Drummond
de Andrade
ie
Rui acolhe
escritores
literatos. modernistas, demasia-
do informais para o ‘seu gosto.
0 certo € que Oswald Mario de Andra-
de Id esta0 na casa da Rua S. Clemente,
ostensivos, em fotografias ¢ autégrafos,
@, com eles, outros” generais do moder-
nisma. Sent constrangimento para nin-
guém, Américo Lacombe, presidente, e
Trapoan Cavateanti, diretor executive da
Fundagdo Casa de Rui Barbosa, acolhe-
ram de boa sombra os escandalosos de
18922, entre os méveis e aifaias que com-
punham o ambiente doméstica do Con-
setheiro, Liedo de filosojia pratica: mais
do que coexisténcia pacifica, fusdo de
contrérios. Cinquenta anos depois, tite-
ratura € histéria, ao lado da politica e
da justica, ¢ os tracos culturais de wma
époea se articulam no mesmo painel cre
tico.
ALVEZ Rui Barbosa se recusasse
[ @ receber a visita petulante dos
Nao sto apenas esses *revoluciond-
rios" que hoje se apresentam na casa
semhorial de Botafogo, em exposicdo tec-
nicamente montada, que é preciso visi-
tar, como programa inteligente neste
junho, Ali reencontramos os mestres do
passado, Machado de Assis ¢ Joaquim
Nabuea @ frente (Machado Carolina
recede 08 visitarites @ entrada), evoca-
dos em suas fisionomias, suas ‘cartas,
objetos € retratos de familia, sew madd
de ser € viver. Ure contemporaneo como
Liicio Cardoso mostra-nes sew caderni-
ho de notas e a face lavrada pela doen-
ca, refletindo 0 combate interior entre
ld ¢ sombra. O poema-colagem de Au-
gusto Frederico Schmidt: novidade a re-
velar o poeta em busca de nova expres-
sdo plistica para o conteido romantica
do seu lirtsmio, B coisas ¢ coisas de lile-
rature € vida, salvas da destruicdo.
Ew
ciativa de wn arquivo-museu de litera
tura vingou no Rio de Janeiro despojado
oficialmente de sua condicdo de eldade-
cabeea do pais, mas ainda com disposi
20 para lancar empreendimentos cultu-
ais como este. Ainda bem que, ao lado f o
da demoliedo de vethos solares, da tran:
formacdo de jardins em dreas de estacio-
namento, da’ construcdo de farelas ver-
Hteais de concreto, da guerra contra o
siléncio, e de outros males que tornam
@ vida urbane um perigo ou uma cha-
tice, acontecem cosas aparentemente
Pequenas, mas cheias de sentido ¢ alen-
tadoras, ao jeito deste arguivo-museu
organizado com tanto carinho e profi-
ciencia por Plinio Doyle, seu fundador
€ diretor "vor amor a arte”, pois nada
recede pelos seus servicos, e dos prin-
cipais doadores do seu acervo,
Se dé gosto ir d Casa de Rui Bar
dosa, mansdo de paz em que os verdes
49 parque emolduram um centro de es-
tudos € pesquisas, e 0 quadro familiar do
homem ‘lustre é'reconstituido ¢ preser- s!
vado fieimente, wn prazer suplementar, |
para os que ainda curtem a literatura,
consiste em errar pelas
exibe a exposiedo comemorativa das mit
pecas catalogadas pelo arquivo-musen,
integrante da Casa de Rui Barbosa, Vor
e6 entra reqularmente poluido e fatiga-
do, mas ld dentro se restaura e sente a
‘magia da criacdo Titerdria, silenciosa €
pulsante através das geracdes. E mais
ndo digo nem ¢ necessdria: estou the
sugerindo wna hora de fuga @ brutali-
dade do dia, em iugar que se poderia de-
fini como de luxe, calme et volupté, no
melhor sentido intelectual,
E jd que o assunto ¢ literatura, as-
sinala‘se que 0 methor tivvo do més, 0 de
Leitura mais envolvente, pelo mistério da
forma despojada em 'Karmonia com a
intencdo suttt — 0 mais nove, afinal —
tem 38 anos de existéncia e agora sai
em segunda edicao, que muita gente es-
erava, pois @ primeira era inencontrd
vel. Chama-se Velétios, de Rodrigo I. F.
Ge Andrade — 0 admirdvel Rodrigo da
DPHAN, ha cinco anos jalecido
Hesito em classificd-lo entre os au-
tores de ficedo. A narrativa, em seus
contos, flu ido natural, a auséneia de
efeitos literdrios ¢ de rasgos de bravura
estilistica é to marcada, que se aleanca
0 resultado ideal da historia ndo escrita
€ nao contada: @ historia funcionando
por si mesma. Evidente que isto erige
‘técnica de composicdo das mais apura-
das, ou seja, 4 que omite requintes visi-
veis ¢ deita a vida funcionar em seu
amargo humour com cheiro. misturado
de defunto em potencial (ou consuma-
do) ¢ sensualidade onipresente. Rodrigo
fugiu de ser mestre em qualquer coisa,
€ foi mestre em tudo, inclusive neste TE
v70 de secreta melodia, que ele ocultava
como pecado e que merece reluzir no
primetro plano da eriaedo brasileira.
salas onde s¢ &