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Abstract: This article aims to show the route of sertaneja music, from 1920
until the last decade of that century, and their obstacles, through different
cultural influences. Thus we can see that there was interference Latin American
cultural and Americans. Finally, we will see the sound inaugurated by two
guitarists, Ivan Vilela and Paulo Freire, who sought the sophistication of
sounding hillbilly; accordingly this text will be based on the dialectical, in
popular culture, absorption and containment established by some authors,
especially Stuart Hall. However, the history of sertaneja music in the twentieth
century was not a total encapsulation, however, observe that exposure to the
genre was reworked over time, presenting a constant dialogue with 'other
cultures', and finally explore and make possible certain hybridity that sound.
Key words: sertaneja music; popular culture; Ivan Vilela; Paulo Freire.
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CLÁUDIO ARMELIN MELON é Mestrando pelo programa de pós-graduação em História
da UFG. Membro do Grupo de Estudos Culturais da Unesp (GECu).
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Turunas Pernambucanos
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povo como um verdadeiro relicário. Música sertaneja ou interiorana?
(ORTIZ, 1993)
No início do século XX as músicas que
Dessa forma, o papel desempenhado não tinham como origem a então capital
pelos folcloristas tende a ajudar muito Rio de Janeiro já eram pré-classificadas
os historiadores, pois eles são como música sertaneja, pois
responsáveis por coletar, preservar e denominava-se sertão todo e qualquer
armazenar materiais importantíssimos lugar fora da “urbanizada” capital
para o uso científico do historiador. brasileira.
Com a música sertaneja não é diferente,
já que ela, inicialmente, estava Os Turunas Pernambucanos foram
vinculada ao meio rural, e nesse aspecto fundamentais para a saída de uma das
esse meio é visto com sinônimo de duplas que inaugurou o que iria se
atraso para a sociedade daquela época – tornar a música sertaneja do centro-sul
1920. Por fim, não podemos tratar a paulista, composto por Cipoal (viola),
música caipira, ou a música sertaneja, Sabiá (reco-reco), Jandaia (pandeiro),
como algo que seja folclórico, pois para Cobrinha (pandeiro), Sapequinha
eles a maneira de pensar, agir, sentir, (cavaquinho), Caxangá (violão),
não está influenciada pelos seus Jararaca (compositor, violão e voz) e
círculos, mas está abraçada pela Ratinho (saxofone). Essa sonoridade
modernidade, se transforma e participa desembarcava no Rio de Janeiro e
no campo dialético exposto acima. começava a conquistar um público
significativo, e com essa mescla de sons
Outro aspecto importante reside no rurais e urbanos, foi ganhando espaço
constante debate do conceito da música na capital e também dando uma maior
sertaneja. Os anos transformaram a visibilidade para esse novo gênero.
música sertaneja; e toda aquela (SOUZA, 2005) Contudo,
sonoridade do início do século foi posteriormente, Jararaca e Ratinho
amplamente difundida e substituída por separaram do grupo e formaram uma
novos instrumentos e musicalidades. dupla contando causos amparados de
Contextualmente, somos obrigados a ter certa forma pela musicalidade rural.
em mente de qual época é o termo Nesse fato podemos perceber que já
“música sertaneja”. Então, procuremos havia uma aceitação para a música
encontrar primeiramente o sentido da interiorana nos grandes centros. Mesmo
palavra e posteriormente, não menos sendo o Brasil pertencente a uma classe
importante, buscar a historicidade do de países agroexportadores e com
conceito para que o encaixemos influência do iluminismo europeu,
temporalmente. (KOSELLECK, 2006) nossa classe média buscava a
Resumidamente, o significado de construção da imagem brasileira como
música sertaneja do início do século XX forma de modernidade; e também o
não é o mesmo do século XXI. refugo na urbanização e nas grandes
Nesse sentido, será tratado o gênero construções, classificando o país como
proposto articulado à ideia de cultura atrasado, por não acompanhar a
popular na modernidade, mostrando os modernidade urbana europeia.
percursos e percalços que ela enfrentou (BERMAN, 1986)
ao longo do século passado. Essa música sertaneja do início do
século XX já dava mostra de influências
entre a urbanidade e a ruralidade, já que
esses artistas buscavam encaixar as suas
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sonoridades num elo entre esses dois seguinte, de 1917 a 1929. (SOUZA,
limites. Nesse sentido, o autor inglês 2005, p.83)
Raymond Williams traz uma nova A chegada do rádio no Brasil,
referência num pensamento entre campo principalmente na década de vinte, foi
e cidade, não apenas destacando o muito importante para a proliferação do
conflito, onde o sinônimo de gênero sertanejo. A sonoridade rural dos
modernidade é a cidade e o atraso estados de São Paulo, Goiás, Mato
estaria representado pelo rural, mas que Grosso do Sul, Paraná e Minas Gerais
juntos, num sentido dialético, os foi amplamente difundida e acabou
espaços seriam preenchidos, pois tomando para si o termo ‘sertanejo’. No
nenhuma das duas alternativas é entanto, quando o autor supracitado fala
completamente satisfatória, já que o de modernização da música brasileira,
campo e a modernidade dispõem de um já podemos falar das suas adaptações
problema: o primeiro é sinônimo de um para viabilizar suas gravações. A
feudalismo – repleto de tradições, onde chegada da música sertaneja nas
não há mobilidade social - e o gravadoras torna-se um marco, pois
capitalismo voraz que está disposto a algumas canções como catiras, foram
derrubar todas as barreiras para totalmente modificadas para ser
conquistar novos mercados. Nesse jogo, gravadas. Em suma, o catira –
iremos perceber a tomada da música subgênero da música sertaneja – que
sertaneja pelo centro-sul brasileiro. além da musicalidade, também detém
uma contribuição cênica, seria restrito a
essa gravação, já que apenas seria
possível a reprodução sonora e sendo
assim seria descaracterizada.
A tensão entre a contenção e a
resistência parece mais uma vez
apropriar-se desse gênero florescente,
quesito desejável para a modernidade.
Stuart Hall completa:
Se as formas de cultura popular
comercial disponibilizadas não são
puramente manipuladoras, é
Turma Cornélio Pires porque, junto com o falso apelo, a
redução de perspectiva, a
O centro-sul brasileiro toma posse da trivialização e o curto-circuito, há
também elementos de
música sertaneja.
reconhecimento e identificação,
As quase três primeiras décadas do algo que se assemelha a uma
século XX, marcam assim, um recriação de experiências e atitudes
princípio de esforço em definir, no reconhecíveis, as quais as pessoas
meio urbano, uma identidade respondem.” (HALL, 2009, p.239)
cultural nacional. Se a primeira
Nesse caso, o que podemos perceber
década e meia do século repetiu as
características culturais que com a música sertaneja já na década de
predominavam no século XIX, com vinte é que a apropriação de algumas
os ritmos europeus sendo dançados características viabilizou sua inserção
nos salões, a música brasileira passa no mercado, mesmo que este ainda seja
a se modernizar no período muito precoce e amador, dependente
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ainda, no setor cultural, de alguns Em suma, o surgimento da música
personagens patrocinadores com ideais, sertaneja nos aparelhos radiofônicos e
como é o caso de Cornélio Pires. O nas gravadoras foi um grande passo
autor Walter de Souza complementa para que o gênero iniciasse seu percurso
dizendo que “Cornélio Pires continua por todo o Brasil. Assim como Jararaca
levando adiante o projeto de efetivar a e Ratinho foram pertencentes a essa
transmigração da música folclórica do geração, Alvarenga e Ranchinho,
caipira para a música popular caipira.” Caçula e Mariano e Cornélio Pires –
(SOUZA, 2005, p.83) foram os grandes incentivadores e
propagadores dessa musicalidade. Esse
Tendo em vista essa observação do
cenário facilitou uma nova elaboração
autor, podemos reafirmar que a música
musical, não só no gênero caipira, mas
sertaneja ou então ainda, a música
também em diversas outras músicas
caipira foi, através de apropriações,
regionais. Pode-se perceber que a
‘transformada’ em música popular.
chegada das gravações elétricas foi
Todavia, “a apropriação tal como
responsável pelo incentivo de novas
entendemos visa uma história social dos
transformações de identidades sonoras,
usos e das interpretações, relacionados
sobretudo na música sertaneja.
às suas determinações fundamentais e
inscritos nas práticas específicas.”
(CHARTIER, 2002, p.68)
Além dessas apropriações, o sociólogo
José de Souza Martins atribui a
designação para a música folclórica
caipira aquela que ainda detém a
musicalidade rural conjuntamente com
apresentações corporais – danças e
sapateados – e em contrapartida essa
sonoridade rural passa a ser designada
como sertaneja assim que ela é gravada,
pois perde, para o sociólogo, toda a sua
essência, já que para ele não existe
música caipira sem a parte cênica.
(MARTINS, 1975).
Do Tião ao Zé Rico.
O Brasil, na década de sessenta, passa a
ter um forte desenvolvimento, tanto nos
meios de comunicação de massa, como
também no contexto econômico, sendo
que no final dessa mesma década, nosso
país consegue atingir um crescimento
de 10% ao ano. Consequentemente, a
música sertaneja toma grandes
proporções e alcança lugares que jamais
havia chegado. Com isso, surgem novos
personagens dos gêneros como: Tião
Carreiro e Pardinho e Milionário e José
Rico.
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Tomando essas duas duplas como base,
pode-se perceber que há uma grande
divergência entre as suas músicas, ou
seja, o hibridismo que impera no Tião
Carreiro e Pardinho é totalmente
distinto da musicalidade do Milionário e
José Rico.
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acima, passa a abrir um caminho para o eletrônicos (guitarra e contrabaixo),
desenvolvimento do ‘neosertanejo’ ou o rock, o rap, o funk, o reggae,
então sertanejo romântico que foi ainda estilos ‘pós-punk’, como o grunge e
mais aflorado pelos cantores da década o ‘hard rock’; e matrizes musicais
de 80 e 90. da cultura caipira, especialmente
moda-de-viola, catira, samba rural
paulista e jongo. (ZAN, 2004, p.5)
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mestres das redondezas. Quando Paulo Popular Brasileira, com o CD Espiral
Freire foi para o Vale do Urucuia, ele já do Tempo como melhor disco
tocava violão, guitarra e também instrumental do ano, entre outros.
estudava no Centro de Livre
Aprendizagem Musical1 dirigida pelo
Zimbo Trio.
Paulo Freire
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conseguiram alcançar os patamares de Ivan Vilela e Paulo Freire, porém,
vendas como os obtidos por Sérgio dentro de suas limitações, possui traços
Reis, Chitãozinho e Xororó, Milionário que pertencem às mesmas raízes, pois
e José Rico2, entre outros (ZAN, 2001, quando essas duas vertentes buscam
p.118). São, contudo, trabalhos fazer suas canções, escolhem o mesmo
importantes para entendermos a ponto de partida, mas com elaborações
sonoridade caipira, ainda que outra e influências totalmente diferentes,
sonoridade, não vinculada ao grande como foi dito acima: um escolhe a
mercado, que se produziu a partir da passagem pela pop music e outros
década de 1990. através de formações eruditas ou então
de outros gêneros.
Por fim, o que se percebe nos caminhos
seguidos pela música sertaneja, seja A cultura popular está submetida a um
influenciada por segmentos pop, ou jogo entre culturas dominantes e traz
então, por elementos da cultura erudita, assim aspectos e modificações ao longo
é que estão expostas pelo jogo dialético do tempo. Ela não fica inalterável e
da contensão/absorção. O gênero não inabalável. O mesmo, como vimos
ficou encapsulado ou então modificado nesse breve artigo, acontece com a
integralmente, mas apresentou novas música sertaneja que se modificou
formas vinculadas com novos muito desde a sua chegada aos grandes
elementos, não deixando de lado aquela centros com Cornélio Pires até a década
música do início do século XX. O de noventa com Chitãozinho e Xororó,
pensador jamaicano Stuart Hall diz que Ivan Vilela e Paulo Freire. Só assim,
“não existe uma ‘cultura popular’ buscando compreender esse jogo
íntegra autêntica e autônoma situada dialético entre a absorção de aspectos
fora do campo de força das relações de culturais dominantes e a contenção de
poder e de dominações culturais.” suas características, podemos começar a
(HALL, 2009, p.238) entender como é esse jogo ao que a
Assim para concluir sobre os percursos cultura popular está submetida.
da cultura popular, que serve também
para a música popular sertaneja, o autor
Referências
completa dizendo:
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido
Creio que há uma luta contínua e desmancha no ar: a aventura da modernidade.
necessariamente irregular e São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
desigual, por parte da cultura
dominante, no sentido de CANCLINI, N. G. Culturas Hibridas. São
desorganizar e reorganizar Paulo: EDUSP, 1998.
constantemente a cultura popular; CHARTIER, R. A Beira da Falésia: a história
para cercá-la e confinar suas entre incertezas e inquietudes. Porto Alegre: Ed.
definições e formas dentro de uma Universidade/UFRGS, 2002.
gama mais abrangente de formas
DE CERTAEAU, M & JULIA, D. A beleza do
dominantes. (HALL, 2009, p.239) morto: o conceito de cultura popular. In
A música de Chitãozinho e Xororó é REVEL, J. A Invenção da Sociedade. Lisboa:
Difel, 1989
muito diferente daquela escolhida por
HALL, S. Da diáspora. Identidades e
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Publicado em 2013-09-06
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