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Introdugao a Embriologia Humana Estagios do Desenvolvimento Humano. Importancia da Embriologia Aspectos Histéricos Termos Descritivos Questées de Orientagao Clinica 2 m INTRODUCHO A EMBRIOLOGIA HUNANA 8 O desenvolvimento humano & um processe continuo que co- ‘mega quando um ovéelto de uma mulher 6 ferilizado por um espermatozéide de um homem. O desenvolvimento envolve muitas modifieagSes que transformam uma tinica célula, 0 to (ove fertilizado), em um ser humano multicelular. A maioria das transformagées do desenvolvimento ocorre antes do nasi ‘mento, mas mudangas importantes também ocorrem durante os perfodos posteriores do desenvolvimente: infante, infancia, ado lescéncia © matusidade (adulto). ‘A embriologia humana & 4 ciéncia que estuda a origem € 0 desenvolvimento de um ser humano de um zigota aié 0 nasci- ‘mento de um infante, O estuco da embriologia cobre 0 espago centre o desenvolvimento pré-natal e a obstetricia, medicina pe- rinatal, pediatria e anatomia clfnice. ESTAGIOS DO DESENVOLVIMENTO. HUMANO Apesar de o desenvolvimento humano sec, em geral, dividido em pre-natal (antes do nascimento) © pés-natal (apy 0 nascin {o), 0 desenvolvimento é um continuo que se inicia na fertliza {10 (concepgdo). O nascimento é um acomtecimento dramatico ro desenvolvimento, que resulta em uma mudanga no ambiente. 0 desenvolvimento ndo cessa com o nascimento; importantes ‘mudangas do desenvolvimento ocorrem apss 0 nascimento — a formagiio dos dentes ¢, nas mulheres, as mamas, por exemplo, ‘A maioria das transformages do desenvolvimento jé terminou ‘aps 25 anos, Os estégios do desenvolvimento que ocorrem antes do nascimento estio ilusirados nas Etapas do Desenvolvintento Humano Pré-ratal (Figs. Le 1.2).A seguir, apresentamos uma listaexplicando os termos usados nestas figuras e nas discusses, suseqiientes Terminologia Embriolégica A maioria dos termos embriol6gicos origina-se do latim (lat.) ou ddo grego (g1.). A compreensio da origem dos termos ajuda. com freqiléncia, a memoriz4-los. O termo zigoto, por exemplo. deri- va da palavea grega zygotos, que significa unio, indicando que © espermatozdide e © ovécito se uniram para formar uma nova célula, o zigoto Ovéelto (do lat. ovum, ovo). Este terme refere-se A eélula ger- rminativa, ou sexual, feminina, produzide no ovdrio. Quando maguro, o ovécito € denominado ovécito secundério, ou madu- ro, Um ovo invidvel refere-se a um embrigo inicial cujo desen- volvimento cessou. Apesar de o embrido estar morto, os GULrOs pprodutos da concepedo, 0ac0 coridnico (da gestugao), por exem- plo, podem sobreviver por varias semanas. Espermatozéide. Este termo refere-se & célula germinativa, ‘ou sexual, masculina produzide pelo resticulo, Durante a eja- culagio, 0s espermatozbides sio expelidos pela uretra mas- culina, ‘Zigoto. Esta célvla, formada pela unifio de um ovécito com um espermatoz6ide, & 0 inicio de um novo ser humano (i.e... um embriio). A expressio ovo fertilizado refere-se a um ovécito secundirio que foi penetrado por um espermatorside; no fim ds fertilizagio, o ovécito torna-se um zigoto Fertilizagdo ou Idade da Concepgio. E dificil determinar ‘com exatidio quando ocorre a fertilizagio (concepsao), pois teste proceso nao pode ser observado in vivo (dentro do cer. po vive). Os médicos calculam a idade do embrito ov feto a partir do primeito dia do dltimo perfode menstrual normal (LNMP). Esta é a idade de gestagdo, que € cerca de 2 sema- nes mais velha do quea idade da fertilizasae porque 0 ovéci- to somente é fertilizado cerca de 2 semanas ap6s a mensirua- gdo anterior (Fig. 1.1). Consequentemente, quando um médi- Co diz a idade de um embriao cu Feto, deve deduzir-se 2 se- ‘manas para deserminar a idade real, ou da fertlizagdo, do ser hhumano em desenvolvimento. Clivagem. A divisto mit6tica das células, ou clivagem, do zi- goto forma as células embrionérias denominadas blastme- ros. O tamanho do embriao inicial permanece o mesmo, pois 0s blastémeros diminuem de tamanho a cada divisio celular sucessiva, Méruta. Quando 12 ou mais blastémeros se formaram. a bola de células resultante da clivagem do zigoto passa a ser denom nada méruta, que se assemelha a uma amora (do lat. morus, mora). O estigio de mérulaéatingido cereade 3 a4 dias aps a ferilizagdo, quando 0 ser humano em desenvolvimento pene {ano ttero vindo da tuba uterina (trompa de Falépio) Blastocisto. Depois de deslocar-sc da tuba uterina para o tte ro, a mOrula forma denuo de si uma cavidade cheia de Muido — a cavidade blawoctstica, Esta ransformagao converte a morula em blastocisto, que, além da cavidade, contém uma, ‘massa celular iniemaa, o4 embrioblasto, que vat formar 0 em- bride. Embrio, Este termo refere-se ao ser humano durante os ¢s- tégios iniciais de seu desenvolvimento. O periodo embriond- rio vai até o fim da oitava semana, momento em que todas as principais estruturas estio comecando a desenvolver-se. So- mente 0 coragdo ea circulacdo estao funcionando. O tama- nho dos embrides € dado em comprimento crown-rump (cefalocaudal) (CRL), medido do vértive do crinio até as n= deges. Concepto. Este termo refere-se ao embrido ¢ suas membranas (ie., 08 produtos da concepgéo ou fertilicagdo). Este termo re- fere-se a todas as estruturas que se formam do zigoto, tanto em- briondrias como extra-embrionérias; portant, elas incluem 0 tembrido assim como ay membranas associadas — Amnio, saco coridnico (gestacional) ¢ saco vitelino (ver Cap. 8). Primérdio. Ete termo refere-se ao inicio ou a primeira indica 0 perceptivel de um Orgio pu estrutura (i.e., 0 estigio mais, inicial de seu desenvoivimento), O termo andage tem um signi ficado semelhente, O primérdio ou anlage de um membro supe- rior surge como 0 broto deste membro no dia 26 (Fig. 1.1). Feto, Depois do periodo embrionério (8 semanas), o ser humano em desenvolvimento passa a ser denominado feto, Durante 0 periodo fetal (danona semana ao nascimento), ocorrem a dife- renciacdo eo crescimento dos tecidos e Grgdos, que se forma- ram durante o perfodo embrionério, Apesar de as transforma- {ges do desenvolvimento deste periodo nio serem tho drams- tieas como as que ocorrem durante o perfodoembrionstio, elas sZo muito importantes, pois torram possfvel o funcionamento dos tecidos e érgtos. A velocidade de crescimento do corpo é notdvel, especialmente durante o terceiro e quarto meses (ver Fig. 1.2).e, durante os titimos meses, o ganho de peso é feno- renal ‘Trimestre. & um perfodo de 3 meses de calendério. Geralmen- te os obstetras divider o perfodo de 9 moses em trés timestres. Os estégios mais eriticos do desenvolvimento ocorrem durante © primeiro timestre, quando se dé o desenvelvimento embrio- nitio e inicio do fetal. Aborto. (do lat. aboriri, abortar), Este termo significa uma in- (errupgao premature do desenvolvimento ¢ refere-se ao nasci- rmenco de um embrido ou feto antes de se tomarem vidveis — suficientements amadurecidos para sobreviverem fora do utero. (5 principais tipos de aborto so: + Ameaga de aborto & uma complicagio comum que ocor- re em cerca de 25% das gravidezes. A despeito de todos os esforgos para impedir um aborto esponianco, cerca de etade destas gravidezes acaba em aborto (Filly, 1994). Todos os términos de gravidez que ocorrem naturalmen- te, ou sto induzidos antes das 20 semanas, s20 considera- dos abortos. + Abortos espontineos, Cerca de 15% das gravidezes iden- tificadas terminam em aborto espontiineo (i.e., ocorrem naturalmente), geralmente durante as primeiras 12 sema- nas, + Abortos legabmente induzidos, ou aborios eletivos. geral- ‘mente sio produzidos por drogas ou curetagem por suc- (40 (evacuago do embrido e suas membranas por sucgo iuterina). Alguns abortos sio induzidos por causa de mé satide da mie (mental ou fisica) ou para impedir o nasci- mento de uma erianga com maifoemagies graves (p.cx.. sem a maior parte do cérebro) *+ Aborto frustrado € reteagio do concepto no itero depois da morte do embrigo ou fero. IMPORTANCIA DA EMBRIOLOGIA Oestudo dos estégios pré-natais do desenvolvimento, especial- ‘mente 08 que ovorrem durante o per‘odo embriondrio, ajuda-nos ‘a compreender as relacdes normais entre as estruturas normais do adulto e as causas das anomalias congénitas. A embriologia elucida.a anatomia ¢ explica como as snormalidades se formam. No perfodo que vai da terceira & oiteva semana, 0 embriao & vwwlnerivel 2 quantidades elevacas de radiagio, virus e certas drogas (ver Cap. 9). ‘Oconhecimento que 0s médicos tém sobre o desenvolvimen- tonormal eas causas das anomalias congénitas ajuda a dar 10 ‘embciio as melhores possibilidades de desenvolver-se normal- ‘mente. Muito da moderna prética obstétrica envolve 0 que po- dcria ser denominado embrlologia clinica ou aplicada, O fato de alguns de seus pacientes terem anomalias resultantes de mau. desenvolvimento, ais como espinha bifida ou doenga cardiaca congénita, tora a importancia da embriologia muito evidente para pediatra, O progresso da cirurgia, especialmente a pré- natal edos grupos com idade pedidtrica, tomou o conhecimen- todo desenvolvimento humano clinicamente ainda maisimpor- (ante. A compreensfo e a correrdo da maioria das anomalias INTRODUGAO AEMBRIOLOGIAHUMANA a 3 congénitas (p.ex., palato fendido e defeitos canifacos) depen- dem do conhecimento do desenvolvimento normal ¢ dos des- vios que ocorreram, ASPECTOS HISTORICOS ‘Sébios gregos deram muitas contribuigoes importantes para a ccitncia da embriologia (Horder et al., 1986; Dunstan, 1990). Os primeiros estudos embriol6gicos registrados sio os livres de Hipécrates de Cos (Fig. 1.3), 0 famoso médico gregodo quinto século a.C. No quaro século a.C., Aristbteles de Estagira, fi- 16sofo e cientista, escreveu o primeiro relato conhecido da embriologia, no qual descreveu odesenvolvimento do pintoe de outros embrides. Claudius Galeno (segundo século 4.C.), mé- dico cientista médico grego, que viveu em Roma, esereveu o Livro inttulado Sobre a Formagao do Feto, no qual descreveu 0 desenvolvimento ¢ 4 nutrigio fetal 'Na Idade Média (1000-1400 ¢.C), 0 creseimento desta cién- cia foj lento, Durante 0 112 século, Constantino, o Africano, descreveu a composigdo € 0 desenvolvimento sequencial do cembriao em relagao aos planetas e em cada mes da gravidez. No 15." século, Leonardo da Vinel fez desenhos precisos de dissecgbes do ttero grévido e das membranas fetais associa- das Fig, 1.4). William Harvey (Fig. 1.5),em 1651, fez novas observagdes estudando embrides de pinto com lentes simples. Ele acredita- va que 0 espermatozéide, depois de penetrar no sitero, trans- formava-se em uma substancia semelhante ao ovo que, entio, se transformava em um embrifo. Ele também estudou odesen- volvimento do gamo; entretanto, sendo incapaz de observar 08 estigios iniciais, concluiu que os embrides eram secretados pelo sitero. Os primeiros mierose6pios eram simples, mas abriram um novo campo de observagdes. Em 1672, de Graaf observou pe- quenas cAmaras (certamente e que hoje em dia denominamos blastocistos) no utero da coelha e concluiu que elas provinham de Orgtos que chamou ovdrios, Marcello Malpighi, em 1675, estudando 0 que acreditava set ovos de galinha nfo fertiliza- dos, observou embrides muito iniciais, Por este motivo, pen- sou que 0 ovo continha uma miniatura de pinto. Apesar disto, suas observagdes sobre o pinto em desenvolvimento foram boas. ‘Hamm e Leeuwenhoek, em 1677. usando um microseSpio aperfeigoudo, foram os primeiros 2 observar espermato7sides humanos (Fig. 1.6), mas nfo compreenderam o papel do esper- matoz6ide na fertlizagio. Eles acreditevam que o espermatez6i-

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