder arbitrário
o elenco dos direitos e garantias fundamentais, limitando
dos governantes em face do povo e do respeito à lei b) 1891: Logo após a proclamação da república,
(formação de um Estado de Direito). predominaram interesses ligados à oligarquia latifundiária,
com destaque para os cafeicultores. Essas elites
d) Constitucionalismo contemporâneo: antenado com a influenciando o eleitorado ou fraudando as eleições
ideia de “constitucionalismo globalizado” está centrado ("voto de cabresto") impuseram seu domínio sobre o país
naquilo que Uadi Lammêgo Bulos chamou de ou coronelismo. Instituiu a forma federativa de Estado e a
“totalitarismo constitucional, consectário da noção de forma republicana doa governo. Os poderes voltaram a
Constituição programática”, e que tem como bom
ser 3, sendo excluído o Poder Moderador. O vice-
exemplo a Constituição brasileira de 1988. Fala -se em
presidente da república era o presidente do senado. Não
“totalitarismo constitucional” na medida em que os textos
podiam votar os mendigos, os analfabetos, os religiosos
sedimentam um importante conteúdo social,
estabelecendo normas programáticas (metas a serem de ordem monástica e os militares de baixa patente.
atingidas pelo Estado, programas de governo) e se
destacando o sentido de Constituição. c) 1934: Os primeiros anos da Era de Vargas
caracterizaram-se por um governo provisório (sem
e) Constitucionalismo Norte-Americano: Chegados à constituição). Só em 1933, após a derrota da Revolução
América, os peregrinos imbuídos de igualitarismo, não Constitucionalista de 1932, em São Paulo, é que foi eleita
encontrando na nova terra poder estabelecido, fixaram, a Assembleia Constituinte que redigiu a nova constituição.
por mútuo consenso, as regras por que haveriam de Determinou-se a proibição de diferença de salário para
governar -se. Firma-se, assim, pelos chefes de família a um mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo,
bordo do Mayflower; desse modo se estabelecem as nacionalidade ou estado civil. Houve uma reforma
Fundamental Orders of Connecticut, mais tarde eleitoral com a introdução do voto secreto e do voto
confirmadas pelo rei Carlos II, que as incorporou à Carta feminino.
outorgada em 1662. Transparece aí a ideia de
estabelecimento e organização do governo pelos próprios d) 1937: Como seu mandato terminaria em 1938, para
governados; permanecer no poder Vargas deu um golpe de estado,
tornando-se ditador. Usou como justificativa a
NEOCONSTITUCIONALISMO necessidade de poderes extraordinários para proteger a
sociedade brasileira da ameaça comunista ("perigo
O neoconstitucionalismo está marcado pela ideia de vermelho") exemplificada pelo plano Cohen (falso plano
justiça social, equidade, e emprego de valores e princípios comunista inventado por seguidores de Getúlio). O regime
norteadores de moralidade, rompendo-se a ideia de implantado, de clara inspiração fascista, ficou conhecido
positivismo ao extremo. Trata-se então de um "pós- como Estado Novo. O STF passou a chamar-se de Corte
positivismo". Para os defensores do Suprema. Foi determinado em todo o Brasil estado de
neoconstitucionalismo o direito deve ter como foco a emergência que perdurou durante todo o Estado Novo.
Constituição e está, na verdade, seria um "bloco
constitucional" onde os aspectos principiológicos e os
e) 1946: Devido ao processo de redemocratização
valores se tornam tão importantes quanto as regras
posterior à queda de Vargas, fazia-se necessária uma nova
insculpidas no texto constitucional.
ordem constitucional. Daí o Congresso Nacional, recém-
eleito, assumir tarefas constituintes. A justiça do trabalho
HISTÓRICO CONSTITUCIONAL foi constitucionalizada e passou a ser um ramo do poder
judiciário.
a) 1824: Após a independência do Brasil ocorreu uma
intensa disputa entre as principais forças políticas pelo Através da emenda de 1961, foi implantado o
poder: O partido brasileiro, representando principalmente parlamentarismo, com situação para a crise sucessória
a elite latifundiária escravista, produziu um anteprojeto, após a renúncia de Jânio Quadros. Em 1962, através de
apelidado "constituição da mandioca", que limitava a plebiscito, os brasileiros optam pela volta do
poder imperial e discriminava os portugueses. A presidencialismo.
monarquia era a forma de governo de caráter hereditário.
A religião católica era qual denominava na época. Além f) 1967: Essa constituição surgiu na passagem do governo
dos três poderes (Executivo, Judiciário e Legislativo) foi Castelo Branco para o Costa e Silva, período no qual
criado um novo poder, o Moderador, por Dom Pedro I. predominavam o autoritarismo e o arbítrio político.
Documento autoritário, a constituição de 1967 foi
Poder Moderador: Era um poder autoritário que conferia largamente emendada em 1969, absorvendo
a D. Pedro I poderes como chefe supremo da Nação, além instrumentos ditatoriais como os do AI-5 (ato institucional
de dar ao Imperador a competência para intervir nos n 5) de 1968. Competia à União a apuração das infrações
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A pessoa do penais contra a segurança nacional e a ordem política e
Imperador é inviolável e sagrada; social, bem como determinar a censura em diversões
públicas. O Presidente da Republica podia expedir
decretos com força de Lei sobre matéria de segurança normas e estabelecer a interpretação mais favorável a
nacional e finanças públicas. uma integração política, social ou que reforce a unidade
política.
g) 1988: Desde os últimos governos militares (Geisel e
Figueiredo), nosso país experimentou um novo momento e) Força normativa: não se pode ignorar a eficácia das
de redemocratização, conhecido como abertura. Esse normas, se elas estão positivadas existe um motivo para
processo se acelerou a partir do governo Sarney, no qual o tal, assim o intérprete deverá adotar interpretação que
Congresso Nacional produziu nossa atual constituição. Os garanta maior eficácia e permanência destas normas.
alicerces da República Federativa do Brasil são: a
Soberania, Cidadania, Dignidade da pessoa humana, os f) Interpretação conforme a Constituição e da presunção
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o de constitucionalidade das leis: é usado tanto para
pluralismo político. interpretação constitucional quanto no controle de
constitucionalidade. Por este princípio, o intérprete deve
HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL presumir que a lei é constitucional e quando restar dúvida
em relação ao significado da norma, escolherá aquele que
a tornará constitucional, declarando-se inconstitucional
A hermenêutica é o processo de se descobrir o verdadeiro
que se tome interpretação diversa. Assim, este princípio
teor da norma constitucional. Em regra, é o Poder
traz as seguintes decorrências: não se declara
Judiciário que interpreta a Constituição. Não se pode falar,
inconstitucional uma norma a qual possa ser atribuída
porém, que essa atividade é exclusiva do Judiciário, já que
uma interpretação constitucional; a constituição sempre
existem exceções como, por exemplo, a chamada
deve prevalecer - Sempre se interpretam as leis conforme
interpretação autêntica que é proferida pelo Poder
a Constituição, nunca se interpreta a Constituição
Legislativo.
conforme as leis; somente é aplicável a normas que
Para se interpretar a Constituição, fazemos uso de dois
admitirem interpretações diversas, não pode ser aplicável
instrumentos, os princípios de interpretação e os
a normas que contenham sentido unívoco, já que o
métodos de interpretação.
intérprete deve analisar a finalidade do legislador, não
podendo dar à lei uma interpretação que subverta o seu
PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO sentido.

Os princípios são aqueles direcionamentos iniciais, pontos g) Proporcionalidade e da razoabilidade: ambos são
de partida. São pressupostos, que devem ser observados empregados, principalmente, de forma suplementar ao
para posteriormente usar os métodos. Devem ser princípio da concordância prática ou harmonização, de
observados em conjunto. São eles: forma que, ao se ponderar os valores se tenha uma ação
que busque o melhor resultado possível, e que os
a) Unidade da Constituição: é a base da qual deriva a benefícios da ponderação sejam efetivamente superiores
maioria dos demais. Segundo ele, as normas aos malefícios causados. A razoabilidade seria um
constitucionais formam um corpo único, indivisível para princípio mais subjetivo, que se refere ao "senso comum",
fins de interpretação. Uma norma só faz sentido se a vedação ao excesso, e teria sua origem no direito anglo-
entendida dentro de todo o contexto do sistema saxão. Já a proporcionalidade, de origem germânica, seria
constitucional. Esse princípio tem como característica que: mais racional, objetivo e informado por três subprincípios:
não podemos vislumbrar em uma Constituição formal a adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido
hierarquia entre as normas; não existem normas estrito.
constitucionais originárias inconstitucionais e que não
existem contradições entre os dispositivos.
MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO

b) Concordância prática: deverá o intérprete ponderar os


A interpretação das normas constitucionais é um conjunto
valores dos princípios e normas de modo a otimizar o
de métodos desenvolvidos pela doutrina e jurisprudência
resultado da interpretação. Assim, um princípio pode
com base em critérios ou premissas diferentes, mas, em
limitar ou condicionar outro, mas não o nega totalmente.
geral, reciprocamente complementares. Os métodos são:

c) Correição funcional: embora o intérprete tenha


a) Método Jurídico (clássico): trata-se da tradicional
liberdade ao buscar o sentido das normas, ele de forma
técnica que parte do pressuposto de que a Constituição é,
alguma poderá chegar a um resultado que perturbe a
antes de tudo, uma lei e como tal deve ser interpretada,
repartição de competências que a Constituição
buscando-se descobrir sua verdadeira intenção (mens
estabeleceu.
legis) a partir de elementos históricos, gramaticais,
finalísticos e lógicos. Esse método foi proposto por Ernest
d) Eficácia integradora: o intérprete deverá, ao se deparar
Forsthof.
com problemas jurídico-constitucionais, ponderar as
b) Método tópico-problemático: a constituição passa a
ser um sistema aberto de regras e princípios que serão Todas as normas constitucionais (exceto o preâmbulo)
usados de acordo com o caso concreto. Daí diz-se que há possuem eficácia jurídica, pois mesmo que não consigam
uma “primazia do problema sobre a norma”. Esse método alcançar seu destinatário, conseguem impor a sua
foi proposto por Theodor Viehweg. observância às demais de hierarquia inferior, sendo capaz
de as tornarem inconstitucionais caso a contrariem,
c) Método hermenêutico-concretizador: a norma a ser dizendo-se assim que possuem caráter vinculante
concretizada, a compreensão prévia do intérprete e o imediato.
problema concreto a ser solucionado são os elementos
essenciais desse método. O significado total da norma
REGRAS E PRINCÍPIOS
somente será alcançado no procedimento de
interpretação tendente a aplicá-la, pois, segundo Konrad
Segundo Amaral Júnior os princípios são pautas
Hesse, trata-se de um processo unitário. Agora temos a
genéricas, não aplicáveis à maneira de “tudo ou nada”,
“primazia da norma sobre o problema”.
que estabelecem verdadeiros programas de ação para o
legislador e para o intérprete. Já as regras são prescrições
d) Método científico-espiritual: foi Rudolf Smend, quem
específicas que estabelecem pressupostos e
liderou o desenvolvimento desse método, dizendo que a
Constituição deve ser mais que um mero instrumento de consequências determinadas. A regra é formulada para
organização, nela deve conter valores econômicos, sociais, ser aplicada a uma situação especificada. O princípio é
políticos e culturais a serem integrados e aplicados à vida mais geral que a regra porque comporta uma série
dos cidadãos como ferramenta de absorção e superação indeterminada de aplicações. Os princípios permitem
de conflitos, e de desenvolvimento da sociedade. avaliações flexíveis, não necessariamente excludentes,
enquanto as regras embora admitindo exceções, quando
e) Método normativo-estruturante: analisa-se a norma contraditadas provocam a exclusão do dispositivo
tentado analisar a sua função como estruturadora do colidente.
Estado. Assim, o intérprete deve observar dois elementos:
A norma constitucional, em si e os elementos de NORMAS NAS CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS
concretização desta norma na sociedade (como está
sendo aplicada).
As normas que estão presentes na Constituição Federal
CORRENTES podem estar presentes na Constituição Estadual de duas
formas: normas de reprodução obrigatória - aquelas que
a) Interpretativista: considera que os juízes devem se são de observância obrigatória pelas Constituições
limitar a captar o sentido dos preceitos expressos na
Estaduais ou normas de imitação - que podem,
Constituição, ou que pelo menos, estejam claramente
facultativamente, estar presentes na Constituição
implícitos. Nesta corrente a atividade do juiz é bem
Estadual.
restrita, limitada.

b) Não-interpretativismo: defende uma maior autonomia NORMAS MATERIAIS E FORMAIS


do juiz ao se interpretar a norma, prevendo uma
possibilidade e até mesmo a necessidade de que os juízes No Brasil, todas as normas da Constituição são formais,
apliquem “valores e princípios substantivos”. independente de seu conteúdo. Porém, algumas, além de
formais, também são materiais. Normas materiais são
MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL aquelas que tratam de assuntos, conteúdos, essenciais a
uma Constituição moderna. Ex. organização do Estado e
Mutação constitucional é o processo informal de mudança limitação dos seus poderes face ao povo. Já as normas
da constituição por meio do qual são atribuídos novos formais são todas aquelas que foram alçadas a um status
sentidos, conteúdos até então não ressaltados à letra da constitucional, independentemente do conteúdo tratado.
lei, por meio da interpretação. Por isso, a hermenêutica é
o sistema de interpretação, pois com a mutação
EFICÁCIA DAS NORMAS
constitucional temos o dinamismo do texto, sem a
necessidade de um processo legislativo formal e
demorado. Eficácia é a capacidade que uma norma tem para produzir
efeitos. A eficácia divide-se em:
Reforma seria a modificação do texto através dos
mecanismos definidos pela constituição, alterando ou a) Eficácia Plena: não necessitam de nenhuma ação do
acrescentando artigos do texto, enquanto mutação não legislador para que possam alcançar o destinatário, e por
há alteração física e material, mas interpretativa. isso são de aplicação direta e imediata. As normas de
eficácia plena também não admitem que uma lei posterior
DA NORMA CONSTITUCIONAL venha a restringir o seu alcance. Ex. Ninguém poderá ser
compelido a associar-se ou permanecer associado (CF, art. permaneçam no corpo da Constituição, não têm papel
5º, XX). prático na atualidade ou no futuro.

b) Eficácia Contida: embora não precise de qualquer § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda
regulamentação para ser alcançada por seus receptores tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto
(aplicabilidade direta e imediata). Enquanto não editada direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos
Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.
essa lei, a norma permanece no mundo jurídico com sua
eficácia de forma plena, porém no futuro poderá ser
restringida pelo legislador infraconstitucional. Ex. É livre o e) Eficácia Absoluta: são aquelas que não aceitam
exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, nenhum tipo de restrição relacionada aos seus efeitos.
atendida às qualificações profissionais que a lei São as cláusulas pétreas.
estabelecer (CF, art. 5º, XIII).
APLICABILIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL
Em regra, as normas de eficácia contida são passíveis de
restrição por leis infraconstitucionais, porém, também se É a determinação de “a partir de quando” esses efeitos
manifestam como normas de eficácia contida as normas devem ser sentidos. Podendo ser de aplicabilidade
onde a própria constituição estabelece casos de imediata, no caso da eficácia plena e contida ou
relativização. Exemplo disto é o direito de reunião que aplicabilidade mediata, no caso da norma de eficácia
pode ser restringido no caso de Estado de Sítio. limitada.

c) Eficácia Limitada: caso não haja regulamentação por Aplicabilidade significa capacidade de produção de
meio de lei, não será capaz de gerar os efeitos para os efeitos. A depender do direito ele pode ser de eficácia
quais foi criada, assim dizemos que tem aplicação plena, contida ou limitada, de aplicabilidade mediata ou
indireta/mediata, pois há a necessidade da existência de imediata. Já aplicação é o dever do Estado de
uma lei para “mediar” a sua aplicação. É errado dizer que implementar o direito fundamental previstos e o exercício
não possui eficácia jurídica, ou que é incapaz de gerar desse direito. Assim, todos os direitos fundamentais têm
efeitos concretos, pois desde logo manifesta a intenção aplicação imediata, mas nem todos tem aplicabilidade
dos legisladores constituinte, fornecendo conteúdo para imediata.
ser usado na interpretação constitucional e é capaz de
tornar inconstitucionais as normas infraconstitucionais PRINCÍPIOS
que sejam com ela incompatíveis, daí se falar em eficácia
negativa ou paralisante das normas de eficácia limitada.
Os princípios são mais abstratos que as normas, não são
Desta forma, sua aplicação é mediata, mas sua eficácia
definidores de condutas, são os chamados "mandados de
jurídica (ou seja, seu caráter vinculante) é imediata. Ex. O
otimização", ou seja, eles devem ser utilizados para se
estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
alcançar o grau ótimo de concretização da norma. Devido
consumidor (art. 5º, XXXII). José Afonso da Silva, ainda
a esta abstração dos princípios, eles admitem um
divide as normas de eficácia limitada em dois grupos:
cumprimento parcial. Quando dois princípios entram em
conflito dizemos que houve uma "colisão" de princípios
I. Normas de princípio programático: São as que
(nunca uma contradição) e, desta forma, ambos poderão
direcionam a atuação do Estado instituindo
ser cumpridos, embora em graus diferentes de
programas de governo. Terão eficácia diferida e
cumprimento.
necessitam de atos normativos e administrativos
para concretizarem os objetivos para quais foram
ESPÉCIES DE PRINCÍPIOS
criadas.
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios
II. Normas de princípio institutivo: São as normas
constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e
que trazem apenas um direcionamento geral, e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c)
ordenam o legislador a organizar ou instituir autonomia municipal; d) prestação de contas da administração
órgãos, instituições ou regulamentos, observando pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da
os direcionamentos trazidos. O professor ressalta receita resultante de impostos estaduais, compreendida a
as expressões "na forma da lei", "nos termos da proveniente de transferências, na manutenção e
lei", "a lei estabelecerá" como meios de desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de
identificação. saúde.

d) Eficácia Exaurida: é o comum o uso do termo para a) Princípios sensíveis: estão presentes no art. 34, VII, que
denominar aquelas normas presentes nos ADCT que já se não respeitados poderão ensejar a intervenção federal.
perderam o seu poder de produzir novos efeitos jurídicos.
Assim, tais normas já produziram seus efeitos e, embora
b) Princípios federais extensíveis: são aqueles princípios
federais que são aplicáveis pela simetria federativa aos
demais entes políticos. São também chamados de
"princípios comuns" pois se aplicam a todos os entes da
federação, de forma comum Ex. as diretrizes do processo
legislativo, dos orçamentos e das investiduras nos cargos
eletivos.

c) Princípios estabelecidos: são aqueles que estão


expressamente ou implicitamente no texto da
Constituição Federal limitando o poder constituinte do
Estado-membro.

PODER CONSTITUENTE

BIBLIOGRAFIA
Apostila: Direito Constitucional nas 5 fontes

Aulas: Amanda Almozara e Fernanda Bahia

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