A Deos plumas, tússus, galões, e cedas, a Deos sayas, donayres, vans arpias, a Deos mascaras boas, más, e frias, a Deos saltos, mudanças, voltas, quedas;
A Deos carne, que tanto nos enredas, deixando te comer por tantas vias; a Deos bailes, athe quarenta dias, e para nunca mais, a Deos moedas:
A Deos tanto Ladrão serra morena, a Deos outra milhor serra nevada, que de aturar a buxa não tens pena;
A Deos Donna Thereza traquejada, e a Deos todas; porem grande, e pequena, verde que sois pó, sinza, sombra e nada. et impulverem (p. 131, 132)
---- Avizos venereos (p.146) Soneto 34
Oh vós homens, ó mossos, ó rapazes, mestres, officiaes, ou aprendizes, que andais buscando flores miritrizes, que tudo esponjas são, em boas frazes;
Tomay em mim exemplo, pertinazes, aprendei de mim tolos, infelicis, que dando em bem de flores e os narizes, receby mal das lizes, nos carnazes;
Espinhado sahi, da milhor roza, roto, do mais florido vestuario, fedorendo da esponja mais cheyrosa:
1 Despedida dos Bayles em quarta feira de Sinza E assim filhos, que andais no tal fadario, vede que a mais fragante, e a mais fermoza, tudo em fim rozas são de boticario. Recipe
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A hum frade de geito, que dezia muito mal do Autor (p. 155-156)
Soneto 40
Se és tornto, meu amigo, pem te à mira; se dizes mal de mim, escuta agora; se por hum olho ris, por outro chora; se por ambos choraras, eu me rira;
Se é hum frade mendigo, esmollas tira; se só seis mezes ves, não sayas se és graça de prezepio, em bethlem mora, e se enforcar te queres, que te vira!
Se és de arribação frade, que te embarquem; se em mentiras te vazas, que te emborquem; se cantas imundices, que te encharquem.
Se no bodum trazandas, que te emporquem; se não és conhecido, que te marquem; e se és ladrão de versos, que te enforquem.
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Aos que tugem, e mugem nos meus versos (p.157)
Soneto 41
Não me direis, óh vós, que em mim falais, cãens, para que ladrais, se não mordeis? bestas, por que atirais, sem que asserteis? porcos, sem que foceis, por que roncais?
Se he por que versos faço, talvez mais ou melhores, talvez, que os que fazeis; brutos, para que delles maldizeis, se os quereis, se os pedis, se os tresladais?
Eu creyo que o motivo he hym de dois, ou enveja de ve que não luzis, ou receyo de arder nos meus foróes;
Pois cãens, se voz não dou, por que latis? bestas, se vos não pico, porque o sois? e porcos, se comeus, por que grunhis por que sim.
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A hum amigo frade mal dizente (p.172)
Oitava
Oh tú Simão leprozo, envolto em frade, Simon Petrus, que negas o que choras, flevit amare, em muita quantidade, por hum olho; que o outro, egressus fóras; tu, exillis, catana, em falsidade, que as orelhas ofendes no que ignoras; embainha, por Deos, a parvoisse, por que eu, ja agora, quod scripsi scripsi.
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A dous Amigos, cada qual por seu genio, extremozos
Decima (p.177-178)
Que grandes barretes são, por seu modo cada qual; Frey Bento do Cadaval, e Dom Manoel de Unhão; Aquele por comilão, este por enfidalgar, hum a enxer, outro a vazar, ambos tem sagrado intento; por que a papar vai Frey Bento, Dom Manoel a Bispar.
----- Petição, que fez da cadea, ao Governador, que o tinha prezo (p. 178-179) Decima
Diz Thomas Pinto Brandão, estrangeiro na Bahia, a quem vossa senhoria faz natural da prizão; por quanto está sem resão, como todo o mundo ve; (se acazo crime não he querer a forma matar); pede lhe dêm de jantar e recebera a mercê.
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Memorial para o tal officio de Defuntos, e abzentes
Decima
Ca de longe e bem de tráz do Tribunal das merces, por huma que se lhe fez que inteira se lhe não fáz; lamenta o pobre Thomáz, com triste e profundo acento; e ao Real esquecimento, que se acha com mais adjuntos, offerece este memento quiaventus (p.230)