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História Do Paraná - Concurso Soldado PMPR PDF
História Do Paraná - Concurso Soldado PMPR PDF
ISBN 978-85-7628-403-1
HISTÓRIA
EAD
Conteúdo
1
. Para maiores detalhes sobre esse assunto ver MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos Índios
Kaingang. Maringá: Eduem, 2009.
2
. Cf. LIMA, Antônio C. de Souza. Um grande cerco de paz: poder tutelar e indianidade no
Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995.
Guairá, e logo depois com as bandeiras paulistas, que
invadiram a região capturando índios, e com as atividades
mineradoras no litoral e no primeiro planalto. Prosseguiu no
século XVIII, com a instalação das fazendas de gado nos
Campos Gerais, com a descoberta de ouro e diamantes no
rio Tibagi e com as expedições militares, que construíram
fortificações e transitaram pelo território rumo ao Mato
Grosso. Recrudesceu, nos anos novecentos, com a
ocupação dos campos de Guarapuava, de Palmas e do
sudoeste da Província, e das terras da bacia norte do rio
Tibagi, pelos grandes fazendeiros dos Campos Gerais
paranaenses, na expansão de seus domínios. No século
XX a guerra de conquista continuou, sob o manto da
“colonização pacífica e harmoniosa”, levada adiante pelas
companhias de terras, que ocuparam, lotearam e venderam
os antigos territórios indígenas, com o aval institucional do
Estado do Paraná.
Dessa forma, a ocupação humana do Paraná apresenta,
numa primeira olhada, o aspecto da divisão em fronteiras.
Mas não no sentido de elas serem apenas uma divisa entre
os brancos e os indígenas, uma coluna móvel de
colonização em território novo não colonizado, ou como um
processo de conquista envolvendo a subjugação de não-
europeus por europeus. Mas sim, conforme os recentes
estudos de fronteiras têm apontado, os espaços fronteiriços
são como locais de encontro de populações diferenciadas,
e lócus privilegiado dos fluxos e das trocas culturais. A
fronteira é vista como local não do isolamento e da
separação de culturas (cultura x cultura), mas de
combinações inovadoras, de manejo e de somas culturais
(cultura + cultura), como bem aponta Ulf Hannerz.3.
3
Cf. HANNERZ, Ulf. Fronteras. Revista de Antropologia Experimental, [s.n.], n. 1,
p. 6, 2001. Para uma discussão mais completa sobre essa questão e outras
Assim, as numerosas “fronteiras” existentes no espaço
denominado Paraná não se ajustam ao ideal simplificador
de serem apenas divisores de culturas diferenciadas, entre
o “civilizado” e o “selvagem”, ou uma coluna móvel de
colonização em território novo não colonizado. Mesmo
porque, estudos recentes em Antropologia, História ou
Etno-história têm mostrado que as populações locais
ofereciam resistência, as doenças impediam a penetração
europeia, e a geografia limitava a intrusão estrangeira. Os
colonizadores europeus não impuseram simplesmente suas
culturas em todas as partes do planeta: inúmeros foram os
obstáculos, as derrotas, e inúmeros foram os processos de
negociação, alianças e acordos, que resultaram em fluxos
culturais, hibridismos e mestiçagens que compõem a
história de grande parte das populações do continente
americano e também do Paraná, estabelecendo aqui
processos de relações interculturais ricos e complexos4, o
que pretendemos apresentar na sequência deste livro.
8
Cf. ANDREATTA, Margarida Davina. Notas parciais sobre pesquisas realizadas no planalto
e litoral do Estado do Paraná. In: SIMPOSIO DE ARQUEOLOGIA DO PRATA, 2., 1968,
São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisa; FFCL, 1968. p.
65-76. De acordo com a autora, o material lítico lascado, tanto o encontrado na gruta de
Wobeto, em Manoel Ribas, como o do Sítio José Vieira fazem parte da indústria lítica
lascada, que se estende por toda a bacia do Rio da Prata.
podem ser encontradas em outras partes do território
paranaense, como podemos ver na tabela abaixo.
PARELLADA, C. I. Revisão dos sítios arqueológicos com mais de seis mil anos BP no Paraná: discussões geoarqueológicas.
Fumdhamentos, São Raimundo Nonato, n. 7, p. 118-135, 2008.
9
Daqui em diante, optamos por incorporar parte de um texto feito em parceria com
Francisco Silva Noelli e publicado em outras obras, conjuntas ou separadas.
As populações que viveram no Paraná entre 9 mil a 3
mil anos AP são denominadas, pela Arqueologia, de
caçadores e coletores pré-cerâmicos. Elas foram
substituídas pelas populações indígenas agricultoras e
ceramistas – Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá – a partir
de sua chegada na região, por volta de 3 mil anos AP, e
continuam a viver aqui até hoje.
A Arqueologia classifica essas populações caçadoras
coletoras em três tradições, conforme a Figura 2.
Tradição Humaitá
As populações que os arqueólogos convencionaram
chamar de Tradição Humaitá não deixaram,
aparentemente, descendentes historicamente conhecidos.
Por enquanto, é sabido que ocuparam todos os estados do
sul brasileiro e as regiões vizinhas do Paraguai e da
Argentina, entre 8 mil e 2 mil anos atrás.
Tradição Umbu
Tradição Sambaqui
Os pescadores/coletores do litoral sul do Brasil
ocuparam uma vasta faixa entre o mar e a Serra do Mar,
desde o Rio Grande do Sul até a Bahia, desde 6 mil anos
AP até mil anos depois de Cristo. Seus principais vestígios
são os inúmeros montes – conhecidos por sambaquis – que
construíram intencionalmente com restos alimentares,
adornos, conchas, ferramentas, armas, carvões de antigas
fogueiras, vestígios de sepultamentos humanos e de
antigas moradias.
Construídos tanto em planícies quanto em encostas,
diretamente na areia ou sobre o embasamento rochoso, os
Sambaquis têm ocorrências desde o Rio Grande do Sul até
a Bahia de Todos os Santos, basicamente no interior dos
ambientes lagunares que se apresentam em todo esse
trecho da faixa costeira. As baías, estuários e lagunas
dessa porção do litoral apresentam normalmente grandes
concentrações desses sítios arqueológicos.
A implantação dos Sambaquis nesses ambientes
estuarinos não foi fortuita: ela se deu devido à existência de
várias espécies de peixes, moluscos, crustáceos e outros
animais, componentes riquíssimos da dieta alimentar
desses grupos humanos.
Figura 5: Sambaquis do litoral sul do Brasil. Fonte Gaspar: (2000, p. 49-53).
As populações ceramistas
agricultoras - populações indígenas
históricas
10
. Cf.MOTA, Lucio Tadeu. Os índios Kaingang e seus territórios nos campos
do Brasil meridional na metade do século passado. In: Uri Wãxi: estudos
interdisciplinares dos Kaingang. Londrina, Eduel, 2000.
24
Ancorados nas informações arqueológicas
podemos afirmar que a região da bacia do rio
Paraná e de seus afluentes da margem esquerda
onde é hoje o estado do Paraná foi densamente
povoada, até a chegada dos espanhóis e
portugueses, por populações caçadoras/coletoras
pré-ceramistas e pelos agricultores ceramistas,
principalmente os falantes do guarani.11
1.1.1.1.1
i
o
1.1.1.1.2
1.1.1.1.3
unicí
Da Síti L M o
pio
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Estad
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e
m
11
Existem ainda informações arqueológicas sobre a presença de vestígios
cerâmicos diferentes das tradições discutidas acima, e também existem
informações históricas sobre a presença de populações não-Guarani e
não-Kaingang principalmente na margem direita do médio Paranapanema.
São informações importantes para o entendimento da ocupação da região,
as quais discutiremos em outra oportunidade.
25
20 PR/F S Es Foz do Chmy
10 ± 75 I/140 I 5028 querda Iguaçu - Pr z 1983
16 PR/F S Es Foz do Chmy
25 ± 60 I/118 I 5021 querda Iguaçu - Pr z 1983
15 PR/F S Es Foz do Chmy
65 ± 70 I/99 I 5019 querda Iguaçu - Pr z 1983
13 PR/F S Es Foz do Chmy
95 ± 60 I/142 I 5033 querda Iguaçu - Pr z 1983
12 PR/F S Es Foz do Chmy
35 ± 60 I/97 I 5016 querda Iguaçu - Pr z 1983
74 PR/F S Es Foz do Chmy
5 ± 75 I/140 I 5027 querda Iguaçu - Pr z 1983
70 PR/F S Es Foz do Chmy
0 ± 55 I/112 I 5036 querda Iguaçu - Pr z 1983
62 PR/F S Es Foz do Chmy
5 ± 55 I/100 I 5020 querda Iguaçu - Pr z 1983
60 PR/F S Es Foz do Chmy
0 ± 60 I/103 I 5029 querda Iguaçu - Pr z 1983
59 PR/F S Es Foz do Chmy
0 ± 55 I/127 I 5024 querda Iguaçu - Pr z 1983
41 PR/F S Es Foz do Chmy
5 ± 75 I/104 I 5032 querda Iguaçu - Pr z 1983
39 PR/F S Es Foz do Chmy
5 ± 60 I/142 I 5034 querda Iguaçu - Pr z 1983
34 PR/F S Es Foz do Chmy
0 ± 60 I/118 I 5023 querda Iguaçu - Pr z 1983
25 PR/F S Es Foz do Chmy
5 ± 80 I/97 I 5017 querda Iguaçu - Pr z 1983
23 PR/F S Es Foz do Chmy
0 ± 80 I/22 I 5015 querda Iguaçu - Pr z 1983
20 PR/F S Es Foz do Chmy
5 ± 80 I/118 I 5022 querda Iguaçu - Pr z 1983
19 PR/F S Es Foz do Chmy
0 ± 75 I/98 I 5018 querda Iguaçu - Pr z 1983
? ± PR/F S Es Foz do Chmy
195 I/141 I 5031 querda Iguaçu - Pr z 1983
49 PR/F S Es Guaíra - Chmy
0 ± 60 O/3 I 5040 querda Pr z 1983
76 PR/F S Es Guaíra - Chmy
0 ± 40 O/4 I 5039 querda Pr z 1983
47 MT/ S Dir Bataiporã Chmy
5 ± 45 IV/1 I 1017 eita - MS z 1974
18 MT/ S Dir Bataiporã Chmy
26
0 ± 60 IV/1 I 1018 eita - MS z 1974
11 MT/ S Dir Bataiporã Chmy
0 ± 60 IV/2 I 1019 eita - MS z 1974
26 MT/ S Dir Bataiporã Chmy
0 ± 70 IV/1 I 1016 eita - MS z 1974
23 MS/ F Dir Anaurilând Kashi
9 ± 10 PR/13 ATEC eita ia - MS moto 1997
24 MS/ G Dir Anaurilând Kashi
0 ± 30 PD/06 sy eita ia - MS moto 1997
27 MS/ F Dir Anaurilând Kashi
5 ± 20 PD/07 ATEC eita ia - MS moto 1997
42 MS/ F Dir Anaurilând Kashi
5 ± 25 IV/08 ATEC eita ia - MS moto 1997
43 MS/ F Dir Anaurilând Kashi
2 ± 32 PD/04 ATEC eita ia - MS moto 1997
24 MS/ F Dir Bataguaçu Kashi
5 ± 15 PR/41 ATEC eita - MS moto 1997
28 MS/ F Dir Bataguaçu Kashi
0 ± 15 PR/46 ATEC eita - MS moto 1997
37 MS/ F Dir Bataguaçu Kashi
0 ± 20 PR/22 ATEC eita - MS moto 1997
48 MS/ F Dir Bataguaçu Kashi
0 ± 30 PR/26 ATEC eita - MS moto 1997
56 MS/ F Dir Bataguaçu Kashi
5 ± 32 PR/55 ATEC eita - MS moto 1997
58 MS/ F Dir Bataguaçu Kashi
0 ± 40 PR/39 ATEC eita - MS moto 1997
62 MS/ F Dir Bataguaçu Kashi
5 ± 40 PR/35 ATEC eita - MS moto 1997
14 MS/ F Dir Brasilândi Kashi
93 ± 100 PR/85 ATEC eita a - MS moto 1997
12 MS/ F Dir Brasilândi Kashi
48 ± 100 PR/64 ATEC eita a - MS moto 1997
10 MS/ G Dir Brasilândi Kashi
15 ± 75 PR/64 sy eita a - MS moto 1997
48 MS/ F Dir Três Kashi
0 ± 30 PR/98 ATEC eita Lagoas - MS moto 1997
90 MS/ F Dir Três Kashi
9± 80 PR/90 ATEC eita Lagoas - MS moto 1997
Rio Ivaí
Da Síti L 1.1.1.1.4
1.1.1.1.5 1.1.1.1.6
27
ta A.P. o ab. nº i unicí o
o pio - nt
Pr e
M
a
r
g
e
m
13 José G Esq Cidade Empe
80 ± 150 Vieira sy 81 uerda Gaúcha raire, 1968
54 PR/ S Dir Mirador Broch
0 ± 60 QN/2 I 697 eita ado 1973
10 PR/ S Esq Indianópol Broch
65 ± 95 ST/1 I 695 uerda is ado 1973
61 PR/ S Esq Indianópol Broch
0 ± 120 ST/1 I 696 uerda is ado 1973
30 PR/F S Dir Paraíso do Broch
0 ± 115 L/5 I 693 eita Norte ado 1973
47 PR/F S Dir Paraíso do Broch
0 ± 100 L/5 I 694 eita Norte ado 1973
13 PR/F S Dir Doutor Broch
5 ± 120 L/13 I 698 eita Camargo ado 1973
14 PR/F S Dir Doutor Broch
90 ± 45 L/21 I 1011 eita Camargo ado 1973
56 PR/F S Dir Doutor Broch
0 ± 60 L/23 I 700 eita Camargo ado 1973
59 PR/F S Dir Doutor Broch
0 ± 70 L/15 I 699 eita Camargo ado 1973
Rio Paranapanema
1.1.1.1.8
1.1.1.1.7
1.1.1.1.9
i unicí
Da Síti L o
o pio/E
ta A.P. o ab. nº nt
stad
e
M o
28
a
r
g
e
m
53 PR/ S Esq Diamante Chmy
0 ± 55 NL/7 I 6400 uerda do Norte - Pr z 1986
± Alvi Dir Pirapozinh Kashi
930* m eita o - Sp moto 1997
±1 Ragi F Dir Iepê - Sp Facci
668* l ATEC eita o 1998
11 SP/ S Dir Iepê - Sp Chmy
30 ± 150 AS/14 I 422 eita z 1969
± Ragi F Dir Iepê - Sp Facci
1093* l 2 ATEC eita o 1998
98 SP/ S Dir Iepê - Sp Smith
0 ± 100 AS/14 I 709 eita sonian
± Nev F Dir Iepê - Sp Facci
755* es ATEC eita o 1998
* = datado por termoluminescência;
29
As populações indígenas no Paraná
Kaingang Guarani
-
Tronco lingüístico
Tradições Pré
Cerâmicas -
Tronco lingüístico
Macro-Jê Tupi
incorporadas
Xokleng Xetá
-
Tronco lingüístico -
Tronco lingüístico
Macro-Jê Tupi
Os Guarani
30
da América do Sul indica que os Guarani vieram
das bacias dos rios Madeira e Guaporé. A partir
daí, ocuparam continuamente diversos territórios
ao longo das bacias dos rios Paraguai e Paraná
até alcançar Buenos Aires, distante
aproximadamente 3 mil km do seu centro de
origem. Expandiram-se ainda para a margem
esquerda do Pantanal, nos atuais estados de São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul. Também ocuparam o Uruguai e o Paraguai.
Conforme as datações já obtidas, excetuando o
Uruguai, a foz do Rio da Prata e o litoral sul
brasileiro, as demais regiões citadas foram
ocupadas desde há pelo menos 2.500 anos AP.
Mantiveram esses territórios até a chegada dos
primeiros europeus, que, a partir de 1504,
registraram em centenas de documentos os
limites desse vasto domínio.
Os Guarani ocuparam os vales e as terras
adjacentes de quase todos os grande rios e de
seus afluentes. Raramente estabeleciam suas
aldeias e rocas em áreas campestres. A maioria
dos sítios arqueológicos da Tradição Tupi-guarani
estão inseridos em áreas cobertas por florestas,
seguindo o padrão de estabelecer as aldeias e as
plantações em clareiras dentro da mata.
Como se pode constatar na bibliografia
especializada sobre os Guarani, eles possuíam
um padrão para ocupar novas áreas, sem, no
entanto, abandonar as antigas. Os grupos locais
se dividiam, com o crescimento demográfico, ou
por divisões políticas, indo habitar áreas
próximas, previamente preparadas por meio de
manejo agroflorestal, isto é, abriam várias
31
clareiras para instalar a aldeia e as plantações,
inserindo seus objetos e plantas nos novos
territórios. Assim como trouxeram suas casas,
vasilhas cerâmicas e outros objetos, os Guarani
também trouxeram de seus locais de origem
diversas espécies de vegetais, úteis para vários
fins (alimentação, remédios, matérias-primas
etc.), contribuindo para o aumento da
biodiversidade florística do sul do Brasil.
33
Figura 8: Fragmento cerâmico Guarani. Acervo:
Laboratório de Arqueologia, Etnologia e
Etno-história da UEM. Foto: Lúcio Tadeu
Mota
Os Xetá
34
John H. Elliot – empregados do Barão de
Antonina – fizeram contato com alguns deles nas
imediações da foz do rio Corumbataí, no Ivaí.
Posteriormente, em 1872, o engenheiro inglês
Thomas Bigg-Whiter capturou um pequeno grupo
nas proximidades do Salto Ariranha, também no
rio Ivaí. No início do século XX, em 1910, Albert
V. Fric ouviu dos Kaingang a informação da
presença de pequenos grupos Xetá no interflúvio
dos rios Ivaí e Corumbataí, muito acima do local
onde os Xetá foram contatados nos anos de
1950. Junto ao grupo Kaingang do cacique
Paulino Arak-xó, que vivia no salto Ubá, Fric
encontrou cativos Xetá, com os quais efetuou um
primeiro registro de vocabulário.
Esses locais de caça e coleta, os encontros
e confrontos com os exploradores do rio Ivaí, e os
conflitos com os Kaingang, que resultavam em
capturas e dispersão dos Xetá, fazem parte da
memória de sobreviventes Xetá mais velhos. Um
deles teve seu pai capturado no início do século
XX, porém conseguiu fugir e retornou para seu
grupo familiar na região da Serra dos Dourados
(SILVA, 1998, 2003).
Nessas primeiras décadas do século XX
muitos outros contatos foram noticiados, mas na
região conhecida como Serra dos Dourados,
onde hoje estão implantados os municípios de
Umuarama, Ivaté, Douradina, Icaraíma, Maria
Helena, Nova Olímpia, entre outros, é que se deu,
a partir de 1954, 1955 e mais principalmente em
fevereiro de 1956, o mais documentado encontro
com um grupo Xetá, que ocorreu entre
professores da UFPR e membros do Serviço de
35
Proteção ao Índio-SPI da 7ª Regional de Curitiba
e dois meninos12 Xetá, capturados em 1952 por
agentes das Companhias de Colonização.
Apesar dos esforços dos professores da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), do
Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI)
e de funcionários do SPI, o Governo do Estado do
Paraná vendeu os territórios Xetá para as
Companhias de Colonização, que os lotearam
para revenda aos interessados no cultivo de café
na região.
Até a década de 1990 os Xetá eram tidos
pelo órgão indigenista brasileiro Fundação
Nacional do Índio – FUNAI – como grupo extinto
ou quase extinto, pois constam nos seus dados
populacionais apenas cinco pessoas. No entanto,
a pesquisa antropológica de Carmen Lúcia da
Silva apontou que, ao contrário do que se
afirmava nos levantamentos oficiais, os Xetá não
estavam extintos.
Em 1997, por solicitação dos Xetá, foi
realizado o primeiro encontro dos seus
sobreviventes em Curitiba, intitulado “Encontro
Xetá: Sobreviventes do Extermínio”, com o apoio
do Instituto Socioambiental (ISA) e do Museu de
Arqueologia e Etnologia da UFPR (MAE), do qual
participaram todos os sobreviventes do grupo,
crianças, jovens, mais velhos e cônjuges, além do
Prof. Dr. Aryon Dall’Igna Rodrigues, que efetuou
os primeiros estudos da língua Xetá junto a um
grupo familiar na década de 1960 (1960, 1961 e
posteriormente em 1967).
12
Um deles viveu até o ano de 2008 e foi um dos colaboradores ativos do
estudo de Silva (1998; 2003).
36
Como resultado desse encontro, os Xetá
solicitaram o seu reconhecimento enquanto
pertencentes à etnia Xetá e a retificação de seus
nomes nos registros civis, levando em conta os
registros que já vinham trabalhando na pesquisa
antropológica, os quais apresentavam como se
dava o sistema de nominação do grupo. Também
colocaram em pauta a indenização financeira de
suas perdas e a recuperação de seus territórios
tradicionais, na Serra dos Dourados, bem como
reivindicaram o retorno a seu território de origem,
nominando-o como Terra Indígena Herarekã
Xetá.
Atualmente os Xetá somam
aproximadamente 100 (cem) pessoas, em 25
(vinte e cinco) famílias. Estão em processo de
luta para que seu território tradicional seja
reconhecido junto à FUNAI, para que seus
direitos sejam reconhecidos e para se
reconstituírem enquanto povo e revitalizarem sua
cultura. Além da demanda para reaverem parte
de seus territórios, os Xetá solicitaram ao Estado
do Paraná um atendimento especifico e
diferenciado de: educação escolar indígena
bilíngue Português/Xetá; o ensino da sua história
na escola; produção de literatura e materiais
didáticos que retratem a realidade do povo,
trazendo inclusive a memória coletiva da antiga
sociedade narrada por seus pais, hoje
considerados “guardiões da memória Xetá”
(SILVA, 1998; 2003).
37
Os Kaingang
38
denominados Paraná, foi possível conhecer
parcialmente a toponímia empregada pelos
Kaingang para nominar seus territórios: Koran-
bang-rê (campos de Guarapuava); Kreie-bang-rê
(campos de Palmas); Kampo-rê (Campo Ere –
sudoeste); Payquerê (campos entre os rios Ivaí e
Piquiri, hoje nos município de Campo Mourão,
Mamborê, Ubiratã e outros, adjacentes);
Minkriniarê (campos de Chagu, oeste de
Guarapuava, no município de Laranjeiras do Sul);
campos do Inhoó (em São Jerônimo da Serra).
Figura 9
39
Os Xokleng
REFERÊNCIAS
40
A AURORA da humanidadearaná: História,
cidades, povoação, evolução. São Paulo, Time
Life; Abril Cultural, 1993.
41
HANNERZ, Ulf. Fronteras. Revista de
Antropologia Experimental, [s.n.], n.1, p. 6.
2001.
Atividades:
43
CAPITULO II O GUAIRÁ: A CONQUISTA E
AS RELAÇÕES INTERCULTURAIS NOS
TERRITÓRIOS INDÍGENAS NO PARANÁ, DE
1500 A 1630
Introdução
13
Especialista pela UEM em Arqueologia, Etnologia e Etno-História do
Paraná, Mestre em História pela UEM, Profª. da Rede Estadual de Ensino, Núcleo de
Educação de Maringá, Pesquisadora no Programa Interdisciplinar de Estudos de
Populações – Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História – UEM. E-mail:
nadiachagas@yahoo.com.br
14
Professor Associado no Departamento de História da Universidade
Estadual de Maringá, e pesquisador no Programa Interdisciplinar de Estudos de
Populações – Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História - UEM. ltmota@uem.br
ltmota@terra.com.br
44
que inicia com a chegada dos europeus ao litoral
meridional da América do Sul.
Para conhecermos a história de períodos
mais remotos sobre a região temos que recorrer à
historiografia clássica da Bacia Platina, sobre a
história do Paraguai e da Argentina, e também a
estudos sobre os bandeirantes paulistas.
A relevância dessa historiografia está no
debate sobre a ocupação do atual Paraná e no
reconhecimento das populações que aqui viviam,
a fim de se desmistificarem algumas ideias, como
a de que a região era um deserto a ser
desbravado.
A ocupação dos territórios do atual Paraná e
as relações interculturais ocorridas entre o início
da colonização até o século XVII possibilitam
compreender os contatos que ocorreram antes e
depois da chegada dos europeus. Ou seja, é
possível reconstruir a história de povos que foram
considerados etnocentricamente como sem
história, por não dominarem a escrita
O importante nos estudos da ocupação
desses territórios é determinar o impacto da
conquista sobre as sociedades indígenas que
aqui viviam, procurando se entender como se
desenvolveram as estruturas sociais e
compreender que os europeus não foram os
únicos sujeitos que fizeram a história desta parte
do continente americano.
A história da conquista dos territórios entre
os rios Paranapanema e Iguaçu, os quais mais
tarde se tornariam o Estado do Paraná, está
presente em alguns autores clássicos da
historiografia paranaense, dentre os quais se
45
destacam: Silveira Neto, que escreveu no início
do século XX; David Carneiro, um dos que mais
escreveu sobre o Paraná; Romário Martins, autor
da ideia do paranismo; Faris A. S. Michaelle, que
aborda a presença indígena e as dificuldades que
tornavam seu estudo difícil; Altiva P. Balhana,
Brasil P. Machado e Cecília M. Westphalen, que
tratam da descoberta do ouro e da procura do
indígena para o trabalho no estabelecimento do
português; Ruy C. Wachowicz, com sua
publicação didática sobre a História do Paraná.
Na década de 1980, Cecília M. Westphalen e
Jaime A. Cardoso publicaram o Atlas Histórico do
Paraná. Existem ainda outras obras mais
recentes, na década de 1990, como a de Maria
A.M.S. Schmidt, que apresenta em publicação
paradidática uma História do Paraná, e ainda a de
Sérgio O. Nadalin, sobre a ocupação do território.
Pode-se dizer que algumas das obras mais
antigas seguem uma mesma linha de estudo:
indo da chegada dos europeus à formação de
vilas e povoações em regiões consideradas como
despovoadas, prontas para serem ocupadas, não
contando com a presença do indígena, o que
justificaria, assim, a prática da conquista dos
territórios empreendida pelos europeus. Havia, na
verdade, uma política de omissão com respeito
aos povos indígenas, segundo a qual os
europeus acreditavam que, se não podiam fazer
esses povos desaparecerem, eles seriam então
integrados.
46
Uma historiografia mais recente15 discute a
ocupação do Guairá como uma guerra de
conquista, ou seja, a exploração das populações
indígenas pelos conquistadores não foi sem
obstáculos como afirmam muitos autores, e a
conquista dos seus territórios também não
ocorreu de forma pacífica. Em todos os
momentos, e por várias etnias, a resistência foi
renhida e sangrenta. O território do Guairá, que
compreendia quase todo o Paraná, foi local de
trânsito de portugueses e espanhóis que iam e
vinham de Assunção em direção às vilas do litoral
brasileiro, palco de guerras variadas e
constantes. A conquista desses territórios foi feita
palmo a palmo, com o uso da espada, do
arcabuz, da besta, da cruz, de doenças e de
acordos. Alianças foram estabelecidas e
rompidas, e de ambas as partes fidelidades foram
sacramentadas e traições meticulosamente
planejadas.
• O território
Por ocasião da expansão marítima, havia
uma divergência entre Portugal e Espanha sobre
os limites das terras que conquistaram. Isso levou
à assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494),
15
Conferir os trabalhos de Lúcio Tadeu Mota, Francisco Noelli e outros
pesquisadores sediados no Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações –
Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história da Universidade Estadual de Maringá.
47
segundo o qual o mundo ficaria dividido entre as
duas metrópoles coloniais, ou seja, as terras
descobertas e a descobrir seriam divididas entre
as duas nações. Pelas determinações desse
tratado, uma linha imaginária passaria a 360
léguas da Ilha de Cabo Verde, e todas as terras
que estivessem a leste pertenceriam a Portugal; e
a oeste, à Espanha.
O território do atual Paraná estava localizado
a ocidente dessa linha, mas não havia
concordância entre espanhóis e portugueses
quanto à divisão. Para
16
Cf. MARTINS, 1995b, p. 59.
48
espanhóis, ficando para os portugueses uma
pequena faixa de terra do litoral.
Informações detalhadas sobre o Guairá são
encontradas nos escritos do historiador e
conquistador Ruy Diaz de Guzmán, sobrinho-neto
de Don Álvar Nuñes Cabeza de Vaca, o primeiro
espanhol que passou por essas terras e as
denominou de Província de Vera. Para o autor, o
território correspondia aos [...] campos que corren
y confinan com el Río de la Plata, que llaman de
Guayra.17
O delineamento do Guairá também é
encontrado nos escritos do Padre Nicolas del
Techo, segundo o qual
17
. Cf. GUZMÁN, Ruy Diaz de 1836, p. 32 e 67. Com respeito a essa
demarcação, na mesma obra, no Índice Geográfico e Histórico, p. 392, existe a explicação
de que o Guairá era um “[...] Vasto e inculto território entre las províncias meridionales del
Brasil y el Paraguay y tan poco conocido que no es posible demarcar sus limites [...]”, ou
seja, o autor erra quando diz que a região limitava-se com o Rio da Prata.
18
Cf. TECHO, Nicolas del. [1673], 2005, p. 196),
49
Figura 1. Mapa do Guairá
Fonte: Ramon Cardoso, 1918
• O encontro
Como vimos no capitulo anterior, o sul do
Brasil e mais especificamente o Paraná, quando
da chegada dos europeus, estava habitado pelas
populações falantes do tronco linguístico Tupi, no
caso os Guarani e Xetá, e os falantes das línguas
do tronco Macro-jê, os Kaingang e Xokleng.
Dessa forma, os marinheiros que desembarcaram
dos navios espanhóis e portugueses na costa sul
do Brasil fizeram contato primeiro com os Carijós,
como eram chamados os Guarani, e quando eles
começaram a percorrer o interior passaram a ter
contatos com populações de fala diferente dos
Carijós, os grupos falantes do tronco linguístico
Jê, hoje conhecidos como Kaingang e Xokleng.
50
Os primeiros contatos de europeus com as
populações indígenas no Guairá ocorreram a
partir do início do século XVI, quando os navios
portugueses e espanhóis começaram a aportar
no litoral sul. Esses navegantes procuravam, num
primeiro momento, uma passagem para as Índias,
até que em 1520 Fernão de Magalhães cruzou o
estreito que levaria seu nome, no extremo sul do
continente, e alcançou o objetivo de chegar às
Índias navegando para o ocidente. A partir da
descoberta de ouro e prata no Peru, o principal
objetivo desses europeus era chegar ao Império
Inca, e para isso a travessia do território do
Guairá era uma opção se não quisessem
contornar todo o sul até o Rio da Prata e subir o
rio Paraguai.
Dessa forma é que os navegadores
realizaram contato com os Guarani, e com eles
fizeram as primeiras trocas comerciais. Objetos
vindos da Europa, principalmente artefatos de
metais, foram trocados por comida, lenha, peles
de animais, pássaros e outras raridades de
interesse dos marujos. Também deixaram no
litoral os “desterrados”, ou “náufragos”. Nesse
momento pode-se constatar que relações entre
povos diferentes ocorreram em torno dessas
trocas, e o objetivo de descobrir se havia metais
preciosos na região aceleraram esses contatos.
Pelo lado dos portugueses e espanhóis, a busca
de metais, pedras preciosas e outras mercadorias
de valor a serem comercializadas na Europa; e
pelo lado dos indígenas, a possibilidade de
acessar ferramentas de metal e outros objetos
trazidos da Europa foram o motor dessas
51
relações interculturais, de populações
diferenciadas culturalmente, no Guiará.
Foram inúmeras as armadas e embarcações
vindas da Europa que passaram no litoral sul do
Brasil ou aí aportaram, nos primeiros 30 anos da
conquista.
52
Jaques fora
nomeado guarda- costa do
1 Cabo Frio,
Cristóv 3 Brasil, pelo Rei de Portugal.
516/08/ Rio de Janeiro,
ão Jaques Naus Perseguiu os espanhóis e
00 Santa Catarina
franceses que aportaram
na costa brasileira
4 Contornou o estreito
1 Fernan Naus e Rio de que levou seu nome na
519/12/ do de 1 Janeiro, Rio da Patagônia
13 Magalhães Caravel Prata (1520/01/11)
a
Em SC recolheu
Melchior Ramires, um dos
náufragos da expedição de
Solis, e subiram 200 Km
1 2 acima no rio Prata, na Ilha
Cristóv Santa
521/00/ Caravel de São Gabriel, onde
ão Jaques Catarina
00 as encontrou Francisco Del
Puerto. Subiu o rio mais
140 Km, até onde hoje é a
cidade argentina de
Rosário
Estavam
Jofre
1 percorrendo a rota de
de Loyasa, Porto dos
526/08/ Magalhães, e por mau
D.Rodrigo de Patos SC
00 tempo tiveram que voltar às
Acuña
costas do Brasil
Caboto encontrou
Henrique Montes, náufrago
de Solis, que lhe deu
1 Sebasti
3 Santa noticias da expedição de
526/10/ ão Caboto
Naus Catarina Aleixo Garcia ao Peru.
31 (Veneziano)
Caboto entrou no rio da
Prata, navegou os rios
Paraguai e o Paraná
Encontrou com
1 1 São Vicente,
Diego Caboto descendo o rio
528/05/ Nau e 1 Cananéia(1528/01/
Garcia Paraná. Seu destino era as
07 Galeão 15),
Ilhas Molucas na Ásia
1 Pero Lopes subiu o
Galão, Percorreu o rio Paraná e na volta
1 Martin
2 Naus, litoral sul do Brasil estiveram na Baía de
531/01/ Afonso de
2 até Punta Del Paranaguá
00 Souza
Caravel Leste, no Uruguai.
as
1 Pedro Percorreu o
53
535/00/ de Mendonça litoral sul do Brasil
00 e foi fundar a
cidade de Buenos
Aires
54
chegou aos ouvidos dos primeiros cronistas
19
espanhóis em Assunção, no Paraguai.
Interessado em buscar riquezas no sertão,
Martim Afonso de Souza enviou de Cananeia, a
Francisco de Chaves e Pero Lobo juntamente
com 80 homens, rumo ao interior do Paraná, por
terra. Esses homens foram mortos pelos Guarani
em algum lugar entre Sete Quedas e Foz do
Iguaçu, provavelmente em 1531. Podem ter
seguido os mesmos caminhos percorridos por
Aleixo Garcia.
Dez anos depois, quando já havia sido criada a
cidade de Nossa Senhora de Assunção, a capital
do Paraguai, Dom Alvar Nuñez Cabeza de Vaca,
após várias aventuras na América do Norte, veio
tomar posse e comandar a província do Paraguai,
em nome do Rei da Espanha. Desembarcou na
ilha de Santa Catarina, e no final de 1541,
partindo da foz do rio Itapucu, rumou para
Assunção no Paraguai, aonde chegou quatro
meses depois, acompanhado por 250
arcabuzeiros e balesteiros. Durante a expedição
foi acompanhado por centenas de índios Guarani.
A cada novo território que ingressava a expedição
dispensava os acompanhantes do território
anterior, e mediante pagamentos em espécie
(machados, contas, etc.) integrava novos guias
para o percurso seguinte. Subiram a Serra do
Mar, alcançaram o rio Negro (na altura de Rio
Negrinho - SC) e desceram até a sua
desembocadura, no rio Iguaçu. Para contornar o
19
Cf. GUZMÁN, Ruy Diaz de. La Argentina. Emece, Buenos Aires, [s.n.,
]1998, p. 50-59.
55
território dos Kaingang20 tiveram de atravessar o
rio Iguaçu e se dirigiram a noroeste em direção às
cabeceiras do rio Tibagi. Nas proximidades da foz
do rio Iapó no Tibagi, na atual cidade de Tibagi, a
expedição dirigiu-se para oeste até chegar ao rio
Ivaí. Dali Cabeza de Vaca rumou para o
sudoeste, atravessando o rio Piquiri até alcançar
o rio Iguaçu, a poucos quilômetros de sua foz, de
onde seguiram até Assunção.
O relato de Alvar Nunez Cabeza de Vaca é
importante na medida em que descreve, ao longo
de sua expedição, o contato e a entrada em
territórios pertencentes a diferentes grupos
Guarani, e desvia no seu trajeto dos territórios
Kaingang em Guarapuava e Palmas. Esse foi o
primeiro documento a informar que quase todo o
interior do Paraná estava habitado e, ao mesmo
tempo, a mostrar que havia uma divisão política
entre esses diversos grupos de mesma matriz
cultural, organizados politicamente em
21
cacicados. E ainda que indiretamente, devido à
imensa volta que a expedição fez não seguindo o
vale do rio Iguaçu, isso nos dá uma noção da
extensão do território dominado pelos Kaingang
nos Koran-bang-rê (Campos de Guarapuava).
20
. O Barão de Capanema sustenta que Cabeça de Vaca deu uma volta de
mais de 80 léguas, evitando seguir diretamente pelas margens do rio Iguaçu ou pelos
campos de Guarapuava ao norte, e os campos de Palmas ao sul desse rio, porque esses
eram territórios ocupados por índios ferozes, mais valentes que os guaranis. Cf.
CAPANEMA. Questões a estudar em relação aos princípios da nossa história. RIHGB,
52(1):499-509. Cabeza de Vaca evitou transitar pelos territórios dos Kaingang, por isso
desviou-se dos Koran-bang-rê (campos de Guarapuava) e dos Kreie-bang-rê (campos de
Palmas) e seguiu o caminho indicado pelos Guarani ao norte.
21
Conjunto de aldeias sob a liderança de um prestigioso cacique, que
dominava certas porções de territórios bem definidos.
56
Rota aproximada da expedição de
Dom Alvar Alvar Núñez Cabeza de Vaca - 1541
Programa Interdisciplinar de E studos de Populações
Paran Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História
Rio ap ane
ma Universidade Estadual de Maringá
Cartas Topográficas do
Rota da Expedição de Fevereiro de 2011 Estado do Paraná
Cabeza de Vaca - 1541 Relatos do Cabeza
de Vaca
Autores: Éder da Silva Novak; Everson Cézar; Juliano Martins da Silva
Marcelo Luiz Chicati; Marcos Rafael Nanni; Lúcio Tadeu Mota
á
ra n
Pa
Rota da Expedição de
Cabeza de Vaca
Rio
Rio
Rios
Rio
Tib
gia
Iva
Rio
í
P iq
uiri
Rio
P/ Assunção
Igu
aç
u
Rio Itapocú SC
Figura 2: Rota aproxim ada da expedição de Dom Alvar Alvar Núñez C abeza de Vaca - 1541
57
[...] nos disseram que o porto onde
estávamos era Supraway, que
estávamos a 18 léguas de uma ilha
chamada S. Vicente, [...] La moravam
eles e aqueles outros que tínhamos
visto no barco pequeno a fugirem por
pensarem que eramos franceses.
Perguntamos também a que distância
ficava a ilha de Santa Catarina, para
onde queríamos ir. Responderam que
podia ser umas trinta milhas para o
Sul e que lá havia uma tribo de
selvagens chamados Carios e que
tivéssemos cautela com eles. Os
selvagens do porto onde estávamos
chamavam-se Tuppin Ikins
22
(STADEN, 2000, p. 38-39).
22
Cf. STADEM, Hans. Duas viagens ao Brasil. São Paulo: Beca, 2000. p.
38-39
58
Figura 3: Superagui – Xilogravura de Hans Staden
Fonte: (STADEM, 2000, p 38).
59
Ainda nesse ano, Cristoval de Saavedra
atravessou a região indo do Paraguai até o porto
de São Vicente, em São Paulo. No ano seguinte,
Hernando de Salaza também fez o mesmo
roteiro, de Assunção no Paraguai até o porto de
São Vicente, em São Paulo. Esse também foi o
roteiro percorrido por Ulrich Schmidl, no mesmo
ano. Ele partiu de Assunção em 1552,
acompanhado de 20 índios Guarani, com destino
ao porto de Santos, aonde chegou em 1553.
Ruy Dias Melgarejo, em 1553/1554, percorreu
duas vezes o interior do Paraná, desde Ontiveros
até São Vicente, e regressou em 1555, partindo
do litoral, em Santa Catarina, e seguindo o
mesmo roteiro de Cabeza de Vaca, pois ele havia
participado em 1541 da expedição de Don Alvar
Nunez. Melgarejo teve um destacado papel entre
os conquistadores espanhóis no interior do
Paraná, pois conduziu a fundação de Ciudad Real
del Guairá (foz do rio Piquiri, município de Terra
Roxa) e participou da segunda fundação de Villa
Rica del Spiritu Sancto, junto à foz do rio
Corumbataí, município de Fênix, hoje Parque
Estadual de Vila Rica do Espírito Santo23.
O ano de 1555 foi marcado por várias
ocorrências nesses territórios. Francisco de
Gambarrota veio do Paraguai até o porto de São
Vicente, em São Paulo. Nuflo Chaves saiu de
Assunção para combater e apresar índios no
Guairá, e Juan de Salazar e Cipriano de Góes
fizeram o caminho inverso, partindo de São
Vicente para o Paraguai.
23
. FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de bandeirantes e
sertanistas do Brasil. [S.l.: s.n.],, 1954. p. 241.
60
No ano de 1588 os padres Manuel Ortega e
Thomas Fields percorreram o Guairá fazendo
trabalho missionário. A expedição dos padres
coletou informações sobre a região, e os dados
foram passados ao governador de Assunção,
relatando sobre a existência de “milhares de
índios Guarani” vivendo ali (MOTA, 2005,p. 25).
Como se viu, todos os viajantes informaram
sobre a existência de numerosos índios no
território, inclusive de grupos distintos –
Kaingang, além dos Guarani, que predominavam
na região. Os contatos muitas vezes resultaram
em lutas e morte, tanto de portugueses quanto de
espanhóis, pelos índios, mas também em
conquista e desagregação dos indígenas, por
meio dos europeus. Praticamente nada ocorreu
de forma pacífica, havendo resistência por parte
dos indígenas.
Nesse contexto é que os espanhóis
procuraram dominar e estabelecer-se cada vez
mais para o ocidente do Paraná, para defender as
terras segundo o Tratado de Tordesilhas de 1494.
Nessa região eles fundaram Ontiveros, perto da
foz do Piquiri (1544); Ciudad Real del Guairá, na
confluência do Piquiri, no Paraná (1555), e Vila
Rica del Espiritu Santu, em 1576, que foi
transferida para perto da foz do rio Corumbataí,
hoje no município de Fênix (Parque Estadual de
Vila Rica do Espírito Santo)
As relações entre os espanhóis nas recém-
fundadas vilas e os Guarani, que eram
numerosos, não eram boas, pois os indígenas
foram obrigados ao trabalho nas encomiendas, o
que provocou diversas formas de resistências.
61
Essas resistências e a fuga para locais distantes
das vilas espanholas levou parte dos
conquistadores, no caso os religiosos, a traçarem
uma nova estratégia para a conquista das almas
dos indígenas. Essa nova estratégia foi a
organização das reduções jesuíticas como forma
de catequizá-los.
• Caminhos
62
deles ficaram conhecidos como Caminho do
Peabiru, de Cubatão, do Itupava e do Arraial, de
Sorocaba e Viamão. Este último teve grande
importância na formação de diversas cidades do
Paraná Velho, indo ele do Rio Grande do Sul até
Sorocaba, atravessando o Paraná.
63
15 Nuflo de
Assunção
52 Chaves
15 Paraguai para São Hernando de
52 Vicente Salazar
15 Paraguai para São Ulrich
52 Vicente Schmidl
15 Ontiveros para Ruy Dias
54 São Vicente Melgarejo
15 Assunção para o Nuflo de
55 Guairá Chavez
15 Assunção para o Rodrigo de
55 Guairá Vergara
15 João de
Paraguai
55 Salazar e Espinosa
15 Paraguai para São Francisco de
55 Vicente Gambarota
15 São Francisco SC Ruy Dias
55 para Assunção Melgarejo
Juan de
15 São Vicente para
Salazar e Cipriano
56 o Paraguai
de Goes
15 Ciudad Real del Ruy Dias de
57 Guairá Melgarejo
Cidade Real do
15 Ruy Dias
Guairá para Vila Rica
76 Melgarejo
do Espírito Santo
15 Jerônimo
Guairá
81 Leitão
15 São Vicente para Jerônimo
85 Paranaguá Leitão
Padres
15
Guairá jesuítas Ortega e
88
Fields
15 São Vicente
Jorge Correia
94 Paranaguá
15 Manoel
Paranaguá
95 Soeiro
64
16 Hernando
Guairá
01 Arias de Savaedra
16 São Paulo para o Nicolau
02 Guairá Barreto
16 São Paulo para o
Manoel Preto
07 Guairá
16 Paraguai via Pedro Franco
07 Paraná de Torres
16 Pedro Vaz de
Guairá
11 Barros
16 Lázaro da
Santa Catarina
15 Costa
16 São Paulo para o Antonio
16 Paraguai Fernandes
16 São Paulo para o Henrique da
23 Guairá Cunha Gago
16 São Paulo para o Manuel e
23 Guairá Sebastião Preto
16 São Paulo para o Antonio Luis
28 Guairá Grou
16 São Paulo para o Antonio
28 Guairá Raposo Tavares
16 São Paulo para o Nicolau
28 Guairá Barreto
16 São Paulo para o Antonio
31 Guairá Raposo Tavares
16 São Paulo para o Cristóvão
31 Guairá Diniz
16 São Paulo para o Antonio
48 Guairá Domingues
16 São Paulo para o Antonio
48 Guairá Raposo Tavares
Fonte: Adaptado de JACOMINI, 2003.
24
. CORTESÃO, Jaime. Jesuítas e bandeirantes no Guairá. Rio de
Janeiro: Biblioteca Nacional, 1951. p. 137.
67
Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações
La boratório de Arqueol ogia, Etn ologia e Etno-Histó ri a
P ar a LAEE Universidade Estadual de Maringá
r io napa ne
ma
D e nom i na ç ã o : D ata : Fon tes :
Jesus y Maria Autores : Éder daSilv a Novak; Lúcio Tadeu Mota; J aime Luiz L. Pereira
n á
ra
Pa
São José Legenda
pelas
Cidades Espanholas
Vila Rica do
Espírito Santo
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São Tomas São Francisco Reduções Jesuíticas
Xavier
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Ciudad Real L os Angeles
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de Guaira Rios
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Encarnacion
í
Piq São Paulo
ui Concepcion
ri
São Miguel
Santa Maria
diligências
rio
Ig u
aç
u
dos
Figura 12: As Reduções Jesuíticas e as Cidades Espanholas
68
povoações grandes e à vida política e
a
usança nos montes, foram reduzidos
índios que vivendo à sua antiga
Chamamos reduções aos povos de
O padre Antonio Ruiz de Montoya informa o
Figura 4: Mapa do Paraná com as reduções jesuíticas
O ato de reduzir os indígenas em povoados
tinha o objetivo de ensinar a doutrina católica e
promover a civilização, como pretendia a
Companhia de Jesus.
25
. Sobre a preação de índios na região para o trabalho escravo em São Paulo, ver o
livro de MONTEIRO, John M. Negros da terra. São Paulo: Cia das Letras, 1994.
69
Em 1602 Nicolau Barreto desceu o rio Paraná,
passando pelo Guairá rumo às minas de Potosi,
no Peru. Em 1607 foi a vez de Pedro Franco de
Torres atravessar a região rumo ao Paraguai para
fazer o roteiro já conhecido desde meados do
século XVI. Nesse mesmo ano Manuel Preto, um
dos maiores preadores de índios da época, dirigiu
uma bandeira para o aprisionamento dos índios
Guarani nas proximidades da cidade espanhola
de Vila Rica do Espírito Santo. Procurando
medidas estratégicas para conter as investidas
dos bandeirantes paulistas contra o “seu” butim, o
Rei da Espanha criou a Província del Guairá em
1608, que abarcava praticamente quase todo o
Paraná.
Ignorando as medidas protecionistas da coroa
espanhola, Manuel Preto, acompanhado pelo
temido Raposo Tavares, voltou ao Guairá em
busca de mais índios nos anos de 1611, 1618,
1623 e 1628. Seu fim foi a morte por ferimentos
de flechas em plena campanha de
aprisionamento de índios no sul do Brasil
(AZEVEDO, 1983).26.
As primeiras décadas do século XVII foram
marcadas por uma intensificação das ações dos
europeus no Guairá. De um lado houve os
choques entre os índios Guarani e os
encomendeiros espanhóis, que os exploravam no
trabalho semiescravo da coleta da erva-mate. Os
padres jesuítas, em sua pregação religiosa,
tentavam inculcar os valores da sociedade
invasora junto às populações indígenas
26
. Cf. AZEVEDO, Victor de. Manuel Preto “O herói de Guairá”. São Paulo:
Governo do Estado de São Paulo, 1983.
70
existentes na região. Contrariando os interesses
dos encomendeiros espanhóis e dos padres da
Companhia de Jesus vieram os paulistas, com a
intenção de buscar seu butim.
De uma perspectiva oposta, os índios faziam
uma leitura própria da conjuntura, resultando
eventualmente em alianças, acordos e guerras, o
que torna complexo o entendimento sobre os
fatos ocorridos nas relações deles com os
invasores de seus territórios. Disso resulta que a
análise histórica da ocupação da região não pode
ser dicotômica: índios contra brancos ou vice-
versa. Devem-se considerar os grupos
conquistadores europeus e seus interesses
localizados, bem como os Guarani e os Kaingang,
que eram inimigos mas que, estrategicamente,
estabeleceram alianças entre si. Alianças
explícitas ou não, o fato de que em determinados
momentos um grupo indígena podia procurar as
reduções, mesmo sendo refratário à pregação
missionária, pode significar apenas uma tática
política momentânea para se livrar dos invasores
paulistas ou do trabalho escravo nas
encomiendas espanholas.
Destruídas as reduções jesuíticas, as
populações indígenas se dispersaram: parte foi
para o sul junto com os padres fundar os sete
povos das missões no Rio Grande do Sul, e outra
parte voltou a ocupar seus antigos territórios. Mas
a região não deixou de ser um atrativo para os
paulistas tentarem aumentar seu butim. A partir
de 1651, Fernão Dias Paes Leme ficou por três
anos na região da Serra da Apucarana e
submeteu os caciques da nação Guaianá,
71
ancestrais dos Kaingang, levando-os prisioneiros
para São Paulo, com todo o seu povo. Pedro
Taques, na Nobiliarquia Paulistana, relata essa
expedição:
27
. Cf. TAUNAY, Affonso de E. A grande vida de Fernão Dias Pais. São Paulo: [J.
Olympio], 1955. p. 167.
72
bandeirante). Apenas o primeiro, Tombu, chegou
a Santana do Paraíba, em São Paulo, onde
morreu alguns anos depois.
73
e embora fossem quase sempre em maior
número acabaram sendo subjugados,
escravizados, mortos ou segregados. Por seu
lado, os europeus também tiveram sua parcela de
dificuldades. As entradas para o interior dos
territórios exigiram deles grandes esforços para
chegar ao seu objetivo, que foi, sempre, alcançar
as riquezas que sabiam ou imaginavam que
houvesse no interior da América. Nesse caso, o
Paraná atual foi território que os europeus
atravessaram, partilharam e exploraram para
conseguir seus objetivos As fontes revelam que
os europeus penetraram no território e que as
perdas foram enormes, principalmente para as
populações primitivas.
REFERÊNCIAS
75
JACOMINI, Maria Simone. Os bandeirantes do
sul do Brasil nos séculos XVI e XVII. Maringá:
2003. Relatório PIBIQ/CNPQ.
76
______. Negros da terra. São Paulo: Cia das Letras,
1994.
78
TRIGGER, B. G. Etnohistória: problemas y
perspectivas. Ethnohistory, [S.I], v. 29, n. 1, p. 1-
29, 1982. Traducción de Catalina Michieli.
ATIVIDADES
80
Uma das primeiras informações que temos da
região é o mapa feito por Hans Staden, quando
ele aqui esteve junto com Martim Afonso de
Sousa e seu irmão Pero Lopes de Souza, em
1534, por ocasião da posse de suas capitanias
hereditárias no sul do Brasil. Pelas informações
de Hans Staden ali já viviam, em meio aos
Tupiniquins, dois portugueses.
28
Cf. STADEM, Hans. Duas viagens ao Brasil. São Paulo: Beca, 2000. p.
38.
81
inicio então o povoamento definitivo, com a
fundação das primeiras vilas do litoral.
82
Figura 1: Extrato do Mapa. Demonstração do
Pernagua e Cananeia. Livro de toda a costa da
província de Santa Cruz feito por João Teixeira
Albbernaz, Anno D. 1666.
Fonte: Mapoteca do Ministério das
Relações Exteriores (654).
Paranaguá
A primeira sesmaria, requerida por Diego de
Unhate em 1614, abrangia vastos territórios no rio
Superagui. Anos mais tarde Gabriel de Lara
fundou uma povoação na ilha da Cotinga, depois
transferida para o continente. Em seis de janeiro
de 1646 foi levantado o Pelourinho, e em junho
de 1648 ocorreu a primeira eleição para a
Câmara Municipal de Paranaguá. As
possibilidades de gerar riquezas, com o garimpo
de ouro nos riachos da serra e do planalto,
aumentaram a importância da região diante da
coroa. Tanto que em 1660 Gabriel de Lara foi
nomeado capitão-mor da Capitania de Nossa
Senhora do Rosário de Paranaguá. Ela existiu até
1709, mas a partir de 1711, com a diminuição das
atividades do faiscamento do ouro, perdeu o
status de capitania e foi integrada à Capitania de
São Paulo, como a Quinta Comarca de
Paranaguá e Curitiba (WACHOWICZ, 1988, p.
39-51).29
Antonina
29
Para maiores detalhes sobre o assunto ver: WACHOWICZ, Ruy. História do
Paraná., Curitiba: G. Vicentina, 1988. p. 39-51. Cap. 3.
83
Como as outras vilas do litoral, Antonina
também surgiu em decorrência da presença de
faiscadores de ouro na região. No entanto, a
fundação da povoação só ocorreu no século
XVIII, em 1714, com a construção da capela de
Nossa Senhora do Pilar da Graciosa. Somente
muito mais tarde, em 1797, é que ela foi elevada
a vila, com a denominação de Antonina, em
homenagem ao Príncipe D. Antonio, primeiro filho
do Rei Dom João VI e de Dona Carlota Joaquina.
Morretes
Situada às margens do rio Nhundiaquara, local
de passagem dos faiscadores de ouro que
subiam a serra, Morretes foi fundada por
determinação do ouvidor Rafael Pires Pardinho,
em 1721. Anos depois, em 1769, a população
teve permissão para erguer a capela de Nossa
Senhora do Porto e Menino Deus dos três
Morretes, e somente no século seguinte, em
1841, Morretes foi desmembrado de Antonina e
elevado a município.
Guaratuba
Os historiadores dão como data provável da
fundação da povoação de Guaratuba, por Gabriel
de Lara, o ano de 1656. Um século depois ela foi
inserida na política de defesa do litoral sul do
Brasil pelo então governador da Capitania de São
Paulo, D. Luiz A. de Souza, o Morgado de
Mateus. Este enviou para a região o tenente-
coronel Afonso Botelho com a missão de
incrementar a ocupação de região e construir
fortes para defesa do litoral.
84
Curitiba
Na primeira metade do século XVII os
faiscadores de ouro já tinham chegado ao
primeiro planalto paranaense e exploravam seus
riachos e ribeirões em busca do metal precioso. O
local era habitado pelos índios Guarani, que
exploravam os imensos pinheirais da região, e
com certeza mantinham relações sociais e
comerciais com os habitantes não-índios do litoral
e com os mineradores de ouro já algum tempo
antes da elevação do Pelourinho, em 1668, por
Gabriel de Lara. Com o crescimento da
povoação, no final de século XVII foram eleitas as
autoridades locais com a constituição da Câmara
Municipal em 1693, data da fundação da cidade.
85
capatazes para estabelecerem fazendas de criar
gado. Com o inicio das atividades do tropeirismo,
que consistia em comprar animais nos campos de
Vacaria, no Rio Grande do Sul, e vendê-los em
Sorocaba, em São Paulo, começaram a surgir as
povoações ao longo dessa rota.
Essas povoações, que no inicio eram locais de
pouso e descanso dos tropeiros, passaram a
aglutinar pequenos artesãos e pequenos
comerciantes, e logo se transformaram em vilas e
cidades, como Ponta Grossa, Castro, Lapa e
muitas outras. Assim é que ocorreu a ocupação
dos vastos campos naturais do segundo planalto
do Paraná: enormes sesmarias em torno da rota
Sorocaba – Vacaria.
86
3.3 A DESCOBERTA DE OURO E
DIAMANTES, AS EXPEDIÇÕES MILITARES E A
IMPLANTAÇÃOA DAS FAZENDAS NO VALE DO
RIO TIBAGI,NOS SÉCULOS XVIII E XIX
32
. Para maiores detalhes sobre a campanha do Morgado de Mateus no Paraná e
Mato Grosso ver: BOTELHO, Afonso. Noticia da conquista e descobrimento
dos sertões do Tibagi; BELLOTTO, Heloísa L. Autoridade e conflito no Brasil
Colonial: o governo de Morgado de Mateus em São Paulo; Davi CARNEIRO.
Afonso Botelho de São Payo e Souza.
88
dando-lhe o nome de Vila Real do Rio Mourão33.
Essa tentativa de estabelecer um posto de
suprimentos para as expedições que desciam o
rio Ivaí em direção ao Mato Grosso, desde a
barra do rio Corumbataí com o Ivaí, não
prosperou, e em pouco tempo a localidade foi
novamente abandonada, e a floresta voltou a
cobrir os vestígios da ocupação humana no local.
No século XIX também foi iniciada a ocupação
da bacia ocidental do Tibagi e dos campos ao seu
norte pelos grandes fazendeiros dos Campos
Gerais paranaenses, que procuravam expandir
seus domínios. Em 1794, Antonio Machado
Ribeiro – capitão de mato do sargento-mor José
Felix da Silva – atravessou o rio Tibagi, acima do
rio Iapó, e ocupou o lugar onde seria a cidade de
Tibagi, no coração dos territórios kaingang. Em
1812, o próprio José Felix da Silva comandou
uma expedição militar ao Tibagi. Por esse feito
lhe foi dada a patente de tenente-coronel de
milícias, para que ele comandasse, às próprias
custas, uma expedição para descobrir o que
houvesse no Tibagi. Entrou ele com uma
companhia de aventureiros pelo Tibagi e
descobriu diamantes na região. Essas
descobertas explicam o rápido enriquecimento de
José Felix da Silva, dono da Fazenda Fortaleza e
de muitas outras na região de Castro e Tibagi34.
33
. Cf. BOTELHO, Afonso. Noticia da conquista e descobrimento dos sertões do
Tibagi. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 76, p. 10, 1956.
34
. Cf. CHICHORRO, Manuel da Cunha Azeredo Coutinho. Memória em que se
mostra o estado econômico, militar e político da Capitânia de São Paulo, quando
seu governo tomou posse, em 8/12/1814. RIHGB, Rio de Janeiro, v. 36,p. 219,
1873.
89
Em 1820, Auguste de Saint-Hilaire excursionou
pelos territórios do Paraná, vindo de Sorocaba -
SP, pelo caminho dos tropeiros, até Curitiba. Aí
presenciou a partida de expedições militares
organizadas pelos fazendeiros da região contra
os Kaingang, a oeste das grandes fazendas de
criação. Dessa forma é que foram sendo
implantadas fazendas de criar gado nas terras
conquistadas dos Kaingang.
A conquista desses territórios prosseguiu para
o norte, no curso do rio Tibagi. Em 1838 iniciou-
se a ocupação dos Campos do Inhoó, por Manoel
Inácio do Canto e Silva. John Elliot informou que
oito anos antes de sua entrada nesses campos,
em 21/10/1846, o neto de José Felix da Silva,
coronel Manoel Inácio, tinha mandado abrir uma
picada de cargueiros até esses campos, e para
poder tomar posse mandou queimá-los.
A partir da década de 1840 as iniciativas de
ocupação das terras da bacia do Tibagi foram
levadas adiante pelo Barão de Antonina (João da
Silva Machado), o qual encarregou Joaquim
Francisco Lopes e John Henrique Elliot de
realizarem várias expedições de reconhecimento
na região. Conforme Elliot, a 2ª expedição
enviada pelo Barão foi comandada por Joaquim
Francisco Lopes e ele, como piloto mapista, num
total de nove pessoas. Saíram da fazenda Monte
Alegre, pertencente a Manoel Inácio do Canto e
Silva, atravessaram o Tibagi e seguiram rumo
norte-noroeste em direção à Serra da Apucarana.
No dia 15/9/1846 chegaram ao rio Apucarana,
nas fraldas da serra. Subiram essa serra, e por
vários dias esperaram até que as condições
90
atmosféricas lhes permitissem vislumbrar toda a
região. Elliot afirmou que desse local avistou os
campos do Inhoó, distantes de 8 a 9 léguas a
nordeste da margem ocidental do Tibagi, bem
como as grandes áreas de florestas que se
estendiam em direção aos rios Ivaí e
Paranapanema. Por causa da visão que tiveram a
partir desse mirante, concluíram que o Tibagi
deveria ser navegável logo abaixo desses
campos, e que seria necessário explorá-los para
ver se comportariam a instalação de um depósito
de gado, bem como para verificar as condições
para o fornecimento de pastagens para as tropas
que seguissem com mercadorias para embarcar
no Tibagi, rumo ao Mato Grosso. Após estudar os
relatos, o Barão determinou que eles deveriam
prosseguir as explorações para abrir um caminho
de Curitiba até o Mato Grosso.
Uma semana após terem chegado da Serra da
Apucarana, Lopes e Elliot, mais o genro do Barão
de Antonina, partiram para os campos do Inhoó.
Era uma expedição de 30 pessoas com dois
índios como guias. Iniciaram a picada em
21/10/1846, e em 20/11/1846 chegaram a esses
campos. Lá queimaram-nos, e os índios
responderam com fogos em três lugares
diferentes; a norte, distante 6 a 8 léguas, e mais
um a nordeste, a 4 léguas. Demoraram na
exploração dessas campinas durante 10 dias,
pois eram várias campinas entremeadas de
matos. No dia 4/12/1846 eles se encontravam nos
campos de Inhoó, que denominaram de São
Jerônimo. Concluíram que eles, os componentes
da expedição, constituíam número suficiente para
91
a instalação de um depósito, isto é, um
entreposto entre o futuro porto do Jataí e Castro.
Em 16/12/1846, Lopes e Elliot e mais 12
pessoas, por determinação do Barão, rumaram
dos Campos do Inhoó rumo ao norte por 1 ou 2
léguas, acompanhando o Tibagi. Seguiram para
o ribeirão Santa Bárbara, depois acompanharam
o rio Congonhas. Tudo indica que o itinerário
seguido tenha sido o divisor de águas entre o rio
Congonhas e o rio Tibagi. Em 13/1/1847 estavam
de volta aos campos do Inhoó, depois de 25 dias.
Em 15/3/1847, a 5ª entrada de Lopes e Elliot,
também por determinação do Barão de Antonina,
partiu dos Campos do Inhoó em direção aos
fogos dos índios que eles tinham visto na
exploração de novembro de 1846. Após
atravessarem o rio Congonhas35, a 6 léguas dos
campos de Inhoó, chegaram às terras queimadas.
Ainda em 1847, o Barão de Antonina ordenou
a José Francisco Lopes e João H. Elliot que
partissem para descobrir o caminho para o Mato
Grosso. Em 14/6/1847, Elliot, Lopes e 3
camaradas embarcam no Tibagi, uma légua
abaixo dos Campos do Inhoó. No dia 20/9
iniciaram a viagem de retorno de Albuquerque, no
Mato Grosso, para Perituva, em São Paulo, onde
chegaram a 27/12, com 6 meses e 13 dias de
viagem.
A partir dessa data os territórios do cacique
Inhoó nos planaltos a leste do rio Tibagi seriam
transformados em entreposto comercial, caminho
para o Mato Grosso, e fazenda de criação do
35
. John Elliot disse que puseram esse nome nesse rio por causa da abundância de
erva- mate que havia no local.
92
Barão de Antonina. O comerciante Antonio
Prestes, em viagem para o Mato Grosso, em
1851, passou por São Jerônimo e lá encontrou
José Raymundo Curim como administrador da
fazenda do Barão de Antonina36. Podemos
constatar que após seis anos da chegada de
Lopes e Elliot aos campos do Inhoó, o Barão de
Antonina já havia consolidado uma fazenda no
território Kaingang, que após alguns anos seria
repassada ao Império para a criação do
aldeamento indígena de São Jerônimo.
36
. Cf. PRESTES, Antonio Dias Baptista. Viagem do Capitão D. Prestes e seu irmão
Manoel D. B. Prestes desta província de São Paulo a Cuiyabá em 21/04/1851.
RIHGSP, São Paulo, n. 28, p. 775, 1851.
93
No século XVIII, a corte reagia indignada ao
desassossego que imperava nos territórios do sul
do Brasil, que no dizer das autoridades estavam
infestados de selvagens. A Carta Régia de
novembro de 1808 relata ataques generalizados
por todo o sul do Império, principalmente nos
Campos Gerais de Curitiba, de Guarapuava e nos
campos das cabeceiras do rio Uruguai. O
Príncipe Regente propunha então guerra contra
os índios, que matavam cruelmente todos os
fazendeiros e proprietários estabelecidos nesses
campos. Indignava-se ele com o abandono dos
Campos Gerais de Curitiba e os de Guarapuava,
assim como das terras com as vertentes voltadas
para o rio Paraná.
Tentativas de conquista e de ocupação
efetivamente tinham sido feitas, como as das
expedições de Afonso Botelho, nos anos de 1769
a 1774, as quais foram rechaçadas pelos índios
Kaingang, então senhores desses territórios.
Passados 40 anos, os campos Gerais, os de
Guarapuava e Palmas continuaram
37
Cf. Carta Régia de novembro de 1808. In: MARTINS, Romário. Documentos
Comprobatórios, vol. II, p. 86. Em a Política Indigenista Brasileira no Século
94
Desde a expulsão de Afonso Botelho e suas
tropas dos Koran-bang-rê, (Campos de
Guarapuava), em 1772, os Kaingang,
encorajados, faziam incursões cada vez mais ao
ocidente. No início do século XIX, eram senhores
dos territórios a oeste da estrada do Viamão, e
atacavam constantemente fazendas, vilas e
viajantes nas suas imediações.
Com a chegada de Dom João VI ao Brasil, o
Império tomou uma resolução: os índios deveriam
ser combatidos, catequizados, "civilizados", e
seus territórios deveriam ceder lugar a prósperas
fazendas de gado. O governador da província de
São Paulo convocou o experiente militar Diogo
Pinto de Azevedo para organizar a ocupação dos
territórios dos Kaingang e mantê-los afastados
das fazendas de gado. Diogo Pinto era um militar
disciplinado, duro, experiente e conhecedor dos
campos de Guarapuava, pois ali estivera com o
capitão Paulo Chaves em 1774. Era o perfil ideal
para realizar o empreendimento, e em 1809 já se
encontrava nos Campos Gerais, refazendo o
antigo caminho das expedições de Afonso
Botelho.
Dessa forma, o ano de 1810 foi marcado pela
chegada aos campos de Guarapuava de uma
enorme expedição, com mais de 300 pessoas,
das quais cerca de 200 eram soldados. O objetivo
da expedição era ocupar esses campos, abrindo
XIX, Carlos Araujo MOREIRA NETO afirma que a política indigenista brasileira
durante o Império foi formulada em torno de critérios "estritos de dominação e
subordinação", e tinha como objetivo a implementação e a consolidação do
domínio da sociedade nacional sobre os grupos tribais.
95
espaço para as fazendas de criação. No dia dois
de julho, acampam no lugar denominado Atalaia,
último ponto alcançado pelo capitão Paulo
Chaves em 1774. No dia 29 de agosto, os
Kaingang fizeram um ataque em massa ao
acampamento. Diogo Pinto e o padre Francisco
das Chagas Lima atestaram a firme defesa do
tenente Antonio da Rocha Loures.
38
. Cf. Atestado do comandante Diogo Pinto de Azevedo Portugal e do padre
Francisco das Chagas Lima, elogiando a ação do tenente Rocha Loures na defesa
do quartel de Atalaia, atacado pelos índios em 29 de agosto de 1810. In:
FRANCO, Arthur Martins. Diogo Pinto e a conquista de Guarapuava. Curitiba:
Museu Paranaense, 1943. p. 95.
96
Figura 2: Fortaleza de Atalaia, primeiro local de fundação
da vila de Guarapuava
Fonte: Kruger (1999)
97
campos de Palmas, ao sul de Guarapuava, onde
chegaram 20 anos depois. Em 1839 os
fazendeiros de Guarapuava tinham conquistados
os Krei-bang-rê (Campos de Palmas). Ali tinham
instalado 37 fazendas, com mais de 30 mil
cabeças de gado, e fundaram a vila de Palmas.
REFERÊNCIAS
Atividades:
100
CAPÍTULO IV. O PARANÁ PROVINCIAL:
1853 – 1889
39
Mestre em História pela UEM, professora da Rede Estadual de Educação do
Paraná – NRE/Maringá e pesquisadora no Programa Interdisciplinar de Estudos de
Populações - Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História - UEM. E-mail:
dulceniegra@hotmail.com
40
Professor Associado no Departamento de História da Universidade Estadual de
Maringá, e pesquisador no Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações –
Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História - UEM. ltmota@uem.br
ltmota@terra.com.br
101
denominada Capitania de Paranaguá. Em 1770,
com a restauração da Capitania de São Paulo,
ela foi extinta e incorporada por esta como
comarca. Em 1812 a sede da comarca, que era
em Paranaguá, foi transferida para Curitiba, e
passou a se chamar Quinta Comarca de
Paranaguá e Curitiba.
A luta pela emancipação política do Paraná
teve seus antecedentes em 1811, quando Pedro
Joaquim Correia de Sá, com pretensões de ser
capitão-mor, tentou, junto à corte no Rio de
Janeiro, a emancipação da comarca, mas
fracassou.
A segunda tentativa ocorreu em 1821, quando
os defensores da emancipação retomaram o
movimento, organizando a denominada "Conjura
Separatista". Essa tentativa também fracassou,
pois o Juiz de Fora Antonio Azevedo Melo e
Carvalho – que visitava o Paraná – não atendeu
ao apelo de Bento Viana – capitão da Guarda de
Regimento de Milícia de Paranaguá – para que
nomeasse um governo provisório independente
de São Paulo.
Mesmo com um desfecho desfavorável, o
desejo de autonomia permanecia.
Frequentemente, as câmaras de vereadores de
Paranaguá, Morretes, Antonina, Lapa, Curitiba e
Castro solicitavam autonomia ao Governo
Imperial Brasileiro.
Mas em 1835 ocorreu um fator favorável e
decisivo para a autonomia do Paraná. Os liberais
do Rio Grande do Sul entraram em luta contra o
Império, organizados na "Revolução Farroupilha",
e os liberais do Rio de Janeiro, São Paulo e
102
Minas Gerais, revoltados com a política
"conservadora" do governo central, uniram-se
com os farrapos e organizaram uma única frente
revolucionária. Os liberais da Quinta Comarca em
Curitiba, cooptados pelo Barão de Antonina, não
aderiram, no entanto, ao movimento. O Governo
Imperial negociou com os liberais curitibanos, por
intermédio de João da Silva Machado e do chefe
das forças legalistas, Duque de Caxias, a
emancipação da comarca. O governo do império
conseguiu, assim, o apoio dos liberais da Quinta
Comarca para vencer os revolucionários.
Dessa forma retomou-se, em 1843, o projeto
de emancipação da Quinta Comarca na
Assembleia Geral Legislativa no Rio de Janeiro.
Entre idas e vindas foi conseguida a aprovação,
em 2 de agosto de 1853, elevando-se a Quinta
Comarca de São Paulo à categoria de Província
do Paraná. A instalação oficial foi realizada em 19
de dezembro de 1853, quando tomou posse o
primeiro presidente, Zacarias de Góes e
Vasconcelos, tendo Curitiba como Capital.
103
de Província, com a denominação de Província
do Paraná. A sua extensão e limites serão os
mesmos da referida Comarca.
Art. 2º - A nova Província terá por Capital
a cidade de Curitiba, enquanto a Assembléia
respectiva não decretar o contrário.
Art.3º - A Província do Paraná dará um
Senador, e um Deputado à Assembléia Geral;
sua Assembléia Provincial constará de 20
membros.
Art.4º - O Governo fica autorizado para
criar, na mesma Província, as estações fiscais
indispensáveis para arrecadação e
administração das rendas gerais, submetendo
depois o que houver determinado ao
conhecimento da Assembléia Geral para
definitiva aprovação.
Art.5º - Ficam revogadas as disposições em
contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades, a
quem o conhecimento desta lei pertencer, que a
cumpram, e a façam cumprir e guardar tão
inteiramente quanto nela se contém.
O Secretário de Estado dos Negócios do
Império
A faça imprimir, publicar e correr.
Dado no Palácio do Rio de Janeiro, aos 29
de agosto de 1853, trigésimo segundo da
Independência e do Império.
104
A Província do Paraná teve, ao longo do
período de 1853 a 1889, 53 períodos de
governos; 27 presidências; 41 presidentes em
exercício e 26 períodos de vice-presidência e
retorno presidencial.
Os presidentes eram escolhidos entre aqueles
que pertenciam ao partido político dominante, e
nomeados diretamente pelo Imperador D. Pedro
II. De 1853 a 1870 os governantes vieram de
outras províncias. No período subsequente (1870
a 1889), o Imperador fez algumas nomeações de
pessoas procedentes da própria província para
ocupar o cargo de presidente e vice-presidente.
As justificativas para a nomeação dos
presidentes e dos vice-presidentes oriundos de
outras províncias era de que o Paraná tinha uma
pequena projeção política e econômica no
império. E não possuiria elementos com "boa
formação político-administrativa" para o cargo
majoritário na província. No entanto, sabemos
que a nomeação para a presidência das
províncias no Brasil era utilizada pelo Imperador
Pedro II41 para acomodar as forças políticas que
o apoiavam.
41
A Carta outorgada em 1824 por D. Pedro I e elaborada pelo Conselho de
Estado atribuiu ao Imperador o poder de nomear os presidentes de
província. O capítulo VII, que trata da Administração e Economia das
Províncias diz, no primeiro artigo: “Haverá em cada Província um
presidente, nomeado pelo Imperador, que poderá remover, quando
entender que assim convém ao bom serviço do Estado”. Essa era a
Constituição em vigor no Brasil em 1853, quando da criação da Província
do Paraná
(http://www.alep.pr.gov.br/assembleia.php?pag_int=assembleia_historico.p
hp. Acesso em: 11 mar. 2008).
105
O Imperador geralmente escolhia governantes
que eram fiéis e aliados ao governo imperial. A
intenção era criar e estabelecer governos
provinciais comprometidos com os interesses do
governo central, além de promover alianças com
as elites dominantes locais. Eram dois os partidos
políticos dos quais esses representantes faziam
parte: o Conservador e o Liberal. Os partidos na
província eram dominados pelas oligarquias
locais, que escolhiam seus representantes aos
cargos políticos42. A disputa entre os
conservadores e liberais não representava um
empecilho à nomeação dos cargos; na realidade,
seus programas políticos não diferiam um do
outro e não havia uma oposição efetiva entre
eles. No Paraná, os principais líderes liberais
foram: Jesuíno Marcondes de Oliveira e Manuel
Alves de Araújo, que formavam as famílias dos
Barões do Tibagi e dos Campos Gerais. Os
líderes conservadores foram: Manuel Antonio
Guimarães (Visconde de Nácar) e Manoel
Francisco Correia, que formavam as famílias do
litoral, controladoras do comércio importador e
exportador da erva-mate.
Quando foi instalada oficialmente, o cargo
majoritário da província paranaense foi ocupado
pela primeira vez em 19 de dezembro de 1853,
sendo seu primeiro presidente o baiano Zacarias
de Góes e Vasconcellos.
42
Esses representantes aos cargos políticos geralmente eram eleitos pelo
“voto de cabresto”, ou seja, por meio da troca de “favores” os coronéis
(elites dominantes locais) exigiam que as pessoas votassem nos
candidatos indicados por eles. Aquele que se negasse a votar podia sofrer
violência dos capangas ou jagunços que trabalhavam para os coronéis.
106
Quadro I - Galeria de presidentes e vice-presidentes da
província do Paraná (1853-1889)
PRESIDENTE N PE OBSERVAÇÃO
S E VICE- OMEAÇÃ RÍODO DE
º
PRESIDENTES O GOVERN
O
107
4
André de s/d 18.0 Origem: Paraná - Partido
Pádua Fleury (Pres.) 6.1864 a Liberal
3
19.08.186
4
Agostinho s/d 19.0 1º período de governo.
Ermelino de Leão 8.1864 a Origem: Paraná –
4
(Vice) 18.11.186 s/menção de partido
4
André de 12. 18.1 2º período de governo.
Pádua Fleury (Pres.) 10.1864 1.1864 a Origem: Paraná - Partido
5
04.06.186 Liberal
5
Manoel Alves 10. 05.0 1º vice-presidente.
de Araújo (Vice) 12.1864 6.1865 a Origem: Paraná - Partido
6
18.08.186 Liberal
5
André de s/d 18.0 3º período de governo.
Pádua Fleury (Pres.) 8.1865 a Origem: Paraná - Partido
7
23.03.186 Liberal
6
Agostinho 31. 23.0 2º vice-presidente - 2º
Ermelino de Leão 01.1866 3.1866 a período de governo.
8
(Vice) 15.11.186 Origem: Paraná –
6 s/menção de partido
Polidoro César 06. 15.0 Abandona o governo em
Burlamaque (Pres.) 09.2866 9.1866 a 17.08.1867
9
Origem: Piauí –
11 s/menção de partido
/17.08.186
7
Carlos Augusto 23. 16.0 1º vice-presidente.
Origem: Rio de Janeiro. Era do
0 Ferraz de Abreu 03.1867 8.1867 a
Partido Conservador
(Vice) 23/31.10.1
867
109
0 26.05.188
3
Antônio Alves 14. 26.0 1º vice-presidente – 1º
de Araújo (Vice) 05.1883 5.1883 a período de governo.
1
03.09.188 Origem: Paraná - Partido
3 Liberal
Luís Alves 30. 03.0 Origem: Rio de Janeiro -
Leite de Oliveira Belo 06.1883 9.1883 a Partido Liberal
2
(Pres.) 05.06.188
4
Brasílio 29. 05.0 Origem: São Paulo -
Machado de Oliveira 07.1884 6.1884 a Partido Liberal
3
(Pres.) 21.08.188
5
Antônio Alves s/d 24/2 2º período de governo.
de Araújo (Vice)- 6.08.1885 Origem: Paraná - Partido
4
a Liberal
18.09.188
5
Joaquim de 30. 20.0 1º vice-presidente – 1º
Almeida Faria 08.1885 9.1885 a período de governo.
5
Sobrinho (Vice) 29.09.188
5 Origem: Paraná – Partido
Conservador
Alfredo 30. 29.0 Origem: Rio de Janeiro -
D’Escragnolle Taunay 08.1885 9.1885 a Partido Liberal
6
(Pres.) 03.05.188
6
Joaquim de 18. 03.0 2º paranaense p/
Almeida Faria 10.1886 5.1886 a nomeação direta do Imperador.
7
Sobrinho (Pres.) 26.12.188 3º período
7 Origem: Paraná – Partido
Conservador
Antônio 15. 29.1 2º vice-presidente em
Ricardo dos Santos 12.1887 2.1887 a 03.12.1887 e 1º em 15.12.1887
8
(Vice) 09.12.188 Origem: Paraná –
8 Partido Conservador
José Cesário 23. 09.0 Origem: Minas Gerais –
de Miranda Ribeiro 12.1887 2.1888 a Partido Conservador
9
(Pres.) 30.06.188
8
Ildefonso 26. 30.0 Barão de Serro Azul
Pereira Correia (Vice) 11.1887 6.1888 a Origem: Paraná –
0
04.07.188 s/menção do partido
8
Balbino 15. 04.0 Origem: Minas Gerais –
Candido da Cunha 06.1887 7.1888 a Partido Conservador
1
(Pres.) 29.05.188
9
Jesuíno 15. 16.0 3º e último paranaense
Marcondes de 06.1889 6.1889 a presidente – 4º p. de governo.
2
Oliveira e Sá (Pres.) 23.08.188 Origem: Paraná - Partido
9 Liberal
Joaquim José 15. 03.0 1º vice-presidente.
Alves (Vice) 06.1889 9.1889 a Origem: Paraná - Partido
3
11.09.188 Liberal
9
Jesuíno s/d 12.0 5º e último período de
Marcondes de 9.1889 a governo provincial
Oliveira e Sá (Pres.) 16.11.188 Origem: Paraná - Partido
9 Liberal
110
Fonte: CARNEIRO, D. História do período provincial
do Paraná: galeria de presidentes 1853-1889. Curitiba:
Tipografia Max Roesner, 1960.
43
VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório... 15 de julho de
1854. p. 3.
112
desavenças pessoais, de furto de animais, do
confronto entre os fazendeiros e indígenas, da
posse da terra etc. O conflito pela demarcação
da propriedade da terra foi muito comum nesse
período, pois a província estava aplicando a Lei
de Terras de 1850.
44
VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 5.
113
pistolas, já não digo em viagem, nas
estradas, ou em seus trabalhos do
campo, mas em passeio à cidade, e
(parece incrível) até nos templos do
Senhor!(VASCONCELLOS, 1854, p.
45
6). .
45
VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854.. p.
6.
46
A população que constituía o período provincial paranaense em 1854
contava com 60.625 habitantes, dos quais quase 16% eram escravos, em
torno de 10 mil. Mas com a entrada de migrantes, a partir da década de
1860 e com a saída de escravos para a lavoura paulista ocorreram
mudanças no quadro demográfico da província. A população, com o censo
de 1872, totalizava 126.722 habitantes, incluindo 10.560 escravos (8,3%)
(Dicionário histórico-biográfico do Paraná, 1991, p.383).
114
política desenvolvida pelos governantes, a de
implantação de colônias de migrantes europeus,
principalmente ao redor de centros urbanos. As
tensões e os conflitos provocados pela
aglomeração de populações mobilizaram as
autoridades policiais da província, que
demonstravam preocupação em manter a
“tradição” provincial de tranquilidade pública,
combatendo a criminalidade, principalmente no
período de 1860 a 1880, quando foram fundados
28 núcleos coloniais, com a entrada de 19.215
migrantes.
• Política de Educação
115
na actualidade (VASCONCELLOS,
47
1854, p. 12).
A constituição chamando a
maior parte da nação ao exercício
dos pesados deveres da soberania,
garantia com razão a instrucção
primaria gratuita a todos (PARANÁ,
48
1869, p. 9).( .
47
VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854.
p..12.
48
PARANÁ. Governador (1868-1869: Augusto da Fonseca).
Relatório... 6 de abril de 1869. p. 9.
116
viam isso como uma ameaça à sua hegemonia
(MAGALHÃES, 2001).49
49
MAGALHÃES, Marion Brepohl. Paraná: Política e Governo. Curitiba:
SEED, 2001. (Coleção História do Paraná – textos introdutórios).
50
Para maiores detalhes sobre essa questão da Educação, ver: OLIVIEIRA,
1986; TRINDADE; ANDREAZZA, 2001; GUARNIERI, 2006.
117
O ensino era baseado no princípio da
moralidade e dos costumes da época, com a
preocupação de manter o ordenamento social,
que visava à obediência à autoridade, cujo
centro era a Corte, devendo a periferia ser
moldada segundo seus interesses.
51
VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 16.
118
masculinas para 08 femininas, e em 1889 eram
61 masculinas para 24 femininas (OLIVEIRA,
1986, p. 201).52.
52
Para obter os índices de todos os anos do período provincial, conferir
tabela em: OLIVEIRA, Maria Cecília Marins. O ensino primário na
província do Paraná 1853-1889. Curitiba/PR: Biblioteca Pública do
Paraná, 1986, p. 201.
119
comparação ao atendimento precário herdado
do período anterior à emancipação. Em 1853, o
Paraná tinha um número limitado de escolas:
eram 28 estabelecimentos públicos de ensino,
distribuídos entre 18 localidades, e 3 escolas de
ensino particular. Ao final do período provincial,
devido à política de investimento na Educação
Pública, o resultando foi de 199 escolas de
ensino primário e secundário, distribuídas por
130 localidades, sendo 180 escolas da rede
pública e 19 da rede particular53.
PERÍODO AÇÕES
• Regulamentação e estabelecimento
1858 a de orçamento para a Instrução
1869 Pública.
• Estabelecimento e organização dos
conteúdos de ensino para as escolas
secundárias.
• Encaminhamentos com relação ao
53
OLIVEIRA, Maria Cecília Marins. O ensino primário na província do Paraná
1853-1889. Curitiba/PR: Biblioteca Pública do Paraná, 1986.
120
valor despendido à Instrução Pública.
• Desenvolvimento do ensino
secundário, principalmente na
iniciativa privada (1870).
1870 a • Obrigatoriedade do ensino primário
1880 para os meninos de 7 a 12 anos e
meninas de 7 a 10 anos (1874).
• Normatização da fiscalização das
escolas primárias (1874).
• Criação da Escola Normal, em
Curitiba, para formação de
professores para a Instrução Pública
(1876).
121
as autoridades impedia o “progresso da
província”.
54
VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p.
86.
122
As estradas eram vias de comunicação
fundamentais para a província do Paraná, como
ainda é hoje, pois isso representava o
desenvolvimento econômico e social, segundo
Wilson Martins (1989, p. 12).55:
124
[...] Esta colônia é assentada em fértil
terreno, próprio para vários gêneros
de cultura. Não tem prosperado, tanto
quanto se esperava, por diversas
causas, nascidas já da grande
distancia e da falta de vias de
communicação, que liguem-a a
cidade de Castro, em cujas
visinhanças se acha e com quem
entre em relações commerciaes,
posto que em pequena escala, e já de
se não ter applicado a necessária
57
attenção ao seu desenvolvimento .
57
Carvalho, 15 de fevereiro de 1870, p. 39.
125
Para explorar e mapear os rios foram
contratados engenheiros como os irmãos
58
Keller . Vários rios foram estudados, como:
Iguaçu, Tibagi, Ivaí, Piquiri, Paraná,
Paranapanema etc. Além de os rios servirem
como referenciais geográficos, poderiam ser
transformados em vias de comunicação,
considerados como estradas para o transporte
de mercadorias. Isso traria um beneficio muito
grande à província, pela diminuição dos gastos
em relação ao transporte realizado
normalmente por via terrestre.
58
Nos anexos dos relatórios estão os relatórios dos engenheiros informando
sobre o desenvolvimento do seu trabalho com os rios na província.
59
VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p.,
p. 76-77.
126
Diversos outros fatores são abordados
pelos governantes a respeito dos rios, como a
possibilidade de exploração por meio da
cobrança de “pedágios” na utilização de balsa
para a travessia de um lado para outro, e
também o fornecimento de peixes, o que
poderia beneficiar as localidades às suas
margens.
60
VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...8 de fevereiro de 1855, p.
77.
127
magnifico salto que apresenta [...]
61
ROHAN, 1856, p. 168). .
• Política de povoamento
61
ROHAN, Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire. Relatório... 1 de março
de 1856, p.168.
128
preocupação em dinamizar a instalação de
colônias produtoras de gêneros agrícolas para
suprir o mercado local e a comercialização do
excedente, como também a criação de mão de
obra assalariada.
62
Fonte: PARANÁ. Leis, Decretos, Regulamentos e Deliberações.
Governo da Província do Paraná. 1855 –1857. Curitiba: Typographia
Penitenciária. 1912, p.16-17. t. 2.
129
apesar dos problemas, os migrantes europeus
eram um bom investimento.
63
RELATÓRIO. Rohan, 01 de março de 1856, p.39.
64
Fonte: PARANÁ. Dicionário histórico-biográfico do Paraná. Curitiba:
Chain, 1991. p. 90-91.
130
suíços, ingleses e
italianos.
1 Curitiba Colônia do Poloneses,
870 Pilarzinho alemães e italianos
1 Curitiba Colônia São Alemães,
871 Venâncio poloneses e suecos.
1 Paranag Colônia Italianos
871 uá Alexandra
1 Curitiba Colônia Alemães e
873 Abranches poloneses.
1 Curitiba Colônia Santa Poloneses,
875 Cândida suíços e franceses
1 Curitiba Colônia Orleans Poloneses,
875 italianos, franceses e
outros
1 Paranag Colônia Italianos e
875 uá Eufrasina e Pereira espanhóis
1 Curitiba Colônia Bento Poloneses,
876 Inácio siberianos e
galicianos
1 Curitiba Colônia Poloneses,
876 Lamenha silesianos e alemães
1 Curitiba Colônia Dom Poloneses
876 Augusto
1 Curitiba Colônia Dom Poloneses,
876 Pedro galicianos e
silesianos
1 Araucári Colônia Tomaz Poloneses,
876 a Coelho galicianos e
silesianos.
1 Curitiba Colônia Riviére Franceses,
877 poloneses e alemães
1 Antonina Colônia Nova Italianos
877 e Morretes Itália
1 Curitiba Colônia Dantas Italianos
878
1 Curitiba Colônia Alfredo Italianos
878 Chaves (hoje Colombo)
1 São José Colônia Santa Italianos
878 dos Pinhais Maria do Novo Tirol
1 São José Colônia Zacarias Poloneses e
878 dos Pinhais silesianos
1 São José Colônia Inspetor Poloneses e
878 dos Pinhais Carvalho italianos
1 São José Colônia Muricy Poloneses e
131
878 dos Pinhais italianos
1 Campo Colônia Antonio Poloneses e
Rebouças italianos
878 Largo
1 Ponta Colônia Otávio Alemães do
878 Grossa Volga
1 Palmeira Colônia Sinimbu Alemães do
878 Volga
1 Lapa Colônia Alemães do
878 Wirmond Volga.
1 Paranag Colônia Maria Italianos,
879 uá Luiza alemães e espanhóis
1 Campo Colônia Mendes Italianos e
883 Largo Sá poloneses
1 Campo Colônia Alice Poloneses
886 Largo
1 Araucári Colônia Barão Poloneses
886 a de Taunay
1 Curitiba Colônia Santa Poloneses e
886 Gabriela Italianos
1 Curitiba Colônia Antonio Poloneses e
886 Prado Italianos
1 Curitiba Colônia Pres. Poloneses e
886 Faria italianos
1 Curitiba Colônia Maria Italianos
887 José
1 Rio Colônia João Alemães e
887 Negro Alfredo poloneses
1 Rio Colônia São Alemães
887 negro Lourenço
1 Curitiba Colônia Santa Italianos
888 Felicidade
1 Paranag Colônia Italianos
888 uá Visconde de Nacár
1 Paranag Colônia de Italianos
888 uá Santa Cruz
1 Paranag Colônia Santa Italianos
888 uá Rita
1 Campo Colônia Balbino Italianos
889 Largo Cunha
1 Campo Colônia Dona Italianos
889 Largo Mariana
65
Cf. MARTINS, 1989, p. 69. Não se pode esquecer de que nessa cifra
numérica existia a população negra. A composição da população do
Paraná segundo a cor, no século XIX, variou de 58,6% de brancos e
41,4% de negros, pardos e mulatos em 1800, passando a 55,1% de
brancos e 44,9% de negros, pardos e mulatos, em 1822; 57,2% de
brancos, sem população da Lapa, e 42,9% de negros, pardos e mulatos
em 1854; e 55% de brancos e 45% de negros, pardos e mulatos, em 1872
(Dicionário histórico-biográfico do Paraná, 1991, p.383).
66
Para se ter uma visão critica sobre essa forma de ver a constituição da
sociedade paranaense: MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos Índios
Kaingang: a história épica dos índios Kaingang no Paraná (1769-1924). Maringá-
PR: EDUEM, 2009. p. 19-71.
133
Paraná repete o exemplo de equilíbrio
[...] como a sua característica
fundamental. Em certas regiões
brasileiras o esquema da população
pode ser um “triângulo retângulo” [...]
o elemento português, o índio [...] o
africano – aqui a figura geométrica
seria, na mais simplificadora das
hipóteses, um polígono irregular de
sete lados, cujas faces, em extensão
decrescente e tamanho variável,
representariam os elementos
polonês, ucraniano, alemão, italiano,
[...] o índio e o negro
67
(MARTINS,1989, p. 108).
67
MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio sobre o fenômeno de aculturação
no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p. 108.
68
O desenho dos esquemas foi retirado de: MOTA, Lúcio Tadeu. História do
Paraná: ocupação humana e relações interculturais. Maringá-PR: EDUEM, 2005.
p. 53-54. (Formação de professores EAD, n. 28).
134
NE
GR
OS
ÍNDIOS
POVO
BRASILEIRO
PORTUGUESES
P ORTUG UÊS
NO
AL
IA
E
AN
M
ÃO
CR
U
NEGRO
ÍNDIO
POVO
PARANAENSE
O
PO
AN
^
LO
I
AL
N
IT
ES
PEQUE NO S GRUP OS
135
implantadas tais colônias em vários pontos da
Província.
136
Rio das Cobras, no município de Laranjeiras do
Sul; Colônia de Catanduvas, implantada em
1891, localizada entre a colônia militar de Foz
do Iguaçu e Guarapuava; Colônia de São
Tomás de Papanduva, instalada em 1875 na
região do Rio Negro.
• Considerações finais
137
pouco sobre esse período da história paranaense
que não costuma ser abordado nas escolas, e
praticamente não é estudado pelos alunos.
Apesar de a história paranaense ser objeto de
estudos desde meados do século XIX até os dias
de hoje, de forma geral muito pouco contato os
educadores e estudantes têm com esses estudos.
REFERÊNCIAS
138
MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio
sobre o fenômeno de aculturação no Paraná. 2.
ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. P. 66-67.
139
PARANÁ. Governador (1869-1870: Affonso de
Carvalho) Relatório do Presidente da Província do
Paraná Dr. Antonio Luiz Affonso de Carvalho
apresentado à Assembléia Legislativa na abertura
da 1ª sessão da 9ª legislatura em 15 de fevereiro
de 1870. Disponível em:
<http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso
em 17/mar. 2008.
141
Carvalho apresentado à Assembléia
Legislativa, na abertura da 1ª sessão da 9ª
legislatura, em 15 de fevereiro de 1870.
Disponível em:
<http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso
em: 17 mar. 2008.
ATIVIDADES
142
143