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VERNEI NO BRASIL Antonio ALBerto BANHA ps ANDRADE* 1, As coordenadas da reforma pedagégica proposta por Luis Antonio Vernei, Arcediago da 64 Cadeira da Sé de Bvora, com 0 pseudénimo de “Barbadinho da Congregacio de Ttilia”, no famoso Verdadeire Método de Estudar, Napoles, 1746 (¢ nfio Valenca, como se julgava, por em Portugal 86 restarem exemplares da edigio: Antonio Balle, Valensa, 1746, que 6 afinal, a 2.8 impressio da obra), apenas se podem compreender, correta- mente, apreciando ap mesmo tempo os compéndios que imprimin como apoio & sua tese: Gramética Latina (...) Traduzida de francés em italiano 2 de italiano em portugués (na verdade, original portugues), Barcelona, 1738; De orthographia Latina, Roma, 1747; Appe- ritus ad Philosophiam. et Theologiam, Roma, 1751; De Re Legica, Roma, 1751; De Re Metophysica, Roma, 1753; De Re Physica, Roma, 1768. Tem-se abusado, no entanto, do recurso ao texto portugués, com desprezo inadmissivel das obras latinas que, como compéndios do plano de estudas, fazem patte integrante do programa iluminista lancado em 1746, para reforma radical das escolas portuguesas, extensivo, natural- mente, ao Brasil, Também ai se verificavam as condigdes determinantes do método condenado e Luis Antonio Vernei bem as conhecia, pelo menos através do fato de o ensino se ministrar, sobretudo, nas aulas dos Colégios de Companhia de Jesus, dependendo dele, tal como na Europa, a orienta- so geral dos demais centros de ensino. As duas Pedagogias que ostensivamente entravam em choque di diram duas épocas, em que sobressai_o método, no que respeila A ten- déncia de simplificagio dos textos ntilizados nas escolas e 4 simplicidade e naturalidade, no que concerne 4 elocucSo e a escrita, quer na prosa, com especial televo na oratéria, quer na poesia que, encostada a regras * Da Academia Portuguesa de Hist @ Geografico, do Rio de Janeiro, ia, de Lisboa -- Do Instituto Histérico | 47 — prefixadas, abandonara, como a oratéria e a metafisics, os ouropéis galantes mas ocos e, ainda mais que tudo, intiteis, A utilidade pratica ditaraé a norma de eleiggo dos métodes ou meios a utilizar pelo Pedagogo, nao sé nas disciplinas referidas, a nivel primario ou secundério, como também superior, no campo do Direito, da Medicina, das Ciéncias em geral, Como se sabe, Vernei nao é um Pedagogo original que obtivesse lugar de relevo na histétia da Educacio. Ele préprio apenas reivindiea os louros de denunciador do isolamento da nossa cultura, a partir de leituras modernas a que proceder. Contudo, é cerio que, nao obstante isso e 0 exagero em que caiu, conforme demonstrei em livro publicade por acasifo do 2.° centendria do Verdadeiro Método de Estudar(1), desempenhou em Portugal, papel preponderante na mudanca operada nos quadros de ensin na segunda metade do século XVIII. Mas nem por esse motivo é licito atribuirthe a reforma pombalina ou a destituicio da pedagogia dos inacianos, apesar de ser verdade que dele arrancou o golpe fatal. A sua justa _posigao no processo pedagégico caracteriza-se, sim, como teérico responsdvel que intensificou o grito de revolta, j4 proferido anteriormente contra a complicagdo das regras gramaticais, a oratéria empolada e o estilo de belas letras especiosas, de poesia latina, como epigramas; poesias @ prosa portuguesas, em que entrava a condenagio de Camdes e Vieira, por exemplo, Roboredo, Pina e Proenga, Bluteau, Garcés Ferreira, Vala- dares e Sousa; contra a filosofia peripatética e mesmo a mais genuina aristotéliea procutada no Renascimento e entre nds, por Pedro da Fon- seca e Conimbricenses, por exemplo Teles, Soares Lusitano e Cordeiro (todos eles ainda peripaléticos), Capasci, Baden, Ericeira, Azevedo For- tes, Bluteau, Joao Baptista, Diogo Vernei, Castro Padrio; contra 8 Teologia Especulativa e tude o que nio fosse eminentemente pritico, nesse setor; contra o Direito Candnico e o Civil, a Medicina galénica, a davida e até o desprezo das novas Ciéncias positivas, assentes basica- mente na experimentagéo ¢ na matematica (Botti, Bocarro, Carvalho da Costa). Nenhum deles, porém, se atreveu a propor uma reforma global, sistemdtica, que nao sé empenhasse o ensino nas escolas, mas alterasse, em parte, a propria estrutura da sociedade(2). Eclesidstico que era, Ver- nei acatou as instituigdes da Igreja e do Estado, afestendo-se, pois, de certo Iluminismo, Porém, admitindo-as e vivendo nelas, julgou imperioso criticar-Ihes determinadas facetas, como o absalutisno, a Inquisigao, 08 cristZos novos, ete., a luz das correntes mais avancadas e€ opostas, sobre- tudo porque nJo, exclusivamente, ao ensino ministrado nas escolas da Companhia de Jesus. Na esteira de pedagogistas franceses do século, posto que repila a insinuagéa que j4 os contemporaneos lhe fizeram, em Gramitica Latina condenou ¢ ridicularizou a drte de Manuel Alvares; (1) Vernet ¢ @ Filosofia Pertiguess, Braga, Livraria Cruz, 1916-1947. (2) A cate respeito, ver sobretudo L. Cabral Moneada — Estudos de Histd- ria do Dircito, Vel. ILL, Coimbra, 1950, — 4 — em Filosofia, a Peripatética; em Teologia, a Escolistica; e propés, em sia substituicao, respectivamente Francisco Sanches, Brocense © outros ; Locke, © experimentalismo newtoniano € a Moral secularizada; a Teologia Positiva, de Melchior Cano e outros mais modernos, de preferéncia de inclinago augustiniana, -reduzinda 9 Direito Canénico a pura matéria teoldgica e despindo a Oratéria ¢ o estilo litertrio em geral, de enfeites escusados € conceitos subtis. Como os vicios censurados naquelas disci- plinas enfermayam da base aristotélica, escalpelizou-os também nas ciéncias que lhe néo eram familiares. Medicina (pro-Boerhaave), que cle considera profongamento da Fisica; Economia, na peugada do Genuense e Direito que, no seu conceit, nfo passava de continuagio da Btica. Insistiu no ensino da lingua materna e dos idiomas vivos; na educagio literdria da mulher, na esteira de Fénelon, Rolin e outros. © seu Tluminismo é pois, do tipo do italiano — catélico, orientado pela boa-razio como norma do pedagogismo humanista ¢ cientifico, sem sacrificar aos homens da Revolugio Francesa e outros corifeus ifustrados anticristaos. Deste modo, afigura-se-me impossivel ter passado desper- cebido A cultura brasileira da segunda metade do século XVII, como o nao foi até mesmo no México, no Equador e em Cuba(3). No se tra- tando, porém, de idéias originais, mas adopgao eclética das que pululavam nos meios intelectuais, que as divulgavam a saciedade, dificil se torna cortar para extremar limites ou zonas. A sorte de Vernei no Brasil coincide com a que alcancou em Portugal, n§o obstante as diferengas de nivel ou extensio cultural que realmente existiam nesse tetnpo. Limitado pela reforma pombaliia no campo da Gramética Latina a um compéndio; no da Filosofia ao empatceiramenta com Genovesi que, a breve trecho, o suplantou de longe(4), a sua influéncia tem de seguir imiscuida e diluida na linha de forca do panorama geral. B certo que faltam estudos monogréficos sobre a maior parte dos intelectuais brasileiros desta época. Assim Laerte Ramos de Carvalho, ao avaliar a Reforma Pombalina, nem sequer como introdugdo aflorou o problema Verneiano no Brasil, posto que saliente a diretiva de considerar a retérica como um dos pontos capitais da reforma dos estudos menores, tanto nas [nstrugdes para os Professores de Grammatica Latina, Grego, Hebraica ¢ de Rhetorica(5), como na Defensa do Novo Methodo ¢ no Verdadeiro Método de Estudar (6). Joio Cruz Costa sublinha o apareci- mento desta ultima obra, introduzindo seu autor na Congregagio do Ora- (3) Maria del Carmen Rovira — Ecléticos Portgueses del Siglo XVII y algunas de sus influencias en America, México, 1988, p, 183 es (4) No Brasil, atuante aindz no Compéndio de Francisco Montalverne, como demonstrou Laerte Ramos de Carvalho, Ver Joao Cruz Costa — Contribuigao a Histéria das idéias no Brasil, Rio de Janeiro, 1956, pg. 85-86. (3) Colleceto de Leys, Decretos e Alvarés que comprehende o feliz Reinado Del-Rey D. José, vol, 1, Anos de 1789-1768, Lisboa, 1771; T, T. — Ministério do Reino, Céd. 417, f1. 7 € ss. (6) Ver Laerte Ramos de Carvalho — ds Reformas Pombalinas da Ins- trucgde Piiblice, Si0 Paulo, 1952, p, 111. — 49 tétio(!), a que munca pertenceu(7), limitando-se, gencricamente, aliés na peugada de escritores portugueses, a acentuar a influéncia Verneiana na Universidade de Coimbra, por onde passaram os homens “que irio viver © periods em que a nossa independéncla se claboraré’(8). José Ferreira Carrato também se nfo abeirou diretamente da questo, se bem que a nao ignore, dando como os demais especial relevo & Reforma Pombalina(9). V. Coelho Filho, 0 biografar Alexandre Rodrigues Ferreira e pondo-se também “a cata de saber”, admite nele influéncia indireta no seio da Uni- yersidade coimbra, bem como em toda “a colmeia brasileira” (10). A sua fista, para seguir nesta linha, hd que ter em conta Fr. José de Santa Rita Durio e outres(11}. Em Portugal, a situagio em nads diverge. , contudo, creio bem que a influéncia de Luis Antonio Vernei no Brasil é real, posto que mais indireta do que por meio da sua propria obra, ainda assim, inegavel. 1 real, porque entrou com o ensino dos Ora- torianus, se no também de outras congregagbes Religiosas, e através da Reforma Pombalina, Pelo menos, o seu Ituminismo refluin, certamente, em terras brasileiras, por forca do ensino secundério oficial, na medida em que as citadas Insiruccoens recomendavam a Ortografia Latina “que compés o nosso Luis Antonio Vernei” e toda a reforma deste grau de estudes dependia, mais que o Universitario, da proposta do “Barbadinho”. Poder-se-4, pois, topar rastros concretos da sua influéncia nas eseolas dos Religiosos ou nas Oficiais? Havera, porventura, qualquer antigo aluno delas, que confesse ter sido instruide no rumo do plaso do Verdadeiro Método de Estudar, ou algum intelectual em que se logre surpreender zonas da sua influéncia?- Conseguir-se-4, enfim, descobrir nas Bibliotecas do Brasil exempiares desta e das outras suas obras, com registo de entrada na propria época, do tipo da que Eduardo Frieiro revela (exis- téncia. do De Re Logica), na do Cénego Luis Vieira da Silva, “cuja carreira brilhante reflete bem as condigdes ¢ os recursos do trabalho dida- tico @ cultural do primeiro Seminario de Matiana”(12), que voltaremos ‘a encontrar mais adiante? Deste modo, apurar-se-ia influéncia direta que, afinal, para 9 nosso propésito, seria to valiosa como a indireta... 2. Comegando pela Congregagio do Oratérie, sobre que prepara neste momento uma obra individual, limitar-me-ei aqui a vinear a sua adesio, em Portugal, ao plano de estudos Verneiano, nas linhas essenciais. Como os Padres do Brasil viveram sempre muito ligados aos de Lishoa (conforme, alias, as restantes Casas Portuguesas), nfo seria neste par- (7) Ver Antonio Alberto de Andrade — Vernei e @ Cultura do Sew tempo, Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis, 1965. (8) Joo Cruz Costa, O. C., p. 68. (9) J. Betreira Carvalho — Igreia, Huminismo ¢ Escolas Mineiros Coloniais, 5, Paulo, s.d., p. 124 ¢ 127, 146 © segs. 1g elit) VY; Conca Fitho — Alerandve Rodrigues Perreie, 8, Paulo, 1939, 0. Se 17. (11) Ver, p, ex, José Ferreira Carrate, ©. C, p. 99 ¢ segs. 118, 168 © 178. (12) Id. — ibidem, p, 112 — Eduardo Frieiro = O Diabo na iivraria do Cénego, Belo Horizonte, 1945. 4 REEL — 50 — ticular que se iriam bastar a si mesmos, desde Professores a obras didd- ficas. A dificuldade esté em saber se, na América, exerceram o magis- tério, para além da faina missiondtia. Este é outro ponto que terd de ser vista com maior extenso do que aquela due, no Simpésio comemorativo do Bicentendrio da restaurag3o do Rio Grande (1776-1976), realizado no Rio de Janeiro, reclamei, para os Oratorianos, ao pedit lugar de relevo na Historia da Pedagogia do Brasil. Em todo 0 caso, adiante-se jA que, na sua Biblioteca da Casa do Recife, cujo Catdlogo (1770) divulgarei em breve, guardavam-se trés compéndios didéticos: Apparatus ad Philoso- phiam et Theologiam, De Re Logica ¢ De Re Metaphysica, ¢ mais trés da polémica: Verdadeiro Método de Estudor, Reflexoens Apologeticas, de Arsénio da Piedade, o jeswita José de Araujo, e Retrato de Mortecor. de Alethophilo Candido de Lacerda, 0 inaciano Francisco Duarte( 13), Da auséncia das respostas de Vernei no é licito inferir que a cutio- sidade dos Oratorianos de Pernambuco (ou a dos Jesuitas, se a Biblioteca Thes pertencera) se restringisse as duas primeiras obras de censttra da pedagogia do Barbadinho da Congregagéo de Itélia. Embora esteja convencido de que nas suas aulas apenas circulassem os manuais da Case de N. Sra. das Necessidades, que também figuram no Catélogo, pode coticluir-se que os Oratorianos do Recife foram permeaveis A sua reforma, tal como os de Lisboa e das demais Casas. De outros Institutos, pouco se sabe ainda. Reflexo indireto serd Neito assinalar no Seminario fundade em 1748 por Frei Manuel da Cruz, em Mariana, onde vigoraram, a partir dos Estatutos de 18 de novembro de 1760 (art. 3), as normas da reforma dos estudos menores, de 1759( 14). Um dos seus Professores de Filosofia, o Cénego Litis Vieira da Silva possuia efetivamente, para seu us0, 0 De Re Logica de Vernei, ao lado da Summa de S. Tomas de Aquino, da Philosophia Pevipatetica de A. Mayer e de ontras obras de Escolistica, que 0 Barbadinho detestava, por exemplo, Silvestre Aranha, Coutinho, Bréscia (ou Brixia) e de obras de diverso cariz, como a Encyclopédie de Diderot e d’ Alembert. Mais concreta teré sido a influéneia de Vernei, através dos Profes- sores Oficiais, que n&o foram s6 enviados de Lishoa, através das Instruc~ goens para os Professores de Grammatica Latina, Grega, Hebraica ¢ de Rhetorica, remetidas para o Brasil na bagagem do irmio do Diretor-Geral dos Estudos que, nomeado em 28 de outubro de 1759, ai chegou em 9 de Janeiro de 1760 — 0 conhcide D. Antonia de Almeida Soares Portugel, 1° Marqués do Lavradio. Até 1769, ou potco antes, Vernei era aceito « <13) © titulo dessa iiltima est4 de tal forma abreviado que coloca os dois Jesultas em oposigdo. Ei-lo completo: Retrato de Mortecor Que em romance quer diser Nottcia conjectural das principais qualidades do Author de uns papéis que coped endio was nao correm, com o timlo de Verdadeiro Methodo de Fstudar, ¢ de mite carta eserita com bea intengto em vesposta ds Reflexoens do P. Fr. Arsebio da Piedads. (14) Carrato — 0. C, p. 108, — 51 pelo Conde Oeisas(15) ¢ muito estimado dos Professores régios, José Caetano de Mesquita, Pedro José da Fonseca, Antonio Soares Barbosa, Manuel Alvares de Queiroz ¢ Bento José de Sousa Farinha(16). O pri- meiro tera mesmo contribuide poderosamente para a orientagio pedagégica do Diretor-Geral, D. Tomas de Almeida, perante o qual e na presenca del-Rei e de Sebastifio de Carvalho e Melo, na abertura das aulas no “Hospicio da Cotavia’ (Colégio dos Nobres), onde era Professor de Retorica, apoiou as normas que D, Tomas procurou por em pratica, decla- rando “sans ambages”: “os meus gulas serao Genovesi, Vernei, Heinecio e modernos de igual gosto”(17). No ambito da Retérica, floresciam a Légica ¢ a Moral. Por tudo isto, os Professores que o Diretor-Geral enviou para o Brasil, com intuitos de instaurar o novo plang escolar, segundo o espirito das Instruccoens, nao podiam andar longe da pedagogia Verneiana, gizada no Verdadeiro Método de Estudar, apesar de se thes tolher a liberdade de lecionarem pelos livros que desejassem, — de Vernei, apenas um, como vimos. Nem podiam ser dois, porque a Gramatica Latina, apesar de “tratada por um Methodo novo, claro e facil, para uso daquelas pessoas Que querem aprendé-la brevemente ¢ solidamente”, ainda se perdia em demasiado nimero de Iaudas. O Arcediago de Evora procurard convencer- se de que tera chegado ao Reino, depois de concluidas as Instruecoens... Nem ela, nem o Novo Methodo do P. Antonio Pereira de Figuciredo seriam incluidos num sistema em que se pteconizavam compéndios redu- zidos. O do P. Figueiredo s6 foi adaptado quando o autor o limitou a expressio mais simples, Vernei, porém, nfo alterou o sew. No entanto, as diretrizes basicas da sua reforma pedagdgica vingaram, conforme sugerimos atrds, nas classes do ensino decretadas pelo Conde de Ociras. Efetivamente, as Instruccoens de 1759, que decerto nfo foram moldadas no Verdadeiro Método de Estudar, refletem, no entanto, com clareza, a nova motivag30o que originou todo o programa oficial, nesta fase da reforma das Escolas Menores, Que se pode extrair mais de um plano esquemiatico, normative na dureza do preceito simplesmente imposto, sem margem para opinitio do Mestre? O tom de animosidade pelo método dos Jesuitas (“... 0 escuro e fastidioso Método”), decerto nao foi esco- Ihido obrigatoriamente na obra de Vernei. Mas j4 pode derivar dela a critica do “longo espaco de oitc, nove e mais annos” de estudo, que deixavam aos alunos, “no fim delles, iliaqueados nas mindezas da Gramma- tica como destituidos das verdadeiras nogoens das linguas latina ¢ grega, para nellas fallarem e escreverem sem hum tio extraordimario desperdicio de tempo, com 2 mestna facilidade ¢ pureza que se tem feito familiares a (15) Ver as relagées de Vernei com Pombal, em Vernei ca Culture do sew Tempo, ct, p. 306 © segs, (16) Ver, do autor, 4 Filosofia das Escolas Menores Oficiats, em Brotcria, Vol. 45, fas, 1, jutho de 1947, p, 29-30, (17) J. Caetano de Mesavita — Oracéo sobre @ restouracdo dos Estudos das Bellas Letras cm Portugal (...} no dia 20 de setembro de 1759. Lisboa, 1760, p. 30. — 52 — todas as outras Nagoens da Europa”, Esta ¢ as acusagdes que segueni ¢ agora omito, provém, de certo, de polémica verneiana, ém paralelo coma da Gramatica Latina, iniciada quando surgiu na Congregacio do Oratério © Nove Méthodo para se aprender a Grammatica Latina, do F. Manoel Monteiro (1746), Em vez dos “tao petniciosos ¢ funestos effeitos” do métoco Alvarista, el-Rei proporcionaria “titeis e abundantes frutos” que dariam a felicidad: acs povos. O método que se ja introduzir colocava-os ao nivel das demais Nacées civilizadas — “reduzido aos termos simplices, claros e de maior facilidade que se pratica actuaimente pelas Nacéens polidas da Eurapa” Quem eram, porém, os “homens mais doutos ¢ instruidos neste genero de erudigoens”, 4 que Sua Majestade se conformava? Um deles, certamente, Luis Antonio Vernei, neste tempo aureolado entre a2 nova ordem que comegava a alvorecer nas aulas de alguns Religiosos, sobretudo Ciratorianos. Franciscanog e Teatinos, e mesmo particulares, desde Luis Baden. A reforma estendia-se 2 “todos os seus Dominios” — explicita el-Rei, tendo em mente, sobretudo o Brasil ¢ o Oriente(18). Neste Alvaré, Vernei quase nfio seri contemplado com as honras de autor escolhido para as aulas de latim, como vimos, proibindo-se a utiliza- Go de qualquer compéndio que nao seja 0 Novo Methodo da Grammatica Latina, redusido a Compendia pore uso das -Escolas da Congregagao do Oratério, composto por Antonio Pereira, da mesma Congregagéo, ou a Arte da. Gromenatica Latina reformada por Antonio Felix Mendes, Pro- fessor em Lisboa. B, contudo, cle também escalpelizon com vigor a agora abolida Arte de Manuel Alvares, como “‘aguella que contribuio mais para fazer dificultozo 0 estudo da Latinidade nestes Reinos”; bem como os igualmente proibidos comentadores Antonio Franco, Joio Nunes Freire, José Soares “e, em especial, de Madureira mais extenso ¢ mais indtil, ¢ de todos ¢ cada um dos cartapacios”, Os Professores cingir-se-iam, “sem alteracio algums”, as Insiruc- coens que se estabeleceram “pela experiéncia dos homens mais versados nelles (estudos) que hoje conhece a Europa”. E, quando se relere aos Metodistas ¢ aos “‘maiores homens da Profissio”, a respeito do melhor método de lecionar latim, silencia o nome de Vernei sem que esquega os compéndios da Congregacio do Oratério(19}. Mesmo assim, a sua Gra- matica seria lembrada para uso dos Professores, ao Jado da do P, Antonio Pereira, na carta que o Diretor-Geral escreveu em Z de outubro de 1761 ao Desor. Bernardo Coelho da Gama Casco, seu Comissério em Per- nambuco(20). Em seu lugar, nas Instrucgoens avultava Francisco Sanchez, com a sua Minerva, “que na opiniZo dos maiores homens da Profissio excede a fodes quantos escreveram até agora nesta matéria’. Os Professores (18) Tntrodugio ao Alvard, em Coleccie de Leis, cit. © Céd, 417 do T. T. (19) Insirucgbens, fl. 7 segs. do Cédigo 417 do T. T. (20) T. T., Mss. do Liv. n° 2596, fl. 61, —3— oficiais poderiam Ié-la para si, e ainda a Gramética de Vossie, Scropw, Port-Royal ¢ “todas as mais deste merecimento”, sem com elas gravarem 08 discipulos... “Ele e os Oratorianos, bem como os pedagogistas fran- ceses Rolin (lManiére @étudier}, Lami (Entretiens sur les Sciences). Walch (Histoire Critique de lo langue latine), 0 Epitome latino do Me- thodo de Port-Royal, Fletri-e todos os “Methodistas”, de que ainda espe- cifica a obra italiana Insirugdes das Escolas de Turim, estao na base dos seguintes principios aqui exarados: a) Impde-se 0 estudo da lingua latina por método: breve, que “sirva de exercitar, em 08 que aprendem, hum vivo dezejo de passatem 4s Sciencigs maiores”. Também assentam os sdbios que, além de breve, tem de ser “claro e facil, para nfo atormentar ‘aos Estudantes com huma multidao de preceitos que, ainda en jdades maiores, causio confuzio”. b) “Todos os homens sabios uniformemente confessfio que deve ser em vulgar o methodo para aprender os preceitos da Grammatica, pois ndo ha maior absurdo que intentat aprender huma lingwa no mesmo idioma que se ignora”. E assim,. “para que os Estudantes vaio percebenda com mais facilidade os princi pios da Gramatica Latina, he util que 0s Professores Ihes vio dando huma nocéo da Portugueza, advertindo-lhes tudo -aquille em que tem alguima analogia com a Latina”. : cc) Citando Rolin (cap, 3, p. 151) estatui a terceira ‘regra: “Tanto que os Estudantes estiverem bem estabelecidos nestes riidi~ mentos e que se tivereni familiarizado bem com elles. tendo-os repetido e tornado a repetir muitas vezes, devem os Professores applicallos a algum Author facil, claro e agradavel, no qual, com vagar ¢ brandura, thes vo mostrando executados os preteitos que Thes tem ensinado, dando-thes razio de tudo, fazendo-lhes applicar as regras todas que estudaram e acrescentando 9 que Ibes parecer accomodado, ao passe que se forem adiantando”. Em vez de obras completas, utilizar-se-iam seletas com trechos escolhidos para os alunos. Mas os Prafessores “niio se entenderfio dezobrigados” de possuir os bons autores de Latinidade, pas melhores edigies. d) Come os Mestres deviam ter especial cuidado em que os alunos lessem “claro e distinctamente ¢ com tom natural”; e dar- thes “as melhores regras da Ortografia, adaptar-se-ia para dese efcito, a Ortografia que compoz 0 nosso Luis Antonio Vernei, breve e exacta”. Os Professores teriam para seu uso as obras de Celario, Dausquio, Aldo Manucio, Schurtzfleischio — “ou todos ou algum delles”, Esta ‘mica vez que nas Instruccoens aparece o nome do Arcediago de Bvora explica a principal razio de néo figurar entre os Graméticos propriamente ditos que se escolhen: “breve € exacta”, Alids, nao se deve — 54 — estranhar tanto a auséncia dos compéndios, como a do seu nome entre os Pedagogistas, a ndo ser que esta omissio denuncie a persnasio de nao valer 2 pena utilizar um texto que, emhora adaptado as necessidades do Reino, segundo Vernei se persuadiu, era por demais tributario de obras também lidas entre nds, aqui citadas e recomendadas nas [atrue- goens, Apesar disso, a influéncie do Verdadeiro Método de Estuder & bem aitida, embora me persuada de que néo estivesse presente fisicamente na mesa de quem redigiu o texto da reforma. Mas a revisio que propusera, de tal modo entrara nas menies e nos habitos des reformadores pomba- linos que dele, explicitamente, j4 pouco mais se aproveitava que a vontade e certa orientagio de substituir um método por outro. Presente esteve, sem diivida, na redacao das Instruccoens, a pratica das escolas des Ora~ torianos, que representavam, alfim, 90 modelo da nova pedagogia, passado da teoria a0 campo chio das realidades. Por isso, os seus compéndios Sao preferidos ¢ os de Vernei, & excecio do De Ortographia Latina, Nunca merecerao a honra de textos obrigatérios. 3. Deixando em aberto a avetigtinggo, impossivel de efetuar em Lisboa, da existéncia ou nfo, de obras de Vernei nas Bibliotecas brasileiras, com a certeza de entrada na época, abeiramo-nos dos intelectuais que, confessadamente ou nao, possam refletir a sua influéncia, Um dentre todos merece relevo especial e com ele me quedarei, por ora: o Bispo José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho (8.9.1742 — 12.4.1821), geralmente apontado como figura maxima do Tluminismo no Brasil. Con- fava. 30 anos quando resolve pasar ao estado eclesiistica ¢ velo para a Universidade de Coimbra, estudar Direito Canénico, que terminou em 1775, tendo-se dedicado também a0 estudo das ciéncias econdmicas e poli- ticas. Eleito Bispo de Pernambuco em 1794, foi nesse mesmo ano nomeado Governador interino da Capitania, Presidente da Junta da Fazenda e Diretor-Geral dos Estudos(21). Quatro anos mais tarde instituiu um Seminario para formacio da Clero, no edificio do antigo Colégio dos Jestitas, doado & Mitra de Pernambuco por Alvard régio de 22 de marco, de 1796(22), Nos Estatutos do Semindrio Episcopal de N. Sra. de Grosa, da cidade de Olinda de Pernambuco, que mandou imprimir na Tipografia da Acade- (21) Sobre este ditimo cargo, ver Informacto deda oo Minisiro WBsiade dos Negocios da Pasenda, D. Rodrige de Sousa Coutinho, Lisboa, 1808. (22) A nova equipe de Professores, que foram seus Mestrcs, em Mérlo Costa qiPectmenios dara a Hisisria da Universidade de Coimbra (1750-1772), Vol. 2 Coimbra, 1951, pég. 295 © Manuel Lopes de Almeida — Docunientos de Reforma Pombalina, Vol. 1 (1771-1782), Coimbra, 1937, ». 8 — Como JA em Coimbra se terd interessado pelo estuco das ciéneias naturais, pode ter ouvido os Professores de Filosofia (Logica, Matemética ¢ Gtica; Histéria Natural ¢ Quimica), Anténio Soares © Domingos Vandelli; ou, pelo menos, assistido 4 defesa de. dissertacdes das do tipo das recenseadas no Cotdtoga de Manuscritos da Biblioteca da Universi- dade, Coimbra, 1935, Cédices ¢ Macos n®s 1312 e 1431, y. 157, 174 (Cédices 1367 ©1368). — 55 mia das Ciéricias de Lisboa (1798), sobressai vincada figura do intelectual, zeloso do progresso cultural dos Parocos rurais, para desse modo clevar a cultura social e tecnolégica do camponés(23). A atitude, so por ‘si, denuncia plenamente o Iuminista, moldado ainda na forja da Reforma Pombalina, sendo através dela que Vernei espreita, quase apagado. Para Azerede Coutinho, “a observancia literaria, assentando sobre a Moral, é a. que repdem o dmem no estado, em que cle enxe perfeitamente toda a idea de Gmem: cla é a que desterra a ignorancia e introdus as luzes que séo necesarias para descobrir os segredos mais ocultos da Natureza e para saber adorat os misterios mais profundos da Divindade”, Posto o Principio, prenhe de Iluminismo, Coutinho assinala a diferenga entre os conhecimentos humanos das ciéncias da sua época, por powco que se tenham adiantado, e os antigos. Aqueles sio “mais iluminados e mais regulados e fazem distinguir 0 6mem na Sociedade”, tornando-se imprescindivel o emprego de um verdedeiro método que regule os estwdos, sem fatigar os entendimentos, com materias e questées iniiteis, O método incidia, pois, antes de mais ¢ principalmente na escola das disciplinas em ordem 4 utilidade, de modo que “adiante os conhecirnentos e ensine a procurar a verdade nas suas fontes”. A seguir, entra a falar 0 Pedagogo ou melhor, o tedrico que leu tra- tados de Pedagogia e escolheu o que se Ihe afigurou mais apropriado ao fim almejado. Apesar de exigir que os candidatos soubessem ler e escre- ver, legisla sobre as primeiras letras, devendo salientar-se, além dos que- sitos de “abeis na sua arte”, modelos de virtude, exigia ao Professor, a norma prescrita de “principiar pelas ideas mais simplices que nos entrio pelos olhos e pelos. ouvidos, para depois pasar as mais sublimes ¢ abstratas”. E assim, mesmo sem ter lido Descartes (se 6 que o no leu), tratow primeiro das regras da arte de ler, escrever ¢ contar, e, depois, da Religiéo. Combatendo o preciosismo de cada qual utilizou ui tipo de Jetra pessoal que os demais nao entendam, propugna a tese de que a melhor se 1é, e reduz os caracteres a dois — 0 ¢ e 0 ¢,- parecendo-lhe que depois de saberem formar estas letras com perfeigia, “formario sem dificuldade, todas as outras do alfaheto, as quaes nao sé0 mais do que uma combinasio das sobreditas duas”. Deste modo se simplificaria o ensino. A tespeito da ortografia acosta-se a Vernei: “Deve ensinar-lhes a ostografia mais simples, isto é, escrever como se fala”, principio também advogado pelo Arcediago de Evora. Assim se facilitaria a aprendizagem a quem nao soubesse latim, 0 que acontecia & maioria dos Portugueses. “Por caja cauza, com justa razio, mandoa o Senhor Rei D. José, na Lei de 28 de junho de 1739, para instruséo dos Professores de Gramatica, § 11, que se wzasse da que compos Luis Antonio Vernei, que ¢ a mais (23) Ver também o Discurso sobre o estado actual das Minas do Brasil, Lisboa, 1804, p, 10-135 39-42 © 65, —— 56 — simples, ¢ a mais conforme ao que acabamos de dizer”, Mais conforme ao que acahava de afitmar e a0 que praticava, suprimindo o h em harmé- nies, escrevendo jeralmente, masica, listo, profesor, rimica, etc. A elimi- nacdo, neste dltimo vocdbulo, de uma fetta que hoje se pronuncia em Portugal ¢ mao se exprime no Brasil, faz suspeitar (se nfo se provar otigem mais remota), que as notmas ortograficas de Verne! tenham pene- trado de tal forma nas escolas que levou 4 universalidade da proatincia. ¢ escrita de hoje, neste particular. Se assim for, neste processo nao deixa de caber boa parte de aco 2 Azeredo Coutinho(24). No ensino da Gramética Latina preceitua trés escaldes: 14° classe, nogéo de Gramética Portuguesa, “para que, com mais facilidade, .vZo percebendo os principios da Gramatica Latina, advertindo-lhes tudo-aquito em que a Portugueza tem algima analogia com a latina e principalmente pelo que pertence 4s partes da oraséio, a saher, Nome, Verho, Adverbios € particulas, com as suas diferensas, tudo pelo modo mais breve, facil e acomodado -s pequenas idades”. Depois, as declinacées, conjugagéies, géneros, pretéritos ¢ sintaxe, por meio de alguma Arie moderna e recopi- Jada. Nao indica o Resumo de Pereira de Figueiredo e, muito menos, 0 de Vernei, que excede 05 propdsitos do ensino répido. Na segunda: classe, o aluno traduziria j4 Sulpicio Severo, César e Cicero “e, de nenhuma sorte, os Poetas”, Também al, as ligdes seriam “pequetias e bem rejidas”, Na terceira classe vertia-se Sakistio, Tito Livio e Teréncio, competindo a0 Professor advertir nestes autores, a fabula, a histéria, a beleza “e o mais que pertencer para a boa’ inteligencia da Latinidade”. Quando os alunos mosfrassem ter adquirido “bastante tus da lingua latina”, nesta classe passatiam entao ‘a conhecer os Poetas “de melhor nota, mas com muita sobriedade, tio somente para nao ignorarem a versificasio latina e poderem entender as helezas da arte’ — entio muito condicionada, como alids se apalpa nos Estatutos, por regras formais que excediam, em impor- tancia, a beleza da arte em si. Desta forma, “todo o ensino da Gramatic Latina se podera concluir em trés anos”. . A Retérica era ensinada com o auxilio de compéndio extraida de Quintiliano e Cicero, Depois de convenientemente exercitados nessa dis- ciplina, ensinar-se-hes-iam as regras da Poesia, pela Arte Poética de Hordcio, cbrigando os discipulos a elaborarem composigées em verses nao 86 latinos, mas também portugueses, “fazenda-thes ver as belezas dos noses Poetas, especialmente de Camées que, apezar dos seus defeitos (Vernet bem procurou pé-los em relevo), ndo deixou de ser um excelente Poeta. Estabelece que o Professor de Retérica seja também da Histéria, devendo, 2 seguir, ensinar “os elementos da Istoria universal, por algum rezumo sucinto, claro e metodico”. Proibia, porém, “discusses istoricas”, por (24) Ainds no vio problema tratado nem mesmo num dos mais recentes ¢ bem elaborados estndos, como 6 0 de Gladstone Chaves de Melo — Origem, forma- fi e aspectos da cultura brasileira, Lisboa, 1974, p. 131 e sees. — 7 ““mproprias da primeira idade”, entendendo que devia, antes, explicar os principios gerais em que se funda a historia, Especifica-os deste jeito: “Prineipais nosdes da Cronologia, das épocas e das suputasSes dos tempos, em comum; depois as da Jeografia, com um ordinario conhecimento da Esfera e dos Mapas, de sorte que os estudantes saibfo as situasdes da terra nos seus lugares principaes, ¢ posio buscar uo mapa qualquer Pro- vincia ou cidade famoza”. Por fim, lembra “os fatos (em Portugal, facto, como se sabe) mais célebres do Mundo civil nos seus diversos governos e.imperios mais famozos, especialmente no de Portugal”. Estas duas disciplinas de Retdrica e de Histéria preenchiam apenas um ano, porque havia necessidade de passar imediatamente 4 Filosofia. Nas porgdes em que a divide e define, nota-se bem a influéncia de Vernei, alias admitida ja como universal. Formam elas “um colegio de ciencias universais” —o que the dé enseio para de novo afirmar os propésitos do: Seminario, da. escola de principios elementares, préprios nao sé de um bom_e verdadeiro Ministro da Igreja, mas também de um bom cida- dio-e de.um indagador da Natuteza. “aue adora o Creador nas suas obras e az fas servir ao bem dos émens”. Pare tal fim, reduzin o estudo da Filosofia a duas partes: Légica, Metafisica, fitica e Fisica Experimental ; e Histéria Natural e Quimica, Ao Professor recomenda que use um compéndio moderno e explique “com clareza, somente as questées uteis gue pertencem aos conhecimentos umanos: Juizos, Discursos, Critica, Er- meneutica, Ontolojia, Psicolojia, Teolojia Natural, regras e principios das asdes moraes, virtudes e oficios dos émens, sem difuzdcs nem perplexi- dades que embarasam o progreso dos estudos”. Explicaria “que coiza seja metodo”, “como se descobre a verdade pelo metodo analitico, como se ensina e convence pelo metodo sintetico e que coiza seja metodo socratico.” Depois lecionaria um dos ramos da Filosofia Natural ou Fisica Ex mental — sé 0 que respeita a Mecinica e Hidrostatica, “e os principios necesatios para a inteligencia das mequinas e das suas farsas, cujo conhecimento é muito necesario para fazer mover e levantar grandes corpos e conduzir as aguas em um pais, cujo fundo principal consiste na Agri- cultura e no trabalho de lavrar as terras, cavar e extrair os mineraes, etc.”. Convicto no idedrio dos fisiocratas, nada descura que fomente o melhor aproveitamento agricola, se bem que, perante a realidade das minas de ouro, nao despreza a inddstria, 1 de sua autoria, como se sabe, 0 Discurso Sobre 9 estado actual das Minas do Brazil (Lisboa, 1804), para nao falar do Ensaio Economico sobye 0 Commercig de Portugal ¢ suas Colonias (Lisboa, 1794; 2% ed. 1816; 3% ed, 1828; 42 ed., Sao Paulo, 1966) € outros, O estudo podia prosseguir, sobretudo para completar os pontos esho- cados e estabelecer 0 confronta minucioso entre os seus propésitos peda- gégicos ¢ os de Vernei, j4 que o decalque nas Znstruccosns aparece mais direto. Deixo a tarefa a outro estudioso, que agora mais facilmente tri- Tharé o caminko, O mesmo se diga a respeito de todo o tema abordado, — porque tenho consciéncia da necessidade de continuar as pesquesas, em Biblioteeas e Arquivos e no estudo da mentalidade iluminista’ dos brasileiros de Setecentos (25). (25) Para_esse objetivo, proporciona-nos Professor colaborador da USP, catedratice da Universidade de Lisoa, Doutor Francisco da Gama Caciro, as se guintes achegas, que nfo consegui confirmar, antes de mais, por no ter encontras do em Lisboa as obras indicadas, que aquele prezado amigo me gutoriza 2 divulgar © Cénego Antonio Joaquim das Meroés publicou na Revista do Instituto Histdrico ¢ Geogrifico da Bekio, n° $8, p, 81-92, importante documento — Uma carta de 12.8.1861 — para a histéria do ensino da Filosofia na Bahia, interessando ao nosso tema, o fato de ai se ensinar a Fisica de Vernei, de 1804 em diante. — Antonio Gomez Robledo, La Filosofia en et Brasil, México, 1946, p. 12, informa que nas Bibliotecas de Ouro Preto figuravam Vernei ¢ os enciclopedistas. Por fim, caso de José Durio, frade Agostinho ¢ professor na Universidade de Coimbra, adver- sério do silogismo e yaladino dos “recentiores” na orago Pro (...) studéorua ins- fauratione Oroiio, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1778, Mariana Amélia Ma- chada Santos (Os fildsofos “recentiores” do Séeulo XVHiI em Portugat, Coimbra, 1946, p. 16, refere-se 4 influéncia de Vernel, mas 0 assunto tem de ser melhor estudade por ndo parecer isso evidente, a primeira vista, muito pelo contrésio.

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