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A revolta dos brinquedos – Grupo 2 Tarde

Fantoche – Boneca, boneca!

Boneca – Que é Fantoche?

Fantoche – Dormiu!

Boneca – Dormiu?

Soldado – Está na hora?

Fantoche – Está Soldado.

Soldado – Você tem certeza? Vê lá hein? Não quero confusões. Já se esqueceram daquela
noite? Você deu o sinal antes da hora, olha aqui o resultado.

Fantoche – Quem manda você ser bobo?

Soldado – Bobo não. Você tem a sua caixa pra ser esconder, e eu?

Fantoche – Você? Ué! Você não é o herói? O que você faz dessa espada?

Boneca – Ora, Boneca. Não seja bobo! Pastilhas coisa nenhuma, era só uma só. Foi a tomada da
pastilha.

Soldado – Sim. A tomada da pastilha! Naquela madrugada cinzenta, o batalhão dos soldados de
chocolate atacou o batalhão dos caramelados... a comandante cara melada...

Fantoche – Chega, chega, você já contou isso milhões de vezes!

Boneca – Ah, deixa ele contar outra vez, é tão bonito! Meu herói!

Fantoche – Isso não interessa, a verdade é que é tarde, nossa dona já dormiu e estamos
perdendo tempo.

Boneca – Vamos chamar os outros. Acorda Ursinho. Acorda!

Ursinho – O que houve?

Soldado – Acorda logo, seu preguiçoso.

Ursinho – Acorda? Acordar para que?

Fantoche – Meu prezado amigo Urso, é chegado o nosso grande dia. Aliás, noite.

Ursinho – Mas noite de que?

Boneca – Oh, seu burro.

Ursinho – Burro, não! Urso.

Soldado – É o dia da nossa revolta!


Ursinho – Revolta, que revolta?
Fantoche – Não digam mais nada por favor, se não eu acabo dando nesse Urso.

Ursinho – Bater em mim? Que ursada!

Fantoche – Ursinho do meu coração, vê se entende sim? Também se ele não entender... a nossa
revolta! A revolta dos brinquedos contra a maldade de nossa dona!

Soldado – Vai ver que ele não sabe quem é a nossa dona.

Boneca – É ela, Ursinho.

Ursinho – Será que ela não está ouvindo agente?

Fantoche – Oh, seu...

Ursinho – Não me chame de burro!

Fantoche – Não é burro nem meio burro. O que é, e que ela está dormindo e por isso nós
estamos livre.

Soldado – Chega de conversa, vamos ao que interessa, antes de mais nada, chamemos o
boneco. ( segura o Boneco) Pode soltar que eu acho que já está acordado!

Fantoche – O que será que ele tem?

Boneca – Ah! É verdade, que bobos que vocês são. Vocês não sabem que ele é de corda, ele
não anda.

Fantoche – Por que você não disse logo? Fizemos tanta força e só agora você se lembrou.

Soldado – É, mais onde está a chave? Não estou vendo não...

Fantoche – É, vamos procurar pessoal.

Ursinho – Achei! Achei! Não é isto?

(pega a buzina)

Todos – ô, Ursinho! Isto é chave?

Boneca – Fantoche! Fantoche! Apanhe a chave.

Fantoche – Eu não, vai Soldado.

Soldado – Ursinho, apanhe.

Ursinho – Logo eu...

Boneca – Soldado, vá você, você não é o herói...

Faixa 2 – Explode quando o Soldado, a Boneca, o Fantoche e o Ursinho estiverem em fileira,


Dissolve quando o Soldado pega a chave, isto na terceira tentativa.
Soldado – Mais uma de minhas vitórias.

Fantoche – Deixa de ser mole, Soldado, segure o boneco direito.

Soldado – Quem é mole?

Fantoche – Você, seu Soldado de chocolate.

Soldado – Ursinho, segure aqui. Você sabe com quem está falando?

Fantoche – Com o Soldado de meia tigela. (Brigam) (Urso cai com o Boneco)

Fantoche – Você não serve pra nada, hein, Ursinho.

Ursinho – Ué! O boneco cai por cima de mim e vocês ainda estão reclamando.

Fantoche – A corda, Ursinho. A corda!

Ursinho – Ué, eu não estou dormindo?

Fantoche – É a corda do Boneco, seu Urso Burro. (Dão a corda ao Boneco)

Boneco – Puxa, até que enfim. Pensei que não iam me dar corda, hoje. Pra que esse movimento
todo?

Boneca – Você não ouviu? Chegou o dia da nossa libertação!

Soldado – Sim, libertação. Vingança contra as maldades de nossa dona.

Boneco – Tudo isso já sei. Agora eu quero detalhes. O plano. O plano de ação.

Fantoche – Isso é simples. O plano? Bem, o nosso plano é o seguinte: bem... bem... qual é o
plano, hein, Soldado?

Soldado – O plano é... o plano é... é, nós tínhamos um plano não é, Ursinho?

Ursinho – É, nós tínhamos um plano. Escuta aqui, o que é plano, hein?

Fantoche – Lá vem o Ursinho de novo.

Soldado – Por que é que você não ficou dormindo, hein?

Ursinho – Era isso que eu queria.

Boneco – Deixa de conversa fiada. O que eu quero saber é o que vamos fazer com ela. Qual vai
ser a nossa vingança?

Boneca – Vamos puxar bastante os cabelos dela; é assim que ela faz comigo todos os dias.

Soldado – Nada de puxar cabelos. Isto não é vingança. Vamos encerra-la naquele castelo como
fizeram com Maria Espoleta na tomada da pastilha.
Fantoche – Eu acho melhor encerra-la nesta caixa...

Boneco – Estas Vinganças não estão boas não. Vamos pensar coisa melhor. (espera)
Faixa 3 – Explode, dissolve quando o ursinho começa e gritar e sobe no cubo da direita do palco.

Ursinho – Pronto, descobri! Vamos quebrar todos os brinquedos dela.

Fantoche – Ô ursinho do meu coração, o que é que você pensa que a agente é? Por acaso
não somos nós os brinquedos dela?

Ursinho – Ah, sim, é verdade.

Boneca – A primeira coisa a fazer é prendermos a nossa dona. A vingança a gente resolve
depois.

Soldado – Eu comando o ataque! Vamos entrar em forma para a chamada! Batalhão, sentido!
Batalhão, sentido! Direita volver! Ordinário marche! Meia volta volver! Alto!
Atenção para a chamada. Boneca de louça.

Boneca – Presente.

Soldado – Fantoche.

Fantoche – Presente.

Soldado – Ursinho.

Ursinho – O que é hein?

Soldado – Ursinho.

Ursinho – Presente.

Soldado – Boneco de corda.

Boneco – Preeeee...

Soldado – Pronto, acabou-se a corda.

Boneco - ...sente.

Soldado – Bruxa de pano.

Boneco – Vai ver que a nossa dona deixou a Bruxa lá fora no jardim.

Soldado – Não importa, depois nós tratamos de procura-la. Atenção para o ataque.

Batalhão, sentido. Direita volver, em frente, marche. Atacarrrrrrrrrrrrrrrrr!!!

Fantoche – Então, Soldado. É só dar ordens? Assim qualquer um ataca.

Soldado – Quem comanda não luta. Os grandes soldados como eu só dão ordens.

Boneco – De longe não é?


Soldado – Olha o Ursinho fugindo. Que é isso Ursinho, nem bem começamos o ataque,
você já que fugir? Já está pensando em retirada, será possível.

Ursinho – É, mas acontece é que você que devia ir na frente, fica atrás empurrando.
Boneco – Assim nós não conseguimos coisa nenhuma. Temo é que combinar o que vamos
fazer. Proponho que seja feito um julgamento em regra. Um julgamento com juiz,
advogado e tudo.

Boneca – Muito bem, muito bem! Nós somos brinquedos mas o julgamento será de
verdade.

Ursinho – Mas será eu ela deixa?

Soldado – Ela tem que deixar. O julgamento é de verdade e ela tem que aceitar.

Ursinho – Se ela não quiser a gente amarra com uma corda de pular.

Fantoche – A gente?

Ursinho – Bem, quer dizer... a gente... vocês amarram, eu não!

Boneca – Logo vi ... essa valentia não podia durar muito.

Fantoche – Vai ser um julgamento formidável: um julgamento como nunca se viu na


Brinquedolândia. Mais importante do que o julgamento de Catarina, a grande.

Ursinho – Catarina, aquela macaca que tinha aqui em casa?

Fantoche – Que macaca que nada. Catarina, a grande.

Ursinho – A macaca não era grande?

Fantoche – Eu serei o advogado de acusação!


Soldado – Advogado, você? Essa é boa! Advogado Fantoche! Isso é coisa que nunca se
viu!

Fantoche – Nunca se viu? Ora, isso é coisa que não falta no mundo da gente de verdade,
aliás, vocês brinquedos sem tradição, brinquedos que precisam de corda, soldados de
chocolate, bonecas que se quebram à toa, não podem compreender que eu seja um fantoche
ilustre descendente de importante família de bonecos de mola. É preciso que voes saibam
que a caixa em que viveu meu bisavô, era de ouro e do mais puro marfim. Marfim dos
elefantes brancos da Índia e era o brinquedo preferido do sultão de chá de tala.

Ursinho – Chá de que?

Fantoche – De tala.

Ursinho – Que tala?

Fantoche – Não amole, Ursinho. Este era o nome do sultão.

Boneca – É, acho que ele dá para advogado, fala pelos cotovelos.

Fantoche – Mais respeito, menina, mais respeito.


Boneco – Bem, é preciso também um juiz, quem viria a ser o juiz?

Soldado – Pra juiz, qualquer um serve. O Ursinho mesmo está bem.

Fantoche – Fica o Ursinho então.

Boneca – Agora está faltando o advogado de defesa. Alguém precisa defende-la.

Soldado – Defende-la? Pelas maldades que ela faz com a gente. Não tem direito de defesa.

Boneca – Você está enganado, Soldado, todos tem direito a defesa. No mundo da gente de
carne e osso, por maior que seja a maldade praticada a pessoa tem sempre direito a defesa.

E isso é muito bom...

Fantoche – Fica então escolhido pela vontade geral, para advogado de defesa meu ilustre colega,
Boneco de corda.

Boneco – A vontade não foi muito geral... mas, enfim já que é preciso eu aceito.

Boneca – Então, já temos o advogado de defesa, o de acusação e o juiz?

Ursinho – É verdade! O que é juiz?

Fantoche – Juiz, Ursinho, é uma pessoa muito importante, que fica sentado numa cadeira
parecida com um trono e que todo mundo fala só quando ele deixa falar. Quando ele não
quer que alguém fale, ele bate com um martelo...

Ursinho – Na cabeça do tal que falou?

Fantoche – Usa uma roupa muito comprida e um chapéu preto muito alto com uma coisa branca
em volta... e fica cochilando o tempo todo do julgamento.

Ursinho – Cochilando? Que bom! Então vamos começar já.

Soldado – Ah, você está pensando que é só dormir? Você é quem vai dizer o que vamos fazer
com a nossa dona. Por exemplo Ursinho, ela só pega você pelas pernas de caeça para
baixo e joga contra a parede.

Boneca – E comigo? Me dá corda com tanta força que eu já fui duas vezes para o conserto.
Se eu não fosse um brinquedo caro ninguém teria me consertado.

Fantoche – Pois olhe, eu até gosto de ir para o conserto. No ultimo ponta pé que ela me deu
eu fiquei oito dias na loja. A gente conhece tanta gente, vê tanta coisa... a loja era tão
bonita... tinha aquele trenzinho de corda, que corria, corria e apitava nas curvas... tudo azul.
E um navio, tão bem feito que acho até que podia andar no mar... e aquela boneca linda de
olhos cor de mel.

Soldado – Ih, assim acho que você não dá para advogado de acusação. Parece até que
gostou do pontapé.

Fantoche – Do pontapé não. Eu gostei foi da loja. O pontapé até que doeu muito. Mas
podem estar certos que da minha acusação ela não escapa de jeito nenhum. Vou falar do
que ela tem feito para todos nós. O que faz com os livros e cadernos da escola...
Soldado – É bom não esquecer o que ela tem feito comigo. Me atirou da janela do quarto e
eu fiquei dois meses capengando. Imaginem eu, um soldado capengando.

Todos – É, não há dúvida. A nossa dona é má, antipática e orgulhosa. Precisamos castiga- la.

Ursinho – Uai, uai, uai...

Todos – O que foi ursinho?

Ursinho – Ela acordou!!! A menina acordou!

Menina – Ah, vocês me pagam, vamos ver agora quem vai ser o juiz?

Boneco – Socorro, socorro, minha corda está acabando. Me dêem cordaaaa!!!

Fantoche – Olha a menina ali. Olha a menina ali.

Boneco – Acudam. Eu não posso mais. Acudam que a corda está acabando.

Menina – A corda está acabando? Vocês vão ver quem é que manda aqui.

Fantoche – Vamos depressa, gente, se não a revolta fracassa.

Boneco – Eu preciso de mais corda.

Fantoche – Já estou dando.

Boneco – Não é essa corda que eu estou falando. É a corda de amarrar!

Menina – Soltem-me seus atrevidos, me pegaram a traição, isso é covardia.

Soldado – Atenção! Bruxa de pano, traga a corda. Boneca, traga o banco da prisioneira.

Menina – Sua bruxa. Eu devia ter deixado você com os sapos e os grilos nos jardins. Você
me paga.

Todos – Eita...!

Bruxa – Não acredito que volte a me maltratar. Tão cedo você não se livrará para fazer suas
maldades.

Menina – Isso é o que você pensa. Não pense que vou ficar amarrada aqui a vida toda.

Todos – Que vai ficar, vai.

Bruxa – Você vai ser julgada. Vai pagar por tudo que nos tem feito de mal por sua ingratidão.

Ursinho – Tá bem amarrada????

Todos – Está Ursinho...

Menina – Que ingratidão? Vocês são os brinquedos muito sem graça. De mais a mais, não
tenho que dar satisfações a bruxas de panos feitas de farrapos.
Todos – Eita...!
Bruxa – Eu sei que sou uma bruxa de pano sem importância. Mas tenho o coração melhor
que o seu. Não sou ingrata.

Boneca – Não está cansada de maltratar a pobre Bruxinha, que mal ela lhe fez, que mal lhe
fizemos nós? Não somos nós a sua distração quando você vem do colégio?

Menina – Vocês eram minha distração. Estou farta de vocês, farta, ouviram?

Boneco – Senhoras, acabemos com a discussão. Vamos começar o julgamento, sentem-se.

Fantoche – Comecemos então o julgamento.

Boneco – Quem deve começar o julgamento é o juiz.

Todos – Ué, onde está o juiz. Ursinho, Ursinho! Juiz! Juiz!

Todos – Oh! Oh! Oh!

Ursinho – Vamos ao tribunal.

Menina – A roupa do meu pai, vá tirar isso já.

Ursinho – Silêncio! Quem manda no tribunal agora é o juiz!

Fantoche – Escuta aqui ursinho, onde é que você aprendeu essa estória de tribunal?

Ursinho – Ué! Todas as vezes que o pai dela vai para o trabalho, ele diz que vai para o
tribunal. Então, se nós vamos fazer um julgamento, e eu sou o juiz, isso aqui é um tribunal.

Comecemos, comecemos...

Fantoche – Então Sr. Juiz, comece.

Ursinho – Como é que se começa?

Boneco – Assim que se faz: diga. Está aberta a sessão.

Ursinho – Está aberta a sessão.

Menina – Isto é ridículo. Se eu pudesse me soltar.

Ursinho – Soldado, para a segurança do tribunal, veja se as cordas estão bem amarradas.

Soldado – Não há perigo Sr. Juiz, pelas cordas o tribunal está seguro.

Ursinho – Tem a palavra o senhor advogado de acusação.

Fantoches – Meus senhores. Creio que sem medo de errar, poderia afirmar que nunca acusador
tarefa tão fácil como a que me foi destinada. Nunca houve um caso como esse, nunca houve
dona como a nossa.

Todos – Muito bem, muito bem.


Boneco – Protesto, protesto Sr. Juiz.
Fantoche – Protestar por quê? Eu ainda não disse nada.

Menina – Não disse e nem vai dizer. Porque eu vou quebrar vocês todos.

Todos – Eita...!

Ursinho – Pra mim chega de ser Juiz.

Menina – Pois volte pra ver o que lhe acontecerá.

Ursinho – Ninguém quer ser Juiz, não?

Todos – Nãooooooooo...

Ursinho – Eu preferia só assistir

Soldado – Assista como juiz e não discuta.

Menina – Você seu soldado de meio tigela...

Todos – Eita...!

Menina – Com toda sua valentia também vai apanhar e muito, você só não, todos vocês...

Boneca – Antes disso vai ter que se soltar daí.

Bruxa – E eu duvido muito que você consiga.

Menina – Sempre essa bruxa atrevida. Seu lugar devia ser lá fora na cozinha, como pão de
chão.

Todos – Eita...!

Fantoche – Sr. Juiz, mais uma prova da ruindade dela.

Boneco – Protesto, protesto, houve provocação. Como a nossa dona está amarrada, todos
estão abusando.

Boneca – Que é isso, boneco? Você se passou agora para o lado dela?

Boneco – Nada disso. Você já se esqueceu que eu sou o advogado de defesa? Eu tenho que
defende-la.

Menina – Então por que não me solta?

Boneco – Ah, isso eu não posso fazer, só o juiz.

Ursinho – Isso eu não faço.

Fantoche – Senhores, deixem-me continuar a acusação. Ela tem feito coisas incríveis... a pouco
quebrou a cabeça do soldado que é bem dura, segundo, ofende a Bruxinha a toda hora, terceiro,
maltrata a Boneca de Louça. E a mim, quebra sempre a mola de minha caixa e fico sem poder
sair. Esta é a pior de suas maldades. E vocês já viram os livros e os cadernos de escola?
Boneco – Protesto, protesto. Exijo prova dessas acusações! Senhor juiz... ué, onde está o senhor juiz?
Todos – Juiz, juiz, juiz...

Boneca – Onde você se meteu, hein, Ursinho?

Boneco – Senhor juiz, enquanto o senhor dava seus passeios de velocípede, eu exigia do meu
colega, Fantoche, as provas das acusações...

Ursinho – Eu sai porque vocês são muito chatos. Já estou cansado de julgamento.

Menina – Por mim vocês todos podiam ir lá pra fora e não voltar mais.

Boneco – Nós iremos sim, mas só depois do julgamento. Não se assuste...

Menina – Afinal de contas, vocês já pensaram no que vão fazer comigo? Se vocês me soltarem
não sobra nem caco de vocês... só quero saber qual vai ser a sentença desse juiz caçador de
moscas.

Todos – Eita.

Ursinho – Mas respeito nesse tribunal, se não, vão todos pro xadrez.

Soldado – Para o xadrez? Quem é que manda é você?

Ursinho – Eu mesmo. Se vocês não andar direito vai preso pro quartel.

Boneco – Ué, e o julgamento? Vou chamar o pessoal.

Menina – Psiu, Boneco.

Boneco – O que é?

Menina – Venha cá, não tenha medo. Não vê que estou amarrada?

Boneco – O que é que você quer?

Menina – Quero conversar um pouco, você não é meu advogado, não vai me defender?
Precisamos falar sobre isso.

Boneco – Bem, diga lá o que quer. Eu fico aqui de longe.

Menina – Ora, nós não somos amigos?

Boneco – Amigos? Você não se lembrava disso quando quebrava a minha corda...

Menina – Você acha que era de propósito? O que acontecia era o seguinte. Quando eu chegava
do colégio eu queria brincar com a boneca. A mamãe sempre me dizia: minha filha, cuidado com
a boneca, não vá amarrotar o vestido dela, não estrague os seus cabelos... ora, assim era
impossível brincar com ela.

Boneco – E a Bruxa? Ela não tem vestido bonito, nem cabelos para estragar e no entanto,
sempre que você pode, você a maltrata.
Menina – Ora, a Bruxa, nem me fale nela. Ela foi presente da cozinheira. Nunca me interessou.
Eu com tanto brinquedo caro ia brincar com uma bruxa de pano? Ela só serve pra gente atirar nos
cantos e pisar em cima.

Boneco – E eu? Que é que eu tenho com isso? Eu não sou nem a boneca, nem bruxa, então por
que me maltratava?

Menina – Bem, você... quando eu ia brincar com você já estava irritada porque não podia brincar
com a Boneca, nem coma Bruxa, então eu pegava a sua corda e fazia força, mais força e
quebrava sua corda. Mas era sem querer.

Boneco – Era melhor então que você quando ficasse irritada fosse brincar com os outros... o
Fantoche, o Soldado, mas não comigo.

Menina – Ah, mas eu preferia você. Você era o meu brinquedo predileto.

Boneco – Que você está querendo?

Menina – Eu? Nada. Só porque digo que gosto de você estou querendo alguma coisa?

Boneco – Bem, como você gosta quebrando a gente... eu pensei...

Menina – Olhe... eu gosto tanto de você, que seria capaz de perdoa-lo se você me soltasse.

Boneco – Bem... perdoar só não chega, é preciso que nunca mais me quebre...

Menina – Não há dúvida! Garanto que nunca mais o quebrarei.

Boneco – Ta bem, vou solta-la. E os outros? Que é que vai fazer com os outros?

Menina – Os outros? Ora, os outros eu jogo fora, fico só com você.

Boneco – Ah, logo vi quando fui enganado por essa falsa bondade. Acha que eu ia trair meus
companheiros? O fato de eu ser o seu advogado de defesa não quer dizer que vá trair meus
amigos.

Menina – Agora me arrependo de não ter te partido todo em vez de só quebrar sua corda.

Boneco antipático.

Boneco – Boneca, Ursinho, Fantoche, venham todos!

Todos – O que foi, o que foi?

Menina – É mentira! Tudo que ele vai dizer é mentira. Esse boneco é mentiroso. Ele queria trair
vocês.

Todos – Boneco!?

Boneco – Não é verdade! Você sabe que não é verdade. Ela pediu que a soltasse. Quando
perguntei o que ela faria com vocês, disse-me que jogaria todos fora. É claro que eu não podia
aceitar uma coisa desta.

Soldado – Então não tem mais julgamento. Vamos castiga-la de uma vez.
Boneco – Isso mesmo e eu não sou mais o advogado dela.
Bruxa – Não! Devemos continuar o julgamento. Que ela era má, nós já sabíamos. Isso foi apenas
uma prova a mais. Vamos continuar o julgamento e você deve continuar a ser o advogado de
defesa.

Fantoche – Está bem. Continuemos, então.

Ursinho – Está reiniciada a sessão.

Fantoche – O senhor advogado de defesa pediu provas daquelas maldades que citei. Pois bem,
Soldado, mostra a cabeça. Queira examinar, senhor juiz.

Soldado – Ai, não ponha a mão aí, é só pra olhar.

Fantoche – Bruxa de Pano, diga ao senhor juiz o que ela faz com você.

Bruxa – O pior que ela faz comigo não é dizer que eu sou feia, feita de trapos e outras coisas. O
pior, é que todas as vezes que ela me deixa no canto do jardim, com os sapos e os grilos... eu
tenho horror a sapos, pulam a noite inteira em cima de mim. E os grilos fazem cri... cri... cri nos
meus ouvidos o tempo todo. E o frio? E o orvalho?

Boneca – O que é orvalho, Bruxa?

Bruxa – Orvalho, são as lagrimas da noite triste caindo pelas rosas.

Ursinho – Como castigo proponho que ela seja entregue ao tal de orvalho.

Fantoche – Calma, Ursinho, ainda é cedo para o castigo. Boneca de Louça, mostre ao senhor juiz
o que ela fez com você.

Boneca – Não posso mostrar.

Soldado – Não pode por quê?

Boneca – Estou toda doida, querem ver? Eu apanhei tanto que até a roupa rasgou.

Todos – Coitadinha, coitadinha.

Boneca – Imagine eu, uma boneca de luxo com a roupa toda remendada.

Fantoche – Vamos ver agora os livros e os cadernos dela. Bruxa de Pano, vá busca-los.

Menina – Oh, não! Já não chega o que vocês estão fazendo comigo? Não quero ninguém
mexendo nas minhas coisas. Vocês não têm nada com os meus estudos. Brinquedos atrevidos.

Ursinho – Silêncio, silêncio, quem fala somos nós, Bruxa de Pano, cumpra as ordens.

Boneca – Vamos Bruxinha, eu vou com você.

Menina – Já estou farta de tudo isso. Se vocês não me soltarem, eu grito.

Boneco – Não adianta gritar, ninguém vai te ouvir.


Menina – O meu livro de estórias. Pelo amor de Deus, não estraguem os meus livro de
estudos.
Bruxa – Você só tem amor pelos seus livros de estórias. Vejam, ela escreveu um palavrão.

Ursinho – Se é assim, não tem mais julgamento, vamos castiga-la.

Todos – vamos agarrá-la, vamos castiga-la, não vamos mais ser os brinquedos dela...

Menina – vamos ver quem vai ser castigada, vou faze-los em pedaços. Vamos ver quem
manda aqui.

FIM

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