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Adilson Gonçalves
Luiz Manoel Figueiredo
Álgebra I
Z
MDC MDC MDCA B MDC MDC
C
A B
C
A B
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
Mirian Crapez
Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Departamento de Produção
Adilson Gonçalves
Luiz Manoel Figueiredo EDITORA CAPA
Tereza Queiroz Eduardo Bordoni
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO
INSTRUCIONAL COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO GRÁFICA
Cristine Costa Barreto PRODUÇÃO Patricia Seabra
Jorge Moura
COORDENAÇÃO DE AVALIAÇÃO
DO MATERIAL DIDÁTICO
Débora Barreiros
AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO
Letícia Calhau
G635a
Gonçalves, Adilson.
Álgebra I. v. 3 / Adilson Gonçalves; Luiz Manoel Figueiredo. – Rio de
Janeiro: Fundação CECIERJ, 2009.
52p.; 21 x 29,7 cm.
ISBN: 85-7648-329-7
CDD: 512
2009/2
Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO RIO DE JANEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho Reitor: Aloísio Teixeira
Objetivos
• Apresentar o teorema de Fermat.
Introdução
Nesta aula estudaremos o pequeno teorema de Fermat ou, simples-
mente, teorema de Fermat, que essencialmente diz que todo primo ı́mpar p
divide q p − q onde q é um inteiro qualquer.
Os chineses, desde a antiguidade, já conheciam esta afirmação quando
q = 2. Por exemplo,
P (n) : np ≡ n (mod p) .
3 CEDERJ
Pequeno teorema de Fermat
Algebra 1
np ≡ n (mod p) .
np ≡ n (mod p) ,
para todo n ≥ 1.
Para concluir a demonstração, temos que cuidar do caso
p
q ≡ q (mod p), com q inteiro negativo.
Bem, se q < 0 então, evidentemente, (−q) > 0. Assim, q ∈ Z e q < 0,
então o resultado vale para (−q), isto é,
(−q)p = (−1)p · q p = −q p
assim,
CEDERJ 4
Pequeno teorema de Fermat
AULA 13
q p−1 ≡ 1 (mod p) .
q p−1 ≡ 1 (mod p) .
n = (p − 1)q + r
então
q n = q q(p−1)+r = q r · q q(p−1) = q r (q p−1 )q .
Como q p−1 ≡ 1 (mod p) então
q n = q r (q p−1 )q ≡ q r · 1q ≡ q r (mod p) .
5 CEDERJ
Pequeno teorema de Fermat
Algebra 1
Mas 0 ≤ r < p−1 (resto da divisão de n por p−1). Assim, q r é uma potência
possivelmente muito menor que q n .
Exemplo 1
Encontre o resto da divisão de 24514 por 7.
Solução:
Dividindo 4514 por 7-1=6, obtemos
4514 = 6 × 752 + 2 .
Portanto,
24514 = 26×752+2 = 22 (2b )752 ≡ 22 (mod 7)
Exemplo 2
Vamos mostrar que 270 + 370 é divisı́vel por 13.
Solução:
Vamos verificar o resto de 270 e 370 por 13 usando o teorema de Fermat.
70 = 5 × 12 + 10
e, logo
270 = 25×12+10 = 210 (212 )5 ≡ 210 (mod 13) .
Portanto,
270 + 370 ≡ 10 + 3 ≡ 13 ≡ 0 (mod 13) .
CEDERJ 6
Pequeno teorema de Fermat
AULA 13
7 CEDERJ
Pequeno teorema de Fermat
Algebra 1
Resumo
Nesta aula vimos o pequeno teorema de Fermat. Na verdade, vimos
duas versões bem próximas deste teorema.
Vimos duas aplicações: como um meio de obter a classe q n mod p,
e como “teste” de primalidade.
Vimos que se um inteiro passa pelo teste com várias bases então é
um primo com forte probabilidade. Se falha o teste então certamente é um
composto.
Exercı́cios:
1. Mostre que se p é um primo e a e b são inteiros então
(a + b)p ≡ ap + bp (mod p) .
a) 3200 por 13
b) 52530 por 7
3. Use o teorema de Fermat para provar que para todo inteiro n, o número
n3 + (n + 1)3 + (n + 2)3
é divisı́vel por 9.
CEDERJ 8
A função φ (phi) de Euler
AULA 14
Objetivos
• Escrever a definição da função phi de Euler e calcular φ(n), para qual-
quer inteiro n;
Definição
Definição 1
Para qualquer inteiro positivo n, definimos φ(n) como o número de inteiros Lembre-se que o sı́mbolo #
positivos menores que n e coprimos com n. indica a cardinalidade
(o número de elementos de)
Em outras palavras, um conjunto.
Exemplo 3
Seja n = 12. Os inteiros positivos menores que 12 e coprimos com 12 são
1, 5, 7 e 11. Assim, φ(12) = 4.
Exemplo 4
Seja n = 15. Os inteiros positivos menores que 15 e coprimos com 15 são
1, 2, 4, 7, 8, 11, 13 e 14. Assim, φ(15) = 8.
9 CEDERJ
A função φ (phi) de Euler
Algebra 1
n 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
φ(n) 1 1 2 2 4 2 6 4 6 4 10 4 12 6 8 8 16 6 18 8
Lema 1
Se p é um primo então
φ(p) = p − 1 .
φ(2) = 2−1=1
φ(3) = 3−1=2
φ(5) = 5−1=4
φ(7) = 7−1=6
..
.
Proposição 1
Seja p primo. Então vale que
CEDERJ 10
A função φ (phi) de Euler
AULA 14
E quem são os inteiros que não são coprimos com pα ? como p é primo, se
mdc(x, pα ) 6= 1, então x deve conter o fator primo p, isto é, p divide x. Por
outro lado, se p | x então, evidentemente, mdc(x, pα ) 6= 1.
Assim, os inteiros não coprimos com pα são exatamente os múltiplos de
p. A questão então é: quantos múltiplos de p existem entre 1 e pα ?
Os múltiplos de p entre 1 e pα são:
Exemplo 5
Temos que φ(9) = 6 pois, os inteiros 1, 2, 4, 5, 7 e 8 são coprimos com 9.
Usando o teorema obtemos:
Exemplo 6
11 CEDERJ
A função φ (phi) de Euler
Algebra 1
Exemplo 7
• φ(3) = 2; φ(4) = 2 e
Veja que nos dois primeiros exemplos vale que φ(mn) = φ(m) × φ(n) mas,
isso não se verificou no terceiro. O que deu errado? o que os dois primeiros
exemplos têm em comum é que se trata de φ(mn), com m e n coprimos.
Veja:
φ(3 × 4) = φ(3) × φ(4)
onde 3 e 4 são coprimos e
f : Smn −→ Sm × Sn ,
CEDERJ 12
untos
e que
× #B. A função φ (phi) de Euler
AULA 14
quando mdc(m, n) = 1.
Em resumo, o nosso plano é definir uma função f : Smn −→ Sm × Sn
e mostra que ela é bijetiva se mdc(m, n) = 1. Vamos em frente então!
• A função f :
Definimos
f : Smn −→ Sm × Sn
x 7−→ x, x
onde x ≡ x (mod m) e x ≡ x (mod n).
Esta definição merece alguns esclarecimentos: se x ∈ Smn então
mdc(x, mn) = 1. Portanto, x não tem fatores primos em comum
com mn, logo x não tem fatores comuns com m ou com n, isto é,
mdc(x, m) = mdc(x, n) = 1.
Pode ser que x > m mas x ≡ x, com 1 ≤ x ≤ m. Como mdc(x, m) = 1
então mdc(x, m) = 1 (prove isto!), logo 1 ≤ x ≤ m e mdc(x, m) = 1,
isto é, x ∈ Smn . Assim, existe x ∈ Sm tal que x ≡ x (mod m).
Analogamente, existe x ∈ Sn tal que x ≡ x (mod n). Assim, nossa
definição da função f faz todo o sentido.
• f é injetiva:
Vamos mostrar, por contradição, que f é injetiva. Suponha que não
seja e suponha que existem x, y ∈ Smn tais que f (x) = f (y), isto é,
Logo
0 ≤ x − y < mn .
13 CEDERJ
A função φ (phi) de Euler
Algebra 1
• f é sobrejetiva:
Seja (a, b) ∈ Sm × Sn . Devemos encontrar um x ∈ Smn tal que
f (x) = (a, b), isto é,
x≡a (mod m) =⇒ x = a + km
para algum k ∈ Z e
Lembre-se que
x≡b (mod n) =⇒ x = b + ln
mmc(m, n) · mdc(m, n) =
= m · n. Se m e n são para algum l ∈ Z.
primos entre si então
mdc(m, n) = 1, logo Igualando as duas equações temos
mmc(m, n) = m · n.
a + km = b + ln =⇒ a − b = ln = km .
a − b = (a − b)k 0 n + (a − b)k 00 n
a − (a − b)k 00 m = b + (a − b)k 0 n .
| {z } | {z }
k l
a + km = b + ln .
x0 = a + km =⇒ x0 ≡ a (mod m)
x0 = b + ln =⇒ x0 ≡ b (mod n) .
CEDERJ 14
A função φ (phi) de Euler
AULA 14
Exemplo 8
a) ϕ(20) = ϕ(4 × 5) = ϕ(4) · ϕ(5) = 2 × 4 = 8.
b) ϕ(30) = ϕ(5 × 6) = ϕ(5) · ϕ(6) = ϕ(5) · ϕ(2) · ϕ(3) = 4 × 1 × 2 = 8.
Juntando tudo
Aplicando as propriedades da função ϕ(m) que demonstramos ante-
riormente, podemos calcular ϕ(n) a partir da decomposição de n em fatores
primos.
Provemos que ϕ(mn) = ϕ(m) · ϕ(n) se mdc(m, n) = 1. Podemos
facilmente estender este resultado:
Proposição 3
Se N1 , N2 , · · · , Nr são inteiros positivos dois a dois primos entre si então
15 CEDERJ
A função φ (phi) de Euler
Algebra 1
Seja agora N = pα1 1 · pα2 2 · ... · pαr r , onde p1 , · · · , pr são primos distintos.
Os termos pα1 1 , pα2 2 , ..., pαr r são dois a dois primos entre si. Logo
ϕ(N ) = ϕ(pα α2 αr α1 α2 αr
1 · p2 · ... · pr ) = ϕ(p1 ) · ϕ(p2 ) · ... · ϕ(pr ) .
1
Mas,
α α α−1 α 1
ϕ(p ) = p − p =p 1− .
p
Logo,
1 1 1
ϕ(N ) = pα
1
1
1 − · p α2
2 · 1 − · ... · p αr
r 1 − .
p1 p2 pr
Exemplo 9
Tomemos N = 120.
Fatorando 120, obtemos
120 = 23 × 3 × 5 .
Assim,
1 1 1 1 2 4
ϕ(120) = 120 · 1 − · 1− · 1− = 120 · · · = 32 .
2 3 5 2 3 5
CEDERJ 16
A função φ (phi) de Euler
AULA 14
Resumo
Nesta aula definimos a função ϕ de Euler e obtivemos duas propriedades
desta função que permitem calcular rapidamente o valor de ϕ(N ) e partir da
decomposição de N em fatores primos.
Na próxima aula veremos um teorema muito importante que envolve a
função ϕ(N ): o teorema de Euler.
Exercı́cios
1. Calcule ϕ(N ) para os seguintes valores de N :
a) N = 200
b) N = 500
c) N = 22 × 35 × 74
d) N = (20)5
17 CEDERJ
As equações diofantinas lineares
AULA 15
Meta:
Apresentar o conceito de equações diofantinas e discutir soluções intei-
ras das equações diofantinas lineares.
Objetivos
• Definir o conceito de equações diofantinas e equações diofantinas line-
ares;
Introdução
19 CEDERJ
As equações diofantinas lineares
Algebra 1
S 6= ∅ ⇐⇒ d é divisor de c .
Demonstração:
(=⇒) Assume S 6= ∅. Vamos mostrar que d | c (isto é, d é divisor de c).
De S 6= ∅ segue que existe uma solução (b1 , b2 , · · · , bn ) para a equação
diofantina linear a1 x1 +a2 x2 +· · ·+an xn = c.Assim, a1 b1 +a2 b2 +· · ·+an bn = c.
Agora, d | a1 , · · · , an =⇒ d | c .
CEDERJ 20
As equações diofantinas lineares
AULA 15
d = mdc(a1 , · · · , an ) =⇒ d | a1 , · · · , an .
a a a c
Sejam a01 = 1 , a02 = 2 , · · · , a0n = n (todos inteiros) e c0 = ∈ Z . Como
d d d d
d = mdc(a1 , a2 , · · · , an ) segue que mdc(a01 , a02 , · · · , a0n ) = 1. Daı́ segue que:
s1 a1 + s 2 a2 + · · · + s n an = c ,
Atividade:
21 CEDERJ
As equações diofantinas lineares
Algebra 1
Proposição 2
Seja (x0 , y0 ) ∈ S uma solução particular de ax + by = c. Então S possui
infinitas soluções (x, y) ∈ Z2 , e todas as soluções podem ser descritas em
equações paramétricas inteiras do seguinte modo:
b
x = x0 −
t
d
a
y = y0 + t
d
com t ∈ Z .
Agora, seja (x, y) ∈ S uma solução genérica de ax+by = ce, seja (x0 , y0 ) ∈ S
uma dada solução particular de ax + by = c. Assim,
(
ax + by = c
ax0 + by0 = c
a(x − x0 ) + b(y − y0 ) = 0 ,
ou seja,
a(x − x0 ) = (−b)(y − y0 ) .
a b
Seja a0 = e b0 = , onde d = mdc(a, b).
d d
Portanto teremos:
a0 (x − x0 ) = −b0 (y − y0 ) = 0 ,
x − x0 y − y0
0
= = t ∈ Z.
−b a0
CEDERJ 22
As equações diofantinas lineares
AULA 15
Observação
ab
Seja d = mdc(a, b) e m = mmc(a, b). Sabemos que = m, daı́ segue que
d
b m a m
= e = . Portanto, na Proposição 2, anterior, poderı́amos descrever
d a d b
as soluções (x, y) de ax + by = c do seguinte modo:
m
x = x0 − a t
y=y +mt
0
b
com t ∈ Z .
Exemplo 10
Determine o conjunto S de todas as soluções da equação diofantina linear
12x + 18y = 30.
Solução:
Seja d = mdc(12, 18) = 6. Como d = 6 é divisor de c = 30, temos que o
conjunto solução S é não vazio.
De fato, (x0 , y0 ) = (1, 1) ∈ S é uma solução particular da equação 12x+18y =
30. Assim, o conjunto S de todas as soluções inteiras de 12x + 18y = 30 é
dado por: (x, y) ∈ S:
x = 1 − 18 t = 1 − 3t
6
12
y = 1+ t = 1 + 2t
6
Atividade:
23 CEDERJ
As equações diofantinas lineares
Algebra 1
com α, r, s ∈ Z .
(Observe que (α, α, −α) é uma solução).
Resumo
Nesta aula, introduzimos métodos que nos permitem discutir existência
e cálculo de soluções de equações diofantinas lineares. No caso de duas
variáveis, demos a partir de uma solução particular de ax + by = c, uma
descrição paramétrica inteira de todos as soluções inteiras de ax + by = c.
CEDERJ 24
A equação diofantina pitagórica x2 + y 2 = z 2
AULA 16
Meta:
Apresentar a equação diofantina x2 +y 2 = z 2 como um modelo quadrático
contendo infinitas soluções.
Objetivos
• Determinar todas as infinitas soluções inteiras da equação quadrática
diofantina x2 + y 2 = z 2 , em três variáveis x, y e z.
Introdução
As equações diofantinas vem fascinando muitos matemáticos ao longo
de muitos séculos e, um desses matemáticos, foi Pierre de Fermat (1601-
1665), jurista francês, que dedicava grande parte do seu tempo disponı́vel ao
estudo de problemas de Matemática.
Fermat, estudando os escritos de Diophantus, na página onde se tratava
das equações pitagóricas x2 + y 2 = z 2 e suas soluções inteiras, anotou na
margem da página a seguinte afirmação:
25 CEDERJ
A equação diofantina pitagórica x2 + y 2 = z 2
Algebra 1
por exemplo, a teoria dos anéis e ideais, com destaque para o matemático
alemão E.Kummer, no sec XIX.
Algumas soluções particulares desse teorema foram apresentadas, como
por exemplo, para n = 3 (Euler), n = 4 (Fermat, Leibnitz e Euler) e n = 5
(Dirichilet e Legendre) e para alguns valores de n (primos regulares), por
E.Kummer.
Em 1993, quase 300 anos após a formulação de Fermat, e após a contri-
buição de muitos matemáticos, o matemático inglês Andrew Wiles, anunciou
a demonstração do chamado “último teorema de Fermat”.
Em 1993, aos 40 anos de idade, Andrew Wiles relatou o que sentiu ao
ter tomado conhecimento do grande desafio legado por Fermat: “Parecia tão
simples e, no entanto, nenhum dos grandes matemáticos da história conse-
guira resolvê-lo. Ali estava um problema que eu, menino de 10 anos, podia
entender e a partir daquele momento nunca o deixaria escapar”.
Nessa aula trataremos da equação diofantina pitagórica x2 + y 2 = z 2
e suas infinitas soluções inteiras.
A equação diofantina x2 + y 2 = z 2
Estamos interessados em descrever o conjunto S de todas as soluções
inteiras S = (a, b, c) da equação x2 + y 2 = z 2 .
Assim, S pode ser descrito por:
S = {(a, b, c) ∈ Z × Z × Z | a2 + b2 = c2 } .
Observação
É fácil verificar as seguintes afirmações:
a. (0, ±b, ±b) e (±a, 0, ±a) ∈ S, ∀a, b ∈ Z
b. Se (a, b, c) ∈ S então (±a, ±b, ±c) ∈ S
c. Se k ∈ Z e (a, b, c) ∈ S então (±ka, ±kb, ±kc)
Definição 1
Seja (a, b, c) ∈ S. Dizemos que (a, b, c) ∈ S é uma solução reduzida se
mdc(a, b) = 1 com a, b, c positivos.
CEDERJ 26
A equação diofantina pitagórica x2 + y 2 = z 2
AULA 16
e, portanto, d2 | |c|2 .
Como d2 | |c|2 , segue, pelo teorema fundamental da aritmética, que
|c|
d também divide |c|. Seja c0 o inteiro positivo definido por c0 = . Assim,
d
d2 ((a0 )2 +(b0 )2 ) = d2 (c0 )2 , (a0 )2 +(b0 )2 = (c0 )2 e (a0 , b0 , c0 ) é solução reduzida.
Portanto, (a, b, c) é uma das soluções (±|a|, ±|b|, ±|c|) e como
|a| = da0 , |b| = db0 e |c| = dc0 temos que existe k = d tal que (a, b, c) é
uma das soluções (±da0 , ±db0 , ±dc0 ) e isto demonstra a Proposição 2 com
(a0 , b0 , c0 ) solução reduzida.
Proposição 2
Seja (a, b, c) ∈ S uma solução reduzida. Então
27 CEDERJ
A equação diofantina pitagórica x2 + y 2 = z 2
Algebra 1
a2 + b2 = c2 =⇒ b2 = c2 − a2 .
Teorema 1
O conjunto de todas as soluções reduzidas (a, b, c) de x2 + y 2 = z 2 pode ser
descrito do seguinte modo:
a = rs s2 − r 2
a=
2 2
2
s −r
b= b = rs
2 ou
s2 + r 2
s2 + r 2
c =
c =
2 2
Lema 3
c deve ser ı́mpar, e temos duas possibilidades?
CEDERJ 28
A equação diofantina pitagórica x2 + y 2 = z 2
AULA 16
Mas,
4k 2 + 4k + 1 + 4s2 + 4s + 1 ≡ 2 (mod 4) .
ou
a = par
(ii) (a, b, c), com b = ı́mpar .
c = ı́mpar
Como na situação (ii) apenas trocamos os papéis de a e b, vamos resolver
calculando todas as soluções reduzidas (a, b, c), com a ı́mpar, b par e c ı́mpar.
Depois trocamos os papéis de a e b.
A partir de agora, seja (a, b, c) uma solução reduzida de x2 + y 2 = z 2 ,
com a ı́mpar, b par e c ı́mpar.
Agora vamos provar um lema:
Lema 4
mdc(c − b, c + b) = 1 .
a2 + b2 = c2 =⇒ a2 = c2 − b2 = (c − b)(c + b) .
29 CEDERJ
A equação diofantina pitagórica x2 + y 2 = z 2
Algebra 1
s2 − r 2 s2 + r 2
b= >0 e c= >0 (s2 > r 2 ) .
2 2
Como a2 = (c − b)(c + b) = r 2 s2 temos que a = |r| · |s| > 0 com r, s ı́mpares.
Assim, as soluções reduzidas com a ı́mpar são as seguintes:
a = |r| · |s|
|s|2 − |r|2
b=
2
|s| + |r|2
2
c=
2
com |r| > 0, |s| > 0 inteiros ı́mpares com |s| > |r|.
As soluções reduzidas com a par e b ı́mpar são dadas por:
|s|2 − |r|2
a =
2
b = |r| · |s|
|s|2 + |r|2
c =
2
com |r| > 0, |s| > 0 inteiros ı́mpares com |s| > |r| e isto demonstra o teore-
ma 1.
CEDERJ 30
A equação diofantina pitagórica x2 + y 2 = z 2
AULA 16
Observação
As soluções reduzidas (a, b, c) ∈ S da equação pitagórica x2 + y 2 = z 2 pode-
riam ainda ser apresentadas de uma outra forma. Vamos ver como podemos
apresentar essa nova forma das soluções reduzidas.
Como 0 < r < s são números ı́mpares na descrição paramétrica (inteira)
apresentada no teorema 1, podemos então introduzir os inteiros m e n tais
que: (
s + r = 2m
(∗)
s − r = 2n
(observe que s ± r é par).
Daı́, segue que (s + r)(s − r) = 4mn, ou seja,
s2 − r 2
= 2mn (1)
2
s2 + r 2 (m + n)2 + (m − n)2
= = m2 + n2 (2)
2 2
e
rs = (m + n)(m − n) = m2 − n2 (3)
Atividades:
31 CEDERJ
A equação diofantina pitagórica x2 + y 2 = z 2
Algebra 1
1. Seja a = pq, onde p e q são primos ı́mpares com q > p. Mostre que:
q 2 − p2 q 2 + p2
(i) a = pq, b = e c= é uma solução inteira reduzida de
2 2
x2 + y 2 = z 2 .
(ii) Aplique a fórmula acima para os seguintes valores de p e q:
a) p = 3 < 5 = q
b) p = 5 < 7 = q
Resumo
Nessa aula, apresentamos as equações diofantinas pitagóricas
x2 + y 2 = z 2 correlacionadas com o mais famoso desafio da Matemática:
“o último teorema de Fermat”, e apresentamos uma forma de apresentar
todas as soluções inteiras (a, b, c) dessa equação.
CEDERJ 32
Equações de congruências
AULA 17
Meta:
Apresentar as equações de congruências do tipo ax ≡ b (mod n).
Objetivos
• Discutir a existência de soluções inteiras das equações de congruências
ax ≡ b (mod n);
Introdução
Equações de congruências são equações onde o sı́mbolo = de igualdade
é substituı́do pelo sı́mbolo ≡ (mod n), de congruência módulo n.
Equações de congruências são muitas vezes utilizadas para discussão e
determinação de soluções inteiras de equações diofantinas.
Estudaremos nessa aula as equações de congruências lineares do tipo
ax ≡ b (mod n).
Estamos interessados em descrever todos os inteiros x ∈ Z, se existirem,
que satisfaçam a equação de congruência ax ≡ b (mod n). Assim, resolver
uma equação de congruência é descrever todas as suas soluções inteiras.
33 CEDERJ
Equações de congruências
Algebra 1
Assim, a congruência pode ser vista como uma igualdade mais um múltiplo
de n
Nas equações usuais (estudadas no ensino médio) do tipo ax = b, com
a, b ∈ Z e a 6= 0, nem sempre possui soluções inteiras. De fato, a solução
x = ab será inteira (e única) apenas se “a for divisı́vel por b”. Se “a não for
divisı́vel por b” então não existe solução inteira da equação ax = b.
Quando trabalhamos com a congruência ≡ (mod n), em vez da igual-
dade =, na equação ax ≡ b (mod n) o contexto é diferente. Nessa última si-
tuação, pode não existir solução (inteira) de ax ≡ b (mod n), como também
pode existir infinitas soluções inteiras. De fato, vamos ver mais adiante
que : “se a congruência ax ≡ b (mod n) possui uma solução x = x0 ∈ Z
então possui infinitas soluções do tipo x = x0 + tn para todo t ∈ Z” .
Antes de demonstrarmos algumas proposições vamos analisar dois
exemplos.
Exemplo 11
A equação de congruência 2x ≡ 1 (mod 4) não possui soluções inteiras.
Solução:
De fato, suponhamos que x0 ∈ Z é uma solução. Assim, 2x0 ≡ 1 (mod 4), o
que nos diz que: existe t ∈ Z tal que (2x0 − 1) = 4t. Mas isto é um absurdo
pois, (2x0 − 1) é ı́mpar e é igual a 4t que é um inteiro par.
Exemplo 12
A equação 2x ≡ 1 (mod 7) possui infinitas soluções inteiras.
Solução:
Seja S ⊂ Z o conjunto de todas as soluções inteiras da equação de congruência
2x ≡ 1 (mod 7). Vamos determinar S, mostrando que S é um conjunto
infinito.
De fato, como 4 × 2 = 8 ≡ 1 (mod 7) temos que: resolver 2x ≡ 1 (mod 7),
multiplicando por 4, temos
8x ≡ x ≡ 4 (mod 7) ,
e, assim,
S = {x ∈ Z | x ≡ 4 (mod 7)} .
x = 4 + 7t ⇐⇒ x ∈ Z.7 + 4 .
CEDERJ 34
Equações de congruências
AULA 17
S = Z.7 + 4 = {x = 4 + 7k | k ∈ Z} .
Atividades:
(i) 4x ≡ 5 (mod 6)
(ii) 6x ≡ 8 (mod 9)
(i) 3x ≡ 2 (mod 5)
(ii) 5x ≡ 4 (mod 7)
(iii) 4x + 7 ≡ 10 (mod 9)
Observação
No exemplo 2 vimos que mesmo que a equação usual 2x = 1 não possua
solução inteira, a equação de congruência 2x ≡ 1 (mod 7) possui infinitas
soluções dadas por
S = Z.7 + 4 = {4 + 7k | k ∈ Z} .
35 CEDERJ
Equações de congruências
Algebra 1
Substituindo, teremos
ax ≡ b (mod n) ⇐⇒ a0 x ≡ b0 (mod n0 ) .
CEDERJ 36
Equações de congruências
AULA 17
ra0 b0 + sn0 b0 = b0 .
Assim, a0 (rb0 )b0 + (−sb0 )n0 e isto nos diz que a0 (x0 ) ≡ b0 (mod n0 ) onde
x0 = rb0 é solução particular de a0 x ≡ b0 (mod n0 ).
Portanto, achando r, como acima, temos x0 = rb0 , solução particular,
e portanto, existe t ∈ Z tal que a0 x0 = b0 + tn0 .
Agora, seja x ∈ S uma solução geral de a0 x ≡ b0 (mod n0 ). Assim,
existe k ∈ Z tal que a0 x = b0 + kn0 . Mas, a0 x0 = b0 + tn0 , daı́ segue que
a0 (x − x0 ) = (k − t)n0 .
Solução:
Primeiramente vamos testar se S é não vazio.
Temos que d = mdc(a, n) = 3. Como d = 3 divide 18 = b, temos pela
proposição anterior que S 6= ∅.
Agora vamos determinar S. A equação reduzida a0 x ≡ b0 (mod n0 ) é a se-
guinte: a0 = 12 = 4, b0 = 18 = 6 e n0 = 21 = 7. Então 4x ≡ 6 (mod 7).
3 3 3
37 CEDERJ
Equações de congruências
Algebra 1
S = Z.n0 + x0 = Z.7 + 5 = {x = 5 + 7k | k ∈ Z} .
CEDERJ 38
Equações de congruências
AULA 17
ax ≡ b (mod n) ⇐⇒ a
| · x{z= }b .
| {z }
em Z em Zn
x = r(a · x) = r · b = rb
39 CEDERJ
Equações de congruências
Algebra 1
Exemplo 14
Resolver a equação de congruência 243x ≡ 5 (mod 725).
Solução:
Temos que a = 243, b = 5 e n = 725 com mdc(a, n) = mdc(243, 725) = 1.
Pode-se calcular, usando a metodologia usada no exemplo 16 da Aula 12
utilizando o algoritmo da divisão de Euclides.
Os valores r = 182 e s = −61 tais que
Observe que (234)−1 = 182, em Z725 e não seria mais fácil seguir o caminho
de resolver a · x = b com a = 243, b = 5, módulo 725.
Atividade:
(i) a = 3, Zn = Z10
(ii) a = 4, Zn = Z21
(iii) a = 6, Zn = Z35
(i) a = 26, n = 14
CEDERJ 40
Equações de congruências
AULA 17
Resumo
Nessa aula apresentamos metodologia para solucionar as equações de
congruências do tipo ax ≡ b (mod n), em Z. Se d = mdc(a, n) divide b,
o conjunto solução S é não vazio e através da equação de congruência reduzida
a0 x ≡ b0 (mod n)0 encontramos as soluções módulo n0 (única) e em seguida
expressamos essas soluções módulo n (d soluções módulo n). Apresentamos
ainda a forma alternativa de se considerar a equação de congruência ax ≡ b
(mod n), em Z, como uma equação (usual) a·x = b, em Zn onde pretendemos
determinar x.
41 CEDERJ
Sistemas lineares de congruências: o teorema chinês do resto
AULA 18
Meta:
Apresentar sistemas lineares de congruências e o teorema chinês do
resto.
Objetivos (
x ≡ a (mod m)
• Resolver sistemas lineares de congruências simples do tipo x ≡ a (mod n)
;
(
x ≡ a (mod m)
• resolver sistemas lineares do tipo ,usando uma primeira
x ≡ b (mod n)
versão do teorema chinês do resto;
Introdução
43 CEDERJ
Sistemas lineares de congruências: o teorema chinês do resto
Algebra 1
Os sistemas lineares
Os sistemas lineares mais simples de congruência são do tipo
(
x ≡ b (mod m)
(∗) .
x ≡ b (mod n)
Observação
Se mdc(m, n) = 1, temos que, nesse caso, M = mn e as soluções inteiras do
sistema (∗) são dadas por:
Exemplo 15
Resolva o sistema de congruência
(
x ≡ 2 (mod 5)
x ≡ 4 (mod 8)
Solução:
CEDERJ 44
Sistemas lineares de congruências: o teorema chinês do resto
AULA 18
x = 2 + 5y (4)
isto é,
x ≡ 12 (mod 40) .
Observação
Observe que foi importante, para a solução de congruência, em y, que
mdc(m, n) = 1 e daı́ então construı́mos a solução de congruência módulo
mn = 40, para o sistema dado.
(
x ≡ a (mod m)
Agora vamos mostrar que existe solução do sistema
x ≡ b (mod n)
quando mdc(m, n) = 1.
Teorema 1
Sejam m e n inteiros positivos tal que mdc(m, n) = 1. Então
(
x ≡ a (mod m)
(i) o sistema de congruência possui solução x0 com
x ≡ b (mod n)
0 ≤ x0 < mn
Observação
A solução x0 com 0 ≤ x0 < mn é a menor solução não negativa do sistema.
45 CEDERJ
Sistemas lineares de congruências: o teorema chinês do resto
Algebra 1
x = a + my (6)
my ≡ (b − a) (mod n) (7)
y = y0 + nk (8)
A solução particular a + my0 pode ser escolhida módulo mn, como um valor
x0 , com 0 ≤ x0 < mn, e teremos x ≡ x0 (mod mn), como todas as soluções
do sistema de congruência.
Exemplo 16
Vamos resolver agora um sistema linear de congruência com três equações.
“Resolva o seguinte”:
x≡1
(mod 3)
(∗) x≡2 (mod 5)
x≡3 (mod 14)
Solução:
A nossa estratégia poderia ser:
Primeiramente vamos resolver o sistema com as duas primeiras equações.
(
x ≡ 1 (mod 3)
(∗∗)
x ≡ 2 (mod 5)
Então temos:
x≡1 (mod 3) =⇒ x = 1 + 3y, y ∈ Z
CEDERJ 46
Sistemas lineares de congruências: o teorema chinês do resto
AULA 18
e
x = 1 + 3y ≡ 2 (mod 5) =⇒ 3y ≡ 1 (mod 5) .
Daı́ segue as soluções y ≡ 2 (mod 5) (verifique isto, como na atividade pro-
posta).
Assim, y = 2 + 5k, com k ∈ Z daı́,
Então
x ≡ 7 (mod 15) =⇒ x = 7 + 15y ,
com y ∈ Z. Substituindo em x ≡ 3 (mod 14) temos:
y0 = 1 × 10 = 10 e y ≡ 10 (mod 14)
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Sistemas lineares de congruências: o teorema chinês do resto
Algebra 1
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Sistemas lineares de congruências: o teorema chinês do resto
AULA 18
Atividades:
é 79.
49 CEDERJ
Sistemas lineares de congruências: o teorema chinês do resto
Algebra 1
com m = 89 × 95 × 97 × 98 × 99 e
X0 = 27.585.792 ,
com 0 ≤ X0 < m.
O valor de m é m = 7.956.949.770, e X0 é a menor solução positiva
0 < X0 < m. Como 0 < (3456) × (7982) < 108 < m temos que
Atividades:
CEDERJ 50
Sistemas lineares de congruências: o teorema chinês do resto
AULA 18
Resumo
Nesta aula apresentamos métodos que nos permite resolver alguns sis-
temas de congruências lineares, através do famoso teorema do resto chinês.
Esse teorema, conhecido há mais de dois mil anos, nos ajuda a fazer operações
com grandes números, através de adequadas congruências que se ajustam
dentro das hipóteses do teorema chinês dos restos.
51 CEDERJ
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I SBN 85 - 7648 - 329 - 7
9 788576 483298