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Empoderando vidas.

Fortalecendo nações.
Nota metodológica sobre
o cálculo de indicadores
demográficos do Brasil

Apesar dos avanços na qualidade das estatísticas vitais


no Brasil, eles ocorreram de forma desigual no território
nacional. Em algumas regiões existem ainda sérias
limitações para mensurar o número de mortes, seja por
problemas de cobertura, seja por omissão e confiabilidade
das informações de idade de óbitos e nascimentos. Para
contornar, ou pelo menos minimizar tais problemas,
muitos pesquisadores utilizam métodos indiretos para
mensurar a mortalidade no Brasil, como, por exemplo,
o método desenvolvido por Willian Brass. No entanto,
conforme destacam Martine et al (1988) esse método
baseia-se em suposições nem sempre realistas e pode ser
utilizado para corrigir dados não muito problemáticos.
Além disso, em pesquisas amostrais, como é o caso das
Pesquisas Nacionais de Amostra de Domicílios (PNADs), o
tamanho da amostra e possíveis erros nela prejudicam as
estimativas e podem levar a resultados absurdos.

Para se ter uma ideia de tais erros, alguns indicadores de


fecundidade, obtidos com os dados das PNADs de 2011
a 2014, serão apresentados a seguir. Esses indicadores
foram calculados com dados comumente utilizados para
estimar de forma indireta a mortalidade.
QUALIDADE DAS
INFORMAÇÕES DA
PNAD

Os indicadores a seguir mostram as limitações dos dados das PNADs de 2011 a 2014 para
estimar, de forma indireta, a esperança de vida ao nascer e a mortalidade infantil. Foram
comparadas as Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte (RMBH), de Belém (RM Belém) e de
Fortaleza (RM Fortaleza), o Distrito Federal1 e o Brasil.

Como era de se esperar, no indicador parturição média, a proporção de filhos aumenta


significativamente com a idade das mulheres, nas quatro PNADs analisadas. Exceções ocorrem
na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), em 2011, entre os grupos etários de 35-
39 anos e 40-44 anos e na Região Metropolitana de Fortaleza, em 2014, entre os grupos 40-44
anos e 45-49 anos: queda de 2,39 para 2,37 filhos por mulher e de 2,74 para 2,73 filhos por
mulher, respectivamente. Vale destacar o acelerado ritmo de crescimento da proporção de
filhos por idade das mulheres entre alguns grupos etários, como, por exemplo, no Distrito
Federal entre os grupos 50-54 anos e 55-60 anos, em 2011, na Região Metropolitana de
Belém, nessas mesmas faixas etárias, em 2013, e entre 45-49 anos e 50-54 anos, em 2012. Nos
quatro anos analisados, chama a atenção o acelerado ritmo de crescimento da proporção nos
últimos grupos de idade. Tais irregularidades podem ser explicadas pela variação aleatória da
amostra (Figuras 1 e 2).

FIGURA 1
PARTURIÇÃO MÉDIA, BRASIL, ALGUMAS REGIÕES METROPOLITANAS E DISTRITO FEDERAL,
PNADS 2011 E 2012

2011 2012
7 7

6 6

5 5
filhos por mulher

filhos por mulher

4 4

3 3

2 2

1 1

0 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
0 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

Limite inferior dos grupos de idade Limite inferior dos grupos de idade

RMBH DF RM Belém RM Fortaleza Brasil

Fonte: Microdados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (IBGE, 2011 e 2012).

1 A amostra da PNAD considera o DF uma Região Metropolitana porém não cobre os 22 municípios vizinhos ao DF, apesar de esses
municípios pertencerem oficialmente à Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno (RIDE-DF) e somarem cerca de 1,1 milhão de
habitantes em 2010 (aproximadamente 31% da população total da RIDE-DF). Nas demais RMs, o número de municípios considerados pela
PNAD não corresponde, necessariamente, à composição legal das RMs, conforme legislação complementar de referência.
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FIGURA 2
PARTURIÇÃO MÉDIA, BRASIL, ALGUMAS REGIÕES METROPOLITANAS E DISTRITO
FEDERAL, PNADS 2013 E 2014

2013 2014
7 7

6 6
filhos por mulher

5 5

filhos por mulher


4 4

3 3

2 2

1 1

0 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
0 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

Limite inferior dos grupos de idade Limite inferior dos grupos de idade

RMBH DF RM Belém RM Fortaleza Brasil

Fonte: Microdados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (IBGE, 2013 e 2014).

Outro indicador que merece destaque é aquele calculado pela divisão do número de
filhos falecidos pelo número de filhos nascidos vivos. O comportamento de tal indicador
depende não somente da qualidade dos dados, mas também do tamanho da amostra.
Romero-M (2002) ressalta que, assim como o indicador de parturição média, esse
indicador deve aumentar com a idade das mulheres, com exceção do primeiro grupo
etário e dos grupos superiores aos 45 anos. No primeiro caso, pelo fato de ocorrerem
menos nascimentos, há possibilidade de os erros amostrais serem maiores, e soma-se a
isso o fato de que mulheres muito jovens, por questões culturais, costumam omitir filhos
tidos nas primeiras idades do período reprodutivo e também filhos falecidos. No segundo
caso, pelos “erros de memória” das mulheres em relação ao número de filhos tidos vivos,
sobretudo em períodos distantes (SOUZA, 2004).

Pelas Figuras 3 e 4 observam-se consistências dos resultados para o Brasil: crescimento


com tendência cadente da proporção de filhos mortos por grupos de idade da mãe.
Entretanto, quando os dados são desagregados por região metropolitana, verifica-se muita
irregularidade nas curvas e até decrescimento em vários pontos. Em 2011, por exemplo,
verifica-se diminuição do indicador para a RMBH, entre os grupos de idade 35-39 e 40-44
anos, bem como entre os grupos de 25-29 e 30-34 anos do DF. Em 2013, destaque para
as quedas entre 25-29 e 30-34 anos na RMBH, RM Belém e RM Fortaleza e entre os grupos
etários de 30-34 e 35-39 anos, no DF.

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FIGURA 3
PROPORÇÃO DE FILHOS FALECIDOS POR MULHER, BRASIL, ALGUMAS REGIÕES
METROPOLITANAS E DISTRITO FEDERAL, PNADS 2011 E 2012

2011 2012
50 50
45 45
40 40
filhos por mulher (%)

filhos por mulher (%)


35 35
30 30
25 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
0 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

Limite inferior dos grupos de idade Limite inferior dos grupos de idade

RMBH DF RM Belém RM Fortaleza Brasil

Fonte: Microdados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (IBGE, 2011 e 2012).

FIGURA 4
PROPORÇÃO DE FILHOS FALECIDOS POR MULHER, BRASIL, ALGUMAS REGIÕES
METROPOLITANAS E DISTRITO FEDERAL, PNADS 2013 E 2014

2013 2014
50 50
45 45
40 40
filhos por mulher (%)

filhos por mulher (%)

35 35
30 30
25 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
0 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

Limite inferior dos grupos de idade Limite inferior dos grupos de idade

RMBH DF RM Belém RM Fortaleza Brasil

Fonte: Microdados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (IBGE, 2013 e 2014).

Outro problema quanto à qualidade dos dados pode ser visto ao se relacionar a idade
da mãe ao nascimento do último filho e o total de filhos nascidos vivos, (Tabelas 1 e 2).
Observa-se que, em 2011 e em 2014, no Brasil, 3.441 e 18.417 mulheres, respectivamente,
tiveram seu último filho com menos de 10 anos de idade e alguns desses filhos estavam
com ano de nascimento anterior ao ano de nascimento da mãe. Tal inconsistência fica ainda

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mais evidente na análise das respostas das mães adolescentes, como, por exemplo, das 6.695
mães, em 2011, e das 11.876 mães, em 2014, que tiveram seu último filho antes dos 16 anos de
idade e conceberam mais de sete filhos. Ou as 8.892 mães e as 7.778 mães, respectivamente,
com o último filho nascido vivo antes dos 20 anos de idade e que declararam entre 7 e 10
filhos nascidos vivos. Vale destacar que essa análise foi realizada para o Brasil e que erros
dessa natureza devem ser maiores à medida que se desagrega as informações por unidade
geográfica ou mesmo por outras características.

TABELA 1
TOTAL DE FILHOS NASCIDOS VIVOS SEGUNDO A IDADE DA MÃE AO NASCIMENTO DO
ÚLTIMO FILHO, BRASIL, PNAD 2011

Idade da
Total de filhos nascidos vivos
mãe ao
nascimento TOTAL
do último 1-3 4-6 7-10 11-15 16-50
filho

menor de 10 2.346 625 - 470 - 3.441


10 a 12 anos 81.408 20.653 2.838 186 - 105.085
13 a 15 anos 524.232 25.494 3.857 3.287 674 557.544
16 a 19 anos 4.138.593 177.534 29.104 4.949 - 4.350.180
20 a 25 anos 13.138.955 1.854.366 167.740 16.475 4.609 15.182.145
26 a 39 anos 20.082.284 7.278.480 2.364.010 483.424 67.085 30.275.283
40 anos 1.221.696 982.523 1.089.041 603.459 116.972 4.013.691
e mais

TOTAL 39.189.514 10.339.675 3.656.590 1.112.250 189.340 54.487.369

Fonte: Microdados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (IBGE, 2014).

TABELA 2
TOTAL DE FILHOS NASCIDOS VIVOS SEGUNDO A IDADE DA MÃE AO NASCIMENTO DO
ÚLTIMO FILHO, BRASIL, PNAD 2014

Idade da
Total de filhos nascidos vivos
mãe ao
nascimento TOTAL
do último 1-3 4-6 7-10 11-15 16-50
filho

menor de 10 12.897 4.415 645 460 - 18.417


10 a 12 anos 107.226 16.667 4.687 - - 128.580
13 a 15 anos 550.682 40.891 6.544 1.682 - 599.799
16 a 19 anos 4.353.984 154.426 22.578 5.636 - 4.536.624
20 a 25 anos 13.619.425 1.870.391 171.854 21.288 1.424 15.684.382
26 a 39 anos 22.825.393 7.647.692 2.377.353 481.217 45.463 33.377.118
40 anos 1.388.728 1.082.629 1.139.616 614.707 100.579 4.326.259
e mais

TOTAL 42.858.335 10.817.111 3.723.277 1.124.990 147.466 58.671.179

Fonte: Microdados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (IBGE, 2014).

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CÁLCULO DAS
ESTIMATIVAS

Diante do exposto acima, para as estimativas das esperanças de vida ao nascer e da


mortalidade infantil de nove regiões metropolitanas (RMs) do Brasil, consideradas no Atlas
do Desenvolvimento Humano no Brasil, bem como do Distrito Federal, para os anos de 2011,
2012, 2013 e 2014, não foi possível utilizar os dados das PNADs. Para tal, foi calculada uma
relação entre as esperanças de vida ao nascer das regiões metropolitanas e das Unidades da
Federação, ambas estimadas com base no Censo Demográfico de 2010, conforme fórmula 1:
Onde:

e00 ,Reg.Metrop.,2010
=x
e00,UF,2010
(1)

e00 ,Reg.Metrop.,2010 é a esperança de vida ao nascer das regiões metropolitanas no ano de


2010;

e00,UF,2010
é a esperança de vida ao nascer das Unidades da Federação a qual pertence a
região metropolitana, no ano de 2010;

x é a relação entre as esperanças de vida das regiões metropolitanas e de suas respectivas


Unidades da Federação, isto é, um fator de ajuste entre as duas estimativas.

Esse fator de ajuste foi aplicado às esperanças de vida ao nascer das Unidades da Federação,
encontradas nas projeções populacionais realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), para os quatro anos em questão, obtendo-se, portanto, as esperanças de
vida ao nascer das RMs e do Distrito Federal (equação 2):

x*e00 ,proj.,UF,n = e0,Reg.Metrop.,n


0
(2)

Para:
n corresponde aos períodos que se deseja estimar a esperança de vida da região
metropolitana;

e00 ,proj.,UF,n
a esperança de vida ao nascer da Unidade da Federação, projetada pelo IBGE,
para o período n;

e00,Reg.Metrop.,n a esperança de vida da região metropolitana estimada para o período n.


O mesmo procedimento foi adotado para a taxa de mortalidade infantil. Calculou-se uma
relação entre as Taxas de Mortalidade Infantil das regiões metropolitanas e das Unidades da
Federação, ambas estimadas com base no Censo Demográfico brasileiro de 2010, conforme
fórmula 3:

TMI ,Reg.Metrop.,2010
=y (3)
TMI UF,2010

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Onde:

TMI,Reg.Metrop.,2010 é a Taxa de Mortalidade Infantil das regiões metropolitanas no ano de


2010;

TMI UF,2010 é a Taxa de Mortalidade Infantil da Unidade da Federação a qual pertence a


região metropolitana, no ano de 2010;

y é a relação entre as Taxas de Mortalidade Infantil das regiões metropolitanas e de suas


respectivas Unidades da Federação, isto é, um fator de ajuste entre as duas estimativas.

O fator de ajuste foi aplicado às Taxas de Mortalidade Infantil das Unidades da Federação,
encontradas nas projeções populacionais realizadas pelo IBGE, para os anos de 2011, 2012,
2013 e 2014, obtendo-se, portanto, Taxas de Mortalidade Infantil das RMs e do Distrito Federal
(equação 4):

y* TMIproj.,UF, n
= TMIReg.Metrop.,n (4)

Em que:

= TMIUF.,n é a Taxa de Mortalidade Infantil das Unidades da Federação, projetadas pelo


IBGE, para o ano n;

= TMIReg.Metrop.,n é a Taxa de Mortalidade Infantil das regiões metropolitanas estimadas


para o período n.

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Referências
MARTINE, G. et al. A PNAD: notas para uma avaliação. In: SAWYER, D. (Ed.). PNADs em foco:
anos 80. Belo Horizonte: ABEP, 1988. p. 281-305

ROMERO-M.; D.E. Vantagens e limitações do método demográfico indireto e dos dados


da PNAD’98 para estimativas da mortalidade infantil. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE ESTUDOS POPULACIONAIS (ABEP), 13., 2002, Ouro Preto. Anais. Ouro Preto:
ABEP, 2002. p. 218. Disponível em http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2002/
gt_sau_st3_romero_texto.pdf. Acesso em: 08 Jun. 2016.

SOUZA, L. M. Avaliação do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos – SINASC,


Minas Gerais e Mesorregiões, 2000. [Dissertação de Mestrado]. Belo Horizonte: Centro de
Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais; 2004.

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