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STEGUN
RESUMO
Com base nos estudos teóricos de Piaget, Vygotsky, Wallon, Grossi, Teberosky e GEEMPA - Grupo
de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação de Porto Alegre/RS, entre outros, os
profissionais da Fundação Síndrome de Down, em Campinas/SP, realizam desde de 1994 uma
extensa pesquisa teórica e empírica sobre como os seus alunos, com síndrome de Down, aprendem
a escrever. Especificamente é esse assunto que trataremos no presente texto sobre a psicogênese
da língua escrita e o papel do educador nesse processo de construção pela criança. Salientamos
entretanto no decorrer do artigo, a importância do aprofundamento teórico, pelo educador
principalmente no que diz respeito às teorias que deram embasamento à psicogênese que
descreveremos no texto. Conhecer e compreender mais à fundo conceitos de Vygotsky, Wallon e
Piaget tornam-se imprescindíveis para que a didática baseada na descrição dos níveis da
psicogênese não se torne uma técnica vazia de significados. O texto irá abordar ainda algumas
reflexões sobre a inclusão social e o processo de aprendizagem dos alunos dentro
Construtivismo-Vygotskiano.
Palavras-chave: Alfabetização; Papel do educador; Aprendizagem; Síndrome de Down.
ABSTRACT
Based on studies of authors such as Piaget, Vygotsky, Wallon, Grossi, Teberosky and GEEMPA
(study group of education, methodology and research Porto Alegre - RS), among others, the Down
(1)
Fabiene C. Salun é pedagoga formada pela PUC-Campinas, Pedagoga do setor escolar e membro da equipe responsável
pelo Projeto Inclusão da Fundação Síndrome de Down - Campinas/SP;
(2)
Maria Cecília B. Stegun é pedagoga formada pela UNICAMP, mestranda em Psicologia da Educação pela FE-UNICAMP,
coordenadora do setor escolar da Fundação Síndrome de Down - Campinas/SP
(3)
Fundação Síndrome de Down é uma instituição particular sem fins lucrativos, que oferece assessoria especializada à
crianças e jovens com Síndrome de Down, bem como as suas famílias, escolas e empresas, sempre visando a inclusão
social e a construção de uma escola aberta à diversidade com ensino de qualidade para todas as crianças.
Syndrome professionals developed since 1994 theoretical and practical research about learning
and reading processes of Down Syndrome students. This article discusses several issues: children‘s
writing processes and teacher strategies related to their theoretical approaches (especially those
theories discussed in this text). Concepts of Vygotsky, Wallon and Piaget are essential to understanding
the process of construction of reading and writing. We also include references about social inclusion
and children‘s learning processes within the theoretical frameworks of Piaget and Vygotsky.
Key words: Literacy; Education; Learning processes; Down Syndrome.
Nos últimos anos, têm surgido muitos Metodologia de Pesquisa e Ação de Porto Alegre/
estudos e debates em torno de uma educação RS - cujos trabalhos têm procurado contribuir
para o século XXI. para a melhoria da qualidade do ensino em nosso
Autores como Perrenoud (1999, 1999b, país. O GEEMPA traz reflexões que
2000), Vergnaud (1990), Sastre & Moreno (1999), complementam a teoria de Ferreiro e Teberosky.
entre outros, muito têm contribuído com essa Na verdade, há um detalhamento sobre as mais
educação para a nova era, cujo objetivo visa uma recentes descobertas do processo de pensamen-
educação que busca respeitar e compreender a to expresso pelas crianças (e também adultos
diversidade humana, e que assim, inegavelmente, analfabetos), ao construírem sua linguagem
segue os princípios da inclusão social. Assuntos escrita.
como a construção de competências, campos Com fundamentos na teoria construtivista
conceituais e temas transversais em educação de Piaget, o GEEMPA também revisita os
são, dessa forma, assuntos da atualidade, conceitos das teorias de Vygotsky e Wallon,
imprescindíveis na prática pedagógica do associados ainda a um conjunto de conceitos da
educador. psicanálise, da antropologia, da sociologia e da
Entretanto, tão importante quanto tais filosofia contemporânea, a fim de explicitar os
temas é, ainda e sempre, o conhecimento do fenômenos da aprendizagem.
desenvolvimento humano, o conhecimento sobre Com base nesses estudos, os profissionais
como a criança pensa, e sobre como os conceitos da Fundação Síndrome de Down, em Campinas,
são construídos. É assim que se torna também realizam, desde de 1994, uma extensa pesquisa
fundamental ao educador o estudo de teorias que teórica e empírica sobre como os seus alunos,
apóiem e subsidiem a prática do dia a dia. com síndrome de Down, aprendem a escrever.
Perguntas estavam sempre presentes: Poderiam
É especificamente sobre esse assunto que
trataremos no presente texto: a psicogênese da todos ser alfabetizados? Passariam eles pelas
mesmas etapas descritas por Ferreiro, Teberosky
língua escrita e o papel do educador nesse
processo de construção pela criança. Nesse e GEEMPA? Adaptações seriam necessárias?
sentido, é fundamental destacar os estudos de Como viabilizar uma aprendizagem que fosse
Ferreiro & Teberosky (1991) que, a partir da teoria mais rápida e ao mesmo tempo eficaz?
construtivista de Jean Piaget, descreveram Foi então, a partir de muitos estudos e
como as crianças constroem a escrita e, reflexões com a equipe sobre esses aspectos,
com isso, trouxeram à luz imensas que hoje a nossa grande tarefa não é só a de
contribuições aos educadores envolvidos no ensinar conceitos sistematicamente
processo de alfabetização de nossas crianças, organizados, mas fazer com que tais conceitos
jovens e adultos. Nesse sentido, um grupo de se relacionem entre si, relacionem-se com os
estudos brasileiro também merece destaque: o aspectos da vida dos alunos e, sobretudo,
GEEMPA - Grupo de Estudos sobre Educação, respeitem e celebrem a diversidade humana a
partir da heterogeneidade existente nas salas de da vida diária. Para isso, é necessário que se
aula. tenha muita clareza na análise das
Nesta direção, é importante salientar que potencialidades de cada aluno, bem como nas
para aceitar o saber, o conhecer, o aprender é competências que necessitam ser trabalhadas/
construídas, para que todo conteúdo aprendido
fundamental desejar esse saber, e cabe ao
seja de fato funcionalmente aplicado à vida. Para
educador um papel importante no despertar desse
isso, também, é imprescindível que os conceitos
desejo em seus alunos.
trabalhados, sejam plenos de sentido e significado
Para que esse trabalho seja efetivamente a cada um, indo ao encontro de seus anseios,
de qualidade, é fundamental contarmos também desejos e necessidades.
com profissionais de outras áreas, atuando
Dentro ainda das atribuições do educador,
interdisciplinarmente, cada qual com seus
estão também aspectos que precisam ser
objetivos específicos, mas sempre visando o pensados, principalmente na elaboração do
desenvolvimento do ser humano como um todo. planejamento pedagógico. São eles:
Desta forma, as diferentes áreas de conhecimento
a) Avaliação: Avaliar é acompanhar cada
se completam e possibilitam o desenvolvimento
aluno, no que se refere aos aspectos de
do aluno em seus diversos aspectos. socialização, cooperação, independên-
Nesse trabalho conjugamos três atribuições cia, alfabetização, matemática e outros;
primordiais, entre tantas outras aos educadores b) Processo de desenvolvimento:
confiadas: Acompanhar a evolução e desempenho
1. A Socialização: fazer da escola o lugar de cada aluno;
das aprendizagens e do estabelecimento de c) Esquema de pensamento do aluno:
relações com a vida. O contrato pedagógico no Buscar sempre descobrir e analisar os
centro das aulas está correlacionado ao contrato esquemas de pensamento do aluno,
social, e socializar é para o aluno integrar normas para que possa planejar intervenções no
e valores, condutas de respeito, de sentido de fazê-lo avançar dentro do
responsabilidade, de solidariedade, de campo conceitual da alfabetização;
cooperação, de visão crítica dos funcionamentos d) Registro: Registrar e realizar
e das relações no interior da comunidade escolar. observações sistemáticas do processo
de aprendizagem de cada aluno é
2. O saber e as regras dos alunos:
fundamental para a reflexão da prática
considerar simultaneamente essas duas
pedagógica e para o desenvolvimento do
questões, significa criar regras nas aulas de aluno;
maneira que a construção do conhecimento pelo
e) Planejamento individual: Desenvolver
aluno se dê através do conflito, do desafio, do
estratégias individuais de intervenção
desejo, do mergulho no “caos”, do debate de
didático-pedagógica, visando o
idéias e do levantamento de hipóteses. Esse desenvolvimento dos alunos na
vínculo - regra e saber - constitui as duas faces construção de seu conhecimento e,
de um ensino preocupado com a educação e sobretudo, propiciando condições para
sobretudo com a inclusão. que os mesmos trilhem seu processo
3. O saber e a vida: vincular os saberes de aprendizagem de maneira
escolares à vida de cada aluno é função primordial independente e autônoma;
do educador, pois, de nada adianta aprender f) Formação continuada: Para que o
conteúdos inúteis para a resolução dos problemas trabalho seja possível e realizado com
desafiador e bastante conflituoso. Tão ou mais Essa hipótese ocorre aos alunos, provavelmente
desafiador é superar o conflito que o permitirá porque a maioria das sílabas da nossa escrita
passar de Alfabético para Alfabetizado, ou melhor, são assim constituídas, mas também pode haver
descobrir e encontrar formas de lidar com o fato influências - sobretudo para crianças e/ou adultos
de que a escrita não é simplesmente uma analfabetos - vindos daquelas metodologias
transcrição da fala.
convencionais, com as quais tiveram contatos
Quando o aluno se depara com esta última prévios e que trabalham sucessivamente as
situação, ele já tem em seu arquivo sobre a língua famílias silábicas do tipo uma consoante e uma
escrita muito mais elementos do que tinha quando vogal ( BA, BE, BI, BO, BU....etc).
era Silábico. Sabemos que já construiu e levantou
inúmeras hipóteses sobre leitura e escrita. De A constatação da incompletude desta
alguma forma, tais hipóteses estão inter- hipótese marca a passagem para o nível
relacionadas, pois não é possível desmembrar alfabetizado 2.
essas coisas todas que fazem parte do cotidiano
dos usuários da língua escrita. ALFABETIZADO 2 (A2)
Períodos
Para que possamos entender como esses linear e fixa em que as coisas têm que ser feitas.
períodos aparecem em cada um dos níveis, Os alunos não aprendem em partes, ou seja,
faremos uma breve explicitação sobre cada um: uma coisa depois da outra, do mais fácil ao mais
1º LOGOGRÁFICO: Faz parte de uma complexo. Pelo contrário, aprendem através do
etapa em que a escrita toma a palavra estabelecimento de relações entre tudo que faz
como um todo, sem nenhuma parte do que chamamos de campo conceitual da
segmentação. alfabetização.