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Introdução
Os dados apresentados a seguir foram obtidos no trabalho desenvolvido pelo Núcleo
de Eduação e Monitoramento Ambiental (NEMA), intitulado ³Caracterização Ambiental
do Sistema Arroio - Lagoa do Bolaxa: Uma Futura Área de Proteção Ambiental´,
realizado através do Convênio FNMA/NEMA 070/96, entre outubro de 1996 e
setembro de 1997. O trabalho apresenta basicamente dados de qualidade da água,
mapeamento, levantamentos da fauna e flora e atividades a ntrópicas.
2. Área de estudo
A área de abrangência do projeto tem aproximadamente 4.000 ha e está inserida na
zona do estuário da Lagoa dos Patos, município de Rio Grande - Rio Grande do Sul,
conforme mapa da próxima página. Situada a uma distância mediana (10 Km) da
cidade de Rio Grande e do Balneário Cassino, sendo classificada como área urbana
pelo plano diretor municipal. O sistema Arroio - Lagoa do Bolaxa estende -se
longitudinalmente na direção nordeste -sudoeste, paralelo à linha de costa,
acompanhando os cordões litorâneos característicos da planície costeira do RS. Em
direção sudeste o Sistema está a 5 km do Oceano Atlântico. De forma geral são três
os ambientes que compõem o Sistema: o terrestre, o de água doce e de água salobra.
A salinização do Sis tema ocorre através do Saco da Mangueira pelo Canal Simão, na
porção nordeste da Lagoa Verde, o aporte de água doce é proveniente,
principalmente, dos Arroios Senandes e Bolaxa, situados a sudoeste desta.
3. Metodologia, resultados e discussão
3.1 Mapeamento
Para a execução desta meta foi realizado primeiramente o levantamento
aerofotogramétrico para a obtenção das imagens. Este levantamento ficou a cargo do
Laboratório de Oceanografia Geológica da Fundação Universidade de Rio Grande,
contratado para tal fi m.
A metodologia usada consistiu em sobrevôos com aeronave de asa alta do aeroclube
de Rio Grande. Uma câmara fotográfica 35 mm Nikon FG 20 com motor drive,
adaptada na parte externa da aeronave e filmes coloridos asa 100 de 24 poses foram
utilizados para a obtenção de cerca de 400 fotos verticais. Tendo por base os limites
previstos para a APA, com base em trabalho de campo, calculou -se as linhas de vôo,
de acordo com técnicas tradicionais de aerolevantamento vertical. Após revelados, os
negativos foram convertidos para o meio digital através do uso de escanner apropriado
e armazenados em zip drives.
Por tratar-se de método alternativo, de menor custo, aos levantamentos
aerofotogramétricos tradicionais, optou -se também por contratar o mesmo Laboratório
para o tratamento das imagens e elaboração dos mapas.
A metodologia de análise usada consistiu no uso das fotos verticais 35 mm, fotografias
verticais na escala 1:60.000 de maio de 1996, de propriedade do Laboratório supra
citado e reconhecimento de campo que resultaram na confecção de dois mapas, os
quais seguiram a seguinte seqüência de processamento.
1. Obtenção da base digital a partir do produto do levantamento aéreo;
2. Mapa geral viário e com os limites propostos para a APA, definidos mediante pontos
conhecidos no terreno e informações obtidas através de GPS;
3. Mapa ambiental com as principais feições e áreas de interesse procurando associar
a cada unidade ambiental o padrão verificado nas fotos;
4. Cálculo das áreas mediante reclassificação supervisiona da da base digital.
Os equipamentos utilizados no tratamento dos dados e elaboração dos mapas foram:
computador Pentium 133 MHZ, mesa digitalizadora A1, impressora jato de tinta HP
680 C, ploter jato de tinta, GPS Magelam 2000, escanner de mesa HP, program as de
geoprocessamento e tratamento de imagens.
A equipe do NEMA auxiliou nos trabalhos de campo e discussão sobre as unidades
ambientais. Os resultados obtidos foram:
- Fotografias atuais da área do Sistema;
- Mapas temáticos: mapa geral viário com os li mites propostos da APA e mapa de
unidades ambientais.
Á area proposta para a APA municipal tem um total de 3.634 hectares.
Identificou-se 12 unidades ambientais, conforme mapa de unidades ambientais, que
compõem todo o sistema.
A unidade ambiental (u.a.), água, pode ser dividida ainda, conforme resultados das as
análises físico-químicas, em doces e salobras. O processo, período e extensão da
salinização é melhor discutido na meta B, gráfico 2 de salinidade.
As áreas urbanas dentro dos limites propostos para a APA são os bairros Senandes,
entre os pontos 1 e 2 dos mapas, e o bairro Bolaxa, ponto 5 dos mapas.
Os marismas, ou pântanos salgados, situados na porção nordeste da Lagoa e ao
longo do Canal Simão, tem sua distribuição correlacionada aos dados de salin idade
encontrados.
Também acompanhando a distribuição da salinidade, foi verificado em saídas de
campo a existência de bancos de pradarias submersas (Ruppia maritima),
principalmente nos meses de novembro à maio. É de conhecimento geral que estas
pradarias junto com os marismas, são os principais ambientes de criação para
espécies de peixes e crustáceos dependentes do estuário no seu ciclo vital. Algumas
destas espécies, como o camarão, a tainha, a corvina e o linguado tem elevado valor
comercial e represen tam importante recurso aos pescadores artesanais do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina.
Os banhados de água doce também representam importante área de criação e
alimentação para várias espécies, assim como a vegetação aquática submersa
encontrada na Lagoa e Arroios. Outras funções ecológicas importantes são: a
exportação de nutrientes, a regulação do fluxo hídrico e a ação como filtro para os
detritos da água. Estas funções também são comuns aos marismas.
No sistema são encontrados três tipos de mata nativa , de composição florística
semelhante, mas diferentes na abundância e crescimento das espécies. Os três tipos
são: mata de restinga em dunas fásseis, mata ciliar ao longo dos arroios e mata
paludícula ou molhada conforme nomenclatura local.
Os campos baixos inundáveis são os preferidos para a criação de gado pela qualidade
das pastagens e desempenham função importante no regime hidrológico
(enchente/seca) sazonal da região.
Matas de eucaliptos são antigas e comuns no local, seu plantio tem as funções de
servir como quebra-vento, fornecimento de lenha, escoras e moirões para construção
de benfeitorias. Nas bordas de alguns eucaliptais, que possuem um maior
espaçamento entre linhas e não sofrem corte a bastante tempo (+/ - 40 anos), nota -se
o estabelecimento de mata
nativa pioneira.
As nascentes dos arroios são formadas por olhos d¶água, banhados e cavas dos
cordões litorâneos que armazenam água da chuva no inverno, principalmente,
possibilitando suprir os arroios no resto do ano.
As dunas fósseis são resquícios de antigas linhas de costa e em alguns casos são
locais que abrigam sítios arqueológicos dos índios que aqui habitavam na época do
descobrimento. Hoje estas dunas se apresentam vegetadas por mata de restinga,
tendo além de importância para a fauna e flora grande beleza cênica. São os únicos
locais naturais de maior altura na planície.
Os campos arenosos são usados para a criação de gado e ocupação urbana.
Das unidades ambientais apresentadas, é a única que se adequa ao parcelamento do
solo para expansão de loteamentos habitacionais.
Característicos do sul da planície costeira do RS, os cordões litorâneos foram
formados pelo crescimento sucessivo da linha de costa nos últimos 5.000 anos. São
paralelos a linha de costa e sua conformação de crista e cava direc ionam o fluxo das
águas no sentido nordeste -sudoeste formando os mananciais (³nascentes´) da água
do Sistema.
Á área agrícola assinalada no mapa refere -se a um grande plantio de hortigranjeiros.
Pequenas áreas de plantio também existem nos campos baixos qu e margeiam o lado
noroeste da Lagoa, não aparecendo no mapa pelo seu tamanho em relação a escala
usada.
O tamanho de cada unidade ambiental e seu percentual em relação a área proposta
para a APA é apresentado na Tabela 1 e Figura 1, a seguir:
Figura 1.
Distribuição
proporcional das unidades ambientais em relação a área proposta para a APA.
Todo Sistema apresentou DBO bem acima do padrão da Classe 1 estabelecido pelo
CONAMA (DBO < 5 mg/l O2) (Figura 6), durante todo o ano. Este fato pode ser
atribuído a elevada quantidade de matéria orgânica contida nestes ambientes
aquáticos transicionais de baixa profundidade. Os maiores valores de DBO nos meses
de primavera e verão e nos pontos onde há entrada de água salgada, pode também
ser atribuído à resuspensão do sedimento depositado no fundo pela ação dos fortes
ventos de nordeste (característicos da região) e pela própria entrada da água salgada.
Branco, op. cit. diz que esgotos domésticos, co nstituídos essencialmente de matéria
orgânica e água, apresentam uma DBO de mais ou menos 300 a 400 mg/l O2 .
Costa et al, 1982 e Almeida et al, 1984 encontraram médias de DBO no Saco da
Mangueira e zona norte da cidade entre 2,2 mg/l a 2,6 mg/l (in FEPAM op. cit.).
Os altos valores de DBO encontrados em relação às médias exemplificadas
anteriormente e ao padrão do CONAMA merecem uma melhor investigação. Mesmo
assim consideramos aceitáveis os valores encontrados, devido às características do
Sistema.
O pH variou de 4,5 a 8,5, com uma tendência de baixa no inverno (Figura 7), sendo
que a maioria dos valores ficaram entre 6 e 7,5 dentro dos padrões estabelecidos para
a Classe 1 do CONAMA (6 a 9 ).
Figura 8. Variação de alumínio (mg/l Al+3) no Sistema ao longo dos meses do ano.
As dosagens de alumínio foram feitas para verificar a possível contaminação
proveniente da Estação de Tratamento de Água de Rio Grande (ETA) da Companhia
Riograndense de Saneamento (CORSAN), que despeja suas águas residuais no
Sistema.
A ETA é responsável pelo tratamento e distribuição de água potável no município, o
resíduo deste tratamento é composto por água e lodo com concentrações de sulfato
de alumínio, usado no pr ocesso de floculação da matéria orgânica.
A Figura 8 mostra que as maiores concentrações de alumínio ocorrem no período de
entrada de água salgada. No Sistema a entrada de água pelo Canal Simão traz
consigo o efluente da ETA. No período de saída de água há uma diminuição das
concentrações. As maiores concentrações (0,4 mg/l Al+3) ocorreram nos meses de
novembro e maio, estes picos estão relacionados com os procedimentos de limpeza
parcial da bacia de decantação da ETA, o que remobilizou uma maior quantidade de
material.
Muitas amostras apresentaram valores superiores ao padrão (< 0,1 mg/l) relativo à
Classe 1, e sugerido para a preservação da vida aquática por Moore, 1991 (in FEPAM
op. cit.).
Figura 10. Variação de nitrito (mg/l NO2 -) no Sistema ao longo dos meses do ano.
O CONAMA considera que para indicar a balneabilidade das águas é necessário ter -
se a média entre cinco amostragens contínuas. No pr esente trabalho as amostragens
são pontuais e mensais, mas são tomadas como um indicador da qualidade das
águas.
O Sistema mostra na grande maioria dos pontos amostrais e durante a maioria dos
meses do ano valores dentro dos padrões do CONAMA. Há uma tendê ncia de
aumento nos meses de inverno, fato que pode ser atribuído às chuvas que ³lavam´ os
campos carreando fezes de animais domésticos e não raras vezes o extravazameto
das fossas sépticas do esgoto doméstico. Como na região não há coleta e tratamento
de esgotos, o sistema de fossas sépticas e filtro são usadas pela grande maioria dos
domicílios dos bairros Bolaxa e Senandes.
Os resultados das análises de água foram enviados ao M.Sc. em Geoquímica Clóvis
Antônio Franciscato para uma consultoria preliminar sobre a qualidade das águas do
sistema, o parecer está transcrito abaixo.
Foram analisados diversos parâmetros físico -quimícos do sistema Lagoa Verde -
Arroio Bolaxa - Arroio Senandes com o objetivo de avaliar a qualidade das águas. De
maneira geral, os pa râmetros comportaram-se de acordo com o esperado para este
tipo de sistema, que se caracteriza por receber as águas de drenagem de vegetação
de áreas úmidas (banhados, baixios) e pela intrusão de água salgada nos meses de
estiagem. Os valores de ph mostrar am-se, na média, muito próximos da neutralidade
(ph = 7,0) e com distribuição espacial satisfatoriamente homogênea. Algumas
variações temporais podem ser atribuídas ao regime de circulação de águas. No
encontro das águas arroio Bolaxa com a Lagoa Verde for am registrados os valores
mais ácidos.
Outros parâmetros como oxigênio dissolvido, alcalinidade, concentração de ferro e
compostos nitrogenados inorgânicos apresentam distribuição espacial homogênea e
com valores compatíveis com este tipo de ambiente, salv o alguma variação do tipo
aleatória.
É necessário, no entanto, chamar a atenção em relação a três parâmetros que podem
indicar algum tipo de interferência na qualidade das águas. Em primeiro lugar, o
ensaio que determina o consumo potencial de oxigênio (de manda bioquímica de
oxigênio ou DBO) apresentou valores altos, o que pode ser devido às características
do ambiente, porém o que chamou mais atenção foi a distribuição temporal e espacial
dos valores de DBO. Mesmo se assumirmos os valores referentes aos ar roios Bolaxa
e Senandes (ao redor de 20 mg/l) como ³background´ (ou nível base), veremos que
algumas estações apresentaram, como média, valores próximos ou acima do dobro do
valor de ³background´, em especial as estações que representam o encontro das
águas do arroio Bolaxa com a Lagoa Verde e a saída da Lagoa Verde para o canal de
comunicação com o Saco da Mangueira. Se observarmos a distribuição temporal,
veremos que estas estações chegam a apresentar valores que equivalem a quatro
vezes o valor de ³background´ durante os meses de verão. Estas discrepâncias podem
refletir o aporte de matéria orgânica para estes pontos, não se podendo descartar a
possibilidade de aporte de efluentes domésticos.
Em segundo lugar a concentração de fosfato apresentou grande va riação na
distribuição temporal, atingindo valores extremamente altos em todas as estações,
atingindo valores mais aceitáveis apenas nos meses de inverno. Esta altíssima
concentração chama mais atenção quando relacionada á baixa concentração de
compostos inorgânicos nitrogenados. Observa -se que o aumento na concentração de
fosfato dissolvido não é acompanhado pelo respectivo aumento na concentração de
compostos nitrogenados, indicando que provavelmente não provenham da mesma
fonte (i.e., decomposição da mat éria orgânica). Nestes tipos de ambientes, em geral a
concentração de compostos nitrogenados excede a concentração de fosfato.
Por último, temos que comentar a variação na concentração de alumínio dissolvido.
No intervalo de ph encontrado no sistema o alum ínio é muito pouco solúvel, sendo
este comportamento compatível com as concentrações encontradas na maioria das
estações.
No entanto, a estação próxima ao canal de escoamento do tanque de decantação da
CORSAN apresentou uma concentração de alumínio que, na média, foi mais de duas
vezes superior as outras estações. Como este aumento de concentração ocorreu sem
ser observada uma concomitante variação de ph, é provável que possa estar
ocorrendo um lixiviamento de alumínio do tanque da CORSAN. Apesar da
concentração de alumínio não chegar a se caracterizar como sendo de risco, é
necessário que se tome conhecimento do fato.
Os dados utilizados representam um ano de amostragem e análises químicas, e
indicam que o Sistema ainda não está comprometido, porém começa a apresentar
alguns sinais de alteração que necessitam ser melhor estudados.´
RÉPTEIS
A identificação foi baseada na descrição de Porcher, R. D. em Aveline (Org.), 1995.
Cabe ressaltar a alta quantidade de cágados (250 espécimes) registradas em
setembro de 1997, tomando sol as margens da Lagoa Verde.
A presença de jacarés foi relatada por alguns moradores como algo esporádico,
presume-se que a espécie seja o jacaré -de-papo-amarelo (Caiman latirotris)
ameaçado de extinção, encontrado na Estação Ecológica do Taim qu e dista a
aproximados 50 km da área de estudo.
PEIXES
Fonte da tabela abaixo: Tagliani, P.R.A., 1994.
O asterisco (*) após o nome comum indicam peixes de valor comercial.
Outros peixes de valor comercial como o linguado e o peixe -rei são capturados por
pescadores artesanais.
CRUSTÁCEOS
ARVORES E ARVORETAS
ARBUSTOS
ERVAS
TREPADEIRAS
EPÍFITAS
ERVAS
TREPADEIRAS
EPÍFITAS
ARBUSTOS
ERVAS
TREPADEIRAS
EPÍFITAS