Você está na página 1de 6

1

EFEITO DO INSUMO DE CALOR NA MICROESTRUTURA DA SOLDA DO


AÇO NTU- SAR50 PELO PROCESSO A ARCO SUBMERSO

Marcelo Alves Fonseca


Professor dos Curso de Engenharia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais / Unileste-MG; Engenheiro
Metalurgista (UFMG); Mestre em Engenharia Mecânica (UFMG).
José Carlos Lacerda
Coordenador e Professor do Curso de Engenharia Mecânica do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais / Unileste-
MG; Eng. Mecânico (UFMG); Especialista e Mestrando em Engenharia de Materiais (UFOP).
Camila Silva Medeiros
Graduando do Curso de Engenharia de Materiais do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais / Unileste-MG
Luciano Garcia de Assis
Graduando do Curso de Engenharia de Materiais do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais / Unileste-MG
Tiago Salzmann Vilela
Graduando do Curso de Engenharia de Materiais do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais / Unileste-MG
Rodrigo Braga Ceglias
Graduando do Curso de Engenharia de Materiais do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais / Unileste-MG

RESUMO
Neste presente trabalho são apresentados e analisados resultados obtidos do estudo dos efeitos macro e
microestruturais do insumo de calor na soldagem de um aço estrutural de alta resistEncia mecânica pelo
processo a arco submerso. Foram realizados ensaios metalográficos a partir das amostras das chapas
soldadas de topo obtidas com cinco diferentes valores de aporte de calor. As microestruturas obtidas da
zona de fusão e da zona termicamente afetada evidenciaram marcantes transformações estruturais
decorrentes das diferentes condições do processo. As amostras soldadas com mais baixos valores de
insumo de calor apresentaram maior presença de constituintes microestruturais que resultam em melhores
propriedades mecânicas para as soldas obtidas.
Palavras-chave: microestruturas, soldas, aços estruturais.

ABSTRACT
In this present work they are presented and analyzed obtained results of the study of the effects
macrostructurals and microstructurals of the heat input in the welding of a steel structural of high
mechanical resistant for the process arc submerged. Metalographics tests were accomplished starting from
the samples of the top welds obtained with five different values of heat input. The microstructures
obtained of the fusion zones and of the zone affected they evidenced outstanding current structural
transformations of the different conditions of the process. The welded samples with lower values of heat
input presented larger presence of constituentt microstructurals that result in better mechanical properties
for the welds obtained .

Key-words: microstructures, welds, structurals steels


2

OBJETIVOS
• Caracterizar as principais regiões afetadas pelo processo de soldagem;

• Caracterizar o comportamento de cada região considerando diferentes insumos de calor;

• Caracterizar em termos de microestrutura as alterações ocorridas nas regiões com os respectivos


insumos de calor.

INTRODUÇÃO
Dos procedimentos que utilizam calor, a soldagem por fusão é o método mais utilizado na

união de ligas metálicas. Entretanto, esta implica na aplicação de severos ciclos térmicos que leva a
alterações microestruturais do metal base com conseqüente variação de propriedades. A soldabilidade é
uma propriedade tecnológica que representa a maior ou menor habilidade do metal base em suportar tais
condições, obtendo-se um produto capaz de atender às especificações da qualidade requerida. No
desenvolvimento e melhoria de desempenho de materiais para aplicações estruturais, a soldabilidade
ocupa lugar de destaque dentre os requisitos do cliente e das especificações técnicas do projeto. Por
exemplo, o desenvolvimento dos aços microligados deve-se em grande parte a sua favorável
soldabilidade, além de suas propriedades mecânicas adequadas.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Metalurgia da Soldagem

No processo de soldagem, são formadas diferentes regiões onde o ciclo térmico exerce seu efeito. A
figura a seguir demonstra cada uma das regiões.

Figura 1 – Macroestrutura típica da solda de um aço. (1) Região de poça fundida; (2) Zona Termicamente Afetada
(ZTA); (3) Metal Base.

A Região de Poça Fundida ou zona de fusão (ZF) reproduz em pequena escala todos os fenômenos que
normalmente ocorrem durante a solidificação de uma liga metálica, como nucleação e crecimento de
cristais, formação de estruturas de grãos colunares ou equiaxiais, segregação e porosidades . A Zona
Termicamente Afetada (ZTA) é a região em que normalmente ocorrem transformações no estado sólido
durante a soldagem. No período de permanência em alta temperatura na soldagem dos aços, nessa zona
ocrrem transformações de fase e portanto mudanças microestrurais marcantes. Pode ocorrer fenômenos
críticos como transformações martensíticas, crescimento de grãos e precipitações de carbonetos duros.
Durante o resfriamento, ocorrem transformações no estado sólido que dependem essencialmente da
3

composição do aço e dos parâmetros do processo de soldagem, além das dimensões do material. A
presença de martensita na zona termicamente afetada deve ser evitada, devido a fragilidade desta
estrutura. O crescimento de grão deve ser minimizado, devido a redução na resistência mecânica e
tenacidade.

Conceito de Aporte térmico (H)

O aporte térmico, ou insumo de calor quantifica a energia gerada pelo processo de soldagem. Sua equação
é:

Onde V é a voltagem, i é a corrente e v é a velocidade de avanço do eletrodo. O método de soldagem


utilizado é o arco submerso, sendo sua eficiência aproximadamente 1, ou seja a máxima eficiência. A
questão do aporte térmico é uma das mais importantes na adequação ao material escolhido ao processo e
aos parâmetros de soldagem. A TAB.1 mostra as faixas de insumo calor para os principais processos de
soldagem por fusão e indicando a adequação dos processos ao tipo de material.

Tabela 1 – Principais processos de soldagem: aporte térmico e aplicações. (Adaptado de Ferrante,

2002)

Processo H (kJ/mm) Metais e Ligas

Para uma determinada espessura e condutividade térmica da chapa, quanto maior o insumo de calor,
menor a taxa de resfriamento da junta.O aporte de calor influencia diretamente o tempo de resfriamento e
portanto a microestrutura da solda. A figura 2 apresenta a curva de transformação sob resfriamento
contínuo (CCT) de um aço microligado superposto com curvas de resfriamento correspondentes a
diferentes valores de insumo de calor na solda. Os constituintes estruturais normalmente presentes na
região de solda de um aço microligado de baixo carbono são: ferrita pro-eutetóide, ferrita acicular, bainita
ou ferrita em ripas , constituintes lamelares e ferrita de Widmanstatten.
4

Figura 2 - Diagrama CCT de um aço microligado ao nióbio e curvas de resfriamento para diversos valores
de aporte térmico, conforme Harris e Farrar citado por Ferrante, (2002).

Efeito do aporte térmico nas propriedades mecânicas da solda

A ZTA é a região mais crítica de uma junta soldada. Como dito anteriormente, o ciclo térmico pode criar
condições para formação de martensita ou estruturas grosseiras. A situação torna-se mais crítica com o
aumento do teor de carbono e de elementos de liga do metal base, em outras palavras, com maior
temperabilidade do aço. Na soldagem do aços, há requisitos claramente incompatíveis, como: alta
produtividade que exige o mais alto aporte térmico possível, porém nesta condição, promove-se maior
tendência de crescimento de grão e formação de outras estruturas grosseiras, de baixas propriedades
mecânicas.

METODOLOGIA DA PESQUISA
Neste trabalho foram executadas soldas de topo de cinco amostras de chapas de 16 mm de espessura do
aço estrutural NTU- SAR 50.Empregou-se cinco valores crescentes de insumo de calor pelo processo a
arco submerso, usando arame BE-21. Os valores de aporte de calor empregados estão apresentados na
TAB. 2.
5

Tabela 2- Valores de aporte de calor empregados nos experimentos :

Foram retirados os corpos de provas segundo a seção transversal de cada chapa correspondente para
preparação e análise macrográfica e micrográfica. As macroestruturas foram obtidas com ataque químico
com o reativo de iodo sublimado a 10%. em água após um ataque preliminar com persulfato de amônia a
10 %. As microestruturas foram obtidas com ataque químico com o reativo de ácido nítrico a 3% em
álcool (nital ). Posteriormente os corpos de prova foram fotografados e analisados as características
macroestruturais e microestruturais obtidas da zona termicamente afetadas e da zona de fusão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ensaios macrográficos

Observou-se, em todas as amostras após ataque químico, as regiões bem distintas do etal

base, da zona de fusão e da zona termicamente afetada, conforme apresentadas nas macrografias no
Anexo A. Verificou-se com o aumento do insumo de calor, um incremento progressivo da largura média
da zona termicamente afetada e apresentando acréscimos da área da zona de fusão no cordão de solda.
Maior profundidade de penetração do cordão de solda foi verificado com o aumento do aporte térmico,
associado ao emprego de valores crescentes de amperagem. Não foram observados trincas, nem mesmo
outras descontinuidades grosseiras possíveis de serem detectados por ensaios a nível macroscópico.

Ensaios micrográficos

As microestruturas obtidas dos corpos de prova 6,7,8, 9,10 foram documentadas nos anexos B, C, D, E, e
F respectivamente.

Microestrutura da zona de fusão

Observou-se uma participação menor de ferrita pró-eutetóide e maior presença de ferrita acicular e mais
fina nos corpos de prova correspondentes às amostras de mais baixo insumo de calor. (Amostras 6, 7 e 8).
Constituintes lamelares também foram detectados nestes corpos de provas, porem mais refinados.
Entretanto, detectou-se uma maior presença de ferrita pró-eutetóide e mais grosseira em detrimento de
pouca ferrita acicular nas amostras de mais alto insumo de calor(Amostras 9 e 10). Estes corpos de provas
também apresentaram constituintes lamelares mais grosseiros em comparação com os corpos de prova de
mais baixo aporte térmico .
6

Microestrutura da zona termicamente afetada

Nas microestruturas obtidas da zona termicamente afetada dos corpos de provas de maior aporte
térmico(9 e 10), foram detectadas presença de estruturas mais grosseiras. Enquanto, por outro lado, nos
corpos de prova de mais baixo insumo de calor(7, 8 e 9), foram detectadas presença de estruturas mais
refinadas . Não foram observados nestes corpos de prova presença considerável de martensita com as
microestruturas obtidas . Este fato pode ser explicado pelo baixo valor de carbono equivalente do aço
NTU-SAR 50. Trata-se de um aço microligado de alta resistência com baixo teor de carbono.

CONCLUSÃO
Com o aumento do insumo de calor na soldagem por arco submerso do aço NTU SAR-50 , no intervalo
pesquisado entre 30 a 36 KJ/cm , verificou-se uma maior presença de ferrita proeutetóide, de mais baixas
propriedades mecânicas, em detrimento da presença de ferrita acicular.

Com menores valores de insumo de calor, correspondentes ao intervalo entre pesquisado entre 17 a 23
KJ/cm , verificou-se maior presença de ferrita acicular , que são constituintes que conferem melhores
propriedades mecânicas ajunta soldada, ou seja elevada resistência mecânica e alta tenacidade .

BIBLIOGRAFIA
WELDING handbook. 9.ed: Miami:. American Welding Society, 2001. v.1 Welding science and
technology

COUTINHO, C.B. Materiais metálicos para engenharia. Belo Horizonte: UFMG/Fundação Cristiano
Ottoni, 1992. 405p.

CARY, H. Modern Welding technology, 3.ed. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1994. 736 p.

CLARK, D., VARNEY,W. Metallurgy for engineers. 2.ed. New York: Van Nostrand, 1962.

CHIAVERINI, V. Tecnologia mecânica. São Paulo: Edgard Blucher, 1986. v.2.

FERRANTE, M. Seleção de materiais. São Carlos, SP, UFSCAR, 2002.

MARQUES, P.V..et al. Tecnologia da soldagem. Belo Horizonte: ESAB, 1991.

MESSLER, R.W. Principles of Welding. New York, Willey-Inter Science, 1999.

MODENESI, P. et al. Curso de metalurgia da soldagem. Belo Horizonte: ESAB, 1995.

TANIGUCHI, C., OKUMURA T. Engenharia da soldagem e aplicações. Rio de Janeiro: LTC, 1982.

WAINER, E. Soldagem–processos e metalurgia. São Paulo: Edgard Blucher, 1992.

Você também pode gostar