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Luta na Frente Oriental

Gigantesca investida russa

Ofensiva russa de verão ao norte dos Cárpatos


Rumo ao coração da Alemanha e à Varsóvia

A segunda metade de 1944 começou para a Alemanha sob auspícios funestos. Uma perspectiva sombria já
ameaçava os sonhos de vitória dos alemães. Seus exércitos, de fato, haviam sido duramente castigados ao
longo dos seis meses anteriores, na frente do Leste.

No começo do mês de janeiro os contingentes soviéticos haviam começado a pressionar, pela primeira vez,
em Sarny (Volinio), na fronteira polonesa de 1939. Nos fins de janeiro a cidade de Novgorod caía nas mãos
russas. Em março, os exércitos russos se lançavam à ofensiva na Ucrânia. Em abril, a Criméia começou a ser
assediada por poderosas formações da União Soviética. Em junho, afinal, começou a grande ofensiva
soviética na frente da Carélia e o impacto contra o Grupo de Exércitos Centro se tornava irresistível. Em fins
de junho caiu Vitebsk e nos primeiros dias de julho os contingentes soviéticos entraram em Minsk.

O desbaratamento do dispositivo alemão era, a esta altura dos acontecimentos, apenas uma questão de
tempo. A Wehrmacht, debilitada e exaurida ao máximo, teria agora que enfrentar as poderosas formações
mecanizadas russas nas grandes planícies da Polônia, em condições nitidamente inferiores De fato, o terreno
onde a luta começava a se desenrolar exigia dos contendores a posse de forças mecanizadas em tal
quantidade que o exército alemão já não poderia nem sonhar possuir. Suas unidades, dizimadas, não
poderiam opor-se às poderosíssimas formações blindadas do inimigo, lançadas ao assalto em quantidades
enormes e respaldadas pela gigantesca produção das fábricas russas e pela incessante ajuda da indústria de
guerra americana.

Para se ter uma idéia da magnitude da luta, basta a simples menção das baixas produzidas entre as forças
alemãs do Grupo de Exércitos Centro; em menos de vinte dias de luta os alemães perderam nesse setor cerca
de 350.000 homens, além de todo o armamento e o material de vinte e cinco divisões.

Os comandos alemães, em conseqüência, apelaram para o Führer numa tentativa suprema de conseguir a
aprovação do ditador para efetuar um movimento de retirada. A crua exposição dos fatos e o vaticínio de uma
derrota que representaria uma catástrofe não foram suficientes. O Führer, como em outras ocasiões, repeliu
qualquer possibilidade de retirada e insistiu na resistência "até o último homem".

As desinteligências entre o ditador e os seus generais eram inevitáveis, visto que ambas as partes
sustentavam suas posições em convicções realistas: os generais atribuíam muitas derrotas à obstinação de
Hitler, que se negava o dar aprovação a retiradas que os militares consideravam vitais para a coesão dos
forças. O Führer, por sua vez, acusava seus generais de pusilânimes; o antigo cabo da infantaria conhecia por
experiência própria o efeito deprimente que uma retirada, sejam quais forem os motivos, produz nos
combatentes.

Enquanto isso, pelo leste, os efetivos russos se lançavam numa verdadeira revanche do que ocorrera em
1941: massas de T-34, seguidas de intermináveis colunas de caminhões e veículos semilagartas, carregando
milhares e milhares de combatentes, movimentavam-se constantemente sobrevoados por inúmeras
esquadrilhas que dominavam os céus. Paralelamente, na retaguarda alemã, um acontecimento que causaria
estupor ao mundo inteiro contribuiria para dispersar a atenção do povo alemão, afastando-o das gravíssimas
notícias que chegavam da frente do Leste. A 20 de julho, um grupo de conjurados atentaria contra a vida de
Hitler mediante a explosão de uma bomba colocada pelo Coronel conde von Stauffenberg. Em conseqüência
se iniciaria na Alemanha uma impiedosa caçada humana. Dezenas de tribunais condenariam, em julgamentos
sumaríssimos e sem apelação, centenas de civis e militares, enviando-os à morte imediata. As manchetes dos
jornais foram então ocupadas pelas notícias referentes à conspiração, relegando a segundo plano os
dramáticos acontecimentos que, enquanto isso, se desenrolavam na frente.
A luta no Leste

Por volta do princípio de julho de 1944 os planos soviéticos tentavam esmagar qualquer tentativa de
reorgonização na frente alemã. No dia 2 o Coronel-General Model informou ao Alto-Comando que já não
podia sustentar a cidade de Minsk; a situação significava a condenação do 4 o Exército, envolvido pelos
contingentes soviéticos num poderoso cerco. A difícil posição do 4 o Exército culminou no dia 8 de julho,
quando o comando da força decidiu capitular ante os russos para evitar um inútil derramamento de sangue. O
9o Exército, igualmente ameaçado, conseguiu abrir caminho em suas posições em Brobuisk, nas margens do
Beresina, afluente do Dnieper, a 150 km a sudeste de Minsk. A operação foi possível pela intervenção de
uma divisão blindada alemã que atacou vigorosamente as linhas do cerco russo e permitiu a saída de grande
parte dos combatentes do 9o Exército.

A 100 km ao norte de Minsk, no setor defendido pelo 3 o Exército blindado, os soviéticos efetuaram
poderosos ataques que obrigaram os alemães a bater em retirada para a fronteira da Lituânia. O objetivo dos
russos, Vilna, não pôde ser defendido pelos escassos efetivos alemães que ali se encontravam, e caiu,
finalmente, em mãos soviéticas. O 3 o Exército, violentamente pressionado, foi obrigado a recuar seus
contingentes para a fronteira da Lituânia, expondo cada vez mais o Grupo de Exércitos Norte a uma iminente
catástrofe. No dia 13 de julho o Grupo de Exércitos Norte estava empenhado em duras lutas, conservando a
coesão das suas unidades graças aos repetidos movimentos de retirada locais. Sua sorte, contudo, estava
seriamente ameaçada e Model salientou esse fato numa comunicação dirigida ao Führer, em que solicitava a
imediata retirada das forças a fim de evitar o cerco e sua conseqüente destruição. Hitler, porém, negou o
pedido, condenando inapelavelmente essas forças ao aniquilamento.

No dia 10 de julho a frente de combate do Grupo de Exércitos Centro viu-se seriamente ameaçada quando,
na sua ala direita, o 2o Exército, localizado ao nordeste de Varsóvia, teve que suportar o assédio dos efetivos
russos que avançavam pelo sul. A manobra foi ocasionada pelo rápido esmagamento do Grupo de Exércitos
"Ucrânia Norte", situado a sudeste de Varsóvia. Anteriormente a essa data, os serviços de informações
alemães haviam prevenido os comandos acerca das importantes concentrações de tropas que os russos
realizavam nas regiões de Tarnopol, Luzk e Kowel, frente às linhas alemães, na Ucrânia do Norte. Os
contingentes concentrados incluíam numerosas forças blindadas e poderosas reservas de infantaria.

Os comandos alemães, porém, inexplicavelmente, não tomaram medidas para neutralizar qualquer possível
investida soviética; ao contrário, continuaram diminuindo a efetividade do Grupo de Exércitos "Ucrânia
Norte", retirando numerosas divisões blindadas a fim de reforçar posições do Grupo de Exércitos Centro.

Os russos ao assalto

No dia l3 de julho os efetivos do General Koniev, agrupados na Primeira Frente Ucraniana, lançaram-se ao
assalto das posições alemães, irrompendo no setor de união dos 1 o e 4o Exércitos blindados e avançando
irresistivelmente em direção ao oeste. Os dois exércitos Panzer ficaram, então, isolados entre si. Por essa
brecha, ao mesmo tempo, lançaram-se em impetuosa investida três exércitos blindados soviéticos. Em linhas
gerais, o avanço russo continuou rumo ao sudoeste, com a clara intenção de isolar e pressionar contra os
Cárpatos o 1o Exército blindado. Parte das forças, ao mesmo tempo, seguiu em frente, em direção ao Vístula,
alcançado no dia 22 de junho em ambos os lados de Jaroslav, a 150 km do ponto de partida.

No dia 18 daquele mesmo mês, partindo de Kowel, 100 km ao norte do ponto do rompimento anterior pelos
forças de Koniev, novas unidades se lançaram ao assalto avançando primeiro para o oeste e em seguida para
o norte. A intenção, clara, era atacar o flanco do Grupo de Exércitos Centro. O avanço realizou-se para o
oeste, até Lublin, a 120 km do ponto de partida. Ali as forças giraram para o norte, em direção a Varsóvia,
situada a 160 km. No dia 22 de julho, quatro dias depois de iniciado o ataque, os russos encontravam-se a
100 km da capital da Polônia.

A 18 de julho, também, o 4 o Exército blindado alemão, que ficara na retaguarda do avanço russo, às margens
do rio Bug, recebeu uma ordem terminante de Hitler, proibindo qualquer movimento para oeste. O Führer
cortava assim toda a possibilidade de salvação para importantes forças blindados, condenando-as a uma
inevitável destruição em virtude do poderio da massa inimiga.
Rumo ao coração da Alemanha

Enquanto ocorriam estes acontecimentos, e ao tempo em que o Führer negava a sua aprovação a qualquer
retirada, era expedida do QG, assinada pelo Marechal-de-Campo von Keitel, no dia 19 de julho de 1944, uma
Ordem do Dia cujo texto dizia exatamente:
"O Chefe do Alto-Comando das Forças Armadas: QG do Führer. 19 de julho de 1944
(100 cópias)
"Ordem do Chefe do Alto-Comando às Forças Armadas, referente à preparação da defesa do Reich.
"Objetivo: Preparativos para a defesa do Reich.
"As disposições para a defesa das costas e das fronteiras do Reich podem se resumir da seguinte maneira:
"Como princípio básico, as questões de caráter militar ficam subordinadas exclusivamente ao Estado-Maior
das Forças Armadas. Outras questões (por exemplo: mobilização de todos os recursos na Pátria, direção dos
trabalhadores e, particularmente, medidas destinadas à evacuação da população civil) ficam nas mãos da
direção do Partido (Nacional-Socialista). No setor econômico a responsabilidade será dos ministérios
correspondentes. Chama-se a atenção sobre a necessidade de uma estreita colaboração entre os diferentes
organismos, a fim de conseguir a eficiência máxima.
I. Organização do Comando.
"O Chefe do Exército e do Exército de Reserva é o responsável pela realização dos preparativos necessários
para a defesa da Pátria. Os comandantes dos distritos militares procederão de acordo com as determinações
que têm. No que concerne à Marinha e à Força Aérea, os preparativos serão da responsabilidade dos
comandantes-chefes da Marinha e da Aviação respectivamente.
"As regras básicas para a preparação da defesa do Reich serão emitidas pelo Alto-Comando das Forças
Armadas (Estado-Maior de Operações). As determinações suplementares serão emitidas pelos diferentes
organismos do Alto-Comando das Forças Armadas.
"A responsabilidade do Comando Naval para a defesa das costas, no que se refere à preparação e execução
de medidas defensivas, foi delimitada já na Diretiva n° 40, datada de 23 de março de 1942.
"As ordens já existentes serão complementadas com o adoção das seguintes medidas:
a) Contra o lançamento de pára-quedistas ou tropas aero-transportadas na Pátria.
b) Contra lançamentos individuais de pára-quedistas.
c) Contra minas lançadas do ar ou em terra, em cursos de água.
d) Defesa de edifícios e fábricas importantes do ponto de visto militar.
II. Tarefas.
1 - Cálculo de quantidade, poderio, mobilidade e armamento das forças disponíveis para operações.
2 - Planos para a concentração de forças, posição de comandos, postos de alerta, equipamento e locomoção.
3 - Planos para o treinamento de civis considerados aptos pelos autoridades do Partido.
4 - Cooperação de altas personalidades do partido e do Estado com os Gauleiters e Comissários do Reich
para a Defesa.
a). Preparação... para o envio de prisioneiros de guerra à retaguarda.
b) Instruções para o emprego de mão-de-obra estrangeira na retaguarda (tarefa das SS).
c) Instruções para a evacuação da população civil alemã.
d) Preparação para a dispersão, evacuação, obstrução e demolição de objetivos militares.
e) ... preparativos para a dispersão, evacuação, obstrução e demolição de objetivos civis".

O texto da Diretiva n° 58, acima citada, demonstra que, apesar das férreas disposições do Führer de "não dar
um passo atrás", existia no comando supremo a convicção de que a guerra se aproximava lenta porém
inexoravelmente das fronteiras da Alemanha.

Resistência a qualquer preço

Essa era a situação por volta de 20 de julho, quando Hitler saiu incólume do atentado de que foi vítima no
seu QG da Prússia Oriental.

No dia 24 o Führer emitiu uma nova diretiva de guerra dispondo os próximos movimentos das forças: o
Grupo de Exércitos Centro, que se estendia entre os contingentes russos e a Lituânia, a Prússia Oriental e
parte da Polônia, distribuído desde o golfo de Riga até Brest-Litovsk, 200 km a leste de Varsóvia, no sul,
deveria manter integra a linha Brest-Litovsk e Kovno. Além disso, deveria reunir-se e aprontar grupamentos
de ataque em ambas as alas da linha, com o objetivo de manter contato com os grupos de exércitos vizinhos,
o Norte e o "Ucrânia Norte", ao sul. O Grupo de Exércitos Norte, a um passo de ser cercado pelos russos ao
se retirar o 3o Exército blindado, que defendia sua ala direita, recebeu ordem de manter-se firme e contra-
atacar pela sua ala direita em direção ao Grupo de Exércitos Centro, a fim de restabelecer a unidade da
frente.

Mais ao sul, as ordens dirigidas ao Grupo de Exércitos "Ucrânia Norte" determinavam que se mantivesse a
qualquer custo a linha do Vístula. O 4 o Exército blindado, em suas precárias posições, praticamente isolado
no planalto que se estendia a uns 200 km a sudeste de Varsóvia, deveria resistir e manter as posições.

As ordens que determinavam a resistência a qualquer custo dispunham também o envio de consideráveis
reforços para a zona de batalha.

Isto, porém, em muitos casos, não chegou jamais a concretizar-se em vista da precária situação da maioria
das unidades. Os reforços deveriam ser fornecidos, de acordo com as diretivas, pelo Grupo de Exércitos
"Ucrânia Sul" e pelas unidades do Reich.

As tropas russas da Quarta Frente Ucraniana, enquanto isso, irrompendo no sul da frente de batalha, na zona
do Grupo de Exércitos "Ucrânia Norte", obrigaram o 1 o Exército blindado e o 1 o Exército húngaro, ao sul do
primeiro, a retirar-se para novas posições ao sudoeste.

Paralelamente a esses acontecimentos, os contingentes da Primeira Frente Ucraniana, ao comando do


General Koniev, romperam as posições alemães em Tarnov, a 200 km ao sul de Varsóvia. Ali os efetivos
alemães do Comando Superior do 17o Exército cederam e não puderam impedir o movimento dos russos em
direção norte, rumando a Baranov seguindo o curso do Vístula. Era 29 de julho e os soviéticos, reunidos em
três exércitos blindados, ampliaram rapidamente sua frente em direção a Kielce, 50 km ao norte de Baranov.

O 4o Exército blindado, impossibilitado de resistir como as ordens do Führer determinavam, recuou seus
efetivos para o oeste, para trás da barreira natural formada pelas águas do Vístula, a 100 km das posições
originais.

A situação da frente alemã diante dos efetivos do Grupo de Exércitos "Ucrânia Norte", 200 km ao sul de
Varsóvia, chegara assim a ser extremamente grave.

O comando alemão, numa tentativa de neutralizar a penetração russa, decidiu lançar um contra-ataque que
repelisse os soviéticos, que ampliavam perigosamente a cabeça-de-ponte estabelecida na margem oeste do
Vístula. O ataque foi lançado a 10 de agosto; tomaram parte os efetivos de três divisões blindadas que
pertenciam ao 1o Exército. Lançaram-se ao assalto num desesperado esforço para reduzir a ameaça russa.
Combatendo tenazmente, conseguiram pôr fim ao avanço soviético e estabilizar a frente, mantendo sob
controle a cabeça-de-ponte russa em Baranov.

Nos dias subseqüentes e até fins de agosto a situação manteve-se sem variações. Embora os efetivos alemães
se encontrassem enfraquecidos em seu potencial e seus homens praticamente à beira do esgotamento, o
estado geral dos russos da Primeira Frente Ucraniana não era melhor, também desgastados fisicamente e
carentes de material bélico.

Rumo a Varsóvia

Na zona de Varsóvia, enquanto isso, os grupamentos da Primeira Frente "Rússia Branca", que em Lublin
giraram para o norte em direção a Varsóvia, haviam continuado sua marcha até dispor suas vanguardas na
zona situada ao nordeste da capital da Polônia. Girando depois para oeste, os russos irromperam nas linhas
alemães, introduzindo uma cunha entre os 2 o e 9o Exércitos alemães, entrincheirados ao norte e ao sul de
Varsóvia. A reação alemã, limitada pela falta de elementos e pelo esgotamento dos combatentes, apesar de
tudo funcionou. Vigorosamente, numa suprema tentativa para deter a crescente ameaça soviética, três
divisões blindadas, transferidas dos já fracas frentes dos 2 o e 4o Exércitos de Varsóvia e na Prússia Oriental,
foram distribuídas diante da ponta-de-lança russa. Os alemães, atacando incansavelmente, detiveram o
avanço soviético e em seguida, lançando todo o peso dos seus elementos, cercaram e destruíram um corpo
blindado na localidade de Radzymin, 25 km a nordeste de Varsóvia. Dessa maneira foi paralisado o avanço
com que os russos ameaçavam as posições alemães na capital da Polônia. Os russos contribuíram também
para prolongar a trégua dada às tropas, detendo suas unidades a fim de reorganizá-las. A paralisação do
avanço russo coincidiu com o levante produzido a 1 o de agosto na capital da Polônia. Os grupos da
"Resistência", reunidos no chamado "Exército Nacional Polonês" comandado pelo governo exilado em
Londres, tinha aguardado o momento da aproximação dos contingentes soviéticos para levantar armas contra
os alemães. Deparam, porém, com a dura realidade de ter que lutar sem o esperado apoio russo. Assim,
enquanto milhares de combatentes poloneses morriam nos ruas de Varsóvia, na frente de combate, a poucos
quilômetros, as unidades russas permaneciam imobilizadas, negando, voluntária ou involuntariamente, um
apoio que salvaria milhares de patriotas poloneses.

Diante de Varsóvia, os soviéticos não efetuavam ação alguma. Os alemães, em conseqüência, lançaram o
peso das suas unidades contra a população sublevada. Ao sul da capital, a 50 km de distância, os russos
atacaram furiosamente no intento de ampliar o cabeça-de-ponte instalada na margem oeste do Vístula.
Porém, no dia 8 de agosto, os alemães do 9o Exército contiveram a investida, freando o avanço russo.

Paralelamente, ao norte de Varsóvia, no setor atacado pelos efetivos da Segunda Frente "Rússia Branca", a
100 km ao norte da capital, os soviéticos também se lançaram ao assalto tentando romper as linhas alemãs.
Apesar disso, as unidades alemães, atuando rápida e eficazmente, neutralizaram a ameaça e contiveram a
investida.

No setor norte da frente de luta, entretanto, a situação adquiria perspectivas extremamente graves. Os
contingentes da Primeira Frente do Báltico, pressionando com todos os efetivos, atacaram no setor de
Schaulen, na Lituânia, a 150 km do golfo de Riga. As unidades alemães, superados pela tremenda
potencialidade material do inimigo, viram-se forçadas a recuar, cedendo lentamente ante a pressão russa.

A Wehrmacht dividida

Por fim, a 30 de julho de 1944, os efetivos soviéticos alcançaram a costa do mar Báltico no golfo de Riga,
tornando realidade os vaticínios do comando local alemão: os Grupos de Exércitos Centro e Norte estavam
isolados um do outro. O Norte, na realidade, encontrava-se cercado na região báltica e ameaçado de total
destruição.

Como primeira medida, destinada a solucionar a grave situação dos homens do Norte, o comando decidiu
ordenar um movimento de ambas as alas dos grupos de exércitos, num deslocamento que as unisse
novamente, quebrando a cunha soviética. Um cálculo minucioso dos recursos necessários e daqueles com
que realmente se contava mostrou a absoluta impossibilidade de lançar tal movimento de pinças.

A esta altura, os efetivos russos começaram a dar mostras de completo esgotamento. Isso proporcionou aos
alemães uma trégua prolongada até o dia 9 de agosto, habilmente aproveitada para fechar as brechas e
reorganizar o movimento de pinças programado.

Até a data citada, os alemães tiveram claros indícios do esgotamento das unidades russas. Em conseqüência,
a ordem de contra-atacar emitida pelo Comando-Chefe do Exército adquiriu formas precisas. O Grupo de
Exércitos Centro deveria manter dois corpos blindados em prontidão atrás da ala norte e estabelecer a ligação
com o Grupo de Exércitos Norte na localidade de Schaulen, na Lituânia. A diretiva estipulava que, após a
ligação das forças, deveria se efetuar um rápido avanço rumo ao sudeste, na direção de Kovno, 100 km de
Schaulen. Os planos, minuciosamente elaborados no que se refere aos movimentos das tropas, não se
baseavam numa visão realista da situação quanto à quantidade e ao estado dos efetivos. De fato, as tropas,
além de exauridas, limitavam-se a quatro divisões blindadas e uma de atiradores blindados; duas das
divisões, além disso, estavam em trânsito vindas da Romênia.

Os comandos alemães locais, porém, diante da realidade que acompanhavam bem de perto, compreendiam
que a catástrofe se aproximava e viam existir apenas uma solução: rápida evacuação da Estônia. O Alto-
Comando, porém, mantinha a decisão anteriormente citada: contra-atacar. Com vistas nessa operação, foi
transportada até o ponto de concentração do Grupo de Exércitos Norte uma divisão de infantaria de reforço.

O comando do Grupo de Exércitos Centro fôra, enquanto isso, assumido pelo Coronel-General Reinhardt,
substituindo o Marechal Model, enviado à frente do oeste.

O ataque planejado, a cargo da ala do 3 o Exército blindado alemão sediado na Lituânia, foi iniciado a 16 de
agosto e tinha como partida as zonas de Memel e Tauroggen. Seu objetivo era ainda retomar contato com as
forças do Grupo de Exércitos Norte, rompendo o virtual cerco deste último.
O ataque do 3o Exército blindado teve êxito no início, como é habitual. Em seguida, porém, as forças
soviéticas reagiram com o peso da sua superioridade numérica e material e frearam definitivamente a
investida. As linhas alemães tinham chegado a Schaulen, primeiro objetivo do contra-ataque. O segundo
passo (contato com os efetivos do Norte) não pôde ser efetuado.

Contudo, apesar do fracasso do movimento, os alemães deixaram comprometidos os próximos lances russos;
o avanço alemão ameaçava diretamente as posições da Primeira Frente do Báltico e conseqüentemente os
comandos russos decidiram reforçar suas linhas com efetivos transferidos para Schaulen; além disso,
suspenderam o avanço para o norte.

A 20 de agosto, quatro dias de começado o movimento alemão em Memel e Tauroggen, produziu-se outro
ataque alemão ao norte, nas vizinhanças da costa do golfo de Riga. Nessa oportunidade, por ordem do Alto-
Comando, um grupamento blindado composto por duas brigadas deveria lançar-se ao assalto no setor de
Tukkum, perto do costa, restabelecendo o contato com os elementos do 16 o Exército alemão, que avançariam
de onde estava sitiado o Grupo de Exércitos Norte.

A união é restabelecida

A operação foi cumprida na data citada e a união das forças se efetivou, restabelecendo-se o contato através
de uma estreita faixa costeira.

O passo seguinte, sugerido ao Führer por Guderian e reiteradamente solicitado pelo comando do Grupo de
Exércitos Centro, deveria ter sido a imediata retirada do Grupo de Exércitos Norte através do "corredor",
mandando-o à Lituânia com o objetivo de ajudar na defesa do Prússia Oriental e no resto da frente. O Führer,
contudo, rechaçando essas sugestões, determinou, ao contrário, reforçar o Grupo de Exércitos Norte com
duas divisões do grupo Centro e do território do Reich.

A situação, porém, que poderia ter alcançado níveis de extrema gravidade para os alemães, não sofreu
mudanças consideráveis. As unidades russas das três frentes do Báltico, necessitadas de ampla
reorganização, detiveram seus movimentos e permaneceram nas posições já atingidas, sem tentar novos
assaltos. Um rápido panorama da situação na frente soviética mostra que durante o mês de agosto os efetivos
alemães, gravemente ameaçados, tinham conseguido neutralizar a ameaça. Embora atingidos, puderam
continuar ainda de pé. O que parecia o final se convertera, afinal de contas, numa trégua que concedia um
descanso aos esgotados combatentes alemães. Os russos, por sua vez, embora vitoriosos, demonstraram
necessitar daquele mesmo descanso.

A frente, apesar dos desacertos de Hitler, causando aos exércitos alemães a perda de algumas divisões,
mantinha-se estável e exibia uma coesão relativamente aceitável.

A linha de batalha em que se achava o exército alemão, porém, já não despertava nenhuma esperança dentro
de uma ponderação realista. De fato, as grandes cabeças-de-ponte russas no Vístula pressionavam
procurando ampliar a frente para o outro lado do rio. Os alemães sofriam carência absoluta de forças de
infantaria e os posições eram mantidas è custa de divisões blindadas, desviadas assim da sua importante
missão de atuar como reservas móveis, encouraçadas, capazes de fechar as eventuais brechas abertas pelo
inimigo.

A estabilização da frente, em caráter definitivo, não constituiria o preâmbulo de um gigantesco contra-ataque


alemão para reconquistar o terreno perdido. E os comandos alemães sabiam que a própria situação não
poderia ser mantida por muito tempo.

Anexo
Os Tanques Vermelhos
Na Rússia a fabricação de tanques se desenvolve paralelamente à de automóveis e tratores. Durante o transcurso da
guerra civil, em 1920, construíram-se algumas unidades que na realidade eram cópias dos tanques franceses "Renault".
Entre 1931 e 1937 transcorre um período preparatório com a criação de estabelecimentos especializados e fabricação de
unidades leves e anfíbias. Em 1938, o engenheiro Kotin, na fábrica Kirov de Leningrado, constrói o "OMK", o primeiro
tanque pesado. No ano seguinte Kotin fabrica o "Borosilov" KV1 que, transformado para a guerra da Finlândia,
converte-se no KV2 de 52 toneladas. Nesse mesmo ano outras fábricas iniciam a produção em série do médio T-34,
projetado pelos engenheiros Koshlin e Morozov na "Fábrica 138" de Kharkov. Esta unidade foi equipada inicialmente
com uma peça de 76 mm e mais tarde com uma de 85 mm; a blindagem era de 70 mm.
Ao iniciar-se a Segunda Guerra Mundial, estas fábricas foram transferidas para os Urais. Em 1941 foi criado o
"Comissariado do Povo da Indústria do Tanque" que agrupava sob sua direção as indústrias de tanques de motores
diesel e várias outras de material elétrico. Entrementes, na Sibéria, se estabelecem novas indústrias de veículos
blindados.
A partir de 1943 o KV2 é substituído pelos novos tanques "Stalin IS." de 57 toneladas, armados com canhão de 122 mm
e três metralhadoras de 7,62, movidas por um motor diesel.
A blindagem era de 98 mm. Seu inventor foi o engenheiro Kotin, de Leningrado.
Este tanque superava o poder de fogo do "Tigre" alemão, que contava com um canhão de 90 mm.
A partir dos fins de 1941 todos os tanques soviéticos foram equipados com motores diesel, adaptados pelo engenheiro
Krashtutin.
Tomando por base os projetos dos tanques, começaram a ser construídos os canhões auto-propulsados: sobre o modelo
dos T-34, os canhões SU 85 e SU 100; sobre o dos tanques pesados, os ISU 122 (obuses) e os ISU 152 (canhões).
Os veículos blindados como o tanque médio T-44, mais baixo, mais blindado e mais rápido que o T-34, equipados com
um canhão de 85 mm, apareceram nos últimos anos da guerra mundial.

Ataque
"Tudo indicava que o inimigo preparava um contra-ataque. Ao entrar no posto de escuta ouvi o chefe que dizia:
"Chegou a hora. Atenção que vai começar a função". Nesse mesmo instante vi os tanques avançando pelo lado esquerdo
do vale. Atrás deles corriam uns homens. Focalizei o binóculo e vi que aqueles homens estavam nus da cintura para
cima e que apertavam os fuzis automáticos contra o corpo suado. Tinham as narinas tapadas com algodão, pois o fedor
que se desprendia dos cadáveres era insuportável. Alguns filmavam as cenas do combate. De repente a fumaça envolve
tudo. Não se vê nada. Atiramos às cegas contra a neblina densa. As horas passam e o combate não cessa. As explosões
parecem fazer saltar nossos miolos e arrebentar nossos tímpanos.
Os carros de assalto que avançam na frente chegam às trincheiras; ali, são contidos. Dão meia volta imediatamente.
Esmagam na retirada os corpos de alemães e russos que pereceram no combate. Conseguiram, porém, extinguir o fogo
de várias das nossas baterias.
Neste exato momento os alemães lançam um ataque aéreo decisivo. Nossos aviões estavam na proporção de dez para
um. A arremetida dos Stukas não é apenas um ataque, simplesmente, mas um turbilhão arrasador que varre tudo:
homens, coisas, terras. Depois do alado furacão de fogo e metralha, surgem os tanques. Os defensores presenciaram
tudo. Viram como a primeira linha foi completamente destroçada. Viram a destruição de nossas baterias. Nenhum
tentou abandonar seu posto. Porque sabiam que com mais dois ou três ataques como aquele o inimigo conseguiria
ultrapassar nossas linhas".
Boris Voyetekhov. (Correspondente soviético)

A aviação russa
Em 1916 a Rússia fabricara 1.769 aviões e 669 motores; em 1920, porém, a indústria aeronáutica estava arruinada pela
luta revolucionária. Existiam somente alguns técnicos, faltavam mão-de-obra qualificada e maquinarias. Apelou-se
então à fábrica Junkers, da Alemanha, que instalou uma fábrica aeronáutica em Moscou. Ao mesmo tempo
incrementou-se a formação de especialistas soviéticos. Em 1925 apareceram os primeiros aparelhos de construção
inteiramente soviética. Em 1928, 18 fábricas com 20.000 operários produziram 500 aviões. A partir de 1929 os planos
qüinqüenais deram um impulso novo à indústria aeronáutica. Sete anos mais tarde, 54 fábricas, com um efetivo de
110.000 operários, produziram 1.700 aparelhos. Em 1939, 74 estabelecimentos, com 200.000 operários, fabricam 8.000
aparelhos. Com o Terceiro Plano Qüinqüenal essas cifras são consideravelmente aumentadas. No fim da Segunda
Guerra Mundial, as fábricas aeronáuticas da URSS empregam mais de um milhão de operários e produzem anualmente
cerca de 40.000 aviões. A indústria aeronáutica soviética trabalha sob a direção de três centros de investigação
instalados em Moscou, entre os quais o "Instituto Aero-hidro-dinâmico" (em russo: "Ts. Ag. I") criado em 1930.
Em 1943, no campo da fabricação de motores, a URSS ainda estava atrasada em relação às grandes potências; em 1940,
porém, pode-se admitir que esse atraso tinha desaparecido integralmente.
Antes de 1939 a totalidade da indústria aeronáutica estava reunida na Rússia central, no sul e no leste. Como resultado
da guerra espanhola, o comando soviético optou pela necessidade de transferir essa indústria para os Urais. Foi então
criado o "Comissariado do Povo para a fabricação aeronáutica". Esse novo organismo criou os centros de fabricação de
Molotov, Nishni-Tayil, Sverslovsk,. Cheliakinsk e Ufa. Contudo, a oeste dos Urais continuou desenvolvendo-se a
indústria aeronáutica, particularmente em Kuibishev.
Em 1941, quando estoura a guerra, a produção, de acordo com o novo dispositivo, não está ainda totalmente apta, mas
os preparativos estão bem adiantados. Os aviões "TB 3" participam na evacuação para o leste da maquinaria leve, assim
como do pessoal.
Entre os construtores soviéticos citaremos:
- Andrés N. Tupoliev, construtor do "ANT 3"', monomotor biplano de transporte no qual o aviador Shestakov efetua em
1926 o reide Moscou-Tóquio, e o "ANT 25", que nesse mesmo ano estabelece o recorde mundial de velocidade entre
Moscou e a Califórnia, pilotado pelo aviador Gromov (10.000 km em 62 horas e 30 minutos). Durante a guerra
Tupoliev fabricou o "T2", aparelho de bombardeio de mergulho.
- Sérgio Iliushin, criador da aviação de assalto Seus projetos, o "II 2" e o "II 3", destacam-se pela blindagem, que os
torna invulneráveis à artilharia antiaérea leve e pelo seu armamento ofensivo, com metralhadoras médias ou pesadas e
dois canhões.
- Alexandre Iakovlev, construtor de um avião-escolta, em 1936. Durante a guerra fabricou, a partir de 1941, a série de
aviões de caça que permitiram à aviação soviética rivalizar com os caças alemães. Construíram-se sucessivamente cinco
modelos, de 1941 a 1945. Iakovlev, promovido a general de divisão, é adjunto do Ministério de Indústria Aeronáutica.
- J. Lavochkin, fabricante de três modelos de aviões de caça construídos numa série muito grande durante a guerra.
- W. Petliakov, aluno de Tupoliev, fabricante em 1940 do bombardeiro em picada bimotor "Pe-2", considerado como um
dos mais notáveis pelas suas qualidades de rapidez e picada. O "Pe-3" é uma versão melhorada do "Pe-2". Durante a
guerra Petliakov modernizou o bombardeiro pesado "TV 7" de Tupoliev e criou o "Pe-8", de grande raio de ação.
Entre os fabricantes de motores de aviação citaremos Klimov, Shevtzov e Mikulin.
No começo da última guerra a aviação soviética estava em condições de inferioridade em relação à aviação alemã.
Porém, a partir de 1941 os esquadrões foram reforçados com o avião de assalto "Iliushin 2", com o bombardeiro
"Petliakov 2" e com o "Iliushin 4". Quando em 1943 os alemães fazem surgir os novos "Messerschmitt" e o "Focke
Wulf" 190, aparecem novos "Iakovlev" e novos "Lavochkin 5". Finalmente, esboroam-se as esperanças alemães de
superar o material soviético. As características dos principais tipos de aviões utilizados pelos soviéticos durante a guerra
são as seguintes:
Aviação de Assalto: (Stormovik).
"Iliushin 2", monoplano blindado, armado com dois canhões (20 e 32 mm), com duas metralhadoras, bombas, foguetes
a reação. Velocidade 350 km.
"Iliushin 3", biplano, armado com dois canhões de 37, três metralhadoras, velocidade 350 km. Bombardeiros leves:
"Iliushin 4" (bimotor).
Bombardeiros médios e de reconhecimento:
"Petliakov 2 e 3", velocidades de 500 e 540 km.
"Talk 4", velocidade de 520 km.
"Tupoliev 2", velocidade de 500 km.
"Iliushin 4", velocidade de 420 km.
Bombardeiros pesados:
"Tupoliev TV 7".
"Petliakov 8", de grande raio de ação (quadrimotor).
Podiam ser utilizados também como transportes.
Aviação de transporte:
"PS-84" capacidade: 20 a 30 passageiros.
"Iak-6" capacidade: 20 a 30 passageiros.
Também podiam ser empregados como bombardeiros.

Os indispensáveis
O ódio era mútuo e talvez viesse de muito longe, pois era evidente que os soldados e os burocratas não se toleravam.
Havia estórias que corriam de boca em boca entre a tropa e que acabavam constituindo um problema a mais. Aboletados
atrás de suas máquinas de escrever e de montanhas de painéis, o funcionário de gabinete vivia a guerra de uma maneira
especial. O barro, a fome e a morte eram elementos episódicos e geralmente longínquos.
Por outro lado, eram recrutados entre filhos de gente influente ou amigos de figurões. Todos estes cargos, longe da
frente e de seus perigos, achavam-se resguardados pelo rótulo de "indispensáveis" e avalizados pelos rótulos ainda
maiores dos chefes do partido. Isto era sabido pelos soldados que, nos momentos de angústia, amaldiçoavam os
"apadrinhados". E o cérebro dos burocratas funcionava de um modo todo especial. Quando em setembro de 1944 o
exército alemão batia em retirada na Estônia, eram encontrados caminhões carregados com papéis, mesas, armários,
arquivos, etc., isto é, tudo o que um velho "rato de escritório" julgava indispensável. Em alguns casos estes caminhões
foram confiscados e carregados com soldados feridos ou elementos de combate que nesses momentos eram
fundamentais. Quase sem exceção os funcionários protestavam irritados. Então os militares ameaçavam incorpora-los a
unidades de combate. Os burocratas acalmavam-se...
Em algumas oportunidades pretenderam infiltrar entre os comboios caminhões carregados de cigarros, chocolate, vinho,
etc., que eram, sem perdão, confiscados e distribuídos entre a tropa. Os soldados se alegravam ao ver o aborrecimento
desses funcionários e faziam caçoadas tremendas quando algum burocrata era finalmente incorporado às unidades de
combate. Hitler organizou uma inspeção através de um general que visitou todas as autoridades civis e militares para
retirar os auxiliares que não fossem indispensáveis. Desta maneira, milhares de apadrinhados foram destinados às
unidades de combate. Entretanto, sempre havia aqueles que resistiam às mais severas purgas e conseguiam permanecer
em seus postos. Quando o Coronel-General Schoerner foi designado comandante do Grupo de Exércitos Norte, enviou
35.000 "empregados indispensáveis" recrutados na retaguarda, em escritórios, depósitos, administrações, etc., para a
frente de batalha.

Volkssturm
Durante o verão de 1944 o Führer falava em manter a integridade do território do Reich, porém, ao mesmo tempo, as
"velhas terras germânicas" dos paises bálticos eram evacuadas em condições mais que penosas para os exércitos
alemães.
Ao concluir o discurso de 18 de outubro de 1944, Hitler anunciou a criação do Volkssturm, espécie de milícia popular
em cujo seio militariam meninos de quatorze anos e homens de sessenta.
As perspectivas eram cada vez mais sombrias, pois o inimigo já se dispunha a penetrar na Prússia Oriental, o berço do
germanismo. Enquanto isso, os serviços de Goebbels esforçavam-se para relembrar aos alemães que o maior erro de
1918 fôra negociar "sem terem sido vencidos". Especulavam também com as solenes declarações dos Aliados, que
falavam em capitulação incondicional. Neste fato a propaganda nazista encontrava o último sustentáculo para mobilizar
o orgulho nacional. E uma vez mais se operava o milagre, embora em setembro o moral do povo alemão estivesse
seriamente abalado. Bastaram apenas alguns discursos e um erro psicológico dos Aliados para que fosse novamente
revigorado.

Reveses Alemães
Transcrevemos um artigo do escritor francês Michel Garder sobre a situação geral da Alemanha, no verão de 1944.
"No 'covil do lobo' os estremecimentos ocasionados pelo atentado de 20 de julho não tinham sido superados. Pensava-se
muito nesse problema quando era necessário enfrentar uma situação grave, tanto no leste como no oeste. O General
Guderian, que substituíra Zeitzler à frente do Estado-Maior Central desde 21 de julho, começara a desempenhar suas
funções num momento difícil. Os generais não somente eram uns 'inúteis' (como costumava dizer o Führer) mas
também suspeitos. Tornava-se cada vez mais difícil trabalhar com Hitler. Este estava decidido a empreender uma ação
de educação política radical no seio do exército. A saudação hitleriana substituiria a saudação militar. As unidades
terrestres da aviação, designadas como guardas de certos campos de concentração, eram obrigadas a usar os uniformes
do Partido. Não se havia chegado ainda aos comissários políticos, porém a dualidade exército-Partido praticamente
desaparecera e os 'verdadeiros nazistas' supervisionavam a Wehrmacht.
No oeste, a situação se agrava dia a dia. Os Aliados controlavam a Normandia e a Bretanha, com exceção de alguns
portos, e iniciavam a vitoriosa ofensiva rumo a Paris. Um novo desembarque acabava de ocorrer na Provence. Rommel,
comprometido no atentado, fôra chamado e se 'suicidara'. Von Kluge fôra destituído do comando e em seu lugar o
Führer colocara o homem das situações difíceis: o General Model. À frente do Grupo de Exércitos Centro, o General
Reinhardt sucedeu a Model depois de passar o seu Terceiro Exército blindado ao General Rauss. Por proposta de
Guderian tentava-se uma operação para aliviar a situação das tropas alemães na região de Riga. Atacando Chaulai e
Tukums, dois corpos blindados obtiveram alguns êxitos e a 20 de agosto conseguiram estabelecer contato com o Grupo
de Exércitos Norte. O General Guderian propôs mais uma vez aproveitar aquela ocasião para retirar o Grupo de
Exércitos Norte para a Prússia oriental, sem, entretanto, conseguir o assentimento de Hitler.
Naquele mesmo dia o General Friessner, comandante-chefe do Grupo de Exércitos "Ucrânia Sul", avisava que o
exército vermelho acabava de desencadear violenta ofensiva na região de Kichivev-Jassy.
A 23 de agosto o rei Miguel, da Romênia, mandava prender o 'Conducator' Antonescu e constituía um novo governo.
No dia 24 a Romênia comunicava que 'se retirava da luta' e, no dia 25, declarava guerra à Alemanha após um
bombardeio da sua capital pela Luftwaffe.
A União Soviética nem esperara essa data para, de sua parte, acolher ao lado de suas forças, no dia 24, uma divisão
romena, a 'Tudor Vladimirescu', formada em parte por prisioneiros de guerra romenos até então mantidos na reserva
pelos russos.
A notícia da 'traição' da Romênia enfurecera o Führer.
O General Freissner recebeu ordem de prender o rei e o novo governo e restabelecer no poder o antigo. A 24 de agosto a
Luftwaffe bombardeou Bucareste e as tropas alemãs, às ordens do General Herschtenberg, tentaram apoderar-se da
cidade. Depois do fracasso da tentativa, três batalhões da Divisão 'Brandenburg' foram enviados por via aérea à região
de Bucareste e também foi enviada a 5a Divisão antiaérea. Esta última ficou bloqueada pelas tropas romenas perto de
Ploesti.
Finalmente, ante a resistência dos romenos e a ameaça soviética, o comando alemão renunciou à conquista da capital da
Romênia, onde a 31 de agosto penetrava o 53 o Exército do General Managarov. Tolbuchin também avançava
rapidamente em direção à fronteira romeno-búlgara.
A 2 de setembro chegou a vez do novo presidente da república finlandesa, que informou a Hitler que seu país não podia
continuar a guerra. A 5 de setembro suspendeu-se o fogo na frente russo-finlandesa. Um armistício foi assinado no dia
19, em Moscou. A Finlândia se comprometia a impedir a passagem das tropas alemãs pelo seu território. A presença do
20o Exército alemão na região de Petsamo permitia aos finlandeses lutar ao lado das tropas soviéticas numa operação no
norte, durante o mês de outubro.
A 9 de setembro eclodia a revolução na Bulgária. A monarquia era abolida. Um governo, chamado 'frente patriótica',
insuflado pelo Partido Comunista búlgaro, declarava guerra à Alemanha. As tropas de Tolbuchin, que haviam ocupado
Varna, Burgas e Rustchuk, entravam triunfalmente em Sófia no dia 15. O caminho para a Iugoslávia estava aberto.
Desde o final de agosto numerosos guerrilheiros eslovacos haviam iniciado operações abertas contra os alemães, que
mobilizaram para enfrenta-los quatro divisões alemães e uma húngara. O 'aliado checoslovaco' iniciava a guerra contra
a Alemanha. Em conseqüência dos acontecimentos ocorridos na Romênia e na Bulgária, o comando alemão se
defrontava com o problema da manutenção do Grupo de Exércitos F, do Marechal von Weichs, espalhado entre a
Grécia, Albânia, Montenegro e o sul da Iugoslávia. Era necessário decidir-se a dar a ordem de retirada.
Os acontecimentos haviam evoluído com uma velocidade vertiginosa. No final de setembro produzia-se a derrota no
oeste. Depois a França, Bélgica, Luxemburgo e uma parte da Holanda foram também libertadas. Na Itália os Aliados
haviam ultrapassado Florença. Algumas regiões do norte estavam sob o controle dos "partizans" italianos. Os Bálcãs
escapavam das mãos alemães, para os quais a perda do petróleo de Ploesti constituía um golpe particularmente duro. O
exército vermelho ameaçava diretamente a Hungria e a Checoslováquia e se dispunha a estender a mão aos guerrilheiros
de Tito, na Iugoslávia.
Nos países bálticos a ofensiva soviética voltara a tomar impulso no dia 22. Arriscava-se ali a sorte do Grupo de
Exércitos Norte, enquanto a Prússia oriental era, dia a dia, mais ameaçada. Esmagado pelos bombardeios aliados, o
território do Reich oferecia aspecto deprimente. Os milhões de trabalhadores estrangeiros, os milhões de prisioneiros de
guerra e os milhares de alemães encerrados nos campos de concentração representavam uma ameaça latente para a
população, que havia perdido a fé. Tristes e conformados, os soldados alemães cumpriam o seu dever sem entusiasmo.
Todos sentiam que o fim se aproximava a passos gigantescos. Unicamente o Partido continuava aferrado ao mito do
grande líder. Para Hitler, portanto, o caminho da dúvida estava fechado. Continuava persuadido que tinha todo o povo
alemão de seu lado, quando de fato só contava com a polícia, a SS e a juventude hitleriana."

Composição do Exército Vermelho


Grandes unidades:
Divisão de infantaria (os efetivos completos de uma divisão se elevam a 9.300 homens)
3 regimentos de infantaria de três batalhões
1 regimento de artilharia e 1 grupo antitanque
1 batalhão de engenharia e 1 companhia de comunicações
Regimento de infantaria:
1 companhia de pistolas-metralhadoras
1 bateria de canhões de acompanhamento (calibre 76)
1 bateria antitanque de seis peças (calibre 45)
1 destacamento de fuzis antitanque (27 fuzis)
1 companhia de morteiros
1 companhia de sapadores
Regimento de artilharia:
2 grupos mistos (76 e 122)
1 grupo antitanque
1 grupo de artilharia antiaérea
Divisão de Montanha:
4 regimentos de infantaria
1 regimento de artilharia com grupos mistos de canhões de 76 mm e morteiros de 120 mm
1 grupo de artilharia antiaérea motorizado
Divisão Blindada: (em verdade o termo "divisão blindada" não aparece durante a guerra no exército vermelho. É
utilizado "corpo blindado")
3 brigadas de tanques médios, de 3 batalhões de 21 tanques por brigada
1 brigada de infantaria dotada de canhões de assalto, morteiros pesados e lança-chamas
1 brigada de artilharia composta por peças de 85 e 152 mm
1 brigada de lança-foguetes, morteiros pesados e um grupo de artilharia antiaérea.
Ou seja, ao todo uns 200 tanques e uma centena de peças de artilharia, às quais se somam 24 canhões antitanque e 28
peças antiaéreas.

A partir de 1943 destinam-se os automotores em proporção crescente às grandes unidades blindadas, sendo, ao final das
hostilidades, atingida a relação de 1 para 2 entre automotores e tanques.
Divisão de Artilharia (composta de 4 brigadas):
1 brigada de canhões antitanque
1 brigada de 50 canhões de 152 mm
1 brigada de 84 obuses de 122 mm
1 brigada de 108 morteiros de 120 mm
Isto é, mais de 300 bocas de fogo de diversos calibres.
Divisão de Cavalaria:
3 regimentos de cavalaria e morteiros
1 bateria antiaérea
Divisão Motorizada Lança-Foguetes:
2 brigadas de lança-foguetes M-30 calibre 300
3 regimentos de lança-foguetes M-13, calibre 130
Em resumo, mais de 300 lança-foguetes de 4 e 16 tubos.
Divisão de Artilharia Antiaérea Motorizada:
3 regimentos de artilharia antiaérea leve (calibre 37)
1 regimento de artilharia antiaérea média (calibre 85)
Junto às divisões mencionadas existiram numerosas brigadas autônomas, de infantaria, cavalaria, tanques e artilharia
antitanque, assim como regimentos autônomos das diversas armas.
Cabe mencionar as "brigadas autônomas aerotransportadas para guarda", que compreendiam:
4 batalhões de pára-quedistas
1 grupo de artilharia
1 grupo antitanque
1 grupo de artilharia antiaérea

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