Você está na página 1de 16

LETHARGY OF PHOBOS

(a SHORT film)

Screenplay by
Mikael Simões

Story by
Eduardo Alberton and Ryan Ribeiro

Based on the musical album by


Eduardo Alberton

21 de fevereiro,
2021.
“Battle not with monsters,
lest ye become a monster,
and if you gaze into the abyss,
the abyss gaze also into you.”

— Friedrich Nietzsche
INT./EXT. ??? - NOITE

(FAIXA: MY SORROW (I COULD NOT AWAKEN))

O barulho de um microfone fora de sincronia vai se iniciando baixo e aos poucos aumentando
até um nível insuportável. O conteúdo é um aglomerado de situações desconexas, recheado
pelas cenas das fitas fora de contexto e entrecortadas com elas próprias junto ao som. Dessa
forma, com a música e a cena sincronizada, mas destoante, se tornam uma exquisitez. Quando
a música vai chegar ao seu ápice, ao grito do vocalista, temos um corte abrupto. Não ouvimos
o grito.

INT. CASA - DIA

Barulhos do agarrar do gravador, do posicionar e do clicar do botão. O gravador está rodando.

TRANSIÇÃO PARA

EXT. CEMITÉRIO - DIA

Não estamos vendo nada, o personagem está com sua mão na frente da câmera. Ele está
conferindo se está realmente gravando e, assim que o confirma, a gravação gira ao seu rosto e
finalmente vemos — mais para menos do que para mais — com quem estamos nos
relacionando indiretamente senão pelas fitas.
A filmagem por inteiro se é vista como se fosse amadora, ela irá para seus pés, para seu
caminho, para transeuntes nas ruas e por ai vai. Nós somos seus olhos a partir de agora.
Entre esses cortes de caminhadas e rostos que nunca mais veremos há outras cenas
intervindas, lentamente, ao meio dessas.

BRAM (V.O.) BRAM (V.O.)


Não consigo me lembrar de muita I don’t remember everything. Lately
coisa. Ultimamente os dias tem the days have been a memory test,
sido uma prova de lembranças, uma a sea of darkness. So that, besides the
maré de escuridão. Então isso, além rest, serves me as... A calendar.
de tudo, tem me sido como um
calendário.

Ele ousa falar algo a mais e espera, interrompido por si mesmo. Por algum motivo. Talvez tenha
se sentido um tremendo idiota, talvez alguém tenha entrado no quarto. Talvez.

INT. BANHEIRO - NOITE

O posicionamento dessa outra gravação é inclinado, por isso não conseguimos ver muita coisa.
Há um espelho em nossa frente, mas mesmo assim não conseguimos ver o rosto daquele que
está lá, apenas suas mãos que se erguem como se tivessem levantando água de um riacho,
porém, diferente de água. Vemos suas mãos sujas de vermelho. Sangue. A mão se ergue
lentamente.
Respiro. Não sabemos quem.
As variações de cenas param e fixam apenas na gravação do cemitério.

INT. CEMITÉRIO - DIA

Enquanto caminha ele (a) encontra uma bolsa com agenda e alguns livros religiosos, a bíblia
inclusa. Entre as folhas da agenda há duas fitas de funções diferentes. Escondido entre os livros
há um gravador, perdido. Enquanto se olha, a música está se encerrando.

Entrecortes com a chegada e, vemos a cena da volta como se fizesse parte de uma sequência
inicial. A bolsa está na parte de trás do carro que nosso protagonista está usando como forma
de locomoção.

BRAM (V.O.) (cont’d) BRAM (V.O.) (cont’d)


Em relação aos sonhos, não são dos Talking about the dreams... they’re
melhores também. Vazios e not the best either. Hollow and
porcamente montados. Como se ill-defined. As if it had takeover my
invadisse meus pensamentos com thoughts with these… Scenes. As if it
essas... Essas cenas. Como se infectasse infect my conscience.
minha consciência.

Ouvimos o gravador ser agarrado.

BRAM (V.O.) (cont’d) BRAM (V.O.) (cont’d)


Escuridão e nada mais. Darkness there, and nothing more.

Somos apresentados ao título.

LETHARGY OF PHOBOS

(para mantermos o vídeo com cores padronizadas, os vídeos das fitas vão ser preto e branco
enquanto as gravações do telespectador coloridas.)
(o vídeo inteiro será com aspect ratio para manter uma identidade de fita vhs gravada nas
antiguidades do audiovisual, talvez com poucas exceções em relação as cenas que se passam
na casa.)

FADE-IN

FORA DE CENA havia aparecido o barulho d’um objeto pesado sendo posto no chão.

Somos espectadores de um filme de 1911. Estamos vendo a cena de dança do filme L’Infern.
Começamos a desaproximar e percebemos que, diferente do comum, essa cena está passando
na televisão. Nós estamos vendo-a do lado de fora. Nós somos a terceira visão. Porém nada
vemos ao redor das bordas, afinal está tudo escuro.

Se folheia um caderno, embora não se consiga ver, apenas se escuta.

Um braço se ergue em meio a televisão e a escuridão que cerca a sala. Na sua mão há o
controle remoto, apenas aguardando o momento certo para tirar do filme.
Se aperta o botão do controle e a TV desliga. Estamos no escuro. Viveremos bastante por aqui.

A TV liga novamente e conseguimos ouvir a fita ser inserida. Ao mesmo tempo, o trago de um
cigarro. Apenas o ruído, o que se dá para escutar. Se fecha o caderno.

Ainda em base dos sons, ouvimos como se alguém estivesse se acomodando.


O ângulo se alterna para totalmente em frente à televisão, à qual, nela, está iniciando o vídeo
da fita. A tomada vai se aproximando lentamente até que estamos totalmente imersos.

Ouvimos três vozes em cada lado do ouvido. A primeira é suave enquanto a segunda é gritante
e agressiva, a terceira tem seu próprio tom e é a única que intermedia, mesmo que
imperceptivelmente, entre a esquerda e à direita dos sons. A terceira voz é como um sussurro,
escutamos mas entendemos muito pouco sobre o que fala.

ALESS ALESS
Não é culpa dele, você sabe disso. Ele não Isn’t he’s fault, you know it. He cannot
pode viver à sua misericórdia.. Ele é vivido. live at your… Our mercy. He’s lively.

VOZ #2 VOICE #2
Eu não ligo para o que ele pode ou não I don’t give a shit what he can or not
pode fazer. Se eu digo sim, ele tem que to do. If I say yes, he has to say yes.
dizer sim.

Observamos, agora, a imagem de um violão encostado numa parede ou cadeira. Ao contrário


da transição para a cena, estamos nos desaproximando do violão. A imagem interpreta o
silêncio visual enquanto que as falas são o caos auditivo.

BRAM BRAM
Eu sinto sua voz entre cada nota que toco. I feel your voice between every note I
Por favor, me perdoe, eu não queria--- play. Please, forgive me. I didn’t---
Eu não quero pecar novamente. I don’t want to sin again. No more.
Nunca mais.

VOZ #2 VOICE #2
Toda noite ele me faz querer enforcá-lo -- Every night he makes me want to
esse bastardo, com seu travesseiro! fuckin’ hang him-- this bastard, with
his own pillow!

Silêncio. Apenas a respiração eufórica da voz #2.

CORTE

AKT EINS (THE AWAKENING)

FADE-IN

Estamos vendo uma cena desfocada que, num tempo de dois ou três segundos, vai tendo seu
foco recomposto. As cenas em questão são um tanto quanto acolhedoras e pacíficas, diferentes
do que veremos ao decorrer. O som ambiente é essencial.
(FAIXA: IT’S OVER AGAIN)
A sequência de filmagens gravadas por uma super 8 de paisagens e crianças brincando.
Conforme a música for seguindo iremos vendo essas imagens apaziguadoras ficando cada vez
mais escassas e sendo substituídas por imagens de agressões e animais mortos.

Como última parte dessa sequência, temos em frente a câmera um desenho feito, claramente,
por uma criança. Nele, vemos três figuras: uma que aparenta ser uma mulher, com um x onde
deveriam ser seus olhos, indicando sua morte, outra, dessa vez com traços mais grossos e
totalmente preta, sem rosto. Ao lado, o que parece ser uma criança.

Como as outras filmagens, essa aqui também parece ser de gravações pessoais de uma família
qualquer. Enquanto a pessoa que segura a câmera se desaproxima do desenho, como se
estivéssemos em um curto plano sequência, uma mão infantil destrói o desenho e a câmera
abaixa no exato instante, como um susto. Não vemos o rosto da criança.

DAISY ARRIVES (ou LEAVES?) (youtu.be/VSBruGgWfS4) encerra a cena.

FADE-OUT

INT. CASA - NOITE

O silêncio ambiente é essencial (pertencente ao vídeo FOUND FOOTAGE SUPER 8 REEL


97.16521.61: FRAGMENTE 5S (https://youtu.be/Cp1ohhH6wro). Em primeiro momento a
imagem é desfocada a ponto de que não consigamos ver o que está acontecendo, um pequeno
zumbido começa a aparecer como se tivesse atacado a audição que nos levava a ouvir a
ambientação. No ínterim, a imagem vai se focando lentamente. Notamos, assim que nítido, os
rabiscos em uma pequena foto. Não o vemos rabiscar tudo, já está praticamente terminando.
No momento, fazendo o rabisco nos olhos da foto. Nos aproximamos lentamente da fotografia.

O som, abafado pelo zumbido anteriormente, começa a reaparecer enquanto mais distorcido.
A risada da garota no vídeo em questão se torna algo irreconhecível.

CORTE

Enfim, a imagem do vídeo aparece.

O som de um projetor de filmes super oito acompanha até o final, onde a garota cai ao chão e
a mão se aproxima dela.

O som cessa.

CORTE

CENA DOIS

(FAIXA: PARANOIDE SCHIZOPHRENIE)

Estamos percorrendo pelos corredores escuros de uma casa, vultos emergem dos pequenos
pontos de luz e desaparecem antes que pudéssemos ter uma imagem clara do que eles são.
A música vai ficando mais acelerada. No minuto 01:04 ela para de ser tocada na rádio e passa a
ser tocada diretamente a nós como se, de alguma forma, estivesse em nossas cabeças junto
aos gritos da mulher sendo exorcizada. A movimentação da câmera torna-se mais dinâmica e
tremida, acompanhando o ritmo da música.

Ao fim dela, o vídeo exibido é o REAL DEMONS CAUGHT ON TAPE


(https://www.youtube.com/watch?v=oEVfREVGcaY).

Os sussurros voltam, de forma completamente inaudível, no momento em que os braços


começam a aparecer.

SUSSURROS (V.O.) WHISPER (V.O.)


Está ouvindo? Os pensamentos dos Are you listening? The thoughts of
perdidos. A pretensão dos mortos. the lost. The claim of the death.
Escute. Agora. Ou junte-se a incapaci- Listen. Now. Or join the disability.
dade. Pense. E quando tiver certeza... Think. And when you are sure… Call
Chame por mim. for me.

CORTE

INT. CASA - NOITE

Estamos de volta ao lado de fora da televisão.

Play.

Ele ri, naturalmente. Nada exagerado, apenas irônico. Ouvimos afinar o violão. Ele tosse e
enfim começa.

BRAM (V.O.) BRAM (V.O.)


Quando você esteve aqui pela última When were you last here?
vez?

O click do gravador para parar e outro click para dar play. Os cortes nas falas, sem resposta para
a possível pessoa com quem Bram/Charles está conversando é intencional.

Quando o novo play se dá, ouvimos-lo tocar piano por algum tempo. DRAKULYA. As notas
musicais que mais tarde irão reverberar na música DER PIANISTE.

O gravador para e começa outra gravação. De novo.

BRAM (V.O.) (cont’d) BRAM (V.O.) (cont’d)


Eu não quero você aqui. I don’t want you here.

A gravação para.

Play, de novo.
BRAM (V.O.) (cont’d) BRAM (V.O.) (cont’d)
Eu NÃO os escuto. Nem pensam em I don’t hear them. They don’t even
me procurar mais. Já se passou dias, look for me anymore. It’s been days,
se prestassem um pouco mais de if only they paid a little more
atenção, não estaria tudo assim. attention, it wouldn’t be like that.

Sussurro (V.O.) Whispers (V.O.)


Escutar quem? Hear who?

O click da pausa.

CENA TRÊS

(FAIXA: NIEMAND WIRD DICH RETTEN)

Além da música conseguimos ouvir sussurros que, pelo menos no início, não são claros. Eles
soam como grunhidos.

Conforme as falas forem seguindo, a rádio com a música vai aumentando e se distorcendo cada
vez mais. A imagem que vemos é a do vídeo STALKER VÍDEO 2 (youtu.be/G4894vGNOfU). No
minuto em que a faca é mostrada o violão começa a desafinar e outros vídeos variam com
diversos cortes. Entre eles: CONTROL (youtu.be/L13qKTGfrUS) e MY DEAD GREAT GRANDMA’S
COFFIN IN MY OWN BACKYARD! (youtu.be/V5BruGgWfS4).
A música novamente é tocada e ouvimos o silêncio.
O que está rodando enquanto o som não existe é WITCH FOUND IN SAUDI ARABIA
(youtu.be/QJ5SR-r4jhA). Quando ela começa a correr...

CENA QUARTO

(FAIXA: DIE SERIENMÖRDER-SEKTE)

A imagem entra em chiado intensamente até que voltamos as gravações tremulas, com cortes
destoando cada cena. Em nenhum momento conseguimos ver o rosto de quem está gravando
mas a sequência de gravações se intermediam entre: Gravações nas ruas, em um espécie de
floresta, casas, tocando o violão no ritmo da música, sua cabeça batendo na parede, as velas
novamente até que imagens violentas aparecem como uma contra medida das anteriores, uma
indecisão de pensamentos. As imagens violentas são impertinentes, dolorosas e
desconfortáveis a tal ponto que sua visualização se torna antiquadas e o vídeo se encerra com
a câmera caindo, não sabemos onde.
Transição em forma de glitch.

Quando a música atinge a minutagem 01:25, vemos o vídeo MY DAD’S TAPE (9)
youtu.be/u_KXB75mobl). Na minutagem 01:44 da música a gravação é retirada e vemos o nada
de novo. A música se encerra.
CENA CINCO

(FAIXA: DER PIANISTE)

A morbidez e obscuridade é nítida, paisagens mortas, casas abandonadas e objetos em


decomposição são exibidos. Uma mão em estado putrefato toca um piano, acompanhando
uma mão humana. Em 01:30, somos contemplados com imagens fantasmagóricas, como se a
influência do sobrenatural crescesse dentro da música. Em 02:49 a gravação se estabiliza com
um corpo humanoide, emergindo de um lençol branco, como em um passe de mágica, o lençol
é puxado por uma mão anônima, revelando o nada embaixo do tecido.

CENA SEIS

(FAIXA: ACCORD DE PUISSANCE)

O vídeo se inicia com duas mãos trêmulas cobertas de sangue. Em seguida, num corte abrupto,
vemos uma fotografia cujos rostos nela estão censurados, embora seja claramente visível que
se trate de um retrato familiar, pai e filho. Passamos por um corredor sujo e bagunçado, onde
vemos um corpo caído, sem vida, se debatendo.
Em 01:10 as mãos, antes tremulas, agora tocando a música que estamos ouvindo no violão.
Imagens de cadáveres intercalam e ficamos próximos do fim ao choro do músico. Quando a
variação de cenas se encerra, nos focamos em apenas uma imagem.

Conseguimos ver apenas escuridão, até que a luz da porta se abrindo invade todo o cômodo e
conseguimos ver, embora pouco, pés entrando por ela, caminhando para dentro.

AKT ZWEI (TOD)

CENA SETE

Voltamos a ver a vela, dessa vez parada no escuro e não sendo carregada. Ela está quase ao seu
fim. Atrás dela, quase imperceptível, há uma mão de um corpo caído a qual só se é possível ver
devido a luminosidade da vela que é pouco eficaz.

Ouvimos um coral de áudio modificado com um extremo chiado, alguns segundos após o inicio
do coral enfim somos apresentados a música.

(FAIXA: THE LAMENTATION OF THE FALLEN ANGEL)

Em 1:21 os sussurros retornam e desaparecem como um grande eco, de orelha a orelha,


menos inaudíveis que antes.

SUSSURROS (V.O.)
What do you think? The hopeless claim,
the next end. And the great, powerful
(DESESPERATIVE) ability to feel nothing.

A música se encerra e a vela se apaga com um sopro. Escuro. Silêncio.


GRITO (V.O.)
WHAT DO YOU THINK?!

A imagem de fora do ar aparece junto a um chiado insuportável, novamente.

CENA OITO (INTERLÚDIO)

Ouvimos algum botão da fita cassete ser apertado várias vezes até que o chiado acabe e,
surpreendentemente, o vídeo CLIP095.mp4 (youtu.be/VeU1Xu2qXDk) inicia.

INT. GRAVADOR

Outra vez, mesmo botão. Não sabemos onde nem quando, muito menos o por que.
Porém, diferente de antes, iniciamos com uma música no piano. Uma composição própria de
Bram.

(FAIXA: MIRCALLA)

A música se encerra, mas não a gravação. Um bom tempo se passa.

CORTE PARA

INT./EXT. Ante e quedo

BRAM BRAM
É-me estranho falar se é que estou. It’s weird for me talk, if I am.
Penso que errei, aonde? I think I made a mistake, where?

SUSSURROS (V.O.) WHISPER (V.O.)


SOLIDÃO, na verdade, foi. SOLITUDE, in fact, was.

CORTA PARA

Galhos, folhas... Restos do que uma árvore já foi. Essas partes queimam num fogo claro e forte.
A gravação está colorida, mas às vezes, como uma falha de transmissão, se torna preta e
branca por alguns segundos ao mesmo tempo que não consegue se manter numa única
qualidade. Como se a má qualidade do VHS a corrompesse por poucos milésimos.

ALESS (V.O.) ALESS (V.O.)


Sondei a noite erma e tranquila, olhei-a Düster in das Dunkel schauend stand
fundo, a perquiri-la, ich lange starr und grauend,
Sonhando sonhos que ninguém, Träume träumend, die hienieden nie
ninguém ousou sonhar iguais. ein Mensch geträumt vorher;
Estarrecido de ânsia e medo, Zweifel schwarz den Sinn bethörte,
ante o negror imoto e quedo. Nichts die Stille draussen störte,
Só um nome ouvi (quase em segredo Nur das eine Wort man horte, nur
eu o dizia( e foi: “Lenora!” “Lenore?” klang es her.
E o eco, em voz evocadora, o repetiu Selber haucht’ ich’s, un “Lenore!” trug
também: “Lenora!” das Echo trauernd her —
Depois, silêncio e nada mais. Einzig dies und sonst Nichts mehr.

A gravação acaba. Retornamos à escuridão e ao silêncio ensurdecedor, ficando neles por


minutos.

ALESS (V.O.) ALESS (V.O.)


(suspiro) (suspiro)
E nada mais. Und sonst Nichts mehr.

O barulho como se fosse de uma arma destravando mata o silêncio e, junto a ele, uma palavra.
E então mais barulhos de disparos ou de uma faca sendo amolada vão fazendo aparecer mais e
mais palavras, formando uma frase. Uma simples frase.

Wer wird meinen Jungen töten, wenn nicht ich?

CORTE

EXT. FOTOGRAFIAS DE LASCÍVIA

É uma sequência curta que servirá como conexão. Se firmará em vozes, disparos e texto,
embora não exclua a imagem. Não há música porque o silêncio dessa vez é essencial, para que
o cru e seco seja exibido da forma mais fidedigna possível.

As imagem do rolo de filme estragado rodando e o texto se intermediam por uma contagem
regressiva, já perto do final. Em flashes nós vemos fotografias distintas. A contagem é para
ADI&DIRK.

A cada pausa para as falas se vê uma pintura se aproximando lentamente ou um close bastante
específico em partes dos rostos de uma mulher.

ALESS ALESS
Com quem você está falando? Who are you talking to?

RED MASKS WERE USED AS A RIOT.

ALESS ALESS
O que você está fazendo? What are you doing?

THE BLAZE SQUEEZING YOUR NECK.

ALESS ALESS
O que são essas partituras? What are these scores?

WAITING FOR YOUR SCREAM.

ALESS ALESS
Aquelas bebidas… Those drinks...

DON’T LOOK BACK.


ALESS ALESS
E esses livros… And these books...

WHEN THE RAIN COMES.

ALESS ALESS
Esse sangue. These blood.

HE. SHE. WILL BE SEEING.

ALESS ALESS
Não contarei a ele. I won’t tell him.

HE. SHE.

ALESS ALESS
Não contarei a ninguém. I won’t tell anyone.

DON’T TRUST THE THORNS.

ALESS ALESS
Mas você terá que me dizer. But you have to tell me.

THE LOVE OF A RIOT.

ALESS ALESS
Por que tudo isso? Why all this?

WITHOUT BLOOD , WITHOUT PAIN , WITHOUT LOVE.

ALESS ALESS
Por favor, Bram, me diga. Please, Charles, tell me.

WITHOUT FEAR.

A cena se encerra com o barulho da arma, antes ocorrido no fim da pós-cena (oito?). No
barulho, a imagem some. Imagens de conexão da gravadora passam tão rapidamente quanto
no início.

Um milésimo de:

MEINE HAND AUF DEINEM KÖRPER.

Estamos de volta ao show de ADI&DIRK.

CORTE

EXT. SCHEINWERFER IM ZIRKUS


Cortinas se abrem.

DIRK
Was ist los, Adi? Ich sehe dein Gesicht trauriger als
gestern.

ADI
Ich habe heute Morgen keine schönen Blumen im Garten
gefunden, Dirk.

DIRK
Die Blumen werden morgen schöner geboren als heute.

ADI
Aber du hast gestern dasselbe gesagt und nichts anderes
ist passiert.

DIRK
Die Blumen wurden heute früher schöner geboren.

ADI
Jeden Tag steche ich mit Dornen in meine Hände und
blute aus meinen Augen. Ist nicht wahr

DIRK
Es ist wahr, sage ich. Die Blumen wurden heute früher
schöner geboren.

ADI
Was ist dann los?

DIRK
Sie infizieren Blumen mit Ihrem Dreck.

ADI
Aber ich bin sauber. Warum sagst du das?

DIRK
Ist es oder versucht es zu sein?

ADI
Aber...

DIRK
Es ist einfach, Adi.

ADI
Wie einfach?
DIRK
Stecke deine Hände tiefer und tiefer in die dornigen
Blüten und wenn die faule Rinde trockener wird und du
das am weitesten verbreitete Rot unter den Zweigen
siehst, wird alles schöner geboren. Es wird genug für Sie
sein, sie mit Ihren Augen herauszuzupfen.

ADI se aproxima de DIRK enquanto uma sombra vai cobrindo a luz. Ninguém está aplaudindo.

Um letreiro velho e letras como garrancho nos avisam.

LETREIRO
Tais quais espinhos nas borboletas que
pousam tão belas quanto mármore, está
aqui o imaginar que está.

LETREIRO
Quais seriam as sombras de flores e rosas
se não os espinhos? A que ponto o gramado
está tão alto que não podemos ver o escorpião
e a mosca a procura do assassinato do beija-flor?

As cortinas se fecham. Ninguém está aplaudindo. Fim do ENTREATO.

AKT DREI (METAMORPHOSE)

CORTE

INT. CASA - NOITE

Escuridão, apenas vemos escuridão. O ranger da porta abrindo quebra o silêncio tal qual a luz
no abrir invade a escuridão e ilumina o que é possível. Do lado de fora, se é possível ver dois
pés. Eles entram no cômodo.

A bolsa, achada no cemitério, é colocada no chão com pouca distância da televisão. O


enquadramento é bem perto da bolsa, por isso, quando ela é aberta para retirar as fitas, só
vemos duas mãos. Quando se pega os itens, o personagem em questão, sem nome, encontra
uma carta, não notada quando vasculhou pela primeira vez a bolsa, em meio aos itens. A carta
se mantém entre seu dedo indicador e do meio, até que, enquanto a observa em outras
perspectivas, a gira entre seus dedos. Vemos que ela é um CINCO DE ESPADAS. Ainda com os
dedos, ele lança a carta longe, desprezando-a.

Se imerge as mãos dentro da bolsa novamente e de lá se pega, como em uma fileira, as duas
fitas e o caderno de anotações. O HOMEM VITRUVIANO estampa a capa. É notável o fato do
objeto ser um caderno.

Em seguida, se fecha a porta e a luz vai embora. Escuridão novamente.

Mantemo-nos no silêncio por uns poucos segundos, uma longa tomada de nenhum som.
Se liga a televisão e começa o som do filme L’infern (1911), Não o vemos dessa vez. O
personagem não identificado se aconchega no chão e começa a ler as páginas daquilo,
colocando as fitas do seu lado. Sua leitura é superficial, ele apenas folheia.

A câmera gira, em sentido de transição utilizando da escuridão como meio, e, ao virarmos para
a escuridão, a TV desliga. A escutamos desligar.

A TV liga novamente e conseguimos ouvir a fita ser inserida. Ao mesmo tempo, o trago de um
cigarro. Apenas o ruído, o que se dá para escutar. Se fecha o caderno.

Se coloca a fita e toca no play do vídeo cassete, não vemos acontecer. Ouvimo-la — a pessoa
ou ser em questão — sentar- se no chão e, novamente, a câmera gira de volta e nos focamos
na televisão. Quando bastante próxima, há um corte.

CORTE PARA

Somos apresentados a um texto, cada palavra a cada segundo acompanhando um barulho,


talvez um disparo de câmera, talvez um botão de projetor. A sequência terá bastante influência
de obras artísticas, como quadros ou estátuas. Começamos na destruição de:

(FAIXA: THE GREAT HORNED GOD)

Em questão visual, fotografias antigas — não passando da década de sessenta — passariam


rapidamente, não tendo dois segundos de duração. O efeito sonoro de disparo de câmera não
terminaria de tão rápido que elas passariam. Algumas fotos, assim como na cena pós-DER
PIANISTE, seriam corrompidas pelas cores e a má qualidade. As primeiras variariam com
imagens daquele que nomeia a música, seja pinturas ou esculturas.

PLEASE, DON’T LOOK. PLEASE, STAY BEHIND.


PLEASE, GET OUT. PLEASE, LEAVE YOUR BRAIN ON THE CARPET.

O que se teria nessas fotos seriam alguns rostos de mulheres e homens. As mulheres sendo
sodomizadas com a mão em seu pescoço, os rostos dos homens em um possível orgasmo e
focos em partes dos corpos no meio dos atos. Nada expressivo, muito menos explicito.

WE GUIDE IN THE REFLEX OF DEATH, OF THE CHEAP, OF THE PAST.


LOVE THE END OF THE ROPE, THE
DON’T LOOK.

Elas variam com o texto. A cada frase, uma foto.

Em 1:33, os corpos humanos são substituídos por cadáveres. Como fotografias em um


stop-motion, o vídeo MY DEA GREAT GRANDMA’S COFFIN IN MY OWN BACKYARD!
(https://youtu.be/eyV-cVYzLlM), variando juntamente as fotografias.

(FAIXA: MY PAINFUL LOOK OF SOLITUDE)

Esculturas gregas e renascentistas e pinturas macabras intercalam junto ao barulho da serra.


HERE PULLING DOWN, GUTS SPILLING OUT, DIE NOW.
THE DESIRES HALLOW YOU. WILL LEAD YOU TO THE
UNSOUND AROUND. THE BULLET ONCE DEVOURS, LOVE
AND KILL. NOW PRETEND, LOOK OUT, HONOUR AND KILL.

Acompanhamos o andar sob um corredor escuro, o movimento da camera dá a impressão de


vertigem. Em seguida, em frente a um espelho, podemos ver uma sombra através do reflexo.
Em 0:39 vemos imagens de mutilações.

WHAT YOU GOT? WHAT YOU NEED? WHAT YOU WANT?


WHAT DO YOU CARE?
DO YOU?

(FAIXA: DANTE’S MURMELN)

Dessa vez as palavras aparecem em constância muito mais lenta e mal enganam a música.

When at a time
I believe I’m tied in
remains to cannibalize
What if i die
Before call to mind?
;

A cada variação mínima na música, as palavras se intermediam com fotos horrendas e cenas
de L’Inferno (1911).

(FAIXA: MY SORROW (I COULD NOT AWAKEN))

Imagens com senso de perseguição variando dolorosamente com as antes vistas, nos cortes do
ínicio, que impediam de ver a cena por inteiro, conseguimos ver outra cena, acontecendo em
paralelo as correrias e balanços.

INT. CASA - NOITE

O enquadramento é das costas a cima, assim conseguimos ver a televisão mas pouco do rosto
do personagem não-identificado.

INT. CORREDOR - NOITE

Na movimentação incongruente, se vê uma porta.

INT. CASA - NOITE

A fita VHS não se inicia com nada que tenhamos visto antes senão pela cena inicial desse filme,
nosso filme, sendo assistida de forma exteriora. Por ele, pelo ser e por nós.

O grito.

FIM.

Você também pode gostar