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A Revolta dos Brinquedos

A REVOLTA
DOS BRINQUEDOS
Autor desconhecido

ACERVO ZAPCHAU 1
A Revolta dos Brinquedos

PERSONAGENS
Menina Érica Paraguaia
Fantoche Edson Zapchau
Boneca Carla Bork
Soldado Caio Korber
Palhaço Carlos Gabriel
Boneco Regiane Galdino
Bruxa Letícia Monteiro
Fada Natalia Pascoal

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A Revolta dos Brinquedos

CENA I
(Entra uma menina pulando corda, com tédio, lentamente, para, e tenta
montar um castelo no centro da cena por alguns segundos, e desmancha-o
logo bruscamente. Levanta desorientada sem saber o que fazer. Caminha
sem rumo pelo cenário. Bate nos brinquedos. Tenta brincar com cada um,
sem prazer e em seguida maltrata-os).
MENINA Brinquedo chato... (joga), sem graça... (joga), feio... (joga). (Pega a
bruxinha de pano). Estou farta de você sua bruxinha feia.
(Joga pra cima e da um pontapé)
(Em seguida pega um maravilhoso livro de história, senta-se e começa a
ler. A princípio com interesse, depois vai se deitando e se acomodando
para dormir).
MENINA Era uma vez uma menina que tinha muitos brinquedos... (boceja) Um dia,
ela... (boceja e se acomoda melhor). Que sono! (quase dormindo) Um dia
ela... (adormece)
(Fantoche levanta-se aos poucos e com muito cuidado, em tom
misterioso).
FANTOCHE Boneca! Boneca!
(Boneca arregala e pisca muitas vezes os olhos e desperta).
BONECA (Feliz) Ela dormiu!
(Em seguida ambos dirigem-se até o soldado. Chamando-o cria vida).
SOLDADO O que foi? Já está na hora?
FANTOCHE Está sim soldado!
SOLDADO Você tem certeza? Vê lá, hem?! Não quero problemas; já esqueceram
daquela noite? Você deu o sinal antes da hora, olha aqui o resultado
(Mostra perna enfaixada).
FANTOCHE Quem manda você ser bobo!
SOLDADO Bobo não! Você tem sua caixa pra se esconder, e eu?
FANTOCHE Você, ué? Você não é o herói? O que você faz dessa espingarda?
BONECA Ele é herói, sim senhor! Ele lutou bravamente na célebre "guerra das
pastilhas"
FANTOCHE Ora boneca! Não seja boba! Pastilhas coisa nenhuma! Era só uma! Foi a
guerra da pastilha.
SOLDADO Sim. A tomada da pastilha. Naquela madrugada cinzenta, o batalhão dos
soldados de chocolates atacou o batalhão dos soldados cabeça de
pirulito... E eu bravamente com minha espingarda ferido de morte...

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FANTOCHE Chega! Chega! Chega!... Será possível? Você já contou isso umas
quinhentas vezes!
BONECA Ah! Deixa-o contar outra vez! E tão bonito! (Gesto romântico) Meu
herói!
FANTOCHE Isso não interessa. A verdade é que já está tarde, nossa dona dormiu e nos
estamos perdendo tempo.
BONECA Então vamos logo chamar os outros!
SOLDADO Acorda palhaço!
(Sacudindo-o)
PALHAÇO (Abrindo os olhos. Bem preguiçoso). Oxênte! O que houve? hem!
SOLDADO Acorda logo, seu preguiçoso!
PALHAÇO (Sonolento) Acordar? Acordar pra que, homi?
FANTOCHE (Empolgado). Meu prezado amigo palhaço. É chegado o nosso grande
dia! Aliás, grande noite!
PALHAÇO (Ingênuo). Ôx! Mar noite di quê danado?
BONECA (Sem paciência). Oh! Seu burro!...
PALHAÇO (Ofendido). Burro não viu... Palhaço!
SOLDADO E o dia de nossa revolta!
PALHAÇO Revolta? Qui revolta?
FANTOCHE (Sem paciência). Não diga mais nada, por favor. Se não eu dou umas
bolachas nesse palhaço!
PALHAÇO Bolacha? Qui bom, eu acordei morrendo de fome!
FANTOCHE (Contendo a raiva com dificuldade). Palhacinho do meu coração, vê se
entende, sim? (Voltando-se para os outros). Também se ele não
entender... (Volta-se para o palhaço). A nossa revolta. A revolta dos
brinquedos contra as maldades de nossa dona, entendeu?
SOLDADO (Irônico). Vai ver que ele não sabe quem é nossa dona!
BONECA (Apontando para menina). É ela, palhacinho!
PALHAÇO (Olhando para a menina, desconfiado e medroso) Será qui ela num tá
ouvindo a gente não?
FANTOCHE (Furioso) Oh! Seu...
PALHAÇO (Cortando). Num mi chame di burro não!
FANTOCHE Não é burro, nem meio burro. O que acontece é que ela está dormindo e
por isso nós estamos livres.

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SOLDADO Chega de conversa! Vamos ao que interessa! Antes de mais nada vamos
chamar o boneco.
(Levantam o boneco)
SOLDADO Pode soltar que acho que ele já está acordado!
(Eles largam o boneco que desaba escandalosamente, ficam apavorado)
FANTOCHE O que será que ele tem?
PALHAÇO Eu acho qui isso é falta di rapadura com farinha! (Todos o olham). qui
foi?
BONECA Como nós somos bobos! Vocês não sabem que ele é de corda? Sem corda
ele não anda!
FANTOCHE Porque você não disse logo? Fizemos tanta força e só agora você
lembrou?
SOLDADO É, mas onde é que está a chave? Não estou vendo não...
FANTOCHE Vamos procurar pessoal?
PALHAÇO Achei! Achei! (Todos vão até ele). Não é isto?
FANTOCHE Ah seu palhaço, e isso é chave?
(Voltam a procurar)
BONECA Está ali! Agora você tem que ir buscá-la fantoche!
FANTOCHE Eu não! (Voltando-se para o soldado) Vai você soldado!
SOLDADO (Dando ordens). Palhaço, apanha agora!
PALHAÇO Oxênte, i logo eu é?
FANTOCHE (Fantoche). Quem vai é você soldado. Você é que é o herói.
SOLDADO Vai ser mais uma de minhas vitórias. (Convencido). Pronto fantoche,
agora você da corda!
(Dando corda)
FANTOCHE Ih! A corda escapou!
BONECA Cuidado! Não deixa escapar outra vez, se não ela pode acordar.
FANTOCHE Deixa comigo! Eu nunca erro duas vezes...
SOLDADO Não! Não erra duas vezes, erra sempre...
FANTOCHE (Querendo brigar) Olha aqui soldado... (Para o palhaço). Segura isso aqui!
Olha aqui seu soldadinho de chocolate, conquistador de pastilhas, não se
meta comigo não...
BONECA (Soltando o boneco e se interferindo entre os dois). Fantoche, não brigue
com o meu herói!

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FANTOCHE (Nervoso) Me desculpe! Mas é que esse soldado me faz perder a


paciência.
PALHAÇO (Com medo da situação, o boneco cai por cima dele)
SOLDADO Oh! Seu palhaço medroso, você só serve pra atrapalhar!
PALHAÇO (Com voz chorosa) Oxênte homi, num tem coração não é? O boneco
desaba em cima de mim e tu ainda reclama comigo é? Affffe maria!
FANTOCHE (Calmo) Tudo bem palhaço, a corda. Vamos, a corda!
PALHAÇO Ôxxx! Eu nem tô dormindo.
FANTOCHE Que dormindo o que? A corda (Tirando a chave de sua mão). É isto que
eu quero. A corda! A chave.
(Fantoche da corda no boneco)
BONECO (Vai se movimentando a medida que dão corda. Depois sai se
movimentando como um louco, de repente para). Puxa! Até que enfim!
Vocês discutiram tanto que eu pensei que não fossem me dar corda hoje.
E pra que esse movimento todo?
BONECA Você não ouviu? Chegou o dia da nossa liberdade!
SOLDADO (Heróico) Sim, liberdade! Vingança contra as maldades de nossa dona.
BONECO Tudo isso eu já sei. Agora eu quero os detalhes, como nós vamos agir?
Enfim, o nosso plano de ação!
FANTOCHE Isso é simples, é só seguirmos nosso plano. (entusiasmado) Bem pessoal,
o nosso plano é o seguinte... É... É... Bem... Qual é o plano mesmo?
(Coça a cabeça)
BONECA O plano! O nosso plano! ...bem, nós tínhamos um plano não é palhaço?
PALHAÇO E o que danado é plano hein?
FANTOCHE (Impaciente) Ai meu Deus, lá vem ele de novo!
SOLDADO Porque você não ficou dormindo, hein?
PALHAÇO E num era isso que eu quiria?
BONECO (Autoritário) Deixem de conversa fiada. O que eu quero saber, é o que
nós vamos fazer com ela, qual vai ser a nossa vingança?
BONECA (Feminina) Vamos puxar bastante o cabelo dela. É assim que ala faz
comigo todos os dias.
SOLDADO Nada de puxar cabelos. Isso não é vingança. Vamos prendê-la naquele
castelo, como fizeram com a Maria espoleta na guerra das pastilhas.
FANTOCHE Eu acho melhor fechá-la na minha caixa...
BONECO Não! Essas vinganças não estão boas! Vamos pensar em coisa melhor.
Vamos todos, vamos pensar bem!
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PALHAÇO Já sei!
(Todos correm para ele)
TODOS O que? Fala!
PALHAÇO (No auge da ingenuidade). Vamos quebrar todos os brinquedos dela, não
é uma ótima idéia?
FANTOCHE (Impaciente). Palhacinho do meu coração! O que você acha que a gente
é? Por acaso não somos os brinquedos dela?
PALHAÇO É mesmo!
BONECA A primeira coisa a fazer é prendermos a nossa dona. A vingança a gente
resolve depois.
SOLDADO (Militar) Eu comando o ataque. Vamos entrar em forma para chamada.
(Fila horizontal. Vendo o erro do palhaço) Meia volta volver! (Cai).
Boneca de louça!
BONECA Presente!
(Ballet)
SOLDADO Fantoche?
FANTOCHE Presente!
SOLDADO Palhaço?
PALHAÇO (Sai da fila e vai até ele) O que foi homi?
SOLDADO Presente!
PALHAÇO Pra mim? Num precisava!
SOLDADO (Grita) Pra fila palhaço! Boneco de corda?
BONECO (Vai responder. levanta o braço abre a boca, acaba a corda e ele desaba)
SOLDADO Acabou-se a corda!
(Todos dão a corda).
BONECO Presente!
SOLDADO Bruxa de pano? (Mais alto) Bruxa de pano!... Bruxa de pano!
(Todos a procuram)
BONECA Ué! Onde ela ficou?
BONECO Vai ver nossa dona deixou a bruxinha lá no jardim com os grilos e os
sapos, do jeito que ela é má!
SOLDADO Não importa! Depois nós tratamos de procurá-la. Vamos ao ataque!
Batalhão! Sentido! (Barriga do palhaço). Encolhe a barriga! (Peito) Peito
pra fora! (Queixo) Queixo pra cima!

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PALHAÇO (Todo torto) Assim tá bom?


SOLDADO Batalhão! Direita volver! Ordinário marche!
FANTOCHE Espera aí soldado, você só quer dar ordens? Assim qualquer um ataca!
SOLDADO Quem comanda não luta! Os grandes comandantes como eu, só dão
ordens!
BONECO Grande comandante... De longe não é?
(Risos)
PALHAÇO O comandante, será qui eu pudia mi ajeitá?
SOLDADO Que isso palhaço! Nem bem começamos o ataque e você já quer fugir?
PALHAÇO É que eu tô com dôr na calunia!
BONECO Assim nós não conseguimos coisa alguma... Eu proponho que seja feito
um julgamento, com advogado, juiz e tudo!
BONECA Muito bem! Muito bem! Nós somos brinquedos, mas o julgamento será
de verdade!
PALHAÇO Ôx, mas será que ela vai deixar?
SOLDADO (Muito valente) O julgamento é de verdade, ela tem que aceitar.
PALHAÇO É isso mesmo! E se essa danada num quiser a gente amarra ela com a
corda de pular.
FANTOCHE (Irônico) A gente?
PALHAÇO Bem... Quer dizer... Vocês amarram né?
BONECA Logo vi que essa valentia não poderia durar muito...
FANTOCHE (Importante) Vai ser um julgamento formidável! Como nunca se viu na
brinquedolândia, e eu serei o advogado de acusação.
SOLDADO Advogado, você? Essa é boa! Advogado fantoche! Isso é coisa que nunca
se viu!
FANTOCHE Nunca se viu? Isso é que não falta, aliás, vocês são brinquedos sem
tradição, são dependentes de algo para funcionar, frágeis. Eu não! Eu sou
descendente de famílias importantes. Meu bisavô era de ouro, e era o
brinquedo preferido do sultão de Cháditala!
PALHAÇO Chá de que?
FANTOCHE Ditala! (Explicando) Chá-di-ta-la.
PALHAÇO Que tala?
FANTOCHE Não amola palhaço! Isso é nome de sultão.
BONECA Eu acho que ele dá pra advogado. Fala pelos cotovelos.
FANTOCHE Mais respeito, boneca! Mais respeito!
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BONECO Bem, é preciso também um juiz! Que vai ser?


SOLDADO Pra juiz qualquer um serve. O palhaço mesmo está bom!
BONECA Agora está faltando o advogado de defesa. Alguém precisa defendê-la.
SOLDADO (Espantado) Defendê-la? Pelas maldades que ela faz com a gente, não
pode ter defesa!
BONECA Você está enganado soldado. Todos têm direito a defesa. No mundo de
carne e osso, por maior que seja a maldade praticada, a pessoa tem
sempre direito a defesa. E isso é muito bom...
FANTOCHE Fica então escolhido pela vontade geral, para advogado de defesa, o meu
ilustre colega boneco de corda.
BONECO Bem... A vontade não foi muito geral, mas se é preciso, eu aceito.
BONECA Bom, já temos o advogado de acusação, a defesa e o juiz.
PALHAÇO E o juiz sou eu? Qui legal!... Mas o que é juiz?
FANTOCHE Juiz, é uma pessoa muito importante que fica numa cadeira parecida com
um trono e alguém só fala quando ele deixa falar. Quando ele não quer
que alguém fale, ele bate com o martelo.
PALHAÇO Na cabeça do cabra qui falou?
FANTOCHE (Raiva contida) ...Continuando... Ele usa uma roupa preta muito
comprida, um chapéu preto muito alto com uma coisa branca em volta e
fica cochilando o tempo todo no julgamento.
PALHAÇO (Se deitando) Cochilando? Que bom! Então vamo começa logo esse
troço!
SOLDADO Você está pensando que é só dormir é? Você é quem vai dizer o que
vamos fazer com nossa dona.
BONECA Você tem que pensar em todas as maldades que ela faz conosco. Por
exemplo, ela te pega pelas pernas e te joga de cabeça pra baixo contra a
parede.
BONECO E comigo? Ela me dá corda com tanta força que já fui duas vezes para o
conserto. Se eu não fosse brinquedo caro, ninguém me consertaria.
FANTOCHE Pois olhe, eu até que gosto de ir para o conserto. No último pontapé que
ela me deu eu fique oito dias numa loja. Lá era tão bonito, tinha trens,
navios e uma linda boneca de olhos da cor do céu.
(Romântico, boneca enciumada)
SOLDADO Ih! Assim eu acho que você não dá pra fazer a acusação. Parece até que
gostou do pontapé.
FANTOCHE Do pontapé não! Eu gostei da loja. O pontapé doeu pra burro. Pode estar
certo que da minha acusação ela não escapa de jeito nenhum. Vou falar

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do que ela tem feito a todos nós, e também o que ela faz com os cadernos
e os livros da escola...
(A menina abre os olhos e ouve tudo)
SOLDADO É bom não esquecer o que ela fez comigo. Me jogou pela janela e eu
fiquei dois meses mancando. Eu, um soldado, mancando!
BONECA É! Não há dúvida que nossa dona é má, antipática e orgulhosa.
Precisamos castigá-la!
PALHAÇO (Com medo) Ave Maria dos palhaços indefesos!
BONECO O que foi palhaço?
PALHAÇO (Com dificuldade) Ela... Ela acordou! (Apavorado)
TODOS A menina! a menina! Fujam!
(Todos para o mesmo lugar e se esbarram)
MENINA Ah, Vocês me pagam! Vamos ver quem vai ser o juiz!
PALHAÇO Oxênte minina, eu num faço questão não, vice??!!!
SOLDADO (Joga uma bola na menina) Corram!!!
MENINA Você me paga seu soldado de meia tigela!!!
(Sai atrás do soldado)
BONECO (Aflito) Socorro! Socorro! Minha corda está acabando!!! Me dêem corda
por fav... (acabou).
PALHAÇO Acho que fiz xixi nas calças!
SOLDADO (Entra) Ela está lá no jardim me procurando.
(Dá corda no boneco)
BONECO Obrigado! Essa foi por pouco!
SOLDADO Lá atrás do castelo da menina está cheio de doces, vamos comer tudo!
PALHAÇO Oba!
BONECA Não soldado, não seja egoísta. Vamos repartir com nossos amiguinhos,
que são muito bonzinhos e não maltratam seus brinquedos. Vamos?
TODOS Vamos!!!
(música)

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CENA II
FANTOCHE Pessoal, a menina está no jardim, ela está furiosa.
PALHAÇO E agora o ela vai pegar eu!
FANTOCHE Me pegar!
PALHAÇO Tú também é, homi?
FANTOCHE Eu estou dizendo que o certo é vai me pegar!
PALHAÇO Ah!
SOLDADO Pessoal!
TODOS Corram! A menina!
SOLDADO Calma pessoal sou eu! Olha quem eu achei!
(Bruxinha entra)
TODOS (Carinho). Bruxinha!
BONECA Agora nossa revolta está completa!
SOLDADO Estamos perdendo tempo!
FANTOCHE O que vamos fazer?
SOLDADO Eu tenho um plano! Palhaço você vai ser a isca!
PALHAÇO Oba! Eu vou ser a isca... Mas o que é isca?
SOLDADO Você só precisa ficar ali paradinho!
PALHAÇO Mas pra quê?
SOLDADO E... E... É que isso é uma brincadeira muito legal, você fica lá paradinho
que eu te digo quando começar.
PALHAÇO Tá certo! (Vai para o lugar). Já começou?
SOLDADO Não! Fantoche e eu vamos segurar a corda, ao meu sinal estique o
máximo!
FANTOCHE Certo!
PALHAÇO Já começou?
FANTOCHE Não!
SOLDADO E vocês escondam-se!
PALHAÇO Já começou?
TODOS Não seu palhaço chato!

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PALHAÇO Vixi, é o coral é?


BRUXA Ela está vindo aí!
(Todos para os lugares. Menina entra).
MENINA (Olha para os lados) Meus doces! Quem mandou vocês pegarem meus
doces? Agora vão me pagar! E o primeiro vai ser você seu palhaço
estúpido!
PALHAÇO Eu acho que agora começou, e eu num tô gostando nada da brincadeira!
MENINA Vou te pegar!
(Vai encima do palhaço)
SOLDADO Agora! (Menina cai) Vamos lá pessoal! É hora de entrar em ação!
(Música tema missão impossível. Efeito câmera lenta e se jogam em cima
da menina).
MENINA Saiam de cima de mim seus brinquedos malditos!
(Batendo os braços no chão).
BONECA Façam alguma coisa, ela é muito forte!
BONECO Vamos fantoche a corda! (Fantoche dá corda no boneco) Não! Não é
dessa corda que eu estou falando. A corda de amarrar! (Fantoche dá a
corda, e boneco amarra-a) Preciso de mais corda!
SOLDADO (Sobe na caixa) Atenção Batalhão! Tragam mais corda!
(Bruxinha vai pegar fora)
MENINA Me larguem, me larguem!
SOLDADO Boneca, traga o banco da prisioneira!
BRUXA (Entra com a corda) Está aqui a corda!
MENINA Sua bruxa! Eu devia ter deixado você com os grilos e sapos do jardim.
Você me paga!
BRUXA Não acredito que você volte a me maltratar. Nem tão cedo você se
libertará para voltar a fazer maldades.
MENINA Isso é o que você quer. Não pensem vocês que eu vou ficar amarrada aqui
por toda vida.
FANTOCHE Por mim te amarraria de cabeça para baixo!
BRUXA Você vai ser julgada, e pagará por todas suas maldades.
BONECA Por sua ingratidão!
SOLDADO Por seu orgulho!
PALHAÇO E por nunca ter me deixado dar um chupinho do seu pirulito.

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MENINA Que ingratidão! Vocês são muito bobos, uns brinquedos sem graça. Mas a
pior de todos é você sua bruxa feiosa, fique sabendo que eu nunca quis ter
uma boneca feita de trapos como você. Você nunca teve importância pra
mim, pois é muito feia e boba!
BRUXA (Chorando. Música Lua de Cristal) Eu sei que sou de pano sem
importância. Mas tenho um coração melhor que o seu!
BONECA (Acariciando a bruxa) Não está cansada de maltratar a pobre Bruxinha?
Que mal ela lhe fez? Que mal lhe fizemos?
BRUXA Nós não somos a sua distração quando você vem do colégio?
MENINA (Irônica) Vocês "eram" minha distração, estou farta de vocês. Farta,
ouviram, farta.
(Bate com os pés).
BONECO Senhoras! Acabem com essa discussão. Vamos preparar o julgamento.
TODOS (Música escravos de Jô. Arrumando o julgamento) ...Escravos de jó,
jogavam caxangá... Tira... Bota... Deixa ficar... Guerreiros com guerreiros
fazem zigue zigue zá... Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá...
Escravos de Jó... Jogavam caxangá... Tira... Bota... Deixa ficar...
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá... Guerreiros com
guerreiros fazem zigue zigue zá...
FANTOCHE (Bem alto). Vamos começar o julgamento!
BONECO Não! Quem deve começar o julgamento é o juiz.
SOLDADO (Procura o juiz) Aonde está o juiz? Onde será que esse palhaço se meteu?
PALHAÇO (Palhaço aparece vestido de juiz com grande martelo, e bate na caixa do
fantoche. Todos se voltam para ele) Ordem no tribunal!
(Risos geral)
MENINA (Furiosa) A roupa do meu pai! Vá tirar isso seu palhaço estúpido!
PALHAÇO (Bate o martelo de novo) Silêncio! Silêncio! Quem manda no tribunal
agora é o juiz!
FANTOCHE Escuta aqui palhaço, onde foi que você aprendeu essa história de tribunal,
hem?
PALHAÇO Ôx! Todos os dias, quando o pai dela sai para o trabalho ele não diz que
vai para o tribunal? Então se nós vamos fazer um julgamento. Eu sou o
juiz isso aqui é um tribunal! (Com importância). Comecemos,
comecemos!
FANTOCHE Então, senhor juiz comece logo!
PALHAÇO (Ingênuo). I como eu começo esse troço?
BONECO (Imitando). É assim que se faz, diga Está aberta a sessão!

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MENINA (Irritadissima). Isso é ridículo! (Fazendo força pra se soltar). Se eu


pudesse me soltar vocês iam ver.
PALHAÇO (Bate o martelo). Silêncio! Ordem! (Para o soldado). Soldado! Para a
segurança do tribunal, veja se as cordas estão bem amarradas!
SOLDADO (Verifica de longe, a menina tenta chutá-lo). Não há perigo meritíssimo!
Pelas cordas o tribunal está seguro!
PALHAÇO (Bate o martelo) Está aberta a sessão! Tem a palavra o senhor advogado
de acusação!
(Aponta para o fantoche)
FANTOCHE Meus senhores! Sem medo de errar poderia afirmar, que nunca teve um
acusador, tarefa tão fácil como a que me foi destinada. Nunca houve um
caso como este. Nunca houve uma dona como a nossa.
TODOS Muito bem! Muito bem!
(Palmas. Menos o boneco).
BONECO Protesto! Protesto, senhor juiz!
FANTOCHE Protesta por quê? Eu ainda não disse nada...
MENINA Não disse nem vai dizer! Porque vou deixá-los em pedaços!
PALHAÇO (Saindo). Pra mim chega desse negócio de juiz!
SOLDADO Volte pra lá seu medroso!
(Segurando pela roupa)
MENINA Volte para ver o que vou fazer com você!
(Ameaçadora)
PALHAÇO Ai meus corinho! Ninguém quer ser juiz não???
TODOS (Em coro). Nãããããããããoooooooo!!!
PALHAÇO É que eu preferia só assistir!
SOLDADO (Põe o juiz no seu lugar) Assista como juiz e não discuta!
MENINA Você seu soldado de meia tigela, com toda essa valentia, também vai
apanhar e muito! Você só não, todos vocês! Há, Há, Ha!
BONECA Antes disso você tem que se soltar daí.
BRUXA E eu duvido muito que você consiga.
TODOS (Palmas) Muito bem! Bravo!
MENINA Sempre essa bruxa atrevida. O seu lugar devia ser lá na cozinha como
pano de chão.
BRUXA (Chora soluçando)

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FANTOCHE Senhor juiz! Mais uma prova da ruindade dela!


BONECO Protesto! Protesto! Houve provocação. Como nossa dona está amarrada,
estão todos abusando!
BONECA Que é isso boneco? Você se passou agora para o lado dela?
BONECO Não boneca! Você já esqueceu que eu sou o advogado de defesa? Eu
tenho que defendê-la!
MENINA Então por que não me solta?
BONECO Ah! Isso eu não posso fazer. Só o juiz!
PALHAÇO E eu sou besta é? Isso eu num faço não.
FANTOCHE Senhores! Deixem-me continuar a acusação... Bem... Ela tem feito coisas
incríveis... (Contando nos dedos). Há pouco tempo quebrou a cabeça do
soldado, que é bem dura por sinal... Segundo: ofende a pobre bruxinha a
toda hora... Terceiro: maltrata a boneca de louça... (Alto) E a mim!
Quebra sempre a mola da minha caixa, e eu fico sem poder sair. Esta é
sem dúvida é a maior de suas maldades! E vocês já viram os livros e os
cadernos dela?
(Enquanto isso o palhaço sai perseguindo uma mosca)
BONECO Protesto! Protesto! Exijo provas dessas acusações. Senhor juiz? Ué, onde
está o juiz?
BONECA Não acredito! Ele saiu de novo?
TODOS (Procurando o juiz) Juiz! Ô juiz! Cadê você?
SOLDADO Onde será que se meteu aquele palhaço?
PALHAÇO (Entra de velocípede). Vrummm vrummm, bi, bi!!
BONECO Senhor juiz! Enquanto o senhor dava seus passeios de velocípede, eu
exigia do meu colega fantoche, as provas de suas acusações.
PALHAÇO Eu saí, porque vocês são muito chatos. Oxente homi, eu já estou enjoado
de julgamento!
MENINA Por mim vocês podiam sumir daqui e não voltar nunca mais!
BRUXA Nós iremos sim, mas só depois do julgamento. Nem se preocupe!
MENINA Mas afinal de contas, vocês já pensaram o que vão fazer comigo? Porque
se vocês me soltarem não vai sobrar um pedacinho pra contar a história.
Há, Há, Há... Eu só quero ver qual a sentença desse juiz caçador de
moscas!
PALHAÇO Mais respeito nesse tribunal. Se não vão todos pro xadrez!
SOLDADO Pro xadrez eu? Quem vai mandar? Você?
PALHAÇO Eu mesmo. Se não andar direito vai preso pro quartel!

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BONECA Vamos brincar de novo!


PALHAÇO Oba!
TODOS Marcha soldados cabeça de papel, quem não marchar direito vai preso pro
quartel. O quartel pegou fogo a polícia deu sinal, acuda, acuda, acuda a
bandeira nacional.
(saem. Menos Boneco e Fantoche)
BONECO Ué! E o julgamento? Vamos chamar o pessoal?
FANTOCHE Vamos!
(Sai rápido)
MENINA Psiu! Boneco!
BONECO (Volta desconfiado) Eu? O que é?
MENINA (Super hipócrita) Venha cá... Não tenha medo, não vê que eu estou
amarrada?
BONECO O que você quer?
(Aproximando-se desconfiado)
MENINA Quero conversar um pouco... Você não é o meu advogado? Não vai me
defender? Precisamos conversar sobre isso!
BONECO Bem! Pode falar o que quiser. Eu fico aqui de longe.
MENINA Ora! Nós somos amigos...
BONECO Amigos? Você não lembrava disso quando quebrava minha corda.
MENINA Meu Deus! Mas você acha que eu fazia isso de propósito? Imagina
(Falsa), é que quando eu chegava do colégio, queria muito brincar com a
boneca da mamãe e ela sempre dizia Minha filha cuidado com a
boneca! Não vá amarrotar o vestido dela! Não estrague o seu cabelo.
Acho melhor guarda-la no armário... Ora assim era impossível brincar!
Então eu ficava muito triste e sem querer quebrava sua corda!
BONECO E a bruxa? Ela não tem vestido bonito e nem cabelo para estragar, mas
mesmo assim você sempre que pode a maltrata.
MENINA Ora! A bruxa! Nem me fale daquela bruxa. Ela foi presente da cozinheira.
Nunca me interessou... Eu com tantos brinquedos caros só podia brincar
com uma bruxa de panos? Ela só serve para a gente atirar num canto e
pisar em cima.
BONECO E eu? Eu não sou nem a boneca e nem a bruxa! Por que você me
maltrata?
MENINA (Gaguejando) Bem... Você... Quando eu ia brincar com você eu já estava
muito irritada... E como já falei fazia muita força e quebrava sua corda.
Mas era tudo sem querer é claro!
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BONECO Era melhor então que quando ficasse irritada fosse brincar com os outros
e não comigo!
MENINA (Falsa) Ah! Mas eu preferia você... Você é meu brinquedo preferido!
(O boneco fica orgulhoso e depois desconfiado)
BONECO O que você está querendo com esses elogios?
MENINA Eu? Nada! Só porque digo que gosto de você eu estaria querendo algo?
BONECO Bem... Como você gosta de quebrar agente...eu pensei...
MENINA Olhe... Eu gosto tanto de você que seria capaz de perdoá-lo se você me
soltasse...
BONECO Perdoar não é o bastante! Precisa prometer que nunca mais me quebrará.
MENINA Puxa! Está prometido, garanto que nunca mais o quebrarei.
BONECO (Pensando) Está bem!... Vou soltá-la! (vai desamarrando). E os outros? O
que você vai fazer com os outros?
MENINA Os outros? Ora! (Raiva). Vou quebrar todos e fico só com você!
BONECO Ah, logo vi! Quase fui enganado, por essa sua falsa amizade. Acha então
que eu ia esquecer dos meus companheiros? O fato de eu ser o seu
advogado não quer dizer que eu vá trair os meus amigos!!!
MENINA (Com toda maldade. Gritando) Agora me arrependo de não ter te
quebrado todo, ao invés de ter quebrado só sua corda. Seu boneco
antipático!!!
BONECO Soldado, Palhaço, Boneca, Fantoche, Bruxinha! Venham todos!!!
(Voltam todos)
SOLDADO O que foi boneco? O que aconteceu?
MENINA É mentira tudo que ele vai dizer. É mentira (Nervosa). Esse boneco
mentiroso queria trair vocês.
BONECO Não é verdade. Você sabe que não é verdade sua mentirosa! Ela me pediu
que a soltasse. Quando perguntei o que ela faria com vocês, disse que
quebraria todos vocês. E é claro que eu não podia aceitar uma coisa
dessas.
SOLDADO Então não tem mais julgamento, vamos castigá-la de uma vez.
BONECO Isso mesmo! Não sou mais advogado dela!
BRUXA Não pessoal! Nós devemos continuar o julgamento. Que ela era má nós já
sabíamos. Isso foi apenas mais uma prova. Vamos continuar, e você deve
defendê-la!
FANTOCHE Está bem. Continuaremos então!
PALHAÇO Está reaberta a sessão!
ACERVO ZAPCHAU 17
A Revolta dos Brinquedos

FANTOCHE O senhor advogado de defesa pediu provas daquelas maldades que citei!
Pois bem, soldado, mostra a cabeça. (Mostra). Queira examinar senhor
juiz!
SOLDADO Ai! Ai! Não põe o dedo que dói! É só pra olhar!
FANTOCHE Bruxa de pano, diga ao meritíssimo o que ela fez com você!
BRUXA O pior que ela faz comigo não é dizer que sou feia feita de trapos e outras
coisas. O pior é que todas as noites ela me deixa num canto do jardim,
com grilos e sapos. Tenho horror a sapos. Eles pulam a noite inteira em
cima de mim. E os grilos fazem “cri cri cri” no meu ouvido o tempo todo.
E o frio? E o orvalho?
BONECA Orvalho? O que é orvalho?
BRUXA (Romântica) São as lágrimas da noite triste, caindo pelas rosas.
TODOS (Suspirando) ai, ai!
PALHAÇO Bem... Como castigo proponho que a gente bote essa danada no tal do
orvalho!
FANTOCHE Calma palhaço. Ainda é cedo para o castigo... Boneca de louça! Mostre o
que a menina fez com você.
BONECA (Vergonha). Não posso mostrar!
SOLDADO Não pode? Por quê?
BONECA (Mais vergonha passando a mão no traseiro). Eu estou toda machucada!
Querem ver? (Mostra) Eu apanhei tanto que até a roupa rasgou.
TODOS Oh! Coitadinha!!!
BONECA Imaginem... Eu, uma boneca de luxo, com a roupa remendada. E que
remendo.
FANTOCHE Vamos ver agora os livros e cadernos dela. Bruxa de pano, vá buscá-los!
MENINA Mas que coisa! Já não chega o que estão fazendo comigo? (gritando) Não
quero ninguém mexendo nas minhas coisas. Vocês não tem nada a ver
com meus estudos seus brinquedos atrevidos.
PALHAÇO (Batendo o martelo). Silêncio! Silêncio! Aqui só quem fala somos nóis
vice! Bruxinha de pano, cumpra a ordem!
(Bruxa fica indecisa)
BONECA Vamos bruxinha! Eu vou com você.
(Saem de mãos dadas).
MENINA Eu já estou farta disso tudo. Se vocês não me soltarem já já eu vou gritar!
BONECO Não adianta. Ninguém vai ouvir...
(Entram com os livros)
ACERVO ZAPCHAU 18
A Revolta dos Brinquedos

MENINA O meu livro de histórias! Pelo amor de Deus não estraguem meu livro de
histórias.
BRUXA Você só tem amor ao seu livro de histórias? Vejam só os livros de estudo.
BONECA Olha o que ela escreveu! (Com dificuldade) Pi-ro-li-to que ba-te...ah já
sei!
TODOS Pirulito que bate bate, pirulito que já bateu, quem gosta de mim é ela e
quem gosta dela sou eu. Pirulito que bate bate, pirulito que já bateu, quem
gosta de mim é ela e quem gosta dela sou eu.
PALHAÇO (Animadissimo) Que legal! Vê se tem mais alguma coisa.
BRUXA Nossa! Como tem jogo da velha! Quantos rabiscos! Olha tem cirandinha,
vamos cantar?
(Faz a roda)
TODOS Ciranda cirandinha vamos todos cirandar vamos dar a meia volta volta e
meia vamos dar. Ciranda cirandinha vamos todos cirandar vamos dar a
meia volta volta e meia vamos dar.
PALHAÇO Oxênte menina, assim até eu quero pra iscola!
FANTOCHE Pessoal! Acho que já chega de provas. Vamos logo resolver qual vai ser o
castigo.
BONECA O juiz tem que escolher.
PALHAÇO (Gaguejando) Eu..eu..bem..eu acho...
FANTOCHE Proponho que se faça com ela o mesmo que ela faz com a bruxinha de
pano! Vamos deixá-la amarrada no jardim para os sapos pularem em cima
dela!
TODOS (Avançando como feras) Vamos arrastá-la! Vamos arrastá-la.
(A menina se solta das cordas)
MENINA Aha! Vamos ver agora quem vai ser castigada! Vamos ver que é que vai
ser atirada aos sapos? Sua boneca atrevida (Vai em direção a boneca).
Vou fazê-la em pedaços!
BRUXA (Entrando no meio bravamente). Não bata nela não! Bata em mim, me
maltrate! Pode me atirar para sempre no jardim onde os grilos cantam e
os sapos pulam, onde o sereno penetra até os ossos nas noites frias. Eu
sou bruxa feita pela cozinheira. Não vim embrulhada me papel de seda
com barbante de prata. Você não gosta de mim, pois sou feia e sem
importância, então me castigue por eles! Será que você nunca pensou que
são eles que lhe dão alegria? Quando você chega do colégio cansada e
aborrecida, é com eles que você conversa...eles nunca dizem não a você...
Então vingue-se em mim, pois ninguém sentirá minha falta.
(Abaixa a cabeça e espera o castigo. Entra a fada dentro de uma rosa.

ACERVO ZAPCHAU 19
A Revolta dos Brinquedos

Sonoplastia, efeitos e luz) -


SOLDADO Vejam!
BONECA Quem é você que mais parece um sonho?
FADA Eu sou a fada do mundo encantado dos brinquedos e um raio de luar me
trouxe até aqui.
BONECO E o que faz aqui linda fada?
FADA Ouçam bem!... Ouça menina, aprende a perdoar. Não vale a pena guardar
mágoas em teu coração. Aprende a ser boa e a ter paciência, seja meiga
que todos vão te querer bem. Não pratique mais injustiças, nem mesmo a
teus brinquedos, porque mesmo eles sendo diferentes aos teus olhos,
saberão te amar te amar da forma deles!... E então? Promete que serás boa
de hoje em diante?
MENINA (Resiste) E eles? Eles queriam me castigar!
FADA Eles também erraram, porque violência gera violência. Não é com
maldade que se faz justiça. Todos devem prometer que não farão mais
isso... Que vão ser bons e carinhosos. Prometem?
PALHAÇO (Gaiato) Eu prometo sim, vice?
TODOS (Em silêncio se olham) Prometemos!
FADA E você linda menina?
MENINA Eu prometo que a partir de agora serei bem melhor com vocês. E vocês?
Me perdoam por minhas maldades?
TODOS Mas é claro!
(Se abraçam)
FADA A partir de agora menina, serás muito feliz, pois aprendestes a perdoar. e
agora suas manhãs serão cheias de alegria e encanto, pois sempre estarei
nos teus sonhos te inspirando a cantar, dançar e a sorrir pra vida. (com a
varinha) Agora dorme! Que logo logo uma linda manhã chegará.
(Dorme)
SOLDADO Vamos levá-la até a sua cama.
(Levam).
FADA (Indo a bruxinha). E tú bruxinha de pano? Bruxinha que tem um coração
grande e lindo... Vem comigo que vou te levar para o reino encantado dos
brinquedos. Lá todos se entendem! Serás bela como as estrelas do céu,
meu coraçãozinho! Quando passares pelos jardins as flores vão se inclinar
para beijar as tuas mãos (Feliz olha paras mãos) Os passarinhos cantaram
e as rosas não terão espinhos para que tu possas colher e sentir o teu
perfume...(Estende a mão) Vem...

ACERVO ZAPCHAU 20
A Revolta dos Brinquedos

BRUXA E os grilos e os sapos?


FADA Até os grilos e os sapos ficaram quietos e saudaraão a sua passagem...
BRUXA E lá tem borboletas?
FADA Douradas... Azuis... De todas as cores... Voando, voando sempre levaram
a todos os cantos do mundo a bondade que existe em seu coração (Pega
na mão). Vamos!
BRUXA Tchau meus amigos!!
(Riso)
TODOS Adeus bruxinha! Seja muito feliz!!!
(Saem)
SOLDADO Como estou feliz! Enfim acabou tudo bem!
PALHAÇO (Chorando) .
FANTOCHE O que foi palhaço?
PALHAÇO Tô com saudades da bruxinha.
BONECA Não fica assim!
(Todos se abraçam e começam a chorar. Som, luz e efeito)
FADA Brinquedos! Brinquedos!
BONECO Acho que ouvi alguém nos chamando.
PALHAÇO Eu também ouvi!
BONECA Na janela é a fada!
FADA Eu pensei se vocês queriam passear, em viajem, pelo mundo encantado
dos brinquedos.
PALHAÇO Puxa! Qui legal, vamos logo!
BONECA Mas será que não poderíamos levar a menina.
FANTOCHE É! Hoje ela aprendeu uma grande lição, e seria tão bom se ela viajasse
conosco!
ANJO (Vai até a menina) Não se preocupem! Ela já está lá, só esperando por
vocês!
(Beija)
SOLDADO E então o que estamos esperando?
TODOS Vamos!
Musical final!

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A Revolta dos Brinquedos

Fim

ACERVO ZAPCHAU 22

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