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Dois Poemas Francis Ponge
Dois Poemas Francis Ponge
A BORBOLETA
Quando o açúcar elaborado nos talos surge no fundo das flores, como em xícaras mal
lavadas - um grande esforço se produz no solo de onde, súbito, as borboletas alçam voo.
Porém, como cada lagarta teve a cabeça ofuscada e enegrecida, e o torso adelgaçado
pela verdadeira explosão de onde as asas simétricas flamejaram.
Desde então, a borboleta errática só pousa ao acaso do percurso, ou quase isso.
Fósforo voejante, sua chama não é contagiosa. E, além do mais, ela chega muito
tarde e pode apenas constatar as flores desabrochadas. Não importa: comportando-se
como acendedora de lâmpadas, verifica a provisão de óleo de cada uma. Pousa no cimo
das flores o farrapo atrofiado que carrega, e vinga assim sua longa humilhação amorfa
de lagarta ao pé dos caules.
Minúsculo veleiro dos ares maltratado pelo vento como pétala superfetatória, ela
vagabundeia pelo jardim.