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Potencial de Aplicação de Eficiência Energética na Indústria de

Alimentos um caminho para sustentabilidade


Celso E. L. de Oliveira
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - USP

O Setor Industrial é responsável por quase metade do consumo final de energia


elétrica do Brasil, e certamente é o que tem maior potencial de conservação de energia.
Neste setor o segmento de alimentos e bebidas corresponde a 12 % do consumo, se
colocando na 4ª posição entre os maiores consumidores.
Observando a estrutura de produção do setor industrial o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) com o objetivo de oferecer mais um instrumento de análise
do desempenho da indústria brasileira constrói séries dos indicadores de produção física
industrial por intensidade do gasto com energia elétrica, estas foram iniciadas em janeiro
de 1991 e são atualizadas mensalmente, agregando de uma nova forma os 944 produtos
constantes da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física, Brasil.
A classificação dos produtos se dá em três níveis: alta, média e baixa
intensidade do gasto com energia elétrica, definida com base em informações do estrato
censitário da Pesquisa Industrial Anual de 1998, composto pelas empresas industriais
com 30 ou mais pessoas ocupadas (cerca de 25.000), que respondem a variável compra
de energia elétrica (IBGE, 2004).
Dentre os 256 produtos incluídos no nível de Média Intensidade dos mais diversos
segmentos do setor industrial podemos destacar alguns do segmento alimentos que são:
Amido e fécula de milho Óleo combustível
Arroz beneficiado Óleo de soja refinado
Aves abatidas (frescas, congeladas e Peixes congelados - excl. sardinha
defumadas) Sopas e caldos concentrados ou
Carne de bovino (congelada) desidratados
Carne de bovino (enlatada) Suco e concentrado de laranja
Carne de bovino (seca ou salgada) Margarina
Chocolate em barras ou tabletes Miúdos e tripas de animais (frescos,
Compotas de frutas - incl. conservas congelados, secos, salgados) - excl. de
Erva-mate beneficiada aves
Carne de bovino (verde) Carne de suíno Molhos preparados - excl. p/massas
(congelada) Balas, confeitos e semelhantes
Farelos de sementes oleaginosas Biscoitos e bolachas
Farinha de milho - incl. fubá, flocos e Bombons
bijus Cacau beneficiado
Farinha de trigo Sardinha enlatada em conserva (óleo,
Gorduras vegetais - incl. compotas salmoura, molhos, etc)
Massas alimentícias (talharim, Sopas e caldos concentrados ou
espaguete, etc) desidratados
Massas e concentrados de tomate
Molhos preparados - excl. p/massas
Outros elementos relacionados à indústria de alimentos estão classificados como de baixa
intensidade. Não obstante a estes números o segmento ainda se destaca na economia do país
sendo os produtos oriundos da agricultura e processados no país são responsáveis em grande
parte pela pauta de exportação brasileira.
No entanto os dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica – PINTEC 2005, que apresenta
os indicadores setoriais, nacionais e regionais das atividades de inovação tecnológica nas
empresas industriais brasileiras, compatíveis com as recomendações internacionais em termos
conceituais e metodológicos. Permite ver que o setor inova pouco comparativamente a outros
setores industriais, talvez muita se atribua a posição de destaque do Brasil em segmentos como o
de carne, frango, soja etc., devido às inovações no processo “da porteira para dentro” em grande
medida pelo melhoramento genético do rebanho ou a pesquisa varietal atribuída à rede nacional
de pesquisa agropecuária. Porém a competitividade do produto final depende em muito do
processo que acontece na indústria de transformação onde se agrega valor ao produto e deve-se
buscar o máximo aproveitamento da qualidade recebida do campo.
Assim o gráfico abaixo apresenta as curvas médias de consumo de energia da indústria
como um todo e da indústria de alimentos e bebidas por separado, esta comparação nos mostra
que para produção de 1.000 US$ em produto a indústria de alimentos gasta quase o dobro de
energia que a média das demais indústrias de transformação.
Esta constatação abre campo para entendermos a necessidade de aplicação de medidas
de eficiência energética no setor, no Plano Nacional de Energia - PNE 2030 o setor industrial tem
grande relevância e o setor de alimentos e bebidas aparece com potencial de aplicação de
medidas de eficiência energética, como outros segmentos industriais.

tep/1.000
1,200
US$
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
70

73

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00

03
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ano
INDÚSTRIA ALIMENTOS E BEBIDAS
Observando especificamente alguns setores importantes como a produção de carne
bovina é possível apontar a importância do consumo de energia na produção. A figura 2 mostra
que de acordo com dados do IBGE (2006) o consumo de energia pode representar 53% dos
custos com operação nas empresas de abate de reses.
Desta maneira é fundamental os setores relacionados à indústria de alimentos e
bebidas se conscientizarem da necessidade da adoção de medidas de eficiência
energética (MEE) como as sugeridas no PNE 2030, tais como:
No tocante ao uso do motor elétrico em si, três MEE são normalmente consideradas:
- Uso de motor de alto rendimento;
- Adequação da potência do motor à carga;
- Uso de acionadores (conversores de freqüência, regulador de tensão).
MEE em sistemas de bombeamento:
- Reduzir a energia requerida
- Reduzir as margens de segurança no projeto da capacidade do sistema
- Adequar a bomba à carga
- Instalar sistemas em paralelo para cargas com grande variação de fluxo
- Adequar o tamanho da bomba à carga
- Reduzir ou controlar a velocidade

Entre outras medidas que terminam com a aplicação de um gerenciamento


energético da empresa e controle permanente do processo e consumo. Tais medidas
além dos impactos econômicos esperados também provocam melhorias diretas na
redução de emissões na empresa e conseqüentemente no setor, bem como melhoria de
imagem, ganhos hoje que podem proporcionar no seu conjunto acesso a novos mercados
ou posição de destaque em mercados competitivos. Assim a eficiência energética
constitui um caminho claro para a sustentabilidade na indústria de alimentos e bebidas
brasileira seja pela importância econômica, seja por seu caráter ambiental.

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