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Política

Ameaças à democracia

Chomsky: 'Penso muito no problema
definitivo da democracia no Brasil'
por Carol Scorce — publicado 14/09/2018 17h18, última modificação 17/09/2018 13h01

Linguista e ativista norte-americano veio ao País para seminário que discute as


ameaças à democracia em todo o mundo
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Noam Chomsky veio ao Brasil para debate sobre progressismo e neoliberalismo

O linguista e ativista norte­americano Noam Chomsky, que veio ao Brasil para um seminário
internacional organizado pela Fundação Perseu Abramo, afirmou que os cortes em investimentos
sociais promovidos em todo o mundo é central para o triunfo do neoliberalismo. Ele vê com
preocupação o processo eleitoral no Brasil. 
"Penso muito no problema definitivo da democracia no Brasil. E não dá para deixar de lado o fato
de que Lula deveria por direito ser candidato à presidência do Brasil. Conheci ele antes dele ser
presidente. Passamos alguns dias juntos e fiquei muito impressionado."

Para analisar o triunfo do neoliberalismo no mundo, Chomsky usou como exemplo as
recentes eleições na Suécia, que elegeram um governo de extrema­direta. Para o linguista, as
indicações mais corriqueiras de que o processo eleitoral sueco sofreu forte influência do intenso
fluxo imigratório são simplistas.

"Já existem pesquisas que mostram que os votos da extrema­direita são de pessoas que tiveram
pouco contato com a imigração, mas que sofreram com as políticas neoliberais; com cortes de
gastos dolorosos em políticas socais, e que foram esquecidas. As pessoas se sentem traídas. A
atual crise repete velhas formas de reduzir a sociedade a indivíduos, como já fazia (Margaret)
Thatcher."

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O norte­americano pontuou que tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido ­ e assim como
no Brasil ­ o crescimento na ocupação se dá, essencialmente, nos chamados "empregos
alternativos", descolados de garantias sociais, e "o que têm formado no mundo todo uma imensa
massa de trabalhadores precarizados, o chamado precariado,  e que está transformando, como
disse (Kalr) Marx, a sociedade num saco da batatas."

Ainda sobre a crise da democracia, o linguista afirmou que as pesquisas sobre os processos
eleitorais demostram que a elegibilidade dos políticos é comprada e que os eleitores estão sem
voto, na medida que seus representantes não os ouve, mas sim aos doadores de campanha.

"As leis estão sendo redigídas por lobistas, que olham por cima dos ombros dos burocratas.
Enquanto os deputados estão preocupados com as próximas eleições."

Chomsky encerrou de maneira otimista sua fala aos brasileiros no seminário. "Existem alguns
pontos de brilhos no mundo. Movimentos enérgicos capazes de reverter o curso abismal dos
últimos anos. O Brasil até pouco era reconhecido como um 'colosso do sul'. Um dos países mais
respeitados no mundo com Lula à frente do governo, com êxitos domésticos e na política
internacional. Nos mostrou que aquela meta (de governar para as pessoas) era atingível. Quero
dizer que não devemos subestimar os obstáculos que estão por vir, mas menos ainda a
capacidade do ser humano de superá­los e de prevalecer"

África 
O ex­secretário geral da Anistia Internacional e presidente do Imagine Africa Institute no Senegal,
Pierre Sané, afirmou que a África já importou do Brasil o programa de distribuição de renda Bolsa
Família, e que, a depender dos resultados das eleições no Brasil este ano, poderá “importar a
maneira judicializada de ajustar uma eleição."

“O que está acontecendo no Brasil é muito importante para nós (africanos). O candidato mais
popular está preso com acusações sem muito respaldo. Um resultado positivo aqui é importante,
do contrário vai se tornar comum arbitrar as concorrências eleitorais pelo poder judiciário. O Brasil
é um exemplo. Nós queremos o Bolsa Família, e não a justiça coligada com a oposição", disse. 

Itália

Para além dos problemas domésticos de cada país, a crise da democracia foi associada no
seminário ao declínio dos sistemas multilaterais, o que estaria “transformando o mundo em um
lugar mais predatório.”

O ex­primeiro­ministro da Itália Mássima D’Álema afirmou que a Organizações das Nações Unidas
(ONU) “está paralisada por desacordos entre as nações”, citando o conflito na Síria, e acrescentou
que os “países estão agindo conforme seus interesses nacionais”, e “limitando os conflitos ao
invés de encontrar soluções.”

O seminário contou também com o discurso do ex­primeiro­ministro da Espanha José Luís
Rodriguez Zapatero, com o diretor da Fundación Chile 21, do Chile, Carlos Ominami, com o ex­
governador do Distrito Federal do México Cuauhtémoc Cárdenas, e com o professor da FGV Luiz
Carlos Bresser Pereira. 

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