Você está na página 1de 4

Despedida

dos Bayles em quarta feira de Sinza1



Soneto 24.

Memento Baile (p. 131-132)

A Deos plumas, tússus, galões, e cedas,
a Deos sayas, donayres, vans arpias,
a Deos mascaras boas, más, e frias,
a Deos saltos, mudanças, voltas, quedas;


A Deos carne, que tanto nos enredas,
deixando te comer por tantas vias;
a Deos bailes, athe quarenta dias,
e para nunca mais, a Deos moedas:


A Deos tanto Ladrão serra morena,
a Deos outra milhor serra nevada,
que de aturar a buxa não tens pena;


A Deos Donna Thereza traquejada,
e a Deos todas; porem grande, e pequena,
verde que sois pó, sinza, sombra e nada.
et impulverem (p. 131, 132)



----
Avizos venereos (p.146)
Soneto 34

Oh vós homens, ó mossos, ó rapazes,
mestres, officiaes, ou aprendizes,
que andais buscando flores miritrizes,
que tudo esponjas são, em boas frazes;

Tomay em mim exemplo, pertinazes,
aprendei de mim tolos, infelicis,
que dando em bem de flores e os narizes,
receby mal das lizes, nos carnazes;

Espinhado sahi, da milhor roza,
roto, do mais florido vestuario,
fedorendo da esponja mais cheyrosa:

1 Despedida dos Bayles em quarta feira de Sinza
E assim filhos, que andais no tal fadario,
vede que a mais fragante, e a mais fermoza,
tudo em fim rozas são de boticario.
Recipe


---

A hum frade de geito,
que dezia muito mal do Autor (p. 155-156)

Soneto 40

Se és tornto, meu amigo, pem te à mira;
se dizes mal de mim, escuta agora;
se por hum olho ris, por outro chora;
se por ambos choraras, eu me rira;

Se é hum frade mendigo, esmollas tira;
se só seis mezes ves, não sayas
se és graça de prezepio, em bethlem mora,
e se enforcar te queres, que te vira!

Se és de arribação frade, que te embarquem;
se em mentiras te vazas, que te emborquem;
se cantas imundices, que te encharquem.

Se no bodum trazandas, que te emporquem;
se não és conhecido, que te marquem;
e se és ladrão de versos, que te enforquem.


------

Aos que tugem, e mugem
nos meus versos (p.157)

Soneto 41

Não me direis, óh vós, que em mim falais,
cãens, para que ladrais, se não mordeis?
bestas, por que atirais, sem que asserteis?
porcos, sem que foceis, por que roncais?

Se he por que versos faço, talvez mais
ou melhores, talvez, que os que fazeis;
brutos, para que delles maldizeis,
se os quereis, se os pedis, se os tresladais?

Eu creyo que o motivo he hym de dois,
ou enveja de ve que não luzis,
ou receyo de arder nos meus foróes;

Pois cãens, se voz não dou, por que latis?
bestas, se vos não pico, porque o sois?
e porcos, se comeus, por que grunhis
por que sim.


--------------

A hum amigo frade mal dizente (p.172)

Oitava

Oh tú Simão leprozo, envolto em frade,
Simon Petrus, que negas o que choras,
flevit amare, em muita quantidade,
por hum olho; que o outro, egressus fóras;
tu, exillis, catana, em falsidade,
que as orelhas ofendes no que ignoras;
embainha, por Deos, a parvoisse,
por que eu, ja agora, quod scripsi scripsi.



-------------

A dous Amigos, cada qual por
seu genio, extremozos

Decima (p.177-178)

Que grandes barretes são,
por seu modo cada qual;
Frey Bento do Cadaval,
e Dom Manoel de Unhão;
Aquele por comilão,
este por enfidalgar,
hum a enxer, outro a vazar,
ambos tem sagrado intento;
por que a papar vai Frey Bento,
Dom Manoel a Bispar.


-----
Petição, que fez da cadea, ao Governador,
que o tinha prezo (p. 178-179)
Decima

Diz Thomas Pinto Brandão,
estrangeiro na Bahia,
a quem vossa senhoria
faz natural da prizão;
por quanto está sem resão,
como todo o mundo ve;
(se acazo crime não he
querer a forma matar);
pede lhe dêm de jantar
e recebera a mercê.



----

Memorial para o tal officio
de Defuntos, e abzentes

Decima

Ca de longe e bem de tráz
do Tribunal das merces,
por huma que se lhe fez
que inteira se lhe não fáz;
lamenta o pobre Thomáz,
com triste e profundo acento;
e ao Real esquecimento,
que se acha com mais adjuntos,
offerece este memento
quiaventus
(p.230)

Você também pode gostar