Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Essa é a parte que eu achei mais interessante e que pra mim foi a maior descoberta da
pesquisa. A cultura hegemônica em Parintins é a do Boi Bumbá, que por questões
econômicas e políticas, impede – ou ao menos dificulta – o desenvolvimento de outras
formas culturais. Então, qualquer coisa relacionada a cinema, surge totalmente distante
do Boi Bumbá, e, portanto, não dialoga com ele. Vejamos: o Boi Bumbá foi tirado da
população enquanto produtores, eles são apenas consumidores. É muito comum a
população falar: “eu sou item” (referindo-se ao item 19, Galera). Com orgulho, a
posição da população é de consumidor e a participação é como Galera. Assim, houve
um distanciamento nesse sentido. Então, em uma forma cultural diferenciada, tal qual o
cinema, a temática do boi não aparece.
A pesquisa indica que quem veio de fora filmar algo em Parintins, majoritariamente
veio atrás dos Bois Garantido e Caprichoso. Mesmo a produção dos DVDs das referidas
agremiações folclóricas eram feitos por empresas de fora. Isso só mudou muito
recentemente quando nos últimos dois anos (já depois da pesquisa finalizada) o Boi
Bumbá Caprichoso usou uma produtora local para gravar seu disco. Ainda assim, uma
produtora bem distante da realidade de produção cinematográfica que discutimos na
pesquisa.
Por outro lado, dos 23 produtos audiovisuais produzidos pelo curso de Jornalismo da
Ufam em Parintins, apenas um trata do Boi, mas, não é seu foco. Trata-se de “O lugar
da coreografia no boi-bumbá Garantido: aspectos históricos e mudanças no ‘dois prá lá,
dois pra cá”, onde o foco é a coreografia e suas mudanças.
Da participação nos festivais de curta, Parintins contou com 53 filmes. Nenhum deles
tem como temática o Boi Bumbá, nem mesmo de forma indireta, como no caso acima.
Isso é um dado a se pensar. Creio que uma pesquisa direcionada a isso seria muito
interessante. Em fim, esse diálogo é restrito, e se há, é problemático.
3) Como funciona a Apincine e qual a importância dela para a produção em Patintins?
A total falta de apoio. Quando a Apincine foi fundada, seu primeiro presidente era
subsecretário do município e isso gerou algum apoio da prefeitura. Porém a mudança de
gestão dificultou ainda mais. A estrutura é um desafio grande também. O equipamento é
caro e não tem na cidade, tudo precisa vir de fora. Isso é ampliado pelo fato de que
nenhum dos produtores é profissional ou vive disso, ou seja, o tempo para pesquisar, ir
atrás do equipamento ou mesmo para produzir os filmes é um tempo de lazer, de férias,
de folga, um tempo que “sobra”.
O que chega à TV aberta ou mesmo aos canais fechados de Televisão é muito restrito.
Produzir qualquer coisa, principalmente quando se há arte envolvida, requer referências.
Eu sou daqueles que afirma que as referencias artísticas e estéticas dão o diferencial. O
novo nos anima, dá alento e etc. O que sai no cinema, para o bem ou para o mal,
costuma pautar os festivais Brasil a fora. Uma temática ou mesmo uma técnica
especifica ganha relevância normalmente a partir desse grande circuito exibidor. Então,
a falta de acesso à exibição traz essa limitação aos produtores locais que tem dificuldade
em acompanhar a atualidade.
6) A extinção dos festivais de cinema no Amazonas afetou o cinema local, como isso se
refletiu em Parintins?
Tem produções mais isoladas, que acabam por fugir da fronteira do cinema, porque não
se preocupam com a exibição. Tem um produtor que eu conheci que é muito bom do
ponto de vista técnico, conhece bem a linguagem e é ótimo em edição, mas por ser
muito criterioso demora muito a finalizar algo. É o Felipe Brunner. Ele costuma fazer
curtas de publicidade pra igreja que participa.
Dos três grupos citados na dissertação cada um tem uma presença diferenciada. Os
caçadores de imagens, que vem de fora, são profissionais com estrutura, portanto, tem
saída de exibição, que costuma ser o problema. O grupo da universidade, por produzir
aliado a questões cientificas, têm melhor qualidade técnica e experimentalismo. Usam
os equipamentos da universidade, filmadoras próprias e profissionais, por exemplo. O
grupo da Apincine tem maior inserção social e é quem exibe nos Festivais, sendo, do
ponto de vista social, o grupo mais genuinamente local, pois é, também, mais
espontâneo.
Por incrível que pareça, nenhuma. O presidente da Apincine já fez parte da direção de
uma das Agremiações Folclóricas, mas eu não sei se ele tentou alguma aproximação.
Inclusive eu o entrevistei para uma serie de TV sobre cinema e fui à sede da Associação
Folclórica.
Por conta da hegemonia do Boi Bumbá há um distanciamento entre a festa folclórica e
qualquer outra manifestação da cultura local, inclusive o cinema.
10) Como está o atual momento da produção cinematográfica em Parintins? Cite alguns
destaques da filmografia local.
Nos últimos anos a produção reduziu muito. A Apincine foi desativada e apenas alguns
produtores se mantiveram. A Kelly Sobral, que está na associação desde o inicio se
mantém produzindo. O Ray Santos, responsável pelo primeiro curta local, também está
envolvido em um projeto, onde a Kelly, inclusive é produtora. Conversei com ela ano
passado que me disse estar viajando para Alter do Chão em busca de imagens. É um
filme sobre a lenda das Icamiabas. Ela comentou que o projeto contava com o apoio de
compositores, para que o filme tivesse trilha sonora própria e inédita.