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“Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento (( )בּיןbîyn), os quais
com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9).
Uma das coisas maravilhosas que Deus concedeu ao ser humano de forma bas-
tante especial, é a capacidade de autoconsciência, perceber a realidade, permitindo
2
assim, interpretar e organizar as sensações. Sem esta capacidade teríamos apenas
noção da cor verde ou amarela, perfume suave ou intenso, som fraco ou forte, con-
tudo não teríamos as condições de identificar determinado objeto, como por exem-
plo: cor de uma laranja, perfume de uma rosa, som de um violino, etc. Enquanto que
os órgãos sensoriais (paladar, olfato, tato, audição e visão) nos fornecem qualidades
de sensação, a nossa percepção organiza sínteses mentais.
1
Texto disponibilizado pela Secretaria de Educação Religiosa do Presbitério de São Bernardo do
Campo, SP.
2
“A percepção permite que um organismo receba informação do ambiente e converta a
informação sensorial recebida em experiência organizada. (...) Tradicionalmente, a palavra
(...) percepção refere-se mais estritamente à maneira pela qual o indivíduo organiza e inter-
preta a informação sensorial recebida” (Samuel Pfromm Netto, Psicologia: introdução e guia de
estudo, São Paulo/Brasília: EDUSP/CNPQ., 1985, 10-4). Para uma discussão mais detalhada sobre o
emprego da palavra, ver: Percepção: In: Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia, 2. ed. São Paulo:
Mestre Jou, 1982, p. 722-726.
3
As palavras gregas correspondentes são: o(/roj = “termo”, “limite” e o(rismo/j = “delimitação”, “acor-
do”, “tratado”.
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Do ponto de vista lógico, a ideia é igual a sua definição. A definição lógica consiste de fato em deli-
mitar exatamente a compreensão de um objeto, ou, em outros termos, em dizer o que uma coisa é.
Daí o princípio: “A definição é a noção desenvolvida e (...) a noção é a definição condensa-
da” (L. Liard, Lógica, 9. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979, p. 25).
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série de omissões e equívocos, justamente por não termos claro diante de nós o
objeto do qual estamos tratando ou, em que sentido nos aproximamos de cada idei-
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a.
Algo natural ao ser humano é o desejo de entender para poder discernir a reali-
dade, interpretando o mundo à sua volta e as situações às quais todos estamos su-
jeitos.
As Escrituras nos falam sobre isso. Há até o lugar para preceitos que envolva o
discernimento em nossa etiqueta: “Quando te assentares a comer com um governa-
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dor, atenta bem (( )בּיןbîyn) para aquele que está diante de ti” (Pv 23.1). Ou seja: dê
atenção ao governador que está diante de ti, não simplesmente à comida servida.
Ele também afirma que sabedoria consiste em discernir o nosso caminho: “A sa-
bedoria do prudente é entender (( )בּיןbîyn) o seu próprio caminho, mas a estultícia
dos insensatos é enganadora” (Pv 14.8). Aplicando este princípio ao campo espiritu-
al podemos ilustrar com Jó, que não conseguindo discernir o seu suposto pecado,
pede a Deus que o faça compreender o seu erro: “Ensinai-me, e eu me calarei; dai-
me a entender (( )בּיןbîyn) em que tenho errado” (Jó 6.24). Continua: “Há iniquidade
na minha língua? Não pode o meu paladar discernir (( )בּיןbîyn) coisas perniciosas?”
(Jó 6.30).
No Salmo 32.9 Deus usa figuras fortes para falar da obtusidade daqueles que não
9 10
atentam para a Sua instrução: “Não sejais como o cavalo ou a mula (dr,P,) (pered),
5
Em uma entrevista concedida em 1991, Thomas Kuhn queixando-se do uso excessivo e inadequa-
do da expressão “paradigma”, que marca o seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas, admite
que no livro não definira “paradigma” tão rigorosamente como deveria” (John Horgan, O Fim da Ciên-
cia: uma discussão sobre os limites do conhecimento Científico, 3. reimpressão, São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 2006, p. 64).
6
Condillac (1715-1780) assim expressou esta questão: "A necessidade de definir é apenas a ne-
cessidade de ver as coisas sobre as quais se quer raciocinar e, se fosse possível ver sem defi-
nir, as definições se tornariam inúteis" (E.B. de Condillac, Lógica ou Os Primeiros Desenvolvimen-
tos da Arte de Pensar, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. 27), 1973, p. 121).
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A Contemporary English Versions traduz por “aja da melhor maneira”. English Standard Version:
“observe criteriosamente”; Geneva Bible (1587) e King James Version: “considere diligentemente”.
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“De que serviria o dinheiro na mão do insensato para comprar a sabedoria, visto que não tem en-
tendimento?” (Pv 17.16).
9
As Escrituras chamam atenção apenas para a força do cavalo, não para a sua suposta inteligência
(Sl 33.17; 147.10).
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A mula ou o mulo é gerado do cruzamento do cavalo com a jumenta ou do jumento com a égua;
entretanto, ele é estéril, não podendo reproduzir-se. “As mulas são valiosas pelo fato que combi-
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sem entendimento (( )בּיןbîyn), os quais com freios e cabrestos são dominados; de
outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9).
Por meio de outra analogia, Deus recorre à figura de outros animais para falar da
ignorância culposa do povo. Referindo-se a Israel diz: “O boi conhece o seu possui-
dor, e o jumento (( )חמורchămôr), o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem co-
nhecimento, o meu povo não entende (( )בּיןbîyn)” (Is 1.3). Ele toma dois animais difí-
ceis de trato: o boi e o jumento. Mostra que a obtusidade, a teimosia e a dificuldade
de condução destes animais dão-se pela sua própria natureza; no entanto, assim
mesmo, eles sabem reconhecer os seus donos, aqueles que lhes alimentam. O ho-
mem, por sua vez, como coroa da criação, cedendo ao pecado perdeu totalmente o
seu discernimento espiritual; já não reconhecemos nem mesmo o nosso Criador; an-
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tes lhe voltamos as costas e prosseguimos em outra direção.
nam a força do cavalo com a resistência e o passo firme do jumento, além de ter o vigor ex-
tra característico dos híbridos” (G.S. Cansdale, Mula: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário
da Bíblia, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, Vol. II, p.1075).
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Jones explora com vivacidade a analogia do texto. Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, O Caminho de Deus,
não o nosso, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2003, p. 43-46.
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“Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são do-
minados; de outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9).
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O substantivo é (( )ּבינהbîynâh).
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( ּביןbîyn) permite diversas traduções (ARA):
Acudir (Sl 5.1) (No sentido de considerar); Ajuizado (Gn 41.33,39); Atentar (Dt 32.7,29; Sl 28.5);
Atinar (Sl 73.17; 119.27); Considerar (Jó 18.2; 23,15; 37.14); Contemplar (Sl 33.15); Cuidar (Dt
32.10); Discernir (1Rs 3.9,11; Jó 6.30; 38.20; Sl 19.12); Douto (Dn 1.4); Ensinar (Ne 8.7,9); Enten-
der/entendido/entendimento (Dt 1.13;4.6; 1Sm 3.8; 2Sm 12.19; 1Rs 3.12;1Cr 15.22; 27.32; 2Cr 26.5;
Ed 8.16; Ne 8.2,3,8,12; 10.28; Jó 6.24;13.1; 15.9; 23.5; 26.14; 28.23; 32.8,9; 42.3); Fixar no sentido
de pensar detidamente (Jó 31.1); Inteligência (Dn 1.17); Mestre (no sentido de expert) (1Cr 25.7,8);
Penetrar (com o sentido de discernir) (1Cr 28.9; Sl 139.2); Perceber (Jó 9.11;14.21; 23.8); Perito (Is
3.3); Procurar (Sl 37.10); Prudentemente (2Cr 11.23); Reparar (1Rs 3.21); Revistar (procurar atenta-
mente) (Ed 8.15); Saber/Sabedoria (Ne 13.7; Pv 14.33); “Sisudo” em palavras (1Sm 16.18); Superin-
tender (por ter maior conhecimento) (2Cr 34.12).
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Louis Goldberg, Bîn: In: Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo
Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 172.
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Testamento:
A) NEGATIVAMENTE
3) Deus por meio de Jeremias fala de seus filhos que já não O conhecem,
tendo inteligência para fazer o mal, não o bem: “Deveras, o meu povo está louco, já
não me conhece; são filhos néscios e não inteligentes (( )בּיןbîyn); são sábios para o
mal e não sabem fazer o bem” (Jr 4.22). A ignorância de quem era Deus conduziu o
povo à sofisticação na maldade. Diferentemente do que o Apóstolo Paulo recomen-
da no Novo Testamento: “.... quero que sejais sábios para o bem e símplices para o
mal” (Rm 16.19).
B) POSITIVAMENTE
“9 Dá, pois, ao teu servo coração (( )לבlêb) compreensivo para julgar a teu povo, para que pruden-
temente discirna (( )בּיןbîyn) entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo?
10 Estas palavras agradaram ao Senhor, por haver Salomão pedido tal coisa.
11 Disse-lhe Deus: Já que pediste esta coisa e não pediste longevidade, nem riquezas, nem a mor-
te de teus inimigos; mas pediste entendimento (( )בּיןbîyn), para discernires o que é justo;
12 eis que faço segundo as tuas palavras: dou-te coração (( )לבlêb) sábio e inteligente (( )בּיןbîyn),
de maneira que antes de ti não houve teu igual, nem depois de ti o haverá” (1Rs 3.9-12).
Na realidade Salomão estava sendo coerente com a orientação de seu pai, Davi,
que nos seus conselhos finais, disse: “Que o SENHOR te conceda prudência e en-
tendimento (( )בּינהbîynâh), para que, quando regeres sobre Israel, guardes a lei do
SENHOR, teu Deus” (1Cr 22.12).
Mais tarde, o próprio Hirão, rei de Tiro, reconheceu por escrito esta capacidade
em Salomão: “.... Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, que fez os céus e a terra;
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que deu ao rei Davi um filho sábio, dotado de discrição e entendimento, que edifique
casa ao SENHOR e para o seu próprio reino” (2Cr 2.12).
De fato, as Escrituras nos mostram que Deus dirige o nosso caminho sem que o
entendamos perfeitamente: “Os passos do homem são dirigidos pelo SENHOR; co-
mo, pois, poderá o homem entender (( )בּיןbîyn) o seu caminho?” (Pv 20.24).
“Dá-me entendimento (( )בּיןbîyn), e guardarei a tua lei; de todo o coração ()לב
(lêb) a cumprirei” (Sl 119.34).
“As tuas mãos me fizeram e me afeiçoaram; ensina-me (( )בּיןbîyn) para que a-
prenda os teus mandamentos” (Sl 119.73). (Do mesmo modo: Sl 119.125,169).
“Faze-me atinar (( )בּיןbîyn) com o caminho dos teus preceitos, e meditarei nas
tuas maravilhas” (Sl 119.27).
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“O simples (ytiP.) (pethiy) dá crédito a toda palavra, mas o prudente atenta (yBi) (biyn) para os seus
passos” (Pv 14.15).
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deiramente um tolo”.
Este discernimento, contudo, não é apenas para uma satisfação intelectual, antes
tem um efeito prático; ele é, de certa forma, profilático: “Por meio dos teus preceitos,
consigo entendimento (( )בּיןbîyn); por isso, detesto todo caminho de falsidade” (Sl
119.104).
17
John MacArthur, Adotando a Autoridade e a Suficiência das Escrituras. In: John MacArthur, ed.
ger., Pense Biblicamente!: recuperando a visão cristã do mundo, São Paulo: Hagnos, 2005, p. 39.
18
Nas Escrituras, seguir a instrução de Deus é o mesmo que andar na luz: “Irão muitas nações e di-
rão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os
seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR,
de Jerusalém (...) Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz ('( )אורôr) do SENHOR” (Is 2.3,5). “Aten-
dei-me, povo meu, e escutai-me, nação minha; porque de mim sairá a lei, e estabelecerei o meu direi-
to como luz ('( )אורôr) dos povos” (Is 51.4). [Para um estudo mais pormenorizado do emprego da pa-
lavra no Antigo Testamento, ver: Herbert Wolf, ‘ôr: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Interna-
cional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 38-42; William Gesenius,
Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament, 3. ed. Michigan: WM. Eerdmans Publishing Co. 1978,
p. 23].
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e num ermo solitário povoado de uivos; rodeou-o (( )סבבsâbab) e cuidou ()בּין
(bîyn) dele, guardou-o (( )נצרnâtsar) como a menina dos olhos” (Dt 32.10).
19
Lembremo-nos de que esta é a mesma palavra que ocorre no Salmo 32.7,10 que é traduzida por
“assistir”.
20
Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 19.
21
Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 13. "O
cristianismo é a religião que oferece o maior privilégio e que, com ele, exige a maior obriga-
ção. No cristianismo, o esforço intelectual e a experiência emocional não são descuidados -
longe disto - porém devem combinar-se para frutificar na ação moral" [William Barclay, El Nu-
evo Testamento Comentado, (I,II,III Juan y Judas), Buenos Aires: La Aurora, 1974, Vol. 15, p. 53].
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Portanto, devemos nos esforçar por obter este entendimento: “O princípio da sa-
bedoria é: Adquire a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimen-
to (( )בּינהbîynâh)” (Pv 4.7).
c) Confiar em Deus:
***
Vimos que o objetivo de Deus para nós é que diferentemente do cavalo e da mu-
la, tenhamos entendimento, discernimento em nosso pensar e agir. No Salmo 32.8
Davi emprega três palavras para falar de como Deus nos ensina. Ou seja, Deus nos
instrui para que tenhamos o discernimento ao qual ele vai se referir no verso 9:
23
A palavra é traduzida por entendimento (Gn 3.6; Sl 14.2; 53.2; 2Cr 30.22 ); “inte-
ligência” (Jr 3.15); “atentar” (Sl 106.7); “prudência” (1Sm 18.5; Sl 2.10; 94.8; 111.10;
Is 52.13); “êxito” (1Sm 18.14,15,30; 2Rs 18.7); “discernimento” (Sl 36.3); acudir (Sl
41.1). A palavra se refere “à ação de, com a inteligência, tomar conhecimen-
to das causas. (...) Designa o processo de pensar como uma disposição
complexa de pensamentos que resultam numa abordagem sábia e bastan-
te prática do bom senso. Outra consequência é a ênfase no ser bem-
22
Ver: William Gesenius, Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament, 3. ed. Michigan: WM.
Eerdmans Publishing Co. 1978, 789-790; Louis Goldberg, Sakal: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicio-
nário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1478-1480;
Robert B. Girdlestone, Synonyms of the Old Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (1897),
Reprinted, 1981, p. 74, 224-225.
23
Neste texto aparece tanto o verbo (( )ׂשכלśâkal) como o substantivo sekel (leke&), evidenciando o
profundo conhecimento que os levitas tinham do serviço do Senhor: “Ezequias falou ao coração de
todos os levitas que revelavam (leke&) (sekel) bom entendimento (( )ׂשכלśâkal) no serviço do SENHOR;
e comeram, por sete dias, as ofertas da festa, trouxeram ofertas pacíficas e renderam graças ao SE-
NHOR, Deus de seus pais” (2Cr 30.22).
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24
sucedido”.
O entendimento proposto por Deus nunca pode começar por um ato de falta de
entendimento que se concretize em desobediência a Sua Palavra. O entendimento
deve começar pela obediência aos Seus preceitos e, ele amadurece no processo de
aprendizado da obediência. Em outras palavras, aprendo a obedecer obedecendo.
Temos o exemplo perfeito em Cristo que, “embora sendo Filho, aprendeu a obediên-
25
cia pelas coisas que sofreu” (Hb 5.8). Portanto, adquiro maior conhecimento de
Deus e de Sua Palavra quando, ainda que não as entenda perfeitamente em toda a
Sua extensão e intensidade, sigo as Suas instruções e me mantenho atento à Sua
Palavra me desviando de caminhos que são opostos ao que Deus claramente nos
dá a conhecer. Calvino conclui corretamente que, “a fé, quando é conduzida à
26
obediência a Deus, mantém nossas mentes fixas em sua palavra”.
Aqui temos também outra lição preciosa para nós que muitas vezes tendemos a
trocar a instrução de Deus por outra, estranha à Sua Palavra. Esta é uma tendência
normal do homem pecador: substituir o Criador pela criatura (Rm 1.25).
3) Deus mesmo diz que daria líderes ao reino de Judá que os conduziria
com inteligência: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem
com conhecimento e com inteligência (( )שׂכלśâkal)” (Jr 3.15).
24
Louis Goldberg, Sakal: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Anti-
go Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p 1478.
25
“Se desejamos que a obediência de Cristo nos seja proveitosa, então devemos imita-la”
(João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 5.9), p. 138).
26
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Edições Parakletos, 1999, Vol. 2, (Sl 38.10), p. 184.
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“Visto que os olhos são, por assim dizer, os guias e condutores do ho-
mem nesta vida, e por sua influência os demais sentidos se movem de um
lado para o outro, portanto dizer que os homens têm o temor de Deus di-
ante de seus olhos significa que ele regula suas vidas e, exibindo-se-lhes de
todos os lados para onde se volvam, serve de freio a restringir seus apetites
29
e paixões”.
“Quem quer que deseje crescer na fé deve também ser diligente em
30
progredir no temor do Senhor”.
27
O sentido de prosperar aparece também de forma positiva em Jr 23.5 (ARA: “agirá sabiamente”).
King James: “prosper”. No entanto, a tradução de ARA parece ser a mais correta (Ver: Robert B. Gir-
dlestone, Synonyms of the Old Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (1897), Reprinted,
1981, p. 224).
28
Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 135.
29
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 36.1), p. 122-123.
30
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 25.14), p. 557.
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4) Davi ora neste sentido: “Que o SENHOR te conceda prudência (leke&)
e entendimento (( )בּינהbîynâh), para que, quando regeres sobre Israel, guardes a lei
do SENHOR, teu Deus” (1Cr 22.12). Guardar a Lei é um ato de grande discernimen-
to espiritual.
5) Posteriormente quando Salomão faz aliança com Hirão, rei de Tiro, es-
te reconhece a prudência de Salomão, bendizendo a Deus por isso: “Bendito seja
o SENHOR, Deus de Israel, que fez os céus e a terra; que deu ao rei Davi um fi-
31
Alex D. Montoya, A Liderança: In: John MacArthur, Jr. et al. Redescobrindo o Ministério Pastoral,
Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1998, p. 321.
32
Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&)
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lho sábio, dotado de discrição (leke&) e entendimento (( )בּינהbîynâh), que edifique
casa ao SENHOR e para o seu próprio reino” (2Cr 2.12).
D) ASPECTOS GERAIS
4) Tiago nos orienta quanto à sabedoria: “Se, porém, algum de vós ne-
cessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes im-
propera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1.5).
Notemos, então, que é Deus mesmo quem nos capacita a usar de nossa inteli-
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Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&)
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Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&)
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Não sabemos ao certo a metodologia utilizada: se, por exemplo, cada um dos levitas explicava por-
ções sucessivas das Escrituras a todo o povo ou se todos explicaram concomitantemente a pequenos
grupos.
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Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&)
37
É muito sugestivo o número de vezes que aparece (( )ּביןbîyn) no capítulo 8 de Neemias, demons-
trando que aqueles que eram capazes de entender (Ne 8.2,3) de fato entenderam com discernimento
a Palavra lida e explicada: Ne 8.2,3,7,8,9,12.
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1) Davi diz que Deus em sua bondade aponta o caminho aos pecadores: “Bom e
reto é o SENHOR, por isso, aponta (( )ירהyârâh) o caminho aos pecadores” (Sl
25.8). Acrescenta: “Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá (( )ירהyârâh) no
caminho que deve escolher” (Sl 25.12). Diante de tantas e novas opções que se
mostram, na realidade, a única viável para aqueles que querem agradar ao Senhor,
é seguir as Suas instruções.
2) O salmista pede a Deus que ensine o seu caminho: “Ensina-me (( )ירהyârâh),
SENHOR, o teu caminho e guia-me por vereda plana, por causa dos que me esprei-
tam” (Sl 27.11).
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Devemos ter em vista que o hifil é causativo; ou seja: o sujeito pratica ou leva o sujeito a causar a
ação.
39
O Antigo Testamento emprega a palavra (ahUr) (ruah), para “espírito”, sendo traduzida por “vento”,
“espírito”, “alento”, “hálito”, “sopro”, etc. Quando ahUr é empregado para Deus, denota o Seu poder in-
corruptível e preservador [F. Baumgärtel, Pneu=ma: In: G. Friedrich; G. Kittel, eds. Theological Diction-
ary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982, Vol. VI, p. 364]. Portanto, a i-
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Deus nos acompanha sempre, nos mantendo sob seus olhos, nos aconselhando.
a) Moisés soube atentar para o conselho de seu sogro Jetro quanto à divisão do
trabalho no sentido de administrar e governar o povo. O seu sogro lhe diz:
“Ouve, pois, as minhas palavras; eu te aconselharei (( )יעץyâ‛ats), e Deus seja
contigo; representa o povo perante Deus, leva as suas causas a Deus” (Ex
18.19);
deia de vento aponta para o poder soberano de Deus que se movimenta livremente, figuradamente,
como uma tempestade, um tufão incontrolável, daí a impossibilidade de prender, domesticar ou domi-
nar o Espírito de Deus. O Antigo Testamento mostra o Espírito como onisciente (Is 40.13), onipresen-
te (Sl 139.7) e onipotente (Is 34.16), evidenciando assim, a impotência e inércia dos ídolos, visto que
estes não têm espírito, não têm vida (Hc 2.19/Jr 10.14). (Para um estudo mais detalhado, ver: Her-
misten M.P. Costa, A Pessoa e Obra do Espírito Santo, São Paulo, 2008).
40
A palavra pode ter também o sentido de determinação, desígnio de Deus o qual não pode ser frus-
trado (Is 14.24-27; 19.17; 23.8,9).
41 12
“ Também Absalão mandou vir Aitofel, o gilonita, do conselho de Davi, da sua cidade de Gilo; en-
quanto ele oferecia os seus sacrifícios, tornou-se poderosa a conspirata, e crescia em número o povo
31
que tomava o partido de Absalão.(...) Então, fizeram saber a Davi, dizendo: Aitofel está entre os
que conspiram com Absalão. Pelo que disse Davi: Ó SENHOR, peço-te que transtornes em loucura o
conselho de Aitofel” (2Sm 15.12,31). “O conselho que Aitofel dava, naqueles dias, era como resposta
de Deus a uma consulta; tal era o conselho de Aitofel, tanto para Davi como para Absalão” (2Sm
16.23).
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f) Jeroboão, que com a divisão das tribos, reinou sobre o Reino do Norte, para
que o povo não fosse mais a Jerusalém, se aconselhou e resolveu criar dois
bezerros de ouro para que o povo os adorasse em Betel e em Dã (1Rs 12.28-
45
29);
h) O rei Acazias teve um curto (1 ano) e péssimo reinado porque seguiu as orien-
tações de sua mãe, Atalia, “quem o aconselhava (( )יעץyâ‛ats) a proceder ini-
quamente” e também seguiu as instruções dos conselheiros da casa de Acabe
(2Cr 22.3-4);
“ Então, disse Husai a Absalão: O conselho (( )יעץyâ‛ats) que deu Aitofel desta vez não é bom.
42 7
(...) Eu, porém, aconselho (( )יעץyâ‛ats) que a toda pressa se reúna a ti todo o Israel, desde Dã até
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15
Berseba, em multidão como a areia do mar; e que tu em pessoa vás no meio deles. (...) Disse Hu-
sai a Zadoque e a Abiatar, sacerdotes: Assim e assim aconselhou (( )יעץyâ‛ats) Aitofel a Absalão e
aos anciãos de Israel; porém assim e assim aconselhei (( )יעץyâ‛ats) eu. (...) Mal se retiraram, saí-
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ram logo os dois do poço, e foram dar aviso a Davi, e lhe disseram: Levantai-vos e passai depressa
as águas, porque assim e assim aconselhou (( )יעץyâ‛ats) Aitofel contra vós outros” (2Sm 17.7,11,15,
21).
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“Vem, pois, e permite que eu te dê um conselho, para que salves a tua vida e a de Salomão, teu fi-
lho” (1Rs 1.12).
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Na realidade nem Roboão nem seus amigos eram tão jovens. Estavam na faixa dos 40 anos (1Rs
14.21; 2Cr 12.13).
45 28
“ Pelo que o rei, tendo tomado conselhos, fez dois bezerros de ouro; e disse ao povo: Basta de
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subirdes a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito! Pôs um
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em Betel e o outro, em Dã. E isso se tornou em pecado, pois que o povo ia até Dã, cada um para
adorar o bezerro” (1Rs 12.28-30).
46 2
“Consultou Davi os capitães de mil, e os de cem, e todos os príncipes; e disse a toda a congrega-
ção de Israel: Se bem vos parece, e se vem isso do SENHOR, nosso Deus, enviemos depressa men-
sageiros a todos os nossos outros irmãos em todas as terras de Israel, e aos sacerdotes, e aos levi-
3
tas com eles nas cidades e nos seus arredores, para que se reúnam conosco; tornemos a trazer pa-
4
ra nós a arca do nosso Deus; porque nos dias de Saul não nos valemos dela. Então, toda a congre-
gação concordou em que assim se fizesse; porque isso pareceu justo aos olhos de todo o povo” (1Cr
13.1-4).
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 16/17
l) O nosso maravilhoso conselheiro é o próprio Senhor que nos fala por meio de
Sua Palavra. A profecia a respeito de Jesus Cristo nos diz: “Porque um meni-
no nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o
seu nome será: Maravilhoso Conselheiro (( )יעץyâ‛ats), Deus Forte, Pai da E-
ternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6);
“Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e
cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem (()קרבqârab)” (Sl 32.9). A
ideia aqui de obedecer é a de estar próximo; ter uma relação de proximidade e inti-
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midade. Deus deseja que o obedeçamos com inteligência, tendo a percepção cor-
reta de que os Seus mandamentos se constituem no melhor que há para a nossa vi-
da. Como vimos, “a fé, quando é conduzida à obediência a Deus, mantém
47
Ver: Leonard J. Coppes, qãrab: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia
do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1367.
Introdução à Educação Cristã (3) – Rev. Hermisten – 25/02/14 – 17/17
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nossas mentes fixas em sua palavra”.
48
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Edições Parakletos, 1999, Vol. 2, (Sl 38.10), p. 184.
49
João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, Vol. 1, (Dn 3.30), p. 232.