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A luz de Nossa Senhora das Candeias

Uma rápida pesquisa na internet é o suficiente para saber um pouco mais sobre a devoção
de Nossa Senhora das Candeias. Inclusive temos um artigo aqui no a12.com da academia
Marial que detalha de forma competente as origens e a expansão dessa devoção (Pode-se
acessar dito artigo clicando aqui). Gostaria então de fazer algo diferente nesse texto, que
ajudasse a refletir sobre o significado da luz na vida do cristão, visto que candeia significa
vela, assim como candelabro é um suporte para várias velas.
A passagem na qual Simeão diz a Maria que o menino que ela leva ao templo é “Luz para
iluminar as nações e glória do teu povo de Israel”, deixa bem claro que Jesus é a luz e
Maria aquela que porta, que apresenta essa luz. E não é exatamente isso que faz uma vela?
Ela, em si mesma, está apagada e não ilumina nada. É preciso que algo exterior venha a
seu encontro e a acenda. E uma vez acesa, a chama ilumina por onde passa. Mas se a vela
pudesse ter consciência, certamente ela não pensaria que sua chama tivesse origem nela
mesma, porque se saberia incapaz de produzir qualquer coisa do estilo. Pelo contrário,
reconheceria em um instante que esse calor, embora se encontre verdadeiramente nela,
não é dela.
Bonita imagem para falar da vida cristã. Muito antes de apresentar Jesus no templo,
quando recém ficou grávida e foi visitar sua prima Isabel, Maria já mostrou essa
consciência de que o menino que ela gestava não era obra sua. “O Poderoso fez em mim
maravilhas e grande é o Seu Nome”. E se as gerações seguintes a chamariam de bendita,
seria mais por aquilo que Deus obrou em sua vida do que por seus próprios méritos ou
virtudes (Que também são altíssimos). Maria sabia que era uma candeia e que a Luz é
Jesus.
E celebrar isso se faz especialmente importante hoje em dia. Por que? Porque parece que
muitos hoje em dia pensam que possuem luz própria. Aliás, parece que a busca por ter
luz própria se tornou, de alguma maneira, o objetivo de vida de várias pessoas. Não será
isso que está por trás de uma busca de independência, de autossuficiência, de autonomia?
O que significa ser autônomo? É possível para um cristão ser verdadeiramente
independente?
Por trás desse tipo de pensamento pode se esconder um perigo muito grande. Nessa ânsia
por se desvencilhar de tudo, pode-se acabar desvencilhando-se de Deus mesmo. Alguns
fazem isso abertamente, pensando que uma vida cristã necessariamente leva a um certo
tipo de prisão. Para quem não é cristão, seguir mandamentos e dogmas é quase sempre
um motivo forte para evidenciar essa dependência daninha. Mas mesmo entre cristãos,
mesmo que veladamente em seu interior, pode existir essa tendência a ser autônomo, ser
sua própria luz. Afinal de contas, não foi isso que aconteceu a Adão e Eva no pecado
original?
O problema de tudo isso é que se não reconhecemos que a luz não vem de nós mesmos,
mas de Deus, ela acaba se voltando contra nossa própria vida. A luz consome a própria
vela até que ela se extingue. Você pode pensar: Mas é natural que a vela se consuma se
está acesa. Realmente! E justamente essa é a questão! Enquanto não se reconhece que o
homem é feito para algo mais que o natural, para o sobrenatural, ele acaba se consumindo,
até se extinguir também. O homem sem Deus constrói a Torre de Babel, constrói a bomba
atômica, constrói campos de concentração nazistas e comunistas. E quem vai discutir que
nisso tudo ele se consumiu, ou seja, se fez menos humano? Enquanto que o homem com
Deus é chamado a algo mais. Com Deus, o homem participa na construção de um Reino
que não terá fim. Participa de uma luz que não se apaga, de uma sarça ardente que não
se consome. De uma candeia que não tem fim.
Por isso, quando celebremos com velas o dia 2 de fevereiro, lembremos que essa luz que
levamos alto não vem de nós mesmos. Façamos como Maria que se reconhecendo
portadora da luz, foi capaz de iluminar a muitos com a única luz que não se apaga jamais.
E é nesse reconhecimento que nos fazemos verdadeiramente independentes de tudo
aquilo que diminui o ser humano, de tudo aquilo que o afasta de Deus, de si mesmo, de
seus irmãos e de toda a criação.

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