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RESUMO:
O presente artigo trata de uma pesquisa empírico analítica aplicada à Empresa
Júnior da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro (ESPM
JR) , entre Maio de 2000 e Abril de 2002, que trouxe implicações para
organização, seus funcionários e para a instituição de ensino à qual a empresa
júnior está vinculada, no caso a ESPM, contribuindo também para a difusão do
Movimento Empresarial Júnior (MEJ) junto à comunidade acadêmica brasileira.
Primeiramente, busca um apanhado histórico sobre o surgimento do MEJ no
Mundo e seu desenvolvimento no Brasil. Em seguida relata a pesquisa, baseada
na observação participante do autor, que revela a transição de uma cultura
organizacional fortemente baseada em amizade e convívio soial para uma nova
onde o profissionalismo e o orgulho de pertencer à empresa prevalecem como
valores cultivados pelos seus membros.
Palavras-chave
Empresa Júnior – Cultura Organizacional – Valores – Desempenho – Ensino –
Aprendizagem.
1 – INTRODUÇÃO
júnior proporciona. Este fato pode ser observado em algumas empresas juniores
atuais e inclusive a ESPM JR já passou por este problema.
empresa e, por isso, houve grande dificuldade em conseguir estas seis pessoas.
Uma pesquisa de imagem institucional aplicada junto aos alunos da ESPM
revelou que poucos conheciam a ESPM JR e dentre estes poucos a imagem
negativa predominava. Entre os alunos que não faziam parte da empresa mas
sabiam de sua existência, a imagem era de uma espécie de clube onde só
participavam os alunos que fossem amigos de algum membro. Outra constatação
desta pesquisa é que muitos não desejavam participar da empresa devido esta
imagem que possuía dentro da ESPM.
Portanto, precisou-se encontrar pessoas que compartilhassem dos ideais
cultuados pelos diretores para que a transição fosse realizada com sucesso.
Tomando a citação de Juliana Galvãoix o empresário júnior é muito mais do que
um idealista, por sua dedicação, proatividade e senso de responsabilidade.
Assim decorreu-se até o final do primeiro semestre de 2001.
O segundo passo, consistiu em ampliar o programa de Trainees e eliminar
definitivamente a distinção entre quadro fixo e equipes de projeto que havia e,
como conseqüência, inverter a imagem institucional que a empresa tinha dentro
da Escola até então. Considerava-se que este era o principal fator que
atrapalhava o desenvolvimento da ESPM JR. Em Agosto de 2001, foi
implementado o integralmente o Programa de Trainees, ou seja, todos os
integrantes da empresa, fossem eles consultores, gerentes, coordenadores ou
diretores, seriam regidos pelas mesmas normas, teriam o mesmo vínculo com a
empresa e o mesmo tipo de contrato. As responsabilidades de cada um,
obviamente eram distintas. Neste momento a estrutura composta por um quadro
fixo e outro rotativo foi eliminada de uma vez por todas.
O processo de transição foi efetuado pelos dois membros prevalecentes da
gestão 2001. Um deles que havia assumido como Coordenador passou a Diretor
e apoiou a estruturação do processo de transição. Os demais membros que
estavam integrando a empresa nesta época também foram submetidos ao
processo seletivo a fim de que este fosse o mais eficiente e profissional possível.
Objetivou-se acabar com o sentimento de clube compartilhado pelos alunos da
escola. Para tanto, buscou-se o desenvolvimento de um processo seletivo
transparente e profissional ao extremo, com chances iguais para todos os
participantes. Antes da implementação deste processo seletivo, a imagem da
ESPM JR já vinha sendo melhor vista entre os alunos devido aos esforços de
comunicação interna da empresa e ao apoio do corpo docente que incentivava os
alunos a participarem.
Para o processo seletivo, abriram-se 25 vagas, mas os dois diretores que
estavam à frente do processo estavam inseguros quanto ao número de
candidatos que iriam se inscrever. Como resultado da recuperação da imagem,
houve 40 inscrições, o que possibilitou a seleção dos alunos que tiveram o perfil
mais adequado aos novos ideais da empresa, agora tendo o profissionalismo
como principal valor no ambiente de trabalho. Os resultados desta transição em
duas etapas, primeiro parcial apenas com os gerentes de projetos como Trainees
e, em seguida com todos os participantes, foi visível logo no final da gestão 2001.
O faturamento crescera 470% e a rotatividade havia sido extremamente reduzida.
Ao final do segundo semestre, quando da implementação da terceira etapa do
programa de Trainees em Março de 2002, dos 25 Trainees apenas dois haviam
deixado a empresa. Dos 23 que continuaram, todos optaram, por renovar seu
contrato, que de acordo com o estatuto e as normas do programa de Trainees,
poderia ser renovado por igual período.
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4 - Considerações Conclusivas
Hoje, nota-se na cultura organizacional da empresa um valor que se
sobressai e é amplamente compartilhado entre os participantes da ESPM JR. O
profissionalismo. Os integrantes da empresa, dos mais antigos até os mais novos
têm um profundo comprometimento com a empresa e são orgulhosos de fazer
parte dela. Em meados de 2000 poucos eram os membros que demonstravam tal
envolvimento com a empresa. Hoje praticamente todos demonstram.
No mercado de empresas juniores, a ESPM JR é referência por ter sempre
uma das maiores delegações nos encontros regionais e outros eventos
promovidos pelas federações. É convidada freqüentemente para proferir
palestras sobre seu modelo de gestão, suas táticas organizacionais e suas
estratégias.
Aos que acompanham a empresa desde o início de suas atividades, é
perceptível a guinada que sofreu o rumo que vinha tomando a cultura
organizacional da empresa, por iniciativa dos seus gestores e compartilhada
pelos seus participantes. Conseguiu-se cultivar uma série de valores e abdicar de
outros que eram considerados prejudiciais ao desempenho da empresa. E os
resultados são mensuráveis tanto no âmbito qualitativo quanto no quantitativo.
Na pesquisa de mensuração dos valores aplicada entre Agosto e Outubro
de 2001, pôde-se obter conclusões que comprovam a nova dinâmica cultural da
ESPM JR.
BIBLIOGRAFIA
Em um estudo sobre metodologias para desvendar a cultura de uma organização, conduzido por
Fleury (1996), a autora descreve algumas posturas que podem ser adotadas. Neste artigo, estar-se-á
adotando a postura do antropólogo, o qual segundo a autora "aproxima-se da realidade social a ser
investigada com um quadro de referências teóricas formulado previamente (...) procurando agir
ora como observador, ora como observador participante, vivenciando as mais diversas facetas da
organização pesquisada (...) que, de forma semelhante ao antropólogo que pesquisa as sociedades
primitivas, penetra na vida organizacional."
A experiência do autor retrata toda a transição pela qual a empresa foi submetida, pois atuou como
Consultor Júnior, Coordenador do processo Mercado, Diretor Executivo e hoje é Presidente do
Conselho Administrativo.
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O Conceito de Cultura foi definido pela primeira vez por Edward Tylor (1832-1917) ao sintetizar o
termo germânico Kultur, o qual era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma
comunidade. Neste artigo, estaremos utilizando o conceito de cultura definido por Tylor, que define
o vocábulo inglês Culture "tomado em seu amplo sentido etnográfico sendo este todo complexo que
inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade" (TYLOR, 1871). Segundo Laraia (1986),
com esta definição Tylor abrangia em uma só palavra todas as possibilidades de realização humana,
além de preservar o caráter de aprendizado da cultura em oposição à idéia de aquisição inata.
Omar Aktouf, em seu artigo originalmente intitulado Le symbolisme et la "culture d'entreprise": des
abus conceptuels aux leçons du terrain (O simbolismo e a cultura de empresa: dos abusos
conceituais às lições empíricas), reúne em uma contundente crítica ao que denomina como sendo a
corrente predominante do estudo da cultura organizacional, que considera a cultura como sendo
administrável, gerenciável, estudos de diversos autores que compartilham desta linha de raciocínio.
"cultura organizacional seria um 'conjunto de evidências' ou um 'conjunto de
postulados' compartilhados pelos membros da organização, dirigentes e
empregados. Seria um 'cimento' que 'mantém a organização como um todo',
que lhe confere um 'sentido' e engendra 'sentimento de identidade' entre seus
membros. Seria também um 'sistema de representações e valores
compartilhados' que faz com que 'cada um, na empresa, adira a uma visão
comum do que é a organização', um 'comprometimento' do pessoal em relação
a uma entidade unificadora; a empresa é, em suma, concebida como um
'cimento social', um 'sistema de crenças, de valores e de normas que
constituem 'modelos de comportamento', um conjunto de 'símbolos', de
'significados' e de 'objetivos' compartilhados. Qualquer que seja a escola, pelo
menos na 'corrente dominante', a 'cultura de empresa' é a quase mágica
comunhão de todos, patrões e operários, dirigentes e dirigidos, em um mesmo e
entusiástico movimento de sustentação da empresa e se seus objetivos."
Aktouf conclui que "nenhuma cultura é possível sem que ocorra identificação dos atores sociais
com seus pares, com locais de socialização reconhecidos como tais e sem a interiorização desta
situação enquanto criadora do que são, ou pensam ser, os membros da coletividade." A cultura é,
portanto, atingida "na medida em que os membros da coletividade percebem sua identidade em
comum, chegando ao ponto de assumir como pessoal o interesse coletivo" (SAINSAULIEU, 1983).
A argumentação de Aktouf faz sentido na medida em que se restringe ao campo ideológico, ou seja,
sua crítica diz respeito à administração das crenças e valores dos indivíduos que compõem uma
organização. Contudo, não leva em consideração a teoria da Teia de Significados de Clifford Geertz,
que explica o gap existente entre o campo ideológico (das crenças e valores) e o campo prático (das
ações simbólicas). Neste segundo, é possível a intervenção no sentido de se administrar a cultura
organizacional, como veremos no desenrolar deste artigo.
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Definição extraída do estatuto social da Federação das Empresas Juniores do Estado de São Paulo
– FEJESP.
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