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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Visão sistêmica do desenvolvimento sustentável a considerar no planejamento


Figura 1 estratégico
40

Desenvolvimento sustentável regional como um produto de conciliação de


Figura 2 interesses, de negociação e de compartilhamento, orientado pela análise 45
multicritérial

Ilustração do efeito de mudanças tecnológica sobre outras dimensões do


Figura 3 51
desenvolvimento sustentável

Horizontes dos cenários prospectivos, dos planejamentos estratégicos e de planos


Figura 4 62
diretores e programas

Figura 5 Modelo de regionalização acumulativo de causalidade de Myrdal 89

Exemplo ilustrativo de uma matriz de planejamento para o gerenciamento dos


Quadro 1 73
recursos naturais da Amazônia

Quadro 2 Modelo de três estágios para análise dos sistemas regionais 88

Gráfico 3 Produção e capacidade ociosa de produtos não-madeireiros da Amazônia 24


Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica
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4 ASPECTOS GERAIS
Na primeira parte do documento se destacam conceitos fundamentais que definem elementos da
referência teórica do modelo proposto para um diagnóstico integrado, bem como para caracterizar e
realizar o ordenamento das potencialidades regionais, como aspectos complementares metodológicos
do Projeto de Potencialidades da Amazônia.
Ao definir tais conceitos se evidencia e destaca parte da motivação pela qual a floresta tropical
amazônica tem chamado a atenção, como no caso de seu papel no clima global (em torno do qual há
distorções e incertezas quanto a definição técnico-científica), sua riqueza na biodiversidade (grande
parte dela por desvendar à luz da C&T), suas populações indígenas (com possíveis indicadores de
ameaça de extinção), e os grandes desafios para harmonizar a proteção da natureza, a conservação de
seus recursos naturais e o manejo integrado e sustentável desse patrimônio, com o crescimento
sustentável e socialmente distribuído que a Região requer, pode desenvolver e é legítimo fazei-lo à
luz de fundamentos e diretrizes de planos como o PPA-2000.

Despertar do sentido cidadão para a conservação


Neste sentido, é oportuno destacar o despertar para a conscientização da sociedade sobre a
importância econômica e estratégica da “valorização” das florestas. Tal valorização é uma motivação
para a conservação “inteligente” e para a proteção de seus “estados” de composição (estruturação,
qualidade, quantidade, funções etc.), interação e interdependência de seus componentes. Parte da
conscientização se orienta para a definição de novos critérios de ocupação, não mais com base em
pressupostas e falsas fronteiras infinitas de potencialidades que comportariam a expansão
incontrolável de atividades econômicas (Sudam, 1995).
Parte de esse despertar, ainda que incipiente, se observa em populações rurais locais e em grupos
tradicionais organizados, tais como os extrativistas, os colonos de quilombos, os ribeirinhos e os
caboclos das florestas (IDBI UNDPIACT, 1992), com efeitos não só na Região e no País, mas, em
outros países que compõem o “Tratado de Cooperação Amazônico” com reais e legítimos interesses
na Região.
Apesar desse despertar e do processo de conscientização pela proteção, pela conservação e pelo
manejo integrado e sustentável de ambientes e recursos naturais das florestas amazônicas, há políticas
públicas e ações de governos locais, bem como empreendimentos privados agro-silvo-pastoris,
garimpagem e exploração predatória da floresta madeireira, entre outras, que resistem às mudanças,
com graves externalidades negativas na forma de degradação do meio ambiente, de poluição de
ambientes naturais e de perdas dessa riqueza e patrimônio natural.
É possível que áreas desflorestadas com vegetação secundária espontânea (“capoeiras”, p. ex.)
incorporadas às culturas anuais e perenes ou até mesmo com plantações de monocultura e formações
de pastagens para a pecuária, não sejam necessariamente prejudiciais à natureza e o meio ambiente
quando reformuladas e desenvolvidas com base em fundamentos tecnológicos adequados. Portanto,
tais áreas deverão ser objeto de estudos e de pesquisas orientadas para que os resultados
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

compromissados (isto é, as informações tecnológicas para o conhecimento tecnológico e científico


desejável e integrável ao saber das populações e da sociedade da Região, os serviços tecnológicos
para aprimorar outros serviços e as informações-e-serviços-e-produtos tecnológicos para a inovação
tecnológica que a conservação e o manejo integrável da floresta amazônica requer) sejam
efetivamente eficientes na nova fundamentação.

Orientação dos conceitos


A maioria dos conceitos básicos apresentados nesta parte do documento trata de uma nova
proposta de desenvolvimento sustentável (DS) que tem nos resultados da pesquisa aplicada os
fundamentos para a sua viabilização. Reconhece-se, entretanto, que só os resultados da investigação
por mais adequados ou aplicados que eles sejam ou possam ser, não serão suficientes para impulsionar
esse processo de diversas dimensões e de complexas interações e integrações; é necessário estrutura-
los, complementa-los e sinergizá-los com outros meios e instrumentos (econômicos, legais,
gerenciais, socioculturais etc.), alguns deles relacionados neste documento.
Para esse propósito se apresenta no próximo item o conceito que serve de referência para se
delinear propostas e para “pensar” (incitar reflexões sobre o assunto) nas formas criativas e endógenas
das diversas dimensões que convergem (devem convergir em harmonia e sinergismo) nesse conceito,
sem antes omitir o deliberado viés, para a questão tecnológica e de pesquisa, que traz, neste
documento, a conceituação de DS.
Mas, a formulação e internalização do conceito básico de DS deve ser ancorado no processo
histórico, econômico e sociocultural da Região para conferir parte da necessária legitimidade que esse
processo requer para se projetar com sucesso. A formulação de cenários, à luz de perspectivas e
oportunidades, é outra parte importante e integrável desse conceito.

Resenha histórica
No início da colonização, a Amazônia foi objeto da implantação de um modelo de crescimento
econômico (economicista) baseado no extrativismo com características predatórias. Em essência esse
modelo consistia na retirada de produtos “in natura” e com escasso valor agregado no local, pelas
comunidades do interior (“caboclos” submetidos às duras condições de trabalho na floresta), e sua
entrega ao “regatão” (comerciante que navegava pelos rios em busca de produtos e especiarias) ou
levado ao “barracão” mais próximo (centros de coleta para depois ser transportado em “gaiolas” para
Manaus ou Belém). Desse processo eminentemente “economicista” ficou apenas uma pequena parte
de lucros monetários fáceis em poder de uma classe dominante, uma floresta com sinais de
descapitalização e perturbação, uma cultura regional em processo de degradação e com perdas que se
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atribuem ao colonizador, um sentimento de submissão e uma economia sem futuro quando vista à
margem de resultados aplicados da P&D.
Com o esgotamento do período das especiarias e do ciclo da borracha nas décadas de 50 a 80, a
Região foi relegada ao abandono o que gerou mais pobreza e piorou as condições de vida para as
populações locais.
Na década de 50, para tentar minimizar a situação crítica na Região, o Governo criou a
Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia – SPVEA – que, com poucos
recursos e sem “capital social” adequado para enfrentar o desafio, não conseguiu cumprir seus
objetivos fundamentais.
Na década de 60, com evidências de inoperância da SPVEA e com a sua imagem pública
deteriorada, o Governo a reformulou criando a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
– Sudam. Esta, até da década de 80, além de não conseguir implantar um modelo de desenvolvimento
regional consistente ou de gerar um produto de qualidade econômica, ambiental e com impacto
positivo social, financiou, com recursos públicos, uma grande derrubada de áreas florestadas
descapitalizando o ecossistema e promovendo danos ambientais significativos.
O problema foi agravado no final da década de 60 e início dos anos 70 com a formulação de um
modelo energético para a região que construiu grandes Usinas Hidrelétricas com a energia destinada
a centros urbanos e para o setor industrial. Mais de 50% da população amazônica, que vivia em
comunidades isoladas, não recebeu a oferta de energia do sistema convencional. Criou-se com esse
modelo, segundo o Inpa (1999), um contingente de mais de 9 milhões de pessoas deserdados do setor
elétrico.
Em termos de evolução histórica, se a década de 70 se caracterizou pelo conflito entre o
pensamento econômico e a necessidade de preservação do meio ambiente, a década de 80,
especialmente a partir da Resolução 1a. do Conama (1986) e da promulgação da nova Constituição
do Brasil, a questão do meio ambiente ganha força sem, contudo, para o caso da Amazônia, ter podido
superar inúmeras dificuldades para tratar os problemas criados para o meio ambiente pela mineração
e siderurgia, pela agricultura comercial e pela pecuária extensiva sem adequados alicerces.
Na sucessão de modelos de crescimento aplicados na Região o manejo de problemas do meio
ambiente, além setoriais e incompletos, esteve dissociado das condições de pobreza e das
características sociais, culturais e socioeconômicas, entre outras, de atores importantes desse meio
O despertar de uma consciência ambiental na sociedade moderna fez surgir preocupações em
relação à proteção do meio ambiente, à sustentabilidade de processos e produtos, à conservação e
manejo integrado de seus recursos naturais e à qualidade de vida de suas comunidades, entre outras.
Essas preocupações e seus efeitos contribuíram para agravar a situação sociocultural, econômica e do
meio ambiente da Amazônia que passou a experimentar o confronto entre a exploração de suas
riquezas e a pressão externa, por vezes caracterizada pela falta de informações e conhecimentos
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Introdução a uma abordagem de análise numérica

técnicos-científicos dessas realidade, direcionada para a preservação da natureza (e para outros


interesses 1).

1
Passarinho (2000), em “Amazônia e soberania” (Correio braziliense, 28, mar. 2000, p. 23, c. 2-a 5) incita, com alguns
dados históricos, para uma reflexão sobre a cobiça internacional.
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4.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


O conceito de desenvolvimento sustentável, neste documento, refere-se a um p r o c e s s o de
transformação gradativo e continuado, acordado e implementado com suporte em diversas dimensões
que se perfilem em agendas próprias. Trata-se, portanto, de uma sucessão de atividades e estratégias
acordadas entre atores e interesses em contextos multidimensionais e multicriteriais 2, as quais devem
ser implementadas, de forma sistemática e permanente ao longo do tempo (com aprimoramento e
ajustamento contínuo), com a solidariedade e com o comprometimento de todos. Esse
comprometimento compreende a disposição de respeitar interesses mútuos e de conhecer e aceitar a
dinâmica e interdependência dos agentes intervenientes do desenvolvimento e as condições do meio
ambiente, em constantes ajustes. Essa dinâmica, a ser conhecida, determina e é determinada pela
regionalização, pela globalização, pelos balanços (de energia, de água, de elementos...) e pela tomada
de decisão no âmbito global.
Esse processo é constituído por fases 3 do desenvolvimento. Estas poderão estar associadas às
circunstâncias e aos condicionantes de determinado perfil e cenário que se define para cada período
desse processo, para cada sub-região ou para cada comunidade; por isso não se trata apenas de um
modelo.
Para o caso da Amazônia, caracterizada por uma ampla e complexa diversidade biológica e
sociocultural continental, convivem ou se “toleram”, com variáveis graus de conflitos, populações
indígenas com os seringueiros, colonos do Sul e Nordeste do País com os caboclos ribeirinhos e os
mega-empreendimentos agrícolas com a produção familiar e o extrativismo. Coexistem a diversidade
cultural e social compreendida em diversos ecossistemas integrados ou interdependentes.
Tais ecossistemas também apresentam uma ampla diversidade, do cerrado até a floresta densa,
da mata de várzeas até os campos alagados, das topografias de planícies até os grandes maciços
rochosos, entre outros não menos relevantes contrastes.

2
O conceito multicreterion decision making simplificado pelo termo multicriterial, compreende e/ou se relaciona com
atributos, critérios, objetivos, metas e restrições (limitações e potencialidades) de um conjunto de técnicas ou modelos para
otimização, condicionada pelas restrições e potencialidades de uma função objetiva “economológica” social. Nesse
processo complexo se encontram objetivos conflitantes ou em atritos e objetivos nem sempre mensuráveis em numerários
comuns, por exemplo o monetário, o que entranha dificuldades de conceitualização e de operacionalização da técnica
multiobjetive decision making. Esta situação é evidente em processo de intervenção setorial na Amazônia quando
determinadas funções econômicas temáticas e setoriais foram maximizadas em perspectivas de curto prazo, às custas de
estruturas e funções constituídas em outros setores, porém não reconhecidas nas atividades econômicas aqui definidas como
“economicistas”.
3
Em cada fase do processo é possível estabelecer um modelo, isto é, uma estrutura analítica capaz de permitir estudar as
relações entre um conjunto de variáveis características de uma região, com base em hipóteses das quais são retiradas
implicações e previsões. O modelo, para ser útil, deve ser uma versão simplificada e abstrata de uma realidade específica,
proposto para realizar previsões derivadas logicamente de suas pressuposições consistentes entre si, sendo que quanto mais
geral for o modelo, mais difícil será conseguir certo grau de acuidade em suas previsões (FGV, 1987).
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Introdução a uma abordagem de análise numérica

Legitimidade do processo
No complexo amazônico de situações e de condições biosocioculturais, bioeconômicas,
biodiversidades e abióticas, ainda na forma enigmática porque não se gerou a informação necessária
para o conhecimento e a tecnologia para a sua conservação e proteção, o processo conveniente de
desenvolvimento deverá integrar as diversas dimensões e interesses, de “legítimos” atores e
intervenientes, com os paradigmas em torno da Região, para o encontro de soluções que conciliem o
crescimento econômico com melhores condições de vida de suas populações e com a necessária
proteção (de funções, de estruturas, de composições, de inter-relações...) desse patrimônio. Isto, com
vistas à assegurar que seus fluxos de “utilidades” (conceito econômico) e de riquezas sejam
usufruídas, também, pelas gerações futuras.

Orientação do processo
Em princípio, o processo de desenvolvimento deve ser orientado, de forma criteriosa, pelo
conhecimento técnico-científico aliado, repetindo, ao conhecimento e valores tradicionais,
devidamente caracterizados e valorizados para sua proteção e aprimoramento, e pelas tecnologias,
processos e produtos “limpos” e sustentáveis (Colby, 1990), bem como por instrumentos de política
e gestão, com propostas de mudanças e ajustes (evolutivas) de atuais e aplicáveis paradigmas
(Barbier, 1987 e Becker, 1987, complementados).
Conforme essa orientação, o desenvolvimento deixa de ser considerado apenas um resultado
econômico, ou de mercado, 4 ou social-cultural, ou técnico-científico, ou de ambientalistas..., e passa
a ser visto como resultados (dinâmicos ou em permanente evolução) de ações conjuntas, integradas e
“concertadas”, quanto possível, e de formas estratégicas gradativas (parcerias, cooperação,
associação, compartilhamento), definidas nas dimensões econômico-financeiras, sociocultural,
ecológica-meio ambiente-recursos naturais, político-institucional (regional, nacional e internacional),
legal, administrativa (de gestão) e tecnológico-científica, entre outras que ali devem confluir e se
integrar. Essa desejável e procurada confluência multidimensional e multicriterial se apresenta, na
atualidade, distante da realidade.

4
O mercado não é suficiente para prover um desenvolvimento sustentável em condições de pobreza. Sem a presença do
Estado, o desenvolvimento significaria apenas uma melhoria do crescimento, mas com a manutenção do status quo, das
condições de pobreza que pressupõem a destruição da dimensão social, da distribuição desigual dos benefícios do meio
ambiente e da socialização dos custos ambientais.
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Desafios do processo
A distância entre uma proposta de crescimento conciliadora de interesses e consistente com a
realidade do meio ambiente, aliada a falta de um consenso operacional no conceito de
desenvolvimento sustentável são proporcionais às contradições, reais ou aparentes, que surgem
quando se procura passar da conceitualização e interpretação para a implementação de soluções, para
o exercício da solidariedade e conciliação (consistência, coerência etc.) e para a prática de valores
éticos e morais locais e regionais. Tais valores com frequência não são reconhecidos nos interesses
econômicos, em especial, os interesses internacionais que apontam, com cobiça e ilegitimidade de
apropriação, para a Amazônia e seus recursos naturais.
Por outro lado, o conceito de desenvolvimento sustentável traz, como suposto, uma nova ordem
internacional e o exercício de parcerias entre supostos “iguais”, que podem, de fato, não-existir,
conforme se constata da inconclusa reunião da Rodada do Milênio da Organização Mundial do
Comércio (Seattle, 1999) onde, apesar da expectativa de vir a ser um palco de importantes decisões,
frustrou-se a pauta de progressiva eliminação dos subsídios, de acesso aos mercados e de apoio as
políticas internas. O que ficou claro foi o desconhecimento ou não-reconhecimento de correlações de
forças presentes na globalização/regionalização e o predomínio dos interesses de países
industrializados no cenário internacional. 5 Tais interesses resultam distantes e conflitantes com os
interesses dos países em desenvolvimento e dos países dominados pela dependência externa (cultural,
tecnológica, econômica, financeira, ideológica etc.).
Apesar das severas limitações que possa entranhar (e de fato, compreende) o conceito de
desenvolvimento sustentável/sustentado, é conveniente (pelo menos em hipótese) tratá-lo como um
processo de alternativas em permanente ajuste e com certas vantagens, na procura de sua viabilização,
de forma gradativa. Neste sentido, o desenvolvimento poderia ser iniciado pela(s) dimensão(ões) que
resulta(em) prioritária(s) na melhoria das condições de vida humana de comunidades da Região,
conforme determinada escala e pontos de referência (descritores e indicadores) endógenos.
Desta forma colocada, o desenvolvimento sustentável poderá adquirir uma perspectiva particular
de um período, com características de um modelo para esse período, adequado às condições e às
exigências da Região, dando conta da especificidade e da diversidade de condições naturais e
socioeconômicas dessa/nessa fase do processo. Isto pressupõe uma agenda de conhecimentos sobre
essa diversidade e sobre os condicionantes ecológicos, econômicos e socioculturais, entre outros, que
viabilizem a perspectiva ou a oportunidade particular de progresso desse período. Nessa ótica, o
processo admite modelos circunstancias rigorosamente integráveis a outros e sequenciais.
Certamente não tudo por ser prioridade, porém o tratamento em apenas uma dimensão, em geral,
perde seu efeito, dada a interdependência dos elementos do problema e a interdependência dos
elementos afetados do sistema.

5
O viés que resulta das relações internacionais pode não só agravar o fosso econômico, mas também aumentar o fosso do
meio ambiente entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento
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Introdução a uma abordagem de análise numérica

Em planos de desenvolvimento regional, essa(s) prioridade(s) se define(m) conforme diretrizes


de política, gargalo(s) em setores e ordenamento do(s) estrangulamento(s) que afeta a condição de
bem-estar humano, associada(s) à(s) correspondente(s) dimensão(ões) desse desenvolvimento. A
importância relativa do gargalo (singular ou endógeno de cada região) é indicador de prioridade no
tratamento.

Início do processo
Ao final como um processo (de vários modelos seqüenciais e integráveis) e dadas as limitações
em todos os sentidos, o desenvolvimento poderia ser iniciado pela(s) dimensão(ões) que resultar(em)
prioritária(s) na melhoria das condições de vida humana na região com possibilidades de atendimento
pelo ecossistema.
Qual(is) é (são) essa(s) dimensão(ões)? Certamente não tudo por ser prioridade, 6 porém o
tratamento em apenas uma dimensão, repetindo, em geral, perde seu efeito, dada a interdependência
dos elementos de um problema ou as interações de problemas em um sistema, de sistemas em uma
sub-região etc.
Em ausência de planos, os estudos de ordenamento e zoneamento econômico-social e
agroecológico poderão permitir, quando adequadamente planejados, executados e implementados,
definir escalas e priorizações dos problemas a serem abordados nos planos de desenvolvimento
regional.
É importante destacar que um dos instrumentos específicos, não apenas para definir planos, mas
políticas do meio ambiente desses planos, é o zoneamento econômico-social e agroecológico, pelo
seu grande potencial de ordenamento territorial. Contudo, se implementado de maneira isolada,
poderá se converter em mais um instrumento indicativo para o planejamento da localização espacial
de atividades econômicas, conforme seja a aptidão e potencialidade do meio ambiente. A efetividade
depende da conjugação com outros instrumentos, atividades e estratégias que possam modificar
decisões, comportamentos e atitudes em relação ao uso e manejo dos recursos naturais.
O início do processo de desenvolvimento pode ser definido com base em problemas do meio
ambiente que envolvem disfunções físicas (meio ambiente – ecológicas – recursos naturais),
econômicas, sociais (culturais) e técnico-tecnológicas. Mas, esse início requer soluções que
dependem, por vezes, da ação política-institucional (legislação –outra dimensão do desenvolvimento
sustentável - controle...) e de outros meios e instrumentos (crédito, mercados, assistência técnica,
políticas econômicas etc.). Essas disfunções, em geral, resultam fortalecidas pela ação de mais de um
componente com perturbação ou degradação. Desse modo, interessa evidenciar, isto é, colocar de

6
Quando tudo for avaliado e disposto como se for prioritário, nada será prioritário.
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forma clara no plano de desenvolvimento essas disfunções, e concentrar os esforços na


interdependência e sinergismos das dimensões afetadas e de onde se geram os distúrbios.
Em hipótese, o início do processo pode se dar pela definição de projetos a serem estruturados em
planos que identifiquem, caracterizem e incorporem as potencialidades regionais ao crescimento, de
forma sustentável nas várias dimensões. Tal incorporação deve considerar a dinâmica regional imersa
nos contextos das dinâmicas nacional, pan-amazônica e mundial.
Que projetos poderiam ser contemplados inicialmente numa proposta de desenvolvimento
sustentável para a Amazônia? 7 Aspectos gerais e conceituais dessa resposta, propostos como pontos
iniciais para uma reflexão profunda, são apresentados na parte que segue.

4.2.1 Planos e Projetos de Desenvolvimento Sustentável


Em termos gerais, os projetos que poderiam ser inicialmente incluídos numa proposta de
desenvolvimento, com características sustentáveis em várias dimensões, podem ser:
- os de saneamento básico pelos efeitos positivos no componente social e pelos efeitos positivos
sobre o meio ambiente;
- os de energia pelos efeitos no crescimento industrial e urbano, baseados em fundamentos e
aproveitando as lições do passado;
- os de transporte pelos efeitos positivos na integração e como fator gerador de “utilidades” que
viriam a complementar as utilidades criadas pela P&D na matéria-prima, nos produtos e nos
processos produtivos;
- os de educação pelos efeitos positivos na proteção, na conservação e no manejo integrado de
recursos e ambientes naturais, bem como pelos efeitos esperados em empreendimentos
regionais que gerem emprego, renda e riqueza. Em alguns casos, os projetos de segurança
pública tornam-se prioritários para viabilizar o desenvolvimento,
- os de P&D, fortalecendo estruturas, desenvolvendo o “capital social” e direcionando projetos
para a racionalidade do DS.
Em geral, qualquer empreendimento regional que gere emprego, renda e riqueza com
desconcentração dos atuais polos e produza melhor aproveitamento dos eixos, pode ser considerado
na proposta de desenvolvimento, especialmente quando evidenciadas, nos empreendimentos, as
oportunidades das potencialidades sub-regionais. Isto é claro no PPA-2000.

7
O crescimento da Amazônia tem sido pautado por padrões dependentes do capital internacional e tecnologias forâneas,
pautado pela especificidade da Região quanto ao valor de suas riquezas naturais cobiçadas. Esse crescimento desequilibrado
e heterogêneo resultou em uma concentração econômica e demográfica, em degradação do meio ambiente e em perdas de
qualidade de vida das populações locais, com o traço marcante da desigualdade no acesso, posse e distribuição de benefícios
dos recursos naturais, como a terra objeto de especulação e conflitos fundiários e a consequente expulsão dos nativos de
suas área e migração aos centros urbanos. Esse é parte do cenário que o novo modelo de desenvolvimento sustentável e
sustentado deverá tratar.
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Orientação geral das ações e estratégias de um plano


Em termos específicos e para o caso destacado neste documento, parte das ações e estratégias de
um plano de desenvolvimento deverá ser orientada para:
- a caracterização e incorporação de potencialidades regionais em setores como os do extrativismo,
com fundamentos em novas bases técnicas-tecnológicas geradas pela pesquisa aplicada;
- o madeireiro, integrado aos diversos setores na região (laminados, mobiliário, agroindustrial...)
para gerar ou acrescentar novas utilidades à matéria-prima (maximizar o valor agregado com
consistência social e econômica e com sustentabilidade ambiental) e aumentar o valor agregado
no local;
- o ecoturismo, desenvolvido em bases sustentáveis as quais requerem, também, de informações
científicas para tecer novos conhecimento, serviços tecnológicos para aprimorar tradicionais
serviços e tecnologias para a inovação tecnológica da atividade econômica do ecoturismo;
- a pesca sustentável integrada aos processos industrias da cadeia produtiva desse setor no local;
- a agroindústria, com derivados atuais e potenciais da diversidade de espécies nativas;
- os manejos diferenciados e endógenos dos sistemas agroflorestais, entre outros.
Em todos esses planos e projetos, com maior ou menor intensidade, surge a necessidade de se
definir uma agenda de informação e tecnologias para o conhecimento e a inovação, com suporte na
comunicação e na tecnologia da informação.
A transferência e acelerada difusão de novas informações e tecnologias, as tensões geradas no
campo do emprego e a demanda crescente por capacitação e formação do capital social são grandes
desafios reconhecidos pela sociedade. Nesse contexto, o papel do governo não pode restringir-se
apenas aos investimentos em ciência, tecnologia e educação. Exigem-se novas formas de
planejamento, de gestão e governabilidade (governança) que promova e articule a parceria entre os
setores público e privado, a cooperação, a desconcentração com competência e responsabilidade na
P&D, uma nova cultura da inovação no sentido, segundo o PPA-2000, de produzir, assimilar e
explorar com sucesso as conquistas tecnológicas em todos os domínios, econômico, social, meio
ambiente etc., buscando soluções criativas inéditas, e a educação para a C&T.
Nessa relação de setores econômicos produtivos é oportuno destacar um aspecto diretamente
relacionado com a P&D relativo às tecnologias sustentáveis para o extrativismo amazônico. É com
relação a esse aspecto que se orienta, com viés para a pesquisa, os conceitos que são apresentados
neste documento e que devem ser vistos como pontos iniciais ou referencias para uma análise e
reflexão profunda.
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4.2.1.1 Tecnologias sustentáveis


O destaque do aprimoramento tecnológico das atividades extrativistas na Amazônia está no papel
estratégico e na importância social, bem como nas perspectivas econômicas sustentáveis desse setor.
Estima-se que nos aproximadamente 5.234,8 mil km2 mais de um milhão de pessoas estão
engajadas em atividades da economia de extração não-madeireira que têm como fonte de trabalho e
renda a coleta, extração e processamento de produtos como o palmito (Euterpe edulis), o açaí
(Euterpe oleracea) a castanha-de-pará (Bertholletia excelsa), a borracha (Hevea brasiliensis), a
palha-de-piaçava (Syagrus coronata), a copaíba (Copaifera langsdorffii), a andiroba (Carapa
guianensis) e o cumaru (Dipteryx odorata), entre outros produtos extrativos que tem, com exceção
do palmito, certa capacidade ociosa de produção, conforme se indica no Gráfico 1.

100% Potencial

80%
Produção

60%

40%
Casatanha-

Palmito

do açai
Fruto
Borracha

do-pará

20%

0%

Gráfico 1 Produção e capacidade ociosa de produtos não-madeireiros da Amazônia


a

a
Fonte: Borges e Pastore (1999)

Como recursos econômicos, algum de elevado potencial no mercado, cada um deles possui sua
própria dinâmica e problemas que requerem de tratamento técnico e institucional particular e
diferenciado.
Novas perspectivas para a exploração sustentável dos recursos naturais não-madeireiros precisam,
simultaneamente, considerar a importância dessas perspectivas nos seguintes contextos:
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a) econômico e estratégico para as comunidades extrativistas;


b) de mercados, atuais e potenciais, com oportunidades e perspectivas para a Região;
c) de proteção, conservação e manejo integrado desses recursos naturais, em particular os
renováveis, quando incorporem tecnologias “limpas” em novos sistemas de produção
consistentes com o meio ambiente.
Em todas essas dimensões há grandes desafios para a P&D gerar resultados consistentes;
consistentes, quando adequados às possibilidades de adoção e difusão de informações, serviços e
tecnologias com vantagens para as comunidades locais e para a Região; desafios, diante das
dificuldades, limitações e incertezas em cenários cada vez mais dinâmicos, abrangentes e complexos,
bem como pelas limitações impostas pelo alto custo de oportunidade dos recursos financeiros
aplicados na P&D.

4.2.1.1.1 Importância das tecnologias “limpas” no crescimento


As exportações brasileiras e, em particular, as exportações da Amazônia, dependem não só do
comportamento da taxa de câmbio (variável econômica), ainda que esta seja uma variável-chave no
desempenho do comércio; tampouco as preocupações se deveriam limitar apenas ao chamado “custo-
Brasil”, ainda que este seja uma componente de variáveis fundamentais para sinergizar, pelos seus
efeitos diretos que traz a melhoria de infraestruturas como as de portos, energia e telecomunicações,
entre outros, sobre os resultados da pesquisa. Há, também, uma agenda de ambientes e recursos
naturais diretamente relacionada com a P&D que não pode ser negligenciada em qualquer plano de
desenvolvimento.
Concomitante com o crescimento dos produtos industrializados intensivos em recursos naturais e
energia vem se afirmando a tendência de uma maior atenção dos impactos negativos de certas
industriais sobre o meio ambiente. Neste sentido, parte dos temas de negociação dentro da
Organização Internacional do Comércio (pós Rodada do Milênio) e outras instituições multilaterais
abrange (deverá compreender) o meio ambiente, quer por razões e padrões de "consciência
ecológica", quer por motivações de protecionismo das economias avançadas que se utilizam dessa
“bandeira” para outros propósitos por vezes contrários aos interesses dos países em desenvolvimento.

Tendências para valorizar a qualidade do meio ambiente


Apesar dos possíveis desvios e/ou de interesses nem sempre claros, é importante destacar, no
contexto de tecnologias “limpas”, o interesse da comunidade internacional voltado para as questões
do meio ambiente com repercussões mais amplas, em determinados casos, como é o das
conseqüências, reais ou aparentes, do desmatamento e das queimadas da Amazônia. O destaque surge
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com as indústrias de países desenvolvidos que puderam introduzir, em maior ou menor nível, de
maneira efetiva ou aparente, as chamadas técnicas end-of-pipe, vale dizer, de tratamento de resíduos
ao final do processamento industrial. Mediante essas técnicas foi possível considerar (evitar), pelo
menos em parte, danos ao meio ambiente. Por outro lado, a substituição de processos produtivos e
produtos com o uso criterioso e a substituição tecnológica possíveis de recursos naturais por recursos
reproduzíveis pela indústria, é uma tendência de peso e em fase de crescimento na globalização.
A inelasticidade de substituição de recursos naturais por recursos tecnológicos (vista como
limitações, em determinado momento e condições, da P&D e C&T em oferecer e atender essa
substituição técnico-econômica) e a implantação de técnicas end-of-pipe (menores possibilidade de
ganhos futuros com essas técnicas) permite prever mudanças favoráveis para as chamadas tecnologias
"mais limpas", integradas aos processos e com resultados positivos, privilegiados estes pelos
mercados, nos serviços e produtos beneficiados pelas modernas tecnologias.
Na hipótese de que a introdução de tecnologias “amigáveis com o meio ambiente” não venha a ser
acompanhada com a desconcentração de polos industriais, na periferia, o dumping ecológico poderá
influenciar decisões em fóruns internacionais reivindicando compensações para os efeitos negativos
(externalidades tecnológicas e pecuniárias dos processos e produtos “não-limpos”) incorporadas no
comércio internacional de produtos intensivos em recursos naturais.

Possíveis efeitos negativos de tecnologias “agressivas” ao meio ambiente


Parte das reivindicações ou de compensações pelas externalidades negativas tecnológicas em
processos e produtos poderá se manifestar em organismos como o da OMC, com posições, diretas e
explícitas ou disfarçadas, que surgem nas negociações e em mecanismos de eliminação de entraves
ao comércio internacional. É oportuno mencionar que no lastro dessas negociações, 8 desenvolvidas
há mais de 50 anos sob a égide do Gatt (atual OMC) e sem ter podido completar e referida eliminação,
há exigências e oportunidades para a pesquisa atender e aproveitar.

8
As negociações que permitiriam o livre comércio entre os países se inspiram na doutrina do livre câmbio, enunciada por
Smith há mais de 220 anos e com poucas mudanças na atualidade. Nessa se afirma que o comércio internacional deve ser
livre para viabilizar a divisão internacional como uma das condições básicas para o desenvolvimento. A primeira proposição
dessa doutrina argumenta que cada país só pode se especializar na produção das mercadorias para a qual possui vantagem
comparativa se puder vendê-la aos demais países; caso contrário só poderia escoá-la no mercado interno de seu âmbito,
impedindo alguns ganhos de escala e marginalizando-se da competição internacional. A Segunda, assinala que o avanço
tecnológico requer a especialização produtiva dos países, porque nenhum deles tem recursos e mercados suficientes para
alcançar e excelência em todos os ramos da produção. Nessa OMC se houvesse consenso sobre as virtudes do livre comércio,
os entraves seriam superados. Na realidade cada país protege o mercado interno protegido da concorrência de bens
importados e trata de resguardá-los para servirem de moeda de troca (saldo comercial e reservas cambial do país
transformada em ativos no exterior, conforme doutrinas neomercantilistas com raízes keynesianas), inspirados numa
doutrina anterior ao libre comércio, o mercantilismo, segundo o qual a riqueza de cada país é incrementada pelo que venda
e diminuída pelo que compra. Qual é a relação com a P&D? Está no fato do governo utilizar a demanda externa como
complemento para administrar a demanda efetiva de modo a conter a inflação, reduzir o desemprego, estimular as
exportações e restringir ou substituir as importações sem arriscar o equilíbrio do balanço de pagamentos, entre outros
objetivos, condicionados pela competitividade.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Quais são essas exigências? São definidas e orientadas para a geração de resultados “limpos” de
pesquisa aplicada e com maior efetividade e eficiência, o que confere competitividade ao cliente que
a adota e sustentabilidade ao meio em que se insere a aplicação. É direcionar o processo de pesquisa
para gerar resultados com aplicação do conhecimento científico (tecnologia) e para produzir novos
conhecimentos e novos serviços de capacitação. É gerenciar esse processo para gerar e transferir,
segundo a conveniência e oportunidade de cada caso, resultados incrementais (não se trata de
descobrir e aplicar uma nova tecnologia, mas, desenvolver a habilidade de aplicação do conhecimento
existente), radicais (traz consigo uma nova base de conhecimento técnico e científico que por si só é
insuficiente para gerar resultados práticos desejados) e fundamentais (desenvolvimento da capacidade
de pesquisa em profundidade em campos potenciais e preparação para futura exploração; Roussel et
alii, 1992, p. 17-18) destacando o papel estratégico da P&D, isto é, permitindo que o resultado
produzido (informações para o conhecimento e tecnologias para a inovação) seja integrável na
tecnologia, no saber e na estratégia do cliente alvo da pesquisa.
Parte da renovação tecnológica em parques industrias que usam recursos naturais de países
desenvolvidos é passível de adaptar e transferir aos países em desenvolvimento (P&D incremental),
mediante a endogenicidade (testes, ajustes, adequações, complementação..., para se ter a necessária
enantropia) e extensão de princípios contidos no just in time e no controle de qualidade total, entre
outros (ver Manual de pesquisa: introdução aos fundamentos da metodologia científica; Capítulo 2),
bem como de padrões tecnológicos que apresentem relativa flexibilidade para a transformação em
critérios. Isto pressupõe investimento em equipamentos e ativos intangíveis como treinamento de
mão-de-obra e geração-transferência-difusão e monitoramento dessas tecnologias “limpas”, entre
outros.

Condições para efetivar o resultado da pesquisa


É oportuno repetir que o vetor tecnológico, ainda que apropriado e integrável a outros planos do
desenvolvimento, não é suficiente para promover o crescimento sustentável. Em alguns casos de
condições desfavoráveis, o efeito tecnológico positivo poderá ser anulado quando o processo alvo da
pesquisa seja afetado por elevados custos de infraestrutura (p. ex. o “ custo Brasil”, pela falta de
planejamento e por má gestão.

A gestão do meio ambiente e do processo de pesquisa


Um dos vetores de desenvolvimento que deverá sinergizar o potencial da inovação tecnológica é
o da gestão de ambientes e recursos naturais renováveis. Essa gestão serve de referência para a gestão
do processo de P&D, sendo, portanto, um vetor definido e implementado de forma integrada e
consistente com os resultados da P&D.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

A atual gestão de ambientes e recursos naturais precisa de maior clareza do conhecimento,


objetividade das ações e estratégias e integrabilidade das partes componentes com outros para que,
dessa forma, possa dar conteúdo a paradigmas da qualidade do meio ambiente e da sustentabilidade;
requer de elos que venham a articular condições sociais e culturais com as condições econômicas,
disciplinadas estas por diversos instrumentos como os legais e administrativos adequados e possíveis
de implementar em cada caso.
A gestão de ambientes e recursos naturais, em geral, tem-se baseado na utilização de instrumentos
de comandos e de controle, em geral com fundamentos jurídicos ou de mercado, envolvendo mais o
cumprimento de normas, nem sempre consistentes e operacionais às condições locais e regionais
estabelecidas em lei, do que a articulação de forças e interesses comuns em torno de planos e
programas de desenvolvimento local e regional.
As ações preventivas e educativas, nessa gestão, têm sido negligenciadas, em parte porque não se
tinham ou, quando existentes, não forma utilizados os critérios técnicos de conservação, de manejo
integrado e de proteção de “estados” de qualidade, quantidade e equilíbrio dos recursos e ambientes
naturais.

As condições locais internalizadas no processo


Novas políticas de desenvolvimento para a Região requerem considerar diversos fatores na
dimensão local e regional, sem perder de vista a referência da dimensão global e sinérgica; requerem
da interpretação e projeção do potencial e das oportunidades da Região para a geração de renda,
emprego e sustentabilidade ecológica; requerem assegurar que o processo de inovação tecnológica
seja continuado, ajustado às novas realidades e com possibilidades concretas ou efetivas para agregar
valor aos produtos e serviços que definem a vocação e potencialidades na Região com justiça
distributiva e para aproveitar as perspectivas e oportunidades (que não são poucas) nessa dinâmica e
ajuste de cenários amazônicos.

4.2.1.2 Importância do estudo e da pesquisa das potencialidades no


crescimento econômico
O estudo das potencialidades regionais dos ambientes e recursos naturais amazônicos é, mutatis
mutandis, uma das propostas teóricas que [aparentemente] melhor se coaduna com as peculiaridades
e as necessidades atuais da economia regional (Costa, 1995). Nessas propostas, se consideram
condicionantes e determinantes (bem como tendências), alguns favoráveis, tais como: a situação
geográfica com relativo grau de abertura aos mercados extra regionais, a estrutura econômico-
espacial, a estrutura setorial e a dotação de infraestrutura como os eixos de desenvolvimento e as
possibilidades de integração intermodal em torno da ampla rede hidroviária da Região.
A base tecnológica e científica, gerada na P&D e a C&T, para a caracterização de recursos e
ambientes naturais e suas potencialidades em diversos cenários, é outra possível frente ou início do
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

processo de des envolvimento que a Região quer, pode e deve, com propriedade,
desenvolver.
Nessa frente deverão incorporar-se, após testes e adequações que se fizerem necessárias, o acervo
de tecnologias e conhecimentos já disponíveis, os testes e adaptações de outras tecnologias julgadas
como promissoras para a Amazônia, bem como se indicar os novos rumos para a P&D nos diversos
centros de investigação integrados (a serem integrados) da Região.

Padrão tecnológico dominante


Na dimensão tecnológica, e como ponto de partida, observa-se que o padrão tecnológico
dominante no setor primário de uma agricultura de “domesticação” da floresta e da pecuária
extensiva, tem se desgastado ou está sendo questionado pela sociedade, dada a sua pouca efetividade
de resposta consistente com a qualidade e sustentabilidade, principalmente no que concerne às
relações entre esses padrões de produção e seus produtos e a degradação do meio ambiente e seus
recursos naturais.

Comprometimento da capacidade produtiva do estoque ambiental


Os recursos naturais, por causa das externalidades negativas das tecnologias, encontram-se sob
forte pressão que provocam rupturas de equilíbrios, de estruturas e da capacidade de recuperação dos
ecossistemas; isto, porque as pressões que tais tecnologias traduzem (frequência e intensidade de uso
dos recursos naturais, manejo inadequado e desintegrado dos mesmos, p. ex.) excedem à capacidade
de produzir o “excedente econômico” que o ecossistema pode suportar com segurança. Dessa forma,
a capacidade do sistema natural de resistir (auto regulação e automanutenção) às mudanças e pressões
antrópicas e retornar a seu “estado” de equilíbrio estável (homeostase e resiliência) para gerar o fluxo
de excedente econômico está, em alguns casos, comprometida.
Ambos conceitos, homeostase e resiliência, relacionados com a conservação e com o manejo
integrado dos recursos naturais, são fundamentais para o planejamento do desenvolvimento e para a
gestão criteriosa do meio ambiente na Amazônia.
Homeostase e resiliência, segundo Odum, 1971) implicam a existência de mecanismos
cibernéticos e refletem a importância dos processos de inter-relacionamento no exterior do
ecossistema, mediante os quais tanto os efeitos diretos e primários como os secundários, ternários
e/ou colaterais derivados de qualquer mudança, são retroalimentados, gerando complexas redes de
inter-relações entre os fluxos de ações (essência do manejo integrado), seus resultados (matérias-
primas e produtos econômicos) e os processos de retroalimentação.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

Os processos de retroalimentações, positivos ou negativos, têm um papel básico na dinâmica do


ecossistema e, portanto, devem ser considerados, de maneira explícita, na agenda do desenvolvimento
e na implementação de ações e estratégias desses processos. Esses mecanismos, para o caso da
Amazônia, são singulares e de importância estratégica para a proteção e para a conservação, segundo
seja o caso.
Homeostase e resiliência dependem da diversidade na estrutura e no espaço que, para o caso da
Amazônia e, em particular, das relações entre diversidade e estabilidade em que se encontram as
potencialidades, requerem de estudos e pesquisa mais detalhados.

Sinergia e inter-dependência biótica-abiótica


Em geral, e como padrão de comportamento, com algumas evidências para a Amazônia e com
observações preliminares apresentadas neste documento (ver diagnóstico temáticos), tem-se que a
diversidade biótica fortalece a estabilidade de aspectos abióticos, contrarius sensus, a perda da
biodiversidade reduz a estabilidade do ecossistema.
Entretanto, a importância desses mecanismos para a estabilidade e sustentabilidade de
ecossistemas tem sido negligente ou não-considerada em planos de crescimento na Amazônia,
conforme indicam dados e informações preliminares apresentadas neste documento.

Resultados da pesquisa aplicada como ingredientes do desenvolvimento


Com a intensificação da procura de bases tecnológicas e científicas adequadas à Região e com a
geração de informações e definição de conhecimentos para caracterizar os recursos e ambientes
naturais (critérios de conservação e manejo integrado desse patrimônio), têm-se os ingredientes de
outras dimensões do desenvolvimento, tais como os de educação do meio ambiente e para o
ecoturismo, capacitação profissional, e fortalecimento institucional em bases técnicas para assumir
a descentralização, com responsabilidade, e implementar a gestão criteriosa e integrada, com
efetividade, dos recursos e ambientes naturais amazônicos.
Observa-se, nas anotações precedentes, a ideia e o claro propósito de viabilizar o conceito de
desenvolvimento sustentável (pela integração de suas dimensões) e sustentado (pela coerência de
resultados nessas dimensões integradas com a realidade regional), de tal forma que venha a superar o
conceito simplista (às vezes identificado como crescimento), atribuído por determinados grupos, que
o definem como um modelo e como uma declaração de intenções de formulação teórica de ações e
estratégias estruturadas, para torná-lo um processo moderno, almejado pela sociedade e exequível,
conformado às condições e às possibilidades da Região; neste novo conceito a contribuição de C&T
e P&D é fundamental.

Condições para pensar no desenvolvimento sustentável viável


Ao aceitar o conceito de desenvolvimento sustentável não com mera intenção de propósitos
teóricos ou como um “estado” para o qual se define um modelo, mas, como um processo dinâmico
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

que deverá se aprimora e “melhor” ajustar, sem fórmulas preconcebidas e nem padrões rígidos, se
exigem certas condições e/ou requisitos, tais como:
a) Que todos na Região tenham atendidas as suas necessidades possíveis (todos devem reconhecer
essas possibilidades de atendimento), que lhes sejam oferecidas oportunidades de concretizar
as aspirações a uma vida melhor e que sejam respeitadas determinados condicionantes de uso
e de manejo de ambientes e recursos naturais (todos devem conhecer e atender esses
determinantes e condicionantes -limites) para garantir o atendimento de necessidades e
concretizar aspirações legítimas e possíveis, para as presentes e futuras gerações.
A despeito da aparente retórica nesta conceituação ela tem conteúdos pragmáticos e, portanto,
deve ser viabilizada como condição sine-qua-non de definição, implementação e implantação
do novo processo de desenvolvimento endógeno e legítimo. É claro que a parte inicial e fases
integráveis e sequenciais desse processo podem ser definidas como modelos.
b) A promoção de valores que mantenham os padrões de consumo dentro dos limites (endogenia
definida pelos critérios regionais de conservação e de manejo integrado de recursos e ambientes
naturais e outros) das possibilidades meio ambiente-ecológica e antropogênica (no contexto
sociocultural, institucional, legal e outros).
c) Que haja crescimento econômico 9 com efeitos positivos sociais distribuídos com equidade, e
que esse crescimento seja consistente (respeite e se ajuste) com os mínimos e, principalmente
toleráveis impactos sobre o meio ambiente, mantendo (contribuindo) ou permitindo a
integridade global do ecossistema, base, em parte, da sustentabilidade do desenvolvimento.
Considerando-se que o p r o c e s s o de desenvolvimento é multidimensional e multiobjectivos,
pode-se inferir que ele contém e requer considerar, de maneira clara, compartilhada e compromissada
entre atores que definem agendas de orientação, as diversas dimensões ali implícitas. Muitas dessas
dimensões têm características singulares, razão pela qual o tratamento deve ser específico
(endógeno).

Desafios nas dimensões do desenvolvimento


Na definição e ajuste das dimensões do desenvolvimento sustentável há grandes desafios políticos
e técnico-científicos. Proteger a estabilidade de sistemas em que se insere a biodiversidade com
práticas de conservação e de manejo sustentável e integrado e, ao mesmo tempo, definir alternativas

9
Entendido como redistribuição da produção, aumento da produtividade, novos produtos para satisfazer necessidades
tradicionais, produtos tradicionais para satisfazer novas necessidades, maior valor agregado no local etc.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

de desenvolvimento econômico duradouro e com efeitos positivos e socialmente distribuídos, é um


dos grandes desafios, nesse processo, da política de desenvolvimento para a Amazônia.
Nas alternativas de desenvolvimento há um conceito comum: o manejo sustentável e integrado
de ambientes e recursos naturais como os hídricos, edáficos, vegetais, animais e socioeconômicos.
Em cada caso desses conjuntos de recursos, a viabilidade multidimensional está no fato de que,
ao respeitar as características determinantes da capacidade produtiva do meio ambiente, os recursos
naturais renováveis poderão oferecer serviços, produtos e matérias-primas de maneira permanente e
com qualidade.
Para efeitos de exposição (didática) a sustentabilidade é desagregada para um melhor
entendimento e, após essa compreensão, deverá se empreender a remontagem (acordo, construção,
implementação das partes, num esforço conjugado de integração) do processo de desenvolvimento
que compreende tais dimensões.

Destaque de potencialidades no desenvolvimento


A importância da pesquisa das potencialidades econômicas das florestas e da silvicultura é
destacada em nível internacional com o apoio da estratégia florestal orientada para garantir a proteção,
a gestão permanente e o desenvolvimento das florestas da União Europeia (Reforma de la PAC:
Desarrollo rural; internet: http://europa.eu.int/comm/...). Nessas estratégias sublinha-se destaca a
importância das florestas do ponto de vista ecológico, econômico e social, sua multifuncionalidade.
As ajudas previstas se destinam às florestas particulares, de associações e de comunidades locais
públicas e privadas, com investimentos aplicados para:
- aumentar o valor econômico, ecológico e social das florestas;
- melhorar e racionalizar a exploração, transformação e comercialização dos produtos florestais;
- fomentar novas saídas tecnológicas para a transformação dos produtos florestais;
- formar novas de associações que tenham como função ajudar seus membros e melhorar a gestão
florestal;
- restaurar a capacidade de produção florestal deteriorada por desastres naturais (incêndios, p. ex.)
e aplicar novas medidas de prevenção de danos;
- conservar e melhorar a estabilidade ecológica com função social ou de interesse público;
- compensar os prejuízos que o portfólio de investimentos acima provocar na comunidade.

4.2.1.2.1 A sustentabilidade social e cultural


Na agenda que se propõe para discutir e acordar os diversos planos integrados e balanceados do
desenvolvimento sustentável é necessário considerar e internalizar, na C&T e na P&D, os “estados”
sociais e culturais das comunidades de cada sub-região ou local. Essa incorporação dar-se-á mediante
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

indicadores socioculturais apropriados, adequados e rastreáveis (documentados, verificáveis,


consistidos etc.). Isto, com vistas a resolver (evitar) tensões causadas pelo crescimento econômico e
pelas limitações de recursos e ambientes naturais, sendo que a meta, na dimensão social, é construir
uma sociedade com maior equidade na distribuição de benefícios, de renda, de oportunidades de
emprega e de bens e serviços, sem descuidar o atendimento da sustentabilidade de/em outras
dimensões.

Condições do crescimento inclusivo e equitativo


Na dimensão sociocultural, quando sustentável, criam-se as condições necessárias do/para o
crescimento econômico socialmente inclusivo e equitativo. Para criar essas condições se deve investir
em educação e melhorias dos indicadores sociais (Lampreia, 1997), como pré-condição mínima para
participar, com vantagens, do sistema internacional.
As graves questões econômicas e sociais de pobreza, de concentração de renda e de desemprego
deveriam ser prioritárias e não apenas problemas de ordem ética, moral, humanitária em um plano de
desenvolvimento.

Pobreza e desigualdade no desenvolvimento


Na Conferência Anual do Banco Mundial sobre Desenvolvimento na América Latina e no Caribe
realizada em Bogotá (Colômbia) em 1996 e na Conferência Prebisch (UNCTAD), em Genebra, de
1997, os temas dominantes foram pobreza e desigualdade, não como questões seculares que devem
ser ignoradas quando se trata do planejamento de curto prazo. As experiências que foram indicadas
nessas Conferências mostraram alterações significativas nos perfis de concentração da renda,
aprofundamento de desigualdades e no contingente de pessoas situadas abaixo da linha de pobreza
absoluta, em poucos anos.
Entre os países avançados, a concentração de renda aumentou em ritmo acelerado nos Estados
Unidos e no Reino Unido nos anos 80, voltando a níveis anteriores ao Welfare State. Na América
Latina e ao longo do mesmo período, Brasil e Argentina alcançaram níveis singulares de desigualdade
na distribuição de renda.
Enfatizou-se, na Conferência de Bogotá, o fato de a pobreza não desaparecer automaticamente
com o crescimento econômico. A realidade aponta para a aplicação de instrumentos específicos de
política diferentes daqueles tradicionalmente ligados ao crescimento.
Na Conferência da UNCTAD em Genebra se revelou que as economias em desenvolvimento que
melhor têm enfrentado os inevitáveis choques externos, desde os anos 70, são aquelas que dispõem
de instituições fortes de gestão do conflito social e que apresentam clivagens socioeconômicos menos
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profundos. Nas demais, os ajustes necessários tendem a ser postergados e/ou desacreditados pelos
próprios mercados.

Efeitos de externalidades no desenvolvimento


Um aspecto importante e diretamente relacionado com o tema do documento se refere aos novos
conceitos de teorias do crescimento explorando externalidades negativas exercidas pelas
desigualdades e pela pobreza em economias em desenvolvimento. Neste sentido, os ganhos em
termos de aprendizagem (novos conhecimentos propiciados pelas informações técnico-científicas) e
pela difusão de tecnologias que requerem a interação social não se materializam; a eficiência
produtiva da infraestrutura pública diminui com efeitos prejudicais sobre todo o sistema produtivo e
assim por diante. Eventuais “ineficiências” geradas na execução de políticas ativas de redução da
pobreza e da desigualdade podem ser mais que compensadas pela “eficiência” permitida pelos
resultados da maior equidade.

Propósitos do Plano Plurianual em relação à sustentabilidade social


No Plano Plurianual 2000-2003 (PPA 2000-03) (Brasil, 1999) se estabelece como meta construir
um novo paradigma de desenvolvimento, com atividades que gerem emprego e renda, num contexto
internacional de globalização, de instabilidade dos fluxos financeiros e de acirrada concorrência nos
mercados, com mudanças irreversíveis quando entendida, internalizadas, praticadas e apoiadas pelo
cidadão como sendo estas a origem da sua melhoria de vida.
No PPA 2000-03 (Brasil, op. cit.) se reconhecem os graves problemas sociais de alimentação
inadequada e de educação, saúde, habitação e saneamento básico como realidades distantes para
milhões de brasileiros pobres do campo, de pequenas cidades ou da periferia das grandes metrópoles.
Para reduzir o déficit social se propõe um conjunto de projetos essenciais no Eixo Nacional de
Integração e Desenvolvimento Arco Norte e Madeira - Amazonas.
É importante destacar, nessa proposta, o claro propósito de valorizar o imenso acervo de recursos
naturais e o uso de “tecnologias limpas” que se espera gerem novas oportunidades de investimento.
Nessa abertura de oportunidades se espera atender aos excluídos e marginalizados, com a
incorporação deles ao crescimento e com a distribuição dos frutos do desenvolvimento, de maneira e
intensidade tal que permita melhorar suas condições de vida.
Neste sentido, a nova forma de gestão das políticas públicas, em especial as de natureza social, é
tarefa indelegável do Estado e deve ser integrada para compreender a exploração sustentável de
produtos da floresta com efeitos positivos sociais, o ecoturismo com a valorização de fatores culturais
e sociais e a biotecnologia para atender, também, aos socialmente excluídos.
Tais atividades criteriosamente planejadas e desenvolvidas devem somar-se à agropecuária
redirecionada, à agroindústria, à indústria, à exploração mineral e de recursos como os pesqueiros a
aos serviços, constituindo a base do desenvolvimento dos Eixos Arco Norte e madeiras – Amazonas.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

4.2.1.2.2 A sustentabilidade econômica


Na dimensão da sustentabilidade econômica se indica, durante o processo de negociação
implícito no desenvolvimento, a alocação e gerenciamento mais eficiente (avaliação macro e não
apenas por critérios de rentabilidade microeconômica) dos recursos e de fluxos constantes de
investimentos públicos e privados, sem distorções de mercado provocadas pelos subsídios e outras
formas de intervenção do governo e de setores privados na economia. Esta dimensão, quando
sustentável, é capaz (em hipótese de estudo) de gerar excedentes econômicos (que se encontram na
forma de potenciais e que poderão ser acrescidos pela P&D) e suficientes informações para o
aproveitamento desses excedentes em bases seguras e confiáveis. Confiabilidade que se atinge com
a integração/harmonização e interdependência dos diversos critérios e objetivos do desenvolvimento.

Propósitos do Plano Plurianual em relação à sustentabilidade econômica


No PPA 2000 se define a opção estratégica de consolidar a estabilidade econômica com
crescimento sustentado. Neste propósito é claro e insubstituível o papel da pesquisa para alicerçar o
aumento da competitividade sistêmica da economia e das empresas mediante a modernização de seu
parque produtivo, e na integração mais equilibrada com o mercado externo.
As perspectivas da política econômica deverão estar ligadas à consolidação de novos critérios de
crescimento, com ênfase no aumento da produtividade, o que impõe reestruturações nos processos
produtivos. Nessa reestruturação, compete ao Governo as ações de regulação e fiscalização da
participação privada, de modo a garantir o atendimento das demandas e assegurar as condições de
competitividade do setor produtivo.

Relação entre sustentabilidade econômica e conservação


Parte da sustentabilidade econômica tem relação direta de causalidade com a conservação e o
manejo integrado de ambientes e recursos naturais (melhoria da gestão ambiental), com a promoção
da modernização da infraestrutura e melhoria de serviços de transporte, telecomunicação e energia,
com a ampliação da capacidade de inovação e com diversos aspectos sociais, institucionais e legais.
É a natureza forte e indissociável desse relacionamento que tornam o processo de
desenvolvimento complexo e exigente no tratamento integrado dessas dimensões, com a vantagem
de que a aplicação em uma delas traz efeitos em outras. Dessa forma, ao concentrar-se os
investimentos da educação (p. ex.) para a melhoria da qualidade do ensino e para ampliar a oferta de
cursos profissionalizantes adequados às exigências locais e regionais, se estará contribuindo para
aumentar a competitividade de produtos e processos, com vantagens econômicas, bem como para
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

ampliar a capacidade de inovação tecnológica quando os resultados da pesquisa sejam fácil e


rapidamente transferidos e difundidos.

4.2.1.2.3 A sustentabilidade meio ambiente - ecológica


É necessário que o sistema de produção econômico e o homem econômico 10 conheçam e
apliquem os critérios da sustentabilidade meio ambiente-ecológica mediante as práticas de
conservação criteriosa e de manejo integrado dos recursos naturais adequadas e convenientes para
cada caso. Respeitar a obrigação de proteger a base ecológica do desenvolvimento significa assegurar
o equilíbrio dos ecossistemas a partir de conceitos viabilizados e operacionalizados em sua prática,
tais como os de resiliência 11 e homeostase.12
A sustentabilidade de processos e produtos competitivos, econômicos ou não, 13 deverá
conformar-se com a dimensão ecológica-meio ambiente do novo processo de desenvolvimento com
base em critérios e indicadores (ou padrões adequados em cada caso).
O uso adequado de ambientes e recursos naturais e o manejo criterioso e integrado dos mesmos
constituem parte fundamental do processo de geração de riqueza e de conservação do patrimônio
natural.

10
Conceito da escola econômica clássica para definir o homem motivado exclusivamente por razões econômicas,
preocupado com a maximização de lucros com o mínimo de sacrifício de modo imediato, introduzindo novos métodos
produtivos do “economicismo”. No conceito de desenvolvimento sustentado-sustentável, a preocupação do homem
econômico contemporâneo é a otimização sustentável de sua função de lucro com restrições impostas pelas dimensões desse
processo sendo que parte dessas restrições o leva a internalizar os custos da degradação por ele gerados. A racionalidade é
para prevenir danos e assegurar a continuidade de fluxos acrescidos pela P&D.

11
A resiliência é definida como a capacidade de um sistema para suportar perturbações e manter sua estrutura e padrão
geral de comportamento quando modificada sua condição de equilíbrio (Glossário de ecologia. 1987, p.151). Em geral, no
caso de ecossistemas amazônicos, trata-se de sistemas pouco ou não-resilientes, porquanto não retornam, no curto prazo
definido pela sazonalidade do processo natural no sistema, à condição de equilíbrio após modificações consideráveis
decorrentes das intervenções, conforme mostram as experiências e observações pontuais

12
A homeostase é definida como o conjunto de processos de auto regulagem [a serem caracterizadas com antecedência às
intervenções] pelo qual um sistema biológico atua para a manutenção de sua estabilidade através de ajustes, por mecanismos
intrínsecos, das condições necessárias para um ótimo de sobrevivência (Glossário de ecologia. 1987, p.104, adequado).
Para o caso de ecossistemas amazônicos, essa capacidade de resistir às mudanças ambientais e permanecer em seus
“estados” de equilíbrio, ao possibilitar corrigir desvios, eliminar/tolerar excessos, controlar forças antagônicas e produzir
defesas para preservar o equilíbrio, entre outros mecanismos homeostáticos, é muito limitada ou inexistente

13
A intervenção deverá ser criteriosamente orientada, limitada ou proibida (preservação) em locais onde a fragilidade assim
o determinar. Convém acrescentar que, do ponto de vista físico, os projetos de desenvolvimento, a partir das potencialidades
regionais, deverão ser resilientes no sentido de apresentarem um valor presente de falha inferior ao custo de evitar essa
falha, modificando o projeto original, e robustos no sentido de serem pouco sensíveis a erros. Para evidenciar características
como estas, a abordagem numérica de ordenamento e zoneamento, definida a partir de informações suficientes e robustas,
tem uma importante contribuição nesse processo. O modelo apresentado neste documento faz parte dessa análise e
complementa o ordenamento-zoneamento
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Pela extensão e diversidade desse patrimônio, a gestão ambiental deve ser descentralizada, com
a participação efetiva e consciente dos estados e municípios e com a corresponsabilidade do setor
privado. Ao Governo Federal cabe o papel central de estabelecer normas gerais, coordenar as ações
de âmbito nacional e estratégico, como é o caso da Amazônia, e buscar o compromisso da iniciativa
privada nessa gestão compartilhada.

Propósitos do Plano Plurianual em relação à sustentabilidade meio ambiente


No PPA 2000 se definem diretrizes para melhorar a gestão ambiental, algumas delas diretamente
relacionadas com a P&D.
Assim, o estímulo do desenvolvimento da gestão ambiental na empresa com a certificação de
acordo com as normas da ISO 14000, a recomposição florestal, o manejo dos recursos pesqueiros, a
regularização e melhoria da gestão de áreas protegidas, a implementação da Lei de Águas e a gestão
integrada de bacias hidrográficas, entre outros aspectos da sustentabilidade meio ambiente ecológica,
deverá ocorrer com a prática de critérios técnicos e científicos gerados pela pesquisa, convenientes e
adequados para cada caso em que se define esta dimensão da sustentabilidade.

4.2.1.2.4 A sustentabilidade espacial


Nesta dimensão e quando sustentável se expressa a conformação rural-urbana mais equilibrada e
uma melhor distribuição espacial e temporal de assentamentos humanos e de suas atividades
econômicas, entre outros aspectos.
O crescimento econômico tem estado associado com a utilização crescente do espaço físico e de
seus recursos naturais (expansão da fronteira agrícola, no caso da produção agrícola) com base em
critérios de eficiência economicista do curto prazo. Isto se tem traduzido em perdas de biodiversidade,
destruição de habitas, ameaças e extinção de espécies para facilitar a implantação de outras
econômicas, homogeneização de cultivos (redução da biodiversidade) e simplificação genética de
ecossistemas, entre outros grandes prejuízos de incalculáveis perdas.

Noção básica da sustentabilidade espacial


A dimensão espacial, como em outras, compreende a noção básica de que é possível desenvolver
e ampliar a fronteira sem destruir o meio ambiente; desenvolvimento que deve estar disciplinado e
orientado por critérios; critérios que se definem em dimensões como a técnico-científica e tecnológica
pautadas por princípios, entre outros, os da ética, onde se reconhecem compromissos e obrigações; a
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

temporal, que rompe com a lógica do curto prazo e estabelece princípios como os de precaução e
prevenção, bem como a necessidade de uma visão prospectiva de longo prazo; a social, que expressa
o consenso de que só uma sociedade sustentável pode produzir desenvolvimento sustentável e revela
limites da capacidade de suporte impostos ao crescimento demográfico; e a prática, na qual se
reconhece a necessidade de mudanças de hábitos e de comportamentos da sociedade perante o meio
ambiente (cidadania ecológica) conforme sejam as características do meio ambiente e as exigências
para que se mantenha sadio e conservado.
Na dimensão espacial do desenvolvimento há diversos aspectos diretamente relacionados com as
dimensões social (qualidade de vida nas aglomerações urbanas, ampliação e garantia de serviços de
saneamento básico e de controle ambiental etc.), econômica e ambiental, entre outras, que devem ser
conjuntamente consideradas na formulação de um processo de desenvolvimento sustentável.
A definição da sustentabilidade como um processo e como progressiva requer de critérios. Parte
de esses critérios define a qualidade que se passa a identificar e exigir dos diversos processos sociais
e econômicos na ocupação do espaço.

4.2.1.2.5 A sustentabilidade político-institucional


Os resultados da sustentabilidade político-institucional asseguram ou contribuem para efetivar a
participação do cidadão no processo decisório (de planejamento e de gestão dos recursos naturais).
Nesta dimensão promove-se a descentralização, a organização local e regional e o fortalecimento
institucional, com ações e estratégias dos setores público e privado integradas e/ou complementares
de outras ações.
A dimensão político-institucional procura, entre outros objetivos, os de estabelecer e consolidar
um sistema político-representativo que confira continuidade e consistência aos processos de tomada
de decisões; promova os mecanismos de ampliação e participação da sociedade no planejamento e
gestão do meio ambiente e seus recursos, legitimando, desse modo, o processo preconizado pelo novo
estilo de desenvolvimento.
Esta dimensão, no campo da política externa desenvolvida pela diplomacia, deverá colocar em
evidência os ajustes e estratégias de desenvolvimento nacional em harmonia com as tendências de
globalização - regionalização e do comércio e acordos multilaterais, de forma tal que essas tendências
e acordos não venham a ferir ou a constituir-se ameaças aos princípios de soberania, independência,
autonomia e integridade territorial.
Nessa dimensão procura-se também que o sistema internacional estimule padrões sustentáveis de
comércio e financiamento de atividades do desenvolvimento.

4.2.1.2.6 A sustentabilidade tecnológica e científica


No processo de desenvolvimento sustentável a dimensão tecnológica e científica é fundamental
para:
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

- evidenciar as potencialidades regionais e colocá-las (com a intensidade, frequência e


oportunidade requeridas e possíveis em cada caso), de forma racional, sustentável e segura, no
sistema econômico (sistemas de produção primária, cadeias produtivas secundárias,
distribuição etc.);
- caracterizar os critérios de resiliência e homeostase, entre outros, que definem (devem definir)
as restrições na otimização de uma função objetiva social e de uma função objetiva de
otimização econômica;
- contornar as limitações reais indicadas pela preservação do “ambientalismo” e/ou provenientes
de outras fontes e/ou forças.
Na dimensão tecnológica se buscam novas soluções para tradicionais problemas e soluções a
novos problemas que emergem da evolução e dinâmica dos ambientes e cenários internos e externos
da Região.

Orientação geral da sustentabilidade tecnológica e científica


A dimensão científico-tecnológica deve se orientar para assegurar o domínio e a permanente
atualização do conhecimento a partir de informações técnico-científicas, bem como para externar as
potencialidades regionais em bases sustentáveis da multidimensionalidade e multicriterialidade do
desenvolvimento. Para que isso aconteça é necessário que os investimentos em informação e
conhecimento devem crescer progressivamente para agregar valor aos produtos da Região, superar
os problemas sociais e as perdas dos valores culturais, proteger e conservar a diversidade biológica e
cultural e garantir a necessária valorização do patrimônio e riquezas naturais em benefício do
desenvolvimento sustentável da Amazônia, do País e dos países panamazônicos.

Propósitos do Plano Plurianual em relação à sustentabilidade tecnológica (P&D)


Que ações e estratégias de informação e conhecimento, relacionadas com a P&D, foram propostas
no PPA 2000/03 (Brasil, 1999) como parte do desenvolvimento sustentável da Região?
A relação que segue é uma síntese que destaca a importância do diagnóstico e do estudo das
potencialidades da Amazônia para o desenvolvimento, sem especificações dessas ações:
a) informações da biodiversidade mediante a estruturação de informações geo-referenciadas,
avaliando e integrando todo o conhecimento acumulado a respeito da biodiversidade
amazônico e permitindo a avaliação do seu potencial científico e tecnológico;
b) mecanismos de desenvolvimento “limpo” com alternativas energéticas estratégicas não-
emissoras de gases provocadores do efeito estufa, com vistas ao crédito de certificação do
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

Protocolo de Kyoto: entre essas estratégias energéticas se relacionam centrais hidrelétricas (ver
potencial neste documento), energia eólica, solar e biomassa;
c) desenvolvimento do ecoturismo auxiliado pelo zoneamento de zonas com potencial turístico; a
proposta de zoneamento inclui o levantamento das necessidades locais de investimentos em
infraestrutura, serviços e capital social para as diversas modalidades de ecoturismo;
d) aproveitamento dos recursos pesqueiros com base no desenvolvimento da aquicultura, de
técnicas conservacionistas de pesca, mapeamento e conservação doa alagados importantes para
o ciclo biológico e formação do capital social que esse aproveitamento requer;
e) manejo de recursos florestais mediante a geração de tecnologias de extração e manejo
sustentável, bem como de técnicas de conservação mediante a implantação de banco de
germoplasmas de espécies vulneráveis, com vistas à produção madeireira e seus derivados,
fitofármacos, cosméticos e outros produtos biotecnológicos,
No PPA 2000 (Brasil, 1999) se reconhece e destaca, como macro-objetivo importante, a dimensão
tecnológica e científica. Nesse Plano se considera a inovação de processos, produtos e serviços, fator
determinante para a competitividade. Parte dessa inovação está relacionada com a qualidade que, para
o caso da exportação de madeira da Amazônia, representa um fator de peso na competitividade do
mercado internacional.
A dimensão tecnológica e científica contém parte da solução de questões fundamentais
relacionadas à saúde, à educação, à energia, aos problemas do meio ambiente e dos setores produtivos
primários, entre outros. É necessário, portanto, superar a precária capacidade do País em transformar,
com efetividade em intensidade e oportunidade, os resultados da pesquisa e a competência
tecnológica em inovações e em vantagens competitivas para a Região. Isto implica em planejar e
desenvolver ações e estratégias cientificas e tecnológicas com resultados devidamente articulados
com as ações e estratégias desenvolvidas nas diversas esferas do governo e da iniciativa privada.
Trata-se de identificar aspectos relevantes e estratégicos na área de pesquisa (prospecção) e de
alocar os recursos e investimentos necessários, segundo critérios realistas de uma política de inovação
para a solução de problemas relevantes, colocando o capital científico e tecnológico ao serviço do
aumento da competitividade econômica, bem como ao serviço de outras dimensões do
desenvolvimento.
No PPA 2000 se indicam diversas diretrizes para ampliar a capacidade de inovação, com destaque
para o estímulo da expansão das atividades empresariais em P&D, em articulação com as atividades,
nesse sentido, desenvolvidas pelos órgãos públicos de apoio ao setor e as universidades; desenvolver
e difundir novas aplicações das redes (tecnologia da informação, p. ex.) e capacitar recursos humanos
para esse fim; orientar o modelo de gestão das instituições de pesquisa e desenvolvimento e das
universidades para melhorar o desempenho quanto ao atendimento da demanda tecnológica, o que
resulta, em parte substantiva, da melhoria de técnicas e métodos de prospecção da demanda;
intensificar o esforço de formação e especialização do capital humano em áreas como as de
engenharias; ampliar os sistemas de certificação de qualidade de processos, produtos, serviços,
profissionais e de sistemas de gestão.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Propósito geral da P&D em relação às potencialidades


Com base em resultados da P&D, operacionalizados por técnicas modernas de geração e
transferência de tecnologia, em sistemas resilientes procura-se, entre outros fins:
- a diversificação com menor pressão para a “simplificação” de ecossistemas;
- a integração entre as atividades florestais, agrícolas e pecuárias, com a manutenção e proteção
da diversidade biológica e genética existente na Região;
- a organização de sistemas de produção de forma integrada-harmonizada às condições ecológicas
regionais, com a utilização de insumos reproduzíveis economicamente e disponíveis ou de fácil
obtenção na Amazônia.
Bourlaug (1997) aponta que a ciência e tecnologia vem sofrendo um ataque de segmentos
extremistas do movimento global ambientalista em favor de sistemas tradicionais de baixa
produtividade. Considera que esses sistemas da chamada “agricultura de subsistência”, com baixo
uso de insumos e baixos índices de rendimento, tendem a perpetuar a miséria e o sofrimento no
campo, além de contribuir para agravar os riscos da fome. Nesse contexto da subsistência se
encontram setores do extrativismo.

4.2.1.2.6 A sustentabilidade ampliada


Os desdobramentos conceituais surgidos após a Conferência das Nações Unida, em Rio de Janeiro,
com Agenda 21, as agendas sociais de combate à exclusão e à pobreza e a de direitos humanos, entre
outras referências, estão sendo canalizados para definir um conceito básico da sustentabilidade
ampliada ou de sustentabilidades integradas e confluentes (ver Manual de pesquisa: uma introdução
aos fundamentos da metodologia científica. Embrapa/DPD) para conformar, em cada situação, o
conceito de desenvolvimento, não como um “estado” ou um novo modelo, mas como um processo
dinâmico em que se definem dimensões indissociáveis e sinérgicas como as observáveis entre os
fatores sociais e ambientais, econômicos e tecnológicos científicos, e legais e institucionais-
adminsitrativos, entre outros.
Por se tratar de um processo, se consideram fases e agendas de transição da sequência progressiva
dessas fases singulares para cada caso e sub-região, requeridas no delineamento e ajuste do
desenvolvimento. Nessas agendas de transição entre uma e outra fase são consideradas as questões
pragmáticas mais importantes, definidas com base em indicadores de ordenamento e priorização.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

Reestruturação de ciclos e definição de espirais


A progressividade do processo de desenvolvimento sustentável na forma de espiral não significa
adiar decisões, ações e estratégias (de estágios anteriores) que importam para a sustentabilidade, mas
diluir a aparente legitimidade de mecanismos e instrumentos de certas dimensões desenvolver-se em
bases insustentáveis e às custas de outras dimensões. Dessa forma resulta claro o propósito: romper
o ciclo vicioso da produção, que destrói e/ou polui o meio-ambiente, concentra riqueza e exclui ou
marginaliza segmentos significativos da sociedade dos benefícios, com prejuízos, também, para as
futuras gerações e, de forma concomitante, promover círculos virtuosos, em que a produção deverá
estar alicerçada em critérios de conservação e manejo integrado de recursos e ambientes naturais,
com crescimento econômico sustentado, sem excluídos por causa do método e com a preocupação
com as futuras gerações.

Confluência de interesses na proposta de desenvolvimento


Assim conceitualizado o desenvolvimento, e com base em princípios como os da conservação e
manejo integrado dos recursos naturais (renováveis), o conceito deve traduzir uma perspectiva
economicamente eficiente, ecologicamente consistente e socialmente equitativo-justa.
A confluência e equilíbrio dessas dimensões não é tarefa fácil de/para qualquer política. Requer
de políticas, flexíveis em nível nacional e tão específicas (próprias ou endógenas em nível de cada
região) e identificadas com a realidade, quanto seja a singularidade dos ingredientes
integráveis/integrados do desenvolvimento para cada sub-região; tratar simultaneamente de conflitos
dentro de cada sub-região, o que exige o enfoque sistêmico, participativo e integrativo, com aspectos
pouco considerados na negociação multidimensional; considerar, simultaneamente, a racionalidade
econômica, a aceitabilidade social pela conscientização dos fatos e a viabilidade meio ambiente –
ecológica; certa dose de vontade e decisão política, de instrumentos que assegurem a equidade dentro
e entre gerações, de estudos de macrotendências socioeconômicas e da praticidade e operacionalidade
dos processos integrados do desenvolvimento, pela aplicabilidade e pela consistência de suas partes.

Vertentes no conceito de desenvolvimento


Com base em exigências anteriormente relacionadas surgiram diferentes vertentes teóricas,
privilegiando um ou outro aspecto, com a ideia de desenvolvimento sustentável, com destaque para
algumas delas:
a) A vertente estatística que considera os recursos naturais como bens públicos, os quais somente
poderão ser protegidos pela ação normativa, reguladora e promotora do Estado (Daly & Cobb,
1989; Pearce & Turner, 1990 e Repeto, 1989, entre outros).
b) A vertente comunitária (Sach, 1982 e Redclift, 1989, entre outros), onde as organizações de
base da sociedade (ONG) devem ter um papel predominante, acima do Estado e do mercado na
alocação de recursos.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

c) A vertente de mercado, baseado na lógica intrínseca do mercado, com significativa apropriação


privada dos recursos naturais. Cada vez mais forte, e com mecanismos reguladores e atuação
educativa, desde que o Estado e as ONG sejam mantidas subordinadas às leis de mercado.
Podem confluir essas vertentes teóricas, sem privilegiar uma ou outra dimensão?
Se o conceito de desenvolvimento fosse operacionalizado em suas diversas dimensões, como
poderia visualizar-se?
Aceitando-se a existência e a praticidade dos resultados acordados na negociação entre atores que
confluem para definir os processos, ainda que tais agentes ou atores nem sempre estejam afinados em
seus interesses e meios para atingi-los, uma forma de simplificação e visualização de algo tão
complexo, difuso/abstrato pode ser ilustrado pelas Figuras 1, 2 e 3.
O relativo sucesso dessa ilustração gráfica vai depender da aceitação ou não de pressuposições de
simplificação para viabilizar a confluência de interesses na negociação e entender o alcance de novas
vantagens decorrentes da associação criativa, da informação técnico-científica acurada e
compartilhada para um novo conhecimento, da parceria fiel e cooperação oportuna, da
descentralização exercida com responsabilidade, da conservação e do manejo integrado de ambientes
e recursos naturais para desvendar oportunidades e aproveitar potencialidades, entre outras dimensões
explícitas do processo de desenvolvimento sustentável.
A Figura 1 apresenta uma visão sistêmica do desenvolvimento como produto, em cada fase desse
processo, de cinco dimensões interdependentes, entre outras, que interagem e se complementam em
torno do desenvolvimento sustentável para fins “economológicos” e sociais sustentáveis.
Nesse processo de acomodação está implícita a aceitação de ganhos mínimos, porém garantidos,
por parte de um ou mais atores e cenários intervenientes (pelo menos no curto prazo), o qual não
significa ou não deve ser interpretado necessariamente como sinônimo de “menos poderoso”, quando
as parte da negociação são consideradas verdadeiras parceiras ou agentes da cooperação empenhados
em atingir objetivos comuns no longo prazo.
Em muitos casos essa renúncia de maximização de ganhos no curto prazo viabiliza a garantia da
otimização restringida de fluxos de ganhos de longo prazo; a restrição, nessa função de otimização,
é imposta por critérios como os de resiliência e homeostase que, aliado a outros como os legais e
administrativos, definem a capacidade de suporte integral do meio ambiente.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

SISTEMA ECONÔMICO – FINANCEIRO SISTEMA MEIO AMBIENTE-ECOLÓGICO


Industria, agrosilvicultura, mineral, ecoturismo ... Zoneamento econômico-ecológico, regionalização

SISTEMA POLÍTICO-
INSTITUCIONAL
Infra-estrutural, SISTEMA SOCIAL
Segurança .. DESENVOLVIMENTO
- CULTURAL
Saneamento, SUSTENTÁVEL Educação, capital
transporte, energia social

CIÊNCIA E TECNOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


Pesquisa para a conservação, inovação para a produção e agro industrialização, sistemas de informação para a
educação, para gerar novos conhecimentos...

Figura 1 Visão sistêmica do desenvolvimento sustentável a considerar no planejamento estratégico

A definição e implementação de políticas ambientais que reflitam prioridades da comunidade,


supõe (repetindo) um processo de n e g o c i a ç ã o e a j u s t e permanente, em contextos, por vezes,
de conflitos entre atores e interesses da comunidade, com cessão das partes, orientado por critérios
convenientes e relativamente flexíveis, entre o Estado, desempenhando o seu papel de coordenação
com fundamento e critérios flexíveis de orientação da negociação e ajuste, e as instituições que
compõem a sociedade civil e os diversos interesses privados que concorrem na negociação.
Flexibilidade e conveniência de interesses mediante o acordo de critérios de referência é um aspecto
crítico que precede a n e g o c i a ç ã o .
Desconsiderando esse aspecto crítico (não porque ele seja menos relevante, mas por ficção da
simplificação) para permitir avançar na conceitualização da negociação, surge o tema da agenda de
negociação: as políticas de interesse do Estado e/ou os assuntos colocados pela comunidade na
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

negociação, só podem materializar-se e confluir para certo resultado de consenso, mediante algum
tipo de ordenamento baseado em um critério de referência.
Na maioria dos casos esse critério é proposto como uma organização pública, portanto, com
possível viés para uma das partes da negociação.
A regularidade do comportamento burocrático, neste particular, mostra que as decisões sobre
interesses antagônicos, e que podem ser postergadas, serão adiadas indefinidamente.
Se os problemas do meio ambiente são, em geral, de caráter polemico, e envolvem interesses
sociais e econômicos díspares, por vezes antagônicos, então a solução, nesse contexto e aparente
lógica, poderia ser adiada indefinidamente. Contra esse adiamento, surge um dos primeiros desafios
para acordar uma agenda e promover a negociação entre as partes intervenientes; esse desafio está na
disposição de cada um ceder em parte de suas pretensões e de todos integrados valorizar a transação
ou negociação ao aceitar um mínimo comum entre os componentes e interessados na agenda de
negociação; 14 isto, com vistas a viabilizar ou efetivar um ganho maior que se espera encontrar e
compartilhar na sustentabilidade do meio ambiente 15 para as diversas atividades da comunidade.
Um exemplo dessa negociação pode ser encontrado no comitê de uma bacia hidrográfica em que
os usuários dos recursos hídricos, atuais e potenciais e ao longo do curso de um rio, orientados por
critérios de priorização de uso estabelecidos por lei e operacionalizados no plano diretor da respectiva
bacia, ao definir sua agenda de negociação no comitê da bacia ou sub-bacia, concordam alocar tais
recursos de maneira harmônica e para determinado local (sub-bacia, p. ex.), entre os fins consuntivos
ou não, sem prejuízos não toleráveis (?) a jusante desse local.
Esse acordo, por sua vez, é consagrado pela outorga de direitos de uso, condicionada pelas
prioridades de conservação (uso sustentável) estabelecidas no plano diretor da respectiva bacia; neste
plano se deve respeitar a classe em que o corpo de água estiver enquadrado, bem como a manutenção
de condições adequadas ao transporte aquaviário, se for o caso.
As inter-relações entre os sub-sistemas componentes, a unidade global do sistema composto que
se constitui a partir da inter-relação e a ideia intrínseca de organização implícita no centro da Figura

14
Para continuar é necessário desconsiderar a utopia, se assim for considerada dentre os posicionamentos ismos e outros,
implícita na aceitação de um mínimo e de ceder em algo por algo para um ganho sustentável ao longo do tempo (escala de
preferência temporal na alocação do recurso).

15
As negociações obreiro-patronais de determinados setores da economia mais evoluída do País mostram avanços neste
tipo de negociação para garantir outras vantagens como o da estabilidade relativa do emprego.
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1 e para o qual convergem as dimensões, são assuntos tratados na teoria de sistema 16 que afloram no
modelo de potencialidades regionais.
A Figura 2, baseada no triângulo de Möbius com mudanças para incluir a análise multicriterial,
destaca, para os propósitos ilustrativos do documento, apenas três dimensões de um processo de
desenvolvimento que, quando devidamente concebido e implementado, procura ser
sustentável/sustentado. Cada uma dessas dimensões apresenta toda a gama de possibilidades
(mutuamente excludentes e complementares) entre 0% e 100% de objetivos atingíveis caso a caso,
nas diversas dimensões. Portanto, a área subtendida por essas dimensões compreende parte da área
possível em que se realiza a negociação.
O “estado inicial”, dado pelo triângulo (ABC), define o arranjo com seus correspondentes níveis
de eficiência relativa no econômico (alta, porém insustentável, porque se realiza às custas de outras
dimensões), social (baixa) e meio ambiente-ecológica (relativamente baixa).
Um novo arranjo que surge da negociação e é representado pela área A’B’C’ (parte inferior da
Figura 2) é possível com o planejamento definido em níveis relativamente flexíveis e com critérios
objetivos e/ou pragmáticos, em função ou causa das concessões, transferências e compensações das
partes envolvidas nessa negociação e consideradas como parceiros. A legitimidade jurídica e
operacional dessas compensações e transferências são fatores de coesão e de motivação para garantir
e privilegiar a negociação e seus resultados.
O resultado esperado, em cada fase do acordo, é a ampliação de benefícios sociais, vistos pelos
ganhos na eficiência social, e pelos benefícios do meio ambiente-ecológico, vistos pela proteção de
seus estados de qualidade, quantidade, estrutura, composição, dinamismo etc., mais protegidos, bem
como quando respeitada a sua capacidade de suporte à intervenção humana. Esse respeito deve ser
definido (consagrado) e disciplinado por instrumentos legais e econômicos (ver Economia dos
recursos hídricos; Embrapa/DPD).
Na forma como é apresentado o caminho para a sustentabilidade não se trata de um ótimo de
Pareto, pelo menos no curto prazo, uma vez que a expansão da capacidade de suporte do meio
ambiente não ocorre sem custos; sem atritos e imposições pecuniárias entre os intervenientes; sem
esforços do governo para disciplinar a atividade econômica resiliente, ágil e flexível; sem
instrumentos legais necessários e adequados para disciplinar, prevenir, incentivar a educação, corrigir
e punir, quando for o caso; e sem os indispensáveis esforços da sociedade conscientizada da
necessidade de implementar o processo com sua efetiva e responsável participação.

16
A teoria de sistemas serve como uma ponte entre os diversos ramos do conhecimento e suas disciplinas, portanto
apropriada ao texto. Tanto a natureza com a sociedade é, em essência, composta por fluxos (de energia, de matérias, de
informações, de capital ...), onde a teoria de sistemas tem sido cada vez mais utilizada para estudar as interações do conjunto
de componentes. Essas interações ocorrem mediante os diversos fluxos do sistema. Os principais elementos de um sistema
são problemas, objetivos, entradas ou insumos e recursos naturais, saídas ou produtos e subprodutos, componentes internos,
limites, interações entre os componentes e o contexto do sistema ou ambiente externo. Para se estudar um sistema é
necessário conhecer seus principais elementos para entender como o sistema opera e com base nesse conhecimento pautar
a gestão
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Como obter essas concessões dos intervenientes? mediante a negociação prévia a conscientização
e plena informação dos agentes participantes das vantagens mutuas que traz o novo estilo de
desenvolvimento e da necessidade de participação e comprometimento de todos.
A concessão, no caso ilustrado pela Figura 2, é proveniente da dimensão econômica, não mais
orientada por princípios de maximização “economicista” definidos no curto prazo, mas pela
otimização de uma função objetiva “economológica”-social, com restrições e outros condicionantes
favoráveis, inclusive para o agente econômico. Este novo conceito já se observa, apesar de ser
pequena a escala e localizado no espaço, em determinados setores e países desenvolvidos, onde o
crescimento econômico empresarial (setor privado) com qualidade social e sustentabilidade meio
ambiente-ecológica é um bom negócio. Portanto, com motivações da racionalidade dentro da própria
dimensão econômica.
Resulta um bom negócio para o setor privado (e eventuais setores públicos) quando a
internalização compulsória do custo da degradação meio ambiente-ecológica na fonte (a ser efetivada
pelo agente poluidor privado ou público), efetivada por mecanismos legais, econômicos e
administrativos/operacionais e com monitoramento e controle social, for superior às despesas de
prevenção de danos, devidamente apreçados, e de recuperação do meio ambiente afetado pelas
externalidades pecuniárias da atividade econômica não-alinhada e consistente em suas atividades e
estratégias com princípios de conservação e manejo integrado, entre outros.
Qual é o dano ambiental, sua fonte (causa) e como efetivar a recuperação desse dano?
O conhecimento dos cenários, fortalecido e induzido pela política ambiental e com base nas
informações técnicas e tecnológicas, leva, mediante a tomada racional de decisões econômicas, a
efetivar esse ganho, assumindo, nos custos de produção, as despesas (investimentos) da prevenção
em lugar dos custos de controle e punitivos. A racionalidade econômica em evitar o dano ambiental
está na diferença entre as despesas para prevenir o dano e o custo de reparar as conseqüências desse
dano ao meio ambiente, bem como o de “restaurar” o meio afetado.
Aceitar e internalizar nos sistemas econômicos o custo da degradação ambiental mediante
instrumentos como os de “poluidor-pagador”, “usuário-pagador” ou qualquer outro meio que seja
eficiente e operacional para as condições da região, já gera um bem-estar social e um benefício
ecológico-ambiental, em termos monetários o qual possibilitará criar um fundo para recuperação e
proteção do meio ambiente.
A internalização de custos do agente poluidor e a distribuição de benefícios sociais com a
exploração de recursos naturais orientada por critérios técnico-científicos, poderão ter efeitos na
dimensão econômica, limitando seus objetivos e reduzindo seus lucros no curto prazo. Mas, essa
limitação criteriosa de objetivos e lucros pode ser a garantia de manutenção de fluxos produtivos dos
recursos naturais no longo prazo.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

Entre as restrições teóricas desse modelo, tem-se a falta de indicadores e critérios adequados para
mediar a sustentabilidade multidimensional. É difícil definir um parâmetro de compatibilização de
objetivos econômicos, meio ambiente – ecológicos e sociais quando não se tem uma referência
comum e aceita pelos atores. Surge, nesse contexto, um espaço para a pesquisa aplicada (vale dizer,
aplicações dos resultados da pesquisa quando planejada e desenvolvida para atender necessidades)
que, ao consultar os atores, possa gerar soluções mini-max, com indicadores básicos para a
negociação e efetivação do processo de desenvolvimento.
Por outro lado, atores e cenários, mantém estreitas inter-relações e interdependências, de tal forma
que a expansão de uma dimensão, com valores e escalas específicas, têm efeitos sobre outras
dimensões com escalas e valores também específicos, porém diferentes entre os grupos.
A dificuldade de tratar com uma função objetiva da análise multicriterial, para o caso da dimensão
meio ambiente-ecológica, decorre, em parte, da falta de informações adequadas e precisas quanto ao
“valor de mercado dos bens e serviços ecológicos”, 17 e em parte da incerteza com relação à dinâmica
dos ecossistemas e dos problemas quanto à quantificação de valores que não são de mercados.
Informações técnicas que possam traduzir-se em valores de troca comuns contribuiriam para a
integrabilidade das dimensões numa análise multicriterial.
Em termos práticos o processo deve, além de satisfazer os diversos objetivos de transformação
produtiva do sistema econômico sustentável, de geração de serviços sociais sustentáveis e de proteção
e conservação do meio ambiente, sobrepor-se aos conflitos de interesses, bem como considerar as
mudanças que ocorrem em cada uma das dimensões. Isto significa que o ótimo global de longo prazo
deverá considerar o sacrifício do ótimo parcial em cada dimensão, especialmente, na referência de
curto prazo.
Desta forma, o espaço de negociação que a Figura 2 ilustra é função das transações entre os
diversos agentes do desenvolvimento, os quais experimentam constantes mudanças em relação à
oferta ambiental, a oferta tecnológica, as condições da economia e dos mercados e as necessidades e
aspirações dos diferentes atores.
A predisposição para aceitar mudanças nem sempre favoráveis e os termos de referência ou agenda
para orientar a negociação (indicada num leque de possibilidades tão abrangente quanto seja a
flexibilidade das posições A’, B’ e C’; Figura 2), aliada a racionalidade do conjunto
(complementaridade, sinergismo, solidariedade etc.) é condição indispensável para a negociação,
prévia a conscientização e plena informação dos agentes participantes, destacando, nas informações,
as possíveis vantagens mutuas.

17
Existem várias técnicas de avaliação ambiental agrupadas em valor de uso (como a contribuição direta do ativo ambiental
à produção, consumo, proteção, recuperação e conservação ambiental, entre outras; valor de uso indireto, que inclui as
vantagens, em termos monetários, provenientes de serviços funcionais oferecidos pelo meio ambiente para manter a
produção, o consumo corrente, a proteção e a conservação do meio ambiente e o valor de opção, definido pela disposição
do consumidor de pagar agora pelos benefícios futuros que se espera dos ativos existentes como os da biodiversidade e
recursos genéticos e hídricos. Há técnicas de valoração de não-uso e valor de existência. Qualquer que seja a técnica, é
necessário dispor de informações quanto a contribuição desses recursos nos bens de mercado (“demanda derivada”), bem
como do nível de imprescindibilidade desses bens e serviços nos processos produtivos econômicos.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Na ilustração da Figura 2 se observam diversas situações definidas pelo sacrifício máximo de


alguns agentes possível de ser compatibilizado e integrado aos mínimos toleráveis pelos outros, para
produzir e manter um “estado” de relativo ajuste no equilíbrio dinâmico do ganho global. Nesse
equilíbrio de multiobjectivos há uma lógica intrínseca de mercado, 18 um papel preponderante da
comunidade através de indicadores sociais e diversas ações-estratégias de coordenação do Estado
para promover as compensações que o processo envolve (efetivar os resultados da negociação).
O “estado” A define uma situação de subutilização ou de inadequado uso dos recursos naturais,
de má utilização e desperdício da capacidade de suporte ambiental e do potencial do sistema e dos
recursos e ambientes naturais. Traduz uma condição de ineficiência econômica, social e do meio
ambiente – recursos naturais, dada, por exemplo, por elevadas perdas de erosão do solo que reduzem
sua vida econômica útil e assoreia corpos d'água; por exageradas “simplificações” e “domesticações”
de ecossistema e espécies com perdas de seu potencial produtivo e genético; pela deterioração e
fragmentação de habitats que contribuem para reduzir a biodiversidade; pela introdução de espécies
que pode provocar a erosão genética e que levam a simplificação da diversidade biológica; ou pelos
prejuízos dos efeitos negativos da mudança climática provocada pelo desmatamento,
desflorestamento, queimadas de florestas e poluentes industriais jogados na atmosfera.
O “estado” A’ (Figura 2) na dimensão econômica, pode ser a tradução e as realizações positivas
da explotação sob controle (conservação e manejo integrado) dos recursos e ambientes naturais; um
manejo sustentável da floresta e um uso criteriosos de seus recursos, definido dentro da capacidade
de suporte do ecossistema florestal. Isto significa incorporar potenciais com eficiência econômica e
tecnológica, reduzir limitações com eficácia, procurar novas formas de produção em sistemas
resilientes, com qualidade e sustentabilidade ambiental, e gerar produtos e serviços ecologicamente
limpos e de máximo valor agregado no local.
Para viabilizar esta fase se têm, entre outros instrumentos integráveis e integrados das políticas de
desenvolvimento, os resultados da P&D e da C&T, mediante a geração e transferências de
informações para novos conhecimentos, novos serviços para aprimorar outros, e serviços e
tecnologias para as inovações tecnológicas permitidas e desejáveis. Esses ganhos podem traduzir a
compensação pelo menor uso de recursos naturais críticos que se apresentam com coeficientes
inelásticos. 19

18
É importante destacar que o mercado não é suficiente para prover o desenvolvimento sustentável em condições de
pobreza. Entretanto, seu peso, nesse processo, vem aumentando, quando surgem as oportunidades numa economia
globalizada.
19
O conceito econômico de elasticidade situa o bem econômico em determinada escala; assim bens ineláticos são
considerados bens imprescindíveis e de reduzida substitbuibilidade técnico-econômica. Nestes, os substitutos tornam-se
alternativas desejáveis.
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Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Eficiência
social

100 % Objetivo Social


Objetivo Econômico (OS)
(OE)
OS
OE Possível
Possível
E’

C’
B’
Situaçã Situação
o Atual
Atual E
C

D’ B

Eficiência ecológica
D
100%

meio ambiente
econômica
Eficiência

A A’

100 %

Situaçã
o OEMA
Atual Possível Objetivo Ecológico-
Meio Ambiente
(OEMA)

No eixo da eficiência social se observa um significativo incremento


(E para E’), com pequeno ganho na dimensão meio ambiente-
ecológico. A nova posição será possível pelo disciplinamento nas
atividades econômicas (retração de D para D’). Da reduzida e
assimétrica área de negociação inicial, definida pelo triângulo ABC,
obtêm-se uma nova área A’B’C’, com transferências

Figura 2 Desenvolvimento sustentável regional como um produto de conciliação de


interesses, de negociação e de compartilhamento, orientado pela análise multicritérial
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Na ilustração da Figura 2 se observam diversas situações definidas pelo sacrifício máximo de


alguns agentes, possíveis de serem integrados (compensados) aos mínimos toleráveis pelos outros,
para produzir e manter um “estado” de relativo ajuste no equilíbrio dinâmico. Nesse equilíbrio de
multiobjectivos há uma lógica intrínseca de mercado, um papel preponderante da comunidade e ações
de coordenação do Estado para promover as compensações que o processo envolve (exige para
efetivar os resultados da negociação).
O “estado” A’ representa a explotação sob controle (conservação e manejo integrado) de
ambientes e recursos e naturais, um manejo sustentável da floresta e usos criteriosos de seus recursos
definidos dentro da capacidade de suporte do ecossistema.
Isto significa incorporar potenciais com eficiência, reduzir limitações, procurar novas formas de
produção em sistemas resilientes, com qualidade e sustentabilidade ambiental, e gerar produtos e
serviços ecologicamente limpos e de máximo valor agregado. Para viabilizar esta fase se têm, entre
outros instrumentos integráveis e integrados das políticas de desenvolvimento, as de P&D e C&T.
As instituições de pesquisa devem preparar-se para enfrentar os desafios (prospecção) de
auscultar, gerar, captar e processar a informação, transformando-a (facilitando ou contribuindo para
essa transformação) em conhecimento, e difundi-lo (transferência e difusão) simultaneamente e de
maneira massiva e seletiva, segundo seja o caso, para todos (facilitado com os modernos sistemas de
informações). A geração e transferências-difusão de informações para novos conhecimentos, se soma
a geração de novos serviços para aprimorar outros, e de serviços e tecnologias para as inovações
tecnológicas permitidas e desejáveis. Esses ganhos podem traduzir a compensação pelo menor uso
de recursos naturais críticos e inelásticos. 20
Na ilustração da Figura 2 se observam diversas situações definidas pelo sacrifício máximo de
alguns agentes, possíveis de serem integrados (compensados) aos mínimos toleráveis pelos outros,
para produzir e manter um “estado” de relativo ajuste no equilíbrio dinâmico. Nesse equilíbrio de
multiobjectivos há uma lógica intrínseca de mercado, um papel preponderante da comunidade e ações
de coordenação do Estado para promover as compensações que o processo envolve (exige para
efetivar os resultados da negociação).
A mudança A  A’ tem que ser induzida, orientada e monitorada de forma sistemática e
permanente, para vencer os vícios de cultural, da administração e da ineficiência do Estado, entre
outros entraves, e para não agredir ao meio ambiente em outras de suas dimensões.
Essa mudança não ocorrerá sem custos, sem ajustes, sem diretrizes e princípios, sem um órgão
fortalecido e eficiente que a oriente, sem a participação efetiva da sociedade consciente do seu papel,

20
O conceito econômico de elasticidade situa o bem econômico em determinada escala; assim bens ineláticos
são considerados bens imprescindíveis e de reduzida substitbuibilidade técnico-econômica.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

sem a parceria dos setores públicos e privados, sem a necessária conscientização social e pública de
sua necessidade, sem a informação necessária e oportuna para induzi-la ou fundamenta-la, sem a
contribuição decisiva da P&D e da C&T para efetivá-la, sem o reconhecimento das vantagens
mútuas intersetoriais e das perspectivas de mercado, sem a necessária vontade e decisão política
para provocá-la e conduzi-la, sem as estruturas organizacionais e operacionais de uma
administração adequada e transparente, enfim, não ocorrerá a mudança sem a integração
balanceada de contribuições e de conhecimentos dos diversos agentes e atores intervenientes nesse
processo.
Dessa forma, no arranjo que leva a definição de etapas do desenvolvimento, se evidenciam as
ações normativas, reguladoras e promotoras do Estado, a força das organizações comunitárias na
proteção e conservação do patrimônio natural e a racionalidade do mercado e dos sistemas
econômicos. É claro que essa evidência, repetindo, não se dará sem esforços e sacrifícios.
Apenas como uma indicação ilustrativa, dentro do esquema conceitual proposto no documento, se
relaciona alguns dos fatores e condicionantes da mudança A  A’, tomando como referência, para o
exemplo, a interdependência entre recursos florestais - recursos hídricos:
a) Medidas e instrumentos legislativos adequados e oportunos que penalizem as ações e
intervenções responsáveis pelo “estado” A e motivem ou incentivem as ações e estratégias para
a mudança e permanência em A’.
Quais são, em princípio, essas medidas? O planejamento e gestão estratégicos para o
aproveitamento dos recursos madeireiros e não madeireiros (extrativistas); o manejo florestal
preservando “estados” e condições de renovabilidade de excedentes e funções ecológicas
próprias desses ambientes; a conservação das florestas para garantir o fluxo de excedentes
econômicos; a proteção sociocultural de seus habitantes e condições de vida que procuram
preservar os “estados” da renovabilidade; as políticas fiscais orientadas para a proteção das
florestas; as políticas de preços dos produtos florestais; as políticas de monitoramento,
vigilância e controle, com meios operacionais para a sua efetivação; a integração e
implementação de políticas em planos de desenvolvimento, tais como as políticas de recursos
hídricos, de pesquisa/ciência e tecnologia, agro-silvo-industrias, ecoturismo, energia,
transporte, comércio e cooperação internacional, entre outras com perspectivas para o
desenvolvimento da Região.
b) Modelos de desenvolvimento consistente com a realidade regional sustentável em A’. Essa
consistência reside, em parte, no reconhecimento dos limites de ambientes e recursos naturais
para o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Esses limites são determinados, em grande
parte, por critérios e indicadores gerados pela P&D e a C&T; tais critérios pautam a
intensidade, oportunidade e especificidade das intervenções. A consistência também resulta do
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conhecimento das potencialidades e oportunidades de crescimento que os ecossistemas


apresentam com viabilidade técnico-científica de aproveitamento.
c) Participação do público motivado e informado de seu papel fundamental e indispensável no
desenvolvimento e da necessidade da mudança. Uma das formas de motivação é mediante a
explicitação do valor real desse patrimônio e de sua contabilidade no sistema social (contas
públicas; ver Economia dos recursos naturais. Embrapa/DPD; em andamento). A informação
acurada para gerar o conhecimento sobre essa realidade é outro ingrediente para o
conhecimento motivação do público.
d) Papel do setor privado e de instituições como a Universidade, conscientizadas da necessidade
da mudança e do papel que elas desempenham (devem desempenhar) nesse processo.
e) Aplicações da pesquisa compromissada e da extensão florestal efetivada: capacidade de
pesquisa e apoio à pesquisa orientada para tornar possível a mudança.
f) Estrutura e mecanismos administrativos definidos dentro do novo processo, tais como uma
coordenação intersetorial, a descentralização com responsabilidade; os incentivos para a
proteção da qualidade ambiental; e as informações técnico-científicas e sua transferência e
disseminação auxiliada por modernos sistemas de informações interoperativos (ver Manual de
pesquisa: uma introdução a metodologia científica. Embrapa/DPD).
As mudanças no componente social (B  B’) e no componente econômico (C  C’) indicadas
na Figura 2, deverão ser pautadas, também, por critérios, princípios e diretrizes propositadamente
omitidas nesta parte do documento de conceituação geral.
Tornar o desenvolvimento sustentável é um desafio onde o progresso –visto pelo crescimento-
em conflito, concorrência ou tensão com a ecologia, conforme verificado nos modelos convencionais
de crescimento economicista, está constituindo-se um incentivo para reavaliar concepções básicas em
diversas dimensões e escalas integráveis e sequenciais.
Esse incentivo aponta para o delineamento de novos processos, de tal forma que progresso &
ecologia-meio ambiente se integrem de forma sinérgica e/ou complementar, ao crescimento.
O novo processo de desenvolvimento sustentável questionará conceitos e princípios, alguns
alienígenas, não necessariamente para substitui-los, mas para adequá-los, quando pertinente, às
realidades, às possibilidades e às conveniências regionais da Amazônia.
Em alguns casos como o do consenso de que pobreza e degradação ambiental estão intimamente
relacionadas por causalidade geradora de um ciclo vicioso, o novo processo procurará relações, elos
e variáveis desse aparente consenso, identificando e caracterizando causas e correlações básicas na
definição de propostas de solução para romper esse ciclo e dar um tratamento conveniente a cada uma
de suas partes dentro da visão holística.
Do relacionamento perverso entre pobreza-degradação do meio ambiente, por exemplo, é
possível destacar, como hipótese ou como pontos iniciais de reflexão, os seguintes aspectos:
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

a) Os padrões de desigualdade que têm caracterizados o crescimento, tais como o planejamento


imediatista, a tomada de decisões centralizada e setorial, a concentração de insumos, renda e
riqueza, e a socialização de custos do meio ambiente, entre outros, são responsáveis pelos ciclos
de pobreza-degradação e pelas suas sequelas de marginalização e desintegração social.
b) A fragmentação de atividades e estratégias desenvolvidas por diversas instituições, bem como o
tratamento e administração por temas, são fatores de ineficiência e, de diversas, diretas e
indiretas, fortalecem o ciclo de pobreza-degradação.
c) As imperfeições estruturais do mercado, inclusive aquelas introduzidas pela administração
pública, respondem por parte desse ciclo.
d) A função reguladora e empresarial do Estado centralizador e onipotente, pela omissão da questão
social, tem favorecido esse ciclo.
A indicação preliminar do relacionamento perverso pobreza-degradação é profunda e estrutural,
associado, em parte, com vícios da administração pública; parte desse ciclo é favorecida por
comportamentos e posturas do setor privado. Neste sentido, as mudanças impõem grandes desafios
para atingir seus resultados num processo gradativo.
Antes de tudo, não é possível conceber um novo estilo de desenvolvimento que possa ser
simultaneamente ecológica e ambientalmente sustentável, se não contiver uma solução viável para os
graves desequilíbrios provocados pelas situações de pobreza extrema e de iniquidade social e
econômica intra e inter-regional, de concentração de renda e recursos naturais como fatores de
produção (o caso da terra, por exemplo) e de divórcio entre a sociedade e o Estado, entre outros
fatores da pobreza e da visão estreita político-institucional que agravam e perpetuam as desigualdades
sociais e econômicas na Região.
Sinais dos cenários prospectivos do novo modelo aparecem na explicitação e internalização da
degradação de recursos e ambientes naturais, na forma de custos de produção, antes não reconhecidos
nos processos e produtos e por isso mesmo socializadas nas externalidades pecuniárias, como
subprodutos indesejáveis, bem como o custo da degradação do meio ambiente. Esses sinais são
observados, entre outros instrumentos, na legislação de proteção ambiental e em legislações
específicas como a da política de recursos hídricos. Basta implementá-los com a devida propriedade
e legitimidade que as condições e exigência permitam.
Faz parte da eficiência econômica e das vantagens competitivas da Amazônia a qualidade
ambiental quando processos e produtos exportados por determinados setores (centros de excelência
pela tecnologia que possuem para a exploração e manejo ambiental) em atividades como as
madeireiras realizas sob certificação ambiental (selo ecológico, selo verde etc.), beneficiando-se,
pelos estímulos de mercado e pelos maiores níveis de preços, em torno de 30%, nos centros de
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consumo europeus. (Informação pessoal obtida de “Madeireira Mil” e “Amazônia em Debate” em


11/09/1997 e 12/09/1997, Manaus).
No novo processo que se procura delinear em nível local e regional, a noção tradicional de
vantagens comparativas cede lugar e/ou resulta revigorada-atualizada com as vantagens
competitivas, que passam a depender muito mais do conhecimento como insumo do progresso, do
que dos recursos naturais ou do baixo custo da mão-de-obra incorporada no produto semiacabado e
de escasso valor agregado no local.
Nesse sentido, o novo processo de desenvolvimento deverá incorporar tendências como a da não-
dissociação entre a economia de produtos primários e a economia industrial, conforme apontada
Batista (1993), Lampreia (1997) e Drucker (1992), entre outros. Essas tendências já têm efeitos
positivos na Amazônia com o planejamento de laboratórios de excelência para identificar e utilizar
potencialidades da biodiversidade e de produtos não madeireiros da floresta.
A ampliação e consolidação dessas tendências se traduzem, no mercado internacional, na
diminuição crescente do volume de insumos de matérias-primas por unidade de produto industrial,
com positivas externalidades locais e regionais vistas pelo aumento significativo do valor agregado
na Região desses produtos.
O processo, implícito na conceitualização do novo processo de desenvolvimento, pode começar
em determinados setores de excelência, com a verticalização da produção a partir de recursos naturais
econômicos, criando empregos, renda e maior riqueza local e regional, devendo constituir-se pontos
de referência para a transferência e disseminação ou difusão dessas práticas.
Eficiência global, competitividade sistêmica e qualidade total em processos e produtos passam a
contar para o progresso em harmonia com a ecologia, uma vez que o desenvolvimento sustentável
tem como objetivo a conciliação do crescimento com a proteção do meio ambiente. Dessa forma, se
procura assegurar a permanência do crescimento, em níveis sustentáveis, quando os objetivos se
definam numa visão intertemporal, com significado tanto pragmático como altruísta: assegurar às
atuais e futuras gerações a base de recursos naturais necessária a seu bem-estar.
Para as futuras gerações, qual é essa base? Aparentemente é de limitado interesse ou menor
importância relativa essa resposta, quando se trata da solução de problemas para as presentes gerações
com maiores restrições tecnológicas. Entretanto, parece ser suficiente imaginar que a garantia de
recursos naturais para as futuras gerações não seja inferior à atual disponibilidade de reservas e fontes
de fluxos (excedentes econômicos) que a geram. No futuro, a disponibilidade de fluxos espera-se seja
acrescida pela C&T para atender o crescimento da demanda.
O novo processo de desenvolvimento que consulte e atenda condicionantes e necessidades locais,
regionais, nacionais e globais de múltiplos e diferenciados usuários, não poderá ser concebido e
operacionalizado apenas conforme as forças de mercado ou de qualquer outra dimensão quando
considerada de forma isolada.
Assim, na visão ampla, a sustentabilidade do desenvolvimento não se esgota em sua dimensão
geoambiental, ou socioeconômica, ou político-institucioanl, ou tecnológico-científica. Pressupõe
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

planejamentos integrados, em todas as dimensões, para uma gestão integrada e participativa,


consideradas nas suas formas dinâmicas (perspectiva intertemporal), em planos com plena
participação da sociedade, com destaque para:
a) a formação de capital social, indispensável na formação dos ativos intangíveis mais valiosos
na gestão;
b) o fortalecimento de instituições descentralizadas e procurando a efetividade de suas ações e
estratégias;
c) informações técnico-científicas geradas por processos sustentáveis de P&D; as mudanças
tecnológicas afetam outras dimensões do desenvolvimento; uma forma simples de mostrar esse
relacionamento é apresentada na Figura 3;
d) a descentralização, com competência, do planejamento para a gestão;
e) o exercício das práticas democráticas em agências e organizações civis regionais para a gestão
do meio ambiente e seus recursos;
f) as parcerias dos setores público e privado em arranjos descentralizados objetivos.
No plano internacional o processo de desenvolvimento sustentável solicita e espera a cooperação,
mas não aquela restrita a empréstimos orientados e com interesses ou efeitos indesejáveis para
a Região, mediante condicionalidades de todo gênero (Batista, 1993), a promover o ajustamento
das economias em face de desenvolvimento aos interesses dos países fornecedores.
Espera-se um novo conceito de cooperação (já em aparente fase de implementação nas parcerias
regionais do Mercosul, tratados de cooperação andina e amazônico, entre outros) para o
desenvolvimento, visando torná-lo sustentável, com a partilha proporcional de
responsabilidades entre reais e fies parceiros e cooperados.
Nesta (re)conceitualização não há fundamentos para o assistencialismo que dominou a década de
60, nem para apenas uma preocupação centrada na dívida externa (década de 80) que gerou,
após o desgaste de renegociações com os credores, suspensão de entrada de capital produtivo,
fuga de capital e grande estagnação, além de uma grande mobilidade de um capital virtual na
procura de um lucro especulativo.
Dessa forma considerado e repetindo, o desenvolvimento sustentável não poderá ser definido
como um “estado”, mas si como um processo gradativo e de contínuo ajustamento à realidade
dinâmica complexa e às exigências e possibilidades locais, da Região, nacional e mundial
(nessa ordem de prioridade), com a imprescindibilidade consistência de cada componente
integrado e integrável de forma balanceada, nos diversos momentos históricos desse processo.
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Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Referência da
proporcional
distribuição em três
dimensões do
desenvolvimento

Vantagens do
econômico às
custas do social

Componente Econômico-financeiro
Estrutura, organização, projeções, tendências .....
Distribuição “paretiana” que
permite, através de  tecnológicas,
Componente aumentar os benefícios no social, no
Social Cultural meio ambienete-ecológico e no
político-institucional sem afetar o
“Diamantes” do desenvolvimento componente econômico-financeiro

Ecológica-meio ambiente

 P&D/Ecológico Social Cultural

P&D
Político institucional

C&T

 P&D/Econômico

Econômico-financeiro

Figura 3 Ilustração do efeito de mudanças tecnológica sobre outras


dimensões do desenvolvimento sustentável
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4.3 SISTEMATIZAÇÃO
É conveniente e necessário para o desenvolvimento das ações de coordenação de forma eficiente
e para que os componentes de um sistema de planejamento e gestão de recursos sejam
descentralizados e harmoniosamente integráveis, procurar a normalização e sistematização, quanto
possíveis, de termos e conceitos das disciplinas ou áreas temáticas de uso frequente em planos,
programas e projetos, visando:
a) Corrigir ou evitar, quanto possível ou quando não-benéfico, o confronto, sem benefícios para
as disciplinas concorrentes, da diversidade conceitual e de interpretação de termos técnicos
específicos das áreas do conhecimento.
b) Facilitar a comunicação das informações, principalmente as de natureza técnico-científicas e
socioeconômicas da multidisciplinaridade em documentos que as contenham.
d) Possibilitar a clareza, isto é, a concisão, a objetividade e a precisão da informação.
A conservação de recursos naturais é muito abrangente nos seus aspectos conceituais disciplinares,
estando inter-relacionada a diversas funções que os planejadores e tomadores de decisão não
consultam com a frequência e com a intensidade que são indispensáveis.
Em parte, essa omissão se deve aos atritos e dificuldades de integração das disciplinas. Isto
favorece a ineficiência de decisões ao tentar equacionar problemas visando corrigir efeitos, ou ao
tentar soluções setoriais e temáticas, desvinculadas de causas e do entorno do problema.
Em nível agregado, com o estabelecimento de um Plano de Desenvolvimento Regional, se procura
gerar um processo capaz de estabelecer uma relativa padronização e regulamentação de uso dos
recursos e de suas disponibilidades, gerando os necessários e possíveis equilíbrio entre
disponibilidades (conhecidas) e necessidades (disciplinadas).
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

4.4 CENÁRIO
A construção de cenários é uma das alternativas metodológicas mais adequadas de previsão com
flexibilidade suficiente para lidar com a incerteza e com visão global que incorpore a influência de
fatores econômicos, sociais, culturais, meio ambiente - ecológicos, legais - administrativos e técnico-
tecnológicos-científicos, entre outros, nas variáveis inerentes ao objeto de estudo.
O termo cenário ou futuribles foi inicialmente aplicado ao planejamento estratégico militar nos
Estados Unidos da América, sendo definido como uma “sequência de eventos hipotéticos construídos
com a finalidade de focalizar as atenções em processos causais e pontos de decisão” (Kahn & Weiner,
1969), a fim de demonstrar como uma meta pode ser alcançada.
Os cenários não são e não devem ser entendidos como prognósticos ou simples previsões, mas
formas metodológicas de aumentar a compreensão de eventos potenciais e político-institucionais de
longo prazo (Norse, 1979, adequado), ideais, para o caso em foco, para ampliar o conhecimento de
biomas, sub-bacias hidrográficas, polos e eixos, regiões geopolíticas, províncias, Estados..., ou
caminhos possíveis em direção ao futuro (Ratter, 1979). São imagens de futuro configuradas no
presente a partir da combinação consistente de hipóteses plausíveis e prováveis sobre os possíveis
comportamentos de variáveis determinantes de um sistema. Trata-se de uma descrição “inteligente”
de um futuro possível e almejado, e logicamente imaginável para um objeto e seu contexto, e de sua
trajetória, igualmente lógica e possível, que o conecta com a situação de origem.
São as expectativas sobre “o que deve ocorrer se...”, ou sobre “o que gostaria de se assegurar ou
alcançar para...” num determinado horizonte, as que orientam as ações e estratégias do presente
com efeitos sobre um futuro, onde a única certeza é o da transição para sucessivas mudanças.
Dois conceitos que se relacionam com a construção de cenários aparecem no texto anterior: ações
e estratégias, este último menos exercitado.
Do ponto de vista organizacional, a estratégia corresponde a capacidade de aplicação dos recursos
disponíveis, de forma contínua e sistemática (meios), no ajustamento das organizações e instituições
às condições do meio ambiente, considerando a visão de futuro e a garantia de sustentabilidade da
empresa nesse ambiente (finalidade).
Dessa forma simplificada, o planejamento em qualquer nível de detalhamento, grau de
abrangência e tipo de atividade humana, organiza as ações e estratégias (tática) em função de um
futuro esperado ou pretendido para um horizonte aberto de possibilidades.
As diferenças de abordagens de planejamentos que resultam dos cenários, referem-se ao horizonte
temporal de análise, as expectativas e ao rigor do processo analítico se intuitivo, racional ou
sistemático.
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Um bom esforço analítico pode reduzir as incertezas a números administráveis de alternativas


propostas para o futuro (prospecção de futuros).
A prospectiva é uma reflexão para esclarecer e para definir e orientar que tipo de ação e
estratégia deve ser tomada no presente à luz de futuros possíveis, impondo-se em razão de
efeitos conjuntos de fatores e condicionantes (Godet, 1988; adequado ao texto). Nessa reflexão,
o autor indicou alguns pontos relacionados a continuação:
a) A aceleração de mudanças técnicas [tecnológicas], econômicas, sociais [e ecológicas] que
exigem uma visão [interativa e integrativa] de longo prazo.
b) Os fatores de inércia ligados às estruturas e aos comportamentos que mandam “semear
hoje [em terreno fértil e com boas sementes] para colher amanhã”.
Não é possível assegurar a direção dessas mudanças no futuro, as quais são portadoras de múltiplas
incertezas, sem um tratamento nas estratégias do planejamento.
A prospectiva, como postura intelectual dos estudos de cenários, não pretende eliminar tais
incertezas e si reduzi-las, tanto quanto possível, mediante decisões que comprometam o futuro em
menor intensidade e em níveis toleráveis pela sociedade e pelo meio ambiente (capacidade de suporte
desse meio, as intervenções garantidas, em parte, pelos resultados da P&D).
Em esse processo o que importa não é se a previsão é técnico-científica, mas o quanto essa previsão
é realizada (realizável) com suporte de uma teoria científica plausível e aplicável às condições do
caso, e que resulte de uma formulação racional e fundamentada em hipóteses.

4.4.1 Princípios na construção de cenários


Para a formulação de previsões, (cenários) Godet (op. cit.) propôs dez princípios (adequados ao
texto), relacionados a seguir:
a) Esclarecer [projetar] a ação presente à luz dos futuros possíveis e múltiplos, os quais são, em
geral, incertos [diagnósticos setoriais e temáticos integrados que definem o “estado” no
presente para as ações e reações esperadas no futuro].
Os estudos e diagnósticos integrados deverão ser desenvolvidos com base em metodologias
relativamente uniformes (sistematizadas para a integração de resultados temáticos) e
integráveis (resultado transdisciplinar), procurando identificar e caracterizar condicionantes,
potenciais, perspectivas e limitações de interesse para o desenvolvimento da Amazônia em suas
diversas dimensões.
As necessidades e demandas por pesquisas agrícolas e agroflorestais para as mudanças
técnicas-tecnológica de processos e produtos, incorporando potencialidades da Amazônia,
não podem limitar-se a uma visão de curto prazo, na forma de demandas de tecnologias de
uso atual, mas principalmente considerar as demandas de médio e longo prazos
(prospecção), explorando oportunidades extra regionais e da economia regionalizada e
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

globalizada, bem como das demandas caracterizadas a partir de uma análise prospectiva e
de tendências.
b) Adotar uma visão global e sistêmica [modelo sistêmico de integração de elementos numa visão
holística e de ações e estratégias compartilhadas (participativa) com base em diversos tipos de
negociação e de aplicação de instrumentos apropriados como os de planejamento estratégico,
utilizado no gerenciamento de recursos naturais].
c) Considerar os fatores qualitativos e as estratégias dos atores: os limites [e condições] da
modelização [os multiusos de recursos naturais que impõe multicritérios para atender os
multiobjetivos na diversidade de setores usuários desses recursos].
d) Obter resultados das lições do passado e não subestimar os fatores da inércia [importância do
“estado da arte do conhecimento” no processo de planejamento, estruturação e gestão dos
recursos naturais].
e) Decodificar as informações à luz do jogo de poder [e das posições, interesses e perspectivas
dos atores do Poder Público e da iniciativa privada que se encontram em agendas para acordar
o processo de desenvolvimento].
Essa decodificação é importante para o diagnóstico das políticas públicas de ocupação do
espaço na Amazônia, onde órgãos, padrões de ações e instrumentos de intervenção
mediaram a ideologia dominante do Estado em diversos momentos do desenvolvimento da
Região.
f) Desconfiar das ideias preconcebidas [vícios da administração e posturas intransigentes dos
“ismos”21 de determinados setores e organizações].
g) Apostar na mudança social para permitir [induzir ou orientar] a mudança tecnológica [conforme
acusam as tendências e os ajustes globais].
h) Transformar as estruturas e os comportamentos [conforme indicações de ajustes e tendências
globais].
i) Mobilizar a inteligência da empresa: vigilância prospectiva, vontade estratégica e mobilização
coletiva.
j) Considerar os métodos como ferramentas de reflexão e de comunicação.

21
Responsáveis pelo viés social, viés econômico ou viés ecológico dos “ismos”: “clientelismos”, “fisiologismos”,
“politiquismos” “caciquismos”, “regionalismo”, “economicismos”, “ambientalismos” e “ecologicismos
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4.4.2 Abordagem tradicional de previsão


Esta abordagem é a extrapolação, com maior ou menor rigor técnico, da evolução registrada no
passado, vista como uma tendência que se projeta no futuro, com as seguintes características:
a) Uma visão segmentada e isolada ou autônoma da realidade, sem considerar os fatores exógenos
do objeto da previsão que resultam (implícitos) das séries temporais.
b) Só considera os fenômenos passíveis de quantificação, um conceito restrito de
objetividade e precisão.
c) As relações entre as variáveis são concebidas como estruturas estáticas, portanto, sem
mudanças ao longo do horizonte de planejamento projetado com base numa série de dados.
d) A explicação do futuro é uma projeção ou extrapolação do passado, o que corresponde à
premissa de que, no horizonte de planejamento, as relações entre as variáveis serão mantidas
no futuro, ignorando-se as mudanças latentes ou em andamento.
e) A previsão como valor determinístico, único e certo, ainda que com possíveis variações
dentro de determinado intervalo.
f) A omissão de atores intervenientes no objeto de previsão, cada vez mais importantes com
o crescimento econômico e demográfico, e com a inter-relação de variáveis, influenciando ou
determinando “estados” e condicionantes do uso e do desenvolvimento de recursos naturais.
g) O uso de métodos e modelos do tipo econométrico e estatístico.
As abordagens tradicionais de previsão, com a complexidade dos cenários e a influência cada vez
maior de atores e fatores exógenos ao objeto de previsão, mostram erros de imprecisão dos dados
projetados e insuficiência dos modelos adotados; ausência de uma visão global e integrada das partes;
e inadequação para tratar com a incerteza.
Essa inadequação de modelos tradicionais de previsão ocorre na medida em que condiciona o
comportamento do objeto em um único ou limitado prognóstico. Não possui, portanto, a flexibilidade
necessária para antecipar as mudanças de “estados” de qualidade e quantidade de sistemas e de
processos no futuro, cujos fatores causais ocorrem no presente, como resultado de eventos, ações e
comportamentos no passado.
A construção de cenários, como alternativa metodológica de previsão, deverá minimizar as
deficiências da abordagem tradicional, exigindo maior flexibilidade para lidar com a incerteza, e uma
maior capacidade para construir uma visão global que incorpore a influência de fatores e atores
sociais, econômicos, ecológicos, político-institucionais e tecnológicos nas variáveis inerentes ao
objeto de previsão.
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4.4.3 Abordagem moderna de previsão


O cenário configura um conjunto de hipóteses coerentes e plausíveis, não necessariamente
prováveis, para organizar a incerteza em um número limitado de alternativas e possibilitar ao
planejador e gestor avaliar as decisões. Essas hipóteses estão associadas com acontecimentos seriados
ou simultâneos, com seus correspondentes atores e escalas de tempo.
Nesse conjunto de hipóteses se simula uma gama de reações possíveis e com base no aumento da
compreensão de eventos potenciais se organizam, sistematizam e delimitam as incertezas, explorando
os pontos de mudanças e definindo como uma situação pode vir a ocorrer, bem como se especificam
que alternativas se colocam em cada momento e para cada um dos agentes no desenvolvimento,
visando preveni-lo, (re)orientar, minimizar ou facilitar o processo em curso, segundo seja a
conveniência e os fundamentos desse processo.
O processo metodológico heurístico da construção de cenários é importante para compreender
tendências e escolher as políticas mais eficazes visando intervir favoravelmente à concretização de
determinados objetivos.
Pela relativa facilidade que se tem de formulação de cenários, auxiliada pelo avanço da informática
e da informação utilizada para projetar realidades virtuais simuladas, a técnica tem certa popularidade,
inclusive com utilizações esporádicas para a Região, como a da SUDAM, em parceria com o PNUD,
na procura de uma concepção estratégica para o desenvolvimento auto-sustentado (“Macrocenários
– Amazônia 2000”; SUDAM/ISAE, 1997).
Uma das características básicas dos cenários reside na sua capacidade de reunir e articular opções,
estudos, projetos e diversas contribuições, prevendo estruturas flexíveis e opções ou alternativas de
decisão. Essas características, entre outras da “cenarização”, devem ser aproveitadas no diagnóstico
das potencialidades da Amazônia.
As principais características dos cenários aplicadas no planejamento para o gerenciamento dos
recursos naturais são:
a) A visão global que se impõe na medida em que a interdependência e interações entre os
componentes social, econômico, meio ambiente-ecológico, tecnológico-científico e político-
institucional se acentuam com as mudanças.
No caso da Amazônia essas mudanças e reações às intervenções, são evidentes e urgem por
estudos detalhados para desvendar as interdependências e interações entre os componentes de
ecossistemas e entre os elementos de um componente. Para esse propósito, deverão ser
definidos e escolhidos os indicadores e atributos relevantes (técnicas com as de Delphi e
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

entrevistas brainstorn, podem auxiliar esse processo) que apresentem valores críticos,
analisadas essas variáveis e geradas as informações que definam as relações.
b) Ênfase no aspecto qualitativo, onde cada cenário caracteriza um futuro qualitativamente distinto
dos demais, sem que isto signifique prescindir da análise quantitativa, mas utilizá-la de forma
criteriosa e complementada ou sendo complementada por outras abordagens metodológicas
que podem ser utilizadas nos estudos de diagnósticos integrados das potencialidades da
Amazônia.
c) As relações entre as variáveis e os atores são concebidas como estruturas dinâmicas que
comportam mudanças qualitativas ao longo do horizontes de projeções e de planejamentos,
bem como na gestão dos recursos naturais e socioeconômicos.
d) A concepção do futuro como a motivação básica das ações do presente, e não apenas um
prolongamento da dinâmica do passado, baseado na premissa de que os atores são capazes de
influenciar o seu próprio futuro dentro de um quadro de oportunidades (a seu alcance) e de
restrições físicas do meio ambiente e socioeconômicas (conhecidas ou que devem ser
conhecidas).
Este aspecto endógeno dos componentes de um plano de desenvolvimento deve ser
enfatizado numa proposta de desenvolvimento, sendo consistente com a descentralização
administrativa e de planejamento-gestão e com a integração (parcerias) entre setores
públicos e privados.
e) A visão plural e incerta do futuro que resulta do confronto (atual “estado”) e/ou da cooperação
(situação esperada) de atores, interesses, oportunidades e restrições.
f) A adoção de modelos conceituais, métodos qualitativos e quantitativos e visão probabilística.
g) A consideração explícita dos atores envolvidos que colocam em evidência suas oportunidades
e interesses [na negociação].
Isto significa considerar a dimensão política como um condicionante do futuro. É em função desse
condicionante (vontade e decisão política, entre outros) que se têm os meios suficientes, materiais e
não-materiais, devidamente dimensionados e fornecidos no tempo ou na oportunidade adequada.
Em termos gerais tais condicionantes determinam a natureza e ritmo das mudanças que provocam
reconsiderações do papel das instituições que operam com reduzida eficiência, do Estado com funções
que já não são mais de sua competência e dos agentes em desencontros que aceleram ou precipitam
essas mudanças. Nelas, a contribuição de inovações tecnológicas e a ampla integração econômica,
alteram as condições de competitividade e a organização do espaço.
Em nível mundial e com efeitos para a Amazônia é possível definir condicionantes do futuro,
destacando-se: a revolução científica e tecnológica com perspectivas no campo biotecnológico, a
integração de mercados em torno da economia globalizada, a crise do sistema de regulação do
comércio e emergência de novas instâncias e mecanismos de controle, a instabilidade do sistema
financeiro internacional que privilegia a “economia da realidade virtual” (Gray, 1997), a degradação
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

do meio ambiente e seus recursos naturais, as desigualdades entre países ricos e pobres, as
desigualdades sociais e econômicas e a emergência de países de grande potencial econômico.
As características dos cenários resultam particularmente relevantes e com as seguintes
vantagens, quando aplicadas ao planejamento e gestão de recursos naturais com interesse
econômico:
a) Levam a aprofundar-se em aspectos pouco conhecidos do meio ambiente, destacando certas
possibilidades, uma delas é o potencial e aptidão dos recursos naturais.
b) Levam a examinar a dinâmica de situações geralmente omitidas ou ignoradas em outras
abordagens metodológicas do planejamento tradicional.
Dentro de restrições naturais de um documento geral e como exercício na introdução da
cenarização é possível definir cenários mundiais que se relacionam, de maneira direta ou indireta,
com o desenvolvimento da Amazônia. Neste sentido são indicados os seguintes condicionantes de
futuro:
a) revolução científica e tecnológica em área como a biotecnológica, informação e comunicação,
com aplicação direta para a Amazônia em programas como os de vigilância, proteção,
conservação e manejo integrado de seus ambientes e recursos naturais no contexto nacional e
panamazônicos;
b) redução da intervenção e/ou da margem de manobra do Estado-nação como efeito da
simplificação e redirecionamento das funções do Estado leve, ágil e competente;
c) integração de mercados e internalização de processos, produtos e serviços no lastro da abertura
da economia e da globalização;
d) crise do sistema de regulação convencional em transações do comércio mundial e emergência
de novos mecanismos de normalização e sistematização em que se destacam preocupações com
a qualidade do meio ambiente e interesses sociais;
e) instabilidade do sistema financeiro internacional com a emergência de conceitos de economia
virtual;
f) emergência de países de grande potencial econômico e com isso, de mercados novos;
g) desigualdades entre países desenvolvidos e em desenvolvimento;
h) explosão de tensões e conflitos regionais;
i) acelerado envelhecimento da população mundial;
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

j) desigualdades sociais e culturais, com efeitos nos índices de desemprego nos países
desenvolvidos;
k) degradação de “estados” do meio ambiente e de seus recursos naturais.

4.4.4 Exemplos ilustrativos de cenários


Para efeitos de planejamento e como introdução ao assunto, dois tipos de cenários são relacionados
nesta resenha conceitual: os cenários exploratórios que caracterizam futuros possíveis ou prováveis,
mediante a simulação e desdobramento de certas condições, sem assumir uma preferência, e os
cenários normativos que configuram futuros desejados, exprimindo um compromisso de grupos de
atores, públicos e privados, com ações compartilhadas, em relação a determinados objetivos.
Apesar das limitações que a cenarização possa apresentar, tais técnicas são úteis na formulação de
um plano de desenvolvimento regional, na medida em que abre novos horizontes aos decision makers,
para futuros alternativos possíveis e até prováveis, e na medida em que proporciona um quadro de
referência mais amplo e objetivo para a tomada de decisões.
Em quais desses futuros alternativos os órgãos e entidades governamentais e as organizações
privadas relacionadas com a pesquisa devem planejar e projetar os argumentos de seus cenários?
Aparentemente nos mais prováveis, mas, qual deles são os mais prováveis? A questão é difícil quando
o tomador de decisão acha pouco provável o acontecimento de fatores extremamente indesejáveis
como os de desastres naturais e o impacto negativo de mercados distantes.
Por outro lado, o futuro compreende uma intrincada teia de acontecimentos interligados, alguns
imprevisíveis ou inconcebíveis mediante o planejamento tradicional. Em outros casos, por vezes
frequentes, a previsão do futuro mais provável tem sido errada ou incompleta.
Os cenários alternativos procuram criar conjuntos de futuros possíveis e planejar ações e
estratégias futuras apenas depois de considerar todos esses cenários sobre os quais se simulam
“estados” e reações possíveis e se analisam as condições e fatores disponíveis em um sistema,
organização ou meio ambiente, para preparar-se e enfrentar as tendências, favoráveis ou
desfavoráveis, críticas ou não, calculadas para cada um desses futuros prospectivos.
É inerente às atividades de planejamento e gestão delinear possíveis (ou até prováveis) quadros
futuros sob uma base evidente de incerteza (ou risco). Desse modo, as alternativas que resultam do
exercício são supostas possibilidades (ou estimadas probabilidades) de ocorrência (esperada) dos
eventos dessas alternativas no futuro. Nesse contexto, os estudos prospectivos (cenário) do
planejamento estratégico consideram o longo prazo, focalizam estruturas em lugar de variáveis,
tornam a complexidade explícita, e têm abordagens multidisciplinares integradas (interdisciplinares),
especulativas e analíticas.
O conceito de diferentes horizontes integráveis nos cenários (maior), planejamentos (medianos) e
plano de desenvolvimento (menores, como o caso de um projeto de pesquisa) é ilustrado na Figura
4.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Horizontes dos cenários: 10 a 20 anos, por exemplo, conforme a dinâmica das mudanças

Horizontes dos planejamentos: 6 a 10 anos, por exemplo, em que seja possível


observar parte da dinâmica e dos ajustes de processos naturais e socioeconômicos

Horizontes estratégicos de Planos Diretores e Programas: 5 a 10 anos,


por exemplo, suficiente para avaliar e corrigir, se for o caso, os resultados
das metas e diretrizes estabelecidas nos instrumentos de P&D Cenário A1

Cenário A2
Condicionantes
Antecipar:

Cenários de Referências
- Problemas, Ameaças Cenário B1
Aproveitar:
- Oportunidades Cenário B2

TRADU Cenário
ZIR Desejado
Cenário
Possível
Desejado
Situação Atual Possível

Cenário C1

Cenário C2
Diagnósticos
Integrados Ajustes de Planos
e Programas

Cenário D1
Antecipações
Quebra de paradigmas Cenário D2

Novos horizonte
Novos paradigmas

Horizonte Problemas, Objetivos, Recursos Disponíveis


=f
de tempo Prioridades, Vontade/decisão Política ...

Figura 4 Horizontes dos cenários prospectivos, dos planejamentos estratégicos


e de planos diretores e programas a
a
Manual de pesquisa: introdução aos fundamentos da metodologia científica (Embrapa –DPD 1998)
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

Algumas das informações requeridas para a formulação de cenários prospectivos no setor de


recursos naturais são:
a) As disponibilidades efetivas desses recursos caracterizados em seus aspectos de
quantidade, qualidade e distribuição espacial e temporal em diagnósticos detalhados integrados.
Essa caracterização deve definir as potencialidades, limitações e condicionantes desses
recursos no contexto dos paradigmas do desenvolvimento mais próximo da Região.
b) As relações de estruturas, organizações, comportamentos, “estados”, inter-relações e
dependências notáveis com diversos fatores internos e de seu entorno.
c) As necessidades e os fatores que definem a demanda (como insumo, com produto final
etc.) desses recursos em diversos cenários prospectivos e tendências.
d) “Razoáveis” (pela sua consistência lógica, operacional e prática) premissas em torno dos
fenômenos e dos fatos relevantes dos cenários, com suas correspondentes estimativas de
permanência, intensidade, frequência de ocorrência e outras, tais como:
d.1) Indicadores de sensibilidade e vulnerabilidade, de usos e de manejo dos ambientes e
dos recursos naturais.
d.2) Critérios de proteção e de conservação e manejo integrado do meio ambiente e seus
recursos naturais, combinando os acontecimentos nos diferentes cenários.
A busca de um cenário desejável, entendido como aquele em que as restrições e vulnerabilidades
do ambiente e recursos naturais só ocorrem dentro dos limites planejados e aceitos pela sociedade e
por esse meio, e para os quais eles, a sociedade e o meio ambiente, deverão estar preparados para
assimilá-los. Isto requer determinadas condições, tais como:
a) Mudanças culturais em hábitos e comportamentos para que todos tenham a convicção dos
recursos naturais como um bem e riqueza patrimonial e, conforme sejam suas características
de capacidade de suporte e de restauração às intervenções humanas, possam desenvolver uma
cultura “amigável” de respeito com essas características.
Em alguns casos como o dos recursos hídricos, a lei os define como um bem econômico a
ser conservado e protegido. Em geral, a pesquisa deverá estimar seu valor econômicos e as
formas de conservar, com efetividade, essas riquezas.
b) Elevado e suficiente nível de conhecimento dos recursos naturais da região para permitir um
melhor planejamento de seu uso e manejo, e uma antevisão das crises com a preparação da
sociedade para enfrentá-las e delas, quando possível, obter vantagens.
c) Dotação de uma adequada infraestrutura para o atendimento das necessidades
disciplinadas/ajustadas, conforme as disponibilidades e potencialidades dos recursos naturais
na Região.
d) Manejo dos sistemas naturais dentro de uma visão multidisciplinar, proposto e implementado
com base em informações geradas por equipes de pesquisas interdisciplinares, sem perder de
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

vista que quantidade e qualidade, em muitos recursos naturais, são aspectos indissociáveis e
que requerem, portanto, de um tratamento integrado.
Para aplicar as técnicas de cenários aos recursos naturais é necessário a preparação, mediante
treinamento e capacitação técnica-tecnológica dos tomadores de decisões, orientados para enfrentar
ou direcionar as mudanças previstas nos cenários e obter delas, quando possível, as vantagens que
elas permitem, e para amenizar os efeitos das crises e fazer a preparação da comunidade para enfrentá-
las.
A definição de indicadores nas diversas dimensões do desenvolvimento consideradas neste
documento, está condicionada, em parte, a montagem de cenários, assunto que demanda profundos
diagnósticos e estudos prospectivos com detalhes.
Qualquer que seja o detalhamento dos cenários para a Amazônia, neles devem ser considerados
os condicionantes internos e externos do futuro, em várias escalas de detalhamento e temporalidade.

4.4.4.1 Exemplos de cenarização em escala mundial


Os condicionantes externos decorrem dos cenários mundiais, com impactos, alguns substanciais
e diretos, traduzidos em incertezas críticas exógenas, tais como:
a) a globalização e integração dos mercados no contexto dos países panamazônicos, entre outros,
em parte delineados em convênios, tratados e fóruns;
b) a evolução de sistemas de regulação e da emergência de novos padrões dessa regulação que
afetam diretamente processos e produtos da Amazônia, como é o caso dos madeireiros;
c) delineamentos e comportamentos do sistema financeiro internacional;
d) processos de integração com parceiros internacionais, no âmbito continental, com possíveis
desdobramentos (hipóteses diferenciadas que definem o tipo de cenário, nesta dimensão, tais
como: Mercosul e ALCA consolidados e com ações e estratégias favoráveis para o
desenvolvimento da Amazônia; parcialmente implantados e com ações e estratégias, algumas
favoráveis, outras não; Mercosul, em crise e ALCA parcialmente implantada, com ações e
estratégias, para a Região, indefinidas, se não desfavoráveis.

4.4.4.2 Exemplos de cenarização em escala nacional


Como condicionantes internos gerais do futuro, alguns em processos de definição e outros, em
implantação e amadurecimento, se relacionam:
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

a) rearranjo da estrutura de poder e de alianças estratégicas e táticas, com fatores de


influências negativas que definem as crises, nesses delineamentos, caracterizados por novos
valores éticos e morais;
b) crise e reestruturação das instituições do Estado em busca de novos perfis (ver Manual
de Pesquisa: introdução aos fundamentos da metodologia científica; Embrapa, PDD), em
particular da administração pública e de instrumentos legais e políticos de disciplinamento
(educação, proteção, prevenção...), de monitoramento (sistema de vigilância da Amazônia, p.
ex.) e de controle;
c) permanência “induzida” ou “forçada” de baixas taxas de inflação com viés traduzido em
certo custo social;
d) dificuldades e estrangulamentos do sistema econômico-financeiro em consequência de
outros objetivos da política econômica;
e) lenta reestruturação produtiva da economia nacional afetada por sérios estrangulamentos
da infraestrutura do chamado “custo Brasil” e do sistema financeiro;
f) crescente inovação tecnológica apesar das deficiências nos sistemas de formação
profissional e de C&T, puxada pela competitividade, entre outros fatores e condicionantes
internos e externos;
g) permanência da pobreza e das desigualdades sociais e econômicas entre sub-regiões e
entre regiões do País;
h) crescimento da radicalização política e das pressões de movimentos sociais, culturais e
econômicos setoriais como os de “sem-terra”, “sem-emprego”, “sem-moradia” e “sem-
educação”, entre outros excluídos;
i) envelhecimento da população e mudança de sua estrutura etária;
j) maior conscientização social e aparente maior comprometimento com os problemas do
meio ambiente;
k) concentração da atividade econômica favorecida por condicionantes externos;
l) crescimento de atividades econômicas informais, alternativas e ilegais.
Com base nos anteriores condicionantes externos e internos do futuro é possível delinear cenários
nacionais numa ampla gama de possibilidades, desde uma visão otimista de altos índices de
crescimento econômico sustentável por diversos indicadores do desenvolvimento (no econômico, no
social, no meio ambiente, no legal e administrativo etc.) e com efeitos positivos na redução da pobreza
em limites aceitáveis, progressiva e consistente desconcentração regional e níveis de impacto
ambiental dentro de conhecidos e aceitáveis critérios de resiliência e homeostase, até um cenário de
estagnação e pobreza, de instabilidade política e de elevado nível de degradação do meio ambiente e
de desestruturação social e das instituições do Estado.
Dentre esses extremos, otimista e pessimista, e conforme a lógica e consistência dos critérios de
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

disposição e ordenamento dos elementos em cada dimensão, poderão ser definidos vários cenários
com suas correspondentes trajetórias e escalas temporais.

4.4.4.3 Exemplo de cenarização em escala amazônica


O contexto regional para o exemplo é a Amazônia caracterizada em seus recursos naturais e
dinâmica própria na Parte 2.
Para os propósitos ilustrativos do conceito de cenário, com propositado viés para diagnosticar
potencialidades, se apresenta, na parte que segue, uma síntese de informações do redesenho do espaço
amazônico, disposto em quatro polos de desenvolvimento, para onde convergem a imigração com
diferentes potenciais de transformação, de modernização e de irradiação para o interior. Esses polos
são: o núcleo elétrico-eletrônico de Manaus; o triângulo de Carajás, com vértices em Belém, São Luís
e Marabá; o eixo agropecuário do Sudeste Amazônico; e o polo agrícola de Rondônia.
Informações dos recursos naturais e da dinâmica amazônica apresentadas na Parte 2 que, junto
com outras informações dos condicionantes do futuro em níveis mundial e nacional, poderão ser
utilizadas para definir cenários específicos como para os da P&D.
O desenvolvimento da Amazônia está condicionado a vários fatores, externos e internos,
relacionados a seguir:
- mudanças climáticas, em torno das quais há exageros e falta de informações científicas;
- pressões e crescimento da conscientização sobre a importância e a necessidade de conservação;
- tendência para produtos com menor conteúdo de matérias-primas e com insumos tecnológicos
substitutos de recursos naturais;
- expansão mundial do turismo com base em valores paisagísticos naturais dos quais a Amazônia
é particularmente privilegiada;
- integração de sistemas de comunicação e informação em processos de implantação em programas
como os de vigilância, monitoramento e controle;
- potencial e oportunidades de exploração da biodiversidade e dos recursos genéticos, como
grandes perspectivas pela P&D;
- degradação de ecossistemas e dos recursos naturais da Amazônia;
- identificação, caracterização e valorização da diversidade cultural mediante atividades de
pesquisa aplicada;
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

- revisão, adequação e ajuste de modelos de crescimentos atrelados aos processos de


desenvolvimento;
- disciplinamento e orientação, com base em critérios técnico-científicos e disponibilidade de
recursos para tais fins, de fluxos migratórios para a Amazônia;
- integração entre sub-regiões e entre países panamazônicos com base em acordos e tratados desses
países com interesses na bacia amazônica;
- expansão da navegação fluvial e melhoria de infraestruturas para complementar e sinergizar
dimensões do desenvolvimento sustentável (ver diretrizes regionais do PPA 2000, Arco Norte e
Madeiras – Amazonas);
- processo de regularização fundiária em base a critérios técnico-científicos e socioeconômicos;
- expansão do agronegócio com integração de atividades que venham a agregar valor aos produtos
regionais, com destaque aos derivados da biodiversidade;
- desenvolvimento de tecnologias para a incorporação de potencialidades e aproveitamento
sustentável de ambientes e recursos naturais.
Ainda que relevante para melhor entender e conceitualizar um modelo de identificação e avaliação
de potencialidades regionais, é propositadamente omitida (essa montagem) neste documento para não
diluir o interesse do assunto proposto: a conceitualização de um modelo. A parte conceitual acima
apresentada de cenário é um ingrediente desse modelo.
Dos elementos componentes de cenários apenas se destacam aspectos gerais que diretamente
condicionam o modelo de potencialização dos recursos naturais, sem detalhes e outras considerações
dos mesmos. Desse destaque se relaciona algumas diretrizes de política de desenvolvimento
(geopolítica), tais como:
a) O estudo e projeção na base conceitual da territorialidade (polo de Manaus, Amazônia
Ocidental, Amazônia brasileira etc.).
b) A contigüidade que pressupõe a integração com outros territórios.
c) A estruturação a partir de fatores condicionantes, facilitadores e dificultadores, de origem
interna e externa.
d) A otimização possível e desejável em bases sustentáveis, a partir da realidade dos potenciais
regionais, bem como de variáveis restritivas de natureza jurídico-institucional.
No quadro geral de referência para o modelo que permite fazer algumas projeções com vistas ao
delineamento de cenários prospectivos e de tendências, se destacam:
a) As rápidas mudanças políticas, institucionais, sociais e econômicas que se processam no
contexto da globalização e da regionalização em blocos da economia e mercado, com efeitos diretos
sobre a Amazônia. Parte dessas mudanças e tendências se acusa como restrições reais ou aparentes.
b) A emergência de uma nova era tecnológica que está evidenciando potenciais e que anuncia
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

novos paradigmas produtivos e organizacionais, envolvendo diretamente a região amazônica em


setores como os da biotecnologia, recursos genéticos e ecoturismo.
A definição e caracterização dessa nova era do crescimento estão sendo determinadas pela
pesquisa básica e pela aplicação de pesquisas em setores como os da conservação e manejo integrado
da diversidade biológica e dos recursos genéticos.
Outros aspectos gerais dos cenários da Amazônia são:
a) A escala continental diretamente relacionada com acordos bilaterais, pactos e blocos regionais
em torno da Amazônia, no coração do continente, partilhada por oito países, com realidades
físicas, sociais, econômicas, meio ambiente-ecológicas, técnicas-tecnológicas e político-
institucionas distintas e diferenciáveis entre os países. Essa diferenciação e realidades
diferentes são observadas, também, em várias dimensões e escalas, na Amazônia brasileira.
As diferentes realidades abrem a perspectiva para uma futura integração continental, passando
pelo desenvolvimento sustentado de cada uma das partes integrantes e integradas, conforme
reconhecido no Acordo de Cartagena, no Pacto Andino e no Tratado de Cooperação
Amazônica.
b) Políticas públicas definidas nos esquemas normativos que viabilizem a integração inter-
regional.
São inerentes a ela os cuidados com a plena e efetiva inclusão das diversas dimensões do
desenvolvimento sustentável, viabilizando a inclusão dos segmentos sociais e setores
econômicos menos favorecidos ou tradicionalmente marginalizados. Essa visão na política
nacional e regional de integração, impõe o tratamento conjunto (simultâneo), complementar e
sinérgico dessas dimensões integradas e balanceadas.
Para induzir ou orientar essa confluência multidimensional e multicriterial não há fórmulas
comuns, nem regras e nem padrões de orientação. O processo é criativo e endógeno, sendo definido
por critérios, gradativamente aprimorados para dar a consistência, a legitimidade e a projeção
necessárias em cada uma das fases desse processo, dentro do mais provável ou possível cenário
desejável.
Para o caso da Amazônia com seus traços característicos, o processo de desenvolvimento e
integração tem características igualmente próprias, possíveis de definir como “condicionantes
Amazônia”, onde a potencialização de seus recursos naturais, econômicos, sociais, culturais,
institucionais e técnicos-tecnológicos, entre outros, revestem-se de especial importância quando
colocados na visão prospectiva de cenários. Essa visão é contrária às polarizações econômicas ou as
posturas radicais de um modelo de enclave de grandes projetos fundados na dotação privilegiada de
um recurso natural e/ou de inúmeros pequenos projetos fragmentados, desarticulados e independentes
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

entre si, ou, ainda, de posturas ambientalistas de estrita preservação, desconhecendo necessidades e
possibilidades de atendimento a partir dos recursos naturais da Região.

4.5 PLANO E PLANEJAMENTO


O poder é visto e explícito em normas (leis, princípios, diretrizes etc.) como uma decorrência da
razão humana, de tal forma que quando se afirma “o poder emana do povo e em seu nome é exercido”
estão aceitos pressupostos de racionalidade implícitos nas atividades de planejamento integradas em
um plano.
Com base nesses pressupostos, em lugar de aceitar o fatalismo, ou determinismo, ou a intromissão
do divino na condução das atividades humanas, atribui-se ao homem o poder de reger sua própria
vida.
Esse poder se estende à organização (sistemas) político-institucional e à organização (sistemas)
técnico-econômica e social, entre outras.
Pela importância e interdependência dos componentes, vale dizer, dos sistemas componentes, a
racionalidade do poder torna-se um imperativo para o disciplinamento de atividades ou setores; surge
assim o planejamento.
O planejamento pode ser considerado como um processo ordenado e sistemático de reflexão e
análise permanente de decisões (diagnósticos situacionais), que precede e preside as ações no presente
para antecipar o futuro, possibilitando, dessa forma, a escolha de alternativas (as melhores) associadas
com resultados exequíveis e desejados pela sociedade, possíveis pelo meio ambiente e esperados pelo
Governo, nos horizontes de planejamento de curto, médio e longo prazos.
Nesse processo se combinam, por um lado, dimensões técnicas/tecnológicas, socioeconômicas, do
meio ambiente e político-institucionais em um espaço de negociação entre atores do
desenvolvimento, confrontando e articulando seus interesses e suas alternativas (nesse espaço se
reflete e/ou reproduz determinada estrutura de poder), e pelo outro, se estabelece uma relação entre o
presente e o futuro, definindo algo a ser construído.
Do passado e presente se define a evolução e se estabelecem as circunstâncias (diagnósticos
integrados) sobre as quais se planeja (ciência positiva), enquanto que entre o presente e o futuro se
encontra a incerteza e a convicção de que o futuro é uma construção social, econômica e ecológica
(ciência normativa), devendo ser moldada pela vontade dos atores organizados para garantir as
condições de sustentabilidade do desenvolvimento.
De um modo geral, a ausência de processos estratégicos de planejamento, seja para condução de
mudanças institucionais ou para a definição de planos, podem levar a um maior desgaste de tempo e
recursos, com efeitos negativos nas potencialidades regionais.
Os resultados de planejamentos governamentais no Brasil das últimas décadas colocam em
evidencia vários fatores responsáveis pelo fracasso e descrédito relativo desse instrumento.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Concomitante com o declínio do planejamento, cresce a necessidade de utilização de processos


técnicos e de negociações político-institucionais, em horizontes de longo prazo, para enfrentar a
crescente complexidade de problemas emergentes de questões ecológicas, conflitos sociais internos,
e de necessidade de ajustes às exigências econômicas, sociais, de mercados, das parcerias e de
normalizações no uso, manejo e controle do meio ambiente, entre outras.
O paradoxo da crise do planejamento e de sua necessidade tende a aumentar a distância entre os
políticos e os que tomam decisões, de um lado, e entre os técnicos e formuladores do planejamento,
do outro, tornando-se urgente reverter esse quadro, formulando e viabilizando o planejamento mais
próximo e exequível da realidade (políticos e tomadores de decisão).
Como definir o planejamento do desenvolvimento sustentável? Se existir uma definição
operacional, ela deve possibilitar/satisfazer certas condições, tais como:

 Aquele que prepare e viabilize a conciliação entre os processos de mudança social,


crescimento econômico, conservação/proteção do meio ambiente, e qualidade de vida
e equidade social, a partir de um claro e explícito comprometimento de todos para com
o futuro e a solidariedade entre gerações, e que simultaneamente consolide a
democracia pelo exercício de seus mecanismos na participação da sociedade nos
processos decisórios de planejamento e de gerenciamento. Tais processos deverão ser
descentralizados e a participação da sociedade organizada exercida com
responsabilidade, tendo como incentivo a conscientização cidadão do seu papel na
conservação dos ambientes e recursos naturais.

Fazem parte desse planejamento as escolhas de ações e estratégias relativas ao equilíbrio e a


conciliação das diversas dimensões, sem privilegiar nenhuma delas em detrimento da(s) outra(s),
com adequada orientação de objetivos (estes nem sempre convergentes), das relações sociais,
econômicas, político-institucionais e do meio ambiente, dependentes do avanço tecnológico.
O trade off, especialmente na relação entre o crescimento econômico e a qualidade do meio
ambiente, está associado a fatores estruturais do estilo de crescimento, um deles é o padrão
tecnológico sem a necessária condição de endogenia e nem a consulta às condições regionais (sociais
e culturais), com notáveis viesses. Essa relação deve mudar e confluir para pontos comuns,
estratégicos e táticos.
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O quadro que segue sintetiza aspectos integráveis de planejamento (visão estratégica, tática e
operacional) a considerar na formulação de em plano diretor regional de desenvolvimento, com seus
efeitos, na operacionalização -implementação e implantação- desse plano, observados na gestão:

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PLANEJAMENTO OPERACIONAL


Responde: Para que? E para quem? D∩S Responde: Como? E com que?
Trata do médio e longo prazos (estrutural) Fixa-se no médio e curto prazos (tático)
Define os fins (diretrizes, princípios ....) Trata principalmente dos meio
Tem uma visão global Trata de setores integrados no estratégico
Dá ênfase à criatividade (método) Dá ênfase às técnicas, aos instrumentos
Busca a eficácia (efetividade) Orienta-se pela eficiência
Tem no Plano seu instrumento Tem no projeto sua maior expressão
Serve à transformação Busca manter o funcionamento
É recomendado nas épocas de crise Sobressai nas épocas de rumos claros
É uma tarefa de todos, da comunidade Tarefa, principal do administrador
Trata de cenários prospectivos/futuro Dá ênfase ao presente
Trabalha centrando-se nas necessidades Preocupa-se com o problema/solução
Ênfase na elaboração, avaliação ..... A fase essencial é a execução.

D∩S = desenvolvimento sustentável

Com relação ao aspecto de implementação dos planos que integram planejamentos, é oportuno
alertar que, da ampla e consciente participação dos atores e da eficiente condução dos processos de
planejamentos temáticos a serem integrados, dependerá o êxito do plano, o qual deverá, entre outros
propósitos, promover mudanças de comportamento e de atitudes da sociedade em relação ao meio
ambiente.
Quanta a estratégia, deverão se adotar técnicas e modelos participativos que integrem as ações
disciplinares conduzidas por equipes interdisciplinares atuando em níveis estratégicos flexíveis
(federal), táticos (lideranças chaves na região) e operacionais regionais (lideranças locais).
Do contexto geral, é oportuno destacar alguns aspectos do planejamento regional, na doutrina
nacional de planejamento, com ênfase ou aplicação na Região da Amazonas.
A Constituição Federal de 1946 vinculou, na forma de percentual, parte da receita tributária da
União a diversas regiões, entre outras, a Amazonas, com a finalidade de assegura recursos para
investimentos em desenvolvimento.
Para assegura a adequada aplicação desses recursos incumbiu a Superintendência de Valorização
Econômica da Amazônia – SPVA competência de orientar a elaboração de estudos e projetos,
direcionar investimentos, prestar assistência técnica e estimular Estados e Municípios da Região a se
estruturarem no esforço do desenvolvimento pretendido.
Na década de 50 a SPVA, auxiliada pela FGV, patrocinou seminário orientado para o
planejamento regional, baseado no conceito de regionalização numa base geopolítica e em
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

fundamentos atitudinais, intelectuais e técnicos, indispensáveis à criação da cultura do planejamento,


com ações capazes de tornar os planos exequíveis.
Naquele contexto, o planejamento consistia em controlar a intrusão de variáveis aleatórias na
busca de objetivos fixados para atingir-se um “estado” desejável.
O conceito, prematuro para a época, se deparou com as fragilidades doutrinárias, culturais e
jurídico-institucionais para viabilizá-lo em planos e executá-lo na gestão.
Em 1972, o Governo Federal criou o Sistema Federal de Planejamento que se estendeu aos
Estados e Municípios, adquirindo características de construtor burocrático, com papéis técnicos-
políticos que acumularam competências estratégico-operacionais relativas ao planejamento,
orçamento, coordenação e avaliação, em estruturais piramidais, simétricas e autoritárias que não
ensejavam a participação da comunidade.
Essa foi a época dos PND e dos “planejamentos reivindicativos”, onde se procurava atrair apoio
financeiro do centro ou inserir-se nos macro programas federais de polos ou áreas-programas.
À medida que as fontes federais de recursos e os pobres resultados das aplicações se acentuaram,
o Sistema, que não considerou as ações para tornar os planos exequíveis, se desmontava.
Essa desativação tem sido acelerada com os novos paradigmas de descentralização, com a
necessidade de definir/considerar valores, atitudes e comportamentos duradouros, com os processos
e tendências de globalização da economia, com a necessidade de se criarem novas vantagens de
competitividade, com as pressões sociais, meio ambiente-ecológicas e econômicas e com a
necessidade de contemporaneidade e modernidade do Estado e da administração pública atuando em
parceria/complementaridade com o setor privado.
A conceitualização e a proposta metodológica indicada neste documento resultam consistentes
com as exigências de planejamentos integrados em planos para a gestão com efetividade de
resultados, não como um produto acabado, mas como parte de um processo de contínuo e sistemático
aprimoramento.
O Quadro 1 apresenta elementos componentes, em um arranjo matricial, de uma proposta
simplificada, para fins ilustrativos, de planejamentos setoriais integrados em um plano de
desenvolvimento regional, para auxiliar a gestão ambiental.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

Quadro 1 Exemplo ilustrativo de uma matriz de planejamento para o gerenciamento dos recursos naturais da
Amazônia
OBETIVOS E AÇÕES E
PROBLEMAS METODOLOGIA RESULTADOS ESPERADOS
INDICADORES ESTRATÉGIAS
- Compilação, avaliação e
integração de dados e - Relatórios técnicos e científicos
Estabelecer uma base informações disponíveis - Técnicas de para três níveis de clientela ou
conceitual e técnica - Complementação de levantamento de usuários: o governo, sob cujo
para fundamentar dados e informações para dados e informações domínio se encontram recursos
programas e projetos definir uma base naturais e com funções
- Técnicas de
de conservação e específicas; o setor privado, cuja
- Banco de dados e complementação de
manejo, definido por atividade e atitude empresarial
informações em sistemas dados e informações frente ao meio ambiente deverá
sub-região
“amigáveis” e inter- - Métodos de análise ser disciplinada; a sociedade,
Indicadores: Base de operativos e síntese de dados e cujas atitudes e comportamento
Programas e dados e informações informações em
- Diagnósticos temáticos deverá ser disciplinado através de
projetos de com acesso público duas abordagens:
realizados com programas de conscientização e
intervenção Matriz de coeficientes metodologias que descritiva e analítica de educação ambiental
aleatórios técnicos de aptidão- possibilitem a integração numérica
- Conjunto de critérios técnicas de
restrição disciplinar físico-biótica - Modelos de gestão ambiental, gerais e por
Indicadores de - Integração de integração de dados domínios geográficos e temporais
conservação e de diagnósticos temáticos e informações para do ordenamento-zoneamento, os
manejo integrado de cenários estático e quais deverão ser integrados-
- Ordenamentos espaciais
ambientes dinâmico conformados ou complementados
temáticos
Mapas temáticos de - Modelos de com outros
- Zoneamentos temáticos
atributos simulação para - Conjunto de diretrizes, síntese
inter-temporais
georeferenciados e “estudo de casos” e dos critérios, especificadas por
outros - Integração ordenamento- protótipos domínios geográficos, temporais
zoneamento e atividades

- Técnicas de
- Diagnósticos levantamento de
temáticos para definir informações:
os estrangulamentos e Delphi, reuniões e
Falta de - Definição de “brainstorm”
orientar as estratégias
critérios critérios por setores, - Árvore de
de planejamento - Um sistema adequado de
adequados às por atividades e por problemas, árvore
setorial, integrado no critérios para orientar a
condições da períodos para de objetivos e
plano regional intervenção, especificados
Região para orientar a árvore de técnicas,
orientar a intervenção de - Incentivar e fortalecer conforme várias tipologias e
em sequências necessidades
intervenção maneira sustentável a parceria, a
- Ordenamento e
participação da
sociedade civil e das análise
organizações-não- hierárquica de
critérios
governamentais
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Quadro 1 Exemplo ilustrativo de uma matriz de planejamento para o gerenciamento dos recursos naturais da
Amazônia
OBETIVOS E AÇÕES E RESULTADOS
PROBLEMAS METODOLOGIA
INDICADORES ESTRATÉGIAS ESPERADOS

- Definição de critérios - Diagnósticos temáticos para


para estabelecer um definir os estrangulamentos e - Técnicas para o
sistema de monitora- orientar as estratégias de apreçamento de recursos e
planejamentos setoriais valoração de ambientes - Um sistema
Falta de critérios mento ambiental e de
integrados no plano regional adequado de critérios
para monitorar, referência na avaliação - Métodos para internalizar
para monitorar,
avaliar e ordenar de recursos - Incentivar e fortalecer a custos ambientais nas suas
avaliar e ordenar as
as ações e - Valoração para a parceria, a participação da fontes de
ações de intervenção,
aplicações de conservação criteriosa sociedade civil e das degradação/poluição
especificados
recursos organizações-não-governamen- - Métodos para internalizar conforme várias
- Valoração para o
tais na definição de critérios, na valor e custo ambiental na tipologias e
manejo
definição de um sistema de contabilidade regional e nas necessidades
- Valoração para definir monitoramento ambiental e de contas nacionais, além de
outros critérios com: um sistema de controle e nas contas do setor privado
poluidor-pagador fiscalização

Definição de critérios - Técnicas para o avaliar o - Um sistema


para fundamentar - Fomentar a cooperação, em nível de degradação adequado de critérios
instrumentos de todos os níveis, para evitar a ambiental e apreçar o custo e indicadores técnicos
controle e degradação ambiental efetivo dessa degradação e para determinar as
Altos níveis de disciplinamento - Educar para prevenir e proteger viabiliza-lo ações de prevenção,
degradação ambiental: legislação controle e restauração
- Estimular a parceria para a - Métodos para internalizar
ambiental da degradação
Definição/adequação de conservação e manejo integrado os custos ambientais nas
ambiental,
técnicas para suas fontes como forma de
- Fomentar a cooperação inter- constituindo-se
determinar os evitá-los
institucional para otimizar as necessária referência
problemas ambientais ações e estratégias de prevenção - Métodos para internalizar para instrumentos
(sensoriamento remoto, e proteção valor e custo ambiental na como os de proteção
por exemplo) contabilid. social e privada legal
Perdas e riscos - Gerar subsídios para - Fomentar a cooperação para - Técnicas para o avaliar as - Um sistema
de perdas do programas de evitar as perdas e riscos de perdas do patrimônio adequado de critérios
patrimônio prevenção e controle perdas ambiental natural e para apreçar o e indicadores técnicos
natural em das perdas - Educar para prevenir e proteger custo efetivo dessas perdas para avaliar as perdas
consequência da - Fundamentar ações da (atual potencial) do patrimônio natural
intervenção - Estimular a parceria para a e determinar as ações
educação ambiental e conservação e manejo integrado - Métodos para internalizar
aleatória de atividades os custos ambientais das de prevenção,
econômicas - Fomentar a cooperação inter- perdas e dos riscos de educação, controle e
institucional para otimizar as perdas nas suas fontes restauração da
ações e estratégias de prevenção como parte do processo de degradação
e proteção disciplinamento no uso ambiental,
constituindo-se
- Métodos para internalizar necessária referência
os custos de oportunidade para instrumentos
dessas perdas na como os de proteção
contabilidade social legal ambiental
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4.6 AMBIEN TE
O conteúdo pragmático de conceituações técnicas, tecnológicas e científicas está no seu poder
balizador de investigação e comunicação de resultados (informações) do ambiente e para o ambiente,
tido como necessária referência. Em função da especificidade dessa referência se tem a singularidade
das atividades e estratégias que se orientem para determinado ambiente. A pesquisa, p. ex. deve ser
planejada e desenvolvida em estrita correspondência com as características do ambiente, o que
contribui para garantir a endogenia dos resultados compromissados com o ambiente; esses resultados
da pesquisa deverão interpretar suas características, respeitar suas limitações e aproveitar suas
potencialidades claramente identificadas.
Assim admitido e entendido o “ambiente” considerado como uma estrutura espacialmente
definível, então será possível localizá-lo, determinar a sua extensão territorial, seus limites, suas
relações de contiguidade e suas conexões com outros ambientes que lhes sejam externos (Chorley e
Kennedy, 1971; ampliado e adequado ao texto).
Sendo o ambiente um produto da interação de diversos fatores, conflitantes, concorrentes ou
aleatoriamente (a minoria) associados, pode ser proposta a identificação e caracterização desses
fatores e a avaliação da intensidade e do sentido existente (causal, correlacional ou outro, dessa
associação) nesse urdimento de conexões abióticas, bióticas, socioeconômicas, culturais, político-
institucionais e técnicas-tecnológicas, inclusive em termos de suas variações (evolução) no passado,
visando a explicação no presente com perspectivas ou previsão/projeção para futuro. Dessa forma
fica evidente a importância da associação da territorialidade e do conceito geopolítico ao conceito de
“ambiente”, possibilitando constituir-se num roteiro para o estudo desse meio.
O conceito de ambiente é fundamental para definir o desenvolvimento regional que inclui tanto
aspectos econômicos, socioculturais e político-institucionais, como os relativos a disponibilidade,
caracterização e utilização (potencialidades) dos recursos naturais e dos sistemas naturais. Essa
multidimensionalidade ambiental tem sido, com frequência, negligenciada nos processos de
planejamento, tomada de decisão e gestão, orientadas dentro de enfoque setoriais que não consideram
a interdependência dinâmica, elemento básico na tomada de decisões.
Ao considerar a realidade de um sistema de inter-relações há diversos aspectos que devem ser
claramente conceitualizados, tais como: os elementos componentes do ambiente e das inter-relações
existentes entre tais elementos identificados, caracterizados e ordenados para orientar a investigação
e a procura de um enfoque metodológico consistente e operacional (articulado em sua base teórica e
empírica) que permita o manejo racional e integrado dessas inter-relações, com significativos efeitos
positivos na conservação de recursos e ambientes naturais.
Outros conceitos relativos ao ambiente requerem explicitações e hierarquizações, sem o que
podem constituir-se em bandeiras para uma exploração desordenada e com características de
degradação dos recursos e ambientes naturais.Alguns desses conceitos, como os de inventário,
monitoramento, e gerenciamento pela inconsistência de suas explicitações, têm permitido a
deterioração da qualidade de vida local (comunidades indígenas, garimpeiros, seringueiros,
pescadores etc.) e a intensificação de perdas da riqueza natural com a dilapidação de seus potenciais.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

O conceito de meio ambiente, apesar de intensos debates para defini-lo, ainda não é claro e
definido o suficiente quanto aos elementos componentes, limites e aspectos operacionais.
Aparentemente, as diferenças têm duas origens: quem e com relação a que se define o meio ambiente?
e qual é o nível de agregação ? (Bifani, 1980). Com relação ao primeiro aspecto, é frequente que
cada disciplina defina sua própria área e clientes alvos de interesse, e considere o “resto” como o
entorno; este enfoque tende a estar associado com o conceito de “sistema fechado”, característico da
abordagem setorial e merológica. Dessa forma, p. ex., os economistas se referem ao meio ambiente
econômico, os ecólogos, ao ecossistema; os hidrólogos, ao sistema hidrológicos, os sociólogos, aos
aspectos e valores socioculturais, e assim por diante. Se os fenômenos são inter-relacionados,
interdependentes e com dinâmicas próprias, é claro que a abordagem merológica setorial é incompleto
e insuficiente para definir uma proposta de desenvolvimento. Tampouco o agregado dessa abordagem
poderia ser suficiente quando se reconhecem alvos diferentes e se evidenciam atritos entre disciplinas
que definem diferentes ambientes, porém inter-relacionados.
Para o caso da Amazônia em especial, o ambiente sistêmico está afetado pelas potencialidades e
restrições de seu entorno, condicionantes das potencialidades, restrições e oportunidades internas.
Portanto, é necessário conhecer como? e mediante que mecanismos? essas potencialidades e restrições
interagem e se projetam. Por sua vez, o sistema afeta a seu entorno, estabelecendo-se interações e
ciclos de interesse na formulação de planejamentos e gestões no contexto do desenvolvimento.
Qualquer proposta de desenvolvimento territorial que tenha uma orientação sustentável deve
partir do funcionamento e estrutura do ambiente no contexto sistêmico o qual se mantém por
mecanismos cibernético; deve considerar que os sistemas são abertos e dinâmicos e que mudanças
em seu “estado”, induzidas pela intervenção antrópica no meio ambiente, se traduzem em
intercâmbios de estímulos que tomam a forma de fluxos de matéria, energia e informação com outros
sistemas e com seu entorno. Nesse contexto é que se planejam e desenvolvem as pesquisas para
aumentar, com consistência ambiental, o “excedente econômico” e para incorporar potencialidades
ao crescimento econômico.
O conceito de ambiente está relacionado com outros importantes conceitos como os de inventário,
monitoramento e gerenciamento. Estes, para o caso da Amazônia e pela inconsistência de suas
explicitações ou por causa da omissão em planos, têm permitido a deterioração da qualidade de vida
local (comunidades indígenas, garimpeiros, seringueiros, pescadores etc.) e a intensificação de riscos
e perdas da riqueza natural com a dilapidação de seus potenciais.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

4.7 INVENTÁRIO
Um inventário dos recursos e ambientes naturais consiste no levantamento das condições vigentes
em uma determinada ocasião, em certa extensão espacial e gerador de uma enumeração classificada
de atributos dos recursos naturais e socioeconômicos, aí existentes e avaliadas como relevantes. Essa
avaliação não compreende apenas recursos e ambientes econômicos ou com potencial econômica,
mas todos os recursos e ambientes envolvidos e que sustentam os fluxos de recursos econômicos.
Relevantes para que e para quem? Essa resposta foi omitida em muitos levantamentos e
inventários, o que favoreceu a obtenção de grande número de dados e informações obtidas sem
propósitos e planejamentos bem definidos, portanto sem valor efetivo e nem aplicação prática.
Os critérios de relevância, a escala, abrangência e/ou o nível de detalhes dos atributos no
levantamento, entre outros aspectos, são características básicas dos levantamentos que, pelos
elevados montantes de custos requeridos nos inventários ambientais, é preciso definir, de forma
criteriosa e operacional, num contexto holístico e multidisciplinar.
Essa multidisciplinaridade (a ser organizada em arranjos interdisciplinares convenientemente
integrados) está determinada pela necessidade de estudos orientados em diversos aspectos, geológico,
fisiográfico, climatológico-hidrológico, agronômico, mineralógico, biológico, sociológico,
econômico, jurídico etc., os quais deverão ser integráveis para viabilizar o ajustamento,
complementação e sentido estrutural-sistêmico da informação primária.
O que se observa, entretanto, é a atuação, nos estudos ambientais, de profissionais de diferentes
formações, em geral, com deficiências na capacidade de integração dos dados inventariados, em
muitos casos, com grande eficiência temática.
A informação primária (dados) do inventário ambiental deverá possibilitar tratamentos
consistentes e integrados. Neste sentido, é desejável especificar atributos em escalas e níveis de
detalhes comparáveis, integráveis e balanceáveis, quanto possível, que possibilitem eliminar ou
reduzir incongruências taxonômicas, que permitam inspeção das distribuições de frequência que
minimizem variações internas aos agrupamentos e que maximizem as diferenças entre os
grupamentos de dados, considerando, ainda, a distribuição espacial de dados relevantes e úteis. Para
que e para quem? Para estruturar o conhecimento necessário do espaço que possibilite a sua gestão.
As características desejáveis nos inventários de dados comparáveis em virtude de suas escalas e
níveis de detalhes equivalentes, integráveis/complementares pela sua natureza e balanceáveis/
harmonizáveis pela consistência metodológica, contribuem para explicitar e consolidar ligações ou
gradientes, definir contigüidades ou segmentações por discriminantes, e operacionalizar outras
expressões da territorialidade dos dados ambientais.
Essas expressões são necessárias para fundamentar as transformações, propostas nas ações e
estratégias políticas (fundamentos, diretrizes, critérios, objetivos e instrumentos; ver como exemplo
a Política Nacional de Recursos Hídricos –Lei no. 9.433/97), ao especificar, com a necessária
flexibilidade –no nível federal- e operacionalidade –no nível estadual e municipal- o que e por que
mudar? onde mudar? para quem mudar? como mudar? onde e quando preservar? etc.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Relevância e utilidade da informação primária que se levanta são aspectos nem sempre
considerados nos inventários dos recursos naturais.
Parte desses inventários tem se caracterizados por sua dominância temática, setorial e por
exagerado volume de informações, muitas delas desnecessárias ou de utilidade secundária, de baixa
qualidade, de pouca demanda pelo limitado campo de aplicação/utilização, descontínuas no tempo e
no espaço, de variadas metodologias e escalas, portanto não integráveis com consistência, sem
documentação para especificar os correspondentes cenários que determinaram suas características e
de difícil tratamento em banco de dados e em sistemas de informações inter-operativos.
Ao lado do inventário deverá aparecer a conceitualização dos elementos que definem as
necessidades, atuais e potenciais, de uso e consumo dos recursos. Essas necessidades se relacionam,
quando especificados os cenários prospectivos, com as potencialidades.
A integração funcional dos elementos componentes das disponibilidades, um deles é o inventário,
e dos elementos componentes das necessidades a serem satisfeitas (renda, população, infraestrutura
e perspectivas do mercado, acordos comerciais etc.) se configuram nas estruturas funcionais
econômicas (de mercado) de oferta e de demanda.
No presente documento, a conceitualização de uso e consumo de um possível acervo potencial de
recursos naturais, é propositadamente omitida, destacando apenas a conceitualização de elementos da
disponibilidade em seu aspecto potencial regional.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

4.8 MONITORAMENTO
Neste conceito está implícito o conhecimento prévio das condições ambientais vigentes (ambiente
e inventário) e a existência dos indicadores e critérios técnicos e operacionais sobre os quais se
desenvolve a monitória ambiental e a educação ambiental, entre outras atividades.
No processo contínuo e dinâmico de monitoramento de um ambiente com potencialidades
naturais, além da necessidade de conhecer o tratamento de integração da informação primária, é
importante:
a) Conhecer os procedimentos de geração dos dados para uma correta interpretação, análise
conjunta e aplicação no processo de monitoramento.
b) Conhecer a necessidade de manter e aprimorar a infraestrutura de geração dos dados como
condição da continuidade desse processo tido como eficiente: monitorar para prevenir, em lugar
de restaurar, e assegurar a conservação.
c) Avaliar as necessidades de inovações tecnológicas para o aperfeiçoamento na obtenção e
tratamento dos dados.
d) Complementar os dados territoriais com outras informações como as dos processos evolutivos,
tendências, perspectivas, oportunidades, paradigmas, riscos e ameaças, entre outras, dos
cenários externos que afetam ou poderão afetar as potencialidades regionais.
A monitória ambiental não é a simples continuação do inventário que a precede. Ela representa e
pode ser conceitualiza por várias atividades e estratégias orientadas para a qualificação técnica,
teórica e operacional de profissionais e instituições envolvidas nesse processo.
Desta forma, a monitória ambiental pode ser definida como um conjunto complexo de operações
de transformação de dados previamente inventariados, destinados a acompanhar as modificações
ambientais julgadas relevantes, oportunas e possíveis em todas as dimensões do desenvolvimento
sustentável.
É na monitória que os problemas de dependência e de especificidade tecnológica se tornam
evidentes, onde os problemas de qualificação e parcerias se evidenciam e onde as técnicas, métodos
e modelos se mostram eficientes e operacionais, ou ineficientes e não operacionais, indicando a
natureza dos ajustes ou das mudanças.
Essa eficiência e operacionalidade da monitória acenam para o próximo conceito: o gerenciamento
que tem parte do alicerce nos planejamentos integrados nos planos.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

4.9 GERENCIAMENTO
Em geral, o processo de desenvolvimento de uma região, em especial da Amazônia, dependente,
entre outros condicionantes não menos importantes, da maneira como são utilizados (técnicas-
tecnologias-sistemas em que aparecem tais recursos, intensidade e frequência de uso, distribuição
espacial e temporal, potencialidades e restrições etc.) e do manejo que se dispensa aos ambientes e
recursos naturais.
Com a utilização dos recursos naturais pautada em padrões que não são consistentes com a
capacidade de suporte do meio ambiente e com o descompasso entre a exploração para a satisfação
de necessidades humanas e a disponibilidade efetiva de excedentes desses recursos, surge a
necessidade de gerenciamento e gestão dos recursos sob pressão; essa necessidade é diretamente
proporcional ao descompasso de exploração e recomposição.
A gestão dos recursos naturais como os recursos hídricos, os recursos minerais e os recursos da
diversidade biológica e genética, deve estar necessariamente inserida na gestão ambiental, um
conceito amplo, que compreende:
a) A implementação da política de modernização e de reforma do Estado em seu aspecto gerencial.
Essa implementação pressupõe a descentralização de atividades e estratégias com
responsabilidade e a competência para definir e implementar tais ações de governos em todos
os níveis, a absorção do progresso tecnológico, adequado em cada caso, e do progresso
gerencial e capacitação dos organismos de planejamento, execução e gestão (fortalecimento
institucional) de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável.
Está implícito nessa política de modernização com a gestão de ambientes e recursos naturais a
confluência de inúmeras disciplinas associadas aos campos das ciências naturais, sociais e
econômicas, entre outras, dispostas em arranjos interdisciplinares da P&D. Pela sua
importância no diagnóstico de potencialidades o aspecto da pesquisa é destacado neste
documento.
b) A definição, caracterização e hierarquização de prioridades, visando o controle de problemas
que requeiram maior urgência de tratamento, menor custo de investimento e maior benefício
social e para o meio ambiente.
c) A adequação de planos de investimento à efetiva capacidade de realização dos executores de
projetos e atividades de gestão do meio ambiente na Região.
d) O monitoramento e aferição de processos e resultados, produtos e serviços (Quadro 1),
equanimidade na distribuição espacial dos investimentos, conforme critérios adequados e as
possibilidades de avaliação e controle sobre a aplicação dos recursos públicos.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

Com a gestão se procura obter e garantir quanto possível (essa possibilidade é grande, conforme
se indica no planejamento estratégico e participativo) a adequação dos meios de exploração e
explotação dos recursos disponíveis às especificidades e às possibilidades socioeconômicas e do meio
ambiente regional.
A gestão se desenvolve com base em princípios, fundamentos, diretrizes e critérios previamente
acordados e/ou definidos pelos correspondentes estudos com seus resultados internalizados nos atores
do desenvolvimento (Quadro 1).
A gestão ambientalmente sustentável é um processo dinâmico em que recursos financeiros,
desenvolvimento tecnológico, crescimento econômico e arranjos político-institucionais (das esferas
federal, estadual e municipal, bem como dos setores público e privado) estão (deverão estar) em
harmonia e propiciam (propiciarão) o crescimento, em bases sustentáveis, de forma gradativa, segura
e distribuída. A intensidade desse processo vai depender do nível de segurança (conhecimento,
vontade e decisão política) que se tenha acerca dos componentes considerados no planejamento.
A forma como se realiza a gestão ambientalmente sustentável e otimizada deverá incorporar os
potenciais e considerar a redução de limitações do meio ambiente, às atividades socioeconômicas e
às necessidades e aspirações humanas do presente, sem comprometer a capacidade das futuras
gerações de atender às suas próprias necessidades. Daí porque a velocidade do processo é
condicionada ao conhecimento prévio (“estado da arte”) de potencialidades e de restrições.
Conforme já conceitualizado na proposta de desenvolvimento sustentável e quando traduzida ao
nível de gestão, da articulação implícita no gerenciamento, fazem parte:
a) A política ambiental: fundamentos, princípios doutrinários, diretrizes e instrumentos gerais e
flexíveis, no nível federal, e específicos-operacionais, no nível regional e local, para subsidiar
os administradores na implantação desses fundamentos e princípio, o que ocorre na gestão.
b) O planejamento ambiental: estudos prospectivos e processos iterativos de análise de
oportunidades e de ameaças dos cenários internos e externos, para a definição de objetivos
estratégicos.
c) O gerenciamento ambiental: trata-se do conjunto de ações destinadas a disciplinar o uso,
monitorar os processos, controlar, manejar e conservar os recursos e ambientes naturais, e para
avaliar a conformidade da situação corrente com prescrições da política e legislação ambiental,
ou o conjunto de procedimentos de inspeção e controle com o qual se procura direcionar, com
base em critérios, a utilização dos recursos inventariados e sob monitoramento. Esse
direcionamento está fundado, entre outros aspectos, na capacidade de suporte ambiental às
intervenções, como condicionante da sustentabilidade de atividades e processos.
A capacidade de suporte ambiental, considerada no gerenciamento, diz respeito à possibilidade de
que determinadas atividades possam ser exercidas, quando imprescindíveis, sem comprometer, de
maneira grave e irreversível no futuro, “estados” de qualidade e quantidade do sistema natural e seu
potencial.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

A diversidade de componentes a integrar no planejamento e a executar na gestão, o sinergismo


dos elementos em um dado componente e a complexa interdependência de componentes de um
sistema e de elementos dentro de cada sistema permitem, pelo menos do ponto de vista conceitual e
metodológico, diferenciar diversos tipos de planejamento para diferentes formas de gerenciamento (a
serem integradas), conforme sejam as áreas de atuação.

4.10 REGIONALIZAÇÃO E CONCE ITOS A ELA


ASSOCIADOS
O conceito de regionalização se relaciona com outros conceitos como os de planejamento
regional, economia regional, organização (visão estática), ordenamento (visão dinâmica), território
e territorialidade, entre outros, definidos no contexto do desenvolvimento regional, não como
sinônimos ou equivalentes, mas pelos nexos de efeitos-causas, conseqüências e interdependências
observadas ou implícitas nesses conceitos.
A regionalização é o processo pelo qual segmentos de um dado território se transformam, em
função de condições particulares de recursos naturais e humanos que se combinam de forma a
produzir um espaço assim regionalizado (IBGE, 1996). Esse processo é constituído pela aplicação
física de coleta, tratamento e interpretação de estatísticas, bem como pela aplicação intelectual na
formulação de taxonomias.
Estreitamente relacionado com o conceito de regionalização tem-se o conceito de
desenvolvimento. Em textos de economia regional, tais conceitos são integrados para definir o
desenvolvimento de um território organizado, como é o caso da Amazônia.
Esse conceito agregado, segundo Boisier (1999; ampliado e adequado ao texto), depende da
articulação e das condições de manejo de seis elementos:
- os atores, que para o caso tratado neste documento, foram relacionados e agrupados (ver
parte 3) em dois conjuntos: internos e externos;
- as instituições, uma delas, é a de pesquisa, destacada pelo seu papel fundamental no
desenvolvimento;
- os aspectos culturais e sociais, com seus valores a serem preservados e enriquecidos com
novas informações, com a valoração e com o resgate dos mesmos;
- a gestão, relacionado com conceitos básicos como os de “estado” e “mudanças”;
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

- os recursos, que compreendem a maior biodiversidade com grandes potenciais


evidenciados pela biotecnologia, além do maior sistema hidrológico e uma grande diversidade
de culturais;
- o entorno e suas complexas inter-relações globais na definição de ciclos e “estados”.
Conforme a discussão apresentada neste documento em torno do conceito DS, esses elementos
podem interagir de maneira densa e disciplinada ou difusa, desarticulada e caótica, sistêmica,
integrável e sinérgica ou aleatória, não-complementar e em atritos entre atores e setores, segundo
sejam os mecanismos de intervenção no desenvolvimento territorial e a capacidade de tolerância e
recomposição desses ecossistema.
O desenvolvimento regional é o resultado, principalmente, de interações densas e inteligentemente
articuladas, mediante projetos coletivos de acordos e confluências de interesses, não necessariamente
de consenso, mas se de parcerias, compartilhamentos e solidariedades. Do contrário, não se terá senão
caixas pretas, com conteúdo, estruturações e funcionamentos desconhecidos em suas causas, efeitos
e interações, sem condições para construir o pacto do desenvolvimento.
Todos os elementos anteriormente relacionados do desenvolvimento regional devem ser estudados
caso a caso para, conforme condicionantes e influências, diretas ou indiretas, como as da globalização
no espaço da Amazônia, definir os processos de desenvolvimento regional “endógeno globalizado” e
“holístico-merológico”. A parte que segue apresenta uma síntese dos atores da regionalização.

4.10.1 Atores da regionalização


Em relação aos atores e agentes do desenvolvimento regional, atuais e esperados no futuro, é
necessário identificá-los e caracterizá-los dentro de suas respectivas áreas, cenários e inter-relações,
conforme tipologias convenientes à Região, utilizando adequados descritores que os definam pelas
suas funções, processos produtivos e produtos (considerar, nestes, os subprodutos e as externalidades
negativas sobre o meio ambiente, a degradação, poluição, riscos e perdas, atuais e potenciais, dos
recursos naturais, entre outros subprodutos socialmente indesejáveis), bem como pelas projeções e
posições de poder e influência no local e na Região.
Mediante essa caracterização se conhece a estrutura de poder regional e, com base nesse
conhecimento, se planejam as estratégias para o incentivo da participação, da cooperação, da
disposição para formar parcerias e para a prevenção ou minimização de conflitos.
A caracterização de atores na Região (individuais, corporativos, coletivos etc.) em termos dos
ethos 22 de cada categoria, permite definir estratégias de transferência e difusão de informações e
tecnologias consistentes com tais ethos; comportamentos e atitudes associadas com a conservação,
proteção e prevenção de danos ao meio ambiente; comportamento do empresário em relação a
22
São características que podem determinar ou orientar condutas, ações, reações e posições de atores e agentes do
desenvolvimento regional. No caso do empresário do setor madeireiro, p. ex., é de interesse investigar se existe elementos
comportamentais associados com certa lealdade ao lugar, compromisso com a proteção de “estados” de qualidade ambiental
e disposição para contribuir na solução de questões sociais no local
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

lealdade e comprometimento com o lugar; capacidade e/ou habilidade de articulação e associação


lógica coletiva etc. Os estudos de caracterização são importante para descobrir a regionalidade das
demandas dos diferentes atores e setores em que atuam e se projetam tais agentes.

4.10.2 Instituições da regionalização


Dos diversos aspectos das instituições que concorrem para definir o desenvolvimento territorial
um é destacado para a Amazônia: a instituição de pesquisa orientada para o desenvolvimento
sustentável.
Em termos gerais, para a avaliação da instituição regional de pesquisa, entre os aspectos que
interessam, relacionam-se os seguintes: a capacidade de ajuste à realidade e aos condicionantes
internos e externos (flexibilidade indispensável para a continuidade do processo de desenvolvimento);
a velocidade que se torna indispensável para entrar e sair de acordos e redes, para aproveitar
oportunidades no mercado e para explorar potencialidades virtuais; a inteligência institucional que
diz respeito a capacidade de apreender e estabelecer articulações e parcerias com outras instituições;
e a virtualidade, vista como condição para configurar arranjos estratégicos e proceder a operações ad
hoc diante de situações específicas.

4.10.3 Aspectos culturais da regionalização


O elemento da cultura regional apresenta diversas fases em diferentes níveis. No caso da cultura
do desenvolvimento, p. ex., essas fases podem definir-se entre a cultura da competitividade individual
capaz de gerar crescimento, porém não necessariamente desenvolvimento ou gerar crescimento com
concentração, até a cultura cooperativa e solidária, capaz de gerar equidade sem crescimento. Nesses
extremos, é importante descobrir uma forma de cultura de crescimento econômico competitivo,
sustentável e equitativo, o que naturalmente ou sem o necessário disciplinamento, não ocorre.

4.10.4 Recursos na regionalização


As vantagens comparativas da Amazônia estiveram sustentadas nos recursos naturais e mão-de-
obra barata.
O desenvolvimento regional, baseado em vantagens competitivas, requer novos recursos
acrescidos aos tradicionais como os recursos naturais, equipamentos de infraestrutura, recursos de
capital etc. Os novos recursos estão constituídos de capital social, não apenas em quantidade, mas
sobretudo em qualidade, vinculação regional, contemporaneidade, conscientização, mobilização etc.;
recursos da informação para gerar o conhecimento como fator fundamental para o desenvolvimento
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

(sociedade do conhecimento, segundo Drucker, 1993).

4.10.5 Elementos de gestão na regionalização


A gestão compreende, entre outros aspectos, um conjunto de procedimentos que se desenvolvem
no “governo territorial”. Esse conjunto interpreta e permite o exercício da autoridade dentro de
modernos paradigmas (a descentralização é um deles), da capacidade de liderança que se manifesta
pela competência e da tomada de decisões em diversas instância da administração com claros e
definidos elos e complementaridades.
Um aspecto que se destaca neste documento é o relacionado com a gestão do meio ambiente
(entorno) e os recursos naturais.

4.10.6 Entorno na regionalização


Os recursos naturais e o entorno externo são elementos principais do desenvolvimento territorial
da Amazonas. O meio externo é configurado pela multiplicidade de atores e setores, nacionais,
panamazônicos e mundiais como os quais a Região Amazônica se articula ou determinada e recebe
influência; em muitos deles não se tem adequado controle para o planejamento e gestão, mas, apenas
e para alguns casos, certa capacidade de influencia-los.
No estudo das potencialidades da Amazônia é necessário priorizar os diversos elementos do
desenvolvimento que interagem na “malha da territorialidade”. Tais elementos se vêm consolidando
mediante a afirmação do controle, do monitoramento e do poder sobre o território.
O “Projeto de Potencialidades Regionais da Amazônia” faz parte desse processo de consolidação,
em seu aspecto de conhecimento efetivo dos recursos naturais para a sua valorização, proteção e
ocupação racional desse cobiçado espaço. Por esse meio, reafirma-se a importância de a definição de
novas formas de planejamento para o gerenciamento territorial, com base na adequação das formas
de intervenção às características específicas das identidades de base territorial. Essa adequação
responde, em essência, os condicionantes e características dos elementos do desenvolvimento
territorial.
É oportuno indicar a pertinência das considerações de valorização do complexo espaço amazônico
(Ajara, 1992) no desenho de um projeto adequado de gestão, não só pela territorialidade diretamente
articulada com o espaço transnacional, como também, por outros fatores. Desses fatores destacam-se
as forças locais vinculadas a movimentos sociais e econômicos, entre outros, globalmente expressos
e apoiados por organismos financeiros transnacionais e entidades ambientalistas, e pelo fato da
Amazônia ter-se erigido um motivo de debate mundial de “ecologistas” com apelos para a sua
proteção e preservação. Neste sentido, a ocupação racional, fundada numa gestão voltada para a
complexidade da organização territorial e para a problemática dela decorrente, internalizando a
diversidade meio ambiente-ecológica, econômica e sociocultural, articulada aos elementos fixos,
torna-se uma exigência de política ocupacional e um compromisso nacional para sustentar a posse,
perante o debate mundial, desse patrimônio natural, econômico e sociocultural.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Como sustentá-la? Pelo poder da racionalidade e das novas vantagens, pela eficiência gerencial
que passa pela eficácia do planejamento; pela informação e pelo conhecimento dessa realidade para
fundamentar a conscientização pública de sua conservação e manejo racional.
Parte desse processo está na economia regional vista como o estudo da diferenciação e inter-
relação de áreas em um universo, onde os recursos estão distribuídos desigualmente e são
imperfeitamente móveis, com ênfase particular na aplicação ao planejamento dos investimentos em
capital social básico (gerar os ativos intangíveis da sociedade do conhecimento), para mitigar os
problemas sociais criados por essas circunstâncias (Dubey, 1970, modificado).
Ao considerar as influências diretas e indiretas da globalização no espaço da Amazônia, é
necessário priorizar, na perspectiva das ações e estratégias (re)ordenadoras que se aplicam ao caso, a
malha da territorialidade que se vem consolidando de afirmação do controle, do monitoramento e do
poder sobre o território.
O Projeto de Potencialidades Regionais faz parte desse processo de consolidação, em seu aspecto
de conhecimento para a valorização, proteção e ocupação racional desse cobiçado espaço.
Outros conceitos que fundamentam os modelos de regionalização são o espaço e a região.

4.11 REGIÃO E ESPAÇO


A região forma uma identidade apresentando características semelhantes, ou apresenta-se como
um campo de forças que atrai os fatores de produção, dispõe de recursos e potencialidades e organiza
seu espaço. A região se relaciona com outras regiões, dentro e fora do País em que se insere (Souza
1995 e Ferreira 1989). Esse relacionamento, para o caso da Amazônia, é favorecido pelos eixos de
desenvolvimento em torno dos quais ocorre a expansão.
A maneira como se relaciona a região alvo com outras regiões poderá determinar novas vantagens
(dinâmicas) a serem adicionadas às vantagens comparativas estáticas. Nesse sentido e para o caso
tratado neste documento, a região amazônica apresenta corredores e outras formas que determinam
parte das condições em que deverão desenvolver-se os processos orientados para o aproveitamento
racional e sustentável das potencialidades, conforme contextualizado, na parte de modelos, neste
documento.
O espaço diferencia-se da noção de região pela restrição de contiguidade. A região se apresenta
como um espaço contínuo, delimitado por uma fronteira como é o caso da Amazônia Legal definida,
para os propósitos geopolíticos, por um instrumento legislativo.
Essa definição tem outras dimensões de tal forma que o espaço transcende fronteiras pelos
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

corredores e meios de integração-definição, às vezes naturais, presentes na região amazônica.


O espaço econômico de um centro ou polo industrial, por exemplo, poderá ultrapassar as fronteiras
político-administrativas (regionais e nacionais) daquilo que constitui a região. Esse espaço poderá
mostrar-se, como no polo industrial de Manaus, descontínuo porque intercala a área de influência de
outros centros ou polos e porque persistem as desvantagens locacionais.
Ao tratar o conceito de região é possível estabelecer grupos de interesses para o planejamento
como:
a) Região homogênea caracterizada pela semelhança dos elementos componentes de cada uma
de suas estruturas (Boudeville, 1972). Essa relativa homogeneidade é definida por descritores.
Quais seriam essas estruturas? A definição de estruturas e de sistemas componentes de uma
região está relacionada com o propósito da regionalização. Em geral esses componentes
poderão ser de natureza climática (com seus elementos ou atributos de temperatura, chuva,
ventos etc.), solos (topografia, atributos agronômicos de fertilidade, físicos etc.), vegetação
(com inúmeros atributos, tipologias ou taxonomia), econômicos (renda per capita, emprego,
indústrias, infraestruturas etc.), sociais (indicadores vitais, composição, migração etc.), meio
ambiente-ecológicos (com inúmeros atributos), institucionais, tecnológicos etc.
Para o ordenamento, classificação e grupamentos (zoneamento) de sub-espaços homogêneos
quanto a determinados descritores se dispõe de técnicas, métodos e modelos definidos, entre
outros, na abordagem da análise numérica. Parte dessas ferramentas é proposta neste
documento para avaliar potencialidades.
b) Região polarizada caracterizada a partir de polos que organizam sua área de influência e onde
está implícita a noção de hierarquia entre o polo principal e os centros ou polos secundários
subordinados, de dimensões variáveis (Boudeville, op. cit.).
A região polarizada constitui um espaço heterogêneo, com a presença de unidades econômicas
e demográficas de dimensões variadas e hierarquizadas, sob a influência do polo principal.
c) Região plano que pode ser homogênea ou polarizada, conforme os objetivos de política, sendo
afeta a um problema específico, como é o caso da Região Amazônica.
O objetivo da região-plano é estabelecer políticas regionais, visando reduzir disparidades, criar
novos empregos, aproveitar melhor e de forma sustentada a disponibilidade e potencialidade regional
de recursos naturais, melhorar indicadores econômicos, sociais e meio ambiente-ecológicos, reduzir
“bolsões” de pobreza, ocupar, com racionalidade, o espaço para amenizar as pressões ambientalistas
etc.
Para atingir esses objetivos (nem sempre confluentes ou “amigáveis”) os governos (federal
estaduais e municipais), com ações planejadas e operacionalizadas em conjunto e dentro da
competência de cada um, poderão conceder incentivos, criar mecanismos de financiamento e
investimento e facilitar a execução de programas regionais.
Todas essas ações requerem de um sistema de informações e de infraestruturas legais e
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

econômicas eficientes e atrativas para incentivar os projetos de desenvolvimento, dentro de


adequados critérios que propiciam a sustentabilidade das ações do desenvolvimento.
É importante frisar que a definição com precisão de regiões-planos é um problema
comparativamente menor.
Determinar as causas das disparidades espaciais que se agravam com o crescimento desigual,
torna-se de especial interesse na análise regional das potencialidades. Nessa determinação, quando
especificada a intensidade, causalidade, tendência e orientação das desigualdades, a informação
reveste-se de fundamental importância para a política de desenvolvimento, permitindo melhor
especificar e dosar os instrumentos e critérios dessa política.
O Quadro 2 que é uma síntese de informações apresentadas por Haggett (1965), mostra modelos
de três estágios para a análise de sistemas regionais, os quais poderão constituir-se numa referência
para teste, validação e complementação do Projeto de Potencialidades Regionais da Amazônia.
Outras referências para o Projeto, bastante difundidas e recomendadas, são os modelos de
regionalização que aglutinam modelos específicos de impactos de projetos industriais espacialmente
distribuídos. Um deles denomina-se Modelo Acumulativo de Causalidade de Myrdal (FGV/ISAE,
1997), apresentado na Figura 5.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

Quadro 2 Modelo de três estágios para análise dos sistemas regionais a


ESTÁGIO I ESTÁGIO II ESTÁGIO III
DIFERENCIAÇÃO DE FORMA DIFERENCIAÇÃO DE FORMAS
SISTEMAS DE IDENTIFICAÇÃO
(ESTÁTICA) (DINÂMICA)
Número {0, 2 } 0 1 3 4 {4, 0}
Sistemas regionais
Gradiente de Ondas de inovação
Cidade Cidades Realimentação
densidade da área Movimentos de
Forma Rede de transporte interna
(Eixo polar) Povoados de influência fronteira
urbana Sistemas inter-
Ocupação sucessiva
regionais
Hierarquias Sistemas de Intensidade de uso Realimentação
Geografia Reg. Urbana Colonização
Urbanas comunicação da terra externa

Análise
ordem- Análise da Análise matricial
Taxonomia superfície de
tamanho Análise grafo- Simulação física Análise de fatores
numérica tendência
Análise do teórica Modelos de Monte
Técnicas Resíduos Análise de entrada
vizinho Conectividade Análise harmônica Carlo e saída
analíticas locais
mais Geometria das Análise de Fourier Modelos em cadeia
Análogos Programação
próximo redes de Markov
regionais Modelos linear inter-
Análise gravitacionais regional
quadrática
Teoria da
Modelos de
localidade
absorção
central Modelos de
Hierarquias Modelos de rede Modelos de Modelos de difusão
Modelos de climaxes regionais
regionais Modelos de grafos oportunidades Modelos de
Modelo gravidade Multiplicadores
Regiões aleatórios intermediárias migração
Espacial Modelos regionais
funcionais e Modelos Modelos de Von Modelos de
Weberianos Polos de
formais geodésicos Thunen colonização
Modelos crescimento
Modelos de
básicos e
potencial
não-básicos

Teoria dos Modelo de menor Teoria de sistemas


Teoria de Teoria epidêmica
conjuntos esforço gerais
Fontes decisão Teoria dos grafos Teoria de difusão
principais Modelos de Modelos de Teoria do
Taxonomia Projeto de energia mínima Teoria do rumor
de organização comércio inter-
Análise circuitos
modelos Teoria de Modelos de Modelos de regional
espaciais discriminant Teoria de pesquisa potencial colonização e
acondiciona Modelos
e sucessão
mento Teoria de jogos multiplicadores
a
Fonte: Haggett (1965)
Ainda que o modelo requeira atualizações, já que foi formulado há mais de três décadas e proposto para economias mais desenvolvidas,
pode ser considerado como uma “boa” referência e ponto de partida para a reflexão e atualização.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Localização de nova
indústria

Expansão da demanda Medidas para


de mão-de-obra e da Desenvolvimento das melhorar a infra-
população local economias externas pelos estrutura para a
formadores da produção população e o
desenvolvimento
industrial: estradas,
terrenos para
fábricas, serviços
Aumento da oferta de públicos de saúde,
mão-de-obra local saneamento etc.
Desenvolvimento de indústria
industrial qualificada auxiliar para o abastecimento
inicial como insumos

Atração de capitais e
empresas para explorarem a
demanda em expansão de Expansão das indústrias de serviços e Expansão geral da
bens e serviços produzidos outras que servem o mercado local riqueza da comunidade
no local

Figura 5 Modelo de regionalização acumulativo de causalidade de Myrdal a


a
Fonte: FGV/ISAE (1997)
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

4.12 FUNDAMENTOS, PRINCÍPIOS E


DIRETRIZES DE POLÍTICA
Três conjuntos de conceitos, princípios e diretrizes de política são relacionados nesta parte: os
relativos aos recursos hídricos, os pertinentes a biodiversidade e os concernentes a dimensão de
pesquisa e desenvolvimento.

4.12.1 Síntese da Política de Recursos Hídricos


Tradicionalmente os recursos hídricos brasileiros foram geridos por seus usuários de forma não-
integrada, setorial e com objetivos e responsabilidades muitas vezes conflitantes entre setores, em
função dos atritos de interesses, objetivos e técnicas de utilização empregadas por esses usuários, em
setores como: irrigação, abastecimento domiciliar, abastecimento industrial, saneamento, geração de
energia e outros. O resultado é uma diversidade de intervenções sem coordenação, em conflitos e por
vezes agressivas ao meio ambiente.
O ordenamento jurídico não estimulou a integração de ações e estratégias da gestão dos recursos
hídricos. O Código de Águas e a própria Constituição Federal atribuem o domínio das águas de
superfície em função exclusivamente de características do curso de água, ignorando o fato relevante
de este pertencer a uma realidade geográfica sistêmica, mais ou menos complexa, constituída pela
bacia hidrográfica da qual não deveria ser dissociada. Tampouco deveriam ser dissociados, na
distribuição, uso e gestão dos recursos hídricos, os aspectos intrínsecos de qualidade e quantidade
desses recursos.
No modelo tradicional de gestão ignora-se, também, a interdependência de domínios e usos dos
recursos hídricos. O resultado é a existência, em uma unidade geográfica, de domínios diversos para
as suas águas. Esse resultado adquire maior complexidade ao considerar o caso da Bacia Amazônica,
onde com o deslocamento das águas, ao longo do espaço, uma massa de água de domínio de outros
países da região amazônica, se torna federal ao ingressar ao País. Ainda nesse complexo sistema
hidrográfico, uma massa de água de domínio estadual poderá tornar-se federal, ao sair de um curso de
água e ingressar no rio Amazonas do qual o primeiro é tributário.
O resultado final, favorecido pelo cenário que começa a mudar com a Política Nacional de
Recursos Hídricos -PNRH, é uma má alocação que favorece o desperdício e contaminação/poluição
dos recursos disponíveis impede uma ação com maior efetividade do Poder Público e faz que haja
problemas de escassez de água, com qualidade apropriada, ainda na Região Amazônica e no País que
dispõe dos mais abundantes recursos hídricos endógenos do mundo.
Os fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos da política de recursos hídricos em nível de
bacia hidrográfica poderão apresentar variações de uma a outra região do País. Essas variações
relativas dependem:
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

a) Principalmente das características físicas do meio ambiente hidrológico e de condições


socioeconômicas, político-institucionais e “estado da arte do conhecimento” em termos de
dados e informações hidrometeorológicos.
b) Da sensibilidade de planejadores e tomadores de decisão para caracterizar os problemas e
vulnerabilidade no setor de recursos hídricos, definir objetivos, propor modernos e executáveis
planos diretores de bacias hidrográficas e de sistemas de gerenciamento com adequadas e
convenientes diretrizes e instrumentos de gestão desses recursos.
Entretanto, todas essas definições e propostas integráveis em planos diretores de desenvolvimento,
deverão ter como base conceitual os fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos gerais e
flexíveis definidos pela PNRH.
A referência consultada para contextualizar esta parte foi a Lei no. 9.433, de 8 de jan. de 1997 a
qual institui a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) que em seu Título I define os
fundamentos, objetivos e instrumentos dessa Política; no Título II, cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos com seus objetivos e estrutura, estabelece a composição e as
competências dos organismos que o integram e fixa as diretrizes para o gerenciamento; e no Título III,
estabelece disposições finais que regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal 23 e
altera o art. 1o. da Lei no. 8.001, de 13 de março de 1990 que trata da compensação financeira.
A PNRH visa assegurar o uso integrado e harmônico dos recursos hídricos, para a promoção do
desenvolvimento e bem-estar sustentável da sociedade, com fundamentos modernos, tais como o
direito de todos ao acesso desses recursos, como um bem de domínio público, e a observação de
critérios econômicos, sociais e meio ambiente-ecológicos na alocação desses recursos, ao reconhecê-
los como recursos naturais limitados, dotados de valor econômico os quais deverão proporcionar o uso
múltiplo com prioridade, em situações de escassez, para o consumo humano e a dessedentação de
animais.
Estabelece-se também como fundamentos que a bacia hidrográfica deve ser a unidade territorial
para a implementação da PNRH e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, devendo ser a gestão descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos
usuários e das comunidades.
A PNRH representa um significativo avanço na administração pública e uma moderna referência
para os Estados e a sociedade conscientizada e organizada para a gestão desses recursos.

23
O inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal diz: “Compete a União: instituir sistema nacional de gerenciamento de
recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso”. O art. 1 º da Lei no. 8.001 de 13 de março de 1990,
trata da distribuição mensal da compensação financeira com a definição de percentuais aos Estados, Municípios,
Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica –DNAEE e Ministério da Ciência e Tecnologia
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

A parceria do Poder Público, dos usuários e da comunidade organizada na gestão deverá dispor
(buscar) os meios necessários para a implementação e implantação da Política, com endogeneidade e
apropriabilidade ou conveniência local e regional.
Sob o ponto de vista conceitual, a PNRH:
a) Institui e representa uma política estruturada com fundamentos, objetivos e instrumentos gerais,
relativamente flexíveis e de referência contemporânea, para sua implementação na bacia
hidrográfica.
Em nível de bacia hidrográfica, a Política deverá contemplar diretrizes específicas de ações e
estratégias para sua implementação regional, bem como ações definidas e meios necessários e
adequados a cada caso para a implantação dos instrumentos dessa Política. Na síntese destacam-
se os seguintes instrumentos, com anotações orientadas para a Bacia Amazônica:
a.1) Os Planos de Recursos Hídricos, definidos como Planos Diretores que visam fundamentar
e orientar a implementação da PNRH e o gerenciamento desses recursos, devendo ser
elaborados por bacia hidrográfica (plano diretor de bacia), por Estado (plano estadual de
recursos hídricos) e para o País (Plano Nacional de Recursos Hídricos). São os instrumentos
de planejamento mais importante dessa Política, elaborados para longo prazo, com
horizontes de planejamento compatíveis com o período de implantação de seus programas e
projetos (Figura 4), com o seguinte conteúdo mínimo:
a.1.1) Diagnósticos setoriais e temáticos da situação atual dos recursos hídricos, a serem
integrados pela abordagem holístico-sistémica. Esse diagnóstico deverá compreender as
atividades dos territórios amazônicos situados nos correspondentes países o que
pressupõe a efetividade de ações e estratégias da diplomacia brasileira e dos fóruns
pertinentes.
a.1.2) Análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades
produtivas e de modificações dos padrões de ocupação e de manejo do solo. Para o caso
da Amazônia é de especial interesse a análise e estudo de atividades produtivas e de
modificações dos padrões de ocupação e de manejo dos recursos florestais.
a.1.3) Balanço entre disponibilidades e necessidades, atuais e futuras, dos recursos hídricos,
compreendendo aspectos indissociáveis de quantidade e qualidade, com identificação e
caracterização de conflitos atuais e potenciais, em nível panamazônicos.
a.1.4) Metas exequíveis de racionalização de uso, aumento de quantidade e melhoria da
qualidade dos recursos hídricos disponíveis, com especificação das medidas a serem
tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados, para
atendimento dessas metas previstas no Plano Diretor de bacia hidrográfica e integradas
no Plano Nacional de Recursos Hídricos.
a.1.5) Prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos conforme critérios
técnicos e socioeconômicos de possibilidades e de ordenamento contemplados e
operacionalizados no Plano Diretor de bacia e no plano de desenvolvimento regional.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

a.1.6) Diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, conforme
condicionantes e cenários característicos de cada caso.
Em termos gerais, pela grande disponibilidade (oferta) e reduzida necessidade (demanda)
de recursos hídricos na Amazônia, as diretrizes e critérios para a cobrança pelo seu uso
poderão ser instrumentos dispensáveis, pelos menos no curto e mediano prazos, do
conteúdo mínimo de um plano diretor de bacia hidrográfica.
Entretanto, para determinados tributários do rio Amazonas e sob certas condições de
atendimento de necessidades, o instrumento deverá ser implementado para coibir a
extensão de feitos negativos como os da poluição do extrativismo mineral, constituindo-
se indispensável nessa sub-bacia.
a.1.7) Propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos
recursos hídricos em seu aspecto conjunto e integrável de qualidade e quantidade. Neste
sentido já se registram alguns avanços como os da legislação do Estado de Pará (Lei no.
5.630, de 20 de dez. de 1990, que estabelece normas para preservação dos corpos
aquáticos, mediante o plantio ou manutenção de matas ciliares, 24 entre outras.
Para o caso particular da bacia Amazônica, o manejo holístico como um recurso finito e
vulnerável, ainda para a maior concentração desses recursos no mundo, e a integração de
planos e programas hídricos setoriais aos planos econômicos e sociais nacionais e
transnacionais, são medidas de importância fundamental.
Para este propósito é necessário criar as condições necessárias, nos fóruns pertinentes, de
percepção da água como parte integrante dos sistemas socioeconômicos e dos ecossistemas
em cada um desses territórios da bacia, e um recurso natural dotado de valor econômico e
social cujas quantidades e qualidades determinam a natureza de sua utilização e manejo.
O manejo integrado dos recursos hídricos na bacia amazônica, inclusive a integração de
aspectos básicos relacionados a terra, à água e à biodiversidade, deve ser feito ao nível de
bacia como um todo (macro economológico) com o concurso efetivo dos países
panamazônicos, procurando diversos objetivos, tais como: promover uma abordagem
dinâmica, interativa, iterativa e multissetorial da conservação e do manejo desses recursos,
mediante a elaboração de planos diretores compartilhados entre os países para a proteção,
conservação e manejo sustentável e racional desses recursos, baseados nas necessidades e

24
Mata ciliar e floresta de galeria são conceitualizadas como uma floresta mesofítica, de qualquer grau de caducidade, que
orla um ou os dois lados de um curso de água em uma região onde a vegetação do interflúvio não é floresta contínua. A
mata ciliar é mais estreita do que a floresta de galeria (Glossário de ecologia, 1988)
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

prioridades das comunidades ribeirinhas, dentro dos quadros de políticas dos países
panamazônicos.
Essa integração pode ser definida em níveis setoriais como os dos sistemas de informações
hidrometeorológicas e programas de navegação fluvial, entre outros objetos de cooperação
internacional que já apontam em convênios e acordos.
a.2) A outorga de direitos de uso de recursos hídricos para assegurar o controle quantitativo e
qualitativo dos usos desses recursos e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água.
É um instrumento pelo qual o usuário recebe uma autorização (quando o uso de águas
superficiais e subterrâneas é de utilidade pública, independente da magnitude de vazão
possível da fonte a ser derivada), ou uma concessão (quando o uso não é de utilidade pública
e requer vazões superiores às definidas em lei como “pequenas captações”), ou ainda uma
permissão (quando a utilização não se destina ao uso público e ao mesmo tempo, requer
“pequenas captações”, em relação ao fluxo médio do manancial superficial, à capacidade de
armazenamento do reservatório ou à vazão explotável do aquífero subterrâneo), conforme
seja o caso, para fazer adequado e criterioso uso racional da água.
Este direito é consagrado na Constituição Federal (art. 26, I) e no Código de Águas (art. 2o.
e art. 8o. do Decreto-lei no. 852 de 11 de nov. de 1938), bem como em constituições e
legislações estaduais (Ex. Lei no. 5.807, de 24 de jan. de 1994 do Estado de Pará, quando ao
criar o Conselho Consultivo da Política Minerária e Hídrico, estabelecem objetivos e
competências de uma outorga de direito de uso), visto como um ato do poder executivo,
devendo ser implementado de acordo com certos procedimentos e condições características
de cada bacia hidrográfica, região e Estado, assim como por atos pertinentes, a serem
definidos, nos níveis Federal, Estadual, do Distrito Federal e Municipal, de forma articulada.
A Lei no. 7.663/91 estabelece normas para a outorga do direito de uso dos recursos hídricos
dispondo que a implantação de qualquer empreendimento que requer a utilização de recursos
hídricos, superficiais ou subterrâneos, a execução de obras e serviços que alterem o regime,
qualidade ou quantidade dos recursos hídricos, dependerá de prévia manifestação,
concessão, autorização ou permissão dos órgãos e entidades competentes em cada uma das
modalidades acima conceitualizadas.
Considera, também, que a derivação de água de seu curso ou depósito, superficial ou
subterrâneo, para fins de utilização no abastecimento urbano, industrial, agrícola e outros,
além do lançamento de efluentes nos corpos d’água, dependerá de cadastramento e da
outorga do direito de uso de água.
A utilização de águas por particulares, seja para usos consuntivos ou usos não-consuntivos,
constitui uma transferência de um bem do Poder Público para o poder privado, sendo de
competência indelegável, sustentada em legislação específica, do Poder Público.
O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos deverá ser definido em termos
técnicos/tecnológicos, operacionais, legais e outros pertinentes, consistentes ou adequáveis
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

com as características físicas da bacia hidrográfica, socioeconômicas e jurídico-


institucionais do município, da região, do Estado e do País.
Essa definição técnica, exequível e operacional permitirá alicerçar e dar conteúdo aplicativo
ao princípio de que “toda outorga estará condicionada às prioridades de uso estabelecidas
nos Planos de Recursos Hídricos e deverá respeitar a classe em que o corpo de água estiver
enquadrado, bem como a manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário...”,
como é o caso da bacia amazônica, tendo como objetivos assegurar o controle quantitativo e
qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício do direito de outorga, sem poluição aos
fluxos, sem danos às fontes ou reservatórios de água existentes e preservando o uso múltiplo
de recursos hídricos.
Segundo o art. 11 da Lei no. 9.433 que institui a PNRH estão sujeitas a outorga pelo Poder
Público, os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos:
a.2.1) A derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água com
destino para o consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo
produtivo.
a.2.2) A extração de água de aquíferos subterrâneos para consumo final ou insumo.
a.2.3) O lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,
tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final.
a.2.4) O aproveitamento de potenciais hidrelétricos, bem como outros usos que alterem o
regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água.
a.2.5) A outorga e a utilização de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica
estarão subordinadas ao Plano Nacional de Recursos Hídricos, obedecida a disciplina da
legislação setorial específica.
a.2.6) Independem de outorga pelo Poder Público os seguintes usos e atividades: a satisfação
das necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural; as
derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes; as acumulações de
volumes de água consideradas insignificantes.
O termo insignificante utilizado para pautar as derivações e acumulações de água é
relativo e deverá ser definido em unidades específicas para determinada bacia
hidrográfica, período do ano hidrológico e cenário local e regional, dentro de uma
conceituação mais abrangente e holística como as de resiliência e homeostase.
a.2.7) A outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial ou
totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, em certas circunstâncias, avaliadas
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

nos contextos dos cenários, conforme critérios e indicadores pertinentes que se apliquem
ao caso. 25
a.2.8) A outorga de direito de uso de recursos hídricos não implica a alienação parcial das
águas, que são inalienáveis, mas o simples direito de seu uso [definido conforme certas
modalidades e sob determinadas condições, por exemplo, a concessão administrativa e a
autorização administrativa e a permissão.
Melhor definir e adequadamente especificar para cada bacia hidrográfica a abrangência
temporal da outorga de direitos de uso de água, bem como aspectos da espacialidade,
quantidade (captação de vazão) e qualidade do objeto outorgado nesse direito, é um dos
propósitos do Plano Diretor de bacia hidrográfica.
Parece razoável conceitualizar, como princípio geral, que a outorga, apesar da segmentação
na concessão conforme seja o domínio das águas, se Federal ou Estadual, deverá ser
rigorosamente articulada em atos administrativos hierárquicos que conformam a
abrangência espacial do território drenado pelo curso de água e os tributários ou afluentes do
rio, cujas águas serão motivo de outorgamento e de controle integrado unificado.
Parece igualmente plausível que essa concessão do direito de uso da água tenha, entre outros
argumentos que a sustente, estudos e relatórios de impacto ambiental que decorrem
(decorrerão) com o uso da água.
A articulação com base em critérios técnicos pressupõe um sistema de informações
integradas e determinados mecanismos operacionais e jurídico-administrativos que definem
a base para a outorga desse direito, dentro de certa flexibilidade, que possibilite tal
integração, sem comprometimento da unidade: o sistema hidrológico e sua capacidade de
suporte.
De outra forma, um rio de domínio municipal ou estadual, afetado por um direito de
derivação local ou regional, poderá comprometer o “estado” hidrológico sobre o qual se
define a outorga de direito de uso no âmbito federal, quando a articulação para expedir o ato
não seja conhecida, respeitado e consistente com os outros atos de outorgamento à jusante,
no domínio federal dessas águas.

25
Tais com: a) não cumprimento [de condições e critérios de conservação e de manejo integrado dos recursos hídricos] pelo
outorgado dos termos da outorga [tendo como referências dessa avaliação os indicadores técnicos/tecnológicos, econômicos
e sociais aplicáveis ao caso e contemplado no Plano de recursos hídricos]; b) ausência de uso [não justificável] por três anos
consecutivos; c) a necessidade premente [de se prevenir ou reverter graves degradação ao meio ambiente associada ou
decorrente do exercício da outorga] de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de condições
climáticas adversas; d) a necessidade de atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de
fontes alternativas [de equivalentes vantagens proporcionadas pelas águas outorgadas]; e) a necessidade de serem mantidas
as características de navegabilidade do corpo de água [bem como a necessidade de serem mantidas funções ecológicas e
ecológico-econômicas dos corpos de água, tais como as piscícola/pesqueiras, as quais resultam comprometidas pela outorga
de direito de uso das águas, requerendo, portanto, de seu restabelecimento com a suspensão dessa outorga]
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Esse instrumento, por sua vez, se relaciona e vai depender da eficiência e operacionalização
de registros como os definidos e implantados nos cadastros de usuário dos recursos hídricos
e do sistema de informação sobre disponibilidades hídricas (inventários das disponibilidades
hídricas).
a.3) O sistema de informações sobre os recursos hídricos visto como um sistema de coleta,
organização, crítica, tratamento, armazenamento, síntese, análise e recuperação de dados e
informações sobre tais recursos e sobre os fatores intervenientes na sua gestão, com vistas a
auxiliar a definição dos melhores usos, bem como o balanço hídrico e o balanço hidrológico.
Este sistema tem como objetivo reunir, dar consistência e divulgar os dados e as informações
que da análise resultam sobre a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos;
atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidades e necessidades hídricas; e
fornecer subsídios para a elaboração dos Planos Diretores de bacias hidrográficas.
O Sistema deverá ser orientado por princípios básicos para o funcionamento, tais como:
a.3.1) A descentralização e integração/cooperação para a obtenção, tratamento e produção
de dados e informações feita pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídrico -SNGRH.
O Sistema deverá contar com sistema de telecomunicação que permita o amplo acesso às
bases componentes do mesmo. Proposto e concebido com o concurso dos Estados como
um sistema integrado e integrador, ajustado às peculiaridades físicas, econômicas,
socioculturais, do meio ambiente-ecológicas, tecnológicas e político-institucionais, entre
outras, e as diferentes, porém integráveis, realidades regionais.
a.3.2) A coordenação unificada do Sistema que possibilite a incorporação de dados e
informações das bacias no Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.
a.3.3) O acesso facilitado e garantido, segundo critérios e procedimentos adequados à
realidade regional, aos dados e informações regionais, para toda a sociedade.
a.4) Outros instrumentos da PNRH são: o enquadramento dos corpos de água em classes,
segundo os usos preponderantes da água e a cobrança pelo uso de recursos hídricos.
b) Define diretrizes avançadas para a gestão desses recursos, condizentes com as experiências
internacionais bem sucedidas, com destaque para as seguintes:
b.1) A gestão sistemática e de forma criteriosa dos recursos hídricos, sem dissociação dos
aspectos de qualidade e quantidade e considerando, de forma conjunta e integrada, os
reservatórios de águas superficiais e subterrâneas.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

b.2) A adequação da gestão dos recursos hídricos às diversidades e peculiaridades físicas,


bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País.
b.3) A integração da gestão de recursos hídricos com a gestão do meio ambiente.
b.4) A articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários, com os
planejamentos regional, estadual e nacional e com a do uso do solo [e dos recursos da
biodiversidade].
b.5) A integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas
costeiras, de especial importância no Baixo Amazonas, entre a foz do rio Xingu e a foz do
rio Amazonas.
c) Cria o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos como um sistema hierarquizado de
gerenciamento desses recursos. Este Sistema tem como objetivos coordenar a gestão integrada
das águas na unidade de planejamento da bacia hidrográfica, arbitrar administrativamente os
conflitos relacionados com os recursos hídricos, implementar a PNRH, e planejar, regular e
controlar o uso, a preservação e a recuperação desses recursos.
Na atuação do Sistema devem observar-se, entre outras diretrizes: a integração das iniciativas
das diversas esferas de governo; a descentralização de ações, mediante delegação aos Estados
de atribuições da União; e o estímulo à participação das comunidades envolvidas nos processos
decisórios.
O Sistema está estruturado em três níveis de colegiados nos quais estão presentes as três esferas
do Poder Público, os usuários dos recursos hídricos e organizações civis com atuação nesses
recursos, com a seguinte estrutura:
a) Em nível Nacional composta pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos para promover a
articulação do planejamento, arbitrar os conflitos entre Conselhos Estaduais, deliberar sobre
projetos de aproveitamento e analisar propostas de alteração da legislação.
b) Em nível Estadual, pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, com funções em sua
área de competência.
c) Em nível de bacia, pelos Comitês de bacia hidrográfica para promover o debate, arbitrar em
primeira instância, aprovar e monitorar o plano diretor, e subsidiar ações de acumulações,
derivações, captações e mecanismos de cobrança pelo uso d’água), e pelas Agências de água
com funções de secretaria executiva.

4.12.2 Conceitos de Biodiversidade


Estes conceitos são pertinentes para o diagnóstico e potencialidades de recursos, bens e serviços
que dependem, em grande parte, da variedade e variabilidade de genes, espécies, populações e
ecossistemas naturais de florestas, e fundamentais quando se trata do gerenciamento dos recursos da
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

Região que apresenta uma das maiores diversidades biológicas do mundo e o maior sistema
hidrográfico que condiciona, em parte, essa diversidade.
A biodiversidade pode ser entendida como sendo constituída por toda a gama de material genético
existente em todos os indivíduos e populações de seres vivos. Portanto, engloba a variabilidade
genética de plantas, animais e microorganismos e os ecossistemas dos quais são componentes. Grande
parte da variação genética que constitui a biodiversidade, ocorre no interior das populações de cada
espécie. Assim, a conservação da biodiversidade, não é somente a que existe computando-se apenas o
número de espécies, mas a que ocorre dentro da cada espécie. Esta biodiversidade pode ser dividida
em três categorias hierarquizadas: os genes, as espécies e os ecossistemas.
A diversidade dos recursos genéticos se refere à variabilidade genética de espécies alvo, que se
conservam com fins de utilização, principalmente, melhoramento genético e pesquisa correlata
orientada para a exploração econômica. Compreende populações da mesma espécie como as centenas
de variedades tradicionais de arroz da Índia, ou a variação genética de uma população.
A diversidade de espécies se refere à variedade de espécies em uma região ou a “riqueza em
espécies a qual pode ser determinada de várias formas como a “diversidade taxonômica” que considera
as relações entre uma e outra espécie.
A diversidade dos ecossistemas é mais difícil de medir que a diversidade genética e de espécies,
porque as fronteiras das comunidades e dos ecossistemas geralmente são difusas ou não definidas.
A diversidade social e cultural humana pode ser considerada parte da biodiversidade, com alguns
atributos que representam formas evolutivas de sobrevivência e de solução de problemas das
comunidades, e de adaptação as variações do entorno. Essa diversidade manifesta-se pela diversidade
de dialetos, crenças religiosas, manifestações artísticas e folclóricas, estrutura social, exploração e
manejo de recursos naturais e hábitos e formas específicas de vida, entre muitas outras.
A experiência brasileira e internacional (Nogueira Neto, 1997) mostra que a efetiva proteção da
biodiversidade é segura com as unidades de conservação.
As principais unidades de conservação da biodiversidade são os parques nacionais, as reservas
biológicas, as áreas de proteção ambiental, as áreas de relevante interesse ecológico, as reservas do
patrimônio natural e as reservas extrativistas, ao passo que a conservação dos recursos genéticos é
implementada mediante bancos de germoplasmas e reservas genéticas in situ, que incluem indivíduos
representantes (pelo máximo de acuracia taxonômica) da variabilidade genética de espécies alvo.
Em Estrategia global para la biodiversidad (1992, com viés para a Amazônia) são relacionados
dez princípios da conservação da biodiversidade:
a) Cada manifestação de vida é singular e a sociedade deve respeitá-la.
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

Na Amazônia esta manifestação e singularidade adquirem proporções mundiais pelo que tem
despertado a cobiça de posse de muitos países sem que, não entanto, motive um grande interesse,
por parte desses países, orientado para a sua proteção desprovida dessa cobiça.
Para que a sociedade possa respeitar a singularidades das diversas formas de vida que a
Amazônia apresenta é necessário que tenha o conhecimento dessas formas, baseado em
informações acuradas e disponíveis para ela, que possua estimativas de seu valor efetivo e
estratégico e que disponha dos meios e diretrizes para dispensar o devido respeito.
b) A conservação da biodiversidade é um investimento que produz [poderá produzir] consideráveis
benefícios locais, regionais, nacionais e internacionais.
Para mostrar a lucratividade efetiva do investimento nas “riquezas naturais” na atual forma
“virtual” de potencialidades, é mister valorar essa riqueza em função de sua utilidade e
possibilidade de mercado (função estratégica), apreçar seus recursos como “commodities” em
mercados e mecanismos de mercado próprios e internalizar esse “bem econômico” nas contas
sociais e na contabilidade do setor privado.
Estas são pré-condições para a demonstração ou teste (uma hipótese) de que a formação de
florestas não é um empecilho às atividades agropastoris, mas traduz-se em reserva de valor e
poupança rentável.
Parte inicial desse esforço é apresentado neste documento com a conceitualização de uma
abordagem numérica para a avaliação das potencialidades regionais.
c) Os custos e os benefícios da conservação da biodiversidade devem ser distribuídos de forma
eqüitativa entre os países e as populações com aceso a essa biodiversidade.
Este princípio, de especial importância para a Amazônia, exige a efetividade dos acordos e
convênios que procuram essa distribuição, bem como a implementação e implantação, também
com efetividade, da cooperação e parceria, com esses argumentos, no concerto panamazônico.
Se a conservação da biodiversidade está diretamente relacionada, como efeito, com a P&D,
então a adoção de medidas apropriadas para a repartição justa e equitativa dos custos e
benefícios advindos dessa pesquisa e desenvolvimento deverá ser feita entre as fontes desses
recursos (que os possui e quem financia a pesquisa para externar as potencialidades) e aqueles
que os utilizam.
d) Como parte do esforço endereçado para o desenvolvimento sustentável [e sustentado], a
conservação da biodiversidade requer de mudanças radicais nos padrões de crescimento
econômico em escala mundial.
Em termos conceituais e em escala nacional geral, tais mudanças são ilustradas nas Figuras 1
e 2 ao tratar da confluência, pela negociação, das dimensões do desenvolvimento.
e) Maiores aplicações financeiras na conservação da biodiversidade por si só não serão suficientes
para desacelerar a deterioração da mesma. É necessária a reformulação de políticas e das
instituições para criar as condições que tornem eficazes tais aplicações.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

f) As prioridades de objetivos da conservação da biodiversidade diferem segundo sejam as


perspectivas locais, regionais, nacional e internacional. Todos esses objetivos são [poderão ser]
legítimos e devem ser [podem ser] considerados. Entretanto, a atenção não deve concentrar-se
exclusivamente em uns poucos ecossistemas ou em países ricos em espécies.
Para o caso da Amazônia, em função de limitações de recursos dos países da Bacia e,
principalmente, pelo alto custo de oportunidades imposto por essas limitações aos recursos,
exige-se, na racionalidade da economia política, 26 certo ordenamento criterioso e a priorização
das aplicações, avaliadas vis-à-vis com atividades concorrentes como as de saneamento básico,
educação, saúde e segurança alimentar, entre outras não menos importantes, que competem com
as aplicações e objetivos da conservação da biodiversidade.
g) Só será sustentável a conservação da biodiversidade se for aumentado o interesse e a
preocupação da população pela conservação e se os responsáveis de elaborar políticas tiverem
acesso a uma informação confiável sobre a qual basear suas decisões.
Parte do aumento do interesse e da preocupação pela conservação da biodiversidade está
fundado no conhecimento derivado da informação gerada pela P&D.
Em termos conceituais e apenas para incitar uma reflexão sobre o assunto, a pesquisa para a
conservação dos recursos genéticos pode apresentar o seguinte delineamento de programação
geral:

26
Ciência que estuda as relações sociais de produção e distribuição de bens materiais, definindo as leis que regem tais
relações.
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Biosociologia. Biologia reprodutiva


Estrutura e dinâmica. Ecofisiologia
Levantamento Estratégico baseado no ordenamento-zoneamento ecológico-econômico, com características
especiais
Áreas com alta biodiversidade e endemismo para a proteção, a partir de levantamentos e bancos do
de área/ diagnóstico

IBGE
Atividades de conservação dos recursos genéticos

Áreas com alta variabilidade genética silvestre (intra e interpopulacional) e domesticada


Definição

Diagnósticos
(diversificação 1ª e 2ª ), de interesse atual e potencial para a Região, com base em planos e
diretrizes

Áreas sob alta pressão antrópica para definir subáreas de uso, preservação (reservas de proteção e
outras)

Manejo Escasso ou nenhum. Moderado


Intermediário.
Estudos de comunidadesIntensivo.
e biologiaPara cada caso realizar estudos
de populações
Reservas genéticas

EstudosEstudos etnobiológicos. Raças locais. Reservas extrativistas


etnobiológicos
(“in situ”)

Inventário da biodiversidade: florestal, peixes, fruteiras nativas, palmáceas etc, Referência. Do IBGE
ManejoComo definir os projetos
e monitoramento de pesquisa? Consultar Manual de pesquisa, Introdução aos fundamentos
florestal
da metodologia científica, Embrapa/DPD

Sementes. “In vitro”: cultura de tecidos e células, criopreservação ....Introdução e intercâmbio para o
enriquecimento genético, com ênfase nas espécies econômicas vulneráveis. Coleta e manejo de coleções de
base, ativa, multiplicação, regeneração, caracterização, avaliação....
Sanidade e quarentena.
germoplasma
Coleções de

(“ex situ”)

Normalização e patentes de utilização de material genético.


Outros estudos e pesquisas: avaliação econômica e de mercado, com ênfase na valoração para internalizar
nas contas nacionais
Legislação de proteção, conservação e manejo integrado de ecossistemas e recursos naturais
Transferência de tecnologia
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

O programa de conservação de recursos florestais, quanto à programação de pesquisa se refere, poderá


apresentar o seguinte delineamento geral:
Atividades de conservação dos recursos florestais com viés para o diagnóstico

Caracterização da área

Avaliação dos recursos naturais: climáticos, hidrológicos, solos, vegetação .... Potencialidades físicas contidas
nos recursos naturais com atributos econômicos. Oportunidades das possibilidades físicas nos sistemas
econômicos, de mercados ....Inter-relação e ordenamento de potencialidades – oportunidades em cenários.
Caracterização da indústria de “base florestal”: reflorestamento – consumo. Perspectivas de uso múltiplo com
equilibrada conexão da “base florestal”-mercado
Decisões sobre o que pesquisa baseado na síntese da caracterização da área

Necessidades hierarquizadas de soluções tecnológicas esperadas. Ordenamento e priorização das pesquisas


integradas em um programa de pesquisa. Necessidades da implementação e implantação do programa de pesquisa
para gerar as soluções tecnológica, na intensidade e oportunidade temporoespacial da demanda. Engajamento de
instituições congêneres e afins para definir parcerias, cooperação ....
Ações: produtividade e competitividade florestais sustentáveis; conservação para a floresta de uso múltiplo;
Programação de pesquisa

conservação e manejo integrado de recursos (água e solo); cultura florestal adequada ao meio; manejo florestal
adequado ao meio; sistemas de “cultivo mínimo”; sistemas de “insumo mínimo”; tecnologias para produtos de
maior valor agregado na região; tecnologias para a agroindústria que aumentem a competitividade, aproveitem e
transformem produtos conforme indicações de mercados, cadeias do agronegócio e consumidores; tecnologias
com segurança sanitária e qualidade total de processos e produtos; tecnologias para a segurança alimentar da
população de baixa renda; tecnologias para o aprimoramento de sistemas tradicionais do extrativismo, agricultura
familiar e outros. Informações e tecnologias para subsidiar a política florestal e a política de desenvolvimento
regional
Estratégias: Envolvimento dos setores público e privado, das entidades científicas, das organizações ambientalistas
e da sociedade civil organizada, bem como dos setores relacionados com a pesquisa, onde os interesses comuns
das partes envolvidas sejam atendidos. Incentivar pesquisadores e usuários para atender objetivos comuns. Parte
dos incentivos se orienta para que os produtores, com novas tecnologias, destinem parte de suas terras ociosas ao
plantio de florestas para usos múltiplos, conforme a vocação florestal, material genético disponível e sinais de
mercado e da indústria madeireira

h) As medidas orientadas para a conservação da biodiversidade devem ser planejadas e executadas


em uma escala determinada por critérios ecológicos e sociais [econômicos, legais, institucionais
e tecnológicos, entre outros]. As atividades devem concentrar-se nos lugares onde as pessoas
vivem e trabalham, bem como em lugares de proteção natural [unidades de conservação].
Os estudos de Rotta (1983), Taylor (1988) e Posey (1985) na Amazônia, sugerem que em lugar
de ser a maior área coberta por floresta virgem, pode tratar-se de um enorme ecossistema
moldado pelo homem nos últimos 25 mil anos, e em lugar de floresta primária, existe um
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

complexo mosaico de “florestas culturais”. Portanto, é importante, na consideração de qualquer


estratégia de conservação da biodiversidade, levar em conta a ação do homem.
Os estudos etnobiológicos orientam-se para as inter-relações entre o homem e o meio ambiente
procurando elucidar até que ponto um é consequência do outro e as inter-relações, geralmente
orientadas de causas – e - efeitos.
i) A diversidade cultural guarda estreita relação com a biodiversidade. O conhecimento coletivo
sobre a biodiversidade, seu uso [conservação] e gestão está baseado na diversidade cultural.
Conservar a biodiversidade geralmente contribui para reforçar a integridade e os valores
culturais.
j) Uma maior [e mais efetiva] participação da população, o respeito dos direitos humanos básicos,
o aceso da população a educação e a informação, bem como maior responsabilidade
[compromisso com a conservação] das instituições, são elementos essenciais para a conservação
da biodiversidade.

4.12.3 Conceitos Relacionados com a Dimensão de


Pesquisa e Desenvolvimento
Os estudos de diagnoses e potencialidades para o crescimento são basicamente processos de
pesquisa orientada para o desenvolvimento e fundada em determinados princípios e fundamentos
consistentes com o novo modelo de desenvolvimento da qual faz parte.
A parte que segue relaciona princípios de planejamento e gerenciamento da pesquisa que
complementa, em seu aspecto conceitual, os quadros sinópticos de um dos aspectos da conservação
da biodiversidade acima apresentados:
a) Holístico: Todo acima e maior que a soma das partes do sistema.
Se o projeto de pesquisa se orienta para resolver parte de um problema relevante do
ecossistema ou de segmentos agropecuários, agroindustriais e florestais, em benefício da
sociedade, ele deverá ser avaliado em um contexto holístico do “problema maior” alvo do
programa de pesquisa que integra as diversas ações e estratégias dos projetos do centro de
pesquisa identificado e com perfil de sua área e cliente alvo.
Dessa forma, o enfoque de sistemas do setor primário, das cadeias produtivas, dos sistemas
de produção, dos sistemas naturais abiótico-bióticos, dos sistemas econômicos e de mercado,
entre outros, deverá fundamentar o esforço de pesquisa analítico - sistêmico.
b) Teleológico porquanto os fins da pesquisa são condicionados aos meios efetivos e as
possibilidades reais que devem definir a ação - estratégia do pesquisador em função da
importância relativa do problema delimitado de pesquisa e do efeito esperado com a solução
proposta para determinada área e cliente alvo bem definido e caracterizado.
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

c) Social porquanto a P&D planeja-se e desenvolve-se em torno do homem para a melhoria


de seu bem-estar, valorizando-o com produtos, informações e serviços tecnológicos com maior
efetividade 27 e adequados às condições de adoção e às possibilidades do ecossistema,
socioeconômica e de mercados locais, regionais e extra regionais dos produtos envolvidos nesse
processo.
d) Descentralizado com responsabilidade e habilidade para assumir funções, principalmente
nas áreas gerencial e administrativa. Isto pressupõe a formação do capital social para assumir
tais funções e possibilitar a integração de resultados, buscar autonomia, simplificar/adequar
processos e normas e procurar maior estabilidade e competência pela efetividade de resultados.
e) Integração inter setorial e interespacial, com facilidades para a parceria de
responsabilidade conjunta com as instituições congêneres e afins, respeitando as características
regionais e dos parceiros em seus cenários.
Diversos indicadores e critérios são utilizados nos estudos de diagnóstico e potencialidades
regionais, diretamente relacionados com a P&D, dos quais relacionam-se, à guisa de exemplos
ilustrativos, os seguintes:
a) Econômicos com destaque para o valor agregado dos recursos (matérias-primas) e
produtos provenientes das potencialidades regionais, caracterizadas e colocados no fluxo de
mercado com sustentabilidade meio ambiente-ecológica e com equidade distributiva social.
O crescimento econômico possível e sustentável considera as rotas e eixos que estimulam
esse crescimento e os polos, atuais e potenciais, de atração social e econômica com destaque
para os centros de potencialidades que vinculem estruturas naturais aos mercados.
Diversos critérios são utilizados para avaliar a exclusão econômica que afeta a P&D, tais
como: concentração de renda e de recursos naturais como terra e florestas e marginalização de
insumos como o crédito e assistência técnica.
A P&D tem um compromisso com a estabilidade econômica e com a eficiência econômica
expressas por diversos indicadores e critérios que assinalam para o aumento de produtividade
em lugar da expansão da fronteira agrícola, para a otimização sustentável em lugar da
maximização “economicistas”, para a eliminação de subsídios ao agronegócio na procura de

27
Essa eficiência e eficácia da pesquisa-difusão-adoção ou pesquisa-transferência se traduz em melhor qualidade de produtos
e processos, maior quantidade para satisfazer as necessidades, plena e garantida sustentabilidade do meio ambiente para esse
processo, menor período de geração e transferência da tecnologia para a mudança, menores custos de produção e menores
preço de aquisição do produto final que resulta da mudança tecnológica
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

mercados em competição e produtos com vantagens comparativas e competitivas e para a


geração de emprego e renda, entre outros objetivos desse compromisso.
b) Vertente de mercado de recursos e produtos consistentes com as ações de pesquisa. A
P&D voltado para o mercado com fundamento teleológico.
c) Vertente de novas vantagens baseadas em parcerias, no conhecimento da realidade e seu
entorno inclusive dos condicionantes extra regionais, no capital social e na abertura da economia
à integração global e aos blocos regionais que afetam ou poderão afetar a Amazônia.
d) Vertente social, com diversos indicadores relacionados com as atividades afetas à
pesquisa, tais como: taxa de ocupação humana e de estabilização da população na região;
indicadores de sobrevivência para setores tradicionalmente excluídos: pequenos produtores e
comunidades indígenas; coeficientes de exclusão social da tecnologia por setores; melhoria nas
condições de vida ao final da cadeia do agronegócio: o consumidor.
e) Vertente meio ambiente – ecológica. Os produtos, informações e serviços tecnológicos
estimulem ou induzam as mudanças na cultura e nos padrões de produção agressivos ao meio
ambiente ao eliminar o desperdício; reduzir a poluição; controlar o desflorestamento-erosão;
respeitar a capacidade de suporte ambiental com tecnologias dentro dessa capacidade ou
tecnologias resilientes; preservar “estados” de qualidade e quantidade em equilíbrios auto-
reguláveis ou homeostáticos; privilegiar os tratamentos preventivos e as medidas de proteção
como as de racionalidade “economológica”, entre outros componentes desta importante
vertente.
Indicadores de conservação e de manejo integrado para definir tipos de usos alternativos
sustentáveis, potenciais do meio ambiente (ecoturístico, por exemplo) e dos recursos naturais
(madeireiros e não-madeireiros da floresta, por exemplo), oportunidades dessas potencialidades nos
mercados com processos e produtos “limpos”, limitações do meio ambiente e seus recursos e formas
resilientes de intervenção no meio ambiente com as mudanças tecnológicas;
A P&D procura:
a) Levantar dados e informações dos sistemas para identificar e caracterizar os entraves
(problemas de pesquisa) de possíveis soluções tecnológicas pela pesquisa, mediante atividades
como as de ordenamento, zoneamento e priorização de fatores, com adequados pesos relativos
(escores), no estudo territorial.
b) Levantamento do “estado da arte” do conhecimento nos sistemas tradicionais de produção
para identificar “brechas” de mudança tecnológica.
c) Avaliação de recursos naturais e socioeconômicos em subáreas indicadas pelo
ordenamento-zoneamento territorial.
d) Caracterização dos cenários, das tipologias dos sistemas de produção e de estruturas
produtivas primárias, distributivas e agroindustriais de processamento (cadeias do agronegócio,
mercados e consumidores).
Diagnóstico e potencialidades da Amazônia:
Introdução a uma abordagem de análise numérica

e) Caracterização das infraestruturas relacionadas com a mudança tecnológica: crédito,


assistência técnica, mercado de insumos e produtos correlatos.
Esses estudos temáticos deverão ser orientados para um diagnóstico integrado feito dentro da
abordagem sistêmica, requerendo da ação – estratégia coordenada, desenvolvida por equipes
interdisciplinares imbuídos ou sob a influência do mercado, dos conceitos da conservação e manejo
integrado, das cadeias produtivas, da qualidade total de produtos e processos produtivos e de novos
paradigmas como os de descentralização, parceria, fortalecimento institucional, formação do capital,
social, melhoria nas condições de vida da população na região e participação dos mercados com
produtos dotados de novas vantagens.
Esta síntese conceitual prepara a apresentação das seguintes partes: o diagnóstico geral com
propositado viés para destacar fatores e oportunidades apresentadas na terceira parte, e as
potencialidades regionais em seu aspecto modelar.

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