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Moroes Nos anos 1950 (m: pecificamente em 1957, com © livro Syntactic Structures, do linguistanorte-americano Noam Chomsky), surge uma corrente teérica dentro da Lin- guistica, opondo-se fortemente a0 estruturalismo, conhecida por Gramdtica Gerativo-Trans- formacional. A oposi¢io a0 ‘estruturalismo se di em varias frentes, mas em particular na visto do que & uma lingua natural, Para o estruturalismo, a lingua é um objeto do mundo social, dada a relevancia que tem para a vida humana em sociedade, em particular para a comunicagdo. No entanto, para a Gra- ‘mitica Gerativo-Transformacional, o que garante as propriedades que as linguas humanas tém nao & o fato de serem usadas para comunicagao, mas © fato de serem faladas pelo homem, um animal que possui capacidades ccognitivas distintas daquelas dos seus parceiros de planeta. E por isso que, nessa visio, as gramaticas das linguas sao entendidas ‘como objetos que estiio dentro do cérebro humano e sdo acionadas a cada vez que alguém ouve ou produz um enunciado, uma sentenga. Como os enun- ciados so regrados (isto é, eles no sto simplesmente um amontoado de palavras, mas se organizam de maneira bastante rigida), esse quadro tedrico hipotetiza que as gramiticas so, na verdade, os conjuntos de regras respon- sdveis pela organizagdo que as sentencas das linguas naturais apresentam, A teoria gerativa dos anos 1950 considerava que as gramaticas eram ‘compostas por sistemas de regras de dois tipos: as regras de estrutura de constituintes (ou regras de reescritura) € as regras transformacionais. As regras de estrutura de constituintes descrevem propriedades de constituin- tes sintiticos basicos, como oragdes simples (sem subordinagao), sintagmas verbais ¢ sintagmas nominais, e a0 resultado da aplicagdo de tais regras aplicam-se as regras transformacionais, que podem modificar (por exemplo, deslocar constituintes) e combinar de diversas formas constituintes gerados pelas regras de reescritura (produzindo subordinagdes, coordenagdes ete). es: 64 (Pe La on pen geeeien pera, ————______. Regras de estrutura de constituinte so regras em que se explicita qual é a constituigao intema de um dado grupo sintitico. Visualmente, nelas sempre existe uma seta com simbolos ao seu redor; num lado da seta temos um simbolo que rotula um constituinte e no outro temos uma sequéncia de simbotos para os constituintes que o compdem imediatamente, Por exemplo, para uma sentenga envolvendo um verbo transitivo como “o Jodo beijou a Maria”, o rotulo da sentenga, S, pode ser reescrizo (dai o nome: regra de reescritura) por um NP (o sintagma nominal “o Joao", no exemplo) € lum VP (0 sintagma verbal “beijou a Maria”, no exemplo), conforme a representagao (i) a seguir. Esclarecendo: NP e VP slo, respectivamente, as siglas das expresses inglesas noun phrase e verbal phrase. (SNP VP Mas um VP também é um constituinte complexo, que Pode ser reescrito por um V (“beijou”) e um NP (“a Maria ou seja: (ii) VP V NP E do mesmo modo um NP pode ser reescri determinante (“a ou " (iii) NP > DetN or um ") € um nome (“Maria” ou “Joao") Sao essas regras que geram as estruturas sobre as quais se aplicarao as regras transformacionais mencionadas no texto, Diferentemente das regras que acabamos de ver, que Feescrevem um constituinte em seus constituintes imedia- tos (ou seja, sto regras que ndo vem toda a “histéria” da derivagao), as regras transformacionais atuam globalme1 te, podendo produzir indimeras modificagdes nas estruturas geradas pelas regras de reescritura. Assim, por exemplo, as transformagSes que produzem a vor passiva da sentenga “o Jodo beijou a Maria”, se aplicario sobre o resultado gerado pelas regras de reescritura citadas, e deslocario (entre ou- tras coisas) “a Maria” de sua posi¢ao original para a posi- ¢20 de sujeito, colocando 0 “antigo” sujeito “o Joao” como as, COMMECER Mafologa. ‘um adjunto, encabegado por uma preposigao (“por”). No final das contas, esse conjunto de transformagdes gera a voz passiva da sentenga: (iv) A Maria foi beijada pelo Joao. ——$—<— $s Ao contrario da visio estruturalista, portanto, em que os niveis de crigio (fonolégico, morfoldgico e sintitico) tém relativa independén- , a Gramatica Gerativo-Transformacional propde uma arquitetura para reanizagao gramatical que coloca a sintaxe como elemento central e na i diferentes tipos de regras se aplicam numa determinada sequéncia. A teoria, como ocorre com diversas teorias cientificas, sofreu mudan- , 20 longo dos anos. Por exemplo, no modelo padrao do livro Aspects ‘he Theory of Syntax, também de Noam Chomsky (1965), é introduzida arquitetura da gramatica a nogio de estrutura profunda, que é uma re~ sentagio da estrutura de constituintes resultante da aplicagdo de regras reescritura sobre a qual se aplicam diretamente as regras de interpreta- », pertencentes a outro componente da arquitetura gramatical. As regras nsformacionais se aplicam sobre a representagao em estrutura profunda, seram uma estrutura superficial sobre a qual podem se aplicar regras rol6gicas. O esquema em (1) dé uma ideia da organizago proposta para gramaticas das linguas, vistas como sistemas de regras. Léxico Regras de estrutura de constituinte {ees Estrutura profunda |¢——— Interpretagdio Regras transformacionais — | Estrutura superficial t [Fonologia Uma discussio que esse desenho coloca esti relacionada a divisio trabalho entre as regras que geram a estrutura profunda (as regras de escritura) ¢ as regras que geram a estrutura superficial (as regras transfor-

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