Você está na página 1de 32

LETHARGY OF PHOBOS

Mikael S.

Adapted from LETHARGY OF PHOBOS album


1

2021
1. INT. QUARTO - DIA (SOM)

Como as mãos de uma pessoa nervosa e agitada, esse áudio é o


único limpo, de fato. Alguém agarra um objeto, o posiciona no
sofá e clica em seu botão. O identificamos como um gravador.
Ele está rodando.

A partir deste momento, a conversa no gravador terá sua ordem


deturpada e a confiabilidade da realidade nas palavras ditas
serão notadas apenas pela fita da gravação.

CHARLIE
A week, I guess, without-- Without
drinking... I can't remember. The
days have been a memory test. It's
like-- It's like I'm paddling
through a sea of ​darkness. Just
me... Just darkness... And nothing
more.

CORTA PARA:

2. EXT. CEMITÉRIO - DIA

Não se vê nada, pois alguém está com a mão na frente da


câmera. Quando se é possível ver algo, é o rosto - mais para
menos do que para mais - de alguém. Não o suficiente.

A filmagem é amadora. Ela vai para seus pés, para o caminho


que está seguindo, para transeuntes e por ai vai. Lentamente,
outras cenas intervém no meio dessas.

3. INT. BANHEIRO - NOITE

Entrecortado com o cemitério, se tem essa visão de um


espelho, onde não se vê um rosto, apenas suas mãos. Elas se
erguem como se tivessem levantando água de um riacho, porém,
diferenciando da transparência clara das águas, vemos o
vermelho. Sangue. Elas se erguem lentamente.

Em dado momento, os entrecortes param, focando-se apenas em


uma cena central, no cemitério;
2

4. INT. CEMITÉRIO - DIA

Se encontra, pelo caminhante, uma bolsa. Se procura um dono,


mas não há. Ela é preenchida por livros e cadernos. Entre os
livros, a bíblia inclusa. Folheando o caderno, com a imagem
do Homem Vitruviano, se encontra a fita. Investigando mais
profundamente dentro da bolsa, se encontra outra. Duas fitas.

5. EXT. CARRO - DIA

A bolsa com as fitas está sendo levada na traseira de um


carro.

CORTA PARA:

FORA DE CENA se escuta o barulho da bolsa sendo jogado no


chão. Nada grosseiro, apenas tratando com desdém.

FADE IN:

6. INT. SALA - NOITE

Somos espectadores de um filme de 1936: REMBRANDT. Conta a


história do pintor, a qual o titulo se refere. Na cena em
questão, REMBRANDT pinta um de seus quadros mais conhecidos:
O REI SAUL e DAVI.

MODELO DO REI SAUL


Isso é o melhor que tem? Pensei que
eu seria um rei. E um rei de
verdade deveria estar rodeado de
belas mulheres encostadas em
almofadas que lhe oferecessem
bebidas.

REMBRANDT
É um rei velho. Já teve todas as
mulheres que queria. E mais, foi
possuído por um espirito maligno.

MODELO DO REI SAUL


Sério? O que é isso?

REMBRANDT
Não conhece a história do rei Saul?

MODELO DO REI SAUL


3

Não conheço o rei Saul.

REMBRANDT
Saul foi um grande rei e um grande
herói para seu povo. Forte e
poderoso, o ar do céu lhe enchia o
peito e o cabelo crescia como uma
juba de leão. Mas o espírito do
Senhor não havia caído sobre ele e
aquele que não carrega dentro de si
o espírito do Senhor todo o poder e
riquezas do mundo não lhe satisfaz
pois terá o coração aflito. Nesse
momento, o jovem DAVID estava
cuidando das ovelhas de seu pai.
Era um jovem distinto, loiro, de
boa aparência, mas era pobre e
desprezado.
Como em um corte repentino em seu rosto, cenas do filme
L'Infern de 1911 ocupam a imagem.

REMBRANDT (CONT.)
E o Senhor disse: "Eu não vejo o
que vê o homem... Pois o homem vê o
que está diante dos seus olhos, mas
Deus vê o coração". E o rei era
atormentado por um espírito mal...
A noite gritava e não dormia e o
seu coração endureceu. Então seus
amigos lhe levaram ao jovem David
pois tocava bem a harpa e tinha uma
bonita voz ao cantar. Nesta noite
tocou diante do Rei até que o
espírito mal se apartou dele. E a
paz entrou em sua alma.

Essa sequência é o único exemplo que vemos dos filmes que


Charles fazia utilizando de fitas.

Se ouve o folhear do caderno do Homem Vitruviano.

E da televisão, começa a se desaproximar. Nada vemos ao redor


das bordas. Entretanto, um braço se ergue em meio a televisão
e a escuridão que cerca a sala. Na sua mão há o controle
remoto, que aguarda alguns segundos para desligar a TV.

O ESCURO toma conta de cena. Viveremos bastante por aqui.

Por alguns segundos, enquanto se continua folheando, se


permanece até que se fecha o caderno.

A televisão liga novamente.


4

Passos.

CHARLIE
I don't think you're a doctor.

DELIRIUM
No, Charles, I'm not.

CHARLIE
Are you here to help me?

DELIRIUM
Sorry, but I couldn't. Any problem
in smoking here?

Em base dos sons, apenas se escuta a fita ser inserida e,


após isso, um trago de um cigarro.

CHARLIE (V.O.)
I remember you, but your face is so
strange to me. Your voice, on the
other hand, it's not.

DELIRIUM
That's ok, Charlie, stay in bed. I
just wanna know something...

A tomada vai se aproximando novamente, fazendo um CLOSE-UP na


televisão, lentamente. No interim, como se fossem devaneios,
a estática de diálogos ocupam os ouvidos:

ALESS
Isn't his fault, you know that. He
cannot live at your mercy. He's not
yours, he's lively.

(HIM)
I don't give a shit what the fuck
he or you can or not to do. If I
say yes, he has to say yes, can
fucking understand this? Every
fuckin' night he makes me want to
hang him-- this piece of sh--!

A estática corta a última palavra, mas logo volta com o


silêncio. Apenas a respiração eufórica de (HIM) acompanhando.

TELA PRETA

DELIRIUM
Why did you kill her?
5

TITULO: EVERYTHING WERE HIS.

CORTA PARA:

7. INT. TV - IT'S OVER AGAIN

Tela azul.

DATA DA GRAVAÇÃO DA FITA: 9th JULY.

IT'S OVER AGAIN começa.

A fita é uma gravação de memórias de família corrompidas pela


violência. A violência gráfica utilizada, embora não tão
explícita, serve para elucidar a estranheza que o ambiente
familiar se dá e, principalmente, SE CAUSA.

As imagens apaziguadoras ficam cada vez mais escassas ao


longo do tempo e são substituídas por imagens de agressões e
animais mortos. Uma inclusive pertencente a DEAD MAN (1995).

As memórias familiares incluem: O ganhar de um violão, o


teclado e cenas de um casamento.

Como última parte dessa sequência, temos em frente a câmera


um desenho feito, claramente, por uma criança. Nele, vemos
três figuras:

uma que aparenta ser uma mulher, com um x onde deveriam ser
seus olhos, indicando sua morte, outra, dessa vez com traços
mais grossos e totalmente preta, sem rosto, indicando uma
sombra e, ao lado, o que parece ser uma criança.

EM UM CURTO PLANO SEQUÊNCIA, nos desaproximamos do desenho e


uma mão infantil o destrói. A câmera abaixa no mesmo
instante, afetada pelo susto. Não vemos o rosto da criança.

CORTE DIRETO PARA:

O silêncio ambiente é essencial (pertencente ao vídeo FOUND


FOOTAGE SUPER 8 REEL 97.16521.61: FRAGMENTE 5S
(https://youtu.be/Cp1ohhH6wro)).

Em primeiro momento a imagem é desfocada a ponto de que não


consigamos ver o que está acontecendo, um pequeno zumbido
começa a aparecer como se tivesse atacado a audição que nos
levava a ouvir a ambientação. No ínterim, a imagem vai se
focando lentamente. Notamos, assim que nítido, os rabiscos em
uma pequena foto. Nos aproximamos lentamente da fotografia.
6

O som, abafado pelo zumbido anteriormente, começa a


reaparecer enquanto mais distorcido. A risada da garota no
vídeo em questão se torna algo irreconhecível.

Enfim, vemos o vídeo que sonorizava o que víamos e o som de


um projetor de filmes super oito acompanha-nos.

A garota cai ao chão e a mão se aproxima dela. O som cessa.

TELA PRETA.

CHARLIE
What do you think it is?

CORTA PARA:

8. INT. TV - PARANOIDE SCHIZOPHRENIE

DO PONTO DE VISTA da câmera, se vasculha uma casa velha e


abandonada, a procura de algo que não sabemos o que seja. Som
ambiente.

ALESS
About the painting?

CHARLIE
Yeah.

ALESS
Someone who discovered death.

CHARLIE
You think that he just found the
body?

ALESS
Well... Yes... I think.

PARANOIDE SCHIZOPHRENIE inicia.

A procura acaba quando a luz se apaga brevemente e se tem um


JUMPSCARE. A música se intensifica e encerra quando se olha
para de baixo da cama. A escuridão se torna uma silhueta e a
próxima fita se inicia, interligada.

CORTE DE COMPARAÇÃO PARA:

9. INT. TV - NIEMAND WIRD DICH RETTEN - CONTÍNUO

Não se nota que se está em outra fita até que a mão com a
7

faca se erga.

NIEMAND WIRD DICH RETTEN toca, acompanhando como trilha


sonora do sentimento persecutório. O desafinar do violão
serve para, somente, criar uma tensão em um ambiente onde
ameaça nenhuma existe.

A gravação, também, é do PONTO DE VISTA da câmera a qual a


mulher, não-identificada, carrega. Ela sai para fora, a
procura de algo, mas não o acha. A cena somente se encerra
quando ela fecha a porta.

O grito de exorcismo intrínseco a música some, como um eco


num grande teatro.

IVAN THE TERRIBLE AND HIS SON IVAN aparece. APROXIMAÇÃO.


Notas desarmonizadas de piano sonorizam.

FADE-OUT

CHARLIE
I didn't even know why the punches
hit so hard but I didn't care - not
in most, and that was the most
painful. Nothing to care about. I
used to cry a lot, almost everyday.
I... The fun that I have wasn't
mine anymore, but they were his.
And everything were his, just like
I was. I prayed that nothing would
happen, but... Well, no one ever
really listened to me.

Um prebistério vazio.

DELIRIUM
I listened. Your silent screams.
The noise of the door. Your back
hitting the wall. And the whispers.
All of them. Did you hear me?

CHARLES respira fundo, passa a mão pelos seus próprios


ombros. SOM.

CHARLIE
I... I am a week... A week, I
guess, without—Without drink----

Botão de pausa. Se volta na gravação.

DELIRIUM
8

(voz mais distorcida))


Did you realize it?

CHARLIE
(voz distorcida)
Yes.

CHIADO INTENSO. PASSOS DE BOTAS NO MEIO DO CAÓTICO RUÍDO.

10. INT. TV - DIE SERIËNMORDER-SEKTE

Como em uma troca de canais, se apresenta as imagens.

DIE SERIËNMORDER-SEKTE inicia.

Imagens de árvores e natureza, em geral pertencente a filmes


antigos como KUMONOSU-JO (1957), OCTUBRE (1927) ou SHAME
(1968) ou até mesmo KASABA (1997), introduz. A cena icônica
de PORCILLE (1969) onde o jovem canibal com a cabeça de porco
pede silêncio aparece, assim como, depois de outro retrato
natural, a mão dourada cobrindo o sonolento rosto de THE
COLOUR OF PORNEGRANATES (1969) também.

Cenas de sangue e violência corporal, embora em inércia (não


sendo mostrado a ação sendo feita) acabam participando na
variação de imagens juntos a antes citadas. O psicótico rosto
da freira de MOTHER JOAN OF THE ANGELS (1961) encerra.

DELIRIUM
You recognize it. The steps. You
remember, don't ya?

CHARLIE
I could hear miles away.

11. INT. LUGAR DESCONHECIDO - NOITE

As luzes estão apagadas e a câmera caminha em direção a onde


elas se encontram: Mãos, destacadas em preto e branco, dando
visibilidade graças a luz. São mãos que estão perto uma das
outras. A pessoa, dona das mãos, levanta. Voltamos as luzes
apagadas.

Estamos caminhando. As mãos aparecem de novo, com as luzes


destacando-as. Somem junto a luz.

CLOSE-UP: Se dá corda em um relógio, colocando n'uma mesa em


seguida.

CHARLIE
9

In the middle of nowhere, just


it...

TICK TACK

CHARLIE
...and nothing more.

TICK TACK

12. INT. CASA - NOITE

A mão de uma criança pequena se ergue em direção ao relógio,


como se tentasse alcança-lo.

CUT TO BLACK

TICK TACK

CHARLIE (CONT.)
It was three o’clock and I was
still awaken. Still running...

TICK.

CHARLIE (CONT.)
Still listening to it. Was a
difficult day.

TACK.

FLASH: O passáro caindo da cena de caça pertencente a THE


RULES OF THE GAME (1939).

DELIRIUM
You killed it.

TICK.

CHARLIE
But nothing besides that.

TACK.

FLASH: A faca de PSYCHO (1960).

DELIRIUM
You killed it.

TICK.
10

CHARLIE
It was my mother’s funeral.
TACK.

FLASH: De novo, o animal morto de DEAD MAN (1995).

DELIRIUM
How was yours.

TICK. TACK.

O EFEITO SONORO DE TRANSIÇÃO DE CENAS EM FILMES MUDOS SE É


USADO.

A cena de passaros de OSTATNI DZIEN LATA (1958).

LES MAUDITS (1947). Em primeiro plano, desfocado, um homem


observando-o, em foque, o horizonte e o infinito do mar.

A voz de CHARLIE, indo e voltando na fita, concebe uma nova


frase.

CHARLIE
(distorcido, entrecortado,
manipulado)
And everything was him, almost
everyday, just like I was.

O ALARME do relógio dispara enquanto o ruído silencioso


continua

A cena pausa. ZOOM-OUT...

DELIRIUM
Medication time, "picklehead".

...e se vira para a escuridão.

13. INT. CASA - NOITE

Há um ponto no meio de toda a escuridão. Ele passa por o que


parece um pingo de sangue e se movimenta ao que parece uma
luz. Um ponto de luz, então, se permanece.

O que antes fazia a luz ser apenas um ponto cai e, assim, se


percebe a localidade. Um canto de uma casa. Um gato caminha
em meio a luz, lá atrás. O foco se torna ele.

Em uma SOBREPOSIÇÃO, vemos algo diluindo na água. Visão de


cima. Uma luz transparece, também.
11

Outra sobreposição, com três comprimidos caindo em uma mesa.


Com o tempo, a imagem deixa de ser uma sobreposição e se
torna a única em tela. Foco nos comprimidos.

CHARLIE
(no telefone)
No fear. No loneliness. No me.

CUT TO BLACK

Uma luz forte passa, como um grande farol. A escuridão e a


luminosidade se destoam de forma evidente. Ela, a luz, vai e
volta, por quanto tempo a fala na gravação da ligação
telefônica durar. Uma lampada perdida.

Aless ri de um comentário que não é evidenciado e, dessa


forma, se escuta uma conversa pela metade. Porém, de mesmo
jeito, se tornando a sintese do que não se foi mostrado, se
começa pelo que foi mais marcante no todo:

ALESS
(risadas amigaveis)
...Yeah, kind of. Y'know... There's
a time when I would love to run
around galleries. Like the Louvre
or something like that. Looked so
fool to want this or, I don't know,
read the poems I love aloud. Know
where I am in the world, if I'm
breathing, moving and alive. Being
not just flesh peeling blood but
reason and reaction, beyond anyone
else. Being me.
Sounds like a dream, doesn't it?

Com o som da tecla de piano cortando o silêncio provocado


pela retórica pergunta, a luz forte antes mostrada toma conta
de tudo.

TITULO: THE LIGHT OF ALL LIGHTS.

CHARLIE
My dreams still have me.

Na luminescência, se escuta o pegar do violão. Se afina


algumas cordas. Se arruma a postura...

14. INT. TV - ACCORD DE PUISSANCE

Um corpo inteiramente ensaguentado e ferida em escadarias,


andando lentamente enquanto tenta retomar noção.
12

Fotografias de insetos mortos em uma rápida sequência.

O monoculo se é pego em STRIKE (1925) para enxergar as larvas


na carne de BRONENOSETS POTYOMKIN (1925).

A icônica cena do disparo que atravessa o óculos da mulher


em, novamente, BRONENOSETS POTYOMKIN (1925) se mostra
presente, respectivamente.

No respiro dos acordes do violão, o corredor de THE THIRD MAN


(1949) brevemente aparece.

A volta se dá por um corpo ensacado se debatendo,


entrecortando-se as fotografias de LA JETEÉ (1962)...

CUT TO BLACK

E o violão se é destruído, sendo quebrado de lado a lado,


formando um caótico barulho.

MÚSICO
(eufórico)
Fuck. I'm sorry.

Não se vê, mas ele liga o que parece ser uma éspecie de rádio
ou, também, uma televisão. Uma cantoria tipica de boemios
começa, pertencente a TIREZ SUR LE PIANISTE (1960).

CHARLIE
SHE always have this passion for
music, in general - even though the
silence was much better for him.

FADE IN:

15. INT. CASA - SALA - NOITE

CLOSE ON - Se percorre pelas teclas do piano lentamente em um


plano bem fechado.

CUT TO BLACK

CHARLIE (CONT.)
There wasn’t much left.

DIVERSAS PINTURAS DE JACEK MALCZWESKI & REMBRANDT APARECEM EM


UM MINUSCULO INTERVALO DE TEMPO.

DELIRIUM
13

The paintings were what was left.

16. INT. CASA - DIA

INSERT do quadro que Charlie pintou de três pontos de vista:


Um longe, outro consideravelmente perto e um extremamente
perto. São fotografias.

CORTE

CHARLIE
They were. But Aless, unlike my
mom, didn't have this passion for
music or anything like that. She
was very visual.

CARD: A BIRD CAME DOWN THE WALK

Os guardas-chuvas de MIRACLE IN MILLAN (1951). Em seguida,


KATHERYNE JOYCE, interpretada por INGRID BERGMAN, na janela,
de JOURNEY TO ITALY (1954).

CARD: IN THE CONCRETE URBAN CASTLES

Prédios. LA NOTTE (1961).

CARD: THROUGH RELUSIVE CRYSTALS

Janela. Pessoas. DIARIES, NOTES AND SKETCHES (1969).

CARD: LIKE ONE IN DANGER, CAUTIOUS

Cuidando de flores. DIARIES, NOTES AND SKETCHES (1969).

CARD: EVEN IN DAYDREAM

Fumaça, saindo de uma panela.

CARD: WITHOUT KNOWING IT

Janela, novamente. Por fora.

CARD: NOTHING CHANGES.

CARD FADE OUT

17. BLANK.

CHARLIE
14

I used to make movies... Tape over


tape, anything that I had was part
of it. Different movies on one
single tape. A single person. But
it wasn’t even close of her eyes...
Her lens.

O branco volta a se tornar a lampada balançando em meio a


escuridão. O ritmo aumenta conforme a conversa no TELEFONE.

A frase deferida na .13 volta.

CHARLIE
There's no fear, no loneliness...
No me.

ALESS
Well, you are still here. That
counts, I think.

CHARLIE
Yeah...
(ele ri)
Maybe.

ALESS
It’s funny, y’know. It's your
unknown who scares you, after all.
The inability to fear.

CHARLIE
I’m not beyond fear, just sick
enough.

ALESS
Maybe that’s just your head saying
“Look at me. I can’t hide it
anymore.”

CHARLIE
I’m not crazy, Aless.

ALESS
I’m not saying that.

CHARLIE
I’m. Not. Fucking. Crazy.
(incisivo)

ALESS
I’M NOT SAYING THAT, picklehead.
15

But what becomes a dream without


memory? An delirium?
(ironizando)
Just don’t be an asshole, I’m
trying to help.

CHARLIE
Thanks for making me diseased of
you, too.

CHARLES levanta para pegar outra garrafa de cerveja. Ele a


abre com o dedo e começa a beber.

ALESS
Sometimes it scares me how you run
away everytime.

CHARLIE
Cheers.

ALESS
Fuck you.

CHARLIE
Thanks again.

Ele senta novamente.

ALESS
I don’t know what the fuck I’m
doing here, if you don’t let me in.
(MAIS)
ALESS (CONT.)
Hey, wait, I know why: I’m seeing
you killing yourself drinking like
an fucking alcoholic.

DELIRIUM (V.O.)
Want me to pause?

CHARLIE (V.O.)
No, keep it.

CHARLIE
I’m not an alcoholic. I can handle
it, it’s fine.

ALESS
Running away like this?

CHARLIE
Why I couldn’t? Everything’s
16

fucking fine! Of course I can.

ALESS
Not drinking, for sure. But... Ok.
You’re not crazy. And then,
Charles? What happens next?

Silencio.

PAUSE.

A lampada apaga. Escuridão.

Seu campo de visão toma forma. Há uma sombra cobrindo a


parede do quarto. PONTO DE VISTA DE CHARLIE.

DELIRIUM
What a play you both have. And you
say you're not crazy... What's
craziness, then?

CHARLIE
You didn't have to pause.

DELIRIUM
Don't you know what happens next,
little Charle?

CLIC. Pause. A fita retrocede.

CORTA PARA:

18. INT. CASA - NOITE

Passos de botas podem ser escutados de fundo.

PONTO DE VISTA DE CHARLIE. Se caminha até a luz de uma janela


em meio a escuridão.

CLIC. Pausa.

CORTA PARA:

Pertencente a TONI (1935) de JEAN RENOIR, a cena em que MARIE


rema o seu barco e sobe nele para, no meio da água do rio, se
afogar, é mostrada.

19. INT. CASA - DIA


17

No branco, está escrito:


She'll be working tonight.

SUMMER WITH MONIKA (1953) de INGMAR BERGMAN, onde a


protagonista está no meio das dunas, se é exibida também.

20. INT. CASA - DIA


We fought. I shouldn't have yelled.

DEVI (1960) de SATYAJIT RAY. Cena na qual DOYAMOYEE está no


meio das flores do jardim.

21. INT. CASA - DIA


She'll call
And will be there soon.
Won't she?

O escrito é apagado e um borrão se forma, no branco.

FADE OUT

22. EXT. CASA - NOITE

Pela janela, se observa o que há dentro de lá. Uma vela,


sendo segurada.

MÚSICO
(eufórico, inaudivel,
baixo)
I'm sorry, I'm sorry. I'm... I'm
gonna... I don't kn-- Fuck.

23. INT. TV - THE LAMENTATION OF THE FALLEN ANGEL

Flores iluminadas por uma luz. A música inicia pouco tempo


depois.

A vela, apagada, acende em um sopro, como n'um retrocesso.


Uma mão, atrás dela, caída.

Corruptelas vão invadindo a calmaria, como mãos abrindo, um


fosforo aceso e caído ao chão como um paralelo, livros em uma
mesa iluminadas pela mesma vela, insetos por esses mesmos
livros, a flor sendo retirada da luz... Até que não há mais.

A medida que os violinos vão se tornando um paralelo de si


mesmos, uma sombra de dois pés atrás da mão caída aparece,
caminhando diretamente até ela. Quando próxima, a imagem
18

some.

O que permanece é...

24. EXT. RUA - NOITE

Alguém eufórico. Está caminhando pelas ruas. Há uma


luminosidade, vinda do poste.

MIRCALLA começa, disfarçadamente.

Ele corre.

25. INT. CASA - NOITE

Em direção a janela, antes mostrada na cena 21. Desta vez, de


forma acelerada.

26. EXT. RUA - NOITE

Ele para. Há um poste. Conforme ele caminha, a luz vai


acabando e se entra na escuridão.

27. EXT. RUA ILUMINADA - NOITE

Posicionamento fixo.

28. EXT. RUA - NOITE

De volta aos seus passos, conseguimos ver sua breve sombra.


Conforme ele vê outra luz próxima e a olha, lentamente se é
possível ter noção de um...

29. INT. CASA - NOITE

...ZOOM-OUT na TV. Lentamente, vai se tornando perceptivel


que estamos assistindo a esse delírio persecutório desse
especifico PONTO-DE-VISTA. Mas, de repente...

Uma mão vai com tudo contra a câmera, bloqueando a visão e


trazendo de volta a escuridão... E nada mais.

30. INT. TV - DER PIANISTE


19

Árvores em época de outono, dia. Folhas alguma em seus galhos


secos. Se observa de baixo.

Uma fogueira, a noite. Faíscas para todo lado. Madeira está


queimando.

A insana e ousada cena de ALTERED STATES (1980) com o


crucificado Jesus com sua cabeça de cordeiro aparece a cada
variação de nota, embora não se mantendo por muito tempo.
Cada vez mais perto.

SHOCK CORRIDOR (1963), na cena de chiado de televisão e o


horror da mulher, varia-se juntamente a antes citada, porém
apenas uma vez.

Já na segunda vez, as fábricas e máquinas de STRIKE (1920).


Eisenstein outra vez.

Na terceira vez, a clássica sombra de NOSFERATU (1922).

Quarta vez, a mão nervosa de THE BLACK CAT (1934), apertando


o braço da pequena estatua.

Os passaros de LA JETEÉ (1962) na quinta.

L'ATALANTE (1934), na bela cena na água, e STRIKE (1920),


novamente, com seus maquinários, fazem uma sobreposição. Os
nadadores e as peças girando.

THE HANDS OF ORLAC (1924), onde ORLAC encara a monstruasidade


que suas próprias mãos o fizeram ser, os olhos recortados de
SPELLBOUND (1945), a gigantesca mão de LANDSCAPE IN THE MIST
(1980) e, novamente, o túnel de THE THIRD MAN (1949) fazem o
mesmo em seguida, todos ao mesmo tempo.

O olho na lente da câmera de MAN WITH A MOVIE CAMERA (1929),


em seguida.

Os passáros de WINGS OF DESIRE (1987).

O olho de NATACHA VON BRAUN pertencente à ALPHAVILLE (1965).

CLIC. O gravador começa a rodar, de novo, também.

ALESS
Who are you talking to? What are
these scores? Those drinks... These
blood. I won't tell him. I won't
tell anyone. But you have to tell
me. Please, Charl---

Os batimentos cardíacos, assim como a cena inteira da


20

lembrança temporal de LA JETEÉ (1962) entrecorta-se com as


agressões utilizando da câmera direcionada a mulher.

O músico grita, mas...


CORTE DIRETO PARA:

31. BLACK.

32. INT. CASA - NOITE

No meio da escuridão, a câmera se movimenta lentamente. Um


braço, ensanguentado, aparece.

CHARLIE
FUCK! I CAN'T! I FUCKING CAN'T!

CHARLES morde sua própria mão para abafar sua dor e seus
possiveis outros gritos de ódio. Momentaneamente, ao se tirar
a mão da boca, ele ri. De desespero.

CHARLIE
He was that bad, wasn't he?
Is he fault, isn't?

DELIRIUM
Is it? Was really he, after all?

PLAY.

CHARLIE
(distorcido, entrecortado,
manipulado)
And everything was him, almost
everyday, just like I was

...PAUSE. Se volta em um ponto bastante especifico.

O músico liga o que parece ser uma éspecie de rádio. Uma


cantoria tipica de boemios começa, pertencente a TIREZ SUR LE
PIANISTE (1960).

Se troca a estação. LIEBE AUF DEN ERSTEN BLICK de MARION


LITTERSCHEID aparece brevemente, mas se muda a estação,
novamente. JOSEPH SCHMIDT é o que se escuta. DEIN IST MEIN
GANZES HERZ.

33. EXT. - NOITE

A lampada está parada.


21

A mão, ensaguentada, movimenta-se para retira-la. Quando ela


começa a girar...

CORTA PARA:

34. INT. CASA - NOITE

Uma sombra de dois pés vai para atrás da mão caída,


caminhando de forma invertida. A mesma sequência de THE
LAMENTATION OF THE FALLEN ANGEL (26). Dessa vez, ao
contrário.

(HIM) pega a rádio e a arremesssa no chão, destruindo-a.

(HIM)
I SAID THAT I NEED SILENCE. Are you
fucking deaf? HUM? Because I think
you are. I'm asking you a question,
CHARLES. ANSWER IT.

35. EXT. TV - NOITE

O ballet de PAS DE DEUX está passando. No mudo.

36. INT. QUARTO - TARDE

A fivela de um cinto desgastado.

37. EXT. TV - NOITE

O ballet é silenciosamente belo e nada mais.

CHARLIE inspira, cansado.

O fosforo acende. NÃO é o mesmo de THE LAMENTATION OF THE


FALLEN ANGEL.

FADE IN:

38. .13

CHARLIE
When does it change from a bad
22

parenthood to a bad person?

Ela também suspira.

ALESS
It doesn’t. Nothing changes.

FADE OUT

39. NO SIGNAL.

ZOOM-OUT. LENTAMENTE se gira para a escuridão.

DELIRIUM
I know you can't. But you're not
even trying. You can't change the
past. You're not directing any of
this. This is UNDER you. Like it or
not. Don't be scared.

CHARLIE
I'm not.

DELIRIUM
Oh, yes. I'm sorry. I forgot.

DELIRIUM traga o cigarro de forma mais demorada dessa vez. Se


bate as cinzas no cinzeiro.

CHARLIE
You can go. The door is still open.

DELIRIUM
I’m afraid I can’t do that too.

40. INT. CASA - NOITE

O ranger da porta abrindo quebra o silêncio tal qual a luz no


abrir invade a escuridão e ilumina o que é possível. Do lado
de fora, se é possível ver dois pés. Se caminha para dentro
do cômodo.

DELIRIUM
There is a thing, little Charle.
But you can't listen, can you? The
lost thoughts. The claim of the
death over your head... How could
you? Stuck in this bed, stuck in
23

this vice... This doesn't scares


you too, I think. Cause... You’re
trying to discover how much deeper
you can fall into this, but you’re
just falling down with the fear and
the cold feet. Being so far from
the deepness, actually. But we’re
here, don’t we? Everything is fine.

A bolsa, achada no cemitério, é colocada no chão com pouca


distância da televisão.

CLOSE-UP na bolsa. Apenas as duas mãos são vistas, abrindo-a


e a vasculhando novamente.

De lá se pega, como em uma fileira, as duas fitas, o caderno


de anotações e os livros. O HOMEM VITRUVIANO estampa a capa.
Esses objetos são postos de lado momentaneamente.

Se vasculha novamente. O dono das mãos encontra uma carta,


não notada quando vasculhou pela primeira vez, em meio as
fitas, os livros e o caderno.
A carta se mantém entre seu dedo indicador e do meio, até
que, enquanto a observa em outras perspectivas, a gira entre
seus dedos. Revelando-a como um CINCO DE ESPADAS.

Ainda com os dedos, ele lança a carta longe, desprezando-a.

Em seguida, se fecha a porta e a luz vai embora. Escuridão


novamente.

CHARLIE
I remember you now.

DELIRIUM
I'm sure you do.

CHARLIE
(suspiro)
Play it.

TITULO: PANDEMONIUM

FADE IN:

THE GREAT HORNED GOD inicia.

Os diálogos a serem mostrados são gravações de surtos e


crises.

41. INT. SALA - NOITE


24

Duas figuras de costas estão no chão. CHARLES, por cima, soca


com fúria o rosto de (HIM), por baixo. Socos e mais socos,
cada vez mais forte. Ele levanta, olha as próprias mãos e cai
para trás. Está eufórico. Não, não é ele. “Sou eu”, pensa
Charles. Não há como ser ele mais. Nunca mais.

CHARLIE (DELIRIUM)
He's driving me crazy.

42. INT. TV - THE GREAT HORNED GOD

PINTURAS de como seria o inferno aparecem na tela...

43. EXT. TV - THE GREAT HORNED GOD

Sendo entrecortadas com fotografias de lascivia.

44. INT. SALA (THE DAY HE DIES) - NOITE

Após se levantar, também se recompõe. Se pega uma toalha em


cima de um cômodo ao lado. A figura sai de cena, ficando só o
corpo, desfocado. Um travesseiro está no seu rosto.

CHARLIE (DELIRIUM)
I could fucking kill him. I think
that I'm totally capable of killing
him. And I would feel nothing but
pleasure.

45. EXT. TV - THE GREAT HORNED GOD

CHARLES pega a câmera e, na escuridão, começa a girar. No


movimento, se vê um rastro de luz branca vindo da televisão.
Se gira cada vez mais. A luz branca está cada vez mais perto.

As fotografias e pinturas se entrelaçam nessa sequencia de


cenas, moldando os pensamentos e as imagens que vinham a sua
cabeça.

CARD: PLEASE, DON’T LOOK. PLEASE, STAY BEHIND. PLEASE, GET


OUT. PLEASE, LEAVE YOUR BRAIN ON THE CARPET. WE GUIDE IN THE
REFLEX OF DEATH, OF THE CHEAP, OF THE PAST. DON'T LOOK.

Se cai, novamente, na escuridão, assim que a música está


perto de seu fim. Mas é o primeiro movimento.
25

CHARLIE (DELIRIUM)
I can’t remember any of our fights.
Only the silence, after the
screams. She could never
understand.

FADE IN:

46. INT. BANHEIRO (THE DAY HE DIES) - NOITE

Sua mão ensaguentada está em frente ao espelho, como se ela


tivesse medo de tocar seu próprio reflexo. Não se vê o rosto
de CHARLES, mas se sabe que é ele.

CHARLIE (DELIRIUM)
Too close to them but so far...

MY PAINFUL LOOK OF SOLITUDE inicia.

47. INT. SALA (THE DAY SHE DIES) - TARDE

CENA COMPLETAMENTE DESFOCADA. A cozinha nos fundos da sala


está com a luz acesa. Charles está olhando para lá,
conversando com Aless que lá está. Ele está com uma faca na
mão.

CHARLIE (DELIRIUM)
There's always a toy. A boat in the
water, a bear in the chair, a
raven, a cat, a guitar, a knife, an
axe... And a woman in the couch.
Always a toy. Always.
48. EXT. TV - MY PAINFUL LOOK OF SOLITUDE

Violência gráfica, exibindo um individuo com seu corpo


inteiramente machucado e ensaguentado. Algumas outras
pinturas entrecortam-se a essa imagem, também.

49. INT. BANHEIRO (THE DAY HE DIES) - NOITE

Se liga a torneira da pia e molha-se a toalha.

CHARLIE (DELIRIUM)
So far from harmony.

DANTES MURMELN inicia.

50. EXT. TV - DANTES MURMELN


26

Mesmo caída, a câmera vai subindo, revelando a luz da


televisão refletindo-se no chão.

CHARLES está com a mão sobre a televisão, deslizando pelo


branco da tela, manchando-a com sangue. Um símbolo baseado em
uma seta, apontando para cima, e um círculo, em seu meio.

ZOOM-OUT.

O show de ADI & DIRK inicia na televisão.

A mão desce lentamente, deixando o símbolo por ali.

51. INT. SCHEINWERFER IM ZIRKUS

Cortinas se abrem.

DIRK
Was ist los, Adi? Ich sehe dein
Gesicht trauriger als
gestern.

ADI
Ich habe heute Morgen keine schönen
Blumen im Garten gefunden, Dirk.

DIRK
Die Blumen werden morgen schöner
geboren als heute.

ADI
Aber du hast gestern dasselbe
gesagt und nichts anderes
ist passiert.

DIRK
Die Blumen wurden heute früher
schöner geboren.
ADI
Jeden Tag steche ich mit Dornen in
meine Hände und blute aus meinen
Augen. Ist nicht wahr

DIRK
Es ist wahr, sage ich. Die Blumen
wurden heute früher schöner
geboren.

ADI
Was ist dann los?
27

DIRK
Sie infizieren Blumen mit Ihrem
Dreck.

ADI
Aber ich bin sauber. Warum sagst du
das?

DIRK
Ist es oder versucht es zu sein?

ADI
Aber...

DIRK
Es ist einfach, Adi.

ADI
Wie einfach?

DIRK
Stecke deine Hände tiefer und
tiefer in die dornigen Blüten und
wenn die faule Rinde trockener wird
und du das am weitesten verbreitete
Rot unter den Zweigen siehst, wird
alles schöner geboren. Es wird
genug für Sie sein, sie mit Ihren
Augen herauszuzupfen.

ADI se aproxima de DIRK enquanto uma sombra vai cobrindo a


luz. Ninguém está aplaudindo.

Um letreiro velho e letras como garrancho nos avisam.

As cortinas se fecham. Ninguém está aplaudindo.

52. INT. QUARTO (THE DAY HE DIES) - NOITE

CHARLES coloca a toalha molhada em seu rosto. Lentamente, as


mãos vão sendo colocadas também sobre ele. Como se tivesse
gritando silenciosamente. DANTE'S MURMELN acompanha.

53. INT. SALA (THE DAY SHE DIES) - NOITE

DESFOCADO. Charles reluta, sentado no sofá. Coloca a mão em


seu rosto, pensa e repensa. Ele pega a faca de volta e ela
reluz. DANTE'S MURMELN acompanha até o seu final.
28

CHARLIE
I think that I am a weakling,
without drinking. I’m paddling
through all of this shit and I
don't have nothing.

CHARLIE
(telefone)
I’m not the crazy that you think I
am. Things are fucked up right now,
ok? I just... I just need that you
listen to me. Just fucking listen
to me.

CHARLIE (CONT.)
I didn't think it would changed
anything, but it did. And I'm
afraid... of being beyond myself.
Stuck in me... With him inside my
head. I know he's dead, don't I?

Passos de botas.

CHARLIE
(telefone)
We will talk tonight, alright? Fuck
it. I don't care about any of this,
but we need to fucking talk
TONIGHT.

ALESS
(no telefone)
Fuck. I can't, Charles.

CHARLIE
(no telefone)
What do you mean? Why you can't? I
need... I need you.

ALESS
(no telefone)
Because I'm afraid of you, Charles.
I don't want to see you. Never
again. Just the fact that I'm
hearing your voice right now...
Shit. I-- I need to go back to
work.
29

CHARLIE
(no telefone)
Aless... Please. Don't hang up. I
don't know what I have done, but...
Everything is fine now, alright? I
said that I could handle and I did.
I don't owe him anything else. I
killed it.

ALESS
(no telefone)
How melancholy an existence,
Charlie... I wish you could hear
yourself. I cannot live at your
fuckin’ mercy. I'm not yours. I'm
lively. Goodbye.

O telefone desliga. O som de SEM SINAL prolonga-se por um


tempo enquanto que se retrocede na fita e repete sem parar a
fala LIVELY.

ALESS
(retrocedendo)
I’m lively. I’m LIVELY. I’M LIVELY.
I‘M L I V E L Y.

CLIC. Para.

CHARLIE
I wish I could hear myself...
...But there's another dream.

FADE IN:

54. INT. SALA - NOITE

REMBRANDT
...A noite gritava e não dormia e o
seu coração endureceu. Então seus
amigos lhe levaram ao jovem David
pois tocava bem a harpa e tinha uma
bonita voz ao cantar. Nesta noite
tocou diante do Rei até que o
espírito mal se apartou dele. E a
paz entrou em sua alma.

Se ouve o folhear do caderno do Homem Vitruviano.

E da televisão, começa a se desaproximar. Nada vemos ao redor


das bordas. Entretanto, um braço se ergue em meio a televisão
e a escuridão que cerca a sala. Na sua mão há o controle
30

remoto, que aguarda alguns segundos para desligar a TV.

O ESCURO toma conta de cena. Viveremos bastante por aqui.

Por alguns segundos, enquanto se continua folheando, se


permanece até que se fecha o caderno.
CHARLIE
The lights go out after midnight,
you say. My entire day have been
awful, he said. The hammer is in my
thumb. You’re not the same, she
says. And then... And then I say
that my midnight was today.

A televisão liga novamente.

Em base dos sons, apenas se escuta a fita ser inserida e,


após isso, um trago de um cigarro.

55. EXT. TV - MY SORROW (I COULD NOT AWAKEN)

MY SORROW (I COULD NOT AWAKEN) inicia.

Imagens com senso de perseguição variando dolorosamente.

VOZES DISTORCIDAS DE UMA ESPÉCIE DE


RÁDIO
I'm the detective/doctor/therapist
Delroy. I just want to make a
couple questions/wanna know
something/make yourself
confortamble. What you felt/know
about the death of Charl-Less,
m--r/s. ---Less?

56. INT. SALA (THE DAY SHE DIES) - NOITE

Cena completamente desfocada. Charles está abraçado em um


corpo coberto no sofá, aparentemente chorando.

57. EXT. TV - MY SORROW (I COULD NOT AWAKEN)

A fita VHS inicia. O que se pode ver é o inicio deste filme


e, de repente, em um corte brusco, a cena de CHARLES com a
mão sobre a televisão, deslizando pelo branco da tela,
manchando-a com sangue. Um símbolo baseado em uma seta,
apontando para cima, e um círculo, em seu meio.

Ele levanta a garrafa de cerveja no meio da tela.


31

CHARLIE
Pause.

O músico CHARLES grita.

FIM.

Você também pode gostar