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A PESQUISA QUALITATIVA Enfoques epistemoldgicos e metodoldgicos Jean Poupart Jean-Pierre Deslauriers Lionel-H.Groulx Anne Laperriére Robert Mayer Alvaro P. Pires 4° Edigao GY eorT0R VOZES Sobre algumas questées epistemoldgicas de uma metodologia geral para as ciéncias sociais" Atwaro P. Pires ‘As clenctas da natureza e as ciencias sociais atravessam um pertodo de transi ‘20 importante, no qual a concepcao classica de ciencia, dominante ha varios sécu- Tos, € posta em questao, e origina esforgos renovadas de reconstrucao e “desdog matizacao” (SANTOS, 1989: 17-32). As revisoes eriticas ocorrem em varias areas € podem se estender em diferentes direcoes, F, portanto, muito dificil tratar de me- todologia, levando em conta todos esses debates, Por exemplo, no plano epistemologico, alguns fildsofos reconhecidos contes teresse mesmo de atribuira cieneta o objetivo de descobrir a verdade sobre ‘© mundo empirico. Segundo uum certo ponto de vista, dever-se-ia ate abandonar esse debate que visa determinar se nossa maneira de pensar “entra, ow mio, em contato” coma realidade objetiva. Em ou nao de as palavras, argumenta-se que a cient ia buscar confrontar o mundo com 0 conhecimento que temas dele; mas ela devera, isto sim, perguntar se a imagem que temos dele € util para resistir a0 meio, porém de uma maneira que nos faca ganhar tambem no sentido intersubjet\- vo, em criatividade, solidariedade e capacidade de escuta em relacao a todos aqueles aquelas que sofrem, Defencde-se que 0 “desejo de objetividade” deve ceder seu lu gar a0 “desejo de solidariedade” No momento do nascimento das ciéncias sociais, no século XIX, na das gran des preocupacdes era neutralizar 0 maximo possivel os interesses politicos eeticos do analista, de modo a atingir mais facilmente a realidade objetiva ou a verdade + Agraleco imensamente a Fernando Acosta, Jocelyne Dovion, Gilles Houle, Colette Parent ¢ Jean Poupan., pelos comentarios critics a est ext. O presente estido fas parte de tim projeto de cqipe sulencionado pelo Conselho Quebequense da Pesquisa Social (COR), 1. As expressoes so de Rory (194 35), que €um dos grandes filsofosamericanos que defende essa ‘ese, que ele denomnina “antrrepresentaconalisia’. E assim que ele designa interpreiagas quem ugar de ver no conecimento (producido pels ciencis da natureza) “a busca de uma visto exata do sal, ve nele mais aquisigao de habitos de acdo permitindo enfrentar a realidad” (1994: 7) Chao “lencto, aqui, para ofato de que essa concepea0 se articula explictamente com wa eica social, Retomas-se. asim, um ajeivacstabeecd nas cine da natreza, ay te eons mesa lencas peer nos dizer que 0 mals importance vcrscam um onfgeimenionevtro da realidad objea, mus, acon dlr um conhecimento, certamente util, mas explictamente orien lo poe iojtico an sida, a harmonineacriavidae se ty val cme problema; agora, soba condicto de ser eucamente bem orientado, eee say para a ciéncia we cong Um outro exemplo: de um ponto de vista metodologico, contesta se a Feyerabend (1975: 332) argumenton que “a ideia de queaciencia pode rd ese onganizada segundo regrasfixas € universais€, ao mesmo tempo, utopica ios. Eae petnicios,peneipalmente porque essa tentatva de impor rege custas de nossa bumanidade, ¢ ela “torna nossa ciencia menos hess Imeng adaptavel e mais dogmatica” (1975: 332). Enfim, diz ele, “todas as meted i lologias tem seus limites, € a una ‘egra’ que permanece e: “Tudo ¢ bom” (1975, 33 Ve-se bem o que esa reviravlta prods de interessante e de problematic, € mem claro qu e preciso desdogmatizar a metodologiae estimulara eran dade, ¢ pouco provavel que a tese do “tudo ¢ bom”, tomada literalinente,seja cunda para a pratica da pesquisa, Nao ha duvida de que se semelhante tse loxg confirmada, ela daria um golpe mortal em toda obra ou curso sobre metodologa Porem, mais fundamentalmente, a questao reside em saber se um relativismo en temico radical constitai um objetivo desejavel, ou se, ao contratio, € preciso bus car uma nova forma de “normatividade epistemologica” geral, eapaz de consid, rar, simultaneamente, as virudes do relativismo e a heterogeneidade e complex dade do mundo social (HOULE & RAMOGNINO, 1993: 6). Tomando-se a distin cao de Houle e Ramognino, pode-se dizer que, para fugir as regras de construgia tecnica dos dados e, ainda assim, construir satisfatoriamente o objeto de uma pes. quisa, € preciso, usualmente, ter feito antes a experiéncia, A liberdade criadom quanto as regras de metodo nao se obtém por via aniirquica: ela se domestica na propria pritica da pesquisa De igual modo, parece evidente ser preciso repensar o lugar positive da ética,¢, mesmo, do viés, na propria producao do conhecimento cientifico, e tambem que © simples desejo de objetividade ¢ amplamente problematico, sobretudo quando esta busca de objetividade ¢ concebida como devendlo ser “neutra em relagao a0s valores® (value freedom). Em contrapartida, ¢ menos claro que as ciencias sociais- tendo em conta o tipo de descobertas que ela faz — possam se privar completame- te de uma busca da verdade no mundo empirico. Efetivamente, no curso de sut historia, eas constataram por si mesmas que a questao do vies, da solidariedade, ou do humanismo, ¢ bastante complexa, Hoje, dispomos le uma infinidade de exemplos em que a tomada de posicao explicita contribuiu para uma maior objet “ AL eae lo a experiencia de vidade nas ciencias sociais. Certamente, continuamos prenogdes que prejudicam nao somente a objetividade, mas também uma maior dee de humanismo, a ques- colidariedade, No que se refere ao desejo de solidari ma maneira (FOUCAULT, 1984). Pode-se evocar wr transformacdes tao se coloca tristemente dam hummanismo e a solidariedade (do grupo), tanto para reivindi mais interessantes pata todo mundo, quanto para justficara guerra, pena de morte fou medidas repressivas em relagao a um outro diminuido. As proprias instituicdes Sociais querem sempre nos fazer crer que elas funcionam dle man pavel e que nao se pode prescindir delas, em sua forma atual. Sob este ponto de vista, substituir simplesmente 0 “desejo de objetividade” pelo “desejo de solidariedade”, em termos do conhecimento cientifico nas ciéncias sociais, nao € tranquilizador. Se as ciencias sociais nao podem se abster de uma reflexao ética, também nao podem relegar a busca da verdade out do que acontece realmente (BOUDON, 1986), Enfim, nesse periodo de transicao, em que estamos repensando nossas posi «des € nossa lingagem conceitual, dois outros problemas emergem. O primeiro concerne a dificuldade de comunicacao inerente a redefinicao de alguns conceites, ceyja aceitacao ainda é bastante difundida, porem julgada inapropriada, O segundo se refere ao perigo de incoerencia, ja que ¢ virtualmente impossivel modificar de tuma so vez nossa maneira de pensar a metodologia, Nessas condigdes, deve-se cor- rer risco de expor ideias que tendem, ainda, a uma maior coerencia, Uma obra coletiva acentua tais dificuldades, devido a variedade das posicoes ¢ das areas de expertise, € também da trajetoria de cada membro da equipe. Como dizia Walt Whitman frente ao perigo das contradigdes: “Eu me contradigo? Pois bem, eu me conttadigo!” (apad ECO, 1985; 13). Este gracejo pode, aqui, servir de advertencia oleitor deve esperar encontrar contradigdes, Elas sao novos problemas a resolver. Meu objetivo, neste artigo, € duplo. De um lado, pretendo expor algumas estoes ¢ debates metodologicos contemporaneos nas ciencias sociais, com a fir lade de contribuir para o seu esclarecimento, Os pontos escolhidos tange: clam 0s critérios de cientificidade, as nogdes de objetividade e de objeto construt do, como também as relagdes entre a ciéncia, o Senso comum, a ética ea agao. A pes- ‘quisa qualitativa foi envolvida plenamente em todos esses debates. A elucidacao de certos aspectos desses debates tambem me permitira pontuar devidamente a ma- neira pela qual ainda hoje € caracterizada a pesquisa qualitativa, De outro lado, eu Pertenco ao grupo daqueles e daquelas que acreditam que € possivel ¢ necessario {er ou construir uma concepcao geral da metodologia, nas ciéncias sociais, a qual rnjo seja nem dogmitica, nem reducionista (em beneficio do quantitative ou do qualitativo), ¢ tampouco inteiramente relativista. Tambem penso, como Houle € Ramognino (1993: 5-6), que, ao menos no plano epistemologico ¢ metodol6gico, € possivel abordar e buscar uma certa “normatividade”, um certo “acumulo de co- hecimentos”, assim como empreender uma revalorizacdo de certos aspectos do senso comum, out seja, criar um novo espaco para o pensamento teorico-empirico. situar essas quest6es, cabe lembrar, brevemente, algun: Brands, t Para melhor a qucenvolitento epistemologico ¢ institucional das clncias soc ‘0 desenvolvimento das ciencias sociais ts cienciassocias sto um produto do mundo moderno e seu desem Voli seineere no contexto de um processo evolutivo de especializacao e de anyon 2 cae ee vera desde o século XVI 1, de desenvolver um conhecimean Sstematico do rea, valido empiticamente, de qualquer maneira” (COM, ef over 8) Ease projetoganhou o nome de sciencia (do latim, “saber” [p.§] Ue goua se constituir como tala partir do século XVI, introduzindo uma Prime sretoenireo campo da ‘cincia"€o dos outros saberes, Parece que as cine fits emergem lentamente, portanto, soba forma de uma economia politica dade que, no inicio, a ciéncia foi assimilada as ciéncias naturais e o campo dos {ros saberes permanece vago, se bem qute nao se chegue mesmo a concordarsepe ‘seu nome, designando-o, entdo, por “filosofia”, “artes”, “humanidades”, “lett elas letra”, etc. (P. 12). C.P. Snow chamara, mais tarde, esses dots sistemaey pensamento de “as duas culturas” (p. 8-9), = Notemos, de inicio, que essa primeira distincao separava a ciencia da nao cig «ia apontando 0 conhecimento cientifico como um sistema independente. Neg. sentido, pretendia-se “desenvolver um conhecimento ‘objetivo’ da ‘realidade’ com, hhase em descobertas empiricas (por oposicao as ‘especulacdes')” (COM. GULR 1096: 19), e contrariamente a todo conhecimento dito a priori, ou as pré-nocies em. sentido amplo. Em seguida, ¢ preciso atentar para o fato de que essa dlistingao nig tinha, no inicio, uma conotacao pejorativa, nem hierarquica. Tratava-se de dois campos aliados, separados, porém iguais (p. 11). Por fim, lembremos que as cien- ccias da natureza deram o tom a essa primeira distingao, em virtude das primeins. imagens que elas forjaram de si mesmas e do mundo. O sucesso dessa empreitads valera paras cincias naturais- tal como els eram percebidas nesse momento=9 titulo de modelo ideal da ciéncia. As ciéncias sociais nascerao no rastro de uma segunda distingao. Elas apare- ‘cem de modo mais hesitante, sobretudo no interior desse dominio que se denomti- nou de “filosofia” ou “letras”. Tudo se passa como se tentassem criar um novo es Paco entre “ciencias (naturais)” e “filosofia”, ou, ainda, como uma tentativa dene ‘mear e de impulsionar explicitamente as ciéncias sociais no interior do campo di Clin ss nov tbr social procure, por sua vez, dstingur-se dos sberes [9 n 2. Pargum excelente resumo sobre ssa questo, ef-orelatorio da d design Sa ansetme sobre esa questo, co relatario da Comissd Gulbenkian (1090) oes faba rma abrevids de “com, Gull” Retomo vremen a els ee 10, 0 séeulo XVIN constitui, nesse sentido, um pertodo de transici? lubitavelmente, a emergencia de sofico ¢ religio o ade queasin- salen importante, em que se asst, nd sal acid una exigtete talc Ns srs.ao mundo emprce sto mesmo sa tealizacio efeive 2 ‘ou completamente. Ao final desse Pro- nento €am- formaco dfcatidas em reac seats empiricas ainda no se concrtic “ ais emergem, no século XIX, mas seu reconhecim izerexatamente se elas pertencem ao mundo das ciencias Na smo uma especie de"terceira cultura”, sita- pressio ulterior de piguo. Nao se sabe di turais, ow se elas devem ser vistas co tentre as cigncias (da natureza) ea literatura, conforme a ex ‘ (Wolf Lepenies (COM. GULB., 1996; 19). Seja como for, a demarcacio entre 28 \eratura se opera pela adocao de um projeto semelhante ao das .atico do real, valido empi- cienciassociais ea lit da Co- eneias:“desenvolver umm conhecimento secular sistem. Gleamente, de qualquer maneira” (p. 8, 94-95), Para retomar as propostas reatjo Gulbenkian (p. 17), pode-se dizer que as ciéncias (naturais ou sociais) se ijrmaram “como a descoberta da realidade objetiva”, pelo recurso a métodos que avliaram 0 pesquisador a sair parcialmente de seu proprio espirito. O pesquisador icias sociais devia poder se distinguir dos pensadores, dando conta de suas ‘a filosofia foi rebaixada a uma posicao, de das ciéni aram, se- feflexoes. Nessa representacio do saber, erta forma, parasitaria em relacao a ciéncia, ¢ “os filosofos se transforma 1o uma formula celebre, em ‘especialistas das generalidades” (p. 17) Jesse processo global, a historia acompanhou as ciéncias sociais, introduzin- do, por sua vez, uma distingao entre a “historia” enquanto geschichte ~ 0 que real- mente aconteceu’” (wie es cingentlish gewesen) — as hagiografias, fiegdes, historias exageradas, etc, (COM. GULB., 1996: 15). Assim, conforme aponta 0 relat6rio da ‘Comissao Gulbenkian: “|... 0 historiador, como o cientista, nao era reputado a bus- car seus dados nos textos anteriores (a biblioteca, lugar de leitura), ow em suas proprias trajetorias intelectuais (0 estudo, lugar de reflexao), mas sim, onde os da- dos objetivos externos podiam ser reunidos, acumulados, controlados ¢ manipu- lados (o laboratorio e o arquivo, lugares de pesquisa)” (p. 21). ‘Uma vez desmembradas as ciéncias sociais ~ no capitulo das representacdes € das praticas organizacionais ~ da filosofia e das letras, um debate interno ocorreu sobre a maneira de adquirir um conhecimento objetivo (ou verdadeiro) do mundo social. A exigencia metodologica, consistindo em submeter esse saber a verifica- bes € refutacoes, ¢ tambem o objetivo de “descobrir a verdade”, “e nao de inven- tila ou adivinhé-la intuitivamente” (COM. GULB., 1996: 19), levaram as ciencias sociais a buscar qualquer validade empirica para os conhecimentos que elas pro- duziam. Fis af 0 grande ponto em comum com as ciéncias da natureza, ao qual também aderem os especialistas das ciencias sociais. A ideia de que era preciso eli- minar a intrusio do viés na coleta e interpretagao dos dados —ao menos de um de- und ° erminad po de vis ~ gaa endo, um consesobasant mp / ter dienes soca vn dese valde cope cM Chega formals de dseusese disensoes. Os debates tangencag sg : hos: epistemologico € metodologico ison No plno epistemoogico, a dscussio recaiv sobre a estates de gy mente conv ata. Agu ea cent concern a poscay, pa 101, ind, aide quo pesausador devia privlegiae para pos oe eiment objetivo" ou verdadero” Inicialmente, pelo menos ues grandes ono modelos foram defends com varices interns mason mance nace har do exterior, oar do interior 0 olhar de bao. Nes retomaremoe a No plano metodologeo, 0 debate resid na natureza dos dads. Dune Brincipas ds inci soias vem se soma as estates epistmologtne dents na busca cd objiviads: A primeira se baseava no modelo dace natureza e insist entre outras coisas, no primado dos mimeros ¢ naan uma forma de tratamento dos dados, 0 quantitative, cir Alguns, que vam na “matematizagao” das cncas natura rao de sey cess, oto caminko sonhado para atingirasverdadesuniversis mutase deram que apenas 0 conhecinento matemtico era capaz de tomar ences ber sobre o soca. Tudo o que mio se submetiaa um atamiento matematice ea, ria ser rejeitado peo saber centifico,Trés grandes objetvos foram estabelecdg qui um objetivo de predicio, um objetivo de regulacao.e um objetivo de pecs concebido estritamente sob um angulo quantitative (COM. GULB. 1996.46) hes orque, no inicio do sgculo XIX, antes, portant, da consttuicao das dscipiign das cignciassocis na forma que clas tomaram entre 1850 ¢ 1945, 0 termo cere ia” jt havia adquirido uma conotacao hierarquica (saber veridico, por oposicanns saber imaginado, a0 senso comum, ec.) e consagrava linguisticamente a suprene, ia das ciencias da natureza (p. 11). Como a linguagem matematica era exci mente associada a estas ultimas, sua adocao parecia ser uma conddiga0 sine qua no de abordagem cientilica. A segunda visto atrbufa maior importancia aos dados qualitativos e& pesquisa historia para reduzir a parte do viésintroduzido pelo analista. Os melhores dados cram, entao, definidos como sendo os “dados primarios’, isto €, os dados de prt. meira mao, aqueles que haviam sido os menos alterados, que haviam passado pel ‘menor nuimero possivel de intermedisrios (pesquisadores ou compiladores prece: dentes), ¢ mesmo os dados que nao requeriam a presenca do pesquisador, Nesst Perspectiva, os documentos espontaneos, como as cartas ¢ os diarios intimos, e+ Sritos sem a intervengto de um pesquisador, foram considerados, entre outros, pat Thomas ¢ Znaniecki (1918-1920: 1833), como “o género de material sociologico perfeito" e como uma fonte de dados que assegurava a “abordagem mais preci 4 observacao participante, principalmente quando a presenga do pesquisador ef Pouco perceptivel ou perturbadora, era tambem uma técnica de escolha, com 0 nhe he “« i ah) oli pesquisador sendo capaz de observar a vida social em seu desenvolvimento natu: trevista formal parecia, entdo, menos conliavel (sobretuco se ela fosse a tinica tec niea adotada), justamente em virtude da intervengao maior do analista. Em rest imo, exortam-se aqui certos dads e formas de coleta qualitativas tidos como capa. zes de “lavar mais branco”. O historiador também se voltara para as fontes do pas- sado e para os documentos de época Em geral, a pesquisa qualitativa era considerada preferivel a pratica que con- sistia, para o pesquisador, em se confinar em seu gabinete e entregar-se a especula- oes €a generalizacoes a partir de seu proprio modelo, “visto como o fruto de seus proprios preconceitos” (COM. GULB,, 1996: 95). Os documentos constituiam um dos motivos para privilegiar as “cartas”; um outro era a importancia conferida a propria intencionalidade dos sujeitos. A nocdo metodologica de precisdo tomava aqui, uma outra acepcao. Com efeito, Cooley (1928: 248-249) distinguia a “preci- sao numérica”, que nao remete necessariamente a verdade em relagao a0 fato {truth to fact), da “precisto descritiva”, que podia ser obtida por um total uso habil linguagem, ou por outros meios, como a fotografia, ete. Essas duas formas de precisio empirica ~ dizia ele—sao encontradas nas cigncias da natureza: a primeira se expressa pela figura do naturalista que mata os passaros para melhor estabelecer as medidas quantitativas ¢ classificd-los; a segunda, pelo naturalista que se esconde sob a copa de uma arvore, munido de sta camera, ¢ observa o comportamento dos pissaros. Segundo Cooley, o importante é escolher a forma de preciso que se ajus- ta melhor ao que se quer observar, algumas observacdes sero, portanto, quantita tivas (para serem precisas) e outras, qualitativas (para serem também precisas). Haveria, entdo, diferentes formas de medidas (HOULE, 1982), E, sobretudo, no prolongamento dessas duas visoes sobre a natureza dos dados, que alguns pesquisadores af chegaram, inicialmente, a opor 0 quialitativo e o quanti tativo, ou, para retomar a bela expressao de Houle (1982), “as letras ¢ os mimeros” Ora, essa oposigio me parecia mais ideologica e politica (isto ¢, ligada as lutas insti- tucionais para os recursos ¢ o prestigio), do que metodologica, pois nio ha oposicdo verdadeira entre a natureza dos dados ¢ a ambicao de evidenciar a verdade e de ad- {uirir um conhecimento sistematico do real por meio da pesquisa empitica © enigma e o paradoxo das “descobertas” nas ciéncias sociais A despeito do desenvolvimento prodigioso das ciencias sociais, ¢ preciso aten- tar para ofato de que as descobertas cientificasfeitas neste campo sao ~e serao sem- pre—dificeis de ver ede fazer ver. O leitor, por menos familiarizado que seja com a filosofia da ciéncia, deu-se conta, certamente, de que essas obras estabelecem sem dificuldade o balango das descobertas das ciéncias da natureza e dos progressos notaveis do conhecimento, ¢ isto apesar de todos os questionamentos epistemolo- Bios de que elas sio objeto. Quanto as ciéncias sociais, elas parecem se prestar mnverso elas Seow uma utiizagdo insuficiente das mate a ¢ torna-las mais cientificas). S¢ enc us, de or ro a cecal igen Sim esas decoberassi comprgyeg ts irra Pode ea ade ep Se uuena obra, por outro lado muito estimulan a Desde mj abistora da clecin em gral, mas ele expen a anepresetar convenientemente 2 Ciena hy ago Ele conelui que esta dficuldade mostra a existencg rca clencias dias exata,j'que,em stop aor de bof era capaz de designar, para o periodo consi jo menu observ edo soeulo XX), “uma descoberta ou tum. formulagig derado (a segunda a os humanos, que ele queita nivelar com aquela toric nova cos cena da nature ou tas matematleas”(. 12), Deq, ir ya uisael para fusio nuclear, aalunissagem dos cosmonautas americans, Hepes fescoberta da estrutura em dupla hélice do DNA, q a invencio do transistor, @ "las dsrbuies, que generalizam em um sentido e uniicam tos muito significa smenta ua grande il em seu recenseat ima assimetria entre esas Uti criacio conceitual, pres de funcio e de medida”, ete. (p. 10-11). ‘Como devem ser vistas, entao, as descobertas das ciéncias sociais? E pode-se comparar, sem nana alguma, esses dois universos de descobertas? Para melhor delimitaresse problema, eu comecareiassinalando, de minha parte, desordenada- ‘mente, esem qualquer preocupacio de exaustividade, algumas descobertas em disciplinas das ciéncias sociais durante 0 mesmo periodo (aps os anos 60): ‘+ descoberta dos vieses sexistas nas teorias cientificas e nas relacdes sociais de ‘sexo, seguida da invencao dos conceitos de patriarcado, de sociedade androge- ra ede uma série de outros concetos ligados a essa problematica; + desenvolvimento notavel de pesquisas sobre o etocentrismo € os grupos ‘minoritarios, seguido da criagdo de um ntimero expressive de novos objetos de pesquisa concernindo as praicase mecanismos sociais ¢ juridicos de discri- ‘minacdo, em relacio a outros grupos de menor poder, menos visiveis (jovens de meiosdesfavorecids, doentes mentais, detentos, desempregados, deficien- tes fisios, ete); et utilizacio cientfica da linguagem comum no ambito das ae ae bale ae nm deum progresso conceitual e metodologice a ‘uma transformacdo importante das relacdes entre aS ns quantitativa e qualitativa; oy ae fe lética da dominacao € da servi- Fen ‘ou, mais precisamente, a di vor € 0 €SCTa¥0, senor ¢ cmnento, sucittamente transposto para 0 nosso problema, ero de que dio igoes concretas de vida de um grupo determinam sa maneira de compre- as condieOver o mundo social. Aideia central éa de que “o que nds fazemos mode ender or que nos podemos conhecer” (HARDING, 1987; 185), paticularmente tae bmi ymimos 0 olhar do senhor. Segundo esse argumento, comparando-se © se m0 Te sta do senor a0 do escravo em relagto as conigdes de vida em sua so Pome somos obrigados a conclu que ees no “veer” a mesma coisa, € que 0 eater por diferentes raz0es, tendenciaa dissimilar ea justiicar a opressto sei rt yu este devo ao tmoroservioe 0 abalho, tanto mas reds lesa ver melhor, quanto se predispoe, ao mesmo tempo, a um processo dle g ‘do mundo (que se espera ser mais adequado para todos). Os inte- fransformacae rates co condicionamento social do senhor impedem-no de ver as coisas como tine o seriam “realmente” e produzem um desinteresse pela mudanca, € mesmo fim gosto pelo stats quo Em geral, nas primeiras formulagdes marxistas anteriores aos anos 1970, esse modelo toma de imediato a preferéncia pela causalidade material e pelos dados os. A estas caracteristicas soma-se uma preocupacao maior com 4 ana- aquantitat -xplicitar, o olhar de Iise historica. Consequentemente, 0 modelo articula, sem 0 ¢ baixo com o olhar do exterior. Na teoria marxista,alids, o olhar do exterior foi pre- ferido ao olhar do interior ¢ 0 estatuto teérico deste ultimo tomnou-se precario: ele corte frequentemente o tisco de ser assimilado a falsa consciencia, quando ele se afasta do olhar te6rico de fora. Parece, entio, que um certo dogmatismo tedrico acabou prevalecendo a fecundidade do modelo, pots se a teoria buscou assumir 0 ponto de vista de baixo, ele nao impede que ela venha do alto ¢ se ela nao levar em conta corretamente o ponto de vista interno de baixo, ela perdera uma parte de sua capacidade eritica e criativa, 16, Detxo de lado, aqul os aspectos propriamentefilosofcos dessa passagem. Digamos apenas que ara Hegel, 4 consclencia serv que, em se desenvolvimento, ralza verdadeiramente a indepen- dencia ou a emancipacioe "ela ealiza nos es momentos inseparvels do medo [primordial do ‘ergo edo trabalho" (HYPPOLITE, 1946: 168) O meda primordial ¢o medo de vida ede morte, ¢ ‘oun mede qualquer. Oseaher, por suss conde de vida Hcl eleva-se Imediatamcatc acima de tn vse extn a sh, esta da va i spree a cl como se reseniou ae escravo, Para Hegel a conscienia humana °s6 pode se formar por essa angstia que Pest sobre odode seus" (p, 169). Alm do, pelo servigo particular pesado ao sen, a cons citncia do escravo se dseplina e deixa de sera natural (p. 168). Por fim o trabalho (pode se dat 8 ‘coum senido ampl, que ultrapasa 0 abalho produto) translarma a serio em vootade de “ag ma" seo conse ssi complsnet ead: cle a do gss a eico dsj human” (p. 162-170) See tama Provavelmente, em parte por esse motivo, a demonstracio do valor cho como correct de um outro vies de perspectiva ndo fot realizada faut Peet, ntementeconvineente no ambiodo marsisio. Fete cass nrg Mh serexpleado, coniderando-saimenstcontribuicdo do pensamento mesa Conjunto do pensamento ertco no Oriente, Sea como for, tomado email calidad, o argumenta do modelo ~de que do alto nao se ve nada coreetamere embo oargumento radicalmente inverso, segundon nn & 0 nfluem em nossa compreensao do mundo, 9 jal pode ser uma fote de veses meses casos, dota uy hoje, insustentav condigoes de vida mais. A posicao soc ‘posto permite ver ¢ corrigit 0 vies precedente, mien rate no final dos anos 1970, por wma das perspectiv: ministas, aquela “do ponto de vista das mulheres” (feminist standpoine)” pa vista de baixo ~ aqui interpretado no ambito das relacdes de dominacag het imem-mulher ~ quanto o do ponto de vista do interior, mais do que o do olhar exterior. O modelo tambem foi retomado por diversas abordagens ~ dias, por ye 2¢s, neomarxistas, feministas-marxistas, radicais, tc. ~ preocupadas com a neces, sidade de dar conta de outras formas de dominacao (de sexo, de raca), bem comp da situacao vivida por outros grupos opri sempregados, os detentos, os doentes mentais, os jovens, as pessons portadoras de deficiencias, as prostitutas, etc.). Nessa nova forma, 0 terceiro modelo integra~og privilegia, conforme o caso — alguns aspectos-chave do segundo modelo: 0 olka do interior, as causalidades intencional e a de interpretacao, e os dados qualitan, vos. Ele apresenta também uma abertura para o ponto de vista do exterior, ¢, con: sequentemente, uma certa tendencia @ se articular a outros modelos, Paralelamente a essas tendéncias, a historia da antropologia também mostroy claramente a superioridade cientifica de um ponto de vista partidario frente a ta: dos os problemas do etnocentrismo e do racismo (MILLER, 1983: 747). Millerar- sgumenta que quando as “forcas sociais criam uma forte pressao para se distanciar da verdade, a contrapressao de alguns envolvimentos partidarios para mudar 0 sta: ‘us quo pode ser mais produtiva cientificamente, do que a neutralidade” (p. 747) Com efeito, diz ele, “como se pode resistir melhor a estas pressdes (dominantes), que impelem para a deformacao da verdade?” E ele responde que uma “injuncio para cultivar sentimentos antirracistas durante a pesquisa produziria uma melhor metodologia do que a injungao para ser neutro”. O apego it verdade pode ser uma defesa suficiente para barrar as pressoes sociais difusas em diregao a0 conformis- mo (p. 748), embora o apego & mudanca possa ser mais importante e eficaz de um 17, Harding (1987) dstingue tres posicdesleministas no pl i . 2 Hadng feminists no plano epistemologico: o empiricisno fem Fade nee de poo esta ds mulheres (ou da prenogo das mulheres) eas epistemolo ae tonal epstemolegies) ou pas-medernas. Nao posso me ocupar desss dileré™> 6 jos que nao a classe operatia (os de. | ee 20 vats ouatelo ae ga eladas m deienaiades quediben {i a ete ee ae ee ando, assim, debates no interior mesmo do feminismo (¢ com as OU- coe eee eee uae to de vista das mulheres” com as abordagens pos-modernas (HARDING, 1986, inismo tenta agora integrar, com No rab pont Baz. 1991; CAIN, 1990; PARENT, 1997). 0 fer 5, 0s trés modelos para apreender a verdade. Fssas abordagens act- ;pacio constante da algunas cor param por evitar 0 risco de dogmatismo e por preservar a “preok eexividade epistemica”, para tomar os termos de Bourdieu (WACQUANT, 1992: 54), Depois,a propria Escola de Chicago deu— ed ainda ~contribuicdes ou abert- fas part a integragao dos modelos. Por fim, um grande numero de pesquisadores, Env rotulo ce escola particular, vao tambem nessa direcao, Creio que as rellexdes | Sabreo modelo de uma metodoiogia geral expressam e integram esse movimento. A figura I dé uma visio de conjunto dos trés modelos apresentados [As formas de medida e sua fungao “criadora” 0 olhar do exterior considerou frequentemente a medida quantitativa como © umeriterio de cientificidade, em parte porque ela permite efetivamente conferit a aspectos particulares da realidade um certo grau e uma certa forma de exatidao ou de precisio. Porém, o pesquisador deve ter em mente que a finalidade € a precisao, tendo a medida quantitativa; que ha pelo menos tres formas de precisto, uma teori- cal” e duas empiricas (quantitativa € qualitativa); que € preciso encontrar a forma empirica €0 grau de precisao que conver aos aspectos do fendmeno que Ihe inte- ressa€ que a medida (qualitativa ou quantitativa) também tem outras fungdes, alem de proporcionar forma e grau de preciso, Deve-se tambem prestar atengao para nao supervalorizar a preocupacao com a precisto empitica no contexto da ati- vidade cientifica como um todo, pois tal preocupacao ocupa um lugar secundario cm relagao ao aprofundamento do “sentido do problema” (BACHELARD, 1938: 212-216). Com eleito, diz Bachelard, “a preocupagdo com preciso leva também alguns espiritos a proporem problemas insignificantes” (p. 215). 18, A precisio eorica resulta, entre ouras coisas, do julyamento de que o pesquisador deve basear-se na signifieagao(teoriea) das medidas empiicas que ele toma. No quaniiiativo, a controversia sobre © signilicado dos tests estatisticns de significacao constitu um exemplo, Ha aqui um cruzamento de ‘duts dseiplinas ou, como o diz Bachelard (1938; 214), de “duas precisoes": a das matematicas ¢ ada dlisciplina “substantia” clo pesquisador (Sociologia, psicologia, etc). No qualtativo, 0 referido jul sammento se da na mesma diseiplina, mas também considera relagoes entre os nives empirico €te0ri 0, Porém, a precisto teorica concere também ao processo de generalizagto (el mats adiante, na Dresente obra, meu expitulo “Amostragem e pesquisn quabitativa: ensaio edrico e metodologico”) , | Bs zg oki Ine da ea 3 ga kim relaco a gra da medida qualitativa ou quantitate, ¢precao evar os wet B 222 exces ¢ dizer, juntamente com Bachelard, que “O 32 - 2ae ‘excesso de precisio, no reino da quantidade, corresponcle mais exatamente a0 €X- Bog Z gece cesso do pitoresco, no reino da qualidade. A precisto numérica ¢, geralmente, uma bee 5 soe patalha de ntimeros, como o pitoresco¢, para falar como Baudelaire, uma ‘batalha She 3 s2E dle detalhes" (BACHELARD, 1938: 212-213). O pesquisador deve resolver aqui 0 eg2 as 2 gfe5 problema da exata medida das (formas de) medidas. A preciso pode, assim, ser cog faa ZEE 2 {Tusoria ou enganosa, Para além desta quesiao, nao se devem perder de vista outros : ze Ze, Ey 2883 aspectos importantes da medida, seja sua funcao de criatividade, ou de descoberta, 3 fe, lessee ged Ctambem sua fungio reflevva. Estas das stimas fungdes a situam numa cadeia 3 £b3/ |stse8 gee ‘muito mais longa dle atividades humanas, pois, para citar ainda uma vez Bachelard 3 4] fasia2 S5§ (1934: 7), “se a atividade cientifica mede, ¢ preciso raciocinar; se ela raciocina, € Z SE! /z333 3 preciso medir" z : £ ee = Propondo-mea explorar essas duas funcoes, comecareicitando uma outra fra- 2 fea g sede Bachelard, que diz o seguinte: "E preciso refletir para medir, endo medir para 3 a ; ace refleti” (BACHELARD, 1938: 213). Se eu retirase intencionalmente esta frase de 3 ae} seu contexto, et diria que Bachelard esta, ao mesmo tempo, certo e errado. Ele esta a a = certo, porque toda atividade de medida pede uma reflexao previa sobre o que se ne cae z2 5 pretende medir e sobre a significacio que esta medida pode ter, na falta da qual a5 af Bos | az-se operar a medida no vazio. Mas, se considerissemos essa afirmacao em sua £2 22 [S39 z se radicalidade, ele estaria também ertado, uma vez que, como o observa Moles 26 22] 2o/lg2 22 (1990: 43), a medida €, para aquele que explora sew objeto in statu nascendi ~em 2 25| Pees | estaclo nascente—, uma maneira de criar uma ideia nova e de se opor aos primeiros gz] [Boxe impulsos de sua propria subjetividade. Como o diz Moles, medir ¢ um modo de Gaia oF encontrar a “estranheza criativa". Quando o pescuisador estiver curto de ideias, ¢ BZ eae no souber 0 que fazer com seu objeto, a medida aparecera como una forma de e = és Bag © arumaideia nova. Alids, ¢ por esta razio que 0 responsivel pelo laboratorio geral- 23 ec mente sugere ao jovem pesquisador medlir para “ver acontecer”, € medir todos os 22 3, aspectos possiveis do fenomeno que ele quer pesquisar (p.43): existe aqui “a espe- a: G2 | ranca vaga~mas frequentemente reatizada—de que, por fim, emergira dessa fami- £3.43 e liarizacao distante uma ideia permitindo tomar a parte o fenomeno de maneira Saget 5 ‘operacional”. © conselho ¢, aparentemente, surpreendente, pois ele toma a dire- 4 e395 2 | sto inversa convida-se 0 analista a medi para refletr e para ter idetas, i Betaa| q y Certamente, isso nao significa que nio se deva reflett para medir, mas 130 so- cee Zs28 ae mente que a medida tem também o efeito de levar a refletir e de criar um espaco Be 2664|| 222% __propicio a criatividade. Trata-se mais de dois momentos diferentes, mas comple- E i Z Te bt eg5¢2 mentares, da atividade de medida, Aquele ou aquela que ja fez pesquisa quantitati- cas E2088 va conhece hem essa etapa em que se vai medir, construir diferentes quadros, eru- #22 Sogo 2ar diferentes variaveis, para se dar uma ideia. Essa operacio de atuacao de dife- Be ge 3 ge Fentes varidveis pressupde, sem duivida alguma, uma reflexao, a qual nao seria se- ‘by E5222 nao a reflexdo que se faz durante a propria acao de medix, mas que engendlra, por 3g £358 sua vez, a oportunidade de uma outra reflexao, a partir dos resultados assim ex- | _ ~~ «ta, do mesmo modo que o atraindo para si, pelo esfargo de colocar-se no lugar objet? Gntexto do outro, ele também “ve” diferentemente esse objeto, Esse Outro ‘ni eleito epistemologico. Desde entio, temos duas palavras-chave para qutali- rap distanciamento da subjetividade: oafastamento ea interiorizacao (outa m- el wou com qualitatiy, | tos, Do mesino modo, aquele ou aquela que js trabalhou com qualitativo, tay, objeto, ou de ver emergir uma pista nova depois de ter ido a campo, ou de ter regh ado uma ou dias entrevistas, Ao longo da analise de um material qualitatiyg, nifesta, Por que isto? Porque a medida permite efetivanyens mesma fungao se tomar sas distancia em elae2o a objet, ous prefervel cra as condos ge |e dSIaNEY citando a explorar o objeto com curiosidade, mais do que se precipitar sobre gj, |) 4 2 coed ierarsiecalvanire viii arpepaitcatasneper tian om uma pré-resposta ou uma expectativa muito espectfica lela tele rpg tee ie A medida em, portato, o efit de abrir um espaco novo entre 0 pesquisa |) Fee ag erica ea font de una nova reflex orca, ou de una ellesdO TEND € seu objeto, ou de introduzir ~ para retomar aqui uma magnifica imagem de Si, | para fazer figura, pode-se dizer que a primeira ¢ tipicamente representada mnel (1008. 57) “um elemento frio” no calor darelacao entre oanalistaesewobje | YI. PVA ado fisico, o que nto quer dizer, longe disso, que ela eja impropria as to, Este “elemento frio” nao ¢, certamente, miraculoso: ele nao elimina todas, | Pe as sociais; a segunda, pela conduta do antropologo, que deixa a outra cultura prenocdes do pesquisador, mas fornece as condligdes pars alastar, sem duividg || 14 eultura do outro penetrar nele. Eu nao me refiro aqui, certamente, as discipli- uuma certa quantidade delas, pois s¢ ele permanecer curioso, atento € Preocupad |) as, mas ao espirito padrdo dessas duas estrategias cle producto da objetivacao: | coma criagao de uma idela, ele poderd eventualmente fazer surgit alguma coisa) "¥*irca-se que, sob esse angulo, os pesquisadores qualitativos e quantitativos tra- ual ele nao havia pensado, ou introduzir uma duivida em relacio a algo em que¢le |) ham de modo inteiramente analogo ¢ que as duas formas de medida tem as mes- hhavia acreditado. Nesse sentido, a medida pode ir ao encontro de agumas de suas |) jy4s funcdes epistemologicas centrais, a despeito ce suas diferencas, por outro lado. Prenogdes, ou 20 menos de um certo numero de suas:expectatives Nese sentido, a medida tem a dupla fungao de explorarrelleindo e de refletir ex- ‘Quando Motes ou Bachelard falam em medida, eles dio um sentido estatstigg | ploranclo. Nao ha solugao de continuidade entre esses dois termos. a esta palavra, Ora, eu adoto de preferencia a via sugerida por Houle (1982: 5), que restit a nog de medida seu sentido amplo. Pode-se falarem uma medida quis || ag digressOes sobre o estrangeiro”revsitadas tativa, quando ela se apoia em materiais qualitativos. Além disso, eu gostaria ess. ' lientar que ha ao menos duas estrategias para atingi essa “familiarizacao distante> Deve-se a Simmel (1908) uma das mais belas piginas da sociologia, no que se re- e distanciada, que caracteriza a medida no sentido amplo (quantitativa equalitay. || ere ao esforco de objetivacio, Podem-se veras observacoes a seguir como a apresen= va): aquela que tende a afastar 0 objeto, dando uma descricao através dos nume | tagio de um quarto modelo, que nao anula os precedentes, pois estes recobrem ros, € aquela que tende a afastar 0 sujeito ou, melhor ainda, a fazer interiorigarg | | constantemente opedes ainda validas (com as correcdes necessirias), conforme os objetos que se atribui, Porem, eles também poclem ser vistos como uum modelo sinté- tico mais heuristico e capaz dle exprimir uma visto geral da metodologia. Proponho, aqui, uma releitura livre do texto de Simmel, “Digressoes sobre o estrangeiro” Simmel constrdi sua metafora da objetivacao em torno da imagem do estranget- ro, Para ele, o estrangeiro se distingue do simples viajante, que ¢ aquele que chega num dia e parte no seguinte. O viajante € aquele que nao tem ponto de ligacao par- ticular, que nao assume compromisso com ninguém e com nada, E 0 proprio ideal do personagem neutro, Mas, este personagem nao tem aqui o belo papel. O estran- geiro, em contrapartida, € aquele que chegou hoje e permanecera no dia seguin- te. Fle veto para ficar, € ainda que ele nao tenha prosseguido seu caminho, ele nao abandonow totalmente a sua tiberdade de se deslocar. Simmel tambem caracteriza 0 éstrangetro por dois outros tracos tipicos do estrangeiro, mas que me parecem nao essenciais para o uso teorico da metafora, O estrangeiro € ligado a um grupo espa- Clalmente determinado, ¢ ele no faz parte do grupo desde 0 inicio. A ligacdo es- Pacial nao me parece, para meus objetivos, ser uma earacteristica importante. O nao pertencimento ao grupo, entretanto, nao pode ser abandonado, sem que se re- objeto, dando uma desericao através das letras. Haveria,entao, ao menos dois meing ‘que Moles (1990: 44) denomina o “jogo das grandezas” ou a medida-grandeca, 0 que eu chamo de o jogo dos papeis ou. a medida-escuta, isto €, colocar-se nol: gar do outro ~no sentido material ou metaforico— para melhor escutar, observar ou dialogar. Essas duas estratégias preenchem as proprias funcoes epistemologicas: tee ta-se de neutralizar certos aspectos da subjetividade do pesquisador, algumas pré-respostas ao problema, ¢ de criar espaco para fazer emergir uma ideia nova a0 longo da atividade de pesquisa. De fato, podem-se “cagar” certos impulsos ou prt meiras respostas, ao menos de dois modos: arremessando o objeto longe de ns pelo jogo das grandezas, ou, a0 contrario, atraindo 0 objeto para nds, pelo jogo dos apéis. Neste tlkimo caso, o pesquisador expulsa alguns aspectos de sua subjetivi dade, preenchendo 0 espaco (metaforico) de sua subjetividade com a presenca fe nomenal do objeto-sujeito. F por preenchimento, por impregnagao, por um eso" so de deslocamento, que ele abre a porta a criatividade e a reflexao teérica. Als tando seu objeio pela medida quantitativa, 0 pesquisador “ve” diferentemente est » aaa a at nortante para Simmel e para a propria eficacia da metafog, | ra reboque da perspectiva do grupo. Eletivamente, sy | tmel situa 0 estrangeiro entre dois polos ideal-tipicos: de um lado, 0 viajante ex tor e sem compromiss,e, de auto, 0 membro icondicional¢ compete, identificado com o grupo, o qual “esta bem a vista” para o membro incondicig Hen co et no seminavi sobre “A cart roubd”, Mat possivel dar conta, nessa metafora, da mulher ou do pesquisador etnicizado gy pertencendo t seu grupo desde o inicio, nao desempenba o papel membro cuje proximidace em relacao ao grupo ¢ tal que ela Ihe ¢ evidente? Eu ergy aque sim, mas ¢ preciso, entdo, imaginar que o estrangeito ~ chamemo-Io,aingy deste modo ~ pode ser membro de seu grupo desde o inicio, mas sob a condicag {que ele se tenha atribuido a capacidade de viajar. Esse pode ser 0 caso, por exem, plo, sc ele foi estrangeiro alhures, tendo aprendido, entio, a tomar alguma dist, Cia em relagao ao seu grupo de origem. Em realidade, surge, assim, no texto Simmel, uma outra caracterizagao do estrangeiro: "Ele €a unidade entre adistanc, 2 a proximidade” (SIMMEL, 1908: 53 ~ grifos meus). Esta unidade ~ insiste Sig. rl ~ esta presente em oda relacao humana, mas ela se organiza, aqui, Segundy ‘uma forma particular. Simmel parece dizer que, na realidade, nem o viajante pur, nem 0 “pertencente” puro existe. Contudo, ha qualquer coisa de particular m | personagem do estrangeiro que permanece importante € que nao se deve perder | ista: sua mobilidade (p. 55), sua capacidade de viajar, seu elemento frio. (© personagem do estrangeito ¢ constituido de componentes integrativos ede ‘oposicii: Simmel (1908: 54) diz que ele é€ um elemento do grupo, “assim comoy pobre eas diversos inimigos de dentro’, um elemento cuja posicdo interna ¢ pertent | ‘mento implicam, ao mesmo tempo, exterioridade ¢ oposi¢ao”. Deve-se comypreen: derque easua posigao interna que o distingue dos outros elementos do grupo? Ps: rece bem que sim, ja que ele pertence, por outro lado, ao grupo. E essa posigioin terna ¢ caracterizada, por sua vez, pelo elemento frio que o estatuto particular dé estrangeiro (come o do pobre e 0 das outros “inimigos de dentro") introduz nare lacao, pois, enquanto pobre e oponente potencial, ele nao esta la apenas para dist “amem” cientifico encontta at uma opcao de escolha, Certamente, a despeito desse elemen to frio, o estrangeiro é também um amigo € um aliado preocupado com o grupoe_ possuido pelo desejo de transformar © mundo de modo mais adequado ¢ interes sante para ser humano, Simmel (1908: 35-56) véa objetividade como uma combinacao entre proxi dade e distancia, entre olhar do interior edo exterior, como também entre olhard! baixo (o pobre) e solidariedade (o amigo, o aliado). O esforco de objetivacde exit assim: primeiramente, vinculacdo ¢ interesse pelo grupo; em seguida, distancia ® relacao a0s particularismos do grupo ou, pelo menos, a algumas de suas pi dads. Simmel escreve que o estrangeiro “se coloca a margem, com a atitude ef tenha um elemento © fato de que ele nao este} 2 Ee ada objetividade, a qual nao indica a separagao ou o desinteresse, mas resulta cific ciatmente da combinacao particular entre a proximidade © a distancia, 4 preter nea indiferenca”. Objetvidade nio ¢, portanto, sinonimo de neutralidade wc sicresse. Porém, estar inculado € interessada ~ isto €, no set NEMO ~ ou ct apliea, © contexto dessa combinagao particular, por-se a reboque do grupo vip tudo a partir de um ponto de vista determinado. a ow rcgnmel nos TeseTVa OULTAS SUpresas: “A objetividade nao se define em ne anu easo como auséncia de participacap; senao, nos estartamos completamente niga relaclo, sea ela subjetiva ou objtiva. Ela¢ um tipo particular de partiipa- ora @nelhante 8 objetividade da observacao teérica"(SIMMEL, 1908: 36 grifos cei). E como ele entende esta “observacao teorica"? Assim como “ela nao pres- Mipoe que o espirito sea uma tabula vasa sobre a qual as coisas inscreveriam seus supeeres, mas a0 conttario, que ele esteja em plena atividade [..1" (p. 56), ela mabem nao exige a nao participagio. Contudo, o pesquisador que faz um esforco robjetivacao “no foi tomado [conscientementel por nenhuma especie de envvol ernento capaz de fazt-lo prejulgar o que ele percebe, o que ele compreende, it avaliagto do que ¢ dado” (p. 56). Em suma, a objetivacio mio € incompativel com a participacao, mas somente com a participacio apologetic Nao ha ruptura simples entre teoria e pratica, ou entre cigncias fundamentais « ciencias aplicadas: toda ciencia (social) participa, quer ela 0 queita ou no, ja ‘que sem participacto ~ poder-se-ia dizer, continuando o pensamento de Simmel nao ha nem objetividade, nem subjetividade; ou seja, nao existe pesquisa, sim- plesmente, Porém, € preciso procurar essa forma mais aceitavel e mais valida de participacto, que consiste em conservar a liberdade de viajar ou de se deslocar {no plano do conhecimento ¢ do tipo de aco). Alem disso, a estrategia da tabula rasa cede lugar a uma estrategia ativa do espirito que desenvolve seus conheci- mentos e sua atitude participativa-critica. Fis o papel especifico do estrangei- ro-pesquisador: “Ele ¢ mais livre praticae teoricamente, ele examina as relagoes com menos preconceitos, ele as submete a modelos mais gerais, mais objetivos, ele nao se apega, por seus atos, a respeitar a tradicto, a devocao, ou seus prede- cessores” (SIMMEL, 1908: 56). Notemos que Simmel diz exatamente “mais obje- Livo®, “mais livre”, ete, Ele tambem faz referéncia a uma liberdade pratica teori- a, Pode-se interpretar esta ultima, principalmente como a capacidade de se apartar, se for preciso, ¢ em diferentes graus, de uma tnica perspectiva epistemo- logiea, de wm unico modo de coneeber os diferentes objetos, de uma kinica corrente teorica ede um unico tipo de pesquisa empirica. E preciso estar preparado para ajar em todas as direcoes, Por fim, enfatizando os atos do pesquisador, ele nos faz ver que nossos envolvimentos sio inevitaveis. Ao término dessas reflexoes, nota-se bem como € dificil encontrar uma ima~ em ou mesmo uma expressio para caracterizar essa estratégia de conhecimento og ee ee {que favorece um olhar pronto para viajar, ou portador de um elemento fri, si I © associon ao status teorico de estrangeiro. Para cle, 0 estr geiT0 €o persona | gevet sat relgao de conbecimento, que ‘comport Uma diet | ‘jo, co ido, numa prenogdo de pertenciment e que melhor exprin dedistanciae uma dimensio de proximidade”, , sobretudo, uma combinacag tres rT ticular destas dimensdese uma tensio matua (SIMMEL, 1908: 58-59). Hoje, 7 ui aguilo que Parent (1997) chamou lindamente de uma “parcialidade critica” yem do estrangeiro € a unica forma, ou mesmo a me | po! ‘olhando a De oe eg eee permanecer aberto ¢ autocri- contexidos que se prejulgam ou quese elaboram como conhecimento ‘mos nos perguntar se a imag Thor forma, de exprimir essa rel ponto de vista das mulheres", por exemplo, ese proximidade. Advinha-se o problema. E que, de fi eoce de Simmel, parece so haver duas entradas possiveis: a distancia ou a proxy dade- Para caracterizar sua metafora, Simmel reteve a ideia de distancia, poise we pe designa o satus do estrangiro cle no nase SUDO; M0 ini, ley Dende tambem a necessidade de caraeterizar 0 estrangeiro por essay, acl impede de dizer que este elemento, aséy conta € a “combinagio part, [gem Ue ‘ao de conhecimento. A perspectiva feministag colheu a imagem da identidade ey, ato, a partir das proprias abseng: | ao Pol F) Geautonomi tlisso, do mesma fencial), mas sim Feo face #05 © eo solucto praia, salvo a simpatia fundamental, Encontrase al, articulad jo da proximidade, 0 clemento frio de Simmel, concebido como um espaco ia no pertencimento, como alteridade na unidade fundamental. Alem 5 modo como para Simmel a estrangeirice nao era ontologica (es n,o fruto de uma relacao (ja que ela existe no pobre-nativo), para ~etfninstas, cada vez mais, 0 “ponto de origem” também nfo ¢ essencal, mas as fetpacional: mulheres ou homens podem tomar este ponto(relaconal) de on ‘e transforma em ponto de partda, Aqui, também, fazer, ow ndo, parte do 9) Nao se pode, ent, cage foupo desde 0 intlo no constitu uma caracterses fundamental: sea vindo de st proninnae oob cone rin ambit de wna reac home mulher, o 0 contra, do neo (Por Da sperclohistorico-social como mulher, ¢ preciso conscrvar a relagao ea capa | edade ertica de mobilidace ‘Ve-se que a contribu feminista modifica a imagem ¢ adota 0 outro polo de ‘mas nao se dissocia radicalmente da concepgio de Simmel sobre © ivacao como incluindo margens de lberdade € momentos inter- estava at sencia originaria, nativa. Toda cia originaria, ¢ fortuito, para Simmel, De fato, 0 que Jar” ea “tensio matua que produz essa relacao” (p.5 rizar tambem essa combinacao particular pelo polo estrangeito é, no fim das contas, ese amigye dle conservaro elemento fio), j que 0 ¢ se aliado que ja esta at e que permanecerd no di seguite? Sua “estrangeirce”érg ee Min atributo ontologico, sua essénca, do que o fruto de uma relacdo: ele €estan vaca como o pobre ¢ 0s outros “inimigos de dentro" ~ que, no entant, sb FY griculagd, sae anbem etrangetros ua etrngetrice pra I s-ras de objet ere ce triple iberdade que 0 membro incon eS amare pl edn veo mero icon os de demaraco, Cole lobamente que no necesskdade de defen pijaead gs shee der a estrangeirice ou a neuttalidade para produzir bom conhecimento; pode-se eat de a aduamee outros grupos oprimidos (lem dos ene in ems at esoreaee ip fe Be recast on 5), rear mame rs aoa esc berdade de conhecimento (1erico) pastel de intodvt Aves I) cy. oe eset rene for formas de demarcacao. Demarcagio em relacio « dogmatismos que limitama re Deas Se aires eects Eesha formas dempedade do pesquisador de “i ver allures", e em rela 204 I) ramen arpa outro pol emote radon neers em ed See e a ee ee eee eee ee eee tna em verdadeiramente sim- patizante (no sentido feminista) geiro, membros organices do grupo ~ esse elemento frio que Ihe con! nal do grupo s6 possui de uma outra maneira, ou aii de politica de ire vir, no que diz respeito as orientacox Bourdieu denomina o “vies intelectualist mundo como um espeticulo (a contemplar), “mais do que como problemas cor {retos pedindo solucdes praticas” (WACQUANT, 1992: 34), No plano metodologico, essa estratégiaIevou & recomendacao de tentar ado- tar, em diferentes momentos ¢ por nao importar qual meio, win procedimento de vista interno e 0 ponto de vista externo, ow ainda, um entre 0 ponto de roduz o elemento frio, Foucault (1984: 974) recomendava os sistemas de pensamento, procurar uma “attude-l pols *€ preciso se situar "nas mnogao nao pode- Cra, a perspectiva feminista “do ponto de vista das mulheres” levou a uma tra forma de conceber uma estratégia semelhante de conhecimento, a0 tomar# eu tia utra entrada da relacao: a proximidade, a visao do interior, ¢, mesmo, 4 0 Rea gem com pono primordial De fato,¢posseleescrevero texto de Simmel |) ey eae te eels aera base de seu pensamento, mas evidenciando, desta vez, o personaget Troneiee” Vere tem que opensamento cienlico¢2 Pr gque_a medida que o debate no feminismo progredi, tomou-se consciendia d€@ | relacto See eee oo ‘0s dois polos -a identidade e a diferenca ~ nao eram necessariamente oposte> 8 Bs 2 fad ere =a pag 2] é 5 é 3 2 3 fen 38) Bs i 53 a 6a : & E & é é ELeis é Fig Behe “htas fis get desdogmatizacao da ciencia 5 cio por ie escuta ede - los objetos: objetivacé (capacidade critica d ve pelo emprego autocrit fronteiras” Estrategia thar para as jetivacao (inclu reensAo diversificada dos dados (nuimeros ou letras) or interiorizacao ( \cto critica critica institucional aj epistemol6gica em fungi di fastamento ou mudanca de ~ Contextual al ~ Esforco de ol ~ Posiga Abertura para uma aps 105 Exame do papel das instituicoes nna pré-construcdo dos objet onelsao: alguns eslarecimentos sobre a pesquisa quaitatva sabendo como 0s metodos de pesquisa formam uma parte extremamente di- ssificada e variavel da historia das ciéncias delimitar e caracterizar globalmente vert ge denomaina “pesquisa qualitativa” parece, em si, uma tarefa paradoxal € 4 pada, desde oincio,a0fracaso, fetivamente, pode se dizer, nesse sentido, 0 ee Tonnelat (1971) escreveu sobre a historia do principio de relatividade: a pro- at nogao de pesquisa qualitativa “parece, a cada vez, ligada mais ao que a sucede, que ao que a precede”. Bernier (1993: 31) ve nesta imprecisto do termo alguma seat que “nos serve mais do que [ele] nos desserve™ ‘Nao é, portanto, surpreendente constatar que o pesquisador qualitativo esteja geralmente perdido, tentando caracterizar de maneira global a abordagem & qual tie proprio aderia. Vitima da rapidez com a qual as coisas evoluem, ou da miopia provocada por sua propria investidura epistemologica edisciplinar, e, ainda, insta- Jado numa posicio defensiva quanto aos preconceitos positivistas, ele transmititt, ‘em intimeras ocasides, uma caracterizacdo parcial da pesquisa qualitativa em seu conjunto. E ele o fez, porque ele foi tanto mais levade a faze-lo quanto certos pes- {quisadores quantitativos veiculavam uma caracterizacao estercotipada dessa prati- ‘A de pesquisa. Por essas razoes, convem fazer um breve esclarecimento quanto a algumas teses defendidas a proposito da pesquisa qualitativa A tarefa consiste em encontrar 0 modo menos errado ¢ menos “fechado” de designar o que ela é. O absurdo do exercicio se torna evidente, quando nos per- guntarmos por que nao se tenta caracterizar tambem a pesquisa quantitativa, Em relagio a esta, parece que nos satisfazemos com um coneeito vulgar de “quantita- tivo” ou de “mimeros”, e também com uma representacao aberta e imprecisa do que cla €. Os numeros vao por si das letras exigem uma caracterizagao e uma |justificagao. E, no entanto, se empreendéssemos o mesmo tipo de procedimento em relacdo ao quantitativo, rapidamente nos dariamos conta de que os proble- mas de caracterizagao sao rigorosamente da mesma ordem. Seja como for, ¢ a fim. de evitar qualquer fechamento excessivo do campo do qualitativo, eu escolhi propor progressivamente uma representacao desta pritica de pesquisa pela nega- tividade, isto 6, pela desconstrugao de um certo ntimero de enunciados incorre- tos ou muito “fechados”, Direi, inicialmente, que tenho, como outros, uma concepgao geral da meto- dologia em ciéncias sociais (PIRES, 1985). Nessa perspectiva, ¢ falso afirmar que exista uma metodologia qualitativa ou quantitativa: nao ha senao pesquisas qualita- tivas ou quantitativas (ou as duas, simultaneamente). A metodologia é uma so, ¢ as grandes questoes de ordem metodoldgica concernem tanto as pesquisas quanti- tativas, quanto as pesquisas qualitativas (PIRES, 1985). Certamente, uma série de uestoes e de estratégias precisas se aplica tal ou qual tecnica de observagao em- Pltica, forma de amostragem, ou modalidade de tratamento dos dados, etc., mas 'sso nao permite propriamente falar em “uma metodologia a parte”. oa Pela mesma racio, eu nde associo a metodologia a um enquadrament jy | priviegiar ocasionalmente cera articular, mesmo que alguns deles par rothas metodologicas (ausualmente mais dirighlas para a constructo teenie «que para a observagio empirica propriamente dita). Assim, ha uma metod especificamente marsisa,funcionalista,feminista,interacionista, etc, Se ny nos referimos as grandes questoes da relacao entre as teorias, as técnicas de vagio empirica e 0s dados, Harding (1986) mostrou, por exemplo, que 6 femge | ‘mo adota diferentes perspectivas epistemoldgicas¢ prvilega, conformeo gan ferentes técnicas de observacio empirica que sie, por outro lado, as mesma nas outras perspectivas eoricas. sso nao significa que o feminism nao deu cog buicoesa metodologia nas ciéncias sociais.E pode-se dizer 0 mesmo em relagyr ‘marxismo, ao imeracionismo”, etc. Evidentemente, pode-se falar legitinme em metodologia marxista etc, dando-se, porém, a este termo um sentido dif, te. Para mim, o termo metodologia designa uma reflexto trans-teorica ¢tranede ciplinar da pratica de pesquisa by [A primeira questa reside, portant, em saber Sea pesquisa qualitativa pag ser caraterizada por uma posicdoepistemologica nica. Em tesumo, cla €necegg riamente construtivista, ou ela € necessariamente subjetivista? Quando se colocay questao deste modo, deixa-se subentender que toda pesquisa quantitativa¢, inves || samente, positivist realista ou objetivista, Para além da dificuldade de defined modo operacional esses termos, advinha-se, imediatamente, que a resposta sg, negativa, pois se poclem encontrar, sem nenhuma dificuldade, nos dois tipos pesquisa, especialistas aderindo a diferentes opgoes epistemologicas: pode-se sp Construtivista, no quantitativo e realista, no qualtativo. Também ¢ possivelnios ‘dentificar nem com uma nem com outra dessas abordagens. E que as técnicasie observacao empirica ea natureza dos dados (qualitativos ou quantitativos) tia ‘uma autonomia reativa quanto aos diferentes enquadramentos epistemolbgicest teoricos elas sao mais flextveisepistemologicamente do que se o reconhece em geal (PIRES, 1985: 68) Certamente, algumas perspectivas epistemologicas valorizaram particular mente um ou outro dos tipos de dados, 0 que levou pesquisadores a associarem sem razio, a exploracao destes dados a axiomatica epistemol6gica em questi nnumeros foram assimilados ao realismo e as letras, ao construtivismo, Mesmo® {ato de dar conta do ponto de vista dos atores nao ¢ suficiente para caracterizart Pesquisa inteira como “construtivista”: tudo depend de como se da conta dest Ponto de vista, bem como do estatuto epistemologico que seatribui aos resulta Mas, ¢ possivelcaracterizar a pesquisa qualitativa pelo emprego de una tea? a particular de coleta dos dados? Ainda aqui, a resposta ¢ negativa. Podemos fare 19 Ha pesquisas interacionistas quantitativas, como as da ‘scola Wi Perm HEYNOLDS 1073 cvepaqus mdse de oer Ty no ont MELTZER uervacdes diretas, entrevista eandlises de documentos, raduzir dos 0s n0s- ore restitados em termos quantitatives. A sondagem por questionaio €, ustial- ose, uma técnica adaptada a pesquisa quantitatva,embora uma entrevista mi imetruturada nao se distingsessencialmente do questionrio possa ser tilizada toa investigacdo qualtaiva. Se a técnica de coleta dos dados nao caracteriza no quantitative, Nem 0 qualitativo, na € preciso por isso supor que estes dois fipos de pesquisa sejam intercambiaveis. Cada forma (quamtitativa ou qualitativa) ‘Teinedida ou de materiais empiricos possi limites teorcos (para além de seus limi- ‘cs patics) relativamente as diferentes aspects dos diferentes objeto, ess0 mesmo {jue jamais se sua determinar de antemaoas fonterasprecisas de um tipo de ma- irral ou do tratamento quantitative ou qualitativo dos dados, nem seu campo de possibilidades. Contudo, € preciso estar consciente do lato de que esses movimen- Irs de expansao e de progresso nao ocorrem no sentido de uma substituicao de um tipo de material ou de medida por outro. Uma determinada leitura da historia das tleneias da natureza deixou acreditar que o avanco do eonhecimento implicaria a Suibstituicao das letras pelos niimeros. De igual modo, a redescoberta do valor cientifico da *palavra”, nos anos 1970, levow alguns a anunciarem, no calor do éentusiasmo, 0 “fim dos mimeros" nas cigncias socais. Ora, nio ha nenhum indi- tio serio de desaparecimento proximo de uma ou de outra parte. Ese tal fosse 0 aso, seria preciso interpretar isso como uma perda para todo mundo, eno como ‘um sinal de progresso, Vale mais, portant, ver os campos de aplicacao e a perti- néncia das letras dos nitmeros, nao como absolutamenteiimitados e ntercambid- ‘eis eoricamente, mas sim, como ininiamentelimitados eapenas ocasionalmen- te capazes de se envolver parcialmente um no outro (PIRES, 1987: 88.95) Pode-se, entio, caracterizar © qualitavo (ou o quantitativo) exclusivamente pel finaidade da pesquisa? Por exemplo, pode-se afirmar que a pesquisa qualita- tivaserve apenas para descrever ow explora certosaspectos da realidade, mas que ela incapaz de explicar ou de fornecerpravas empiricas como unicamente as pes- «quisas quantitativas podem faze-1o? E.contra esse preconceito cientifico que os pesquisadores qualitativos tiveram de se debater desde a retomada das discusses sobre © qualitativoe 0 quantitative, nosanos 1960, © que conta nao €0 tipo de da- dos que se utiliza, mas como se constroi a pesquisa: as pesquisas “bem construt- 4as® (Bourdieu) tem tama vida longa ou contribuem para fazer avanar nossos co- hecimentos; as outras, quantitativas ou quabiativas, acrescentam, preferencial- ‘mente, obstaculos a um melhor modo de ver ou de interir. Tanto as pesquisas ‘mo por sua abertura para a descoberta de “fats inconvenientes” (Weber), oust ee — Ela tende a valorizara criatividade ea solucao de problemas teO- casos negatives” as pstos pos aos inconvenient peferencias MeN, R (1967 Ls apes del pense sclogiqe Pais: Galimard RACHELARD, G. (1949). Le rationalisme applique, Pais: PUF (1938). La formation de esprit scientifique. Paris: Vrin. (1934). Le nouvel esprit scientifique, Pari: PUF. SUCKER, HS, (1967). 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Nova York: Galaxy Book * Renee aS Ce ee Contribuigdo da pesquisa qualitativa a pesquisa social Lionel-Henri Growl Quem quer que se interrogue sobre a contribuicao da pesquisa qualitativa & mica social enfrenta o problema da definicao de cada um dos termos da inter- psa : Pest eaulos ulate remet ag um espago de praca relaivamene rate ficadas e multiplas. E por iso que foram consideradas, neste artigo, as pes- Gqtans eas andlises que se definiam, elas mesmas, como qualltativas, seja quanto-a dMaos, como quanto a métodos de coleta, a delineamentos estabelecidos, ou a in- texpretacdes produzidas, No que diz respeito a pesquisa social, n6s nos referimos a tuna definicao restrita, ou seja, as pesquisas voltadas para o estudo dos problemas sociais e das priticas profissionais ¢ institucionais para resolver esses problemas. A pesquisa social visa, neste caso, tanto reconhecer os problemas e suas causas, Como propor solucoes ou estratégias de intervencao para resolve-los, CO cruzamento entre uma definigao ampla da pesquisa qualitativa e uma defini- ao restrita da pesquisa social revela que o questionamento sobre a contribuicao da pesquisa qualitativa a pesquisa social ¢ relativamente recente na literatura, deter- minando a necessidade de um trabalho de reconstrucao para identificar debates ¢ situar questoes. A contribuicao da pesquisa qualitativa & pesquisa social s6 se tornou possivel, ‘ao que parece, devido a transformagoes que atingiram uma e outta. Deve-se dizer que, por muito tempo, elas constitutram praticas relegadas aos seus campos res- pectivos. Cada qual era definida como auxiliar ou marginal, inserindo-se em rela- c0es geralmente conflitantes com outras priticas consicieradas como dominantes € mais legitimas; ¢ assim que a pesquisa qualitativa se opunha a pesquisa quantitati- vac, por sua vez, a pesquisa social a pesquisa fundamental. Tentou-se, ento, cor- "ig esse “preconceito desfavorivel”, essa situacdo periférica com os quais se de- frontavam a pesquisa qualitativa ¢ a pesquisa social, ¢ cada uma seguiti caminhos diferentes que podem ser qualificados de cruzados, para adquirir uma legitimidade Pela reapropriacao do campo que marginalizava.a outra. A pesquisa qualitativa rei- Vindicou © conquiston “uma autoridade” na esfera da pesquisa fundamental, no trabalho de elaboracao teorica ou conceitual, particularmente no ambito da teori- ago enraizada (grounded theory), ow do interacionismo simbolico, de tal forma que essas opedes teoricas estdo, agora, completamente assimiladas a pesquyy, litativa, Da mesm: tativae do instrumentoestatistico de forma tal que os dois mods sto ¢, peal social e metodologia quantitativa, tornaram-se sinonimos ¢ intercambigveje a linguagem dos nimeros e da) tue 0 discurso da pesquisa social uti 08 da da, ao se pensar na investigacao aplicada ao estudo das esosicntes © 20s indie, dores sociais para determinar os problemas prioritarios ow avaliar 0s resultagy! intervengao ox dos programas, Aparentemente, ¢somente devido a insttucionaizagto da pesquisa quajig va no campo universitaro ea pesquisa soil no campo administrativo & Palit pesquisa qualitativa & pesquisa social p que o problema da contribuicao da pesquisa 4 : Pode tar aetna legitima e mobilizadora, Desde entao, refletir sobre. questio equivale tambem a examinar a legitimidade da pesquisa qualitativa agir como modo de interpretagto, de apreciactoe de analise,reconhecido ¢ peat nente no campo da pesquisa social, a qual permanece ligada, apesar de tude campos administrativo € politico. os quisa qualitativa situa, geralmente, sua contribuicao a pesquisa social, fissionais ¢ institucionais de sua gestto. Visando a modificacto da percepcio dy problemas ¢ tambem da avaliagio dos programas e servicos, a pesquisa qualitatng pretende mudar tanto a pratca, quanto seus modos de gestao. Ela se esforca py conferir novas fundes a pesquisa social, no campo administrativo ou politico, beg como produzir um novo discurso sobre o social, que esteja em consonaincia comy vida democratiea. Essa perspectiva nao foi, contudo, unanime. Alguns questionay esse otimismo e insistem nas deformacdes que essa alianca entre a pesquisa qualig tivae a pesquisa social introduz, nos planos metodol6gico e epistemologico. Este capitulo apresenta as argumentagoes dos defensores de cada uma desas Posigdes, que, frequentemente, levam a discussao para além da estrita questa di relacao entre a pesquisa qualitativa ea pesquisa social, estabelecendo, assim, ode. bate sobre o papel eo lugar da pesquisa e do pesquisador frente a administragaoes gestio social, ou, de modo mais geral, sobre o papel e o estatuito do cientista em re lacao ao politico, para retomar a formulacao de Weber (1959). Uma releitura dos problemas sociais ‘A contribuigao da pesquisa qualitativa a pesquisa social é geralmente definidt oF Fuptura ou por oposicao a pesquisa quantitativa ou estatistica, Entretanto, ae lizacdo e 0 papel desta ultima, na andlise dos dados na pesquisa social, sao novamen f questionados, uma vez que ela leva —digamos ~a uma visdo uniforme das necess+ dades ea uma percepcio administrativa dos problemas. Estes so construidos de tl ‘maneira na pesquisa social tradicional, que o conjunto dos membros pertencentess ima categoria administrativa ou estatistica (jovens, idosos, doentes mentais) part 6 _— aq | naneira, a pesquisa social se teapropriou da metodologig eM | definigao e interpretagao dos situado nose cxemplo, fila as qui Justiga erimin «como suspeit de um mesmo destino social. A consideragao, pela pesquisa qualitativa, da plickdade das perspectivas e dos agentes compondo cada uma das categoria, ‘a romper a unidade artificial da categorizacdo estatistica e a revelar uma di- si bride de situacoes, uma pluralidade cle atores que se adaptam de maneitas varia erst uacoes diferentes, mobilizando um repertério variado de recursos. das a situs Muitos pesquisadores (por exemplo, CICOUREL, 1964; ROBERTS, 1981), ~ podemos Felacionar ao interacionismo simbélico ou ao construtivismo, for. ave Pitm uma critica epistemol6gica e metodoldgica do uso das estatisticas ¢ da smd, na pesquisa social. Tal critica passa pelo reexame das categorias adminis- mea yas eestatisticas de pesquisa e de analise dos problemas. A utilisacao das esta- uraas na pesquisa social é, assim, considerada como equivalente a uma leitura etn |, queso retem dos fendmenos aquilo que pode ser classi- pedo, operacionalizado e organizado, Atento a pluralidade de constragoes de tesados, 0 procedimento qualitativo leva, preferencialmente, aadauitir uma per- + Zepcao mais holistica dos problemas e das questoes, e a proceder a um “requadra- nento socioantropologico”,a fim de ter em conta o contexto sociocultural de cada Jhtuacio-problema e de compreender a especificidade e a complexidade dos pro- + cessos em Jogo. critica ¢ baseada no duplo plano da validade das medidas e da representativi- dade dos dadlos e das estatisticas construidas pela pesquisa social, que se associa a ‘uma visto administrativa ou tecnocritica. As diversas estatisticas, dentre as quais, assobre a doenca mental, a delinquencia, o suicidio ou a inadaptacao social, radu. zem, principalmente, as “acdes empreendidas pelos diversos agentes, que defi- nem, classifica, registram certos tipos de comportamentos como desviantes” (KITSUSE & CICOUREL, 1963: 135). Elas aparecem como 0 resultado de um lon- go processo ligado a um conjunto complexo de interacdes e de contingencias de si- {uagoes, que somente um procedimento qualitativo de tipo etnografico pode apre- ender, compreender ¢ analisar, Para muitos, as taxas de delinquencia, por exem- plo, nao constituem um comportamento objetivo, mas referem-se mais as ativida- des dos aparelhos de deteccao, identificacao e registro, que participam na constru- ‘ao daquilo que ¢ socialmente definido como delinquéncia, Nessas circunstancias, o estudo estatistico dos problemas volta a medir artefatos’, Introduz-se, assim, uma davida sistematica sobre as categorias de percepcao, problemas sociais construidos pela pesquisa social tradicional, que busca determinar, pela medida, a gravidade dos problemas ¢ das 2 eiemainekeae }, Consequentemente, segundo Cicourel,“o sentido das estatisticas oficial [..] deve ser novamente rguinte contexto: como os homens, 0s recursos, 0s politicos, as estrategias da policia, por 1 una determinada comunidade interpreta as demandas recebidas, divide suas forces 5, "Totiniza’ as relacdes. Inumeros estudlos fornecem a prova do carater problematica da al, quando se examinam as maneiras pelas quais os individuos so rotulacos (labeled) tos ou vitimas” (CICOUREL, apud HERPIN, 1973: 142) 2 , _ etiva e univoca dos fend; bjetiva eu Men, ha eid das deficiencias © da capacidade payy tt one jee -sevem paraevelara amplitude dg ee der ou anda clasilicaredividir gga | Pe canara vai tais medidas tém a desvantagem de in duos nes programas ou servis Or ora dos problemas, de ancar uy uma visto se sobre um veal ragmentado” (CORIN, 1993) ¢ de esvag Clarecimento parcial sobre um Pitan apecifcidade dos processos em questdo. Flas co meito de desma eptanas situagdcs e de reinterpret-las numa lingua is, cone a aces ovat, desaeentao, iteiramente definidos segundo sy nd ds oc ado sua deficiencia. Como o observa Silverman (logy Fanaa ec pearenaparos elementos pertinentes OW SIgnicativos dog ‘nomenos a analisar. deficiencias, baseando-se numa definicao ol operagdes estatisticas ~ ‘como a explicitacao dos fatores blemas, justificar as reform: ins questdes que ela aponta, a pesquisa qualitativa ig Econ endorse Fal fieados. Ela opera, poderiamos dizer, um dig to, da instituicao & comunidade, ¢ do prof. “nal ao usuario, Este deslocamento do ponto de referéncia faz com que as ca Fins de percepeao e de analise, estabelecidas pela organizacio.ou pelos agentes fiesionas, sejam deixadas em suspenso, reexaminadas, e requentemente substi dns por analses e conccitos que recorrem mais 8s redes Socials € AS estratégis da, lowes, do que as suas representacOes e as suas trajetdris; isto €, a diversidade ‘ida social da qual cles sao parte integrante. Atenta as especificidades socioculy. 's das clientelas ¢ dos usuidrios, a pesquisa qualitativa forca a repensar 0 estidy das necessidades nao mais segundo indicadores de medida, mas sim, segundo, ‘especificidades socioculturais dos meios de vida Em altima andlise, visa-se introduzir um pluralismo e um relativismo na de. nigao dos objetos e das coisas. Mostrando a diversidade dos pontos de vista, reat vyizam-se, de uma s6 vez, 0s pontos de vista institucionais e profissionais, e forcase ‘a conhecer pontos de vista invisiveis, censurados, ou simplesmente silenciads.4 pesquisa qualitativa ndo faz sendo reintroduzir um outro ponto de vista: ela pre poe uma outra maneira de intervir e de gerir. Ela busca fazer as coisas “diferente mente”, mais perto do local, favorecendo uma descentralizacdo € um encargo ce rmunitario dos problemas e dos servicos, permanecendo critica frente a toda form: deagao e de intervencao qulificada como burocratica ou tecnocratica (CORINE al, 1990; 43-47). De um ponto de vista qualitativo, os sujeitos sociais interpretam sua situag cconcebem estratégias ¢ mobilizam recursos. Essas atividades implicam tempor dade da acto e dinamica das situacdes. E por isso que os autores definem os cone {0s “sensitivos" (sensitive), que permitem descrever os processos em curso. Gol ‘man (1961) tratara da carreira moral e das adaptacdes secundarias entre os pacie’ tes dos hospitais psiquiatricos; Corbin e Strauss (1988) desenvolverao as noo duz nantes pela compreensio dos signi! deslocamento na pesquisa social I i I E oria social € de estrategias de realinhamento, para compreender a gestio reronica € suas relacOes com a transformagao da identidale social’ ie aubstituir as categorias administrativas das conceitos “sensitivos”, a pes _aaltaivafavorecetambem o emprego de novas perspectivas sobre 0 social s cao de interpretacdes tals proximas dos contextos das stages. Gragas ca pron auegorias de percepcao do socal ela consegue eonceituar diferentemente a.novss ematicas, ¢ também trazer um novo esclarecimento sobre os diversos pro- 2s pro leva determinados individuos ou grupos a enfrentarsituacoes dif- cess0h Se trabalho de analise se esforca em explorara diversidade das definigoes se mesino em reconsiderar‘0s postulados que orientam alguns programas ou aiGyidenciar processos que a abordagem quanitativa nao consegue delimitar, signa como negligenciaveis (BRYMAN, 1988; MECHANIC, 1989). Vira pesquisas de tipo qualitaivo introduzem a questao do poder no estudo dos problemas sociais, por meio da analise da construcio das representacdes 50- oot dos processos pelos quais determinadas definicoes conseguem se impor itr soctalmente reconhecidas como legitimas, E nessa perspectiva que Becker {1967a) fala de “hierarquia de eredibilidade”: isto €, da relagao de poder que orien- tua definigdo do problema ou da situacao, Muitos clamam por uma pesquisa que tome o partido das populacdes ou clientelas excluidas dos debates. Assim, Goff- fran (1961), no contexto de uma observacto participante em um manicomio, de- Cenvolveu sua pesquisa a partir do ponto de vista dos doentes. Fle foi levado a re- definira situagdo dos doentes mentais enquanto reclusos. Fle reinterpretou seus comporiamentos como mecanismos de adaptacao secundaria numa instituicao qualifcada de total e analisou o discurso eas priticasterapeuticase institucionais, Sob o angulo de ideologias justficadoras e de praticas rtualistas. Essa sensibilida deas telacdes de poder no meio hospitalarlevou Glaser e Strauss (1965) a observar que “quanto mais elevada € a condicdo social do paciente, de melhor qualidade sera oservico prestado pelos especialistas” Retornaremos, posteriormente, a dife- renga de perspectivas enfatizada pela pesquisa qualitativa entre o mundo dos usua- ios eo das instituigoes ow dos profssionais, ge wre da doen qui Um exemplo: a pobreza A pobreza constitui um tema clissico e relativamente bem estudlado da pes- uisa social tradicional: de Booth (1892-1897) a Statistique Canada, sua medida constitui uma condicio prévia da instalagao de dispositivos de luta contra a po- breza. A analise quantitativa constroi categorias estatisticas, divide os individuos em lasses, em funcao de critérios econdmicos e de variagdes de renda. A pesqui- Sasocial tende a reificar essas categorias estatisticas ¢ a tratd-las como categorias Sociais reais, resultando disso uma cartografia, ou topografia da pobreza, sobre a 1 se basetam diversos programas de distribuigao de auxilio para avatar gy qual se baseiam diversos pre ee desenvolvesse uma corry 1980, para que se a se Muestiona explictamente as medi administrativas da pobreza, Nog Foi preciso esperar pelos ano | analise eigiie sobre pobreza a cal qu a dicionais estabelecidas segundo ee See ee 28 PES a a particular de enfrentar os problemas € resolv. joe oo. sane a sultura da pobreza, elaborada por Lewis em te ; ee are retomada pelas administracoes publicas,. Patag, oie certos autores, como Katz (1989), as classificacoes € divides estatigtigg | ese no merecedores,e impOem um sistema de classificago sem relaedo coy, Wide ral ou a experiencia dos individuos. A pesquisa etnografica sobre a po j saasRausio,apiesenta um quado da vida do pobrs,gralmente muito cont | tado em relacaoa imagem que se desprende da andlise estatistica da pobreza, Pigg \daem descrevero mundo social do pont de vista dos sujeitos, a emogrtiag | pobreza procura dar conta da muliplicidade dos caminhos e das trajetorias nog tende também a mostrar a similtudes entre esse mundo ¢ 0 nosso, consid como inignificantes pela anlise tradicional. O estudo de Williams e Kornblay (1985), feito a partir das historias de vida de 900 jovens “pobres” de Nova York muito representativo dessa nova tendencia que busca assinalar a diversidade dy biografias e salientar as diferentes manciras de se adaptar a pobreza, ou de sar dela, O procedimento da antropologa Anderson (1978) ¢ exemplar, nesse sendy gracas ts observacdes etnograficas de longa duracao, esta autora mostrou o pap da cultura de rua (street culture) e da transformacao dos modos de vida familia w experiéncia de maes adolescentes nos guetos urbanas. Essa exigencia do “olhar qualitativo” para o estudo da pobreza, foi imposta Franca, por ocasido das pesquisas realizadas sob o patrocinio da Missio Intemi nisterial de Pesquisa (Mire), com o objetivo de avaliar a eficacia do programa renda minima de insergao (RMI), na luta contra a pobreza. Segundo Chopart,0s Pesquisadores se mostraram rapidamente insatisfeitos diante dos “dados estats- 208 que so podem dar conta desse publico por meio de grandes categorias (dade Sex0, estatuto matrimonial, situacdes quanto a subsidios, contratos de insergid,t pos de precarizacao),e 56 0 fazem de maneira sincronica” (CHOPART, 1992: © procedimento qualitaivo fo, assim, imposto para delimitar as dinamicas soci dentro do programa do RMI Conhecer melhor os beneficiios do RMI pressupoe, efetvame 'e-apreende 0 deals das ajetorissocias ou economia dB! 10 ee dos meios para uma abordagem critica da maneira como eles sio mani 1992: 11), “fabricagao® de dados e da ipulados pelo dispositive (CHOPART, A pesquisa qualitativa permitiy “reconhecer a distancia entre o que dizem as sentacoes institucionais eas claboracoes producidas pelos atores, do dispos- rer proposito dos beneficiarios” (CHOPART, 1992: 11), Fla forcou os pesquisa- dio eii Iibertarem da logica contabil dos contratos de insercaoe tambem favo. domtyaanalise "do modo comose desencadeia, ou nao, uma traetoria social. a par- roti sucessao dos contratos em relacao a um mesmo beneficatio” (p. 11). Desse tireedimento, Fesultou a identificacdo de uma diversidade de situacOes e uma Mipserigdo mais apurada e mais exaustiva” das stuacoes paticulares : ‘Nas socidades modermas, 0s pobres mio formam um grupo rel, com fronteiras bem-delimitada. Efetvamente, nao existe limite objetivo da pobreza, e, consequentement, toda abordagem tedrca desta noca0 € condenada a fsa evalidareategorizagoes, que, na realidade, slo set pre arbitrariase inevtavelmente Nutuantes (PAUGAM, 1991. 73) Por tris da unidade da categoria adninistrativa ow estaistica das populacdes em aifiuldade, a pesquisa qualitativa encontra a heterogeneidace das sitwacoes, ad sersidade das traetorias ¢ das experiencas, desvenda processos multiplos de excl. slo sociale estratégias plurals de sobrevivencia, Assim, o estudo qualitative do de- semprego apresenla experiéncias etrajetorias diferentes, qualificadas de totais, in. versase diferenciadas, por Schnapper (1981); de repettivas, de conversao ede exe clusto, por Freyssenet (1984), Os pesquisadores se dedicam a Yeconstituiro conju. to das estrategias dos desempregados,redefinidas em termos de “capacidadey de aliacdo,raciocinio e orientagoes de condlutas pessoais" (REYNAUD, 1993; 276), «que remetem a puralidade das maneiras de viver a experiencia do desemprege. Aw, buise, assim, aos desempregados, um “papel ativo" na definicao de sta situacao em sua classifieagso nas diferentes categorias de intervencio administrativa (p 276). Consequentemente, o desemprego se tora tim universo complexo, no qual os individuos “elaboratam estratégias sobre a duragao”, que toda intervencao deve ter cm conta para ser eficaz. Levando a descobriritineratios¢ futuros diferentes, 0 pro- cedimento qualitativo busca também ajudar “a construir intervengdes-alvo, orientas dis para a prevencdo, assim como para um acompanhamento visando organizar as condigdes de uma volta a0 emprego” (ALDEGHI et al., 1992: 12), pois a considers, Sto do ponto de vista dos sujeitos sobre a sua propria condicao constitui uma condi. ‘to previa “para methor adaptar a ajuda que é proposta” (p. 7), F essa mesma preocupagao de descriedo e de atencito as dinamicas das situa: (ies que caracteriza as andlises qualitativas sobre a pobreza no Quebec. Nestes al. rag as: Um nova interpretacao da pobreza foi articulada em torno de um pa tadigma interpretativo, compreensivo e relativista, que atribui uma grande impor- {incia a “observacao participante, as representacoes e sistemas de sentidos, ay ec. tudo dos modos de vida" (LESEMANN, 1994: 597) Seja Gauthier (1988), ne sean, wor do sobre a vida cotidiana dos jovens sem emprego, ou Colin etal. (1992), ng widas em situacao de extrema ak se sobre a propria percepeao das mulheres gr a 2a, ot ainda Dandurand (1986), na interpretacto da construct da relat re. maternidade entre as mulheres assistidas socialmente, cada uma dessas a busca compreender a maneira especifica pela qual os stjeitos percebem, con® troem e gerem a sua identidade, elaborando estrategias de sobrevivencia, gig ¢ vendo 0 eu cotidiano. piss sca “reviravolta qualitativa” no estudo da pobreza no Québec testemu Fer ne timsacto da concept nsluconal da Pobrea ae responde a uma mudanga de paradigma: i fi Realzam-] peaqisas que se baseiam na constatacto de que aeatcamat mada da pobre al come ela ¢ vida nose pore tamponco dos meant «ds poco lo as a i arsed compreenderositinetrios, os caminos dog Peconcermidoscanalisar suas rjetorias através do emrankatohe tease srs cose dsj 15a recat {crando-sc igualmente os processor pelos qual a socie ‘moralmenteepraticamente aqueles que ela considera “pobres" qe SEMANN, 1994: 595) Alem de permitir uma descricao mais apurada e exaustiva da realidade social, pesquisa qualitativa visa descobrir -, por tras das categorias administrativas e estas ticas ~atores, isto ¢, sujeitos detentores dos recursos, e capazes de iniciativas, pay, tos, estratégias. Esse novo olhar obriga a modificar o questionamento sobre a por. z2.A prioridade no mais consiste em determinar quem 540 05 pobres € quals sipg, {atores da pobreza, mas sim, em se indagar sobre o modo pelo qual fica-se pobre. bre os processos que provocam essa situacao, sobre os recursos empregados paral tar contra essa situacdo € sobre o papel dos mecanismos institucionais e profisie nats na evolucao desse fenomeno. A metodologia qualitativa ndo se reduz mai aqui, a uma simples técnica de coleta de dados; ela desempenha um papel na renone ‘éo da problematica da pobreza, tal como no conjunto das problematicas socials piversas pesquisas qualitativas tentaram avaliar o fundamento dos pressupos- sobre as clientelas nas intervengoes ou nas politicas sociais, esclarecendo OS Jos inesperados destas intervencdes sobre a qualidade de vida das clientelas. Veflexo se faz tanto mais necessaria em um contexto de restricoes orcamen- ssa que se conhecem pouco os efeitos dessas restri¢des sobre as populacoes tats, das — quer se pense nos efeitos da desinstitucionalisagao, da privatizaca0, cores descentralizacao dos servicos, Varias pesquisas (DOUGLAS, 1972; WISE- STAN, 1979) realizadas, nesse sentido, salientaram as distancias entre os objetivos ofi- Mie estabelecidos por aqueles que decidem ou os planejadores, eo vivide das popu- facdes que sofrem as mudancas, Outras pesquisas mostraram as consequencias indire- tas, geralmente invistveis ¢ qualificadas de perversas, de diversos programas ou inter- ‘mncoes sociais sobre as clientelas (MORSE, 1989; RIESSMAN, 1994), ‘Uma tradigao de pesquisas qualitativas se implantou, sobretudo nos Estados Unidos, relativamente ao estado dos processos de institucionalizagao ou de desins- titucionalizacao de populacdes definidas: as pessoas idosas as pessoas sofrendo gedoen¢as erOnicas ou mentais. Em cada caso, a abordagem qualitativa se revelou. ‘recessiria para explorar as ligacoes entre o fardo do cuidado ea decisao de instit- ‘ionalizagdo. As decisdes de institucionalizagao nao dependem, na maioria dos ca- ‘905, do grau de severidade da deficiencia ou da doenca, nem de uma logica de cal- culo que avalia 0s custos e os beneficios, e que pressupbe uma relacdo entre o grau dadeficiencia ¢ 0 grau de stress. Essas decisdes devem ser compreendidas, segundo Gubrium (1989), sob o angulo da cultura local como modo particular de interpre- tacao da experiéncia. Limitar-se a uma medida objetiva da deficiencia ou da inca- pacidade deixa obscuros elementos essenciais, como a interpretagao subjetiva des- sa deficiencia pelo individuo ¢ seu entorno, também as estratégias de adaptacao que variam segundo a rede de apoio social. Nao ¢ tanto esta rede que ¢ determinan- le, mas sim a percepgao que se tem dela ¢ os contextos particulares de sua utiliza- «<#o. Torna-se, aqui, mais importante compreender o recurso as redes sociais, do que explicar como elas determinam a acao dos individuos. O sentido atribuido aos {atores € mais significativo do que a sua determinac4o. Da mesma maneira, a metodologia qualitativa pode revelar-se stil e pertinente par compreende o problemas liga utlizaco dor sevios. A decsto dete Correr aos servigos publicos nao mais depende, aqui, da gravidade do problema: cla continua relacionada as contingencias de situaces e ao sistema das represen- \acbes ativas na definicao de uma situacao ou de um estado enquanto problema. (Queter tornar 0s servicos pablicos acessiveis requer uma compreensao do inte- ‘or da “cultura local” dos usuarios, ja que a ndo utilizacio dos servicos nao pode Ser reduzida a uma quesiao de ignorancia. Ela remete a modos de atitudes que po- dem se dever tanto a forca do sistema de cuidado informal, isto ¢, a densidade das ‘des de apoio ou de ajuda mutua, como a austncia de tais redes ¢ de ligacies com ( mecanismnos institucionais de cuidado. As intervenghes 0s servicos, defimidos co- mo respostas as necessidades sociais baseadas no reconhecimento dos direitos so 108 ei (0s mecanismos institucionais e profissionais Mais do que uma técnica de coleta dos dados, ¢ menos do que um novo pa digma de analise © de interpretagéo, o procedimento qualitativo traz, podertames dizer. uma nova visio, um novo questionamento permitindo reconceituar as pe blematicas sociais. Devido 2 um questionamento centrado mais nos processosd ee to dos processos ¢ das razdes oy lecerem deseu dreitoaosseryigy clais, devem ser esclarecidos pelo con! vam os individuos ou os grupos a nao se preva pela observacao participante, ou py © procedimento qualitativo, tanto pel OU ea mae ade, revelou-se produtivo no estudo dos meios instiy, tabelecimentos, ou unidades de servico, hospitalares, egos ‘observagdo intensiva das interacOeS Nesses melo ye nar e aprofundar os esquemas e as redes de comune ‘0s profissionais da sau trevistas em profundi nis, tais como os res ou de servico socia ‘ucionais permitiu examin ede interacao, entre, por exemplo, os beneficiarios e istancias entre o discurso oficial de tipo terapeutico ou educativo, que € many has insttuigoes, ea percepcio co vivido das clientelas. Nessa perspectiva, aly pesquisas indicaram que as praticas institucionais ou profissionais, geralmeny Gbedleciam mais a exigencias de vigilancia e de gestao do que de ajuda ou de ey do, Assim, a observacao etnografica em um asilo para pessoas idosas (GUBRIyy, 1959) mostrou que um determinado comportamento era interpretado como yy problema decorrente de uma intervencao terapéutica, pelo pessoal do turno q, dia, e como um problema de gestao e de disciplina, pelo pessoal do turno da noie fou seja, que o sentido do acontecimento mudava segundo as subculttias organ, Zzacionais;“|..] o que era vivido como confusao, na pratica, variava no tempo, egy forme as percepcées culturais dos problemas (daily culture of troubles)” (Gi, BRIUM, 1989: 103) Essas estratégias de pesquisa visam superar as definicdes institucionais of ciais, isto €, 0 script institucional, e compreender ¢ analisar os mecanismos en jogo nas burocracias de tipo profissional. As diversas operagOes que intervém nz ccategorizacio, diagndstico e avaliacao dos problemas das clientelas podem serre. duzidas a operacoes propriamente hermenéuticas de decifracao do sentido dagip cedos comportamentos. Assim, Dingwall (1983) assinalou o carater construido dx diagndsticos ¢ o papel dos modelos de inferéneia na avaliagao dos casos de abuses sexuais. Ele mostrou que a gestao desses casos obriga a pactuar com regras Ces geralmente contradit6rias, como a defesa dos direitos das crian¢as e o diteito. vids privada. O estudo qualitativo possibilita, entlo, evidenciar as regras morais ¢5 ciais que orientam essas acdes. Esse mesmo pesquisador mostrou, ainda, ques ‘modalidades de cuidado das criancas maltratadas depencem do contexto de traht tho dos interventores e dos sistemas de normas morais que influem em suas ini pretagoes dos problemas e em suas intervencoes. A observacao emografica dasit- tervengdes profissionais igualmente explicitou o papel dos mecanismos de reintet pretacio retrospectiva, frequentemente trabalhado na avaliacao das clientelas, quanto as experiencias do individuo sao descontextualizadas para serem recone twadas em um quadro de interpretacao institucional ou profissional, como se conjunto dos comportamentos do individuo fosse reinterpretado a partir do dis néstico estabelecido pelo profissional. 104 a abordagem qualitativa se esforca por dissociar o discurso administrativo do mal, ber Como por tornar complexas suas andlises, superando 4 leitura .quentemente individualista dos problemas sociais, pelas administragoes Ela abandona as variaveis diretamente manipuliveis pelos profissionais € asutsites pa se interest pelos diveros procenosconstutvos das it- asin Toblema. A abordagem qualitativa leva, geralmente, o pesquisador a consi- derat @aquelas dos sujeitos que as vivem. Intimeras pesquisas relerentes as per- Aobservacdo etnografica permite novamente situar e recompor as regras cons- titutivas de cada meio de intervencao. A andlise qualitativa das organizacdes res- Sita a complexidade de seus modos de funcionamento, os quais se estabelecem de forma geralmente contraditoria ou conflitante, a maior parte do tempo em oposi- ‘qos prescricdes ou 20 sistema de normas, de que tratam as obras sabre adminis- fracto publica. Para Martin e Turner (1986), a abordagem qualitativa do funciona~ mento organizacional continua sendo um dos meios mais eficazes para evidenciar ccompreender os problemas de gestdo, e para propor mudancas que sejam apro- priadas a dinamica organizactonal, A consideracao da cultura organizacional e da particularidade das situagoes leva a formular interpretacdes mais adaptadas ao funcionamento das burocracias de tipo profissional, que sdo as organizacdes sociossanitarias, ea se precaver contra.as gene- ralizagdes abusivas decorrentes de uma analogia com as organizagies industriais. A pesquisa qualitativa parece tanto mais necesséria no campo da saude e dos servicos socials, que uma tradicao de pesquisa aplicada tende a retomar exatamente as cate- sgorias eas interptetacdes procluzidas pelas organizagoes industriais ou comerciais e a generaliza-las, ou a aplica-las nas organizagoes profissionais de servicos. Mintzberg (1983) fot um dos que enfatizaram que a metodologia qualitativa continuava sendo o procedimento de pesquisa mais pertinente para observar € analisar as estratégias emergentes nas organizagdes e nos processos reais de deci- slo. Ele argumenta que a pesquisa qualitativa contribuiu fortemente para a reno- acto do discurso sobre as organizacoes: por exemplo, ela introduci a nocao de éstratégia e revelou a importancia da cultura no funcionamento organizacional. 0 trabalho administrativo nao aparece mais, desde entao, como a simples aplicagao de princtpios empresariais, mas sim, como a implantacao de estrategias comple- as, que s6 podem ser detectadas pela busca de modelos (patterns), no fluxo inces- sante das decisoes. A observacao participante leva a reconsiderar as definicdes pre- vias, geralmente prescritivas, do comportamento na organizacio. Ela obriga a ree- Xarninar as racionalidades organizacionais oficiais, ¢ consegue demonstrar que a logi- cada.acdo organizacional obedece, principalmente, a logicas descontinuas e praticas, profissio Fuito fre i at a ele _ ee rutivos da analise qui varios dos prineipios £0» al ie ea abe + quis exnografieas efettadas ny fort icfnon ou elie devi 2 Cn C6) ean deg terior de burocracias de ipo profiss de Gliun 1901) a as no meio hospital aa ads ataresdispondo de recursos estates 85 co ancia das eds de apoio, dts LORicas inj cat €s profissionge sere Strauss (1969), realiz das instituigdes sto definida cestudos mostram, além disso, aim maid autem acd Pabst deende a array ou dos usuarios, €& d0S ARENLES Profissg de uma dupla cultura: a das cli natu eens, Gein (1989) « Con etal ae oeal, para caracterizar a maneira como, sine “au abs individuios, visando gerit 0s aconye ere geal estruturaria a realidade das experign cos onenara em cada comunidade aiterpretacto dos Probl cura elaagiia como principio de discermimento, classifica eq, re yao mens de interprearos problemas, melos qUe Se Poder, proprios” (GUBRIUM, 1989: 96) sa canequencia dessa atensio antropologica s dfereneas cultura, dives pesqes qutatvas aparece, fequentemente, como requstOrios Contra ag, Se Peel que se pense em Gottman, frente dos psiquitras; em Manse Poon! sere a questao dos abusos i900), ente sos assstentes socials, no que se refre & ques sexunig aoe uentart (1988), frente aos medicos, no tema da experiéncia da gravides, 0 procedimento quaitativo pretende devolver uma crediblidade ao senso comum dog ane em attude sera objeto de criticas, nds o veremos, da parte daqueles que en- itismo ou de populismo nessa maneira de analisar. Por tris dessas andlises, esboca-se, entre diversos pesquisadores, 0 projeto de inerir de outro modo. Fica-se proximo a uma praxiologia que obriga os interven- toresa terem em conta o carater construfdo dos problemas e da dimensao so- ‘clocultural da realidade de suas clientelas. 0 objetivo reside em melhor adaptaras intervengdes ou as politicas sociais a situacdo real. Busca-se incitar aqueles que de- cidem, para que considerem a complexidade das situagoes e das presses que pe- ‘sam sobre os individuos em sua vida cotidiana. As intervencdes devem se construit nao mais em virtude de grupos estatisticos, definidos a partir de uma deficiénels ‘ou de um risco, mas em virtude de sujeitos que se inserem em redes sociais. Ha um esforco, por assim dizer, em integrar no discurso social a diversidade cultural, # cultura local, as estratégias dos atores e a dinamica das situagées. E por isso que 4 pesquisa quaittiva esta em total desacordo com qualquer projeto de uniform So de padronizagao dos programas, pois ela postula a pluralidade daesuagies dos conexos,defendendo, em cris casos, a unicidade das si tne ive sa Stach ¢ ee en et tculane esperiica Cl Gigialaas 4 forma como a situagio evolui e afeta sua vida pessoal ¢ propuseram 0 conceito de “ ‘meio atribui significagoes 3s cimentos da vida cotidi mar de seus cligos. contram vestigios de roms 106 com seus proximos. A compreensio antropoldgica da dinamica des- ocevfaz com que 0 auxtio trazido possibilite que 0s sujeitos resolvam mente suse dificuldades a eate de pesquisa principalmente nos Estados Unidos, venta relacio- ma erjados da pesquisa & intervencdo, partcularmente para as pesquisss re- os result erienciasdilicels ou traumatismos, como o fato de ser acometido as exe cronica ot mortal. A plena consciencia do vivido fenomenologico uma doer Gas possbilita adaptar a intervengdo, Os individuos no sto mals Hiifnidos por sua doenca ou sua deficiencia, mas sao visios como capa- resar da precariedade de sua situacao. Por outro lado, soma-se a inter- ‘Jo da dinamica e da totalidade. Para a compreensao dos process0s ¢ vim jogo, a pesquisa qualitativa permite determinar os tipos ¢ niveis de vo e,asatitudesa adotar, as tarefas a cumprir, o apoio a dar, a fim ras situagdes de crise ween ean ess eXD% ‘ovalmente zesde a6" sepa 0 sent ‘inamicas inuervencd0: tesolucions *: casa mesma visio que inspira as pesquisas de Corbin e Strauss (1988), de naive com seu capital escolar ou cultural. Como o enfatiza Corin: va em discurso ideologico, que se refere mais a uma visag gi '8 I ju (Ocorpo do conhecimento de que se dispoe ea perspectiva quese ado- tz levam, com efelio, a inagar, de umn cera fora, o objeto, Dera aaa al do ques um couheciment cientico da Vida soi Para os defensores da primeira tse, alanca da Pesausy sealing : ve torma positivamente a pesquisa social, sob o duplo rss lemon tr ae eam eee. sna mediiaem quea Pesquisa qualitaivage com feito, ela se ve transmutada em ig surebedecendaumsistems dregs estanhas&comunidadecentfica, Agi st pesquisa quaitativa com a pesquisa social nao se refere mais a0 alarga Serena es paraonverte um tipo particular de capital cultural no campo da pesquisa soggy ¢ para impor sua visio de mundo Sem querer reconcilaress4s duas teses, eu entendo que a contribuicdo da ps, ‘quisa qualtativa no campo da pesquisa social pode ser interpretada como um py, cksso de inovagao intelectual, remetendo ao que Ben-David (1991) designa come tima “hibridagdo dos papeis”. Esse processo corresponde ao estabelecimenta de uma nova identdade intelectual, resultante da passagem de um campo inteleetus| prestgiado, ou dominante, a um campo intelectual periférico, ou marginal, Ey ‘mobildade intelectual engendra um papel hibrido nesse sentido dle que sa0 rein. vestdas, no campo intelectual periférico ou marginal, as categorias conceituaisad. {quitidas no campo dominante, Tal situacao leva os recém-chegados a reconsider, as perspectivas no campo periférco, ou sej, a renovar o objeto e a problematica ssa analise, proposta por Ben-David (1991), para dar conta do desenvolvimento da psicologia, parece pertinente em relagao ao nosso sujeito: Depois de ter passado de um domain prestigiado a um outro, que oe ‘menos, ele fo recém-chegado| ficara provavelmente feliz de ters ‘oportunidade de melhorar sua posigao, ao abracar a inovacao, Seal como aatualizar certos aspectos que podertam permanecer ocullos ou obscures a outras abordagens (CORIN, 1993: 43). ond, uma questio persiste. Essa novacao intelectual pode ser compreen- om uma inovacao cientifica e pode acarretar inovagoes sociais? As argu- Aidt core de cada tuma das duas teses anteriormente mencionadas fornecem ele sera esposta contraditérios, concernentemente a contribuicao centifica ea soca da pesquisa qualittiva para o conheimento dos problemas socials wale aua gestto, Cabe a cada um se situar em relacio a esas argumentacoes, para {hr continuidade ao debate, que permanece aberto. nga se tora um casamento desig cumpre mais um papel metodoldgico; Referencias ALDEGUI, 1; CLARAC, M.; CHARRAUD, A. (1992). Vécu et devenir des chomeurs ie longue durée. Paris: La Documentation Francaise. ALTHABE, G. (1992). Vers une ethnologie du présent. In: ALTHABE, G.; FABRE, ; LENCLUD, G. (orgs.). Vers une ethnologie du present. Paris : Maison des Scien- cesde [Homme, p. 241-260, ANDERSON, E. (1990). Street Wise: Race, Class and Change in an Urban Commu- nity. Chicago: University of Chicago Press, (1978). A Place om the Comer. Chicago: University of Chicago Press. saad onc pan ulin penal do meno malo que a ecte dn cites de avai dos projets de pes sacl, foram se extagen, ho que Vink (1995), apos Latour e Woolgar (1888), denominou de o ciclo de credibilidade, em que “os cientistas tie seo ne rome oes yan ms eae Essas productes podem, entdo, ser convertidas mum ciclo de credibilidade, passando, sucessivamen- ; pe recohecimento pelos pares, depos, na subvengdes. A subvenco investi nm Novo sl od os dissecans, no campo dap: J Pt arcs mrs rode hema, very cam 1 PARTE Ill Abordagens e técnicas de pesquisa entrevista de tipo qualitativo: considera pat Ap des epistemologicas, tedricas e metodoligieast Jean Poupart considerado como um dos primeitos manuaisde meta Noa raga Escola de Chicago, Palmer (1928) deleniense gon abalhOe ros ores ublizlos enquantorecuno paneer incon ua 5 FANE anges de cencas ocal pate pala i rez, as uss nleressaa por objets depron de we sc queso da rego ene cece eee ssa, chamboredon ePasseron 1668 5) denen 0 contrite =o jen, Bourd yodas as conlroversis que uma tal aflemacio poss levanar = que dee aldiga das clencia do home, a detrei cm un oes ur “ule ud, orien gad de vera cca conlndy nee ogbsqies tk Po da elidade com a readade tale gual ve ses coments sobre a entrevista e sobre oestatuto do material colada seit bem toda a ambiguidade igada 20 uso de um dos instruments de es tem como tm dos mas frequentementeemprezaos mas nea ss spi EEN AUN sips, sen on i i SSS ei ly Hig con ia brah | tnd. net un certo mimery de Fes re FP gia OM HEE Pen einer pemediass mens. von qs ee AS : (tit Gs AOS, 00 Sei, ni Nes eens scm geri Ca rear a enti Ares aap os a asco quo SLT dane eas coee s sa gees cements ena” ie Ml cy ECA Ws ulin Daeg ane resident le sega | pega cad bs eileen Tas ee rem ase en scaes¢4YOMAEE Sao egy MH tt densi scmsieti e a p wa impor cancun USER oes unten enc Med 93h RES im, tratarel em sua linha. le deesplorato send eos tnomeadl. de Gatinkl (147, ane como os ares tia guns tact MLO py, jos qn ot Baik, ll raneMEN. Eta iy psale-a, ov alge ois ue amber inser nape n rg fei 8S. Poder ei por hiya avo nuner de dense fundamen hh Ht cls busca 10 prolngamen ds try uci do discus, o papel dy 0 a catego do Senso coma e explo stb inn domo 128 re og dei ig ft want dar sumariamente ur Te erin do content par peso esse pd ds res enplis ses enonta secre plo med, ends realidades segundo o ponio de Tatars Csaaments de cen pisteologic,etco politica ¢ Melotiltgacg, einsummado ge 0 permita. E com base em tl: atgumento que os sacglo- tase do esa ens de tipo qulitavo fle Chik «casein inn han, stds quits (FOUPART, 179 Asin. como sof RELA 18 Beer MF) eninge, jas dosatres, coma ajuda da observa paricipne, consi ome June de perecber suas prices iterages, como tim de {intertogilos eae. Por suave, Thomas preteens orespndenia pn ‘asautobiogralias © 0s driosintimas,insistindo no fo de, queestes materia comes eer“ pel peusder-cndaa esa ur, squlel permit assim aprender diferentes dmensies,comoas aude oy snes Fiaente, a wmaopnioamplamene drugs amo dasa cts, segundo a qual recurso nests, mala sas lites atin endo un dos melhores meisparaaprender senidoqu saosin ‘scons os comportamentas no alam por mesmes)a maa como ‘sereresentam omundo¢ como els ive sta situa, com sao ‘stom agus em melhor posi aa lar sn, Seprinci tipo de jusifcaiva estima oie deciles ings ‘anes, que nope ser abstaias auido momento em at jl ‘so rea enrevisase e penguin ou st bus ogue A i das rads sis pnd sociis dee ize com o materi de etevsa~ una gusto ue scl Siiendearc ce: ‘enn, mesmo par aguas ques equcen de pat in stems ‘olensriniomene a agunendetgo gpstemolgn Os ‘ernment ended open dialed tos ulate dent i rs, nica cand hee WD? Pie deca ana seme pn eb pr tana dea ds asain de cone ore pira prcisamente em toro da gust deste espns Cpe al seas conus xis i BY D "Snes rm ensteemene vein xaa mephasoudapespcivadsars sits A Wea com sans pgs xa, asc BNA | Doe dit hie ales pels pcg rset dio uit, rs tis de arguments sega prin lorem epstenoig ented to qualia sag’ siyamae acu poaien profiad da pespecta ds a chi considera indspensie ora uma ea aprensioe compe crass nip dengume de orden exept vis ip giao pec neces, reel posi comprendere concer itemamente os clemas e questesentrenady assis Desa, pofi,osrumentos metodolycos acai ‘ipoqulaivo «npr ente "eames deinformata cps cia eidades oa, mas, prince, como instrumental eae expertnia dos tore Devesecertamente observar que swstist psdeagnents seaplane a conjuto dos modes ult alls gine peepee para compreender os mugs Sepredeerdas eres, defender que &s condutas Socials nag 20 deere de determinants soca 8h ere luz da perspectiva dos atores, just ® CP 03? and Heional entre 38 PeTSPeCiVaS Subjetivistg« dio diferentemente, segundo as trai thy, oYongo das titimas deeadas, tena te, mires Perspectivas, o que imped A Me seo, importante NOLAT GLE a5 Posies ng te revende. Assim, enSWTAFAM-Se, Por vezee em evide iva dos an ee eae send em EEENCRE 8 PTSPEtN dos gt cinstas de maa amie insist na importaneia do pape doggy quanto, na reali na institwigao ou 05 grupos de pertencimento~ng, ty a= por xem todas rajtorias Socials. E assim que, em suas pesqgg? ing ee mel css mae te Becker (1963) tentaram descrever a manera Como q Een amc, pels inerpreaedes gu yee cease Np coergtes que © meio Thesimpoe. Em. contrapartida, rg au por adotar um modelo de andlise muito focado sobre os determina. Sour levando sufcientemente em conta a perspectiva dos atores,enquan, ca fate reeonclar & abordagens objetvista e subjetivista, por mea deg sero de habs (centre outros, BOURDIEU, 1992). ‘Outracontrovérsia de natureza epistemoldgica que desperta o interes pi perspectiva dos tore: qual reconhecimento atribuir ao saber leigo, em lagi Sper cienufico? Trata-seai de uma questo que surgiu desde que se coletamd. poimentos, pos, por meio destes, os atores fornecem seguramente intrpresis de sua experincia e do universo que os cerca. Além de suas propria interpre {eso pesquisador se encontra,portanto, diante nao de uma, mas de vis inte preagocs de uma mesma realidade, ja que cada pessoa ow grupo ¢ eapaz ded tuna interpretaio diferente sobre ela. Qual crédito, entdo, atribuira esssdile- tes vers0es da realidad, e em virtude de quais critérios ou de quais principss verses dias ciemtfcas ow algumas delas, deveriam sobrepor-se as outs? ‘esse respeit, ao menos tres posigoes distintas se destacam, posighs «que eu me contento em apresentar aqui, surnariamente’, Uma primeira seins "8 cortente do pos-positvismo, ea obra de Bourdieu, Chamboredon ePas* nologis concons ee ee a forte, the eo 1.Parn um explo, etre out 2s oo pean tp Meio ef: echelon 090) ans apesentto das poses eistemold “ consti! ‘lea cl ocr cas pesitvista, pos positwvist Tacte rae seams sins pro Principlmente a os-positivista ea constrativista, nao sto seme Fe Pratc, como seas apresena habitualmente, indo, assim, 08 Pest ‘Wwentememte, de uma perspective nous 2 sue (1968) me parece ser uma boa expre sociolos i xpress. Para esses auto- jor de 000 que 08 a0res socials dio de sua propria realidale aire aor oy realidade tal qual eae” Ofaisdequessannn ee nes OP ae reaidadesnt0€.ems,una arsndecreiae st conutas Nese sentido, oconhecineno enti ¢ superiors ws finarias dos ares, peo fto de que ainda que ele mesmo conte arabe re Macao da realidade, ee ¢, todavia, resultado de um esorco sine Segoe te do pesquisador para romper com os pressuposios do senso co ood Pa les da clemciaestabelecida,e também para elaborar interpret Sone jam em construcoes teoricas submetdas mio apenas critic, mas ie i a prova da verificacao empirica. No mesmo veio,algumas interpreta Gainente 8 Pre mats plausiveis ou, em todo caso, “menos falsas do qu outa ‘em desacordo com as explicagdes origindrias, e serem mais con. se yicamentefalando, ¢ mais fundamentadas empiricament ‘sea! iamente a €858 posicAO, citemos os argumentos apresentados por al- Cont alist, como Clough (1992). Definindo-s como feminist & as interpretacoes da realidade laboradas tanto pelos atoressocias ie jentistas, so relatos, historias que apresentam verses diferentes da ial Para a. autora, esta historias, que se pretendem “descrgdes realists” darea- cai po, de Tato, senao projecdes desta realidade, sem verdadeirarelagto bade MO descjo de uns e de outros de apresentara realidade sob a forma de umn a callsta responde a necessidades de ordem psiquica’. Para Clough, a d- sata em termos da credibilidade, entre a versio dada pelos ciemtsis sobre 0 vervodas pessoas pesquisadas e a versio desta ultimas, entre o fato de que as ‘tapretagdes dos primeiros tem mais chance de se impor incontestavelmente do {prisdos segundos, devem-se mais & posicao social privilegiada dos cientistas Soqued superioridade de seu saber. ‘Una tercera posicao, similar ao pés-modernismo, defende que os pesquisado- rsdeveiam, em seus relat6rios etnograficos, nao 6 talar as pessoas como suje- site st eter mals Ymuexemplos de citca em relagd ao pont de vst pos positivist. oartig de Finger (1989) ‘sucelenteintrodgao de Dumont e Gagnon (1973), ao ndmero da revista Rehe ches socographt {fi kileadoao vivid, metrogando-e sobre os critsos aspera do conbecmento cn s&h ao conecimentoordnao, crcando a cone sons au xc 9 ‘sl forada experiencia dos atores, Dumont Gagnon ssstem na mportanci de ini i ‘Sesavesen apa, ao mesmo tempo, de considerate esperar o pono de isadosatres Ee ‘Miku seme tere posi, apresetada nos pros nt Ps provoca viva controversas, paticularmente no intro da omen ernst CE 5 ebsodetate entre Clough 1993) esmth (1993), no al Cough criti aabordagem do simde oS. visindo reproducira experiencia dos ators, 10 0.2 ss theres pv erage de vista, Por sua vez, Smith ensura Clough de esa qualquer reac snes € de nao conceber outa realidade do que a propea realidad dos duro a8 wo ae Se yam a miséria daqueles que, octy a sac, 8 HUAIMENLE rode js tab Pando um lugar invejave a propria situacho, i estado, ang or isso esto menos em uma situacae se esd Prem que 0 POM los diferenta.l Wo desvalorizada em rela wna _ é,anaises om Sepresso. Em lugar de dar yng at po tetas correnies crete feminsucene ase mals isa 36 CO eee ae deat erage r ideia de que 0 pesquisador deve mostrar a ete ticipam da pesquisa gcando se impo leveriam sey 0th ein selacto rar mais do que empatia | ae d= OS aco de uM dilogo entre o pegs Teta? ff Manley se emvolver em rela as esos pesqunadasemsune pe ; seen conscto MULE es seria, desde NAO, 0 frat Sng adic de false neutraldade exigida pela ciencia posta } pesos psqusides AS rT intes da pesquisa. Este ponto de vista ny"™aing ff jot? Po, cabe enfatizar que essa atitude empéticae engajaa frente ds con- are pesqussadores © Dir alguns praticantes da Pesquuisa-acao ¢ poe ¢ ua cin dos desfavorecidos edos oprimidos evesse paver ony cistante daquetedefent Ty que e preciso visar a produgao de um saher iy MF yc“, pesquisador, mesmo que os metodos qualitativos sejam considers fens 05 as aT es com as dos pesquisadores mek Mine Sorte propcios para enfaizar a sta expertncn ninco smoniza as interprets pe patcgyentos que Ihe conferem verdadeiramente a palavra Se, em mince ston, as praticasdisriminatOrias € as iniquidades product g maioria das pesquisas baseadas nas entrevistas de tipo qualitativo se | Denanciar os preconcel one poets rio de dar satistatoriamente conta da experiencia edo pontode vais ' uo de ordem epistemotogica, invocado para defender gr og mado, e, assim, demonstrar, nesse sentido, a maior empatia possivel Avargumento de ottiva,soma-se 0 argumento de ordem éticy is ener e propoem como missio defender a causa das pessoas intereocalan s ® Poli entrevista de UP te uma exploracao em profundidade das condiggee descrever, se for esse 0 caso, 05 aspectos dificeis de sua vida. Os mete. ‘Como a entrevista Pere nn ee jento privilegiado para denun ce fn e5™2. jImente, utllizados é o eatin visa como um ith uncer ge te fee Bas so, geralmente, wilizados como metodo “de imvestigacay” ane dot a soca, as pricas discriminatorias ou de exclusag a ff Stoo ¢ inal lembrar que soba capa dasimpatia eda empati ns pee tr, os recon _quidades, de que pode rentes”,“desviantes oar ae tormar objeto cert0> grupos considcrados guys ou mangas" doenies ena, Homose sores de droga, sem tel0, et), algumas minorias étnicas, oy, ora nope, tis como as de Ald ede violencia conju ‘Tprementea pesquisa quakiativa esta longe de ter 0 monopdlio da eriteagpy), ste venuncia das stuagdes de opressio. Falar no namero de pobres, ou de de ‘propos, pode tmbem se tao capital quanto descrever suas dificuldades cou, oe O recurso entrevista em profundidade comportatia, contudo, a vantage permits ndo apenas evidencia © que essas pessoas vivenciam no cotidano, Fgualmente da-thes a palavra ¢ compensar, como ja o sugeria Becker, em 1967; auséneis ou sa falta de poder na sociedad Lamisére du monde, sob a direcao de Bourdieu (1993b), nao constitu sn tum dos inumeros exemplos desse tipo de argumentacao. Alias, Bourdieu (199%) ‘em "Comprendre”, considera as entrevistas como um meio de delimitar acondiss social dos outros, agai entendido no duplo sentido de apreender satislatoramesz de expicar a experiéncia de outrem. Para Bourdieu, as entrevistas permit» ‘ompreender “a miseria do mundo”, nao apenas a miséria dos que se batem cot? ge ou qualquer natureza que sejam, podem servir de pretexto, consciememen- une ‘exercicio de um maior controle sobre a ropa pesquisadas. taemobleina ¢ bem conecido na antropologia, na qual se denuneiaram tanto os SeMje etnocentrismo do pesquisador quanto a maneira como esta diseipina ‘Sse, historicamente, a objetivos colonizadores (ct, por exemplo, Vidiche (gan, 1994"), Poder-se-ia igualmente citar o exemploda criminologia de inspira- LBpotvista, na qual, sob a aparencia de uma certa forma de humanismo, houve Coiencis aadotar uma atitude, por natureza, moralizadora ecorretiva em relacao nnsdesviantes”. ssa prenocao ou essa auséncia de posicionamento, em alguns pesquisadores, «unto uma conduta permitindo descrever e dar conta dos dilemas e das preoet- ' ‘hmm exemplo de wma scmelhante posgdo nas cottente feminists creas. c-o standpoint Se "ae (985) ede Smith (1987, 1992). ‘Cams, en quero dizer que no basta citar os entrevista paras gabar de uma auude empa- ‘uel a les, mesmo qu iso sea ico. * Sentopologs, como em outras disiplinas, denunciou-s igualmenteo perigocontraio. ode ‘alr demais cs movds de vida ow os pantos de vista autdctones (going mtv),0 ve peda mio {Rieanresentaro sco de acarretar um eféito conriio aque buscado dessert as nies ‘SS4P0s, como tambem prejudicar a objetivaca de suas condos de existe € consiuir ufo de paternalisino ou de colonialism. 5Para uma apresenagd da corrent da ee: sine sd da corrente da pesquisa-acdo, cf. Groulx (1997) ¢ Mayer (199 ls traalhosfeminisas, ef, entre outros, Cook ¢ Fonow (1986), Harding (1987) sna = ‘Genie (96 ttc {heme ca aie dos desvianes, Maza (1969) eno ificukade de aor ems bo peal cc {sos decker, deendendocmreous steno car ampere da criminal pti recep Pe tented SES ae andise do pont de vista dos underdogs a5 iar spelen locresacrice cor relaete oa desvanis" se comtado, nega as !uescmatart depo Eas das perpeclvasato me parce ‘“Oroblematias gaa a propria experiencia das tvs scaler eproadn Py sexninaos upon: st COMO AS dy, ecificas an es epee my ca gat evdEMIEMENE eae pages ens ces gs dels. Assim alm da questag ah ey toda or nenfatizar alet mo o envolviment0, em Tela agg 7 Hn! de a objetivacao de stag ¢ YP ma, de sa F contrarid, ime’ 8s cong hy, acs og favereces Os 39 C25 que acontece quando © Pesquisador 4h £84 aici, pO TEU Fessoas ot de determinados grupos enycjptt iy ferente daa spina di “iver essa difculdade, basta apre i sentar ptt, isa, Para res0 et eS Nar tg ines de pests. 12 fo objetivo de relaivizar mais © ponig 1 eas de sth COMET rt Deve-se sem dso, Tmitar as peggy cada um, incluindo 0 Ae a ‘minimo de simpatia ou de empatia? mst jos quais nutt grupos PF ‘ uns avaliam que ao se pretender dena pertinent tuagoes de opr ue als je, sahretudo or nao seria prefervel tomar como obey. ss ede ie derados “TeSponsivels” POF e554 situacey 4% do 0s oe no Peadorinfluem, portanto, em suas atitudes em relacto ages" wigbes do pes pesquisados, 0 406 20s gat eit na manta com sH0 Prodzdos, id os; nformacao sobre a entidades socials € um instruments Una feramenta ido dos atores sociais prisilegiado de exploracto do vivi Alem das jusificativas de ordem ee © rt fr dois: tos deonem metodologca so, gralment,alegados para legitimar a enti pe qualita, podendo ser ivoctdos, simultaneamente, €m uma mesma sSnmeio aldo igulmenteparaa entrevista estruturada, ode quea ney, tade upoquaiatvoconsituria um meio eficaz para, apesar de toda aambiguae da expresso, “olla informagdes” sobre as estruturas € 0 funcionamento deus trope, uma instiuigd, ou, mais globalmente, uma formacao social deteminai Na falta de outras fontes de dados,tais como a analise documental ea observatiod, reta, ou ainda, paralelamente a clas, 0 entrevistado € visto como um inform te-chave, capaz precisamente de “informar” nao 56 sobre as suas préprias prs: as.suas proprias maneiras de pensar, mas também ~na medida em que ee ¢ conse rado como “representativo” de seu grupo ou de uma fracao dele ~ sobre os dives ‘components de sa sociedad e sobre seus diferentes meios de pertencimento.Ne ‘w ultima acepea0, o informante € tide como uma testemunha privilegiada, amd servador, de cera forma, de sua sociedad, com base em quem tim outro obs dor, o pesquisador, pode tentar ver ¢ reconstituir a realidade™ Par nflxes ace dos nivel de realidad ; Ltn svi de reaidae poses, ou ndo, de apreender pela ens a fated vida, cf, Gagnon e Jean (1975), Bertaux (1986) ¢ Peneff (1990), ma apresentacto em ngua fancesa da Lonnie Tremblay (1960, Fe nes ‘novao de informante-chave, ct. 0 argo aston rma ans dos difcldades quea questa dos informantes propo m anvo na antropologia quanto na sociolo es Pa Ponsiderado como um informant tad. sim uma sociedade, est longe de er unanimidade ente saa ¢ epistemologicas. Certamente, reconhecese amie ees Hee jx melhor colocados para falar Sabre og ems jue pensam, sex y ,Sentem, € ads ze; em sma para desrever sua experi a oa ee crédito ase dado 2 informant soe, 1 Bia, e38a concepeao positivis- te-chave permitindo descrever nila. Porém, ni ha : sobre a possibilidade a omecer snformacdes confavels, on nformaces, aarcatens Sage Pe namento passaddo ou presente de um grupo, de uma organizaca0, ot faerie segundo as perspectivasadotaas, sss informagies sis eooes Frm oes eansmitdas, Ou Como reconsrules, on ainda, somo oranda janis OF vista dos informantes. Assim, na perspectiva postivsta, os “infor- Spe cemelhantes a cameras que permitem reconstiir areaidade pelo ste anglos de vista (confronacto dos depimertos eds fonts) dat cose snecessiade de tomar um certo mimero de precauges tenis, tas game selecio judiciosa dos informantes. Em contrapartida, na concepeio cons- comoaseeeNnformantes” agem Como interpretes, apesentando diferentes re- ito Saciais e parcelares da realidad (cf, por exemplo, CLIFFORD gases Fat 0 pesquisador tambem procede sua propria reconsruco da 8) ene qual os primeifosreconsttoem a realidad, De acord cm ua ter sane Petva, finalmente, 08 “informantes, na sequéncia, os pesguisadores, sors Homo novidadeiros que, dando as “informagoes” a aparencia de um rela- soit ciariam e moldariama realidad, assim como no cinema ena iteratu- wed pectiva esta adotada principalmente por Clough (1992), e po da quali ‘piade pos-estruturalista ‘segundo argumento de ordem metodologica, invocago, mais frequentemen- ve par justiicar o recurso entrevista de tipo qualitatvo,conceme i eiccia deste ‘nando, quando se trata de dar conta do ponto de vista dos atores. Esse argumen- toretoma, de fato, as principais vantagens associadas a essa técnica de entre- ‘sta, as quais jé haviam sido apontadas desde a virada dos anos 1930, no ambito '.tqu ainda, as posigdes sto, certamente, mais nuangadas emis ambiguas do que eu as apresen- 6. Assim, a perspectiva positivista considera que as “informagoes” podem ser deturpadas pelo pooto {evsado informant, mas este limite aparece como em parte superivel elo crusamesto dos panics ‘Studs fonts, Para os que sdo constrativistas, mesmo defendendo qe areaidade no pode ser ‘Qeamareconstrucdo parcial e parcelar, alguns avaliam que ha todavia, melhores reconsinacdes oem ghoximando-se assim, daullo que ev desce con ama pace repanen “sstatuto ambiguo que alguns construtivistas conferem & of entre mtr Fach, 1985), Enfim, yoltando a posigie de Clough (1992), caberia, provavelments, Take £24 PrOpria nao adota un estilo realists, procurando dizer como a8 ols oxen emit quando ela preten constr ui 0m reece a = “keeecaaiacds oe

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