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ax We PER Sonceitos sociolégicos fundamentais* an 2 ag dre jg). .): es Fh Logo) tape co [oe 391+ Observagio preliminar. O método destas definigdes intro- de conceitos — bem prescindiveis, mas ine- vitavelmente abstratas ¢ causadoras de uma impressao de irrealismo — nio reivindica, de modo algum, o carter de novidade. Pelo contrario: ele deseja apenas, num modo de expresso que se espera mais conveniente ¢ um pouco mais correto (talvez justamente por isso parecendo até pedan- te), formular o que toda a sociologia empirica de fato quer dizer quando fala das mesmas coisas — inclusive nos lu- gares em que forem empregadas expressdes aparentemente inabituais ou novas. Confrontada com a de meu artigo no Logos 1¥! a terminologia esté — até onde isso foi exequivel — simplificada ¢, com isso, também em muitos pontos alte- rada, no intuito de facilitar ao maximo possivel a sua com- preensio. A necessidade de uma popularizagao a qualquer prego nem sempre seria coneilivel com a da maior preciso conceitual possivel, e eventualmente precisara ser ignorada. Sobre a nogio da “compreensao”, confrontem este trabalho com a Psicopatologia geral de K. Jaspers, bem * Max Weber, “Soziologische Grundbegriffe”. In: Wirtschaft und Gesellschaft: Grundri d. verstehenden Soziologie! Max Weber. Org. por Johannes Winckelmann — 5., rev. Aufl., Studienausg. —, Tubingen: Mohr, 1980. Trad. de Marcelo Rondinelli. (N.".) 363 G 363 -59L) 7 fe 364 ESSENCIAL SOCIOLOGIA | MAX WEBER 365 como com algumas observagdes de Rickert? e em espe- cial as formuladas por Simmel em Os problemas da fi- losofia da histéria. Quanto a questées metodolégicas, indico também aqui, como jé fiz em varias oportunida. des, os processos descritos por F. Gott! no artigo “Die Herrschaft des Worts” [O dominio da palavra], com cer- teza escrito de maneira um pouco mais dificil de enten- der e provavelmente com uma reflex4o que em muitos pontos nao chega a ser formulada por completo. Quan- to a questdes da matéria especifica, indico sobretudo a bela obra de F. Tonnies Gemeinschaft und Gesellschaft [Comunidade e sociedade]. Além disso, 0 fortemente ilu- » de R. Stamm Wirtschaft und Recht nach der materialistischen Geschichtsauffassung [Economia ¢ direito segundo a concep¢ao materialista da histéria] e minha critica a ele no Archiv f. Sozialwissensch.,3 a qual j4 contém grande parte dos fundamentos do que sera ex- planado a seguir. Em relagao ao método de Simmel — na Sociologia e na Philosophie des Geldes [Filosofia do dinheiro] —, minha divergéncia se da por meio de uma possivel separacao entre © “sentido” tencionado [ge- meint] ¢ 0 objetivamente valido, que Simmel nao s6 nao distingue como frequentemente faz, com toda a inten- do, com que se diluam um no outro, difusos, nesse contexto, quer dizer um com- portamento humano (nao importando se se trata de um fazer exterior ou interior, de um deixar de fazer ou de um tolerar), quando e na medida em que aquele ou aqueles que agem vinculem a ele um sentido subjetivo. GOES 1, FUNDAMENTOS METODOLOGICOS ‘ou ‘como tipo. Nao deve ser "entendido como, por exemplo, um sentido qualquer objetivamente “certo” ou um sen- tido metafisicamente fundamentado como “verdadeiro” § isso que diferencia as ciéncias empiricas da acdo (a sociologia ¢ a historia) de todas as dogmaticas (dircito, Iogica, ética, estética), as quais pretendem investigar em seus objetos 0 sentido “certo”, “valido”. 2. A frontcira entre a ago dotada de sentido © um comportamento meramente (conforme queremos cha~ mar aqui) reativo, nao vinculado a um sentido subjetiva~ mente tencionado, é totalmente fluida. Uma parte muito ignificativa de todo comportamento sociologicamente relevante, em particular a ago regida puramente pela tradigao (cf. infra), encontra-se na fronteira de ambos. Q Uma acio dotada de sentido — isto ¢, compreensivel — nao se apresenta, em absoluto, em alguns casos de processos psicofisicos; em outros, s6 se apresenta para o especialista na matéria; processos misticos e, com isso, nao comunicaveis de modo adequado por palavras, nao so plenamente compreensiveis para aquele que nao te- nha acesso a tais experiéncias. Por outro Indo, @\€a a=) 366 ESSENCIAL SOCIOLOGIA (Glsolutads interpretaefo dese Componences com. preensiveis ¢ nao compreensiveis de um processo muitas vezes esto misturados ¢ ligados entre si 3. Toda interpretagio — como toda ciéncia, de resto fe sentidos que se encontram relacionados entre si: por enunciados matematicos ou légicos. Compreendemos de aneira absolutamente clara ¢ univoc tado de sentido quando alguém, num racio. argumentagao, explora a sentenga 2.x 2 = de Pitagoras, ou quando essa pessoa realiza uma cadeia Jogica de maneira “acertada” — segundo os habitos de samento que cultivamos. O mesmo se da quando essa "soa, a partir de “fatos da experiencia” para nds “reco- nhecidamente” validos ¢ de fins determinados, extrai de modo inequivoco em sua agao as consequéncias resultan- tes (segundo nossas experiéncias) para o tipo de “meios” empregados. Toda interpretagao de uma agao referente a fins de tal modo racionalmente orientada possui — para a compreensao dos meios empregados — 0 grau maxi- mo de evidéncia. Nao com 0 mesmo, mas com suficiente nivel de evidéncia para nossas necessidades de explica- 367 40, compreendemos, no entanto, também aqueles “eq yocos” (incluindo os “emaranhamentos de problemas”) nos quais nés mesmos podemos incorrer, ou cujo surgi- mento nos € possivel tornar empaticamente vivenciavel. m contrapartida, hé varios “fins” ¢ “valores” dlrimo} clos quais pode estar orientada empiricamente a aga¢ je uma pessoa que nés mnitas vezes ndo somos capaze' je compreender com plena evidéncia, mas sob certas cir nstancias até conseguimos aprender intelectualmen| » — mas nesse process, por outro lado, quanto mai dicalmente eles desviam de nossos proprios valores till mos, tanto mais dificil é para nés torns-los, por mei patica, compreensiveis como revivescéncial a fantasia en De acordo com as circunstancias, temos de nos contenta: em apenas interpreté-los intelectualmente, ou, em certos casos, se também isso falhar, tomé-los, por assim dizer, simplesmente como dados, ¢ tornar compreensivel para s o desenrolar da aco por eles motivada, tanto quanto ossivel, como pontos de orientacdo. Incluem-se ai, por emplo, muitas realizacdes religiosas ¢ caritativas de vir- noses para aquele que é refratdrio a tais agdes. O mesmo jale para fanatismos extremamente racionalistas (“direi- ps humanos”) para aquele que, de sua parte, abomina| dicalmente tais pontos de orientagdo. Quanto maj estejamos suscetiveis a estados emocionais de moment (medo, célera, ambigao, inveja, citime, amor, entusias- mo, orgulho, sede de vinganga, piedade, devogao, ansias de todo tipo) e as reages irracionais (do ponto de vista da aco racional referente a fins) deles decorrentes, tanto mais seremos capazes de revivencié-los de maneira mais evidentemente emocional. De todo modo, porém, mesmo no caso de eles, por sua intensidade, superarem de modo absoluto nossas préprias possibilidades, somos capazes de compreendé-los empaticamente e como dotados de senti- do e calcular intelectualmente seu efeito na diregao ¢ nos meios da ago.

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