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ELIZABETH D’ANGELO SERRA (ORG)
30 ANOS DE LITERATURA
PARA CRIANÇAS E JOVENS
ALGUMAS LEITURAS
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
(CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL)
APRESENTAÇÃO
Elizabeth D’Angelo Serra 7
1. DE LOBATO À DÉCADA DE 1970
Laura Sandroni 11
2. BALANÇO DOS ANOS 60/70
Maria Antonieta Antunes Cunha 27
3 A LITERATURA INFANTIL NOS ANOS 80
Maria da Glória Bordini 33
4. A LITERATURA INFANTIL DOS ANOS 80
Ana Lúcia Brandão 47
5. A LITERATURA PARA CRIANÇAS
E JOVENS NOS ANOS 90
Nilma Gonçalves Lacerda 59
6. CEM ANOS DE POESIA NAS
ESCOLAS BRASILEIRAS
Graça Paulino 75
7. UM PANORAMA DA LITERATURA PARA
CRIANÇAS E JOVENS
Elizabeth D’Angelo Serra 89
8. TEXTO E IMAGEM: DIÁLOGOS E LINGUAGENS
DENTRO DO LIVRO
RicardoAzevedo 105
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APRESENTAÇÃO
Laura Sandroni
As características do literário
e a brasilidade na obra de Lobato
Além desses aspectos com que Lobato procurava despir seu estilo
de toda “a literatura” no sentido da retórica tradicional, a criatividadc que
demonstra é marcada pelo humore aponta no sentido da modernização que
preconiza.
Ele foi o primeiro a fazer do folclore tema sempre presente em suas
histórias através das personagens do Sítio, como Tia Nastácia e Tio
Barnabé. A primeira, ponte de ligação entre o mundo racional repi-
esentado por Dona Benta, c as superstições e as crendices próprias das
populações analfabetas; o segundo, conhecedor dos mistéiios, dos mitos
que habitam o folclore.
Em alguns livros como O saci e Histórias de Tia Nastácia, o folclore é a
temática central. Não se trata mais aqui de um pesquisador que registra a
tradição oral como fizeram Alexina de Magalhães Pinto e os demais já
citados, mas de buscar nessa fonte inesgotável da literatura, que é o
folclore, os elementos necessários a uma criação original.
Outra das grandes inovações de Lobato é a de trazer para o universo da
criança os grandes problemas, até então, considerados como parte exclusiva
do mundo adulto. Assim, discutem-se no Sítio as terríveis conseqüências
das guerras em A chave do tamanho, os problemas do desenvolvimento
brasileiro em O poço do Visconde, o conhecimento intuitivo ti-ente ao
predomínio da lógica e da razão em O saci.
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Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source com a intenção de
facilitar o acesso ao conhecimento a quem não pode pagar e também proporcionar aos Deficientes
Visuais a oportunidade de conhecerem novas obras.
Se quiser outros títulos nos procure http://groups.google.com/group/Viciados_em_Livros, será um prazer
recebê-lo em nosso grupo.
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Não podia acreditar. Florípedes não podia acreditar no que via. Na frente
dela, sentada em cima de uma campa antiga, uma menina que regulava com
o seu tamanho, usando umas roupas esquisitas, segurava o papagaio na
mão, o seu papagaio. “É meu”, foi logo dizendo, “me devolve por favor”.
“Seu?”, a menina fez uma cara de pouco caso, e disse, para surpresa de
Florípedes, “está bem, pode pegar”. Nossa, que mão mais quente, parece
que saiu do fogo. E afinal de contas o que estava aquela menina fazendo
ali? “Em que enterro você veio? Se perdeu da sua mãe? Não é bom ficar
atidando sozinha aqui pelos fundos do cemitério”, e respondendo ao olhar
crítico da outra, “bem, eu moro aqui, moro já tem muito tempo, estou mais
que acostumada, mas a minha mãe diz até hoje que isso aqui é muito
perigoso, imagina só”, falou, parecendo ter vislumbrado de súbito uma
parceria inusitada.
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Rosa tentava dizer a Florípedes que o livro que puxava distraída da estante
era uma obra-prima, dessas que só aparecem de tempos em tempos. Não
era um livro brasileiro, mas isso não tinha a menor importância. Um
escritor chamado Ivanir Caliado tinha traduzido O doador, da americana
Lois Lowvry (1993).
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....o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. 2
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Graça Paulino
Nessa ordem de idéias, compreende-se por que a literatura destinada a crianças e jovens
surgiu e se desenvolveu sob a tutela da escola. Por um lado, essa literatura sempre fora
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(.... )
Cingiu-lhe o triste inverno um resplendor de neve,
na fronte que adormece a meditar na cruz!
Oh! quanto o doce abril fortalecer não deve
aquelas frias mãos, aquele olhar sem luz!...7
Também se explicita, logo na página de rosto, o modo de ler poesia que era
julgado ideal na época: os poemas são próprios para serem decorados pelas
crianças, “que assim aprendem a recitar e declamar”. Hoje essa prática de
leitura caiu em desuso, e prova disso é a quase ausência dos chamados
“poemas dramatizados” nas escolas.
7.
Guilherme Azevedo. “Velhos e crianças”. In: Figueiredo PtMENTEL (org.)
Álbum das crianças. Rio de Janeiro: Quaresma & Cia, 1897, p. 20.
8. Op. cit., p. 8.
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Não embargam crentes esses teus temores, que me importa a noite, mais os
seus horrores, se a minha avozinha tão doente está? 9
9. Op,cit, p.48.
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11. Há uma parte inteira do livro, intitulada Os poemas de sempre não têm
dono, que dedica espaço à “poesia que nasce do povo” e à sua recriação
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Coração
Ouvidor
e boca abertos
a dizerem para Deus
em agradecimentos
o que calam as palavras
e o corpo estático
nos apoteóticos momentos.14
Evidentemente, esse poema separado dos outros que compõem o livro pode
ser lido de uma maneira menos condescendente que a esperada. De
qualquer modo, seria necessário que se fizesse uma leitura crítica desses
eventos poéticos pouco expressivos, saturados, gratuitos, que mal
compõem um texto, e que não ampliam os horizontes culturais e estététicos
de seus leitores. Com muito medo de julgar mal os textos que se publicam
no país, os adultos condutores da leitura infantil parecem aceitar
docilmente as banalizações do gosto. Nem seria necessário , esse
procedimento. Se a poesia não termina, felizmente, em Roseana Murray ou
Sergio Caparelli, exemplos de bons poetas que escrevem literatura infanto-
juvenil, pode começar com eles, para um leitor ir que está dando seus
primeiros passos e precisa mover-se para a frente. E, se todos nós sempre
lemos um texto em vez de outro, pois ninguém consegue lê-los todos, as
práticas de seleção de leituras devem ser conscientes e críticas, seja no
âmbito escolar, seja na visitação pessoal a livrararias e a bibliotecas. Tal
procedimento, pelo visto, não caracterizou ainda a algum fim de século no
Brasil. As antologias, a seu modo, propõeõem-se, enquanto isso, a facilitar
a vida dos leitores iniciantes.
14. A Antonio Carlos Tórtoro. Estrelas no mar, são Paulo: Moderna, 1994, p43.
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Referências bibliográficas
A criança
Porém, essas crianças, quando têm uma família que pode oferecer-
lhes um mínimo de segurança afetiva e material, não têm, em geral, contato
diário com o instrumento principal que avalia o seu desenvolvimento na
escola, o texto escrito. E, quando não têm o mínimo de estrutura familiar, a
situação é ainda pior. Assim, a criança entra com enorme desvantagem em
relação a uma minoria privilegiada que também passa pelo sistema escolar
e que vai competir com ela mais à frente, cuja cultura e o conseqüente
processo educacional têm, no texto escrito, sua principal expressão de
comunicação, de registro e de construção social.
Os professores
A saudosa escola pública que tinha qualidade não existe mais. Por
que será? Aquela escola, apesar de pública, atendia a uma classe média que
coinvivia com o texto escrito e tinha acesso à arte, tendo-a como valor
ciultural e, por isso, o processo educacional valorizava a palavra. Estarmos
falando dos anos 40 e 50, entrando pelos anos 60. Era uma minoria que
tinha direito à escola. Foi só com a Constituição de 1946 que a educação
básica passou a ser obrigatória e a construção de escolas pasou a ser
bandeira política nos anos 50 e 60.
Assim, entrou para a escola um contingente de crianças que estava excluído
dela, até então. Para atender a essa nova clientela, que chegava às escolas,
os cursos de magistério tiveram que formar mais professores. A
necessidade de atender à demanda e a falta de compromisso democrático
dos governantes e dos administradores de oferecer em ‘variedade e
qualidade à maioria contribuiu para uma formação diferente dos alunos das
escolas normais, não oferecendo uma formação de qualidade aos seus
professores e seus alunos. A abrangência do conceito de aprender a ler e a
escrever e quais as suas relações com a cultura não faziam parte do entorno
cultural dos novos professores que se formavam no magistério.
A expectativa era de cumprir a exigência do mercado de trabalho:
decodificar os signos escritos. A palavra escrita em suas formas variadas,
artísticas ou informativas, como instrumento para refletir e fazer pensar, foi
desaparecendo do contexto escolar. A educação básica era vista em sua
aparência menor, mais reduzida.
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O que fazer?
As políticas de educação
Alguns números
É interessante verificar, estatisticamente, como está a relação entre a
produção de livros e a formação de leitores. Para isto, utilizamos a pesquisa
encomendada pela Câmara Brasileira do Livro à Fundação João Pinheiro.
Desde 1990, a Fundação João Pinheiro vem pesquisando as informações
sobre a produção editorial no país. Trata-se de um esforço importante e
pioneiro, feito pela iniciativa privada, em que o governo ainda não investiu.
Tratar de pesquisa no campo da leitura deveria ser uma das prioridades do
governo, na área cultural e educacional, considerando a importância do
texto escrito para a ascensão social em nossa sociedade.
Os cruzamentos que fizemos merecem ser analisados, do
ponto de vista da formação cultural e educacional de nossa população
escolar. A produção de livros didáticos nos últimos três anos (1993
a 1996) cresceu 79%, enquanto a de livros não-didáticos aumentou
58% entre 1992e 1995.
O volume de faturamento em dólares de livros didáticos, entre 1990 e
1996, aumentou 195%. O de livros não-didáticos, 89%. Vejamos a
produção de 1996:
Por exemplares:
Do total de 386.747.134 exemplares publicados foram distribuídos, por
categoria:
Por títulos:
Do total de 41.670 títulos, 1ª edição e reedições:
101
• Exemplares = 2%
• Títulos = 7%
Ao considerarmos:
A questão da qualidade
Outro aspecto que resringe a oportunidade de contato com um
universo cultural variado e rico é a falta de qualidade. A pesquisa mostra
que, em 1996, em primeira edição de literatura infantil e juvenil foram
editados 2.563 títulos. A FNLIJ recebeu cerca de 703 títulos, um pouco
mais que 1/5 dos títulos editados e dentre esses, só cerca de 300 foram
considerados para a pré-seleção. Para nós fica evidente que a maioria,
provavelmente, não tem qualidade.
Questionamos pois, qualitativamente, o investimento editorial na educação.
Apesar de expressivo quantitativamente, quanto à prioridade que é dada ao
livro didático (representou, em 1996,0 quádruplo da literatura infantil e
juvenil) a literatura infantil e juvenil de qualidade, além de ser minoria, não
chega à maioria de nossas escolas.
O que será de uma nação que oferece qualquer produto cultural, para
construir o futuro de seus jovens, sem estabelecer critérios de qualidade?
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Ricardo Azevedo
Ou então:
Ou então
7. Lygia Bojunga Nunes. A bolsa amarela 6ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1981,
p.30.
8. Murilo Mendes, O menino experimental 2ª ed. São Paulo: Summus, 1979, p. 26.
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