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A REVOLTA
DOS BRINQUEDOS
Autor desconhecido
ACERVO ZAPCHAU 1
A Revolta dos Brinquedos
PERSONAGENS
Menina Érica Paraguaia
Fantoche Edson Zapchau
Boneca Carla Bork
Soldado Caio Korber
Palhaço Carlos Gabriel
Boneco Regiane Galdino
Bruxa Letícia Monteiro
Fada Natalia Pascoal
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A Revolta dos Brinquedos
CENA I
(Entra uma menina pulando corda, com tédio, lentamente, para, e tenta
montar um castelo no centro da cena por alguns segundos, e desmancha-o
logo bruscamente. Levanta desorientada sem saber o que fazer. Caminha
sem rumo pelo cenário. Bate nos brinquedos. Tenta brincar com cada um,
sem prazer e em seguida maltrata-os).
MENINA Brinquedo chato... (joga), sem graça... (joga), feio... (joga). (Pega a
bruxinha de pano). Estou farta de você sua bruxinha feia.
(Joga pra cima e da um pontapé)
(Em seguida pega um maravilhoso livro de história, senta-se e começa a
ler. A princípio com interesse, depois vai se deitando e se acomodando
para dormir).
MENINA Era uma vez uma menina que tinha muitos brinquedos... (boceja) Um dia,
ela... (boceja e se acomoda melhor). Que sono! (quase dormindo) Um dia
ela... (adormece)
(Fantoche levanta-se aos poucos e com muito cuidado, em tom
misterioso).
FANTOCHE Boneca! Boneca!
(Boneca arregala e pisca muitas vezes os olhos e desperta).
BONECA (Feliz) Ela dormiu!
(Em seguida ambos dirigem-se até o soldado. Chamando-o cria vida).
SOLDADO O que foi? Já está na hora?
FANTOCHE Está sim soldado!
SOLDADO Você tem certeza? Vê lá, hem?! Não quero problemas; já esqueceram
daquela noite? Você deu o sinal antes da hora, olha aqui o resultado
(Mostra perna enfaixada).
FANTOCHE Quem manda você ser bobo!
SOLDADO Bobo não! Você tem sua caixa pra se esconder, e eu?
FANTOCHE Você, ué? Você não é o herói? O que você faz dessa espingarda?
BONECA Ele é herói, sim senhor! Ele lutou bravamente na célebre "guerra das
pastilhas"
FANTOCHE Ora boneca! Não seja boba! Pastilhas coisa nenhuma! Era só uma! Foi a
guerra da pastilha.
SOLDADO Sim. A tomada da pastilha. Naquela madrugada cinzenta, o batalhão dos
soldados de chocolates atacou o batalhão dos soldados cabeça de
pirulito... E eu bravamente com minha espingarda ferido de morte...
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A Revolta dos Brinquedos
FANTOCHE Chega! Chega! Chega!... Será possível? Você já contou isso umas
quinhentas vezes!
BONECA Ah! Deixa-o contar outra vez! E tão bonito! (Gesto romântico) Meu
herói!
FANTOCHE Isso não interessa. A verdade é que já está tarde, nossa dona dormiu e nos
estamos perdendo tempo.
BONECA Então vamos logo chamar os outros!
SOLDADO Acorda palhaço!
(Sacudindo-o)
PALHAÇO (Abrindo os olhos. Bem preguiçoso). Oxênte! O que houve? hem!
SOLDADO Acorda logo, seu preguiçoso!
PALHAÇO (Sonolento) Acordar? Acordar pra que, homi?
FANTOCHE (Empolgado). Meu prezado amigo palhaço. É chegado o nosso grande
dia! Aliás, grande noite!
PALHAÇO (Ingênuo). Ôx! Mar noite di quê danado?
BONECA (Sem paciência). Oh! Seu burro!...
PALHAÇO (Ofendido). Burro não viu... Palhaço!
SOLDADO E o dia de nossa revolta!
PALHAÇO Revolta? Qui revolta?
FANTOCHE (Sem paciência). Não diga mais nada, por favor. Se não eu dou umas
bolachas nesse palhaço!
PALHAÇO Bolacha? Qui bom, eu acordei morrendo de fome!
FANTOCHE (Contendo a raiva com dificuldade). Palhacinho do meu coração, vê se
entende, sim? (Voltando-se para os outros). Também se ele não
entender... (Volta-se para o palhaço). A nossa revolta. A revolta dos
brinquedos contra as maldades de nossa dona, entendeu?
SOLDADO (Irônico). Vai ver que ele não sabe quem é nossa dona!
BONECA (Apontando para menina). É ela, palhacinho!
PALHAÇO (Olhando para a menina, desconfiado e medroso) Será qui ela num tá
ouvindo a gente não?
FANTOCHE (Furioso) Oh! Seu...
PALHAÇO (Cortando). Num mi chame di burro não!
FANTOCHE Não é burro, nem meio burro. O que acontece é que ela está dormindo e
por isso nós estamos livres.
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A Revolta dos Brinquedos
SOLDADO Chega de conversa! Vamos ao que interessa! Antes de mais nada vamos
chamar o boneco.
(Levantam o boneco)
SOLDADO Pode soltar que acho que ele já está acordado!
(Eles largam o boneco que desaba escandalosamente, ficam apavorado)
FANTOCHE O que será que ele tem?
PALHAÇO Eu acho qui isso é falta di rapadura com farinha! (Todos o olham). qui
foi?
BONECA Como nós somos bobos! Vocês não sabem que ele é de corda? Sem corda
ele não anda!
FANTOCHE Porque você não disse logo? Fizemos tanta força e só agora você
lembrou?
SOLDADO É, mas onde é que está a chave? Não estou vendo não...
FANTOCHE Vamos procurar pessoal?
PALHAÇO Achei! Achei! (Todos vão até ele). Não é isto?
FANTOCHE Ah seu palhaço, e isso é chave?
(Voltam a procurar)
BONECA Está ali! Agora você tem que ir buscá-la fantoche!
FANTOCHE Eu não! (Voltando-se para o soldado) Vai você soldado!
SOLDADO (Dando ordens). Palhaço, apanha agora!
PALHAÇO Oxênte, i logo eu é?
FANTOCHE (Fantoche). Quem vai é você soldado. Você é que é o herói.
SOLDADO Vai ser mais uma de minhas vitórias. (Convencido). Pronto fantoche,
agora você da corda!
(Dando corda)
FANTOCHE Ih! A corda escapou!
BONECA Cuidado! Não deixa escapar outra vez, se não ela pode acordar.
FANTOCHE Deixa comigo! Eu nunca erro duas vezes...
SOLDADO Não! Não erra duas vezes, erra sempre...
FANTOCHE (Querendo brigar) Olha aqui soldado... (Para o palhaço). Segura isso aqui!
Olha aqui seu soldadinho de chocolate, conquistador de pastilhas, não se
meta comigo não...
BONECA (Soltando o boneco e se interferindo entre os dois). Fantoche, não brigue
com o meu herói!
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A Revolta dos Brinquedos
PALHAÇO Já sei!
(Todos correm para ele)
TODOS O que? Fala!
PALHAÇO (No auge da ingenuidade). Vamos quebrar todos os brinquedos dela, não
é uma ótima idéia?
FANTOCHE (Impaciente). Palhacinho do meu coração! O que você acha que a gente
é? Por acaso não somos os brinquedos dela?
PALHAÇO É mesmo!
BONECA A primeira coisa a fazer é prendermos a nossa dona. A vingança a gente
resolve depois.
SOLDADO (Militar) Eu comando o ataque. Vamos entrar em forma para chamada.
(Fila horizontal. Vendo o erro do palhaço) Meia volta volver! (Cai).
Boneca de louça!
BONECA Presente!
(Ballet)
SOLDADO Fantoche?
FANTOCHE Presente!
SOLDADO Palhaço?
PALHAÇO (Sai da fila e vai até ele) O que foi homi?
SOLDADO Presente!
PALHAÇO Pra mim? Num precisava!
SOLDADO (Grita) Pra fila palhaço! Boneco de corda?
BONECO (Vai responder. levanta o braço abre a boca, acaba a corda e ele desaba)
SOLDADO Acabou-se a corda!
(Todos dão a corda).
BONECO Presente!
SOLDADO Bruxa de pano? (Mais alto) Bruxa de pano!... Bruxa de pano!
(Todos a procuram)
BONECA Ué! Onde ela ficou?
BONECO Vai ver nossa dona deixou a bruxinha lá no jardim com os grilos e os
sapos, do jeito que ela é má!
SOLDADO Não importa! Depois nós tratamos de procurá-la. Vamos ao ataque!
Batalhão! Sentido! (Barriga do palhaço). Encolhe a barriga! (Peito) Peito
pra fora! (Queixo) Queixo pra cima!
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A Revolta dos Brinquedos
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A Revolta dos Brinquedos
do que ela tem feito a todos nós, e também o que ela faz com os cadernos
e os livros da escola...
(A menina abre os olhos e ouve tudo)
SOLDADO É bom não esquecer o que ela fez comigo. Me jogou pela janela e eu
fiquei dois meses mancando. Eu, um soldado, mancando!
BONECA É! Não há dúvida que nossa dona é má, antipática e orgulhosa.
Precisamos castigá-la!
PALHAÇO (Com medo) Ave Maria dos palhaços indefesos!
BONECO O que foi palhaço?
PALHAÇO (Com dificuldade) Ela... Ela acordou! (Apavorado)
TODOS A menina! a menina! Fujam!
(Todos para o mesmo lugar e se esbarram)
MENINA Ah, Vocês me pagam! Vamos ver quem vai ser o juiz!
PALHAÇO Oxênte minina, eu num faço questão não, vice??!!!
SOLDADO (Joga uma bola na menina) Corram!!!
MENINA Você me paga seu soldado de meia tigela!!!
(Sai atrás do soldado)
BONECO (Aflito) Socorro! Socorro! Minha corda está acabando!!! Me dêem corda
por fav... (acabou).
PALHAÇO Acho que fiz xixi nas calças!
SOLDADO (Entra) Ela está lá no jardim me procurando.
(Dá corda no boneco)
BONECO Obrigado! Essa foi por pouco!
SOLDADO Lá atrás do castelo da menina está cheio de doces, vamos comer tudo!
PALHAÇO Oba!
BONECA Não soldado, não seja egoísta. Vamos repartir com nossos amiguinhos,
que são muito bonzinhos e não maltratam seus brinquedos. Vamos?
TODOS Vamos!!!
(música)
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A Revolta dos Brinquedos
CENA II
FANTOCHE Pessoal, a menina está no jardim, ela está furiosa.
PALHAÇO E agora o ela vai pegar eu!
FANTOCHE Me pegar!
PALHAÇO Tú também é, homi?
FANTOCHE Eu estou dizendo que o certo é vai me pegar!
PALHAÇO Ah!
SOLDADO Pessoal!
TODOS Corram! A menina!
SOLDADO Calma pessoal sou eu! Olha quem eu achei!
(Bruxinha entra)
TODOS (Carinho). Bruxinha!
BONECA Agora nossa revolta está completa!
SOLDADO Estamos perdendo tempo!
FANTOCHE O que vamos fazer?
SOLDADO Eu tenho um plano! Palhaço você vai ser a isca!
PALHAÇO Oba! Eu vou ser a isca... Mas o que é isca?
SOLDADO Você só precisa ficar ali paradinho!
PALHAÇO Mas pra quê?
SOLDADO E... E... É que isso é uma brincadeira muito legal, você fica lá paradinho
que eu te digo quando começar.
PALHAÇO Tá certo! (Vai para o lugar). Já começou?
SOLDADO Não! Fantoche e eu vamos segurar a corda, ao meu sinal estique o
máximo!
FANTOCHE Certo!
PALHAÇO Já começou?
FANTOCHE Não!
SOLDADO E vocês escondam-se!
PALHAÇO Já começou?
TODOS Não seu palhaço chato!
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A Revolta dos Brinquedos
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A Revolta dos Brinquedos
MENINA Que ingratidão! Vocês são muito bobos, uns brinquedos sem graça. Mas a
pior de todos é você sua bruxa feiosa, fique sabendo que eu nunca quis ter
uma boneca feita de trapos como você. Você nunca teve importância pra
mim, pois é muito feia e boba!
BRUXA (Chorando. Música Lua de Cristal) Eu sei que sou de pano sem
importância. Mas tenho um coração melhor que o seu!
BONECA (Acariciando a bruxa) Não está cansada de maltratar a pobre Bruxinha?
Que mal ela lhe fez? Que mal lhe fizemos?
BRUXA Nós não somos a sua distração quando você vem do colégio?
MENINA (Irônica) Vocês "eram" minha distração, estou farta de vocês. Farta,
ouviram, farta.
(Bate com os pés).
BONECO Senhoras! Acabem com essa discussão. Vamos preparar o julgamento.
TODOS (Música escravos de Jô. Arrumando o julgamento) ...Escravos de jó,
jogavam caxangá... Tira... Bota... Deixa ficar... Guerreiros com guerreiros
fazem zigue zigue zá... Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá...
Escravos de Jó... Jogavam caxangá... Tira... Bota... Deixa ficar...
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá... Guerreiros com
guerreiros fazem zigue zigue zá...
FANTOCHE (Bem alto). Vamos começar o julgamento!
BONECO Não! Quem deve começar o julgamento é o juiz.
SOLDADO (Procura o juiz) Aonde está o juiz? Onde será que esse palhaço se meteu?
PALHAÇO (Palhaço aparece vestido de juiz com grande martelo, e bate na caixa do
fantoche. Todos se voltam para ele) Ordem no tribunal!
(Risos geral)
MENINA (Furiosa) A roupa do meu pai! Vá tirar isso seu palhaço estúpido!
PALHAÇO (Bate o martelo de novo) Silêncio! Silêncio! Quem manda no tribunal
agora é o juiz!
FANTOCHE Escuta aqui palhaço, onde foi que você aprendeu essa história de tribunal,
hem?
PALHAÇO Ôx! Todos os dias, quando o pai dela sai para o trabalho ele não diz que
vai para o tribunal? Então se nós vamos fazer um julgamento. Eu sou o
juiz isso aqui é um tribunal! (Com importância). Comecemos,
comecemos!
FANTOCHE Então, senhor juiz comece logo!
PALHAÇO (Ingênuo). I como eu começo esse troço?
BONECO (Imitando). É assim que se faz, diga Está aberta a sessão!
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A Revolta dos Brinquedos
BONECO Era melhor então que quando ficasse irritada fosse brincar com os outros
e não comigo!
MENINA (Falsa) Ah! Mas eu preferia você... Você é meu brinquedo preferido!
(O boneco fica orgulhoso e depois desconfiado)
BONECO O que você está querendo com esses elogios?
MENINA Eu? Nada! Só porque digo que gosto de você eu estaria querendo algo?
BONECO Bem... Como você gosta de quebrar agente...eu pensei...
MENINA Olhe... Eu gosto tanto de você que seria capaz de perdoá-lo se você me
soltasse...
BONECO Perdoar não é o bastante! Precisa prometer que nunca mais me quebrará.
MENINA Puxa! Está prometido, garanto que nunca mais o quebrarei.
BONECO (Pensando) Está bem!... Vou soltá-la! (vai desamarrando). E os outros? O
que você vai fazer com os outros?
MENINA Os outros? Ora! (Raiva). Vou quebrar todos e fico só com você!
BONECO Ah, logo vi! Quase fui enganado, por essa sua falsa amizade. Acha então
que eu ia esquecer dos meus companheiros? O fato de eu ser o seu
advogado não quer dizer que eu vá trair os meus amigos!!!
MENINA (Com toda maldade. Gritando) Agora me arrependo de não ter te
quebrado todo, ao invés de ter quebrado só sua corda. Seu boneco
antipático!!!
BONECO Soldado, Palhaço, Boneca, Fantoche, Bruxinha! Venham todos!!!
(Voltam todos)
SOLDADO O que foi boneco? O que aconteceu?
MENINA É mentira tudo que ele vai dizer. É mentira (Nervosa). Esse boneco
mentiroso queria trair vocês.
BONECO Não é verdade. Você sabe que não é verdade sua mentirosa! Ela me pediu
que a soltasse. Quando perguntei o que ela faria com vocês, disse que
quebraria todos vocês. E é claro que eu não podia aceitar uma coisa
dessas.
SOLDADO Então não tem mais julgamento, vamos castigá-la de uma vez.
BONECO Isso mesmo! Não sou mais advogado dela!
BRUXA Não pessoal! Nós devemos continuar o julgamento. Que ela era má nós já
sabíamos. Isso foi apenas mais uma prova. Vamos continuar, e você deve
defendê-la!
FANTOCHE Está bem. Continuaremos então!
PALHAÇO Está reaberta a sessão!
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A Revolta dos Brinquedos
FANTOCHE O senhor advogado de defesa pediu provas daquelas maldades que citei!
Pois bem, soldado, mostra a cabeça. (Mostra). Queira examinar senhor
juiz!
SOLDADO Ai! Ai! Não põe o dedo que dói! É só pra olhar!
FANTOCHE Bruxa de pano, diga ao meritíssimo o que ela fez com você!
BRUXA O pior que ela faz comigo não é dizer que sou feia feita de trapos e outras
coisas. O pior é que todas as noites ela me deixa num canto do jardim,
com grilos e sapos. Tenho horror a sapos. Eles pulam a noite inteira em
cima de mim. E os grilos fazem “cri cri cri” no meu ouvido o tempo todo.
E o frio? E o orvalho?
BONECA Orvalho? O que é orvalho?
BRUXA (Romântica) São as lágrimas da noite triste, caindo pelas rosas.
TODOS (Suspirando) ai, ai!
PALHAÇO Bem... Como castigo proponho que a gente bote essa danada no tal do
orvalho!
FANTOCHE Calma palhaço. Ainda é cedo para o castigo... Boneca de louça! Mostre o
que a menina fez com você.
BONECA (Vergonha). Não posso mostrar!
SOLDADO Não pode? Por quê?
BONECA (Mais vergonha passando a mão no traseiro). Eu estou toda machucada!
Querem ver? (Mostra) Eu apanhei tanto que até a roupa rasgou.
TODOS Oh! Coitadinha!!!
BONECA Imaginem... Eu, uma boneca de luxo, com a roupa remendada. E que
remendo.
FANTOCHE Vamos ver agora os livros e cadernos dela. Bruxa de pano, vá buscá-los!
MENINA Mas que coisa! Já não chega o que estão fazendo comigo? (gritando) Não
quero ninguém mexendo nas minhas coisas. Vocês não tem nada a ver
com meus estudos seus brinquedos atrevidos.
PALHAÇO (Batendo o martelo). Silêncio! Silêncio! Aqui só quem fala somos nóis
vice! Bruxinha de pano, cumpra a ordem!
(Bruxa fica indecisa)
BONECA Vamos bruxinha! Eu vou com você.
(Saem de mãos dadas).
MENINA Eu já estou farta disso tudo. Se vocês não me soltarem já já eu vou gritar!
BONECO Não adianta. Ninguém vai ouvir...
(Entram com os livros)
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MENINA O meu livro de histórias! Pelo amor de Deus não estraguem meu livro de
histórias.
BRUXA Você só tem amor ao seu livro de histórias? Vejam só os livros de estudo.
BONECA Olha o que ela escreveu! (Com dificuldade) Pi-ro-li-to que ba-te...ah já
sei!
TODOS Pirulito que bate bate, pirulito que já bateu, quem gosta de mim é ela e
quem gosta dela sou eu. Pirulito que bate bate, pirulito que já bateu, quem
gosta de mim é ela e quem gosta dela sou eu.
PALHAÇO (Animadissimo) Que legal! Vê se tem mais alguma coisa.
BRUXA Nossa! Como tem jogo da velha! Quantos rabiscos! Olha tem cirandinha,
vamos cantar?
(Faz a roda)
TODOS Ciranda cirandinha vamos todos cirandar vamos dar a meia volta volta e
meia vamos dar. Ciranda cirandinha vamos todos cirandar vamos dar a
meia volta volta e meia vamos dar.
PALHAÇO Oxênte menina, assim até eu quero pra iscola!
FANTOCHE Pessoal! Acho que já chega de provas. Vamos logo resolver qual vai ser o
castigo.
BONECA O juiz tem que escolher.
PALHAÇO (Gaguejando) Eu..eu..bem..eu acho...
FANTOCHE Proponho que se faça com ela o mesmo que ela faz com a bruxinha de
pano! Vamos deixá-la amarrada no jardim para os sapos pularem em cima
dela!
TODOS (Avançando como feras) Vamos arrastá-la! Vamos arrastá-la.
(A menina se solta das cordas)
MENINA Aha! Vamos ver agora quem vai ser castigada! Vamos ver que é que vai
ser atirada aos sapos? Sua boneca atrevida (Vai em direção a boneca).
Vou fazê-la em pedaços!
BRUXA (Entrando no meio bravamente). Não bata nela não! Bata em mim, me
maltrate! Pode me atirar para sempre no jardim onde os grilos cantam e
os sapos pulam, onde o sereno penetra até os ossos nas noites frias. Eu
sou bruxa feita pela cozinheira. Não vim embrulhada me papel de seda
com barbante de prata. Você não gosta de mim, pois sou feia e sem
importância, então me castigue por eles! Será que você nunca pensou que
são eles que lhe dão alegria? Quando você chega do colégio cansada e
aborrecida, é com eles que você conversa...eles nunca dizem não a você...
Então vingue-se em mim, pois ninguém sentirá minha falta.
(Abaixa a cabeça e espera o castigo. Entra a fada dentro de uma rosa.
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Fim
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