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O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

Livre adaptação do texto de Jorge Amado, por Juliet Castaldello

PERSONAGENS
Menino
Menina
Gato Malhado
Andorinha Sinhá
Pomba
Rouxinol
Velha Coruja
Vaca Mocha

PRÓLOGO
(Menino e Menina aparecem em frente à cortina, sem jeito.)

Menino: Era uma vez antigamente...


Menina: Mas muito antigamente...
Menino: Nas profundezas do passado.
Menina: Quando os bichos falavam.
Menino: Os cachorros eram amarrados com linguiça.
Menina: Os alfaiates casavam com princesas.
Menino: E as crianças chegavam no bico das cegonhas.
Menina: Hoje, meninos e meninas já nascem sabendo tudo!
Menino: Aprendem no ventre materno...
Menina: Onde se fazem psicanalizar para escolher cada qual o complexo preferido.
Menino: A angústia...
Menina: A solidão...
Menino: A violência.
Menina: Aconteceu, naquele então...
Menino e Menina: Uma história de amor.

(Menino e Menina ouvem uma música que vem do palco e entram correndo. As
cortinas abrem-se e vemos os dois transformados em Gato Malhado e Andorinha
Sinhá. Andorinha Sinhá passeia pelo palco, exibindo-se e cumprimentando todos e
todas. Vai até sua árvore, e encontra cartas na sua caixa de correio.

Andorinha: (lendo as cartas) “Bela Andorinha Sinhá... No dia em que eu puder


realizar o meu maior desejo, você será a única flor que terá o meu beijo. Com amor,
Beija-Flor.” (ri, exibindo-se e parte para a próxima carta.) “Encantadora Andorinha
Sinhá... Queria expressar meu sentimento, queria pedir sua asa em casamento.
Mas, embriagado de amor nesse momento, só consigo dizer: te quero, te quero.
Ass: Quero-Quero.”

(Quando está prestes a ler a terceira carta, percebe uma música vindo do outro lado
da árvore. Lá está o Rouxinol, preparado para fazer uma serenata à ela. Pomba o
acompanha, um tanto desgostosa).

Música: Serenata do Rouxinol


Pomba: É sempre assim, quando ela passa, não há pássaro em idade de casar que
não suspire. Todos dizem que em nenhum dos parques aqui por perto existe uma
andorinha tão bela nem tão gentil quanto a Andorinha Sinhá. Mas Andorinha Sinhá,
além de bela, é um pouco louca! (Andorinha a repreende) Louquinha fica melhor.
Ainda frequenta a escola dos pássaros, mas já é metida a independente, orgulhosa
por manter boas relações com toda a gente do parque. Com todos ela conversa,
sem se dar conta das paixões que vai espalhando ao seu passar.
Rouxinol: Já o Gato Malhado...

(O Gato Malhado começa a se mostrar para o público. Abre sua caixa de correio e
também encontra cartas.)

Gato Malhado: (lendo as cartas). “Gato Malhado... Pare de destruir as flores do


parque. Meu tímido lírio branco se foi. Ass: Rosa-Clara.” (amassa a carta e parte
para a próxima) “Senhor Gato Malhado... Depois que você o assustou, meu Pintinho
Caçula não dorme mais. Repense suas atitudes. Atenciosamente, Galinha-Cor-De-
Ouro.”
Andorinha: Era um gato velho. (O Gato Malhado o repreende.) Era um gato de
meia idade, já distante da primeira juventude e naquelas redondezas não existia
criatura mais solitária. Era um gato mau. Mau e egoísta. (O Gato Malhado dorme.)

PRIMAVERA
(O Gato Malhado está dormindo, quando a Pomba, o Rouxinol e a Andorinha
cantam a música da chegada da Primavera, inicialmente em um volume baixo. O
volume vai aumentando até que a Primavera faz o Gato acordar.)

Música: Primavera

(Feliz com a chegada da nova estação, o Gato abre os olhos, estira os braços e
sorri. Todos se assustam, param a música e se escondem).

Andorinha: Santo Deus! Ele está rindo, jamais o vimos sorrir!

(O Gato Malhado dá um miado, que mais parece um gemido, rebola-se sobre a


grama, mia novamente.)

Andorinha: Ai, meu Deus, um miado romântico, impossível! Ele enlouqueceu, só


pode estar preparando alguma maldade!

(O gato percebe que todos sumiram e não entende o porquê.)

Gato: Por que todos fugiram se o parque está tão belo com a chegada da
Primavera? Não há tempestade, não corre o vento que derruba as folhas. Será que
a Cobra Cascavel voltou? Ah, se ela voltou, vou lhe dar uma lição, para que não
venha mais destruir os lírios, nem amedrontar as galinhas e os pombos. (Olha ao
redor, vê que a Cobra Cascavel não está ali. Reflete.) Será que fugiram por minha
causa?
Andorinha: (Que estava espiando o Gato falar sozinho) É! Há tanto tempo que não
ouviam você miar nem sorrir que agora se amedrontaram.
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Gato: E porque você não fugiu como os outros?
Andorinha: Eu? Fugir? Não tenho medo de você, os outros são uns covardes...
Você não pode me alcançar, não tem asas pra voar, é um gatarrão mais tolo do que
feio. E olha lá que você é feio...!
Gato: Feio, eu? (Pausa. Ri e se afasta) Você me acha feio? De verdade?
Andorinha: Feíssimo...!
Gato: Não acredito. Só uma criatura cega poderia me achar feio.
Andorinha: Feio e convencido! (Rouxinol e Pomba alertam-na e chamam-na para
que ela saia dali. Ela sai) Até logo, seu feio...
Gato: Andorinha louca! Eu não sou feio. Eu sou lindo, estupendo, maravilhoso. Volte
aqui, Andorinha louca!
Rouxinol: E foi assim, com esse diálogo um pouco idiota, que começou toda a
história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá.
Pomba: Na verdade a história, pelo menos no que se refere à Andorinha, começou
antes. Começou antes porque o Gato Malhado era a sombra na vida clara e
tranqüila da Andorinha Sinhá, que não entendia porque o gatarrão não falava com
ninguém.
Rouxinol: Certo dia resolveu conversar sobre o Gato com a Vaca Mocha! (anuncia
a Vaca Mocha, mas ela não aparece.) É... Com a Vaca Mocha... (a Vaca entra.) Sua
professora de espanhol, uma das figuras mais importantes do parque...
Pomba: Que tinha tanto prestígio quanto a Velha Coruja!
Andorinha: Profe Mocha... Como é que se diz mundo?
Vaca Mocha: Mon-do!
Andorinha: E como é que se diz coração, Profe Mocha?
Vaca Mocha: Co-ra-zón...!
Andorinha: E... Malhado?
Vaca Mocha: Tigrado!
Andorinha: Sujeito caladão, orgulhoso, metido a besta! Por que será que não
mantém relações com ninguém? Mesmo eu, que converso com todos nesse parque,
nunca consegui falar com ele.
Vaca Mocha: Cón quien queres hablar, chiquita?
Andorinha: Com o Gato Malhado!
Vaca Mocha: Hablar con el Gato? Piensas, loquita, em hacerlo realmente? Por
Diós, no seas tonta! Entonces tu no sabes que és um gato malo, e que jamás uma
andorinha deve mantener sequer relaciones de simples cumprimientos com un gato?
Que los gatos são inimigos irreconciliables de las andorinhas. Que muchas e
muuuuuuuchas parentas tuas pereceram entre las garras de gatos como aquele,
tigrados o no!
Andorinha: Mas ele não me fez nada...
Vaca Mocha: És un gato, e ainda por cima, tigrado!
Andorinha: Só por ser um gato, ainda por cima malhado? Mas ele tem um coração
como todos nós...
Vaca Mocha: Quien le disse que ele tienes um corazón? Quién?
Andorinha: Bem, eu pensei...
Vaca Mocha: Usted viu sú corazón? Habla chiquita!
Andorinha: Ver eu não vi...
Vaca Mocha: Entonces? No deve mas hablar com él. Jure Andorinha!
Andorinha: Jurar o que?
Vaca Mocha: Jure que no há mas de procurar el Gato Tigrado!
Andorinha: Juro que nunca mais vou procurar o Gato Malhado...
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Vaca Mocha: E nem sequier há de pensar en hablar com él!
Andorinha: E nem sequier há de pensar en hablar com él! Agora... Eu tenho que
ir... Porque... Porque... Porque eu tenho que ir! (sai de cena.)
Vaca Mocha: (saindo de cena, indo atrás da Andorinha.) Mas Andorinha, espere...
El Gato tigrado és um gato malo, perigroso. Saca mi leche todas las manhanas...
Rouxinol: A Andorinha jurou, jurou. Mas juramento de andorinha não vale muito,
não se deve dar crédito exagerado. Muito menos juramento de andorinha jovem, de
cabeça ardente e espírito aventureiro.
Andorinha (em sua casa, falando sozinha): Ele é feio, mas é simpático...
Gato (em sua casa, falando sozinho): Ela é bonita, e simpática. (Se dando conta do
que falou) Acho que eu estou doente. Estou ardendo em febre.

(Gato começa a ter ilusões com a Andorinha, enxergando-a em todos os lugares.)

Pomba: Ao cair da noite, o Gato olhou uma flor e nela viu refletidos os rasgados
olhos da Andorinha.
Rouxinol: Foi ao lago beber água e na água também enxergou a Andorinha.
Pomba: E a reconheceu em cada folha...
Rouxinol: Em cada gota de orvalho...
Pomba: Em cada réstia de sol crepuscular...
Rouxinol: Em cada sombra da noite que chegava.
Gato: Apaixonado não... Não estou apaixonado.

(Andorinha lê em sua árvore e o Gato vai se aproximando, interessado no que ela


lê.)

Andorinha: Amor a primeira vista. Definição literal: sentimento dos animais.


Definição poética: Há gente que não acredita em amor à primeira vista. Outros, ao
contrário, além de acreditar afirmam que este é o único amor verdadeiro. A verdade
é que o amor está no coração das criaturas, adormecido, e um dia qualquer ele
desperta, com a chegada da Primavera ou mesmo no rigor do Inverno. De repente, o
amor desperta de seu sono à inesperada visão de outro ser. Mesmo se já o
conhecemos, é como se o víssemos pela primeira vez e por isso se diz que foi amor
à primeira vista. (Andorinha percebe a presença do Gato, que ria muito das frases
que ela lia.)
Andorinha: Não me diz bom-dia, seu mal educado?
Gato: Bom dia, Sinhá...
Andorinha: Senhorita Sinhá, faça o favor. (Gato fica triste. Andorinha fala para o
público.) Ele é ainda mais feio quando fica triste! (Retorna a falar para o Gato) Vá
lá... Pode me chamar de Sinhá se isso lhe dá prazer... E eu lhe chamarei de Feio!
Gato: Já lhe disse que eu não sou feio.
Andorinha: Puxa! Que convencido! É a pessoa mais feia que eu conheço. Junto de
você, minha madrinha Coruja é prêmio de beleza...
Gato: (Tentando ir embora) Até logo...
Andorinha: Está aí, se ofendeu... Ainda é mais convencido do que feio... (Mudando
de ideia) Não precisa ir embora. Não lhe chamo mais de feio. (Gato volta) Agora só
lhe trato de formoso.
Gato: Não quero também.
Andorinha: Então como vou lhe chamar?
Gato: Gato.
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Andorinha: Gato não posso.
Gato: Por quê? (Pausa. O Gato vê que Andorinha já não estava mais brincando.)
Por que não pode?
Andorinha: Não posso conversar com nenhum gato. Os gatos são inimigos das
andorinhas.
Gato: Quem lhe disse?
Andorinha: É verdade. Eu sei. (O Gato entristece. Andorinha percebe.) Mas nós
não somos inimigos, não é?
Gato: Nunca.
Andorinha: Então nós podemos conversar. (Gato vai se aproximando dela, subindo
em sua árvore. De repente, Andorinha percebe que seu pai está chegando e se
assusta) Desce! Desce! Vá embora que Papai vem aí. Depois eu vou lá conversar
com você. (Gato está saindo e andorinha chama) Psiu... Feião! (O Gato sai
sorrindo).
Gato: (Para si mesmo e para o público, enquanto está em sua casa brincando com
um novelo e esperando a Andorinha chegar.) Ela não pode conversar com gatos. Os
gatos são maus, alguns foram apanhados em flagrante almoçando andorinhas, sei
que tem alguma verdade nisso. Mas como é possível ser assim tão mau? Como eu
iria almoçar um ser tão frágil e tão formoso quanto a Andorinha Sinhá?

(Andorinha chega e surpreende o Gato. Começam a brincar com o novelo do Gato.


Andorinha tenta comer o novelo, e o Gato, muito bravo, joga o novelo nela,
machucando-a. Ela volta para a sua árvore, magoada com ele. O gato vai até sua
casa, pega uma flor que tem e entrega a ela. Ela desce da árvore e os dois brincam,
dançando e girando. Andorinha cai nos braços do Gato e, de repente, escuta o
Rouxinol que, ao longe, inicia a aula de canto já com a Pomba.

VERÃO

Rouxinol: Um, dois, três, quatro... Um dois, três, quatro... Brrrrrrrrrrrrrrrr...


Pomba: Brrrrrrrrrrrrrrrr...
Andorinha: Brrrrrrrrrrrrrrr...
Rouxinol: Um, dois, três, quatro... Lárará, larará, larará, lá...
Pomba: (canta muito afinada) Lárará, larará, larará, lá...
Andorinha: (canta muito desafinada) Lárará, larará, larará, lá...
(Aos poucos, uma melodia vai tomando conta da aula, e esta culmina na chegada
da estação do Verão.)

Música: Verão

(A aula termina. Pomba tenta despedir-se do Rouxinol mas não consegue, porque
ele só tem olhos para a Andorinha. Andorinha se despede e vai correndo ao
encontro do Gato. Já chega querendo brincar, e assusta-o.)

Gato: O que você fez de ontem para hoje? Hoje está ainda mais linda do que ontem
e mesmo mais linda do que estava essa noite no sonho que te vi...
Andorinha: Me conta teu sonho... Eu não te conto o meu porque sonhei com uma
pessoa muito feia: sonhei contigo... (Os dois sorriem. O Gato vê que, ao longe, o
Rouxinol observa-os. Entristece. Andorinha percebe.) O que aconteceu?
Gato: Por que demorou tanto hoje?
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Andorinha: Eu estava na aula de canto, você sabe...
Gato: É, sei... Com o Rouxinol... (Rouxinol exibe-se no fundo da cena.)
Andorinha: (Sorrindo, com bastante naturalidade) Ora... Seu gatarrão! Você sabe
que o Rouxinol é como um irmão pra mim... (Rouxinol entristece) É como um
irmão... (Andorinha e Gato brincam de fazer cócegas, sorrindo e se divertindo. De
repente, param e estão cara a cara. Pausa.)
Gato: Se eu não fosse um gato, pediria pra casar com você! (Andorinha começa a
sair de cena. Ocorre uma alternância entre as falas do Gato e a movimentação, pois
ele continua a repetir o pedido.) Se eu não fosse um gato, pediria pra casar com
você! Se eu não fosse um gato, pediria pra casar com você! Pra casar com você!
Com você...

(Com a fala do Gato, acontece um estranhamento geral. Pomba, indignada,


repreende-os. Rouxinol a acompanha).

Pomba: Mas é pomba com pombo e pata com pato!!!


Rouxinol: Cão com cadela e sapa com sapo!!!
Pomba e Rouxinol: (cantando) Pomba com Pombo, Pata com Pato. Cão com
Cadela, Sapa com Sapo.
Vaca Mocha: (cantando) Onde já se viu una Andorinha noivando cón el Gato?!
Rouxinol: Onde já se viu uma andorinha, linda andorinha, louca andorinha, às
voltas com um gato?!
Vaca Mocha: Onde já se viu? Onde já se viu? Una andorinha, da raça volátil de las
andorinhas, noivando com el Gato, da raça dos tigrados? Onde já se viu, onde já se
viu? Tienes una lei, una velha lei...

Música: Velha Lei

Pomba: Mas é o fim do mundo! A Andorinha nem sabe que o Gato deseja apenas
um dia almoçá-la!
Vaca Mocha: Repruevo o poder dessa Andorinha. É perigroso, imoral e feio.
Conversa com el Gato como se não fosse el gato. Logo com el Gato Tigrado,
criminoso nato! A Andorinha precisa se casar!
Pomba: Mas com quem?
Vaca Mocha: Com el Rouxinol! O Rouxinol é belo e gentil, sabe cantar e dançar, é
da raça volátil, com ele bem pode a Andorinha se casar! Que belo casamento para a
Andorinha! O Rouxinol!

(Vaca sai de cena cantando a música da lei, muito satisfeita com o casamento que
arranjou para a Andorinha. Gato entra, olha para a árvore e sua amada não está lá.
Vai para a sua casa. Anoitece, inicia-se o Outono.)

OUTONO

Música: Outono

(A Velha Coruja entra em cena para conversar com o Gato, que estava tentando
escrever um soneto para a Andorinha.)

Gato: É sempre rápido o tempo da felicidade.


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Coruja: Pois é, meu caro amigo. Agora chegou o outono, derrubando as folhas das
árvores, pintando o céu de cores cinzentas, modificando a paisagem. Aliás, falando
em modificar, o pessoal aí do parque ta diferente com você, não? Há tempos que
não ouço uma reclamação a seu respeito.
Gato: É que durante a Primavera e o Verão vivi alegre e satisfeito, e por isso
pararam de implicar. Mas, por mais que tenham mudado, eles ainda não entendem
que aqui dentro um terno coração está pulsando... E é pela minha amada Sinhá!
Coruja: Amigo velho, não há o que fazer. Como você pode imaginar que a
Andorinha te aceitaria como marido? Nunca houve caso... Mesmo se ela te amasse
– e quem afirma que ela te ame? – jamais poderia casar contigo. Desde que o
mundo é mundo, para as andorinhas é proibido casar com gatos. Essa proibição é
mais do que uma lei e está plantada com fundas raízes no coração das andorinhas.
Dizes que ela gosta de ti, mas mais forte que ela, porém, é a lei das andorinhas.
Porque está dentro dela desde o seu mais velho avô, desde a primeira andorinha. E
para romper uma lei, é preciso uma revolução... (Pausa. A Coruja balança a
cabeça.) Aliás, era até bom que acontecesse uma revoluçãozinha... Estamos
necessitando...

(A Velha Coruja sai de cena, e o Gato retorna para seu soneto. Finaliza-o.
Andorinha entre em cena e deixa um bilhete para o Gato no pé da sua árvore. O
Gato entrega a ela um grande pergaminho e pega o bilhete que ela deixou para ele.

Andorinha (lendo o soneto do Gato):

“Soneto do Amor Impossível


para a minha adorada Andorinha Sinhá

A Andorinha Sinhá
A Andorinha Sinhô
A Andorinha bateu asas
E voou.

Vida triste minha vida,


Não sei cantar nem voar,
Não tenho asas nem penas,
Não sei soneto escrever.

Muito amo a Andorinha,


Com ela quero casar.
Mas a Andorinha não quer.
Comigo casar não pode

Porque sou gato malhado, ai!


Gato Malhado.”

Gato (lendo o bilhete de Andorinha): “Uma andorinha jamais pode casar com um
gato. Nós não devemos mais nos encontrar. Nunca fui tão feliz como no tempo em
que passei contigo, vagabundeando pelo parque, mas nós não devemos mais nos
encontrar. Da sempre tua Sinhá.”

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(Andorinha, mesmo hesitando, vai procurar o Gato. Estão magoados, depois
brincam um pouco, até que ela interrompe a brincadeira e decide lhe dar a notícia
que estava adiando.)

Andorinha: Essa foi a última vez. Na minha casa, já estão trabalhando seis aranhas
costureiras que preparam um enxoval. No começo do Inverno, vou me casar com o
Rouxinol, porque... Ai! Uma andorinha não pode se casar com um gato.

(A Andorinha toca o Gato com suas asas, era sua maneira de beijá-lo. E sai sem
olhar pra trás.)

INVERNO

Gato: Agora eu só tenho um mundo de recordações, de doces momentos vividos,


de lembranças alegres.

(No fundo da cena, Rouxinol aguarda a Andorinha para o casamento. Ela entra, em
marcha nupcial, com o buquê na mão.)

Andorinha: (olhando para o Gato) A felicidade não se alimente apenas das


recordações do passado, ela precisa também dos sonhos do futuro. (Pausa)
(Acontece o casamento de Andorinha e Rouxinol. De longe, Gato Malhado e Pomba
observam, cantando juntos a música do Inverno.)

Música: Inverno

(Ao terminar o casamento, Andorinha sai correndo para se encontrar com o Gato.

Gato: Vou tomar a direção dos caminhos que conduzem à encruzilhada do fim do
mundo.

(Antes de deixá-lo partir, a Andorinha entrega a ele uma pétala vermelha de seu
buquê. O Gato sai caminhando com a pétala, sozinho, e ela fica a observá-lo. Assim
termina a história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá. Rouxinol e Pomba iniciam
uma música e depois Gato e Andorinha juntam-se a eles.)

Música: Revolução

FIM.

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Anexo B – Trilha sonora composta por Adriano Taques (Rouxinol) e Evelíny
Pedroso (Pomba)

Serenata

F D7 Gm C
Se eu pudesse “avoar” com teu “avôo”
F
Que linda vida eu teria
D7 Gm C
Se eu pudesse “avoar” com teu “avôo”
F
Que linda vida eu teria
Bb Bbm F
Eu ira descansar no relento do teu sol
D7 Gm C F
Deixar-me capturar na isca do teu lindo anzol
Bb Bbm F
Tu serias o meu fá e eu teu si bemol
D7 Gm C F
Serias minha Sinhá e eu o teu Rouxinol

Primavera

(Am Bm)
Ela chegou, coloriu e pintou
Ela molhou, repartiu, semeou
(C F C F C F Bbm)
Amanheceu
Conheci o paraíso
Perfumado e colorido
Que sorri de flor e flor

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Toda a beleza
Presente na natureza
Em cada canto que respeita
Sua forma e sua cor
Laiá, laiá, laia, laia, laiá, laiá....

Verão

(C F)
Lá vem o astro que “alumía” o grande espírito
Lá vem o astro conhecido como o Sol
Chegou o astro que “alumía” o grande espírito
Chegou o astro conhecido como o Sol

Velha lei

(C Am Dm G )
Pomba com Pombo
Pata com Pato
Cão com Cadela
Sapa com Sapo
Em Am Dm G
Onde já se viu uma Andorinha noivando com um Gato?

Outono

( E Bm Cm A )
Caiu, caiu, a folha, a “frô”
O Outono levou, levou, levou
Caiu, caiu, a folha, a “frô”

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O Outono levou o meu amor
Outoniou, Outoniou
O Outono levou o meu amor

Inverno

(Fm Bm)
Faz frio
Meu amor foi voar
Para onde eu não posso alcançar
Meu amor foi voar

Revolução

(G D G D G D G)
O mundo que a gente “véve”
Um dia só vai prestar
O mundo que a gente “véve”
Um dia só vai prestar
No dia em que o Gato Malhado
Com a Andorinha Sinhá se casar
No dia em que o Gato Malhado
Com a Andorinha Sinhá se casar

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