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IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO

Introdução

A irrigação por gotejamento, segundo BERNARDO (1995), compreende os sistemas de


irrigação nos quais a água é aplicada ao solo, diretamente sobre a região radicular, em pequenas
intensidades, porém com alta freqüência, de modo que mantenha a umidade do solo na zona radicular
próxima à “Capacidade de campo”. Nesse sistema, aplicação da água é feita por meio de tubos
denominados gotejadores, inseridos em tubulações flexíveis de polietileno, trabalhando a pressões que
variam entre 0,5 a 2,5 atmosferas.
A aplicação da água ao solo, na irrigação por
gotejamento, é feita sob a forma de “ponto fonte”, ficando a
superfície do solo com uma área molhada com forma circular
(fig. 1) e o volume do solo molhado com forma de um bulbo.
Quando os pontos de gotejamento são próximos uns
dos outros, forma-se uma faixa molhada contínua (fig. 2).
Este tipo de irrigação é utilizado, em geral, sob a
forma de sistema fixo, sendo constituído de tantas linhas
laterais quantas forem necessárias para suprir toda a área, isto é,
não há movimentação das linhas laterais. Porém, al linhas
funcionam de forma alternada, a fim de minimizar a capacidade
do cabeçal de controle.
Segundo RAMOS & MANTOVANI (1994), esse Fig. 1
sistema, juntamente com a microaspersão, é o de custo mais
elevado; portanto, deve ser utilizado em culturas de alto retorno econômico. As culturas normalmente
irrigadas por esse sistema são café, tomate, morango, melão, pimenta-do-reino, podendo ser utilizado,
também, em frutíferas, essências florestais, plantas ornamentais, etc.

Componentes do sistema

- Conjunto moto-bomba: é a unidade de fundamental importância no sistema de irrigação por


gotejamento.
Segundo SILVA et al (2000),as bombas, em geral, são do tipo centrífuga de eixo horizontal. Tem a
função de captar a água na fonte e suprir o sistema de gotejadores. Acoplado à bomba existe um
motor, normalmente elétrico ou diesel, para transferir potência. O conjunto deverá ser dimensionado
para fornecer vazão suficiente ao sistema à altura manométrica requerida. A altura de elevação da
água, desde o manancial até a área irrigada, constitui um dos principais fatores envolvidos no consumo
de energia e, a medida que aumenta essa altura mais elevado deverá ser o nível de eficiência deste
sistema de irrigação para resultar em um consumo energético satisfatório.

Fig. 2
- Cabeçal de controle: constitui um dos principais componentes do sistema de irrigação por
gotejamento, situado após a moto-bomba ou entrada da área a ser irrigada, ou seja, no início da linha
principal, sendo constituído das seguintes partes:

- medidores de vazão – permite um maior controle do volume de água aplicado pelo sistema,
facilitando também a sua automatização. O custo do sistema se torna
elevado com o uso desses equipamentos

- filtros – o entupimento dos gotejadores é um dos principais problemas encontrados neste


sistema. Os principais agentes causadores do entupimento são partículas sólidas
minerais, partículas orgânicas e precipitações de silte, argila ou sais dentro dos
gotejadores. Os dois primeiros agentes entupidores podem e devem ser evitados
com a filtragem da água de irrigação, enquanto que as precipitações devem ser
removidas com lavagens periódicas do sistema. Basicamente, os filtros utilizados
na irrigação por gotejamento são os filtros de areia, filtros de tela ou de disco e os
filtros de ação centrífuga (figs. 3, 4 e 5). Normalmente, utilizam-se no início do
cabeçal de controle os filtros de areia, e após o injetor de fertilizante os filtros de
tela ou de disco.

Fig.3
Fig.4

Fig. 5
Os filtros de areia são estruturas cilíndricas contendo camadas de cascalho e areia com a
função de filtrar partículas mais grossas e principalmente a matéria orgânica. A água escoa através das
camadas de cascalho e areia onde as impurezas dissolvidas são retidas durante o escoamento. Estes tipos
de filtros são imprescindíveis em condições onde a água não é proveniente de poços artesianos ou semi-
artesianos ou quando a água é armazenada em reservatórios descobertos que facilitam o desenvolvimento
de algas. É conveniente sempre instalar no mínimo dois filtros, para que a lavagem de um deles seja feita
com a água filtrada pelo outro. Devem ser dispostos no cabeçal de controle antes do equipamento de
injeção de fertilizantes SANTINATO et al (1997).
Os filtros de tela são
recipientes fechados com uma tela
interna por onde a água escoa, sendo
mais eficientes para reter partículas
sólidas de diâmetros muito
pequenos, como areia fina (fig. 6).
Entopem rapidamente quando são
utilizados para filtrar água com
matéria orgânica e algas
SANTINATO et al (1997).
As principais causas de
obstruções são decorrentes de :

- partículas minerais (areia, silte


argila);
- partículas orgânicas (algas, Fig. 6
bactérias e restos vegetais ou
animais);
- precipitados químicos (sais da água, depósitos de Fe, S e Mn e fertilizantes).

- sistema de injeção
de fertilizantes - a fertirrigação é parte integrante de um sistema de gotejamento.
Constitui-se numa das maneiras mais eficientes e econômicas de
fornecer fertilizantes às plantas, principalmente em regiões de climas
áridos e semi-áridos. A injeção pode ser feita por diversos métodos,
tais como: tanque de fertilizantes, injetor tipo venturi, bombas
hidráulicas, bombas elétricas, etc.

- Linha principal : conduz a água da moto-bomba até as linhas de derivação. Geralmente, utilizam-se
na linha principal tubos de polietileno, tubos de PVC rígido ou flexível, tubos galvanizados e tubos de
cimento. Ela pode ser instalada na superfície do solo ou ser enterrada, este ultimo caso facilita em
muito as operações com máquinas agrícolas na área.
- Linha de derivação: conduz a água da linha principal até as linhas laterais. Em geral, utilizam-se nas
linhas de derivação tubos de polietileno flexível, quando instalados sobre a superfície do solo, ou
tubos de PVC rígido, quando enterrados (fig. 7)

Fig. 7
- Linha lateral: são as tubulações de última ordem no sistema, nas quais se encontram os emissores,
conectados ou inseridos.
As linhas laterais são espaçadas ao longo das linhas de derivação com distâncias preestabelecidas,
normalmente determinadas em função do espaçamento entre as fileiras de plantas. Os espaçamentos
entre os gotejadores ao longo das linhas laterais são função do espaçamento entre as plantas ao longo
da fileira e do tipo de planta a ser irrigada, pois, no caso de irrigação de árvores frutíferas, é comum
instalar mais de um gotejador por cova.

- Gotejadores: são as peças conectadas ou inseridas às linhas laterais, capazes de dissipar a pressão
disponível na linha lateral e aplicar vazões pequenas e constantes. São os componentes principais de
um sistema de irrigação por gotejamento. Os gotejadores podem
ser superficiais ou subsuperficiais(figs. 8 e 9). Em geral, operam
com vazões de 0,5 a te 10 litros/hora.
As principais características desejáveis nos gotejadores,
segundo KELLER & KARMELI (1975) citado por BERNARDO
(1995), são:

- fornecer uma vazão relativamente baixa, constante e uniforme;


- ter uma seção transversal de fluxo relativamente grande para
evitar problemas com entupimento; Fig. 8
- ser barato, resistente e compacto.
Fig. 9
Segundo BERNARDO (1995), a vazão dos gotejadores,
em geral, varia entre 2 e 20 l/h. Normalmente eles trabalham sob
uma pressão de serviço de 10 m.c.a., existindo tipos que
trabalham sob pressões menores (até 5 m.c.a.) e outros que
trabalham sob maiores pressões (até 30 m.c.a.).
Já existem tipos de gotejadores que trabalham com vazão
constante sobre uma faixa bem ampla de pressão, característica
esta bastante desejável, pois permite uma vazão constante ao
longo da linha lateral, independente da variação de pressão ao
longo dela.

Vantagens do sistema – segundo SANTINATO et al (1997)

1. controle rigoroso da água aplicada;


2. redução do consumo de energia em relação aos demais sistemas;
3. redução do consumo de água;
4. funcionamento ininterrupto, até 24 horas por dia;
5. possibilidade de automação através de válvulas volumétricas,
elétricas e painéis de controle (fig. 10);
6. elevada eficiência, com redução da área de evaporação e
diminuição do escoamento superficial;
7. manutenção de nível elevado de água no solo (capacidade de
campo);
8. tratos culturais (capinas) reduzidas, devido ao fato de o
sistema aplicar água somente nas linhas das plantas, ao Fig. 10
contrário dos sistemas de aspersão que aplicam água em área
total favorecendo o desenvolvimento de ervas daninhas;
9. fertirrigação e aplicação de fungicidas e inseticidas sistêmicos;
10. possibilidade de uso de águas salinas, pela menor concentração de sais dentro do bulbo molhado,
ficando a maior concentração na superfície do mesmo, impedindo o contato dos sais com as raízes;
11. baixa necessidade de mão-de-obra;
12. maior eficiência na adubação, pelo fato da aplicação de adubos ser concentrada no sistema
radicular da cultura facilitando a absorção;
13. adaptação a diferentes tipos de solo e topografia.

Desvantagens – segundo SANTINATO et al (1997)

1. entupimento dos emissores, exigindo portanto um sistema de filtragem bem dimensionado e


eficiente;
2. distribuição do sistema radicular: em virtude da formação e manutenção de um volume constante
de solo umedecido, as raízes tendem a se concentrar nessa região, podendo diminuir a estabilidade
das plantas, em regiões onde as chuvas são extremamente escassas;
3. acúmulo de sais na lateral do “bulbo molhado”, que podem penetrar na área molhada por ocasião
das chuvas;
4. alto custo de implantação, diminuindo com o aumento da área irrigada;
5. danos e avarias das linhas laterais com emissores, causados pelos próprios trabalhadores (enxadas)
ou mesmo por animais ( roedores). Esses danos podem ser minimizados com o enterramento das
linhas, porém com o inconveniente da não visualização dos entupimentos, quando presentes.

Esquema do sistema

Bibliografia

- BERNARDO, SALASSIER. Manual de irrigação. Viçosa: UFV, 1995. p. 531 – 589.


- RAMOS, M. M. ; MANTOVANI, E. C. Sistemas de irrigação e seus componentes. In: Quimigação:
aplicação de produtos químicos e biológicos via irrigação. Brasília: EMBRAPA/SPI, 1994. p. 74 –
83.
- SANTINATO, R. ; FERNANDES, A. L. T. ; FERNANDES, D. R. Irrigação na cultura do café. São
Paulo: ARBORE, 1997. p. 84 – 91.
- SILVA, V. P. da ; FOLEGATTI, M. V. ; DUARTE, S. N. Irrigação por aspersão e localizada. Ilha
Solteira - SP: FEIS/UNESP, 2000. p. 1 – 14.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
Departamento de Engenharia Agrícola e Solos

ALUNO : JOSÉ FERNANDES DE A. NETTO

Vitória da Conquista – Ba
Set/2000

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