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RAQUEL EMI SUWA

PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL DE LEV VYGOTSKY:


PAPEL DA ESCOLA E ATUAÇÃO DO PROFESSOR.

Londrina
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2018
A teoria histórico-cultural inicialmente desenvolvida por Lev
Semionovich Vygotsky (1896-1934), em colaboração com Alexander Romanovich
Luria e Alexis Nikolaevich Leontiev ocorreu no contexto de grandes transformações
políticas e sociais russas com influência da teoria marxista e do comunismo. Tal
teoria tem como tese central a formação e desenvolvimento da mente humana
baseada nas interações sociais com outros sujeitos que já se apropriaram da
cultura, tendo a realidade como construção social e histórica. A educação escolar,
não é apenas contexto de socialização do indivíduo que influi em alguns processos,
é também dialética social que pode reestruturar suas funções psíquicas. Sua função
portanto, é a construção do pensamento conceitual, que não é inata nem recebida
como um “pacote pronto”, tal construção é originada pelo processo gradual de
internalização da cultura mediado pelos instrumentos socialmente criados, de fora
para dentro.
A mediação pode ser realizada por instrumentos, técnicos ou
simbólicos, e ambos estão em constante transformação devido as interações
culturais. Os instrumentos técnicos proporcionam transformação do objeto, ou
melhor, quando o sujeito se relaciona com as coisas do mundo através de
ferramentas. Os signos (instrumentos simbólicos) aparecem como marcas externas
desenvolvendo o processo, já citado, de internalização criando signos internos como
a linguagem que é compartilhada por grupos sociais.
Com relação a aprendizagem conceitual, a linguagem tem grande
influência assegurando que os significados sociais sejam compartilhados, haja vista
que a palavra é a célula da linguagem e esta transforma a estrutura e funcionamento
da atividade humana. Assim, os professores devem colaborar para formar
significados, ou seja, pensamentos abstratos, que tenham sentido, materializar o
confronto entre as significações vigentes e as significações pessoais, e estabelecer
sistemas de relações para os estudantes para que alcancem a linguagem intelectual.
Dessa forma, a escola é o lugar onde a intervenção pedagógica
intencional, consciente, orientada, sistematizada e organizada desencadeia o
processo ensino-aprendizagem, e assim favorece o desenvolvimento de funções
psíquicas superiores especiais, tais como operações mentais, generalizações,
planejamento, organização, atenção voluntária e memória. A proposta de ensino
deve ser capaz de ampliar as possibilidades de conhecimento do aluno, à partir dos
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conceitos espontâneos (conhecimentos prévios) com os conhecimentos científicos,


sendo necessário partir do saber objetivo produzido historicamente e transpo-lo em
conteúdos curriculares.
Ao estudar sobre o aprendizado e desenvolvimento, Vygotsky
apresenta o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal que seria a distância
entre o nível de desenvolvimento real ou atual de uma criança e o nível de
desenvolvimento potencial ou próximo. Em outras palavras, a zona de
desenvolvimento proximal é o campo das possibilidades entre o que a criança
consegue fazer sozinha e o que ela está perto de conseguir fazer sozinha com a
colaboração de adultos ou companheiros capazes. Saber identificar essas dois
níveis e trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas são as duas principais
habilidades que um professor precisa ter, para possibilitar o bom ensino e adiantar o
aluno ao desenvolvimento.
Além disso, Vygostky aponta três condições para o ensino promover
a aprendizagem, o primeiro é utilizar ajuda, a cooperação de pessoas capazes para
que os aprendizes consigam realizar a atividade, o segundo os instrumentos
psicológicos utilizados para a mediação dos processos de apropriação dos conceitos
sendo a linguagem a mais presente em sala de aula e o terceiro é o conhecimento
das funções e dos processos que motivam e favoreçam o aprendizado, como a
qualidade dos procedimentos, recursos didáticos, práticas pedagógicas aplicadas
em sala de aula.
O ensino deve se antecipar ao que o aluno ainda não sabe nem é
capaz de aprender sozinho, para que possam pensar além e ao entrar em contato
com a colaboração do professor passam a aprender e após isso desenvolver as
funções superiores, sendo esse um passo a frente. Ao caminhar com o aluno um
passo muito a frente sem levar em consideração os conhecimentos espontanêos
poderá gerar frustações ou dependência do professor.
Logo, as atribuições do professor como impulsionador do
desenvolvimento psíquico das crianças são importantes para Vygostky. Apresentar
às crianças formas de pensamento, previamente detectar que condições elas têm de
absorvê-las, pensar em elaborar critérios para avaliar as habilidades que seus
alunos já têm e aquelas que eles poderão adquirir, perceber que certas atividades
estimulam as crianças a pensar de um modo novo e que outras não despertam o
mesmo entusiasmo sendo assim, as intervenções do professor são muito
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consideráveis para o desencadeamento de processos que poderão determinar o


desenvolvimento intelectual dos seus estudantes, a partir da aprendizagem dos
conteúdos escolares, ou, mais especificamente, dos conceitos científicos.
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REFERÊNCIAS

CARVALHO, M. V. C.; IBIAPINA, I. M. L. M. A abordagem histórico-cultural de Lev


Vigotski. In: CARVALHO, M. V. C.; MATOS, K. S. A. L. (Org.). Psicologia da
educação: teorias do desenvolvimento e da aprendizagem em discussão. Fortaleza:
Edições UFC, p. 161-198, 2009.

FACCI, M. G. D. Vigotski e o processo ensino-aprendizagem: a formação e


conceitos. In: MENDONÇA, S. G. L.; MILLER, S. (Org.). Vigotski e a escola atual:
fundamentos teóricos e implicações pedagógicas. 2ª ed. Marília: Cultura Acadêmica,
p. 123-144, 2010.

SCHROEDER, E.; FERRARI, N.; MAESTRELLIA, S. R. P. Construção dos Conceitos


Científicos em Aulas de Ciências: a teoria histórico-cultural do desenvolvimento
como referencial para análise de um processo de ensino sobre sexualidade humana.
Alexandria Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v.3, n.1, p.21-49,
2010.

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