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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
4 ASPECTOS GERAIS
Na primeira parte do documento se destacam conceitos fundamentais que definem elementos da
referência teórica do modelo proposto para um diagnóstico integrado, bem como para caracterizar e
realizar o ordenamento das potencialidades regionais, como aspectos complementares metodológicos
do Projeto de Potencialidades da Amazônia.
Ao definir tais conceitos se evidencia e destaca parte da motivação pela qual a floresta tropical
amazônica tem chamado a atenção, como no caso de seu papel no clima global (em torno do qual há
distorções e incertezas quanto a definição técnico-científica), sua riqueza na biodiversidade (grande
parte dela por desvendar à luz da C&T), suas populações indígenas (com possíveis indicadores de
ameaça de extinção), e os grandes desafios para harmonizar a proteção da natureza, a conservação de
seus recursos naturais e o manejo integrado e sustentável desse patrimônio, com o crescimento
sustentável e socialmente distribuído que a Região requer, pode desenvolver e é legítimo fazei-lo à
luz de fundamentos e diretrizes de planos como o PPA-2000.
Resenha histórica
No início da colonização, a Amazônia foi objeto da implantação de um modelo de crescimento
econômico (economicista) baseado no extrativismo com características predatórias. Em essência esse
modelo consistia na retirada de produtos “in natura” e com escasso valor agregado no local, pelas
comunidades do interior (“caboclos” submetidos às duras condições de trabalho na floresta), e sua
entrega ao “regatão” (comerciante que navegava pelos rios em busca de produtos e especiarias) ou
levado ao “barracão” mais próximo (centros de coleta para depois ser transportado em “gaiolas” para
Manaus ou Belém). Desse processo eminentemente “economicista” ficou apenas uma pequena parte
de lucros monetários fáceis em poder de uma classe dominante, uma floresta com sinais de
descapitalização e perturbação, uma cultura regional em processo de degradação e com perdas que se
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atribuem ao colonizador, um sentimento de submissão e uma economia sem futuro quando vista à
margem de resultados aplicados da P&D.
Com o esgotamento do período das especiarias e do ciclo da borracha nas décadas de 50 a 80, a
Região foi relegada ao abandono o que gerou mais pobreza e piorou as condições de vida para as
populações locais.
Na década de 50, para tentar minimizar a situação crítica na Região, o Governo criou a
Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia – SPVEA – que, com poucos
recursos e sem “capital social” adequado para enfrentar o desafio, não conseguiu cumprir seus
objetivos fundamentais.
Na década de 60, com evidências de inoperância da SPVEA e com a sua imagem pública
deteriorada, o Governo a reformulou criando a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
– Sudam. Esta, até da década de 80, além de não conseguir implantar um modelo de desenvolvimento
regional consistente ou de gerar um produto de qualidade econômica, ambiental e com impacto
positivo social, financiou, com recursos públicos, uma grande derrubada de áreas florestadas
descapitalizando o ecossistema e promovendo danos ambientais significativos.
O problema foi agravado no final da década de 60 e início dos anos 70 com a formulação de um
modelo energético para a região que construiu grandes Usinas Hidrelétricas com a energia destinada
a centros urbanos e para o setor industrial. Mais de 50% da população amazônica, que vivia em
comunidades isoladas, não recebeu a oferta de energia do sistema convencional. Criou-se com esse
modelo, segundo o Inpa (1999), um contingente de mais de 9 milhões de pessoas deserdados do setor
elétrico.
Em termos de evolução histórica, se a década de 70 se caracterizou pelo conflito entre o
pensamento econômico e a necessidade de preservação do meio ambiente, a década de 80,
especialmente a partir da Resolução 1a. do Conama (1986) e da promulgação da nova Constituição
do Brasil, a questão do meio ambiente ganha força sem, contudo, para o caso da Amazônia, ter podido
superar inúmeras dificuldades para tratar os problemas criados para o meio ambiente pela mineração
e siderurgia, pela agricultura comercial e pela pecuária extensiva sem adequados alicerces.
Na sucessão de modelos de crescimento aplicados na Região o manejo de problemas do meio
ambiente, além setoriais e incompletos, esteve dissociado das condições de pobreza e das
características sociais, culturais e socioeconômicas, entre outras, de atores importantes desse meio
O despertar de uma consciência ambiental na sociedade moderna fez surgir preocupações em
relação à proteção do meio ambiente, à sustentabilidade de processos e produtos, à conservação e
manejo integrado de seus recursos naturais e à qualidade de vida de suas comunidades, entre outras.
Essas preocupações e seus efeitos contribuíram para agravar a situação sociocultural, econômica e do
meio ambiente da Amazônia que passou a experimentar o confronto entre a exploração de suas
riquezas e a pressão externa, por vezes caracterizada pela falta de informações e conhecimentos
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
1
Passarinho (2000), em “Amazônia e soberania” (Correio braziliense, 28, mar. 2000, p. 23, c. 2-a 5) incita, com alguns
dados históricos, para uma reflexão sobre a cobiça internacional.
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O conceito multicreterion decision making simplificado pelo termo multicriterial, compreende e/ou se relaciona com
atributos, critérios, objetivos, metas e restrições (limitações e potencialidades) de um conjunto de técnicas ou modelos para
otimização, condicionada pelas restrições e potencialidades de uma função objetiva “economológica” social. Nesse
processo complexo se encontram objetivos conflitantes ou em atritos e objetivos nem sempre mensuráveis em numerários
comuns, por exemplo o monetário, o que entranha dificuldades de conceitualização e de operacionalização da técnica
multiobjetive decision making. Esta situação é evidente em processo de intervenção setorial na Amazônia quando
determinadas funções econômicas temáticas e setoriais foram maximizadas em perspectivas de curto prazo, às custas de
estruturas e funções constituídas em outros setores, porém não reconhecidas nas atividades econômicas aqui definidas como
“economicistas”.
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Em cada fase do processo é possível estabelecer um modelo, isto é, uma estrutura analítica capaz de permitir estudar as
relações entre um conjunto de variáveis características de uma região, com base em hipóteses das quais são retiradas
implicações e previsões. O modelo, para ser útil, deve ser uma versão simplificada e abstrata de uma realidade específica,
proposto para realizar previsões derivadas logicamente de suas pressuposições consistentes entre si, sendo que quanto mais
geral for o modelo, mais difícil será conseguir certo grau de acuidade em suas previsões (FGV, 1987).
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
Legitimidade do processo
No complexo amazônico de situações e de condições biosocioculturais, bioeconômicas,
biodiversidades e abióticas, ainda na forma enigmática porque não se gerou a informação necessária
para o conhecimento e a tecnologia para a sua conservação e proteção, o processo conveniente de
desenvolvimento deverá integrar as diversas dimensões e interesses, de “legítimos” atores e
intervenientes, com os paradigmas em torno da Região, para o encontro de soluções que conciliem o
crescimento econômico com melhores condições de vida de suas populações e com a necessária
proteção (de funções, de estruturas, de composições, de inter-relações...) desse patrimônio. Isto, com
vistas à assegurar que seus fluxos de “utilidades” (conceito econômico) e de riquezas sejam
usufruídas, também, pelas gerações futuras.
Orientação do processo
Em princípio, o processo de desenvolvimento deve ser orientado, de forma criteriosa, pelo
conhecimento técnico-científico aliado, repetindo, ao conhecimento e valores tradicionais,
devidamente caracterizados e valorizados para sua proteção e aprimoramento, e pelas tecnologias,
processos e produtos “limpos” e sustentáveis (Colby, 1990), bem como por instrumentos de política
e gestão, com propostas de mudanças e ajustes (evolutivas) de atuais e aplicáveis paradigmas
(Barbier, 1987 e Becker, 1987, complementados).
Conforme essa orientação, o desenvolvimento deixa de ser considerado apenas um resultado
econômico, ou de mercado, 4 ou social-cultural, ou técnico-científico, ou de ambientalistas..., e passa
a ser visto como resultados (dinâmicos ou em permanente evolução) de ações conjuntas, integradas e
“concertadas”, quanto possível, e de formas estratégicas gradativas (parcerias, cooperação,
associação, compartilhamento), definidas nas dimensões econômico-financeiras, sociocultural,
ecológica-meio ambiente-recursos naturais, político-institucional (regional, nacional e internacional),
legal, administrativa (de gestão) e tecnológico-científica, entre outras que ali devem confluir e se
integrar. Essa desejável e procurada confluência multidimensional e multicriterial se apresenta, na
atualidade, distante da realidade.
4
O mercado não é suficiente para prover um desenvolvimento sustentável em condições de pobreza. Sem a presença do
Estado, o desenvolvimento significaria apenas uma melhoria do crescimento, mas com a manutenção do status quo, das
condições de pobreza que pressupõem a destruição da dimensão social, da distribuição desigual dos benefícios do meio
ambiente e da socialização dos custos ambientais.
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Desafios do processo
A distância entre uma proposta de crescimento conciliadora de interesses e consistente com a
realidade do meio ambiente, aliada a falta de um consenso operacional no conceito de
desenvolvimento sustentável são proporcionais às contradições, reais ou aparentes, que surgem
quando se procura passar da conceitualização e interpretação para a implementação de soluções, para
o exercício da solidariedade e conciliação (consistência, coerência etc.) e para a prática de valores
éticos e morais locais e regionais. Tais valores com frequência não são reconhecidos nos interesses
econômicos, em especial, os interesses internacionais que apontam, com cobiça e ilegitimidade de
apropriação, para a Amazônia e seus recursos naturais.
Por outro lado, o conceito de desenvolvimento sustentável traz, como suposto, uma nova ordem
internacional e o exercício de parcerias entre supostos “iguais”, que podem, de fato, não-existir,
conforme se constata da inconclusa reunião da Rodada do Milênio da Organização Mundial do
Comércio (Seattle, 1999) onde, apesar da expectativa de vir a ser um palco de importantes decisões,
frustrou-se a pauta de progressiva eliminação dos subsídios, de acesso aos mercados e de apoio as
políticas internas. O que ficou claro foi o desconhecimento ou não-reconhecimento de correlações de
forças presentes na globalização/regionalização e o predomínio dos interesses de países
industrializados no cenário internacional. 5 Tais interesses resultam distantes e conflitantes com os
interesses dos países em desenvolvimento e dos países dominados pela dependência externa (cultural,
tecnológica, econômica, financeira, ideológica etc.).
Apesar das severas limitações que possa entranhar (e de fato, compreende) o conceito de
desenvolvimento sustentável/sustentado, é conveniente (pelo menos em hipótese) tratá-lo como um
processo de alternativas em permanente ajuste e com certas vantagens, na procura de sua viabilização,
de forma gradativa. Neste sentido, o desenvolvimento poderia ser iniciado pela(s) dimensão(ões) que
resulta(em) prioritária(s) na melhoria das condições de vida humana de comunidades da Região,
conforme determinada escala e pontos de referência (descritores e indicadores) endógenos.
Desta forma colocada, o desenvolvimento sustentável poderá adquirir uma perspectiva particular
de um período, com características de um modelo para esse período, adequado às condições e às
exigências da Região, dando conta da especificidade e da diversidade de condições naturais e
socioeconômicas dessa/nessa fase do processo. Isto pressupõe uma agenda de conhecimentos sobre
essa diversidade e sobre os condicionantes ecológicos, econômicos e socioculturais, entre outros, que
viabilizem a perspectiva ou a oportunidade particular de progresso desse período. Nessa ótica, o
processo admite modelos circunstancias rigorosamente integráveis a outros e sequenciais.
Certamente não tudo por ser prioridade, porém o tratamento em apenas uma dimensão, em geral,
perde seu efeito, dada a interdependência dos elementos do problema e a interdependência dos
elementos afetados do sistema.
5
O viés que resulta das relações internacionais pode não só agravar o fosso econômico, mas também aumentar o fosso do
meio ambiente entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
Início do processo
Ao final como um processo (de vários modelos seqüenciais e integráveis) e dadas as limitações
em todos os sentidos, o desenvolvimento poderia ser iniciado pela(s) dimensão(ões) que resultar(em)
prioritária(s) na melhoria das condições de vida humana na região com possibilidades de atendimento
pelo ecossistema.
Qual(is) é (são) essa(s) dimensão(ões)? Certamente não tudo por ser prioridade, 6 porém o
tratamento em apenas uma dimensão, repetindo, em geral, perde seu efeito, dada a interdependência
dos elementos de um problema ou as interações de problemas em um sistema, de sistemas em uma
sub-região etc.
Em ausência de planos, os estudos de ordenamento e zoneamento econômico-social e
agroecológico poderão permitir, quando adequadamente planejados, executados e implementados,
definir escalas e priorizações dos problemas a serem abordados nos planos de desenvolvimento
regional.
É importante destacar que um dos instrumentos específicos, não apenas para definir planos, mas
políticas do meio ambiente desses planos, é o zoneamento econômico-social e agroecológico, pelo
seu grande potencial de ordenamento territorial. Contudo, se implementado de maneira isolada,
poderá se converter em mais um instrumento indicativo para o planejamento da localização espacial
de atividades econômicas, conforme seja a aptidão e potencialidade do meio ambiente. A efetividade
depende da conjugação com outros instrumentos, atividades e estratégias que possam modificar
decisões, comportamentos e atitudes em relação ao uso e manejo dos recursos naturais.
O início do processo de desenvolvimento pode ser definido com base em problemas do meio
ambiente que envolvem disfunções físicas (meio ambiente – ecológicas – recursos naturais),
econômicas, sociais (culturais) e técnico-tecnológicas. Mas, esse início requer soluções que
dependem, por vezes, da ação política-institucional (legislação –outra dimensão do desenvolvimento
sustentável - controle...) e de outros meios e instrumentos (crédito, mercados, assistência técnica,
políticas econômicas etc.). Essas disfunções, em geral, resultam fortalecidas pela ação de mais de um
componente com perturbação ou degradação. Desse modo, interessa evidenciar, isto é, colocar de
6
Quando tudo for avaliado e disposto como se for prioritário, nada será prioritário.
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O crescimento da Amazônia tem sido pautado por padrões dependentes do capital internacional e tecnologias forâneas,
pautado pela especificidade da Região quanto ao valor de suas riquezas naturais cobiçadas. Esse crescimento desequilibrado
e heterogêneo resultou em uma concentração econômica e demográfica, em degradação do meio ambiente e em perdas de
qualidade de vida das populações locais, com o traço marcante da desigualdade no acesso, posse e distribuição de benefícios
dos recursos naturais, como a terra objeto de especulação e conflitos fundiários e a consequente expulsão dos nativos de
suas área e migração aos centros urbanos. Esse é parte do cenário que o novo modelo de desenvolvimento sustentável e
sustentado deverá tratar.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
100% Potencial
80%
Produção
60%
40%
Casatanha-
Palmito
do açai
Fruto
Borracha
do-pará
20%
0%
a
Fonte: Borges e Pastore (1999)
Como recursos econômicos, algum de elevado potencial no mercado, cada um deles possui sua
própria dinâmica e problemas que requerem de tratamento técnico e institucional particular e
diferenciado.
Novas perspectivas para a exploração sustentável dos recursos naturais não-madeireiros precisam,
simultaneamente, considerar a importância dessas perspectivas nos seguintes contextos:
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
com as indústrias de países desenvolvidos que puderam introduzir, em maior ou menor nível, de
maneira efetiva ou aparente, as chamadas técnicas end-of-pipe, vale dizer, de tratamento de resíduos
ao final do processamento industrial. Mediante essas técnicas foi possível considerar (evitar), pelo
menos em parte, danos ao meio ambiente. Por outro lado, a substituição de processos produtivos e
produtos com o uso criterioso e a substituição tecnológica possíveis de recursos naturais por recursos
reproduzíveis pela indústria, é uma tendência de peso e em fase de crescimento na globalização.
A inelasticidade de substituição de recursos naturais por recursos tecnológicos (vista como
limitações, em determinado momento e condições, da P&D e C&T em oferecer e atender essa
substituição técnico-econômica) e a implantação de técnicas end-of-pipe (menores possibilidade de
ganhos futuros com essas técnicas) permite prever mudanças favoráveis para as chamadas tecnologias
"mais limpas", integradas aos processos e com resultados positivos, privilegiados estes pelos
mercados, nos serviços e produtos beneficiados pelas modernas tecnologias.
Na hipótese de que a introdução de tecnologias “amigáveis com o meio ambiente” não venha a ser
acompanhada com a desconcentração de polos industriais, na periferia, o dumping ecológico poderá
influenciar decisões em fóruns internacionais reivindicando compensações para os efeitos negativos
(externalidades tecnológicas e pecuniárias dos processos e produtos “não-limpos”) incorporadas no
comércio internacional de produtos intensivos em recursos naturais.
8
As negociações que permitiriam o livre comércio entre os países se inspiram na doutrina do livre câmbio, enunciada por
Smith há mais de 220 anos e com poucas mudanças na atualidade. Nessa se afirma que o comércio internacional deve ser
livre para viabilizar a divisão internacional como uma das condições básicas para o desenvolvimento. A primeira proposição
dessa doutrina argumenta que cada país só pode se especializar na produção das mercadorias para a qual possui vantagem
comparativa se puder vendê-la aos demais países; caso contrário só poderia escoá-la no mercado interno de seu âmbito,
impedindo alguns ganhos de escala e marginalizando-se da competição internacional. A Segunda, assinala que o avanço
tecnológico requer a especialização produtiva dos países, porque nenhum deles tem recursos e mercados suficientes para
alcançar e excelência em todos os ramos da produção. Nessa OMC se houvesse consenso sobre as virtudes do livre comércio,
os entraves seriam superados. Na realidade cada país protege o mercado interno protegido da concorrência de bens
importados e trata de resguardá-los para servirem de moeda de troca (saldo comercial e reservas cambial do país
transformada em ativos no exterior, conforme doutrinas neomercantilistas com raízes keynesianas), inspirados numa
doutrina anterior ao libre comércio, o mercantilismo, segundo o qual a riqueza de cada país é incrementada pelo que venda
e diminuída pelo que compra. Qual é a relação com a P&D? Está no fato do governo utilizar a demanda externa como
complemento para administrar a demanda efetiva de modo a conter a inflação, reduzir o desemprego, estimular as
exportações e restringir ou substituir as importações sem arriscar o equilíbrio do balanço de pagamentos, entre outros
objetivos, condicionados pela competitividade.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
Quais são essas exigências? São definidas e orientadas para a geração de resultados “limpos” de
pesquisa aplicada e com maior efetividade e eficiência, o que confere competitividade ao cliente que
a adota e sustentabilidade ao meio em que se insere a aplicação. É direcionar o processo de pesquisa
para gerar resultados com aplicação do conhecimento científico (tecnologia) e para produzir novos
conhecimentos e novos serviços de capacitação. É gerenciar esse processo para gerar e transferir,
segundo a conveniência e oportunidade de cada caso, resultados incrementais (não se trata de
descobrir e aplicar uma nova tecnologia, mas, desenvolver a habilidade de aplicação do conhecimento
existente), radicais (traz consigo uma nova base de conhecimento técnico e científico que por si só é
insuficiente para gerar resultados práticos desejados) e fundamentais (desenvolvimento da capacidade
de pesquisa em profundidade em campos potenciais e preparação para futura exploração; Roussel et
alii, 1992, p. 17-18) destacando o papel estratégico da P&D, isto é, permitindo que o resultado
produzido (informações para o conhecimento e tecnologias para a inovação) seja integrável na
tecnologia, no saber e na estratégia do cliente alvo da pesquisa.
Parte da renovação tecnológica em parques industrias que usam recursos naturais de países
desenvolvidos é passível de adaptar e transferir aos países em desenvolvimento (P&D incremental),
mediante a endogenicidade (testes, ajustes, adequações, complementação..., para se ter a necessária
enantropia) e extensão de princípios contidos no just in time e no controle de qualidade total, entre
outros (ver Manual de pesquisa: introdução aos fundamentos da metodologia científica; Capítulo 2),
bem como de padrões tecnológicos que apresentem relativa flexibilidade para a transformação em
critérios. Isto pressupõe investimento em equipamentos e ativos intangíveis como treinamento de
mão-de-obra e geração-transferência-difusão e monitoramento dessas tecnologias “limpas”, entre
outros.
processo de des envolvimento que a Região quer, pode e deve, com propriedade,
desenvolver.
Nessa frente deverão incorporar-se, após testes e adequações que se fizerem necessárias, o acervo
de tecnologias e conhecimentos já disponíveis, os testes e adaptações de outras tecnologias julgadas
como promissoras para a Amazônia, bem como se indicar os novos rumos para a P&D nos diversos
centros de investigação integrados (a serem integrados) da Região.
que deverá se aprimora e “melhor” ajustar, sem fórmulas preconcebidas e nem padrões rígidos, se
exigem certas condições e/ou requisitos, tais como:
a) Que todos na Região tenham atendidas as suas necessidades possíveis (todos devem reconhecer
essas possibilidades de atendimento), que lhes sejam oferecidas oportunidades de concretizar
as aspirações a uma vida melhor e que sejam respeitadas determinados condicionantes de uso
e de manejo de ambientes e recursos naturais (todos devem conhecer e atender esses
determinantes e condicionantes -limites) para garantir o atendimento de necessidades e
concretizar aspirações legítimas e possíveis, para as presentes e futuras gerações.
A despeito da aparente retórica nesta conceituação ela tem conteúdos pragmáticos e, portanto,
deve ser viabilizada como condição sine-qua-non de definição, implementação e implantação
do novo processo de desenvolvimento endógeno e legítimo. É claro que a parte inicial e fases
integráveis e sequenciais desse processo podem ser definidas como modelos.
b) A promoção de valores que mantenham os padrões de consumo dentro dos limites (endogenia
definida pelos critérios regionais de conservação e de manejo integrado de recursos e ambientes
naturais e outros) das possibilidades meio ambiente-ecológica e antropogênica (no contexto
sociocultural, institucional, legal e outros).
c) Que haja crescimento econômico 9 com efeitos positivos sociais distribuídos com equidade, e
que esse crescimento seja consistente (respeite e se ajuste) com os mínimos e, principalmente
toleráveis impactos sobre o meio ambiente, mantendo (contribuindo) ou permitindo a
integridade global do ecossistema, base, em parte, da sustentabilidade do desenvolvimento.
Considerando-se que o p r o c e s s o de desenvolvimento é multidimensional e multiobjectivos,
pode-se inferir que ele contém e requer considerar, de maneira clara, compartilhada e compromissada
entre atores que definem agendas de orientação, as diversas dimensões ali implícitas. Muitas dessas
dimensões têm características singulares, razão pela qual o tratamento deve ser específico
(endógeno).
9
Entendido como redistribuição da produção, aumento da produtividade, novos produtos para satisfazer necessidades
tradicionais, produtos tradicionais para satisfazer novas necessidades, maior valor agregado no local etc.
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profundos. Nas demais, os ajustes necessários tendem a ser postergados e/ou desacreditados pelos
próprios mercados.
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Conceito da escola econômica clássica para definir o homem motivado exclusivamente por razões econômicas,
preocupado com a maximização de lucros com o mínimo de sacrifício de modo imediato, introduzindo novos métodos
produtivos do “economicismo”. No conceito de desenvolvimento sustentado-sustentável, a preocupação do homem
econômico contemporâneo é a otimização sustentável de sua função de lucro com restrições impostas pelas dimensões desse
processo sendo que parte dessas restrições o leva a internalizar os custos da degradação por ele gerados. A racionalidade é
para prevenir danos e assegurar a continuidade de fluxos acrescidos pela P&D.
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A resiliência é definida como a capacidade de um sistema para suportar perturbações e manter sua estrutura e padrão
geral de comportamento quando modificada sua condição de equilíbrio (Glossário de ecologia. 1987, p.151). Em geral, no
caso de ecossistemas amazônicos, trata-se de sistemas pouco ou não-resilientes, porquanto não retornam, no curto prazo
definido pela sazonalidade do processo natural no sistema, à condição de equilíbrio após modificações consideráveis
decorrentes das intervenções, conforme mostram as experiências e observações pontuais
12
A homeostase é definida como o conjunto de processos de auto regulagem [a serem caracterizadas com antecedência às
intervenções] pelo qual um sistema biológico atua para a manutenção de sua estabilidade através de ajustes, por mecanismos
intrínsecos, das condições necessárias para um ótimo de sobrevivência (Glossário de ecologia. 1987, p.104, adequado).
Para o caso de ecossistemas amazônicos, essa capacidade de resistir às mudanças ambientais e permanecer em seus
“estados” de equilíbrio, ao possibilitar corrigir desvios, eliminar/tolerar excessos, controlar forças antagônicas e produzir
defesas para preservar o equilíbrio, entre outros mecanismos homeostáticos, é muito limitada ou inexistente
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A intervenção deverá ser criteriosamente orientada, limitada ou proibida (preservação) em locais onde a fragilidade assim
o determinar. Convém acrescentar que, do ponto de vista físico, os projetos de desenvolvimento, a partir das potencialidades
regionais, deverão ser resilientes no sentido de apresentarem um valor presente de falha inferior ao custo de evitar essa
falha, modificando o projeto original, e robustos no sentido de serem pouco sensíveis a erros. Para evidenciar características
como estas, a abordagem numérica de ordenamento e zoneamento, definida a partir de informações suficientes e robustas,
tem uma importante contribuição nesse processo. O modelo apresentado neste documento faz parte dessa análise e
complementa o ordenamento-zoneamento
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
Pela extensão e diversidade desse patrimônio, a gestão ambiental deve ser descentralizada, com
a participação efetiva e consciente dos estados e municípios e com a corresponsabilidade do setor
privado. Ao Governo Federal cabe o papel central de estabelecer normas gerais, coordenar as ações
de âmbito nacional e estratégico, como é o caso da Amazônia, e buscar o compromisso da iniciativa
privada nessa gestão compartilhada.
temporal, que rompe com a lógica do curto prazo e estabelece princípios como os de precaução e
prevenção, bem como a necessidade de uma visão prospectiva de longo prazo; a social, que expressa
o consenso de que só uma sociedade sustentável pode produzir desenvolvimento sustentável e revela
limites da capacidade de suporte impostos ao crescimento demográfico; e a prática, na qual se
reconhece a necessidade de mudanças de hábitos e de comportamentos da sociedade perante o meio
ambiente (cidadania ecológica) conforme sejam as características do meio ambiente e as exigências
para que se mantenha sadio e conservado.
Na dimensão espacial do desenvolvimento há diversos aspectos diretamente relacionados com as
dimensões social (qualidade de vida nas aglomerações urbanas, ampliação e garantia de serviços de
saneamento básico e de controle ambiental etc.), econômica e ambiental, entre outras, que devem ser
conjuntamente consideradas na formulação de um processo de desenvolvimento sustentável.
A definição da sustentabilidade como um processo e como progressiva requer de critérios. Parte
de esses critérios define a qualidade que se passa a identificar e exigir dos diversos processos sociais
e econômicos na ocupação do espaço.
Protocolo de Kyoto: entre essas estratégias energéticas se relacionam centrais hidrelétricas (ver
potencial neste documento), energia eólica, solar e biomassa;
c) desenvolvimento do ecoturismo auxiliado pelo zoneamento de zonas com potencial turístico; a
proposta de zoneamento inclui o levantamento das necessidades locais de investimentos em
infraestrutura, serviços e capital social para as diversas modalidades de ecoturismo;
d) aproveitamento dos recursos pesqueiros com base no desenvolvimento da aquicultura, de
técnicas conservacionistas de pesca, mapeamento e conservação doa alagados importantes para
o ciclo biológico e formação do capital social que esse aproveitamento requer;
e) manejo de recursos florestais mediante a geração de tecnologias de extração e manejo
sustentável, bem como de técnicas de conservação mediante a implantação de banco de
germoplasmas de espécies vulneráveis, com vistas à produção madeireira e seus derivados,
fitofármacos, cosméticos e outros produtos biotecnológicos,
No PPA 2000 (Brasil, 1999) se reconhece e destaca, como macro-objetivo importante, a dimensão
tecnológica e científica. Nesse Plano se considera a inovação de processos, produtos e serviços, fator
determinante para a competitividade. Parte dessa inovação está relacionada com a qualidade que, para
o caso da exportação de madeira da Amazônia, representa um fator de peso na competitividade do
mercado internacional.
A dimensão tecnológica e científica contém parte da solução de questões fundamentais
relacionadas à saúde, à educação, à energia, aos problemas do meio ambiente e dos setores produtivos
primários, entre outros. É necessário, portanto, superar a precária capacidade do País em transformar,
com efetividade em intensidade e oportunidade, os resultados da pesquisa e a competência
tecnológica em inovações e em vantagens competitivas para a Região. Isto implica em planejar e
desenvolver ações e estratégias cientificas e tecnológicas com resultados devidamente articulados
com as ações e estratégias desenvolvidas nas diversas esferas do governo e da iniciativa privada.
Trata-se de identificar aspectos relevantes e estratégicos na área de pesquisa (prospecção) e de
alocar os recursos e investimentos necessários, segundo critérios realistas de uma política de inovação
para a solução de problemas relevantes, colocando o capital científico e tecnológico ao serviço do
aumento da competitividade econômica, bem como ao serviço de outras dimensões do
desenvolvimento.
No PPA 2000 se indicam diversas diretrizes para ampliar a capacidade de inovação, com destaque
para o estímulo da expansão das atividades empresariais em P&D, em articulação com as atividades,
nesse sentido, desenvolvidas pelos órgãos públicos de apoio ao setor e as universidades; desenvolver
e difundir novas aplicações das redes (tecnologia da informação, p. ex.) e capacitar recursos humanos
para esse fim; orientar o modelo de gestão das instituições de pesquisa e desenvolvimento e das
universidades para melhorar o desempenho quanto ao atendimento da demanda tecnológica, o que
resulta, em parte substantiva, da melhoria de técnicas e métodos de prospecção da demanda;
intensificar o esforço de formação e especialização do capital humano em áreas como as de
engenharias; ampliar os sistemas de certificação de qualidade de processos, produtos, serviços,
profissionais e de sistemas de gestão.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
SISTEMA POLÍTICO-
INSTITUCIONAL
Infra-estrutural, SISTEMA SOCIAL
Segurança .. DESENVOLVIMENTO
- CULTURAL
Saneamento, SUSTENTÁVEL Educação, capital
transporte, energia social
negociação, só podem materializar-se e confluir para certo resultado de consenso, mediante algum
tipo de ordenamento baseado em um critério de referência.
Na maioria dos casos esse critério é proposto como uma organização pública, portanto, com
possível viés para uma das partes da negociação.
A regularidade do comportamento burocrático, neste particular, mostra que as decisões sobre
interesses antagônicos, e que podem ser postergadas, serão adiadas indefinidamente.
Se os problemas do meio ambiente são, em geral, de caráter polemico, e envolvem interesses
sociais e econômicos díspares, por vezes antagônicos, então a solução, nesse contexto e aparente
lógica, poderia ser adiada indefinidamente. Contra esse adiamento, surge um dos primeiros desafios
para acordar uma agenda e promover a negociação entre as partes intervenientes; esse desafio está na
disposição de cada um ceder em parte de suas pretensões e de todos integrados valorizar a transação
ou negociação ao aceitar um mínimo comum entre os componentes e interessados na agenda de
negociação; 14 isto, com vistas a viabilizar ou efetivar um ganho maior que se espera encontrar e
compartilhar na sustentabilidade do meio ambiente 15 para as diversas atividades da comunidade.
Um exemplo dessa negociação pode ser encontrado no comitê de uma bacia hidrográfica em que
os usuários dos recursos hídricos, atuais e potenciais e ao longo do curso de um rio, orientados por
critérios de priorização de uso estabelecidos por lei e operacionalizados no plano diretor da respectiva
bacia, ao definir sua agenda de negociação no comitê da bacia ou sub-bacia, concordam alocar tais
recursos de maneira harmônica e para determinado local (sub-bacia, p. ex.), entre os fins consuntivos
ou não, sem prejuízos não toleráveis (?) a jusante desse local.
Esse acordo, por sua vez, é consagrado pela outorga de direitos de uso, condicionada pelas
prioridades de conservação (uso sustentável) estabelecidas no plano diretor da respectiva bacia; neste
plano se deve respeitar a classe em que o corpo de água estiver enquadrado, bem como a manutenção
de condições adequadas ao transporte aquaviário, se for o caso.
As inter-relações entre os sub-sistemas componentes, a unidade global do sistema composto que
se constitui a partir da inter-relação e a ideia intrínseca de organização implícita no centro da Figura
14
Para continuar é necessário desconsiderar a utopia, se assim for considerada dentre os posicionamentos ismos e outros,
implícita na aceitação de um mínimo e de ceder em algo por algo para um ganho sustentável ao longo do tempo (escala de
preferência temporal na alocação do recurso).
15
As negociações obreiro-patronais de determinados setores da economia mais evoluída do País mostram avanços neste
tipo de negociação para garantir outras vantagens como o da estabilidade relativa do emprego.
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1 e para o qual convergem as dimensões, são assuntos tratados na teoria de sistema 16 que afloram no
modelo de potencialidades regionais.
A Figura 2, baseada no triângulo de Möbius com mudanças para incluir a análise multicriterial,
destaca, para os propósitos ilustrativos do documento, apenas três dimensões de um processo de
desenvolvimento que, quando devidamente concebido e implementado, procura ser
sustentável/sustentado. Cada uma dessas dimensões apresenta toda a gama de possibilidades
(mutuamente excludentes e complementares) entre 0% e 100% de objetivos atingíveis caso a caso,
nas diversas dimensões. Portanto, a área subtendida por essas dimensões compreende parte da área
possível em que se realiza a negociação.
O “estado inicial”, dado pelo triângulo (ABC), define o arranjo com seus correspondentes níveis
de eficiência relativa no econômico (alta, porém insustentável, porque se realiza às custas de outras
dimensões), social (baixa) e meio ambiente-ecológica (relativamente baixa).
Um novo arranjo que surge da negociação e é representado pela área A’B’C’ (parte inferior da
Figura 2) é possível com o planejamento definido em níveis relativamente flexíveis e com critérios
objetivos e/ou pragmáticos, em função ou causa das concessões, transferências e compensações das
partes envolvidas nessa negociação e consideradas como parceiros. A legitimidade jurídica e
operacional dessas compensações e transferências são fatores de coesão e de motivação para garantir
e privilegiar a negociação e seus resultados.
O resultado esperado, em cada fase do acordo, é a ampliação de benefícios sociais, vistos pelos
ganhos na eficiência social, e pelos benefícios do meio ambiente-ecológico, vistos pela proteção de
seus estados de qualidade, quantidade, estrutura, composição, dinamismo etc., mais protegidos, bem
como quando respeitada a sua capacidade de suporte à intervenção humana. Esse respeito deve ser
definido (consagrado) e disciplinado por instrumentos legais e econômicos (ver Economia dos
recursos hídricos; Embrapa/DPD).
Na forma como é apresentado o caminho para a sustentabilidade não se trata de um ótimo de
Pareto, pelo menos no curto prazo, uma vez que a expansão da capacidade de suporte do meio
ambiente não ocorre sem custos; sem atritos e imposições pecuniárias entre os intervenientes; sem
esforços do governo para disciplinar a atividade econômica resiliente, ágil e flexível; sem
instrumentos legais necessários e adequados para disciplinar, prevenir, incentivar a educação, corrigir
e punir, quando for o caso; e sem os indispensáveis esforços da sociedade conscientizada da
necessidade de implementar o processo com sua efetiva e responsável participação.
16
A teoria de sistemas serve como uma ponte entre os diversos ramos do conhecimento e suas disciplinas, portanto
apropriada ao texto. Tanto a natureza com a sociedade é, em essência, composta por fluxos (de energia, de matérias, de
informações, de capital ...), onde a teoria de sistemas tem sido cada vez mais utilizada para estudar as interações do conjunto
de componentes. Essas interações ocorrem mediante os diversos fluxos do sistema. Os principais elementos de um sistema
são problemas, objetivos, entradas ou insumos e recursos naturais, saídas ou produtos e subprodutos, componentes internos,
limites, interações entre os componentes e o contexto do sistema ou ambiente externo. Para se estudar um sistema é
necessário conhecer seus principais elementos para entender como o sistema opera e com base nesse conhecimento pautar
a gestão
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
Como obter essas concessões dos intervenientes? mediante a negociação prévia a conscientização
e plena informação dos agentes participantes das vantagens mutuas que traz o novo estilo de
desenvolvimento e da necessidade de participação e comprometimento de todos.
A concessão, no caso ilustrado pela Figura 2, é proveniente da dimensão econômica, não mais
orientada por princípios de maximização “economicista” definidos no curto prazo, mas pela
otimização de uma função objetiva “economológica”-social, com restrições e outros condicionantes
favoráveis, inclusive para o agente econômico. Este novo conceito já se observa, apesar de ser
pequena a escala e localizado no espaço, em determinados setores e países desenvolvidos, onde o
crescimento econômico empresarial (setor privado) com qualidade social e sustentabilidade meio
ambiente-ecológica é um bom negócio. Portanto, com motivações da racionalidade dentro da própria
dimensão econômica.
Resulta um bom negócio para o setor privado (e eventuais setores públicos) quando a
internalização compulsória do custo da degradação meio ambiente-ecológica na fonte (a ser efetivada
pelo agente poluidor privado ou público), efetivada por mecanismos legais, econômicos e
administrativos/operacionais e com monitoramento e controle social, for superior às despesas de
prevenção de danos, devidamente apreçados, e de recuperação do meio ambiente afetado pelas
externalidades pecuniárias da atividade econômica não-alinhada e consistente em suas atividades e
estratégias com princípios de conservação e manejo integrado, entre outros.
Qual é o dano ambiental, sua fonte (causa) e como efetivar a recuperação desse dano?
O conhecimento dos cenários, fortalecido e induzido pela política ambiental e com base nas
informações técnicas e tecnológicas, leva, mediante a tomada racional de decisões econômicas, a
efetivar esse ganho, assumindo, nos custos de produção, as despesas (investimentos) da prevenção
em lugar dos custos de controle e punitivos. A racionalidade econômica em evitar o dano ambiental
está na diferença entre as despesas para prevenir o dano e o custo de reparar as conseqüências desse
dano ao meio ambiente, bem como o de “restaurar” o meio afetado.
Aceitar e internalizar nos sistemas econômicos o custo da degradação ambiental mediante
instrumentos como os de “poluidor-pagador”, “usuário-pagador” ou qualquer outro meio que seja
eficiente e operacional para as condições da região, já gera um bem-estar social e um benefício
ecológico-ambiental, em termos monetários o qual possibilitará criar um fundo para recuperação e
proteção do meio ambiente.
A internalização de custos do agente poluidor e a distribuição de benefícios sociais com a
exploração de recursos naturais orientada por critérios técnico-científicos, poderão ter efeitos na
dimensão econômica, limitando seus objetivos e reduzindo seus lucros no curto prazo. Mas, essa
limitação criteriosa de objetivos e lucros pode ser a garantia de manutenção de fluxos produtivos dos
recursos naturais no longo prazo.
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Entre as restrições teóricas desse modelo, tem-se a falta de indicadores e critérios adequados para
mediar a sustentabilidade multidimensional. É difícil definir um parâmetro de compatibilização de
objetivos econômicos, meio ambiente – ecológicos e sociais quando não se tem uma referência
comum e aceita pelos atores. Surge, nesse contexto, um espaço para a pesquisa aplicada (vale dizer,
aplicações dos resultados da pesquisa quando planejada e desenvolvida para atender necessidades)
que, ao consultar os atores, possa gerar soluções mini-max, com indicadores básicos para a
negociação e efetivação do processo de desenvolvimento.
Por outro lado, atores e cenários, mantém estreitas inter-relações e interdependências, de tal forma
que a expansão de uma dimensão, com valores e escalas específicas, têm efeitos sobre outras
dimensões com escalas e valores também específicos, porém diferentes entre os grupos.
A dificuldade de tratar com uma função objetiva da análise multicriterial, para o caso da dimensão
meio ambiente-ecológica, decorre, em parte, da falta de informações adequadas e precisas quanto ao
“valor de mercado dos bens e serviços ecológicos”, 17 e em parte da incerteza com relação à dinâmica
dos ecossistemas e dos problemas quanto à quantificação de valores que não são de mercados.
Informações técnicas que possam traduzir-se em valores de troca comuns contribuiriam para a
integrabilidade das dimensões numa análise multicriterial.
Em termos práticos o processo deve, além de satisfazer os diversos objetivos de transformação
produtiva do sistema econômico sustentável, de geração de serviços sociais sustentáveis e de proteção
e conservação do meio ambiente, sobrepor-se aos conflitos de interesses, bem como considerar as
mudanças que ocorrem em cada uma das dimensões. Isto significa que o ótimo global de longo prazo
deverá considerar o sacrifício do ótimo parcial em cada dimensão, especialmente, na referência de
curto prazo.
Desta forma, o espaço de negociação que a Figura 2 ilustra é função das transações entre os
diversos agentes do desenvolvimento, os quais experimentam constantes mudanças em relação à
oferta ambiental, a oferta tecnológica, as condições da economia e dos mercados e as necessidades e
aspirações dos diferentes atores.
A predisposição para aceitar mudanças nem sempre favoráveis e os termos de referência ou agenda
para orientar a negociação (indicada num leque de possibilidades tão abrangente quanto seja a
flexibilidade das posições A’, B’ e C’; Figura 2), aliada a racionalidade do conjunto
(complementaridade, sinergismo, solidariedade etc.) é condição indispensável para a negociação,
prévia a conscientização e plena informação dos agentes participantes, destacando, nas informações,
as possíveis vantagens mutuas.
17
Existem várias técnicas de avaliação ambiental agrupadas em valor de uso (como a contribuição direta do ativo ambiental
à produção, consumo, proteção, recuperação e conservação ambiental, entre outras; valor de uso indireto, que inclui as
vantagens, em termos monetários, provenientes de serviços funcionais oferecidos pelo meio ambiente para manter a
produção, o consumo corrente, a proteção e a conservação do meio ambiente e o valor de opção, definido pela disposição
do consumidor de pagar agora pelos benefícios futuros que se espera dos ativos existentes como os da biodiversidade e
recursos genéticos e hídricos. Há técnicas de valoração de não-uso e valor de existência. Qualquer que seja a técnica, é
necessário dispor de informações quanto a contribuição desses recursos nos bens de mercado (“demanda derivada”), bem
como do nível de imprescindibilidade desses bens e serviços nos processos produtivos econômicos.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
18
É importante destacar que o mercado não é suficiente para prover o desenvolvimento sustentável em condições de
pobreza. Entretanto, seu peso, nesse processo, vem aumentando, quando surgem as oportunidades numa economia
globalizada.
19
O conceito econômico de elasticidade situa o bem econômico em determinada escala; assim bens ineláticos são
considerados bens imprescindíveis e de reduzida substitbuibilidade técnico-econômica. Nestes, os substitutos tornam-se
alternativas desejáveis.
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Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
Eficiência
social
C’
B’
Situaçã Situação
o Atual
Atual E
C
D’ B
Eficiência ecológica
D
100%
meio ambiente
econômica
Eficiência
A A’
100 %
Situaçã
o OEMA
Atual Possível Objetivo Ecológico-
Meio Ambiente
(OEMA)
20
O conceito econômico de elasticidade situa o bem econômico em determinada escala; assim bens ineláticos
são considerados bens imprescindíveis e de reduzida substitbuibilidade técnico-econômica.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
sem a parceria dos setores públicos e privados, sem a necessária conscientização social e pública de
sua necessidade, sem a informação necessária e oportuna para induzi-la ou fundamenta-la, sem a
contribuição decisiva da P&D e da C&T para efetivá-la, sem o reconhecimento das vantagens
mútuas intersetoriais e das perspectivas de mercado, sem a necessária vontade e decisão política
para provocá-la e conduzi-la, sem as estruturas organizacionais e operacionais de uma
administração adequada e transparente, enfim, não ocorrerá a mudança sem a integração
balanceada de contribuições e de conhecimentos dos diversos agentes e atores intervenientes nesse
processo.
Dessa forma, no arranjo que leva a definição de etapas do desenvolvimento, se evidenciam as
ações normativas, reguladoras e promotoras do Estado, a força das organizações comunitárias na
proteção e conservação do patrimônio natural e a racionalidade do mercado e dos sistemas
econômicos. É claro que essa evidência, repetindo, não se dará sem esforços e sacrifícios.
Apenas como uma indicação ilustrativa, dentro do esquema conceitual proposto no documento, se
relaciona alguns dos fatores e condicionantes da mudança A A’, tomando como referência, para o
exemplo, a interdependência entre recursos florestais - recursos hídricos:
a) Medidas e instrumentos legislativos adequados e oportunos que penalizem as ações e
intervenções responsáveis pelo “estado” A e motivem ou incentivem as ações e estratégias para
a mudança e permanência em A’.
Quais são, em princípio, essas medidas? O planejamento e gestão estratégicos para o
aproveitamento dos recursos madeireiros e não madeireiros (extrativistas); o manejo florestal
preservando “estados” e condições de renovabilidade de excedentes e funções ecológicas
próprias desses ambientes; a conservação das florestas para garantir o fluxo de excedentes
econômicos; a proteção sociocultural de seus habitantes e condições de vida que procuram
preservar os “estados” da renovabilidade; as políticas fiscais orientadas para a proteção das
florestas; as políticas de preços dos produtos florestais; as políticas de monitoramento,
vigilância e controle, com meios operacionais para a sua efetivação; a integração e
implementação de políticas em planos de desenvolvimento, tais como as políticas de recursos
hídricos, de pesquisa/ciência e tecnologia, agro-silvo-industrias, ecoturismo, energia,
transporte, comércio e cooperação internacional, entre outras com perspectivas para o
desenvolvimento da Região.
b) Modelos de desenvolvimento consistente com a realidade regional sustentável em A’. Essa
consistência reside, em parte, no reconhecimento dos limites de ambientes e recursos naturais
para o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Esses limites são determinados, em grande
parte, por critérios e indicadores gerados pela P&D e a C&T; tais critérios pautam a
intensidade, oportunidade e especificidade das intervenções. A consistência também resulta do
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Referência da
proporcional
distribuição em três
dimensões do
desenvolvimento
Vantagens do
econômico às
custas do social
Componente Econômico-financeiro
Estrutura, organização, projeções, tendências .....
Distribuição “paretiana” que
permite, através de tecnológicas,
Componente aumentar os benefícios no social, no
Social Cultural meio ambienete-ecológico e no
político-institucional sem afetar o
“Diamantes” do desenvolvimento componente econômico-financeiro
Ecológica-meio ambiente
P&D
Político institucional
C&T
P&D/Econômico
Econômico-financeiro
4.3 SISTEMATIZAÇÃO
É conveniente e necessário para o desenvolvimento das ações de coordenação de forma eficiente
e para que os componentes de um sistema de planejamento e gestão de recursos sejam
descentralizados e harmoniosamente integráveis, procurar a normalização e sistematização, quanto
possíveis, de termos e conceitos das disciplinas ou áreas temáticas de uso frequente em planos,
programas e projetos, visando:
a) Corrigir ou evitar, quanto possível ou quando não-benéfico, o confronto, sem benefícios para
as disciplinas concorrentes, da diversidade conceitual e de interpretação de termos técnicos
específicos das áreas do conhecimento.
b) Facilitar a comunicação das informações, principalmente as de natureza técnico-científicas e
socioeconômicas da multidisciplinaridade em documentos que as contenham.
d) Possibilitar a clareza, isto é, a concisão, a objetividade e a precisão da informação.
A conservação de recursos naturais é muito abrangente nos seus aspectos conceituais disciplinares,
estando inter-relacionada a diversas funções que os planejadores e tomadores de decisão não
consultam com a frequência e com a intensidade que são indispensáveis.
Em parte, essa omissão se deve aos atritos e dificuldades de integração das disciplinas. Isto
favorece a ineficiência de decisões ao tentar equacionar problemas visando corrigir efeitos, ou ao
tentar soluções setoriais e temáticas, desvinculadas de causas e do entorno do problema.
Em nível agregado, com o estabelecimento de um Plano de Desenvolvimento Regional, se procura
gerar um processo capaz de estabelecer uma relativa padronização e regulamentação de uso dos
recursos e de suas disponibilidades, gerando os necessários e possíveis equilíbrio entre
disponibilidades (conhecidas) e necessidades (disciplinadas).
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
4.4 CENÁRIO
A construção de cenários é uma das alternativas metodológicas mais adequadas de previsão com
flexibilidade suficiente para lidar com a incerteza e com visão global que incorpore a influência de
fatores econômicos, sociais, culturais, meio ambiente - ecológicos, legais - administrativos e técnico-
tecnológicos-científicos, entre outros, nas variáveis inerentes ao objeto de estudo.
O termo cenário ou futuribles foi inicialmente aplicado ao planejamento estratégico militar nos
Estados Unidos da América, sendo definido como uma “sequência de eventos hipotéticos construídos
com a finalidade de focalizar as atenções em processos causais e pontos de decisão” (Kahn & Weiner,
1969), a fim de demonstrar como uma meta pode ser alcançada.
Os cenários não são e não devem ser entendidos como prognósticos ou simples previsões, mas
formas metodológicas de aumentar a compreensão de eventos potenciais e político-institucionais de
longo prazo (Norse, 1979, adequado), ideais, para o caso em foco, para ampliar o conhecimento de
biomas, sub-bacias hidrográficas, polos e eixos, regiões geopolíticas, províncias, Estados..., ou
caminhos possíveis em direção ao futuro (Ratter, 1979). São imagens de futuro configuradas no
presente a partir da combinação consistente de hipóteses plausíveis e prováveis sobre os possíveis
comportamentos de variáveis determinantes de um sistema. Trata-se de uma descrição “inteligente”
de um futuro possível e almejado, e logicamente imaginável para um objeto e seu contexto, e de sua
trajetória, igualmente lógica e possível, que o conecta com a situação de origem.
São as expectativas sobre “o que deve ocorrer se...”, ou sobre “o que gostaria de se assegurar ou
alcançar para...” num determinado horizonte, as que orientam as ações e estratégias do presente
com efeitos sobre um futuro, onde a única certeza é o da transição para sucessivas mudanças.
Dois conceitos que se relacionam com a construção de cenários aparecem no texto anterior: ações
e estratégias, este último menos exercitado.
Do ponto de vista organizacional, a estratégia corresponde a capacidade de aplicação dos recursos
disponíveis, de forma contínua e sistemática (meios), no ajustamento das organizações e instituições
às condições do meio ambiente, considerando a visão de futuro e a garantia de sustentabilidade da
empresa nesse ambiente (finalidade).
Dessa forma simplificada, o planejamento em qualquer nível de detalhamento, grau de
abrangência e tipo de atividade humana, organiza as ações e estratégias (tática) em função de um
futuro esperado ou pretendido para um horizonte aberto de possibilidades.
As diferenças de abordagens de planejamentos que resultam dos cenários, referem-se ao horizonte
temporal de análise, as expectativas e ao rigor do processo analítico se intuitivo, racional ou
sistemático.
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globalizada, bem como das demandas caracterizadas a partir de uma análise prospectiva e
de tendências.
b) Adotar uma visão global e sistêmica [modelo sistêmico de integração de elementos numa visão
holística e de ações e estratégias compartilhadas (participativa) com base em diversos tipos de
negociação e de aplicação de instrumentos apropriados como os de planejamento estratégico,
utilizado no gerenciamento de recursos naturais].
c) Considerar os fatores qualitativos e as estratégias dos atores: os limites [e condições] da
modelização [os multiusos de recursos naturais que impõe multicritérios para atender os
multiobjetivos na diversidade de setores usuários desses recursos].
d) Obter resultados das lições do passado e não subestimar os fatores da inércia [importância do
“estado da arte do conhecimento” no processo de planejamento, estruturação e gestão dos
recursos naturais].
e) Decodificar as informações à luz do jogo de poder [e das posições, interesses e perspectivas
dos atores do Poder Público e da iniciativa privada que se encontram em agendas para acordar
o processo de desenvolvimento].
Essa decodificação é importante para o diagnóstico das políticas públicas de ocupação do
espaço na Amazônia, onde órgãos, padrões de ações e instrumentos de intervenção
mediaram a ideologia dominante do Estado em diversos momentos do desenvolvimento da
Região.
f) Desconfiar das ideias preconcebidas [vícios da administração e posturas intransigentes dos
“ismos”21 de determinados setores e organizações].
g) Apostar na mudança social para permitir [induzir ou orientar] a mudança tecnológica [conforme
acusam as tendências e os ajustes globais].
h) Transformar as estruturas e os comportamentos [conforme indicações de ajustes e tendências
globais].
i) Mobilizar a inteligência da empresa: vigilância prospectiva, vontade estratégica e mobilização
coletiva.
j) Considerar os métodos como ferramentas de reflexão e de comunicação.
21
Responsáveis pelo viés social, viés econômico ou viés ecológico dos “ismos”: “clientelismos”, “fisiologismos”,
“politiquismos” “caciquismos”, “regionalismo”, “economicismos”, “ambientalismos” e “ecologicismos
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entrevistas brainstorn, podem auxiliar esse processo) que apresentem valores críticos,
analisadas essas variáveis e geradas as informações que definam as relações.
b) Ênfase no aspecto qualitativo, onde cada cenário caracteriza um futuro qualitativamente distinto
dos demais, sem que isto signifique prescindir da análise quantitativa, mas utilizá-la de forma
criteriosa e complementada ou sendo complementada por outras abordagens metodológicas
que podem ser utilizadas nos estudos de diagnósticos integrados das potencialidades da
Amazônia.
c) As relações entre as variáveis e os atores são concebidas como estruturas dinâmicas que
comportam mudanças qualitativas ao longo do horizontes de projeções e de planejamentos,
bem como na gestão dos recursos naturais e socioeconômicos.
d) A concepção do futuro como a motivação básica das ações do presente, e não apenas um
prolongamento da dinâmica do passado, baseado na premissa de que os atores são capazes de
influenciar o seu próprio futuro dentro de um quadro de oportunidades (a seu alcance) e de
restrições físicas do meio ambiente e socioeconômicas (conhecidas ou que devem ser
conhecidas).
Este aspecto endógeno dos componentes de um plano de desenvolvimento deve ser
enfatizado numa proposta de desenvolvimento, sendo consistente com a descentralização
administrativa e de planejamento-gestão e com a integração (parcerias) entre setores
públicos e privados.
e) A visão plural e incerta do futuro que resulta do confronto (atual “estado”) e/ou da cooperação
(situação esperada) de atores, interesses, oportunidades e restrições.
f) A adoção de modelos conceituais, métodos qualitativos e quantitativos e visão probabilística.
g) A consideração explícita dos atores envolvidos que colocam em evidência suas oportunidades
e interesses [na negociação].
Isto significa considerar a dimensão política como um condicionante do futuro. É em função desse
condicionante (vontade e decisão política, entre outros) que se têm os meios suficientes, materiais e
não-materiais, devidamente dimensionados e fornecidos no tempo ou na oportunidade adequada.
Em termos gerais tais condicionantes determinam a natureza e ritmo das mudanças que provocam
reconsiderações do papel das instituições que operam com reduzida eficiência, do Estado com funções
que já não são mais de sua competência e dos agentes em desencontros que aceleram ou precipitam
essas mudanças. Nelas, a contribuição de inovações tecnológicas e a ampla integração econômica,
alteram as condições de competitividade e a organização do espaço.
Em nível mundial e com efeitos para a Amazônia é possível definir condicionantes do futuro,
destacando-se: a revolução científica e tecnológica com perspectivas no campo biotecnológico, a
integração de mercados em torno da economia globalizada, a crise do sistema de regulação do
comércio e emergência de novas instâncias e mecanismos de controle, a instabilidade do sistema
financeiro internacional que privilegia a “economia da realidade virtual” (Gray, 1997), a degradação
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
do meio ambiente e seus recursos naturais, as desigualdades entre países ricos e pobres, as
desigualdades sociais e econômicas e a emergência de países de grande potencial econômico.
As características dos cenários resultam particularmente relevantes e com as seguintes
vantagens, quando aplicadas ao planejamento e gestão de recursos naturais com interesse
econômico:
a) Levam a aprofundar-se em aspectos pouco conhecidos do meio ambiente, destacando certas
possibilidades, uma delas é o potencial e aptidão dos recursos naturais.
b) Levam a examinar a dinâmica de situações geralmente omitidas ou ignoradas em outras
abordagens metodológicas do planejamento tradicional.
Dentro de restrições naturais de um documento geral e como exercício na introdução da
cenarização é possível definir cenários mundiais que se relacionam, de maneira direta ou indireta,
com o desenvolvimento da Amazônia. Neste sentido são indicados os seguintes condicionantes de
futuro:
a) revolução científica e tecnológica em área como a biotecnológica, informação e comunicação,
com aplicação direta para a Amazônia em programas como os de vigilância, proteção,
conservação e manejo integrado de seus ambientes e recursos naturais no contexto nacional e
panamazônicos;
b) redução da intervenção e/ou da margem de manobra do Estado-nação como efeito da
simplificação e redirecionamento das funções do Estado leve, ágil e competente;
c) integração de mercados e internalização de processos, produtos e serviços no lastro da abertura
da economia e da globalização;
d) crise do sistema de regulação convencional em transações do comércio mundial e emergência
de novos mecanismos de normalização e sistematização em que se destacam preocupações com
a qualidade do meio ambiente e interesses sociais;
e) instabilidade do sistema financeiro internacional com a emergência de conceitos de economia
virtual;
f) emergência de países de grande potencial econômico e com isso, de mercados novos;
g) desigualdades entre países desenvolvidos e em desenvolvimento;
h) explosão de tensões e conflitos regionais;
i) acelerado envelhecimento da população mundial;
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j) desigualdades sociais e culturais, com efeitos nos índices de desemprego nos países
desenvolvidos;
k) degradação de “estados” do meio ambiente e de seus recursos naturais.
Horizontes dos cenários: 10 a 20 anos, por exemplo, conforme a dinâmica das mudanças
Cenário A2
Condicionantes
Antecipar:
Cenários de Referências
- Problemas, Ameaças Cenário B1
Aproveitar:
- Oportunidades Cenário B2
TRADU Cenário
ZIR Desejado
Cenário
Possível
Desejado
Situação Atual Possível
Cenário C1
Cenário C2
Diagnósticos
Integrados Ajustes de Planos
e Programas
Cenário D1
Antecipações
Quebra de paradigmas Cenário D2
Novos horizonte
Novos paradigmas
vista que quantidade e qualidade, em muitos recursos naturais, são aspectos indissociáveis e
que requerem, portanto, de um tratamento integrado.
Para aplicar as técnicas de cenários aos recursos naturais é necessário a preparação, mediante
treinamento e capacitação técnica-tecnológica dos tomadores de decisões, orientados para enfrentar
ou direcionar as mudanças previstas nos cenários e obter delas, quando possível, as vantagens que
elas permitem, e para amenizar os efeitos das crises e fazer a preparação da comunidade para enfrentá-
las.
A definição de indicadores nas diversas dimensões do desenvolvimento consideradas neste
documento, está condicionada, em parte, a montagem de cenários, assunto que demanda profundos
diagnósticos e estudos prospectivos com detalhes.
Qualquer que seja o detalhamento dos cenários para a Amazônia, neles devem ser considerados
os condicionantes internos e externos do futuro, em várias escalas de detalhamento e temporalidade.
disposição e ordenamento dos elementos em cada dimensão, poderão ser definidos vários cenários
com suas correspondentes trajetórias e escalas temporais.
entre si, ou, ainda, de posturas ambientalistas de estrita preservação, desconhecendo necessidades e
possibilidades de atendimento a partir dos recursos naturais da Região.
O quadro que segue sintetiza aspectos integráveis de planejamento (visão estratégica, tática e
operacional) a considerar na formulação de em plano diretor regional de desenvolvimento, com seus
efeitos, na operacionalização -implementação e implantação- desse plano, observados na gestão:
Com relação ao aspecto de implementação dos planos que integram planejamentos, é oportuno
alertar que, da ampla e consciente participação dos atores e da eficiente condução dos processos de
planejamentos temáticos a serem integrados, dependerá o êxito do plano, o qual deverá, entre outros
propósitos, promover mudanças de comportamento e de atitudes da sociedade em relação ao meio
ambiente.
Quanta a estratégia, deverão se adotar técnicas e modelos participativos que integrem as ações
disciplinares conduzidas por equipes interdisciplinares atuando em níveis estratégicos flexíveis
(federal), táticos (lideranças chaves na região) e operacionais regionais (lideranças locais).
Do contexto geral, é oportuno destacar alguns aspectos do planejamento regional, na doutrina
nacional de planejamento, com ênfase ou aplicação na Região da Amazonas.
A Constituição Federal de 1946 vinculou, na forma de percentual, parte da receita tributária da
União a diversas regiões, entre outras, a Amazonas, com a finalidade de assegura recursos para
investimentos em desenvolvimento.
Para assegura a adequada aplicação desses recursos incumbiu a Superintendência de Valorização
Econômica da Amazônia – SPVA competência de orientar a elaboração de estudos e projetos,
direcionar investimentos, prestar assistência técnica e estimular Estados e Municípios da Região a se
estruturarem no esforço do desenvolvimento pretendido.
Na década de 50 a SPVA, auxiliada pela FGV, patrocinou seminário orientado para o
planejamento regional, baseado no conceito de regionalização numa base geopolítica e em
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
Quadro 1 Exemplo ilustrativo de uma matriz de planejamento para o gerenciamento dos recursos naturais da
Amazônia
OBETIVOS E AÇÕES E
PROBLEMAS METODOLOGIA RESULTADOS ESPERADOS
INDICADORES ESTRATÉGIAS
- Compilação, avaliação e
integração de dados e - Relatórios técnicos e científicos
Estabelecer uma base informações disponíveis - Técnicas de para três níveis de clientela ou
conceitual e técnica - Complementação de levantamento de usuários: o governo, sob cujo
para fundamentar dados e informações para dados e informações domínio se encontram recursos
programas e projetos definir uma base naturais e com funções
- Técnicas de
de conservação e específicas; o setor privado, cuja
- Banco de dados e complementação de
manejo, definido por atividade e atitude empresarial
informações em sistemas dados e informações frente ao meio ambiente deverá
sub-região
“amigáveis” e inter- - Métodos de análise ser disciplinada; a sociedade,
Indicadores: Base de operativos e síntese de dados e cujas atitudes e comportamento
Programas e dados e informações informações em
- Diagnósticos temáticos deverá ser disciplinado através de
projetos de com acesso público duas abordagens:
realizados com programas de conscientização e
intervenção Matriz de coeficientes metodologias que descritiva e analítica de educação ambiental
aleatórios técnicos de aptidão- possibilitem a integração numérica
- Conjunto de critérios técnicas de
restrição disciplinar físico-biótica - Modelos de gestão ambiental, gerais e por
Indicadores de - Integração de integração de dados domínios geográficos e temporais
conservação e de diagnósticos temáticos e informações para do ordenamento-zoneamento, os
manejo integrado de cenários estático e quais deverão ser integrados-
- Ordenamentos espaciais
ambientes dinâmico conformados ou complementados
temáticos
Mapas temáticos de - Modelos de com outros
- Zoneamentos temáticos
atributos simulação para - Conjunto de diretrizes, síntese
inter-temporais
georeferenciados e “estudo de casos” e dos critérios, especificadas por
outros - Integração ordenamento- protótipos domínios geográficos, temporais
zoneamento e atividades
- Técnicas de
- Diagnósticos levantamento de
temáticos para definir informações:
os estrangulamentos e Delphi, reuniões e
Falta de - Definição de “brainstorm”
orientar as estratégias
critérios critérios por setores, - Árvore de
de planejamento - Um sistema adequado de
adequados às por atividades e por problemas, árvore
setorial, integrado no critérios para orientar a
condições da períodos para de objetivos e
plano regional intervenção, especificados
Região para orientar a árvore de técnicas,
orientar a intervenção de - Incentivar e fortalecer conforme várias tipologias e
em sequências necessidades
intervenção maneira sustentável a parceria, a
- Ordenamento e
participação da
sociedade civil e das análise
organizações-não- hierárquica de
critérios
governamentais
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
Quadro 1 Exemplo ilustrativo de uma matriz de planejamento para o gerenciamento dos recursos naturais da
Amazônia
OBETIVOS E AÇÕES E RESULTADOS
PROBLEMAS METODOLOGIA
INDICADORES ESTRATÉGIAS ESPERADOS
4.6 AMBIEN TE
O conteúdo pragmático de conceituações técnicas, tecnológicas e científicas está no seu poder
balizador de investigação e comunicação de resultados (informações) do ambiente e para o ambiente,
tido como necessária referência. Em função da especificidade dessa referência se tem a singularidade
das atividades e estratégias que se orientem para determinado ambiente. A pesquisa, p. ex. deve ser
planejada e desenvolvida em estrita correspondência com as características do ambiente, o que
contribui para garantir a endogenia dos resultados compromissados com o ambiente; esses resultados
da pesquisa deverão interpretar suas características, respeitar suas limitações e aproveitar suas
potencialidades claramente identificadas.
Assim admitido e entendido o “ambiente” considerado como uma estrutura espacialmente
definível, então será possível localizá-lo, determinar a sua extensão territorial, seus limites, suas
relações de contiguidade e suas conexões com outros ambientes que lhes sejam externos (Chorley e
Kennedy, 1971; ampliado e adequado ao texto).
Sendo o ambiente um produto da interação de diversos fatores, conflitantes, concorrentes ou
aleatoriamente (a minoria) associados, pode ser proposta a identificação e caracterização desses
fatores e a avaliação da intensidade e do sentido existente (causal, correlacional ou outro, dessa
associação) nesse urdimento de conexões abióticas, bióticas, socioeconômicas, culturais, político-
institucionais e técnicas-tecnológicas, inclusive em termos de suas variações (evolução) no passado,
visando a explicação no presente com perspectivas ou previsão/projeção para futuro. Dessa forma
fica evidente a importância da associação da territorialidade e do conceito geopolítico ao conceito de
“ambiente”, possibilitando constituir-se num roteiro para o estudo desse meio.
O conceito de ambiente é fundamental para definir o desenvolvimento regional que inclui tanto
aspectos econômicos, socioculturais e político-institucionais, como os relativos a disponibilidade,
caracterização e utilização (potencialidades) dos recursos naturais e dos sistemas naturais. Essa
multidimensionalidade ambiental tem sido, com frequência, negligenciada nos processos de
planejamento, tomada de decisão e gestão, orientadas dentro de enfoque setoriais que não consideram
a interdependência dinâmica, elemento básico na tomada de decisões.
Ao considerar a realidade de um sistema de inter-relações há diversos aspectos que devem ser
claramente conceitualizados, tais como: os elementos componentes do ambiente e das inter-relações
existentes entre tais elementos identificados, caracterizados e ordenados para orientar a investigação
e a procura de um enfoque metodológico consistente e operacional (articulado em sua base teórica e
empírica) que permita o manejo racional e integrado dessas inter-relações, com significativos efeitos
positivos na conservação de recursos e ambientes naturais.
Outros conceitos relativos ao ambiente requerem explicitações e hierarquizações, sem o que
podem constituir-se em bandeiras para uma exploração desordenada e com características de
degradação dos recursos e ambientes naturais.Alguns desses conceitos, como os de inventário,
monitoramento, e gerenciamento pela inconsistência de suas explicitações, têm permitido a
deterioração da qualidade de vida local (comunidades indígenas, garimpeiros, seringueiros,
pescadores etc.) e a intensificação de perdas da riqueza natural com a dilapidação de seus potenciais.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
O conceito de meio ambiente, apesar de intensos debates para defini-lo, ainda não é claro e
definido o suficiente quanto aos elementos componentes, limites e aspectos operacionais.
Aparentemente, as diferenças têm duas origens: quem e com relação a que se define o meio ambiente?
e qual é o nível de agregação ? (Bifani, 1980). Com relação ao primeiro aspecto, é frequente que
cada disciplina defina sua própria área e clientes alvos de interesse, e considere o “resto” como o
entorno; este enfoque tende a estar associado com o conceito de “sistema fechado”, característico da
abordagem setorial e merológica. Dessa forma, p. ex., os economistas se referem ao meio ambiente
econômico, os ecólogos, ao ecossistema; os hidrólogos, ao sistema hidrológicos, os sociólogos, aos
aspectos e valores socioculturais, e assim por diante. Se os fenômenos são inter-relacionados,
interdependentes e com dinâmicas próprias, é claro que a abordagem merológica setorial é incompleto
e insuficiente para definir uma proposta de desenvolvimento. Tampouco o agregado dessa abordagem
poderia ser suficiente quando se reconhecem alvos diferentes e se evidenciam atritos entre disciplinas
que definem diferentes ambientes, porém inter-relacionados.
Para o caso da Amazônia em especial, o ambiente sistêmico está afetado pelas potencialidades e
restrições de seu entorno, condicionantes das potencialidades, restrições e oportunidades internas.
Portanto, é necessário conhecer como? e mediante que mecanismos? essas potencialidades e restrições
interagem e se projetam. Por sua vez, o sistema afeta a seu entorno, estabelecendo-se interações e
ciclos de interesse na formulação de planejamentos e gestões no contexto do desenvolvimento.
Qualquer proposta de desenvolvimento territorial que tenha uma orientação sustentável deve
partir do funcionamento e estrutura do ambiente no contexto sistêmico o qual se mantém por
mecanismos cibernético; deve considerar que os sistemas são abertos e dinâmicos e que mudanças
em seu “estado”, induzidas pela intervenção antrópica no meio ambiente, se traduzem em
intercâmbios de estímulos que tomam a forma de fluxos de matéria, energia e informação com outros
sistemas e com seu entorno. Nesse contexto é que se planejam e desenvolvem as pesquisas para
aumentar, com consistência ambiental, o “excedente econômico” e para incorporar potencialidades
ao crescimento econômico.
O conceito de ambiente está relacionado com outros importantes conceitos como os de inventário,
monitoramento e gerenciamento. Estes, para o caso da Amazônia e pela inconsistência de suas
explicitações ou por causa da omissão em planos, têm permitido a deterioração da qualidade de vida
local (comunidades indígenas, garimpeiros, seringueiros, pescadores etc.) e a intensificação de riscos
e perdas da riqueza natural com a dilapidação de seus potenciais.
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4.7 INVENTÁRIO
Um inventário dos recursos e ambientes naturais consiste no levantamento das condições vigentes
em uma determinada ocasião, em certa extensão espacial e gerador de uma enumeração classificada
de atributos dos recursos naturais e socioeconômicos, aí existentes e avaliadas como relevantes. Essa
avaliação não compreende apenas recursos e ambientes econômicos ou com potencial econômica,
mas todos os recursos e ambientes envolvidos e que sustentam os fluxos de recursos econômicos.
Relevantes para que e para quem? Essa resposta foi omitida em muitos levantamentos e
inventários, o que favoreceu a obtenção de grande número de dados e informações obtidas sem
propósitos e planejamentos bem definidos, portanto sem valor efetivo e nem aplicação prática.
Os critérios de relevância, a escala, abrangência e/ou o nível de detalhes dos atributos no
levantamento, entre outros aspectos, são características básicas dos levantamentos que, pelos
elevados montantes de custos requeridos nos inventários ambientais, é preciso definir, de forma
criteriosa e operacional, num contexto holístico e multidisciplinar.
Essa multidisciplinaridade (a ser organizada em arranjos interdisciplinares convenientemente
integrados) está determinada pela necessidade de estudos orientados em diversos aspectos, geológico,
fisiográfico, climatológico-hidrológico, agronômico, mineralógico, biológico, sociológico,
econômico, jurídico etc., os quais deverão ser integráveis para viabilizar o ajustamento,
complementação e sentido estrutural-sistêmico da informação primária.
O que se observa, entretanto, é a atuação, nos estudos ambientais, de profissionais de diferentes
formações, em geral, com deficiências na capacidade de integração dos dados inventariados, em
muitos casos, com grande eficiência temática.
A informação primária (dados) do inventário ambiental deverá possibilitar tratamentos
consistentes e integrados. Neste sentido, é desejável especificar atributos em escalas e níveis de
detalhes comparáveis, integráveis e balanceáveis, quanto possível, que possibilitem eliminar ou
reduzir incongruências taxonômicas, que permitam inspeção das distribuições de frequência que
minimizem variações internas aos agrupamentos e que maximizem as diferenças entre os
grupamentos de dados, considerando, ainda, a distribuição espacial de dados relevantes e úteis. Para
que e para quem? Para estruturar o conhecimento necessário do espaço que possibilite a sua gestão.
As características desejáveis nos inventários de dados comparáveis em virtude de suas escalas e
níveis de detalhes equivalentes, integráveis/complementares pela sua natureza e balanceáveis/
harmonizáveis pela consistência metodológica, contribuem para explicitar e consolidar ligações ou
gradientes, definir contigüidades ou segmentações por discriminantes, e operacionalizar outras
expressões da territorialidade dos dados ambientais.
Essas expressões são necessárias para fundamentar as transformações, propostas nas ações e
estratégias políticas (fundamentos, diretrizes, critérios, objetivos e instrumentos; ver como exemplo
a Política Nacional de Recursos Hídricos –Lei no. 9.433/97), ao especificar, com a necessária
flexibilidade –no nível federal- e operacionalidade –no nível estadual e municipal- o que e por que
mudar? onde mudar? para quem mudar? como mudar? onde e quando preservar? etc.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
Relevância e utilidade da informação primária que se levanta são aspectos nem sempre
considerados nos inventários dos recursos naturais.
Parte desses inventários tem se caracterizados por sua dominância temática, setorial e por
exagerado volume de informações, muitas delas desnecessárias ou de utilidade secundária, de baixa
qualidade, de pouca demanda pelo limitado campo de aplicação/utilização, descontínuas no tempo e
no espaço, de variadas metodologias e escalas, portanto não integráveis com consistência, sem
documentação para especificar os correspondentes cenários que determinaram suas características e
de difícil tratamento em banco de dados e em sistemas de informações inter-operativos.
Ao lado do inventário deverá aparecer a conceitualização dos elementos que definem as
necessidades, atuais e potenciais, de uso e consumo dos recursos. Essas necessidades se relacionam,
quando especificados os cenários prospectivos, com as potencialidades.
A integração funcional dos elementos componentes das disponibilidades, um deles é o inventário,
e dos elementos componentes das necessidades a serem satisfeitas (renda, população, infraestrutura
e perspectivas do mercado, acordos comerciais etc.) se configuram nas estruturas funcionais
econômicas (de mercado) de oferta e de demanda.
No presente documento, a conceitualização de uso e consumo de um possível acervo potencial de
recursos naturais, é propositadamente omitida, destacando apenas a conceitualização de elementos da
disponibilidade em seu aspecto potencial regional.
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4.8 MONITORAMENTO
Neste conceito está implícito o conhecimento prévio das condições ambientais vigentes (ambiente
e inventário) e a existência dos indicadores e critérios técnicos e operacionais sobre os quais se
desenvolve a monitória ambiental e a educação ambiental, entre outras atividades.
No processo contínuo e dinâmico de monitoramento de um ambiente com potencialidades
naturais, além da necessidade de conhecer o tratamento de integração da informação primária, é
importante:
a) Conhecer os procedimentos de geração dos dados para uma correta interpretação, análise
conjunta e aplicação no processo de monitoramento.
b) Conhecer a necessidade de manter e aprimorar a infraestrutura de geração dos dados como
condição da continuidade desse processo tido como eficiente: monitorar para prevenir, em lugar
de restaurar, e assegurar a conservação.
c) Avaliar as necessidades de inovações tecnológicas para o aperfeiçoamento na obtenção e
tratamento dos dados.
d) Complementar os dados territoriais com outras informações como as dos processos evolutivos,
tendências, perspectivas, oportunidades, paradigmas, riscos e ameaças, entre outras, dos
cenários externos que afetam ou poderão afetar as potencialidades regionais.
A monitória ambiental não é a simples continuação do inventário que a precede. Ela representa e
pode ser conceitualiza por várias atividades e estratégias orientadas para a qualificação técnica,
teórica e operacional de profissionais e instituições envolvidas nesse processo.
Desta forma, a monitória ambiental pode ser definida como um conjunto complexo de operações
de transformação de dados previamente inventariados, destinados a acompanhar as modificações
ambientais julgadas relevantes, oportunas e possíveis em todas as dimensões do desenvolvimento
sustentável.
É na monitória que os problemas de dependência e de especificidade tecnológica se tornam
evidentes, onde os problemas de qualificação e parcerias se evidenciam e onde as técnicas, métodos
e modelos se mostram eficientes e operacionais, ou ineficientes e não operacionais, indicando a
natureza dos ajustes ou das mudanças.
Essa eficiência e operacionalidade da monitória acenam para o próximo conceito: o gerenciamento
que tem parte do alicerce nos planejamentos integrados nos planos.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
4.9 GERENCIAMENTO
Em geral, o processo de desenvolvimento de uma região, em especial da Amazônia, dependente,
entre outros condicionantes não menos importantes, da maneira como são utilizados (técnicas-
tecnologias-sistemas em que aparecem tais recursos, intensidade e frequência de uso, distribuição
espacial e temporal, potencialidades e restrições etc.) e do manejo que se dispensa aos ambientes e
recursos naturais.
Com a utilização dos recursos naturais pautada em padrões que não são consistentes com a
capacidade de suporte do meio ambiente e com o descompasso entre a exploração para a satisfação
de necessidades humanas e a disponibilidade efetiva de excedentes desses recursos, surge a
necessidade de gerenciamento e gestão dos recursos sob pressão; essa necessidade é diretamente
proporcional ao descompasso de exploração e recomposição.
A gestão dos recursos naturais como os recursos hídricos, os recursos minerais e os recursos da
diversidade biológica e genética, deve estar necessariamente inserida na gestão ambiental, um
conceito amplo, que compreende:
a) A implementação da política de modernização e de reforma do Estado em seu aspecto gerencial.
Essa implementação pressupõe a descentralização de atividades e estratégias com
responsabilidade e a competência para definir e implementar tais ações de governos em todos
os níveis, a absorção do progresso tecnológico, adequado em cada caso, e do progresso
gerencial e capacitação dos organismos de planejamento, execução e gestão (fortalecimento
institucional) de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável.
Está implícito nessa política de modernização com a gestão de ambientes e recursos naturais a
confluência de inúmeras disciplinas associadas aos campos das ciências naturais, sociais e
econômicas, entre outras, dispostas em arranjos interdisciplinares da P&D. Pela sua
importância no diagnóstico de potencialidades o aspecto da pesquisa é destacado neste
documento.
b) A definição, caracterização e hierarquização de prioridades, visando o controle de problemas
que requeiram maior urgência de tratamento, menor custo de investimento e maior benefício
social e para o meio ambiente.
c) A adequação de planos de investimento à efetiva capacidade de realização dos executores de
projetos e atividades de gestão do meio ambiente na Região.
d) O monitoramento e aferição de processos e resultados, produtos e serviços (Quadro 1),
equanimidade na distribuição espacial dos investimentos, conforme critérios adequados e as
possibilidades de avaliação e controle sobre a aplicação dos recursos públicos.
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Com a gestão se procura obter e garantir quanto possível (essa possibilidade é grande, conforme
se indica no planejamento estratégico e participativo) a adequação dos meios de exploração e
explotação dos recursos disponíveis às especificidades e às possibilidades socioeconômicas e do meio
ambiente regional.
A gestão se desenvolve com base em princípios, fundamentos, diretrizes e critérios previamente
acordados e/ou definidos pelos correspondentes estudos com seus resultados internalizados nos atores
do desenvolvimento (Quadro 1).
A gestão ambientalmente sustentável é um processo dinâmico em que recursos financeiros,
desenvolvimento tecnológico, crescimento econômico e arranjos político-institucionais (das esferas
federal, estadual e municipal, bem como dos setores público e privado) estão (deverão estar) em
harmonia e propiciam (propiciarão) o crescimento, em bases sustentáveis, de forma gradativa, segura
e distribuída. A intensidade desse processo vai depender do nível de segurança (conhecimento,
vontade e decisão política) que se tenha acerca dos componentes considerados no planejamento.
A forma como se realiza a gestão ambientalmente sustentável e otimizada deverá incorporar os
potenciais e considerar a redução de limitações do meio ambiente, às atividades socioeconômicas e
às necessidades e aspirações humanas do presente, sem comprometer a capacidade das futuras
gerações de atender às suas próprias necessidades. Daí porque a velocidade do processo é
condicionada ao conhecimento prévio (“estado da arte”) de potencialidades e de restrições.
Conforme já conceitualizado na proposta de desenvolvimento sustentável e quando traduzida ao
nível de gestão, da articulação implícita no gerenciamento, fazem parte:
a) A política ambiental: fundamentos, princípios doutrinários, diretrizes e instrumentos gerais e
flexíveis, no nível federal, e específicos-operacionais, no nível regional e local, para subsidiar
os administradores na implantação desses fundamentos e princípio, o que ocorre na gestão.
b) O planejamento ambiental: estudos prospectivos e processos iterativos de análise de
oportunidades e de ameaças dos cenários internos e externos, para a definição de objetivos
estratégicos.
c) O gerenciamento ambiental: trata-se do conjunto de ações destinadas a disciplinar o uso,
monitorar os processos, controlar, manejar e conservar os recursos e ambientes naturais, e para
avaliar a conformidade da situação corrente com prescrições da política e legislação ambiental,
ou o conjunto de procedimentos de inspeção e controle com o qual se procura direcionar, com
base em critérios, a utilização dos recursos inventariados e sob monitoramento. Esse
direcionamento está fundado, entre outros aspectos, na capacidade de suporte ambiental às
intervenções, como condicionante da sustentabilidade de atividades e processos.
A capacidade de suporte ambiental, considerada no gerenciamento, diz respeito à possibilidade de
que determinadas atividades possam ser exercidas, quando imprescindíveis, sem comprometer, de
maneira grave e irreversível no futuro, “estados” de qualidade e quantidade do sistema natural e seu
potencial.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
Como sustentá-la? Pelo poder da racionalidade e das novas vantagens, pela eficiência gerencial
que passa pela eficácia do planejamento; pela informação e pelo conhecimento dessa realidade para
fundamentar a conscientização pública de sua conservação e manejo racional.
Parte desse processo está na economia regional vista como o estudo da diferenciação e inter-
relação de áreas em um universo, onde os recursos estão distribuídos desigualmente e são
imperfeitamente móveis, com ênfase particular na aplicação ao planejamento dos investimentos em
capital social básico (gerar os ativos intangíveis da sociedade do conhecimento), para mitigar os
problemas sociais criados por essas circunstâncias (Dubey, 1970, modificado).
Ao considerar as influências diretas e indiretas da globalização no espaço da Amazônia, é
necessário priorizar, na perspectiva das ações e estratégias (re)ordenadoras que se aplicam ao caso, a
malha da territorialidade que se vem consolidando de afirmação do controle, do monitoramento e do
poder sobre o território.
O Projeto de Potencialidades Regionais faz parte desse processo de consolidação, em seu aspecto
de conhecimento para a valorização, proteção e ocupação racional desse cobiçado espaço.
Outros conceitos que fundamentam os modelos de regionalização são o espaço e a região.
Análise
ordem- Análise da Análise matricial
Taxonomia superfície de
tamanho Análise grafo- Simulação física Análise de fatores
numérica tendência
Análise do teórica Modelos de Monte
Técnicas Resíduos Análise de entrada
vizinho Conectividade Análise harmônica Carlo e saída
analíticas locais
mais Geometria das Análise de Fourier Modelos em cadeia
Análogos Programação
próximo redes de Markov
regionais Modelos linear inter-
Análise gravitacionais regional
quadrática
Teoria da
Modelos de
localidade
absorção
central Modelos de
Hierarquias Modelos de rede Modelos de Modelos de difusão
Modelos de climaxes regionais
regionais Modelos de grafos oportunidades Modelos de
Modelo gravidade Multiplicadores
Regiões aleatórios intermediárias migração
Espacial Modelos regionais
funcionais e Modelos Modelos de Von Modelos de
Weberianos Polos de
formais geodésicos Thunen colonização
Modelos crescimento
Modelos de
básicos e
potencial
não-básicos
Localização de nova
indústria
Atração de capitais e
empresas para explorarem a
demanda em expansão de Expansão das indústrias de serviços e Expansão geral da
bens e serviços produzidos outras que servem o mercado local riqueza da comunidade
no local
23
O inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal diz: “Compete a União: instituir sistema nacional de gerenciamento de
recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso”. O art. 1 º da Lei no. 8.001 de 13 de março de 1990,
trata da distribuição mensal da compensação financeira com a definição de percentuais aos Estados, Municípios,
Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica –DNAEE e Ministério da Ciência e Tecnologia
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A parceria do Poder Público, dos usuários e da comunidade organizada na gestão deverá dispor
(buscar) os meios necessários para a implementação e implantação da Política, com endogeneidade e
apropriabilidade ou conveniência local e regional.
Sob o ponto de vista conceitual, a PNRH:
a) Institui e representa uma política estruturada com fundamentos, objetivos e instrumentos gerais,
relativamente flexíveis e de referência contemporânea, para sua implementação na bacia
hidrográfica.
Em nível de bacia hidrográfica, a Política deverá contemplar diretrizes específicas de ações e
estratégias para sua implementação regional, bem como ações definidas e meios necessários e
adequados a cada caso para a implantação dos instrumentos dessa Política. Na síntese destacam-
se os seguintes instrumentos, com anotações orientadas para a Bacia Amazônica:
a.1) Os Planos de Recursos Hídricos, definidos como Planos Diretores que visam fundamentar
e orientar a implementação da PNRH e o gerenciamento desses recursos, devendo ser
elaborados por bacia hidrográfica (plano diretor de bacia), por Estado (plano estadual de
recursos hídricos) e para o País (Plano Nacional de Recursos Hídricos). São os instrumentos
de planejamento mais importante dessa Política, elaborados para longo prazo, com
horizontes de planejamento compatíveis com o período de implantação de seus programas e
projetos (Figura 4), com o seguinte conteúdo mínimo:
a.1.1) Diagnósticos setoriais e temáticos da situação atual dos recursos hídricos, a serem
integrados pela abordagem holístico-sistémica. Esse diagnóstico deverá compreender as
atividades dos territórios amazônicos situados nos correspondentes países o que
pressupõe a efetividade de ações e estratégias da diplomacia brasileira e dos fóruns
pertinentes.
a.1.2) Análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades
produtivas e de modificações dos padrões de ocupação e de manejo do solo. Para o caso
da Amazônia é de especial interesse a análise e estudo de atividades produtivas e de
modificações dos padrões de ocupação e de manejo dos recursos florestais.
a.1.3) Balanço entre disponibilidades e necessidades, atuais e futuras, dos recursos hídricos,
compreendendo aspectos indissociáveis de quantidade e qualidade, com identificação e
caracterização de conflitos atuais e potenciais, em nível panamazônicos.
a.1.4) Metas exequíveis de racionalização de uso, aumento de quantidade e melhoria da
qualidade dos recursos hídricos disponíveis, com especificação das medidas a serem
tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados, para
atendimento dessas metas previstas no Plano Diretor de bacia hidrográfica e integradas
no Plano Nacional de Recursos Hídricos.
a.1.5) Prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos conforme critérios
técnicos e socioeconômicos de possibilidades e de ordenamento contemplados e
operacionalizados no Plano Diretor de bacia e no plano de desenvolvimento regional.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
a.1.6) Diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, conforme
condicionantes e cenários característicos de cada caso.
Em termos gerais, pela grande disponibilidade (oferta) e reduzida necessidade (demanda)
de recursos hídricos na Amazônia, as diretrizes e critérios para a cobrança pelo seu uso
poderão ser instrumentos dispensáveis, pelos menos no curto e mediano prazos, do
conteúdo mínimo de um plano diretor de bacia hidrográfica.
Entretanto, para determinados tributários do rio Amazonas e sob certas condições de
atendimento de necessidades, o instrumento deverá ser implementado para coibir a
extensão de feitos negativos como os da poluição do extrativismo mineral, constituindo-
se indispensável nessa sub-bacia.
a.1.7) Propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos
recursos hídricos em seu aspecto conjunto e integrável de qualidade e quantidade. Neste
sentido já se registram alguns avanços como os da legislação do Estado de Pará (Lei no.
5.630, de 20 de dez. de 1990, que estabelece normas para preservação dos corpos
aquáticos, mediante o plantio ou manutenção de matas ciliares, 24 entre outras.
Para o caso particular da bacia Amazônica, o manejo holístico como um recurso finito e
vulnerável, ainda para a maior concentração desses recursos no mundo, e a integração de
planos e programas hídricos setoriais aos planos econômicos e sociais nacionais e
transnacionais, são medidas de importância fundamental.
Para este propósito é necessário criar as condições necessárias, nos fóruns pertinentes, de
percepção da água como parte integrante dos sistemas socioeconômicos e dos ecossistemas
em cada um desses territórios da bacia, e um recurso natural dotado de valor econômico e
social cujas quantidades e qualidades determinam a natureza de sua utilização e manejo.
O manejo integrado dos recursos hídricos na bacia amazônica, inclusive a integração de
aspectos básicos relacionados a terra, à água e à biodiversidade, deve ser feito ao nível de
bacia como um todo (macro economológico) com o concurso efetivo dos países
panamazônicos, procurando diversos objetivos, tais como: promover uma abordagem
dinâmica, interativa, iterativa e multissetorial da conservação e do manejo desses recursos,
mediante a elaboração de planos diretores compartilhados entre os países para a proteção,
conservação e manejo sustentável e racional desses recursos, baseados nas necessidades e
24
Mata ciliar e floresta de galeria são conceitualizadas como uma floresta mesofítica, de qualquer grau de caducidade, que
orla um ou os dois lados de um curso de água em uma região onde a vegetação do interflúvio não é floresta contínua. A
mata ciliar é mais estreita do que a floresta de galeria (Glossário de ecologia, 1988)
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prioridades das comunidades ribeirinhas, dentro dos quadros de políticas dos países
panamazônicos.
Essa integração pode ser definida em níveis setoriais como os dos sistemas de informações
hidrometeorológicas e programas de navegação fluvial, entre outros objetos de cooperação
internacional que já apontam em convênios e acordos.
a.2) A outorga de direitos de uso de recursos hídricos para assegurar o controle quantitativo e
qualitativo dos usos desses recursos e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água.
É um instrumento pelo qual o usuário recebe uma autorização (quando o uso de águas
superficiais e subterrâneas é de utilidade pública, independente da magnitude de vazão
possível da fonte a ser derivada), ou uma concessão (quando o uso não é de utilidade pública
e requer vazões superiores às definidas em lei como “pequenas captações”), ou ainda uma
permissão (quando a utilização não se destina ao uso público e ao mesmo tempo, requer
“pequenas captações”, em relação ao fluxo médio do manancial superficial, à capacidade de
armazenamento do reservatório ou à vazão explotável do aquífero subterrâneo), conforme
seja o caso, para fazer adequado e criterioso uso racional da água.
Este direito é consagrado na Constituição Federal (art. 26, I) e no Código de Águas (art. 2o.
e art. 8o. do Decreto-lei no. 852 de 11 de nov. de 1938), bem como em constituições e
legislações estaduais (Ex. Lei no. 5.807, de 24 de jan. de 1994 do Estado de Pará, quando ao
criar o Conselho Consultivo da Política Minerária e Hídrico, estabelecem objetivos e
competências de uma outorga de direito de uso), visto como um ato do poder executivo,
devendo ser implementado de acordo com certos procedimentos e condições características
de cada bacia hidrográfica, região e Estado, assim como por atos pertinentes, a serem
definidos, nos níveis Federal, Estadual, do Distrito Federal e Municipal, de forma articulada.
A Lei no. 7.663/91 estabelece normas para a outorga do direito de uso dos recursos hídricos
dispondo que a implantação de qualquer empreendimento que requer a utilização de recursos
hídricos, superficiais ou subterrâneos, a execução de obras e serviços que alterem o regime,
qualidade ou quantidade dos recursos hídricos, dependerá de prévia manifestação,
concessão, autorização ou permissão dos órgãos e entidades competentes em cada uma das
modalidades acima conceitualizadas.
Considera, também, que a derivação de água de seu curso ou depósito, superficial ou
subterrâneo, para fins de utilização no abastecimento urbano, industrial, agrícola e outros,
além do lançamento de efluentes nos corpos d’água, dependerá de cadastramento e da
outorga do direito de uso de água.
A utilização de águas por particulares, seja para usos consuntivos ou usos não-consuntivos,
constitui uma transferência de um bem do Poder Público para o poder privado, sendo de
competência indelegável, sustentada em legislação específica, do Poder Público.
O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos deverá ser definido em termos
técnicos/tecnológicos, operacionais, legais e outros pertinentes, consistentes ou adequáveis
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
nos contextos dos cenários, conforme critérios e indicadores pertinentes que se apliquem
ao caso. 25
a.2.8) A outorga de direito de uso de recursos hídricos não implica a alienação parcial das
águas, que são inalienáveis, mas o simples direito de seu uso [definido conforme certas
modalidades e sob determinadas condições, por exemplo, a concessão administrativa e a
autorização administrativa e a permissão.
Melhor definir e adequadamente especificar para cada bacia hidrográfica a abrangência
temporal da outorga de direitos de uso de água, bem como aspectos da espacialidade,
quantidade (captação de vazão) e qualidade do objeto outorgado nesse direito, é um dos
propósitos do Plano Diretor de bacia hidrográfica.
Parece razoável conceitualizar, como princípio geral, que a outorga, apesar da segmentação
na concessão conforme seja o domínio das águas, se Federal ou Estadual, deverá ser
rigorosamente articulada em atos administrativos hierárquicos que conformam a
abrangência espacial do território drenado pelo curso de água e os tributários ou afluentes do
rio, cujas águas serão motivo de outorgamento e de controle integrado unificado.
Parece igualmente plausível que essa concessão do direito de uso da água tenha, entre outros
argumentos que a sustente, estudos e relatórios de impacto ambiental que decorrem
(decorrerão) com o uso da água.
A articulação com base em critérios técnicos pressupõe um sistema de informações
integradas e determinados mecanismos operacionais e jurídico-administrativos que definem
a base para a outorga desse direito, dentro de certa flexibilidade, que possibilite tal
integração, sem comprometimento da unidade: o sistema hidrológico e sua capacidade de
suporte.
De outra forma, um rio de domínio municipal ou estadual, afetado por um direito de
derivação local ou regional, poderá comprometer o “estado” hidrológico sobre o qual se
define a outorga de direito de uso no âmbito federal, quando a articulação para expedir o ato
não seja conhecida, respeitado e consistente com os outros atos de outorgamento à jusante,
no domínio federal dessas águas.
25
Tais com: a) não cumprimento [de condições e critérios de conservação e de manejo integrado dos recursos hídricos] pelo
outorgado dos termos da outorga [tendo como referências dessa avaliação os indicadores técnicos/tecnológicos, econômicos
e sociais aplicáveis ao caso e contemplado no Plano de recursos hídricos]; b) ausência de uso [não justificável] por três anos
consecutivos; c) a necessidade premente [de se prevenir ou reverter graves degradação ao meio ambiente associada ou
decorrente do exercício da outorga] de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de condições
climáticas adversas; d) a necessidade de atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de
fontes alternativas [de equivalentes vantagens proporcionadas pelas águas outorgadas]; e) a necessidade de serem mantidas
as características de navegabilidade do corpo de água [bem como a necessidade de serem mantidas funções ecológicas e
ecológico-econômicas dos corpos de água, tais como as piscícola/pesqueiras, as quais resultam comprometidas pela outorga
de direito de uso das águas, requerendo, portanto, de seu restabelecimento com a suspensão dessa outorga]
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
Esse instrumento, por sua vez, se relaciona e vai depender da eficiência e operacionalização
de registros como os definidos e implantados nos cadastros de usuário dos recursos hídricos
e do sistema de informação sobre disponibilidades hídricas (inventários das disponibilidades
hídricas).
a.3) O sistema de informações sobre os recursos hídricos visto como um sistema de coleta,
organização, crítica, tratamento, armazenamento, síntese, análise e recuperação de dados e
informações sobre tais recursos e sobre os fatores intervenientes na sua gestão, com vistas a
auxiliar a definição dos melhores usos, bem como o balanço hídrico e o balanço hidrológico.
Este sistema tem como objetivo reunir, dar consistência e divulgar os dados e as informações
que da análise resultam sobre a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos;
atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidades e necessidades hídricas; e
fornecer subsídios para a elaboração dos Planos Diretores de bacias hidrográficas.
O Sistema deverá ser orientado por princípios básicos para o funcionamento, tais como:
a.3.1) A descentralização e integração/cooperação para a obtenção, tratamento e produção
de dados e informações feita pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídrico -SNGRH.
O Sistema deverá contar com sistema de telecomunicação que permita o amplo acesso às
bases componentes do mesmo. Proposto e concebido com o concurso dos Estados como
um sistema integrado e integrador, ajustado às peculiaridades físicas, econômicas,
socioculturais, do meio ambiente-ecológicas, tecnológicas e político-institucionais, entre
outras, e as diferentes, porém integráveis, realidades regionais.
a.3.2) A coordenação unificada do Sistema que possibilite a incorporação de dados e
informações das bacias no Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.
a.3.3) O acesso facilitado e garantido, segundo critérios e procedimentos adequados à
realidade regional, aos dados e informações regionais, para toda a sociedade.
a.4) Outros instrumentos da PNRH são: o enquadramento dos corpos de água em classes,
segundo os usos preponderantes da água e a cobrança pelo uso de recursos hídricos.
b) Define diretrizes avançadas para a gestão desses recursos, condizentes com as experiências
internacionais bem sucedidas, com destaque para as seguintes:
b.1) A gestão sistemática e de forma criteriosa dos recursos hídricos, sem dissociação dos
aspectos de qualidade e quantidade e considerando, de forma conjunta e integrada, os
reservatórios de águas superficiais e subterrâneas.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento
Região que apresenta uma das maiores diversidades biológicas do mundo e o maior sistema
hidrográfico que condiciona, em parte, essa diversidade.
A biodiversidade pode ser entendida como sendo constituída por toda a gama de material genético
existente em todos os indivíduos e populações de seres vivos. Portanto, engloba a variabilidade
genética de plantas, animais e microorganismos e os ecossistemas dos quais são componentes. Grande
parte da variação genética que constitui a biodiversidade, ocorre no interior das populações de cada
espécie. Assim, a conservação da biodiversidade, não é somente a que existe computando-se apenas o
número de espécies, mas a que ocorre dentro da cada espécie. Esta biodiversidade pode ser dividida
em três categorias hierarquizadas: os genes, as espécies e os ecossistemas.
A diversidade dos recursos genéticos se refere à variabilidade genética de espécies alvo, que se
conservam com fins de utilização, principalmente, melhoramento genético e pesquisa correlata
orientada para a exploração econômica. Compreende populações da mesma espécie como as centenas
de variedades tradicionais de arroz da Índia, ou a variação genética de uma população.
A diversidade de espécies se refere à variedade de espécies em uma região ou a “riqueza em
espécies a qual pode ser determinada de várias formas como a “diversidade taxonômica” que considera
as relações entre uma e outra espécie.
A diversidade dos ecossistemas é mais difícil de medir que a diversidade genética e de espécies,
porque as fronteiras das comunidades e dos ecossistemas geralmente são difusas ou não definidas.
A diversidade social e cultural humana pode ser considerada parte da biodiversidade, com alguns
atributos que representam formas evolutivas de sobrevivência e de solução de problemas das
comunidades, e de adaptação as variações do entorno. Essa diversidade manifesta-se pela diversidade
de dialetos, crenças religiosas, manifestações artísticas e folclóricas, estrutura social, exploração e
manejo de recursos naturais e hábitos e formas específicas de vida, entre muitas outras.
A experiência brasileira e internacional (Nogueira Neto, 1997) mostra que a efetiva proteção da
biodiversidade é segura com as unidades de conservação.
As principais unidades de conservação da biodiversidade são os parques nacionais, as reservas
biológicas, as áreas de proteção ambiental, as áreas de relevante interesse ecológico, as reservas do
patrimônio natural e as reservas extrativistas, ao passo que a conservação dos recursos genéticos é
implementada mediante bancos de germoplasmas e reservas genéticas in situ, que incluem indivíduos
representantes (pelo máximo de acuracia taxonômica) da variabilidade genética de espécies alvo.
Em Estrategia global para la biodiversidad (1992, com viés para a Amazônia) são relacionados
dez princípios da conservação da biodiversidade:
a) Cada manifestação de vida é singular e a sociedade deve respeitá-la.
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Na Amazônia esta manifestação e singularidade adquirem proporções mundiais pelo que tem
despertado a cobiça de posse de muitos países sem que, não entanto, motive um grande interesse,
por parte desses países, orientado para a sua proteção desprovida dessa cobiça.
Para que a sociedade possa respeitar a singularidades das diversas formas de vida que a
Amazônia apresenta é necessário que tenha o conhecimento dessas formas, baseado em
informações acuradas e disponíveis para ela, que possua estimativas de seu valor efetivo e
estratégico e que disponha dos meios e diretrizes para dispensar o devido respeito.
b) A conservação da biodiversidade é um investimento que produz [poderá produzir] consideráveis
benefícios locais, regionais, nacionais e internacionais.
Para mostrar a lucratividade efetiva do investimento nas “riquezas naturais” na atual forma
“virtual” de potencialidades, é mister valorar essa riqueza em função de sua utilidade e
possibilidade de mercado (função estratégica), apreçar seus recursos como “commodities” em
mercados e mecanismos de mercado próprios e internalizar esse “bem econômico” nas contas
sociais e na contabilidade do setor privado.
Estas são pré-condições para a demonstração ou teste (uma hipótese) de que a formação de
florestas não é um empecilho às atividades agropastoris, mas traduz-se em reserva de valor e
poupança rentável.
Parte inicial desse esforço é apresentado neste documento com a conceitualização de uma
abordagem numérica para a avaliação das potencialidades regionais.
c) Os custos e os benefícios da conservação da biodiversidade devem ser distribuídos de forma
eqüitativa entre os países e as populações com aceso a essa biodiversidade.
Este princípio, de especial importância para a Amazônia, exige a efetividade dos acordos e
convênios que procuram essa distribuição, bem como a implementação e implantação, também
com efetividade, da cooperação e parceria, com esses argumentos, no concerto panamazônico.
Se a conservação da biodiversidade está diretamente relacionada, como efeito, com a P&D,
então a adoção de medidas apropriadas para a repartição justa e equitativa dos custos e
benefícios advindos dessa pesquisa e desenvolvimento deverá ser feita entre as fontes desses
recursos (que os possui e quem financia a pesquisa para externar as potencialidades) e aqueles
que os utilizam.
d) Como parte do esforço endereçado para o desenvolvimento sustentável [e sustentado], a
conservação da biodiversidade requer de mudanças radicais nos padrões de crescimento
econômico em escala mundial.
Em termos conceituais e em escala nacional geral, tais mudanças são ilustradas nas Figuras 1
e 2 ao tratar da confluência, pela negociação, das dimensões do desenvolvimento.
e) Maiores aplicações financeiras na conservação da biodiversidade por si só não serão suficientes
para desacelerar a deterioração da mesma. É necessária a reformulação de políticas e das
instituições para criar as condições que tornem eficazes tais aplicações.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
26
Ciência que estuda as relações sociais de produção e distribuição de bens materiais, definindo as leis que regem tais
relações.
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IBGE
Atividades de conservação dos recursos genéticos
Diagnósticos
(diversificação 1ª e 2ª ), de interesse atual e potencial para a Região, com base em planos e
diretrizes
Áreas sob alta pressão antrópica para definir subáreas de uso, preservação (reservas de proteção e
outras)
Inventário da biodiversidade: florestal, peixes, fruteiras nativas, palmáceas etc, Referência. Do IBGE
ManejoComo definir os projetos
e monitoramento de pesquisa? Consultar Manual de pesquisa, Introdução aos fundamentos
florestal
da metodologia científica, Embrapa/DPD
Sementes. “In vitro”: cultura de tecidos e células, criopreservação ....Introdução e intercâmbio para o
enriquecimento genético, com ênfase nas espécies econômicas vulneráveis. Coleta e manejo de coleções de
base, ativa, multiplicação, regeneração, caracterização, avaliação....
Sanidade e quarentena.
germoplasma
Coleções de
(“ex situ”)
Caracterização da área
Avaliação dos recursos naturais: climáticos, hidrológicos, solos, vegetação .... Potencialidades físicas contidas
nos recursos naturais com atributos econômicos. Oportunidades das possibilidades físicas nos sistemas
econômicos, de mercados ....Inter-relação e ordenamento de potencialidades – oportunidades em cenários.
Caracterização da indústria de “base florestal”: reflorestamento – consumo. Perspectivas de uso múltiplo com
equilibrada conexão da “base florestal”-mercado
Decisões sobre o que pesquisa baseado na síntese da caracterização da área
conservação e manejo integrado de recursos (água e solo); cultura florestal adequada ao meio; manejo florestal
adequado ao meio; sistemas de “cultivo mínimo”; sistemas de “insumo mínimo”; tecnologias para produtos de
maior valor agregado na região; tecnologias para a agroindústria que aumentem a competitividade, aproveitem e
transformem produtos conforme indicações de mercados, cadeias do agronegócio e consumidores; tecnologias
com segurança sanitária e qualidade total de processos e produtos; tecnologias para a segurança alimentar da
população de baixa renda; tecnologias para o aprimoramento de sistemas tradicionais do extrativismo, agricultura
familiar e outros. Informações e tecnologias para subsidiar a política florestal e a política de desenvolvimento
regional
Estratégias: Envolvimento dos setores público e privado, das entidades científicas, das organizações ambientalistas
e da sociedade civil organizada, bem como dos setores relacionados com a pesquisa, onde os interesses comuns
das partes envolvidas sejam atendidos. Incentivar pesquisadores e usuários para atender objetivos comuns. Parte
dos incentivos se orienta para que os produtores, com novas tecnologias, destinem parte de suas terras ociosas ao
plantio de florestas para usos múltiplos, conforme a vocação florestal, material genético disponível e sinais de
mercado e da indústria madeireira
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Essa eficiência e eficácia da pesquisa-difusão-adoção ou pesquisa-transferência se traduz em melhor qualidade de produtos
e processos, maior quantidade para satisfazer as necessidades, plena e garantida sustentabilidade do meio ambiente para esse
processo, menor período de geração e transferência da tecnologia para a mudança, menores custos de produção e menores
preço de aquisição do produto final que resulta da mudança tecnológica
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