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Mineração

Análise granulométrica por técnicas que


se baseiam na sedimentação
gravitacional: Lei de Stokes

Rosa Malena Fernandes Lima


Professora Adjunta - DEMIN/UFOP - E-mail: rosa@degeo.ufop.br

José Aurélio Medeiros da Luz


Professor Substituto - DEMIN/UFOP - E-mail: jaurelio@degeo.ufop.br

Resumo

A caracterização tecnológica de materiais engloba, principalmente, a determinação


de propriedades físicas. Entre estas está a determinação do tamanho das partículas
e a distribuição e também a determinação das diferentes fases e dos constituintes
químicos ali presentes. Como a grande maioria das partículas são de forma
irregular, faz-se necessário utilizar técnicas de análise de tamanho que se baseiam
em similaridades geométricas, como é o caso de diâmetro equivalente,
determinado pelos métodos que utilizam a lei de Stokes, aplicada em regime
laminar. Equipamentos mais modernos, como é o caso do sedigraph, possibilitam a
determinação do tamanho de partículas até 0,1m, devido à conjugação da
velocidade terminal de sedimentação da partícula e à absorção dos raios X pela
suspensão em análise. Porém há de se lembrar que essas técnicas devem ser
aplicadas para materiais puros ou para materiais que contenham fases, cujas
densidades são muito próximas.

Palavras-chave: Lei de Stokes, sedimentação, análise granulométrica.

Abstract
Sizing and size particles distribution is very important in materials technological
characterization. In general the particles have irregular shape, so the methods used
to determine the particle size are based on geometrical similarity, like equivalent
diameter that are determined by techniques that use the Stoke's law. This law is
applied only in laminar flow. With nowadays technological development is possible
to analyze sizes until 0.1 m using the sedigraph analyzer that apply the Stoke's
law plus the X-ray absorption by dispersion of particles in water environment. In
order to use correctly these methods it is very important that the material have to
be pure or if there are more than one phase the density of those should be very
close. So the calculation of particles size present will be correct.
Keywords: Stokes' law, settling, size analysis.

1. Introdução

A análise granulométrica de partículas sólidas compreende a determinação do


tamanho das mesmas, bem como da freqüência com que ocorrem em uma
determinada classe ou faixa de tamanho. Em tratamento de minérios, é empregada
para a determinação do grau de liberação dos minerais valiosos em relação aos
minerais de ganga nas várias faixas de tamanho (o que determina a granulometria
em que o minério deverá ser moído), para a determinação de eficiência de
peneiramento industrial e curvas de partição de classificadores, o que, em outras
palavras, significa a determinação da eficiência das etapas de cominuição (britagem
e moagem)e de classificação, bem como o controle das especificações de tamanho
de produto final.

Para partículas que possuem uma forma geométrica canônica como esfera, cilindro
ou cubo, a determinação do tamanho das mesmas se dá (convencionalmente) pela
medida do seu raio ou diâmetro, do diâmetro da base e altura e do comprimento da
aresta, respectivamente. Nas plantas de beneficiamento de minérios, as partículas
na grande maioria das vezes possuem forma irregular, daí o uso do conceito de
tamanho equivalente, que é determinado pela medida de uma propriedade
dependente do tamanho da partícula, relacionando-a com uma dimensão linear.

Existem diversas técnicas de análise granulométrica, que se aplicam a faixas


granulométricas bem definidas. A escolha da técnica adequada para se efetuar a
análise granulométrica de um determinado material vai depender do tamanho das
partículas ali presentes.

As partículas podem ter várias formas, que influenciam determinadas propriedades,


tais como fluidez, empacotamento, interação com fluidos e poder de cobertura de
pigmentos. Logo, a medição de tamanho de uma mesma partícula por diferentes
técnicas pode dar valores diferentes, na medida em que a forma dessa partícula se
distancia de uma esfera, daí a razão de se aplicarem fatores de correção para
transformar as medidas obtidas de uma técnica para outra e vice-versa. Quando é
necessária análise em faixa granulométrica ampla, que abarque dois métodos
experimentais, é comum fazer-se uma varredura com sobreposição parcial, visando
a compatibilizar as duas curvas, em termos de concordância geométrica na região
de transição dos métodos utilizados.

Nesse trabalho é feita uma revisão do uso das técnicas de subpeneiramento que
aplicam a lei de Stokes, as quais se baseiam na velocidade terminal de
sedimentação das partículas em meio aquoso.

2. A Lei de Stokes

Uma partícula caindo no vácuo, sob um campo uniforme de forças (geralmente


gravitacional), não sofre resistência à sua queda. Logo, a velocidade de queda da
mesma cresce indefinidamente independente do seu tamanho e densidade. O
movimento dessa mesma partícula, se imersa em um meio fluido qualquer, fica
sujeito a uma força resistiva, cuja magnitude depende do regime fluidodinâmico
vigente, além dos aspectos morfológicos dessa partícula. Quando o equilíbrio é
alcançado entre a força gravitacional e a força de resistência do fluido, a partícula
alcança sua velocidade terminal de sedimentação e, portanto, cai a uma taxa
constante.

É praxe descrever-se o "nível de turbulência", ou - mais propriamente - o regime


fluidodinâmico, através de um parâmetro adimensional que expressa - a menos de
uma constante - a razão entre as forças inerciais e as viscosas, dito número de
Reynolds, Re. Esse número é dado, desse modo, pela equação:

(2.01)

Onde:

f - massa específica do fluido [kg.m-3];


d - dimensão linear típica ou diâmetro da partícula [m];

v - velocidade relativa entre partícula e fluido [m.s-1];

 - viscosidade dinâmica [Pa.s=kg.m-1s-2].

Considerando-se uma partícula de massa específica "s" caindo em um fluido


viscoso de massa específica "f" em campo gravitacional sob condições de
sedimentação livre (isto é, em um fluido de extensão infinita), a equação de
movimento da partícula pode ser escrita da seguinte forma:

(2.02)

Onde:

P - peso da partícula [N];

P'- empuxo de Arquimedes [N];

Rf - força friccional de arraste [N].

A equação (1) pode ser reescrita da seguinte forma:

(2.03)

Onde:

m - massa da partícula;

m'- massa do fluido deslocado pela partícula;


g - aceleração da gravidade.

Quando a velocidade terminal de sedimentação é alcançada, dx/dt = 0, a equação


(2.02) se transforma em:

Rf = (m-m')x g (2.04)

Uma equação em função do diâmetro, d, pode ser facilmente obtida para partícula
esférica rígida, isolada em um fuido contínuo e infinito (sem efeito de parede).
Como o volume de uma esfera é dado por:

(2.05)

e a massa específica do sólido, por:

s= m/V (2.06)

Explicitando o valor de m da fórmula da massa específica e substituindo V e m na


equação (3),com os devidos rearranjos, obtém-se:

(2.07)

Stokes deduziu a força de arraste sobre uma partícula esférica (suficientemente


pequena para que o regime seja lamelar ou laminar), considerando que essa força
ocorre inteiramente devido à resistência viscosa, chegando ao valor de R f = 3v.
Esse resultado pode ser obtido das equações de Navier-Stokes, de modo não trivial.
Tal dedução pode ser vista em livros-textos avançados (Slattery, 1972).

Substituindo Rf em (2.07) e rearranjando, chega-se à clássica expressão da lei de


Stokes:

(2.08)

Onde:

d - diâmetro da partícula

 - viscosidade dinâmica do fluido

No caso da água líquida, a viscosidade à temperatura T (em kelvins) pode ser


expressa por:

ag = 0,002488 - 0,00049567 x ln (T - 273) (2.09)

Para o ar seco, pode-se lançar mão da equação de Sutherland (Shoemaker e


colaboradores, 1989):
(2.10)

A lei de Stokes aplica-se somente para a região de fluxo laminar. É comum admitir-
se como limite do fluxo puramente laminar o valor Re =0,2. Substituindo esse valor
na expressão do número de Reynolds e aplicando a velocidade obtida na equação
de Stokes, chega-se ao diâmetro máximo de partícula determinável pela equação
de Stokes:

(2.11)

3. Técnicas de análise granulométrica que se baseiam na Lei


de Stokes
3.1 Béquer de sedimentação

Nessa técnica, as partículas sólidas são dispersadas em meio aquoso e deixadas


sedimentar em um béquer, contendo um sifão imerso no líquido até a uma altura a
cerca de 90% da altura "H" do líquido.

Primeiramente, determina-se a massa específica do material, usando-se um


picnômetro. Em seguida, calcula-se a velocidade terminal de sedimentação para
vários tamanhos de partícula, usando a equação (2.08). Finalmente, determina-se
o tempo necessário para cada tamanho de partícula migrar-se da superfície do
líquido (caso extremo) até o fundo do sifão.

Após uma leve agitação, a polpa é deixada sedimentar-se pelo tempo previamente
calculado. Em seguida, sifona-se toda a suspensão acima da extremidade imersa do
tubo. As partículas aí contidas são todas consideradas menores que o tamanho "d".
No entanto, podem existir partículas menores que o tamanho "d" na parte não
sifonada, devido ao posicionamento uniformemente distribuído das mesmas dentro
do béquer no instante inicial. Por essa razão, o material sedimentado é novamente
diluído. Em geral, repete-se a operação descrita anteriormente por cerca de cinco
vezes (o que resulta um tempo de análise muito grande). A rigor a eficiência, ei, de
remoção de cada classe das partículas indevidas (de diâmetro: di < d) é dada por
(Wills, 1992):

(3.01)

onde:

s - submergência do sifão [m];

H - altura da lâmina líquida [m];

di - diâmetro de fino da classe considerada [m];


d - diâmetro de corte (função do tempo e de s) [m];

n - número de ciclos de diluição/decantação [-].

3.2 Pipeta de Andreasen (Behere & Halialis,1945, Luz, 1987)

Na Figura 1 está apresentada uma pipeta de Andreasen, a qual consiste de um


cilindro graduado de 0 a 20 cm, cujo volume é igual a 0,5 L. Este é conectado a um
reservatório de 10 ml por meio de uma torneira de duas saídas. O procedimento
para levantamento da curva granulométrica consiste em medir-se a variação de
concentração em determinado nível dentro da dispersão, a intervalos
predeterminados de tempo.

Figura 1 - Pipeta de Andreasen, em


escala (espaçamento das divisões
ranhuradas: 50 mm), onde: P - pera de
borracha; T - torneira de duas vias; R -
reservatório (bulbo) de 10 mL; Pi -
pipeta.

A amostra é dispersa em meio líquido (geralmente aquoso) e vertida no cilindro até


o nível predeterminado. A pipeta é introduzida e a suspensão é agitada por
inversão. Após essa agitação, a mesma é deixada sedimentar e em intervalos de
tempo predeterminados as amostras são retiradas por sucção no topo do
reservatório. E então a torneira é revertida, permitindo a drenagem da amostra
para o coletor. Após a retirada da amostra, anota-se o novo nível do líquido na
pipeta.

3.3 Sedigraph

O sedigraph consiste de um béquer, agitador magnético, uma ou duas bombas


peristálticas, uma cela onde as partículas se sedimentam e uma fonte de raios X.
Nos equipamento mais modernos, há um computador contendo um software,
acoplado ao equipamento, o que permite a coleta de dados automaticamente,
conforme ilustrado naFigura 2.

Figura 2 - Sedigraph.

Em um primeiro instante, faz-se necessário criar o arquivo da amostra que se


deseja analisar entrando com a massa específica da amostra, faixa granulométrica,
massa específica e viscosidade do líquido em três temperaturas diferentes, precisão
requerida da análise, etc.

O software faz os cálculos das velocidades terminais de sedimentação para


partículas de diferentes diâmetros. Uma distância vertical e um tempo de queda
são então selecionados para cada diâmetro a ser medido, de forma que uma
partícula, caindo a uma certa velocidade, vai descer uma certa distância, num
tempo pré-selecionado, fornecendo o tempo que será gasto para a análise.

Na primeira etapa das análise, o sedigraph mede a transmitância de raios X através


da suspensão da amostra em movimento, de modo a não permitir nenhuma
sedimentação. Essa transmitância é considerada como indicadora da mistura
homogênea de todas as partículas, ou seja, ela está relacionada à concentração
total de partículas presentes na amostra. Em seguida, o equipamento interrompe o
movimento da suspensão da amostra permite que a sedimentação comece a
ocorrer. A transmitância de raios X é, então, medida novamente nas diferentes
posições na cela (medidas em relação ao topo da mesma) e nos tempos pré-
selecionados com base na lei de Stokes (medidos a partir do momento em que a
circulação da suspensão de amostra foi interrompida). As transmitâncias assim
obtidas se relacionam à concentração de partículas com o exato diâmetro
correspondente à distância e ao tempo de queda em que foram medidas. Dessa
forma, para cada diâmetro desejado, o sedigraph fornece uma relação que,
multiplicada por 100, dá a porcentagem de partículas com diâmetro desejado.

A massa da amostra necessária para se efetuar a análise varia de material para


material. Sua determinação é feita pela comparação da transmitância de raios X da
suspensão da primeira etapa da análise com a transmitância de raios X do líquido
utilizado, denominada de linha base. A massa do material deverá ser tal que a
transmitância da suspensão esteja entre 60 e 70% da transmitância do líquido
utilizado.

Cabe ressaltar aqui que o tempo de análise no sedigraph depende da faixa


granulométrica que vai ser analisada, isto é, quanto menor a partícula maior será o
tempo para a mesma sedimentar, o que é óbvio, veja equação (2.08). Um outro
fator que influencia o tempo de análise é a precisão requerida, ou seja, quanto
maior a precisão maior o tempo gasto para a análise. No entanto, pelo fato do
sedigraph conjugar a velocidade terminal de sedimentação de partículas com a
absorção de raios X pela suspensão, o tempo de análise gasto por esse
equipamento é muito menor que o tempo de análise gasto pelas técnicas com
béquer de sedimentação e pipeta de Andreasen. Naturalmente, quando não se
dispõe de equipamentos sofisticados, que são caros (como é o caso do sedígrafo), a
análise granulométrica pode ser efetuada por uma das outras técnicas aqui
descritas, uma vez que as mesmas utilizam a lei de Stokes para determinar o
tamanho de partículas.

Em qualquer caso, deve-se salientar que as técnicas de análise granulométrica


descritas anteriormente somente podem ser usadas para amostras minerais
isolados ou materiais puros, pois no caso de minérios, que são comumente
constituídos de diversos minerais de massas específicas diferentes, o valor de
massa específica introduzido na equação de Stokes é um valor médio, logo a
distribuição do tamanho de partículas presentes no mesmo não corresponde à
realidade.

4. Conclusões
A análise granulométrica de qualquer material particulado constitui em uma das
fases de sua caracterização. A escolha do método de análise de tamanho destes
baseia-se na faixa de tamanho das partículas ali presentes. Das inúmeras técnicas
utilizadas destacam-se aquelas que se baseiam na velocidade terminal de
sedimentação, como é o caso do béquer de sedimentação, pipeta de Andreasen e,
mais recentemente, o sedigraph, que aplicam a lei de Stokes, que é válida somente
para número de Reynolds menor que 0,2. Deve ser levado em consideração que
essas técnicas devem ser aplicadas para materiais que possuem somente um
constituinte, pois, no cálculo do tamanho das partículas, utiliza-se a densidade do
material.

5. Referências Bibliográficas
BEHERE, H., HALIALIS, M. D. Sampling and testing. In: TAGGART, A. F.,
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DA LUZ, J. A. M. Efeito do estado de agregação na separação entre calcita,


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Mestrado). [ Links ]

GAUDIN, A. M. Principles of mineral dressing. New Delhi: 1957. [ Links ]

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McGraw-Hill. 1989. [ Links ]

SLATTERY, J. C. Momentum, energy and mass transfer in continua. Tokyo:


McGraw-Hill. 1972. [ Links ]

WILLS, B. A. Mineral processing technology (5th ed.). Oxford: Pergamon,


1992. [ Links ]

Artigo recebido em 28/08/2000.

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