Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FADE IN
Um homem com uma cicatriz no braço, pega um copo de pinga e, toma de um gole só, sem
fazer careta. É PEDRO MANDÊS, mais conhecido por seus amigos como "COYOTE". Ele tem
26 anos, barba e cabelos pretos, cicatriz no rosto e no braço, usa poncho marrom, lenço no
pescoço e chapéu de tropeiro. Ele está em uma vendinha empoeirada, sem movimento, na
beira da estrada, com moveis rústicos e paredes caiadas de branco. Ele está sendo
atendido por Dona Lena. No fundo da vendinha, um homem negro vestido de preto está
sentado com uma garrafa de cachaça em cima da única mesa. Ele toma um gole e passa as
costas da mão enxugando a barba abundante. Olha com a fisionomia fechada para Pedro.
VOLTA À CENA
Pedro paga e sai arrastando suas esporas no chão. O homem de preto levanta, vira o
restante da cachaça do copo na boca, põe o chapéu e sai apressado atrás dele.
Pedro sai da vendinha. O homem de preto aparece, na porta (NO MESMO PLANO), atrás.
HOMEM
(apontando a arma)
Ei, forasteiros! Pare aí!
HOMEM (CONT)
Sou Policial... Vou revista ocê
PEDRO MANDÊS
(sem olhar)
Eu tamém sou policial.
HOMEM
(incrédulo)
Ah é?! Tire sua carteira bem
devagar e me entrega de costas!
HOMEM (O.S.)
Ocê vai fica gunizando até morre.
Então, num banca o mentecapto!
FADE OUT
SOM de tiros.
Título: Rio Vermelho "O CERCO AO COYOTE"
Inicia-se a Música e os Créditos, com Imagens históricas de Goiás.
FADE IN
TENENTE ARCANJO
Preferia que ele tivesse vivo!
Ainda tá faltando oito rifles.
CABO JOVELINO
Sem pista?!
TENENTE ARCANJO
Sem pista!... Onde tá o homem que matô o Coyote?
CABO JOVELINO
Tá esperando ali pra recebe a recompensa.
TENENTE ARCANJO
Depois vou lá gradecê ele, por tê
arrancado essa praga do cerrado.
Guarda o lenço no bolso.
TENENTE ARCANJO (CONT)
Ele é Jagunço de algum coronel?
CABO JOVELINO
Quem?!
TENENTE ARCANJO
Como quem? O Homem que matou o Coyote!
CABO JOVELINO
Ele um policial de Campo Formoso.
TENENTE ARCANJO
Sabe o nome dele?
CABO JOVELINO
Paulo Gusmão.
TENENTE ARCANJO
Como é ele?
CABO JOVELINO
Num reparei direito, Tenente,
mas é jovem... Notei que é coxo.
TENENTE ARCANJO
Coxo?!
CABO JOVELINO
É, ele manca... Acho que tem uma
perna meno que a outra.
Em cima de uma mesa está um corpo de um homem, coberto por um sujo lençol.
CABO JOVELINO
(apontando)
Ai tá o corpo do Coyote, Tenente!
TENENTE ARCANJO
Esse Poncho,(pensativo) sabe se ele
era tropeiro no passado?
CABO JOVELINO
Na serra Andirá, perto do povoado36
"Bonfinópolis"
TENENTE ARCANJO
36!?... Então tava a caminho de
Bulhões!... Eu previa isso.
PEDRO MANDÊS
Desculpa! Mai num gosto de vê gente gunizando.
DONA LENA
Num entendi o que aconteceu,
Cêis dois num é policial?
PEDRO MANDÊS
Desculpa por isso!
DONA LENA
Não tem problema, num gostava dele memo!
Esse policial comia e bebia todo dia aqui,
Mai nunca pagava... Dava um prejuízo lascado.
DONA LENA
Cê que toma um vinho co queijo e salame? É por conta da casa.
DONA LENA
Só peço co cê tira esse corpo daí e deixa ele bem longe.
Num sei o que tá contecendo, maí essa região tá cheia de Sordado.
CENA 3 - EXT. ESTRADA RUDIMENTAR, CERRADO- DIA
SOLDADO (O.S.)
(gritando a distância)
Força Policial... Peço que ocê coloca a mão na cabeça.
PEDRO MANDÊS
Eu tamém sou Policial.
SOLDADO (O.S.)
Porque tá carregando esse defunto?!
PEDRO MANDÊS
Ele é do bando do Coyote...
Tô levando pra recebê a recompensa.
SOLDADO (O.S.)
Ah!... Tudo bem.
SOLDADO
Acabei de coar um café compadre, vêm toma
Um homem está comendo em uma mesa, é SEBASTIÃO, preto, cabelos e barba branca.
Chega a Dona Lena.
DONA LENA
O senhor não pode comer aqui... Tem que comer lá fora.
SEBASTIÃO
Mas porque?! Tinha um moço comendo aqui agora.
DONA LENA
Ele era branco.
Sebastião levanta da mesa com o prato e vai saindo cabisbaixo.
DONA LENA
Vou te levar água lá viu...
Sebastião senta na mesa da varanda e volta a comer, olha para o lado e vê chegando dois
homens com papeis na mão (retrato falado), é o Cabo Souza e seu assistente.
Chega a Dona Lena com a água. Cabo Souza pega os papeis da mão de seu assistente e
mostra os papeis um a um para a Dona Lena.
CABO SOUZA
Viu esses homens por aí?
DONA LENA
(Colocando a água na mesa)
Não! Não vi.
Tenente Arcanjo chega à mesa do Sebastião e mostra os retratos falados pra ele.
CABO SOUZA
E ocê negro, viu esse rosto?
Sebastião mau olha para o cabo Souza, balança a cabeça em negativo e continua comendo.
Cabo Souza manda a mão em seu prato e derruba toda comida.
CABO SOUZA
Presta atenção quando eu falo seu negro... Ocê nunca viu
Esse rosto, porque nunca deve ter olhado pra um espei.
CABO SOUZA
Vamos fazer o seguinte, se você me falar onde está o Coyote,
eu dou a minha palavra, que não vou te matar e nem te prender.
SEBASTIÃO
Eu falo.
CABO SOUZA
Promete dizer a verdade?
SEBASTIÃO
Sim... Ele vai pega um trem em Leopoldo de Bulhões pra Catalão.
TENENTE ARCANJO
Ocê ta mentindo pra mim negro!
SEBASTIÃO
Posso ser nego, posso ser pobre, mai eu tenho palavra.
TENENTE ARCANJO
Que pena procê, queu num tenho.
Dona Lena arregala os olhos pressentido o pior, Cabo Souza atira e mata o Sebastião.
SOLDADO
De onde cê é compadre?
PEDRO MANDÊS
Sou da Capital.
SOUDADO
Eu sou daqui de Campininha das Flores.
Breve Pedro Ludovico vai trazer a capital pra cá.
PEDRO MANDÊS
Eu sei! Ele que tira a capital da mão dos Coronéis.
SOLDADO
Pedro Ludovico ganhou muito poder
depois que Getúlio Vargas nomio ele
como o novo Interventor de Goiás.
PEDRO MANDÊS
Isso é verdade...
SOLDADO
O corpo, Cê vai entregar no Quartel da Força Pública.
PEDRO MANDÊS
Sim... Sabe quanto tão pagando lá?
SOLDADO
Pra esse ai 5 contos de réis, prô Coyote 30.
PEDRO MANDÊS
30?! Porque tanto dinheiro?
SOLDADO
Sei lá! ... Apareceu Mercenário de
toda região, em busca desta recompensa.
PEDRO MANDÊS
(entregando o copo)
Amigo brigado pelo café... muito bom!
SOLDADO
Bebe mais compadre.
PEDRO MANDÊS
Tô satisfeito.
PEDRO MANDÊS
Porque cêis tão de tocaia aqui nessa serra?
SOLDADO
O Tenente Arcanjo foi informado que
o Coyote ia pra Leopoldo de Bulhões,
...Essa é a única estrada vai dá lá..
PEDRO MANDÊS
Tem mais Policial adiante?
SOLDADO
Tem um homem nosso em cada montanha,
de Campininha até Leopoldo de Bulhões.
PEDRO MANDÊS
Mai o Coyote pode desviado pelo cerrado... É um lobo num é?!
SOLDADO
Mai o Tenente acha esse lobo é bem previsívi.
PEDRO MANDÊS
É... A prosa tá boa, mas eu já vô indo.
Tenho muitas léguas ainda pela frente.
SOLDADO
Se o Cê sai agora e der sorte de não receber um tiro das tocaias,
vai chega tarde em Campininha e num vai dá tempo de recebê
sua recompensa. Porque num dorme aqui e sai cedim?
PEDRO MANDÊS
É... Pensando bem, acho co amigo tem razão.
PEDRO MANDÊS
Cê acha que desta vez eles pegam o Coyote?
SOLDADO
A Força Policial de Goiás, espalhou seus omi por toda região.
Como te falei montamos um grande cerco. Ele num vai escapa.
Pedro levanta de repente, o Soldado assusta e aponta a arma para ele.
PEDRO MANDÊS
Só vou bebe água amigo!
Pedro vai ate o cavalo e pega sua Bruaca, "uma grande bolsa feita de couro cru costurada
nas laterais com tiras". Ele a coloca do lado da sua dormida, tira uma cabaça com água e
derrama ela na boca, termina de beber e deita. Toda essa ação é observada pelo Soldado.
Pedro olha pra ele cismado, e um clima de tensão toma conta do lugar. Pedro já está cansado
e com muito sono, mas arisco não consegue dormir, não confia na ingenuidade do Soldado.
PEDRO MANDÊS
Cê tem dificuldade pra dormi?
SOLDADO
Não! Durmo facim.
O Soldado da às costas para Pedro e fecha os olhos. Eles ficam por um instante em silencio.
Pedro se mexe e os galhos secos que estão debaixo dele quebram.
O Soldado abre os olhos, se vira e vê que Pedro foi vencido pelo cansaço, está dormindo.
Ele levanta devagar, pega uma faca e caminha delicadamente na direção de Pedro.
Em um PLANO-MÉDIO, ele da uma forte facada e desce fazendo muita força rasgando a
"carne de sol", que está na Bruaca. Ele tira um pedaço, devolve o restante e volta pra cama.
Pedro estava preparado para reagir, desengatilha o revolver e novamente fecha os olhos.
INSERT:
O defunto desce da mula, caminha até o Soldado, pega a arma e vai à direção de Pedro, que
se vira de uma vez, mas não consegue reagir. O defunto aponta arma e dispara varias vezes
contra a cabeça de Pedro.
Pedro acorda assustado e olha para o Defunto em cima da mula, se vira e vê o Soldado
fervendo a água na fogueira para fazer café.
PEDRO MANDÊS
Já ta de pé amigo?
SOLDADO
Cê num vai sai agora cedo compadre?! Tô fazendo o café que co cê gosto.
PEDRO MANDÊS
Na verdade nem gostei, tava muito forte.
POLICIAL
Eu tamém gosto com menos pó, mai, num queria passa de miserávi.
Pedro levanta, começa a se arrumar, escuta o SOM de cavalo chegando e se vira para olhar.
PEDRO MANDÊS
Tá vindo um omi a cavalo ali.
SOLDADO
É o omi que vai fica num meu luga.
SOLDADO
Não é o omi que vai ficar no meu lugar, acho que é o cabo Souza.
O Cabo chega em rápido galope, apeia do cavalo encarando Pedro, se vira para o Soldado.
CABO SOUZA
Tem alguma novidade do Coyote?
SOLDADO
Nada ainda!
CABO SOUZA
Quem é esse forasteiro?!
SOLDADO
Ele tamém é Policial cabo.
CABO SOUZA
Seu rosto é familiar!... Donde Cê é?
PEDRO MANDÊS
Da Capital.
CABO SOUZA
Porque ta tão longe de Goiás?
PEDRO
Fui transferido pra Bulhões.
CABO SOUZA
Quem vai ser seu comandante lá?
PEDRO
Ainda não sei.
CABO SOUZA
Este morto na mula quem é?
POLICIAL
Era do bando do Coyote.
CABO SOUZA
(Desconfiado)
Ah é?! Vou da uma oiada nele...
SERIE DE PLANOS:
CLOSE-UP - Pedro com o olhar tenso.
CLOSE-UP - O Soldado com o olhar confuso.
Cabo pega no cabelo do morto, levanta a sua cabeça e olha em seu rosto.
(P.D.) - Pedro leva a mão debaixo do poncho.
CLOSE-UP - Cabo Souza, com um olhar de espanto, solta a cabeça do morto.
CABO SOUZA
(gritando)
Este homem é um Policial!!
Ele saca a arma e aponta para Pedro, que está de costas para ele.
Pedro se vira com a arma em punho.
O Soldado saca a arma e também aponta para Pedro, com a mão tremelicosa.
ÂNGULO ALTO - Os três se posicionam em forma triangular.
CLOSED-UP EXTREMO - Olhos do Cabo.
CLOSED-UP EXTREMO - Olhos do Pedro
CABO SOUZA
Joga sua a arma no chão, ou será um homem morto.
PEDRO MANDÊS
Porque num joga a sua, cê tamém pode se um omi morto.
CABO SOUZA
Você num tem como saí vivo deste duelo,
se me acerta, meu parceiro te acerta.
PEDRO MANDÊS
(calmo)
Seu parceiro num vai me acerta...
Melho cêis sorta as arma e me dexá embora.
Prometo que todo mundo vai sai vivo dessa porfia.
CABO SOUZA
Vou conta até Três...
Só Cê num joga a arma no chão, vai morre.
SOLDADO
(Gritando)
Solta essa arma Compadre!!!
CABO SOUZA
Um... Dois...
CABO SOUZA
Ocê é um trapaceiro.
INSERT:
Dois policiais escutam o tiro, um acena para o outro e eles correm.
PEDRO MANDÊS
Vou dexa a chave aqui...
SOLDADO
Ocê é o Coyote, num é?!
PEDRO MANDÊS
Não sou Coyote! Sou um Policial.
SOLDADO
Então, porque cê mato o Cabo Souza?!
PEDRO MANDÊS
Porque ele ia me matá!
SOLDADO
Ele só pediu pro cê jogar a arma... Ele num ia te mata!
PEDRO MANDÊS
Se acredito nele?... Eu não!
SOM DE TIROS em seqüência. Um tiro pega na perna de Pedro que cai e sai rastejando no
chão para se proteger dos outros tiros. Se esconde atrás de uma árvore e olha para o lado.
POV DE PEDRO: Um rifle perto da matula do Soldado.
Pedro pula no chão (debaixo de tiros), pega o rifle e se posiciona para atirar deitado.
Um dos homens dá cobertura para o outro se aproximar, ele atira repetidamente.
Enquanto o outro corre de uma arvore para arvore, se aproximando de Pedro.
Pedro fica deitado mirando. Quando o Policial tenta novamente avançar, Pedro acerta ele.
Pedro mira para o outro lado, solta um único tiro e acerta o outro, que cai e fica gemendo.
CORTE DE CONTINUIDADE
Pedro caminha (mancando), pela vegetação.
Chega perto do primeiro Policial que ele acertou e vê que ele já está morto.
Continua caminhando em direção ao gemido do outro, avista ele caído de bruços com um
ferimento no pescoço. Ele chega perto, coloca a mão no ombro e vira ele de frente.
CLOSE-UP - Pedro com o olhar perplexo.
POV DE PEDRO: O Policial, têm uma incrível semelhança com Pedro.
O Policial olha para Pedro com os olhos arregalados e com a respiração ofegante,
segurando o sangramento do seu pescoço, da o último suspiro e morre.
DISSOLVE
O Tenente Arcanjo ainda está parado olhando para o morto pensativo, com a mão coçando
a cabeça. Ele olha para o Cabo Jovelino e...
TENENTE ARCANJO
Tô atinando uma coisa aqui Jovelino...
Será que o homem da recompensa já foi embora?
CABO JOVELINO
Num sei Tenente!
TENENTE ARCANJO
Vamos lá vê se ele ainda tá ai,
Tô com um pensamento estranho na cabeça.
Pedro Mandes, está com a roupa do Policial Paulo Gusmão, ele guarda o dinheiro do bolso.
Chega o Tenente e o Cabo com armas em punhos, apontando pra ele.
TENENTE ARCANJO
Hei Moço! Levanta as mãos sem olha pá trás.
PEDRO MANDÊS
Eu sou um Policial.
TENENTE ARCANJO
(incrédulo)
É mesmo?! Tire sua carteira de identificação,
Bem devagar e me entrega, sem se vira!
(P.D.) Pedro enfia a mão por dentro do poncho, Segura no cabo do seu revólver, que está
em um coldre de peito, sem sacar.
Olha para o lado e vê que, tem soldados apontado rifles para de um lado e de outro.
Ele tira a mão do poncho de uma vez segurando uma carteira e entrega para o Tenente.
O Tenente pega carteira, coloca o óculos, abre a carteira e fica olhando por um instante.
TENENTE ARCANJO
(devolvendo a carteira)
Pode baixar as armas... Ele é um Policial.
PEDRO V.O.
Uma mulhe um dia me disse, que pra eu sobrevive nesse mundo,
"meu nome tinha que muda por sangue"...
Sem entender o que ela queria dizer, eu mudei para Coyote...
Hoje meu nome é Paulo Gusmão, talvez seja o nome que vou usar por todo vida.
As vez passa pela minha cabeça umas idéia doida,...
Fico pensando na grande semelhança desse Soldado comigo.
Fico pensando nas palavras da mulhe "Mudar por sangue"
Será que eu matei quem não devia te matado...
O FIM