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= ANDREAS HUYSSEN Culturas do passado-presente modernismos, artes visuais, politicas da memoria CONTRAPONTO © Andreas Huyssen, 2014 © William Kentridge com referéncia a suas imagens © Nalini Malani com referéncia a suas imagens Direitos adguitidos para o Brasil por Contraponto Editora Ltda, ‘Vedada, nos termos da lei, a reproducHo total ou parcial deste livro, por quaisquer meios, sem a aprovacdo da Editora. Contraponto Editora Leda. Avenida Franklin Roosevelt 23 /1405 Centro ~ Rio de Janeizo, RJ - CEP 20021-120 Telefax: (21) 2544-0206 / 2215-6148 Site: www.contrapontoeditora.com.be Ecmuil: comtato@contrapontoedicora.com.br ‘Mascu de Arte do Rio (MAR) Praga Maud 5 Centro ~ Rio de Janeiro, RJ - CEP 20081-240 Tel: (21) 3031-2741 Site: www.museudeartedorio.org. br E-mail: info@museudeartedorio.org.be Coordenagio editorial e preparacio de originais: Cesar Benjamin Revisdo técnica: Tadeu Capistrano Revisio tipogrifica: Tereza da Rocha Projeto grafico: Aline Paiva e Andréia Resende ‘Capa: Andréia Resende e Clarice Pamplona Diagramagio: Aline Colegio dirigida por Tadeu Capistrano Escouhoc Beas Ates/UWVERIA0ETEDERALD0 DEAE Tt edigdo: maio de 2014 Tiragem: 2.000 exemplares (CIP-BRASIL. CATALOGAGAO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, R) H1989¢ Huyssen, Andreas, 1942 alturas do passado-presente: modernismos, artes visas, politicas da smeméria/ Andreas Huyssen; [coordenacio Tadeu Capistrano] ; radveio ‘Vera Ribeiro ~ 1. ed. ~ Rio de Janeiro = Conteaponto : Museu de Arte do Rio, 2014 216 p. 525em — (ArteFissil; 9) ISBN 978-85-7866.098-7 1, Modernismo (Arte). 2. Arte moderna. 3. Artes ~ Aspectos politicos. 4, Antee sociedade. 5. Politica eculeura Tito, I. Séxie 1411508 DD: 306.47 COU: 316.7457 Resisténcia a meméria: usos e abusos do esquecimento publico Na cultura contemporanea, obcecada como é pela meméria ¢ 0 trauma, 0 es- quecimento é sistematicamente malvisto. E descrito como uma falha da me- méria: clinicamente, como disfungao; socialmente, como distorcao; academi- camente, como uma forma de pecado original; em termos de vivencia, como um subproduto lamentavel do envelhecimento. Essa visio negativa do esque- cimento, é claro, no é surpreendente nem particularmente nova. Podemos ter uma fenomenologia da meméria, mas com certeza nao temos uma fenomenologia do esquecimento. O descaso para com ele pode ser docu- mentado, na filosofia, de Platdo a Kant, de Descartes a Heidegger, Derrida e Umberto Eco, que certa vez negou, com base na semidtica, que pudesse haver algo como uma arte do esquecimento andloga a arte da meméria.’ Simples- mente, esquecer nao é tema para metafisicos, antimetafisicos ou especialistas em semidtica, a0 passo que a meméria o é, claramente. Os poetas, por sua vez, de Homero a Goethe, alertaram-nos para 0s perigos do esquecimento de si no presente, e movimentos culturais inteiros, como o Rena Romantismo, fizeram da meméria um projeto central. Até 0 cinema fez da presenca da meméria o critério para distinguir um ser humano de um cyborg (Blade Runner), ou representou 0 esquecimento como um experimento letal da CIA que deu errado (A identidade Bourne). Mas, quando se trata de teo- riz-lo, 0 esquecimento aparece, na melhor das hipéteses, como um comple- mento inevitavel da meméria, uma deficiéncia, uma falta a ser suprida, endo como o fendmeno de miiltiplas camadas que serve como a propria condigéo de possibilidade da meméria. As questdes da mem@ria e da temporalidade foram centrais, é claro, para a obra de Adorno ¢ Benjamin. Muito citada e frequentemente distorcida, a afir- magio de Adorno de que escrever poesia depois de Auschwitz seria uma barba- ridade desempenhou um papel central nos debates sobre os limites da represen- tagdo e sobre a estética e a ética de como lembrar 0 Holocausto. Menos bem conhecida, porém de igual influéncia, foi sua tese de que toda reificacdo é um esquecimento, uma tese que vé o esquecimento da mao de obra na producéo como a base do fetichismo da mercadoria e de seus efeitos insidiosos nas estru- turas de subjetividade da cultura moderna. Essa tese, proveniente de Marx e da imento ou 0 Resistincia &meméria:usos e abusos do esquecimentopdblico 155,

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