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Introdução à Educação Cristã

– Reflexões, Desafios e perspectivas – (3)1

B. O Método de Deus e a sua Eficácia

1) O ENTENDIMENTO PROPOSTO POR DEUS

“Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento (‫( )בּין‬bîyn), os quais
com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9).

Uma das coisas maravilhosas que Deus concedeu ao ser humano de forma bas-
tante especial, é a capacidade de autoconsciência, perceber a realidade, permitindo
2
assim, interpretar e organizar as sensações. Sem esta capacidade teríamos apenas
noção da cor verde ou amarela, perfume suave ou intenso, som fraco ou forte, con-
tudo não teríamos as condições de identificar determinado objeto, como por exem-
plo: cor de uma laranja, perfume de uma rosa, som de um violino, etc. Enquanto que
os órgãos sensoriais (paladar, olfato, tato, audição e visão) nos fornecem qualidades
de sensação, a nossa percepção organiza sínteses mentais.

Aliada à percepção, temos a capacidade de discernir as coisas, que nos permite


separar, distinguir, discriminar. Chamamos isso de discernimento.

A definição é um instrumento ideal para isso. Definir, segundo o sentido etimoló-


3
gico é delimitar. A definição procura determinar a compreensão da ideia, circuns-
crevendo a sua abrangência, indicando todos os seus elementos constitutivos. Co-
mo todo conceito possui um conteúdo, a definição nada mais é do que a determina-
4
ção da natureza deste conteúdo. A definição se propõe a nos fazer ver com maior
clareza o objeto analisado, o assunto do qual tratamos. A “indefinição” acarreta uma

1
Texto disponibilizado pela Secretaria de Educação Religiosa do Presbitério de São Bernardo do
Campo, SP.
2
“A percepção permite que um organismo receba informação do ambiente e converta a
informação sensorial recebida em experiência organizada. (...) Tradicionalmente, a palavra
(...) percepção refere-se mais estritamente à maneira pela qual o indivíduo organiza e inter-
preta a informação sensorial recebida” (Samuel Pfromm Netto, Psicologia: introdução e guia de
estudo, São Paulo/Brasília: EDUSP/CNPQ., 1985, 10-4). Para uma discussão mais detalhada sobre o
emprego da palavra, ver: Percepção: In: Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia, 2. ed. São Paulo:
Mestre Jou, 1982, p. 722-726.
3
As palavras gregas correspondentes são: o(/roj = “termo”, “limite” e o(rismo/j = “delimitação”, “acor-
do”, “tratado”.
4
Do ponto de vista lógico, a ideia é igual a sua definição. A definição lógica consiste de fato em deli-
mitar exatamente a compreensão de um objeto, ou, em outros termos, em dizer o que uma coisa é.
Daí o princípio: “A definição é a noção desenvolvida e (...) a noção é a definição condensa-
da” (L. Liard, Lógica, 9. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979, p. 25).
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5
série de omissões e equívocos, justamente por não termos claro diante de nós o
objeto do qual estamos tratando ou, em que sentido nos aproximamos de cada idei-
6
a.

Algo natural ao ser humano é o desejo de entender para poder discernir a reali-
dade, interpretando o mundo à sua volta e as situações às quais todos estamos su-
jeitos.

As Escrituras nos falam sobre isso. Há até o lugar para preceitos que envolva o
discernimento em nossa etiqueta: “Quando te assentares a comer com um governa-
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dor, atenta bem (‫( )בּין‬bîyn) para aquele que está diante de ti” (Pv 23.1). Ou seja: dê
atenção ao governador que está diante de ti, não simplesmente à comida servida.

Salomão designa de inteligente o homem com discernimento que busca a sabedoria:


“A sabedoria é o alvo do inteligente (‫( )בּין‬bîyn), mas os olhos do insensato vagam pe-
las extremidades da terra” (Pv 17.24). O homem inteligente não se perde em distra-
ções sem foco, sem objetivo, antes, concentra seus esforços em alcançar a sabedo-
ria – a capacidade de utilizar bem os recursos de que dispõe –, mantendo-a diante
de seus olhos. O insensato se perde em suas divagações achando, inclusive, que
8
pode comprar a sabedoria (Pv 17.16).

Ele também afirma que sabedoria consiste em discernir o nosso caminho: “A sa-
bedoria do prudente é entender (‫( )בּין‬bîyn) o seu próprio caminho, mas a estultícia
dos insensatos é enganadora” (Pv 14.8). Aplicando este princípio ao campo espiritu-
al podemos ilustrar com Jó, que não conseguindo discernir o seu suposto pecado,
pede a Deus que o faça compreender o seu erro: “Ensinai-me, e eu me calarei; dai-
me a entender (‫( )בּין‬bîyn) em que tenho errado” (Jó 6.24). Continua: “Há iniquidade
na minha língua? Não pode o meu paladar discernir (‫( )בּין‬bîyn) coisas perniciosas?”
(Jó 6.30).

No Salmo 32.9 Deus usa figuras fortes para falar da obtusidade daqueles que não
9 10
atentam para a Sua instrução: “Não sejais como o cavalo ou a mula (dr,P,) (pered),

5
Em uma entrevista concedida em 1991, Thomas Kuhn queixando-se do uso excessivo e inadequa-
do da expressão “paradigma”, que marca o seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas, admite
que no livro não definira “paradigma” tão rigorosamente como deveria” (John Horgan, O Fim da Ciên-
cia: uma discussão sobre os limites do conhecimento Científico, 3. reimpressão, São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 2006, p. 64).
6
Condillac (1715-1780) assim expressou esta questão: "A necessidade de definir é apenas a ne-
cessidade de ver as coisas sobre as quais se quer raciocinar e, se fosse possível ver sem defi-
nir, as definições se tornariam inúteis" (E.B. de Condillac, Lógica ou Os Primeiros Desenvolvimen-
tos da Arte de Pensar, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. 27), 1973, p. 121).
7
A Contemporary English Versions traduz por “aja da melhor maneira”. English Standard Version:
“observe criteriosamente”; Geneva Bible (1587) e King James Version: “considere diligentemente”.
8
“De que serviria o dinheiro na mão do insensato para comprar a sabedoria, visto que não tem en-
tendimento?” (Pv 17.16).
9
As Escrituras chamam atenção apenas para a força do cavalo, não para a sua suposta inteligência
(Sl 33.17; 147.10).
10
A mula ou o mulo é gerado do cruzamento do cavalo com a jumenta ou do jumento com a égua;
entretanto, ele é estéril, não podendo reproduzir-se. “As mulas são valiosas pelo fato que combi-
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sem entendimento (‫( )בּין‬bîyn), os quais com freios e cabrestos são dominados; de
outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9).

Por meio de outra analogia, Deus recorre à figura de outros animais para falar da
ignorância culposa do povo. Referindo-se a Israel diz: “O boi conhece o seu possui-
dor, e o jumento (‫( )חמור‬chămôr), o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem co-
nhecimento, o meu povo não entende (‫( )בּין‬bîyn)” (Is 1.3). Ele toma dois animais difí-
ceis de trato: o boi e o jumento. Mostra que a obtusidade, a teimosia e a dificuldade
de condução destes animais dão-se pela sua própria natureza; no entanto, assim
mesmo, eles sabem reconhecer os seus donos, aqueles que lhes alimentam. O ho-
mem, por sua vez, como coroa da criação, cedendo ao pecado perdeu totalmente o
seu discernimento espiritual; já não reconhecemos nem mesmo o nosso Criador; an-
11
tes lhe voltamos as costas e prosseguimos em outra direção.

Deus deseja que Lhe obedeçamos voluntariamente com entendimento; aliás, a


12
nossa obediência é resultante de nosso discernimento espiritual (Sl 32.9). O dis-
cernimento que Deus deseja que tenhamos nada tem a ver com a glória humana. O
salmista resume esta verdade: “O homem, revestido de honrarias, mas sem enten-
dimento (‫( )בּין‬bîyn), é, antes, como os animais, que perecem” (Sl 49.20).

Mas o que significa “entendimento”, no texto que estamos analisando?


13
O verbo (‫( )בּין‬bîyn) apresenta a ideia de um entendimento, fruto de uma obser-
vação demorada, que nos permite discernir para interpretar com sabedoria e condu-
14
zir os nossos atos. “O verbo se refere ao conhecimento superior à mera reu-
nião de dados. (...) Bîn é uma capacidade de captação julgadora e per-
15
ceptiva e é demonstrada no uso do conhecimento”.

Analisemos mais pormenorizadamente o seu emprego nas páginas do Antigo

nam a força do cavalo com a resistência e o passo firme do jumento, além de ter o vigor ex-
tra característico dos híbridos” (G.S. Cansdale, Mula: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário
da Bíblia, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, Vol. II, p.1075).
11
Jones explora com vivacidade a analogia do texto. Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, O Caminho de Deus,
não o nosso, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2003, p. 43-46.
12
“Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são do-
minados; de outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9).
13
O substantivo é (‫( )ּבינה‬bîynâh).
14
‫( ּבין‬bîyn) permite diversas traduções (ARA):
Acudir (Sl 5.1) (No sentido de considerar); Ajuizado (Gn 41.33,39); Atentar (Dt 32.7,29; Sl 28.5);
Atinar (Sl 73.17; 119.27); Considerar (Jó 18.2; 23,15; 37.14); Contemplar (Sl 33.15); Cuidar (Dt
32.10); Discernir (1Rs 3.9,11; Jó 6.30; 38.20; Sl 19.12); Douto (Dn 1.4); Ensinar (Ne 8.7,9); Enten-
der/entendido/entendimento (Dt 1.13;4.6; 1Sm 3.8; 2Sm 12.19; 1Rs 3.12;1Cr 15.22; 27.32; 2Cr 26.5;
Ed 8.16; Ne 8.2,3,8,12; 10.28; Jó 6.24;13.1; 15.9; 23.5; 26.14; 28.23; 32.8,9; 42.3); Fixar no sentido
de pensar detidamente (Jó 31.1); Inteligência (Dn 1.17); Mestre (no sentido de expert) (1Cr 25.7,8);
Penetrar (com o sentido de discernir) (1Cr 28.9; Sl 139.2); Perceber (Jó 9.11;14.21; 23.8); Perito (Is
3.3); Procurar (Sl 37.10); Prudentemente (2Cr 11.23); Reparar (1Rs 3.21); Revistar (procurar atenta-
mente) (Ed 8.15); Saber/Sabedoria (Ne 13.7; Pv 14.33); “Sisudo” em palavras (1Sm 16.18); Superin-
tender (por ter maior conhecimento) (2Cr 34.12).
15
Louis Goldberg, Bîn: In: Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo
Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 172.
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Testamento:

A) NEGATIVAMENTE

Consideremos aqui o problema da falta de discernimento apontada pelo


próprio Deus:

1) Como vimos, a destruição de Israel estava relacionada à falta de dis-


cernimento da Palavra de Deus. Pouco antes do Cativeiro Assírio, Deus fala por
meio de Oséias: “Não castigarei vossas filhas, que se prostituem, nem vossas noras,
quando adulteram, porque os homens mesmos se retiram com as meretrizes e com
as prostitutas cultuais sacrificam, pois o povo que não tem entendimento (‫( )בּין‬bîyn)
corre para a sua perdição” (Os 4.14).

2) Ao povo que se desviava do caminho de Deus, Oséias adverte-lhe


mostrando a retidão do caminho de Deus e o perigo de se desviar dele: “Quem é sá-
bio, que entenda (‫( )בּין‬bîyn) estas coisas; quem é prudente, (‫( )בּין‬bîyn) que as saiba,
porque os caminhos do SENHOR são retos, e os justos andarão neles, mas os
transgressores neles cairão” (Os 14.9).

3) Deus por meio de Jeremias fala de seus filhos que já não O conhecem,
tendo inteligência para fazer o mal, não o bem: “Deveras, o meu povo está louco, já
não me conhece; são filhos néscios e não inteligentes (‫( )בּין‬bîyn); são sábios para o
mal e não sabem fazer o bem” (Jr 4.22). A ignorância de quem era Deus conduziu o
povo à sofisticação na maldade. Diferentemente do que o Apóstolo Paulo recomen-
da no Novo Testamento: “.... quero que sejais sábios para o bem e símplices para o
mal” (Rm 16.19).

B) POSITIVAMENTE

1) Quando Deus em sonho pergunta a Salomão o que ele deseja que o


Senhor o desse, Salomão pediu justamente entendimento para julgar o povo:

“9 Dá, pois, ao teu servo coração (‫( )לב‬lêb) compreensivo para julgar a teu povo, para que pruden-
temente discirna (‫( )בּין‬bîyn) entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo?
10 Estas palavras agradaram ao Senhor, por haver Salomão pedido tal coisa.
11 Disse-lhe Deus: Já que pediste esta coisa e não pediste longevidade, nem riquezas, nem a mor-
te de teus inimigos; mas pediste entendimento (‫( )בּין‬bîyn), para discernires o que é justo;
12 eis que faço segundo as tuas palavras: dou-te coração (‫( )לב‬lêb) sábio e inteligente (‫( )בּין‬bîyn),
de maneira que antes de ti não houve teu igual, nem depois de ti o haverá” (1Rs 3.9-12).

Na realidade Salomão estava sendo coerente com a orientação de seu pai, Davi,
que nos seus conselhos finais, disse: “Que o SENHOR te conceda prudência e en-
tendimento (‫( )בּינה‬bîynâh), para que, quando regeres sobre Israel, guardes a lei do
SENHOR, teu Deus” (1Cr 22.12).

Mais tarde, o próprio Hirão, rei de Tiro, reconheceu por escrito esta capacidade
em Salomão: “.... Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, que fez os céus e a terra;
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que deu ao rei Davi um filho sábio, dotado de discrição e entendimento, que edifique
casa ao SENHOR e para o seu próprio reino” (2Cr 2.12).

2) Jó refletindo sobre o poder de Deus, confessa a sua limitação diante de


Deus “Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos! Que leve sussurro te-
mos ouvido dele! Mas o trovão do seu poder, quem o entenderá (‫( )בּין‬bîyn)?”(Jó
26.14). Passadas todas as provações, ele admite ter falado sobre o que não conhe-
cia: “Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho?
Na verdade, falei do que não entendia (‫( )בּין‬bîyn); coisas maravilhosas demais para
mim, coisas que eu não conhecia” (Jó 42.3).

De fato, as Escrituras nos mostram que Deus dirige o nosso caminho sem que o
entendamos perfeitamente: “Os passos do homem são dirigidos pelo SENHOR; co-
mo, pois, poderá o homem entender (‫( )בּין‬bîyn) o seu caminho?” (Pv 20.24).

3) Por isso, os servos de Deus desejosos de fazer a Sua vontade supli-


cam a Deus que lhes dê discernimento:

“Dá-me entendimento (‫( )בּין‬bîyn), e guardarei a tua lei; de todo o coração (‫)לב‬
(lêb) a cumprirei” (Sl 119.34).
“As tuas mãos me fizeram e me afeiçoaram; ensina-me (‫( )בּין‬bîyn) para que a-
prenda os teus mandamentos” (Sl 119.73). (Do mesmo modo: Sl 119.125,169).
“Faze-me atinar (‫( )בּין‬bîyn) com o caminho dos teus preceitos, e meditarei nas
tuas maravilhas” (Sl 119.27).

4) O salmista que confessa durante determinado tempo de sua vida ter


admirado o caminho do ímpio, finalmente percebe: “Em só refletir para compreender
isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei no santuário de Deus e atinei
(‫( )בּין‬bîyn) com o fim deles” (Sl 73.16-17).

5) O verdadeiro entendimento está no conhecimento de Deus: “O temor


do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento (‫( )דּעת‬da‛ath) do Santo é
prudência (‫( )בּינה‬bîynâh)” (Pv 9.10).

6) “A revelação das tuas palavras esclarece (‫'( )אור‬ôr) e dá entendimento


(‫( )בּין‬bîyn) aos simples (ytiP.) (pethiy) (= ingênuo, tolo, mente aberta)” (Sl 119.130).

Deus concede este discernimento aos símplices, referindo-se às pessoas ingê-


nuas que por não terem desenvolvido uma mente discernidora, é aberta a qualquer
16
conceito, não percebendo as armadilhas e contradições do seu inconsistente mo-
saico de pensamento. “Um individuo simples é como uma porta aberta – ele
não tem discernimento sobre o que pode sair ou entrar. Tudo entra porque
ele é ignorante, inexperiente, ingênuo e não sabe discernir as coisas. Pode
ser até que tenha orgulho de ter uma ‘mente aberta’, apesar de ser verda-

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“O simples (ytiP.) (pethiy) dá crédito a toda palavra, mas o prudente atenta (yBi) (biyn) para os seus
passos” (Pv 14.15).
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deiramente um tolo”.

Este discernimento só é possível por intermédio da Palavra. Por isso mesmo


Deus nos convida a um exame de Sua Palavra. Nela temos os Seus ensinamentos e
promessas que, de fato, podem iluminar os nossos olhos, apontando e nos capaci-
tando a seguir o Seu caminho. “Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz
(‫'( )אור‬ôr)....” (Pv 6.23). Esta é a experiência do salmista: “Os preceitos do SENHOR
são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina (‫)אור‬
('ôr) os olhos” (Sl 19.8). “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz (‫'( )אור‬ôr)
18
para os meus caminhos” (Sl 119.105).

O entendimento proveniente de Deus faz com que tenhamos discernimento em


todas as coisas: “Os homens maus não entendem (‫( )בּין‬bîyn) o que é justo, mas os
que buscam o SENHOR entendem (‫( )בּין‬bîyn) tudo” (Pv 28.5). “Sou mais prudente
(‫( )בּין‬bîyn) que os idosos, porque guardo (‫( )נצר‬nâtsar) os teus preceitos” (Sl
119.100).

Este discernimento, contudo, não é apenas para uma satisfação intelectual, antes
tem um efeito prático; ele é, de certa forma, profilático: “Por meio dos teus preceitos,
consigo entendimento (‫( )בּין‬bîyn); por isso, detesto todo caminho de falsidade” (Sl
119.104).

Por isso, à pergunta de Jó sobre onde encontrar a sabedoria e o entendimento,


ele mesmo apresenta a resposta: “Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o
lugar do entendimento (‫( )בּינה‬bîynâh)?” (Jó 28.12). “Donde, pois, vem a sabedoria,
e onde está o lugar do entendimento (‫( )בּינה‬bîynâh)?” (Jó 12.20). “E disse ao ho-
mem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendi-
mento (‫( )בּינה‬bîynâh)” (Jó 28.28). O nosso discernimento revela-se em nos apartar
do mal seguindo a Lei de Deus.

7) O cuidado de Deus para como o Seu povo passa necessariamente pe-


la instrução. Ou seja: no ensino de Deus temos uma demonstração de Seu cuidado
amoroso para conosco. Moisés, de forma poética, diz: “Achou-o numa terra deserta

17
John MacArthur, Adotando a Autoridade e a Suficiência das Escrituras. In: John MacArthur, ed.
ger., Pense Biblicamente!: recuperando a visão cristã do mundo, São Paulo: Hagnos, 2005, p. 39.
18
Nas Escrituras, seguir a instrução de Deus é o mesmo que andar na luz: “Irão muitas nações e di-
rão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os
seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR,
de Jerusalém (...) Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz (‫'( )אור‬ôr) do SENHOR” (Is 2.3,5). “Aten-
dei-me, povo meu, e escutai-me, nação minha; porque de mim sairá a lei, e estabelecerei o meu direi-
to como luz (‫'( )אור‬ôr) dos povos” (Is 51.4). [Para um estudo mais pormenorizado do emprego da pa-
lavra no Antigo Testamento, ver: Herbert Wolf, ‘ôr: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Interna-
cional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 38-42; William Gesenius,
Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament, 3. ed. Michigan: WM. Eerdmans Publishing Co. 1978,
p. 23].
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e num ermo solitário povoado de uivos; rodeou-o (‫( )סבב‬sâbab) e cuidou (‫)בּין‬
(bîyn) dele, guardou-o (‫( )נצר‬nâtsar) como a menina dos olhos” (Dt 32.10).

8) A compreensão da Palavra nos revigora nas angústias: “Sobre mim vi-


eram tribulação e angústia; todavia, os teus mandamentos são o meu prazer. Eterna
é a justiça dos teus testemunhos; dá-me a inteligência deles (‫( )בּין‬bîyn), e viverei” (Sl
119.143-144). Como não compreendemos todas as coisas, necessitamos ter o dis-
cernimento concedido por Deus para continuar confiando em Seu cuidado.

Aplicando o que vimos neste tópico, devemos enfatizar que a misericórdia de


Deus tem nos assistido muitas vezes de uma forma misteriosa (Sl 32.10). Contudo,
Deus nos oferece a Sua Palavra para que reflitamos nela e busquemos o entendi-
mento necessário para aplicar aos nossos desafios cotidianos. Precisamos nos valer
disso rogando a Deus que nos dê discernimento espiritual e saibamos interpretar os
sinais dos tempos a fim de viver com sabedoria neste mundo. Portanto, podemos ex-
trair alguns princípios para o nosso aprendizado:

a) Devemos buscar conhecimento: “O coração (‫( )לב‬lêb) sábio (‫)בּין‬


(bîyn) procura o conhecimento, mas a boca dos insensatos se apascenta de estultí-
cia” (Pv 15.14). (Ver também: Pv. 16.16; 23.4,23).

Quando Nabucodonosor entrevistou Daniel e a seus amigos com vistas a servi-


rem no palácio, registra as Escrituras: “Ora, a estes quatro jovens Deus deu o co-
nhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria; mas a Daniel deu inteligên-
cia (‫( )בּין‬bîyn) de todas as visões e sonhos. Vencido o tempo determinado pelo rei
para que os trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe à presença de Nabucodo-
nosor. Então, o rei falou com eles; e, entre todos, não foram achados outros como
Daniel, Hananias, Misael e Azarias; por isso, passaram a assistir diante do rei. Em
toda matéria de sabedoria e de inteligência (‫( )בּינה‬bîynâh) sobre que o rei lhes fez
perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores
que havia em todo o seu reino” (Dn 1.17-20). “Deus é sempre designado como a
fonte de todo conhecimento verdadeiro, e a habilidade intelectual é dádiva
20
dele”. A sabedoria destes jovens provinha de Deus e esta se manifestava em sua
obediência aos Seus mandamentos. A submissão à Palavra leva-nos de forma obje-
tiva a ter uma visão da realidade bastante diferenciada. O quadro de referência bíbli-
co continuará sendo um desafio à simples inteligência carnal, limitada ao saber ho-
dierno. “O Cristianismo fornece uma estrutura intelectual que é, na verdade,
21
superior a qualquer outra visão do mundo para buscar o conhecimento”.

19
Lembremo-nos de que esta é a mesma palavra que ocorre no Salmo 32.7,10 que é traduzida por
“assistir”.
20
Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 19.
21
Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 13. "O
cristianismo é a religião que oferece o maior privilégio e que, com ele, exige a maior obriga-
ção. No cristianismo, o esforço intelectual e a experiência emocional não são descuidados -
longe disto - porém devem combinar-se para frutificar na ação moral" [William Barclay, El Nu-
evo Testamento Comentado, (I,II,III Juan y Judas), Buenos Aires: La Aurora, 1974, Vol. 15, p. 53].
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 8/17

Portanto, devemos nos esforçar por obter este entendimento: “O princípio da sa-
bedoria é: Adquire a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimen-
to (‫( )בּינה‬bîynâh)” (Pv 4.7).

b) Refletir sobre os feitos de Deus:

O Conselho de Eliú a Jó: “Inclina, Jó, os ouvidos a isto, pára e con-


sidera (‫( )בּין‬bîyn) as maravilhas de Deus” (Jó 37.14). A consideração dos feitos de
Deus é um estímulo à nossa obediência prazerosa e à glorificação de Sua sabedoria
e majestade (Rm 11.33-36).

c) Confiar em Deus:

“Confia no SENHOR de todo o teu coração (‫( )לב‬lêb) e não te estri-


bes no teu próprio entendimento (‫( )בּינה‬bîynâh)” (Pv 3.5). A prova de discernimento
é não confiar simplesmente nele, mas, no Deus que nos concede esta capacidade.

***

Vimos que o objetivo de Deus para nós é que diferentemente do cavalo e da mu-
la, tenhamos entendimento, discernimento em nosso pensar e agir. No Salmo 32.8
Davi emprega três palavras para falar de como Deus nos ensina. Ou seja, Deus nos
instrui para que tenhamos o discernimento ao qual ele vai se referir no verso 9:

2) DEUS NOS INSTRUI


22
“Instruir-te-ei (‫( )שׂכל‬śâkal) e te ensinarei o caminho que deves seguir; e,
sob as minhas vistas, te darei conselho” (Sl 32.8).

23
A palavra é traduzida por entendimento (Gn 3.6; Sl 14.2; 53.2; 2Cr 30.22 ); “inte-
ligência” (Jr 3.15); “atentar” (Sl 106.7); “prudência” (1Sm 18.5; Sl 2.10; 94.8; 111.10;
Is 52.13); “êxito” (1Sm 18.14,15,30; 2Rs 18.7); “discernimento” (Sl 36.3); acudir (Sl
41.1). A palavra se refere “à ação de, com a inteligência, tomar conhecimen-
to das causas. (...) Designa o processo de pensar como uma disposição
complexa de pensamentos que resultam numa abordagem sábia e bastan-
te prática do bom senso. Outra consequência é a ênfase no ser bem-

22
Ver: William Gesenius, Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament, 3. ed. Michigan: WM.
Eerdmans Publishing Co. 1978, 789-790; Louis Goldberg, Sakal: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicio-
nário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1478-1480;
Robert B. Girdlestone, Synonyms of the Old Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (1897),
Reprinted, 1981, p. 74, 224-225.
23
Neste texto aparece tanto o verbo (‫( )ׂשכל‬śâkal) como o substantivo sekel (leke&), evidenciando o
profundo conhecimento que os levitas tinham do serviço do Senhor: “Ezequias falou ao coração de
todos os levitas que revelavam (leke&) (sekel) bom entendimento (‫( )ׂשכל‬śâkal) no serviço do SENHOR;
e comeram, por sete dias, as ofertas da festa, trouxeram ofertas pacíficas e renderam graças ao SE-
NHOR, Deus de seus pais” (2Cr 30.22).
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 9/17

24
sucedido”.

A) A FONTE DA INSTRUÇÃO ESTÁ EM DEUS

1) O modelo desta instrução viva temos de forma perfeita em Jesus Cris-


to. Por intermédio de Isaías Deus fala que o Messias agiria com esse discernimento:
“Eis que o meu Servo procederá com prudência (‫( )שׂכל‬śâkal); será exaltado e eleva-
do e será mui sublime” (Is 52.13).

2) É Deus mesmo Quem nos instrui. No entanto, curiosamente, nossos


primeiros pais que tinham a presença contínua de Deus com eles, rejeitaram a ins-
trução divina, preferindo a sabedoria que supostamente viria da árvore no Jardim do
Éden: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e
árvore desejável para dar entendimento (‫( )שׂכל‬śâkal), tomou-lhe do fruto e comeu e
deu também ao marido, e ele comeu” (Gn 3.6). Assim consumou-se o pecado de
nossos primeiros pais.

O entendimento proposto por Deus nunca pode começar por um ato de falta de
entendimento que se concretize em desobediência a Sua Palavra. O entendimento
deve começar pela obediência aos Seus preceitos e, ele amadurece no processo de
aprendizado da obediência. Em outras palavras, aprendo a obedecer obedecendo.
Temos o exemplo perfeito em Cristo que, “embora sendo Filho, aprendeu a obediên-
25
cia pelas coisas que sofreu” (Hb 5.8). Portanto, adquiro maior conhecimento de
Deus e de Sua Palavra quando, ainda que não as entenda perfeitamente em toda a
Sua extensão e intensidade, sigo as Suas instruções e me mantenho atento à Sua
Palavra me desviando de caminhos que são opostos ao que Deus claramente nos
dá a conhecer. Calvino conclui corretamente que, “a fé, quando é conduzida à
26
obediência a Deus, mantém nossas mentes fixas em sua palavra”.

A atitude de Adão e Eva, diferentemente, revelou falta de entendimento que se


agravaria na concretização consumada deste comportamento carente de fé em
Deus.

Aqui temos também outra lição preciosa para nós que muitas vezes tendemos a
trocar a instrução de Deus por outra, estranha à Sua Palavra. Esta é uma tendência
normal do homem pecador: substituir o Criador pela criatura (Rm 1.25).

3) Deus mesmo diz que daria líderes ao reino de Judá que os conduziria
com inteligência: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem
com conhecimento e com inteligência (‫( )שׂכל‬śâkal)” (Jr 3.15).

24
Louis Goldberg, Sakal: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Anti-
go Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p 1478.
25
“Se desejamos que a obediência de Cristo nos seja proveitosa, então devemos imita-la”
(João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 5.9), p. 138).
26
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Edições Parakletos, 1999, Vol. 2, (Sl 38.10), p. 184.
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 10/17

4) Por outro lado, por intermédio de Jeremias sabemos que o fracasso de


Judá estava no fato dos príncipes (pastores) se desviarem da instrução do Senhor:
“Porque os pastores se tornaram estúpidos e não buscaram ao SENHOR; por isso,
não prosperaram (‫( )שׂכל‬śâkal), e todos os seus rebanhos se acham dispersos” (Jr
27
10.21).

5) Os judeus no deserto erraram justamente por não atentarem para a


instrução de Deus: “Nossos pais, no Egito, não atentaram (‫( )שׂכל‬śâkal) às tuas ma-
ravilhas; não se lembraram da multidão das tuas misericórdias (desex) (hesed) e fo-
ram rebeldes junto ao mar, o mar Vermelho” (Sl 106.7).

B) DEMONSTRAMOS TER ASSIMILADO A INSTRUÇÃO DO SENHOR NO


APEGO À PALAVRA

O discernimento se revela no apego incondicional à Palavra: “O temor do


SENHOR é o princípio da sabedoria; revelam prudência (leke&)(sekel) todos os que o
praticam. O seu louvor permanece para sempre” (Sl 111.10). “Temer a Deus não
é o fim da sabedoria, mas o começo. Uma pessoa que teme a Deus pode se
abrir para as alturas vastas e vertiginosas do conhecimento. Aqueles que
‘praticam’ esse temor de Deus podem ter um ‘bom entendimento’ de tu-
28
do”.

Em outro contexto Calvino faz uma aplicação oportuna:

“Visto que os olhos são, por assim dizer, os guias e condutores do ho-
mem nesta vida, e por sua influência os demais sentidos se movem de um
lado para o outro, portanto dizer que os homens têm o temor de Deus di-
ante de seus olhos significa que ele regula suas vidas e, exibindo-se-lhes de
todos os lados para onde se volvam, serve de freio a restringir seus apetites
29
e paixões”.
“Quem quer que deseje crescer na fé deve também ser diligente em
30
progredir no temor do Senhor”.

C) NA INSTRUÇÃO DE DEUS TEMOS O SUCESSO NAQUILO QUE REA-


LIZAMOS

27
O sentido de prosperar aparece também de forma positiva em Jr 23.5 (ARA: “agirá sabiamente”).
King James: “prosper”. No entanto, a tradução de ARA parece ser a mais correta (Ver: Robert B. Gir-
dlestone, Synonyms of the Old Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (1897), Reprinted,
1981, p. 224).
28
Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 135.
29
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 36.1), p. 122-123.
30
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 25.14), p. 557.
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 11/17

O caminho do “sucesso” passa pela obediência à instrução divina. “Nu-


ma era de pragmatismo no mundo secular, onde os fins justificam os meios,
existe a tentação de prostituir o caráter cristão em favor do sucesso. E mais,
numa cultura que aclama cada vez mais o sucesso a qualquer custo e rene-
ga as virtudes como alvos valiosos, os líderes podem perseguir, sem perce-
31
ber, os holofotes do sucesso e perder a alegria de servir a Cristo”.

1) Foi esta a mensagem de Deus a Josué: “Tão-somente sê forte e mui


corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te
ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que se-
jas bem-sucedido (‫( )שׂכל‬śâkal) por onde quer que andares. Não cesses de falar des-
te Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer se-
gundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás
bem-sucedido (‫( )שׂכל‬śâkal)” (Js 1.7-8). A força e a coragem de Josué se revelariam,
não simplesmente em atos de bravura, estratégias e comando, mas, no apego irres-
trito à Palavra. Ele necessitaria de muita coragem, como de fato necessitou, para
não ceder às pressões do povo que, em muitas ocasiões, rumava em direção ao pa-
ganismo. O seu testemunho final foi de uma profunda coragem e força em perseve-
rar no serviço do Senhor (Js 24.14-15).

2) Davi inspirado por Deus apresenta o modelo de um bom rei como a-


quele que com sabedoria atenta para a Palavra de Deus: “Atentarei sabiamente
(‫( )שׂכל‬śâkal) ao caminho da perfeição....” (Sl 101.2). O nosso caminho nunca poderá
ser mais completo ou perfeito do que o de Deus.

3) Davi quando dá instruções a seu filho Salomão, que o substituiria no


trono, mostra-lhe que o êxito de seu reinado dependeria de sua fidelidade aos ensi-
namentos da Lei de Deus: “Guarda os preceitos do SENHOR, teu Deus, para anda-
res nos seus caminhos, para guardares os seus estatutos, e os seus mandamentos,
e os seus juízos, e os seus testemunhos, como está escrito na Lei de Moisés, para
que prosperes (‫( )שׂכל‬śâkal) em tudo quanto fizeres e por onde quer que fores” (1Rs
2.3).

32
4) Davi ora neste sentido: “Que o SENHOR te conceda prudência (leke&)
e entendimento (‫( )בּינה‬bîynâh), para que, quando regeres sobre Israel, guardes a lei
do SENHOR, teu Deus” (1Cr 22.12). Guardar a Lei é um ato de grande discernimen-
to espiritual.

5) Posteriormente quando Salomão faz aliança com Hirão, rei de Tiro, es-
te reconhece a prudência de Salomão, bendizendo a Deus por isso: “Bendito seja
o SENHOR, Deus de Israel, que fez os céus e a terra; que deu ao rei Davi um fi-

31
Alex D. Montoya, A Liderança: In: John MacArthur, Jr. et al. Redescobrindo o Ministério Pastoral,
Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1998, p. 321.
32
Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&)
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 12/17

33
lho sábio, dotado de discrição (leke&) e entendimento (‫( )בּינה‬bîynâh), que edifique
casa ao SENHOR e para o seu próprio reino” (2Cr 2.12).

D) ASPECTOS GERAIS

1) Quando seguimos a instrução de Deus nos tornamos pacientes e mais


34
dispostos a perdoar: “A discrição (leke&) do homem o torna longânimo, e sua glória é
perdoar as injúrias” (Pv 19.11).

2) A esposa prudente é uma dádiva divina: “A casa e os bens vêm como


herança dos pais; mas do SENHOR, a esposa prudente (‫( )שׂכל‬śâkal)” (Pv 19.14).
Algumas coisas podemos herdar de nossos antepassados, porém o cônjuge sábio é
proveniente de Deus, por isso devemos orar neste sentido e pedir discernimento a
Deus.

3) Precisamos, então, fazer como os líderes de Israel, que se reuniram


diante de Esdras para serem instruídos na Palavra: “.... ajuntaram-se a Esdras, o es-
criba, os cabeças das famílias de todo o povo, os sacerdotes e os levitas, e isto para
atentarem (‫( )שׂכל‬śâkal) nas palavras da Lei” (Ne 8.13).

4) Tiago nos orienta quanto à sabedoria: “Se, porém, algum de vós ne-
cessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes im-
propera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1.5).

5) De passagem podemos observar que a instrução deve ser ministrada


de forma que as pessoas entendam; com sabedoria e simplicidade. Quando Esdras
35
e os levitas leram o livro da Lei diante do povo, registra Neemias: “Leram no livro,
36
na Lei de Deus, claramente, dando explicações (leke&), de maneira que entendes-
37
sem (‫( )בּין‬bîyn) o que se lia” (Ne 8.8).

6) A verdadeira sabedoria está em atentar para a instrução de Deus:


“Compreendo (‫( )שׂכל‬śâkal) mais do que todos os meus mestres, porque medito nos
teus testemunhos” (Sl 119.99).

Notemos, então, que é Deus mesmo quem nos capacita a usar de nossa inteli-

33
Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&)
34
Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&)
35
Não sabemos ao certo a metodologia utilizada: se, por exemplo, cada um dos levitas explicava por-
ções sucessivas das Escrituras a todo o povo ou se todos explicaram concomitantemente a pequenos
grupos.
36
Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&)
37
É muito sugestivo o número de vezes que aparece (‫( )ּבין‬bîyn) no capítulo 8 de Neemias, demons-
trando que aqueles que eram capazes de entender (Ne 8.2,3) de fato entenderam com discernimento
a Palavra lida e explicada: Ne 8.2,3,7,8,9,12.
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 13/17

gência. Esta “inteligência” está associada à conformação de nosso pensar e agir à


Palavra de Deus.

3) DEUS NOS ENSINA

“Instruir-te-ei e te ensinarei (‫( )ירה‬yârâh) o caminho que deves seguir; e, sob


as minhas vistas, te darei conselho” (Sl 32.8).

Figuradamente a palavra traduzida por “ensinar” tem o sentido de mostrar, indicar,


“apontar o dedo”; encaminhar (Gn 46.28); disparar (Sl 11.2; 64.4); apontar (Sl 25.8);
38
atingir (Sl 64.4); desferir (Sl 64.7). No hifil tem o sentido de “ensinar”.

1) Davi diz que Deus em sua bondade aponta o caminho aos pecadores: “Bom e
reto é o SENHOR, por isso, aponta (‫( )ירה‬yârâh) o caminho aos pecadores” (Sl
25.8). Acrescenta: “Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá (‫( )ירה‬yârâh) no
caminho que deve escolher” (Sl 25.12). Diante de tantas e novas opções que se
mostram, na realidade, a única viável para aqueles que querem agradar ao Senhor,
é seguir as Suas instruções.

2) O salmista pede a Deus que ensine o seu caminho: “Ensina-me (‫( )ירה‬yârâh),
SENHOR, o teu caminho e guia-me por vereda plana, por causa dos que me esprei-
tam” (Sl 27.11).

3) E assume um compromisso diante de Deus: “Ensina-me (‫( )ירה‬yârâh), SE-


NHOR, o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração (‫( )לבב‬lêbâb)
para só temer o teu nome” (Sl 86.11). “Ensina-me (‫( )ירה‬yârâh), SENHOR, o caminho
dos teus decretos, e os seguirei até ao fim” (Sl 119.33). “Não me aparto dos teus juí-
zos, pois tu me ensinas (‫( )ירה‬yârâh)” (Sl 119.102). Deus deseja que conheçamos o
Seu caminho não simplesmente para exercitar a nossa curiosidade ou diletantismo
intelectual, antes, para que haja um compromisso de vida. A nossa oração por dis-
cernimento, da mesma forma, deve vir acompanhada por este senso de dependên-
cia e compromisso.

4) Os ídolos nada podem ensinar e a sua própria existência conduz-nos ao enga-


no: “18 Que aproveita o ídolo, visto que o seu artífice o esculpiu? E a imagem de fun-
dição, mestra (‫()ירה‬yârâh) de mentiras, para que o artífice confie na obra, fazendo
ídolos mudos? 19 Ai daquele que diz à madeira: Acorda! E à pedra muda: Desperta!
Pode o ídolo ensinar (‫()ירה‬yârâh)? Eis que está coberto de ouro e de prata, mas, no
39
seu interior, não há fôlego (‫()רוּח‬rûach) nenhum” (Hc 2.18-19). A idolatria é pródiga

38
Devemos ter em vista que o hifil é causativo; ou seja: o sujeito pratica ou leva o sujeito a causar a
ação.
39
O Antigo Testamento emprega a palavra (ahUr) (ruah), para “espírito”, sendo traduzida por “vento”,
“espírito”, “alento”, “hálito”, “sopro”, etc. Quando ahUr é empregado para Deus, denota o Seu poder in-
corruptível e preservador [F. Baumgärtel, Pneu=ma: In: G. Friedrich; G. Kittel, eds. Theological Diction-
ary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982, Vol. VI, p. 364]. Portanto, a i-
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 14/17

na condução de uma estrutura de pensamento pecaminosa e viciada. Ignoramos a


Deus e, por isso mesmo, não sabemos bem quem somos; daí uma compreensão er-
rada da realidade e uma postura equivocada.

4) DEUS NOS ACONSELHA

“Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas


40
vistas, te darei conselho (‫( )יעץ‬yâ‛ats)” (Sl 32.8).

Deus nos acompanha sempre, nos mantendo sob seus olhos, nos aconselhando.

A questão nossa é: Em quem buscamos os nossos conselhos? A escolha de nos-


so conselheiro revela, muitas vezes, o tipo de conselho que queremos ter. Podemos
não querer buscar conselho com os nossos pais porque cremos saber o que eles
nos dirão e, pensamos que o que vamos ouvir é justamente o que não queremos fa-
zer. Podemos, do mesmo modo, não buscar orientação nas Escrituras porque pen-
samos saber o que elas nos dirão e, sinceramente, não estamos interessados no
que nos será proposto...

As Escrituras nos mostram alguns homens e nações que souberam se valer de


bons conselhos e outros não:

a) Moisés soube atentar para o conselho de seu sogro Jetro quanto à divisão do
trabalho no sentido de administrar e governar o povo. O seu sogro lhe diz:
“Ouve, pois, as minhas palavras; eu te aconselharei (‫( )יעץ‬yâ‛ats), e Deus seja
contigo; representa o povo perante Deus, leva as suas causas a Deus” (Ex
18.19);

b) Absalão num primeiro momento foi sábio se aproximando de Aitofel, conse-


41
lheiro de Davi (2Sm 15.12/31; 16.23);

c) Posteriormente, Absalão erradamente não ouviu o conselho de Aitofel, e sim o


de Husai, que na realidade era amigo de Davi, desfazendo assim um plano
42
que possivelmente seria arrasador contra Davi (2Sm 17.7,11,15, 21);

deia de vento aponta para o poder soberano de Deus que se movimenta livremente, figuradamente,
como uma tempestade, um tufão incontrolável, daí a impossibilidade de prender, domesticar ou domi-
nar o Espírito de Deus. O Antigo Testamento mostra o Espírito como onisciente (Is 40.13), onipresen-
te (Sl 139.7) e onipotente (Is 34.16), evidenciando assim, a impotência e inércia dos ídolos, visto que
estes não têm espírito, não têm vida (Hc 2.19/Jr 10.14). (Para um estudo mais detalhado, ver: Her-
misten M.P. Costa, A Pessoa e Obra do Espírito Santo, São Paulo, 2008).
40
A palavra pode ter também o sentido de determinação, desígnio de Deus o qual não pode ser frus-
trado (Is 14.24-27; 19.17; 23.8,9).
41 12
“ Também Absalão mandou vir Aitofel, o gilonita, do conselho de Davi, da sua cidade de Gilo; en-
quanto ele oferecia os seus sacrifícios, tornou-se poderosa a conspirata, e crescia em número o povo
31
que tomava o partido de Absalão.(...) Então, fizeram saber a Davi, dizendo: Aitofel está entre os
que conspiram com Absalão. Pelo que disse Davi: Ó SENHOR, peço-te que transtornes em loucura o
conselho de Aitofel” (2Sm 15.12,31). “O conselho que Aitofel dava, naqueles dias, era como resposta
de Deus a uma consulta; tal era o conselho de Aitofel, tanto para Davi como para Absalão” (2Sm
16.23).
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 15/17

d) Quando Adonias planeja herdar de Davi o trono, tomando o lugar do sucessor


legítimo – Salomão –, o profeta Natã aconselha a Bate-Seba. Este seu conse-
43
lho garantiu o trono a Salomão (1Rs 1.12);
44
e) Roboão preferiu seguir o conselho dos jovens do que dos anciãos, gerando
a divisão do Reino de Israel (1Rs 12.6,8,9,13; 2Cr 10.6,8,9);

f) Jeroboão, que com a divisão das tribos, reinou sobre o Reino do Norte, para
que o povo não fosse mais a Jerusalém, se aconselhou e resolveu criar dois
bezerros de ouro para que o povo os adorasse em Betel e em Dã (1Rs 12.28-
45
29);

g) Quando Davi pensa em trazer para Jerusalém a arca da aliança, aconselha-se


46
antes com seus capitães, príncipes e com o povo em geral (1Cr 13.1-4);

h) O rei Acazias teve um curto (1 ano) e péssimo reinado porque seguiu as orien-
tações de sua mãe, Atalia, “quem o aconselhava (‫( )יעץ‬yâ‛ats) a proceder ini-
quamente” e também seguiu as instruções dos conselheiros da casa de Acabe
(2Cr 22.3-4);

i) Salomão, o homem mais sábio de todos, instrui-nos quanto à importância de


sabermos nos valer dos bons conselhos e conselheiros: “Não havendo sábia
direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros (‫( )יעץ‬yâ‛ats) há segu-
rança” (Pv 11.14). A sabedoria consiste em saber nos valer dos bons conse-
lhos: “Da soberba só resulta a contenda, mas com os que se aconselham (‫)יעץ‬

“ Então, disse Husai a Absalão: O conselho (‫( )יעץ‬yâ‛ats) que deu Aitofel desta vez não é bom.
42 7

(...) Eu, porém, aconselho (‫( )יעץ‬yâ‛ats) que a toda pressa se reúna a ti todo o Israel, desde Dã até
11
15
Berseba, em multidão como a areia do mar; e que tu em pessoa vás no meio deles. (...) Disse Hu-
sai a Zadoque e a Abiatar, sacerdotes: Assim e assim aconselhou (‫( )יעץ‬yâ‛ats) Aitofel a Absalão e
aos anciãos de Israel; porém assim e assim aconselhei (‫( )יעץ‬yâ‛ats) eu. (...) Mal se retiraram, saí-
21

ram logo os dois do poço, e foram dar aviso a Davi, e lhe disseram: Levantai-vos e passai depressa
as águas, porque assim e assim aconselhou (‫( )יעץ‬yâ‛ats) Aitofel contra vós outros” (2Sm 17.7,11,15,
21).
43
“Vem, pois, e permite que eu te dê um conselho, para que salves a tua vida e a de Salomão, teu fi-
lho” (1Rs 1.12).
44
Na realidade nem Roboão nem seus amigos eram tão jovens. Estavam na faixa dos 40 anos (1Rs
14.21; 2Cr 12.13).
45 28
“ Pelo que o rei, tendo tomado conselhos, fez dois bezerros de ouro; e disse ao povo: Basta de
29
subirdes a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito! Pôs um
30
em Betel e o outro, em Dã. E isso se tornou em pecado, pois que o povo ia até Dã, cada um para
adorar o bezerro” (1Rs 12.28-30).
46 2
“Consultou Davi os capitães de mil, e os de cem, e todos os príncipes; e disse a toda a congrega-
ção de Israel: Se bem vos parece, e se vem isso do SENHOR, nosso Deus, enviemos depressa men-
sageiros a todos os nossos outros irmãos em todas as terras de Israel, e aos sacerdotes, e aos levi-
3
tas com eles nas cidades e nos seus arredores, para que se reúnam conosco; tornemos a trazer pa-
4
ra nós a arca do nosso Deus; porque nos dias de Saul não nos valemos dela. Então, toda a congre-
gação concordou em que assim se fizesse; porque isso pareceu justo aos olhos de todo o povo” (1Cr
13.1-4).
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 16/17

(yâ‛ats) se acha a sabedoria” (Pv 13.10). “Onde não há conselho fracassam os


projetos, mas com os muitos conselheiros (‫( )יעץ‬yâ‛ats) há bom êxito” (Pv
15.22). (Ver também: Pv 24.6);

j) Mesmo os ímpios maquinando intrigas contra os necessitados a pureza do


conselho nobre perseverará: “Também as armas do fraudulento são más; ele
maquina intrigas (‫( )יעץ‬yâ‛ats) para arruinar os desvalidos, com palavras fal-
sas, ainda quando a causa do pobre é justa. Mas o nobre projeta (‫( )יעץ‬yâ‛ats)
coisas nobres e na sua nobreza perseverará” (Is 32.7-8);

k) Salomão também nos fala da alegria do coração daqueles que aconselham à


paz: “Há fraude no coração (‫( )לב‬lêb) dos que maquinam mal, mas alegria têm
os que aconselham (‫( )יעץ‬yâ‛ats) a paz” (Pv 12.20);

l) O nosso maravilhoso conselheiro é o próprio Senhor que nos fala por meio de
Sua Palavra. A profecia a respeito de Jesus Cristo nos diz: “Porque um meni-
no nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o
seu nome será: Maravilhoso Conselheiro (‫( )יעץ‬yâ‛ats), Deus Forte, Pai da E-
ternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6);

m) A fonte do conhecimento e da sabedoria está em Deus, Quem não precisa de


conselho: “Com quem tomou ele conselho (‫( )יעץ‬yâ‛ats), para que lhe desse
compreensão? Quem o instruiu (‫()למד‬lâmad) na vereda do juízo, e lhe ensi-
nou (‫( )למד‬lâmad) sabedoria (‫( )דּעת‬da‛ath), e lhe mostrou o caminho de enten-
dimento?” (Is 40.14);

n) Jó declara a sabedoria de Deus nos seus conselhos: “Como sabes aconselhar


(‫( )יעץ‬yâ‛ats) ao que não tem sabedoria e revelar plenitude de verdadeiro co-
nhecimento!” (Jó 26.3).

o) Davi canta o cuidado e a instrução do Senhor: “Bendigo o SENHOR, que me


aconselha (‫( )יעץ‬yâ‛ats); pois até durante a noite o meu coração me ensina” (Sl
16.7).

O objetivo de toda a instrução de Deus é para que Lhe sejamos obedientes. A


obediência, contudo, deve ser vista não como algo que seja essencialmente bom pa-
ra Deus, como se Ele precisasse dela, antes, é para o nosso bem.

“Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e
cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem (‫()קרב‬qârab)” (Sl 32.9). A
ideia aqui de obedecer é a de estar próximo; ter uma relação de proximidade e inti-
47
midade. Deus deseja que o obedeçamos com inteligência, tendo a percepção cor-
reta de que os Seus mandamentos se constituem no melhor que há para a nossa vi-
da. Como vimos, “a fé, quando é conduzida à obediência a Deus, mantém

47
Ver: Leonard J. Coppes, qãrab: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia
do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1367.
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 17/17

48
nossas mentes fixas em sua palavra”.

Calvino após a exposição de Dn 3.30, ora:

“Deus Todo-Poderoso, já que Te fizeste conhecido a nós no ensinamento


de Tua Lei e Evangelho, e também diariamente condescendes em revelar-
nos, de maneira familiar; tua vontade, permite que permaneçamos firmes
na verdadeira obediência àquele ensino no qual a perfeita retidão se nos
manifesta, e que nunca sejamos demovidos de Teu serviço; e, seja o que
for que nos aconteça, que estejamos preparados a sofrer mil mortes em
vez de nos desviarmos da verdadeira profissão da piedade na qual sai-
bamos descansar nossa salvação; e que possamos de tal forma glorificar
Teu nome que nos tornemos participantes daquela glória que nos foi con-
49
quistada pelo sangue de Teu Unigênito Filho. Amém”.

São Paulo, 25 de fevereiro de 2014.


Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

48
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Edições Parakletos, 1999, Vol. 2, (Sl 38.10), p. 184.
49
João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, Vol. 1, (Dn 3.30), p. 232.

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