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Disciplina: Semiótica
Professora: Dra. Cristiane Wosniak
Aluno: Gabriel Mont’Serrat Vieira Pinto
Dentre aqueles revelados pelo célebre grupo de rap Odd Future, Earl facilmente
conquistou seu lugar como um dos rappers de maior renome na cena independente do hip hop
americano, principalmente por seu contundente conteúdo lírico. Após um curto período
participando oficialmente do grupo, Earl foi afastado por sua mãe para estudar em uma escola
terapêutica para meninos em situação de risco em Samoa, por conta de seus anseios com
relação à suas letras, às companhias e à seu futuro caso continuasse naquele meio. Após seu
retorno, desde então o rapper já lançou dois albums entitulados Doris (2013) e I Don’t Like Shit,
I Don’t Go Outside (2015).
No clipe a ser análisado vale notar o contexto em que se insere. O nome do album diz
muito a respeito do próprio conteúdo imagético da obra. Traduzindo livremente: Eu não gosto
de merda nenhuma, eu não saio de casa mostra em poucas palavras o clima agorafobico do
que é visto. Imagens de um Earl resignado sentado no sofá de sua sala fumando um baseado
(for the moment high as fuck) enquanto seu lar permanece em um estado de quase abandono,
evidenciado pela sequência de imagens demonstra em poucos segundos o clima depressivo da
obra.
Outra imagem que no contexto transmite a mensagem do descompromisso de Earl com
sua vida é a que pode ser entendida como seus amigos (e provavelmente ele, fora de cena)
jogando videogame. Aqui é preciso considerar não o videogame em sí, mas o que representa
na cultura periférica americana. A imagem do “gângster” que nada faz além de consumir (ou
vender) drogas e jogar videogame se consolidou como um clichê da indústria cinematógrafica.
O vídeo acompanha então Earl em sua procura por uma mulher, que nesse contexto
poderia ser tida como uma possível salvação, ou mesmo um caminho já sendo traçado pelo
rapaz em direção à essa resolução.
Essa busca por uma redenção acaba bruscamente quando a moça termina por também
mergulhar (metaforicamente) em águas frias (notadamente por conta da escuridão na gravação
em infravermelho). Esse mergulho parece indicar uma traição dessa mulher próxima a Earl, ou
sua total descaracterização em relação àquilo que ele reconhecia nela, já que após seu retorno
a superfície, de maneira desfigurada, ela é também retratada como uma das cobras que
cercam o protagonista.
A música parte então para um caminho completamente diferente. Earl é envolto pelos
“palhaços de circo” referidos anteriormente enquanto a música assume um caminho agitado,
como se o inferno tivesse acontecendo naquele momento na cabeça de Sweatshirt. As
rotações dos palhaços, quase que como demônios nos ombros de Earl, enquanto retorna ao
cíclo do vício (inúmeras vezes relatado por esse em entrevistas, ou mesmo por seus parentes).
Um dos “bateiristas” é visto então em chamas, gerando a interpretação de que mesmo rendido,
o rapaz tentou lutar contra seus demônios, mesmo que o resultado final seja nada mais que ele
de volta ao sofá, sozinho, fumando.
Segundo um tweet de Earl no período de lançamento do álbum que acompanha Grief, I
Don’t Like Shit I Don’t Go Outside, a música seria seu último lamento e ao mesmo tempo um
epílogo. Esse discurso dá ainda mais validez à interpretação de que o clipe mostra a tentativa
do músico de encontrar redenção em meio aos seus próximos e consequente falha, acabando
preso em meio à multidão.