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Resumo: O artigo apresenta uma análise do processo de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), destacando suas
principais falhas e limitações e propõe a adoção do processo de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) como forma
de superar as limitações da AIA e promover a sustentabilidade no processo de desenvolvimento induzido pelas
políticas públicas.
Palavras-chave: Avaliação de impacto ambiental; Sustentabilidade; Políticas públicas.
Abstract: The paper presents an analysis of the Environmental Impact Assessment (EIA) process, highlighting the
main failures and limitations, and proposes the adoption of the Strategic Environmental Assessment (SEA) process
as a way to overcome these limitations and to promote sustainability to the development process conducted by public
policies.
Key words: Environmental impact assessment; Sustainability; Public policies.
Resumen: Este artículo presenta un análisis de el proceso de Evaluación de Impacto Ambiental (EIA) y de sus
limitaciones. La adopción del Evaluación Ambiental Estratégico (EAE) se propone como una manera de superar
estas limitaciones y de promover sustentabilidad en el proceso del desarrollo conducido por órdenes públicos.
Palabras claves: Evaluación de impacto ambiental; Sustentabilidad; Políticas públicas.
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Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 2, N. 3, p. 45-56, Set. 2001.
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monitorização dos impactos ambientais (neces- que o essencial nessa lei, é que ela visa a garantir
sários para a avaliação dos impactos ambientais”. que o processo de tomada de decisões seja equili-
O RIMA constitui-se em documento do brado em relação ao meio ambiente e ao interesse
processo de AIA, que deve esclarecer numa público. A NEPA surge devido às pressões ambien-
linguagem corrente todos os elementos da proposta talistas a partir de meados da década de 60, quando
e do estudo para serem utilizados no processo de ocorre um aumento da conscientização do público
tomada de decisão e divulgados para o público em quanto aos problemas de degradação ambiental e
geral. Esse relatório deve apresentar as conclusões suas conseqüências sociais, levando a uma maior
do EIA e conter a discussão dos impactos positivos demanda por qualidade ambiental. Essa lei deter-
e negativos considerados relevantes. minava que os objetivos e princípios de legislação,
A AIA é realizada por meio de vários ações e projetos do governo federal americano, que
métodos e envolve diversos grupos de interesse, afetassem significativamente a qualidade do meio
como promotores do empreendimento, autoridades ambiente humano, deveriam incluir a avaliação de
governamentais, especialistas, associações civis e impacto ambiental (Rohde, 1995).
setores atingidos pela intervenção proposta. Todos Segundo Bursztyn (1994), até a década de
participam, emitindo julgamentos de valor e 70 a análise dos projetos federais americanos,
influenciando diretamente o processo de tomada consistia essencialmente num exercício contábil
de decisão. Um ponto importante na compreensão que buscava garantir o uso eficiente dos recursos
desse processo é a distinção existente entre a públicos. Esse procedimento, estava baseado
Avaliação de Impacto Ambiental e o Processo de essencialmente na análise custo-benefício funda-
Avaliação de Impacto Ambiental mentada no princípio de maximização e eficiência
Nesse sentido, Bursztyn (1994:51) considera no emprego dos recursos. A partir de 1970, foi
que na avaliação de impacto ambiental, trata-se de instaurado o procedimento americano de avaliação
avaliar, antes de se tomar uma decisão, os prováveis de impacto ambiental, introduzindo mudanças
impactos ambientais significativos de uma consideráveis no processo de tomada de decisão.
atividade proposta, o que resulta na elaboração de A NEPA influenciou a adoção de política
um estudo de impacto ambiental (EIA). O processo similar em mais de 75 países, e suas exigências
de avaliação de impacto ambiental, por outro lado, foram adotadas por agências internacionais de
é mais amplo e abrange atividades que precedem ajuda e pelas organizações financeiras interna-
ou que seguem a avaliação propriamente dita. Esse cionais que, pressionadas pela comunidade
processo pode iniciar com uma fase de identificação científica e pelos países desenvolvidos, passaram
prévia dos impactos mais importantes e das a ser responsabilizadas pelos problemas ambien-
questões mais relevantes a serem considerados na tais dos países em desenvolvimento, devido ao
avaliação (“scoping”), e continuar por meio de um financiamento de projetos que causaram impactos
programa de acompanhamento dos efeitos ambien- ambientais significativos nesses países (Rohde,
tais durante a fase de implementação do projeto. O 1995). De acordo com Egler (1998), o principal
processo AIA é composto de uma sucessão de propósito da NEPA era a consideração de efeitos
etapas, que se encadeiam e se interrelacionam ambientais de Políticas, Planos e Programas (PPPs).
sistematicamente. De acordo com a autora, os Isso pode ser identificado desde os estágios iniciais
objetivos da avaliação de impacto ambiental são: da sua elaboração. No entanto, o processo de sua
• identificar e estimar a importância dos impactos evolução resultou na consolidação do processo de
de uma determinada intervenção sobre os meios avaliação de impacto ambiental baseado em
biológico, físico e socioeconômico; projetos. Segundo o autor, algumas razões para esse
• apreciar a oportunidade de realizar o projeto, desvio podem ser identificadas em nível técnico,
considerando as vantagens e desvantagens pois muitos problemas encontrados na avaliação
técnicas, econômico-sociais e ambientais; e ambiental de projetos aparecem na análise de efeitos
• no caso de uma decisão favorável à ação ambientais de PPPs, destacando-se:
proposta, sugerir uma alternativa menos • a falta de informação acerca da natureza, escala
impactante (mediante uma concepção técnica e localização de futuras propostas de desen-
diferente ou da implementação de medidas de volvimento;
intervenção). • um grande e variado número de alternativas é
De Acordo com Canter (1998), Egler (1998) e considerado em diferentes estágios de formulação
Bursztyn (1994), a origem da Avaliação de Impacto de política; e
Ambiental encontra-se na Lei de Política Ambiental • a falta de precisão na predição dos impactos
Nacional americana de 1969 (National Envi- ambientais de políticas.
ronmental Policy Act, NEPA). Essa lei se tornou Um outro problema que restringe a imple-
efetiva em 1 de janeiro de 1970, e foi a primeira a mentação do processo de AIA em nível estratégico,
assinalar a importância do meio ambiente, sendo encontra-se na natureza política do processo de
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tomada de decisão. De acordo com Egler (1998), a vem a ser impacto significativo. Alguns impactos
análise ambiental e social de PPPs requer que sejam considerados irrelevantes para um empreen-
divulgados pontos que os governantes consideram dimento poderão, se somados aos impactos de
muito sensíveis e confidenciais para serem outras ações, ou até mesmo isoladamente, gerar
liberados para uma consulta pública antes de sua impactos não-desprezíveis.
aprovação. Para Bursztyn (1994:157-164), a análise das
experiências de países desenvolvidos e em
1.1. Limitações técnicas e teóricas do processo desenvolvimento, permite identificar algumas
de AIA falhas do processo AIA, tais como:
• a ocorrência de certas disfunções – uma das
O processo de AIA é geralmente limitado aos possíveis explicações decorrentes do fato de que
impactos diretos do projeto e ignora impactos tais a prática do processo AIA ocorre, em grande
como apontados por Thérivel & Partidário (1996): medida, a partir de repetições do procedimento
• os impactos cumulativos, efeitos somados de norte-americano. Para a autora, os procedimen-
muitos pequenos projetos ou de projetos que não tos adotados em um país não devem ser trans-
requerem a AIA; portados para outro, sem que se considerem devi-
• os impactos induzidos, quando um projeto damente as especificidade econômicas, admi-
estimula o desenvolvimento de outro (ex. a nistrativas, políticas e culturais de cada país;
construção de uma nova rodovia pode estimular • a falta de recursos humanos necessários à gestão
o surgimento de novas cidades); do processo de avaliação, nas diferentes etapas.
• impactos sinérgicos, quando os impactos de A dificuldade de recursos humanos capacitados
vários projetos excedem a mera soma de seus na área ambiental está relacionada ao fato de que
impactos individuais. Considerando uma bacia esta envolve julgamento de valor e uma
hidrográfica, o somatório dos impactos descritos racionalidade multidisciplinar;
nos RIMAs de vários empreendimentos nunca • a tendência dos estudos é se concentrarem na
será a totalidade dos impactos efetivamente realização de inventários exaustivos dos recursos
provocados por esses empreendimentos no meio naturais e negligenciarem a etapa de identi-
ambiente. Isso ocorre em função da sinergia entre ficação e valoração dos impactos;
os diferentes impactos descritos isoladamente e • a aplicação desnecessária do procedimento a
em função dos impactos gerados por ações que, projetos que não afetam significativamente o
isoladamente, não foram avaliados, mas no meio ambiente. É preciso estabelecer critérios para
somatório final possuirão relevância; e determinar quais os projetos que seriam objetos
• impactos globais, tais como biodiversidade e para o processo AIA. Isso permitiria o uso mais
emissão de gazes de efeito estufa. racional da AIA e uma economia de recursos,
Além dessas, outras limitações do processo além de garantir a continuidade de sua
AIA são destacadas por Rohde (1995): credibilidade;
• os processos de geração, transferência, transporte • a AIA deve ser integrada ao processo de plane-
e acumulação de energia pelo homem e pelos jamento e não ser considerada como uma
ecossistemas envolvidos quase nunca são experiência adicional para a obtenção de
considerados; autorizações governamentais, que ocorre no final
• tentativa monetarista de quantificar e somar os da preparação do projeto; e,
benefícios sociais e custos ambientais (matrizes • a inexistência de programas de monitoramento e
numéricas de avaliação de impacto ambiental). acompanhamento eficazes é um importante
Para o autor tal tentativa é muito discutível; ponto de estrangulamento enfrentado pelos
• limitações de ordem científicas, decorrentes do países, cuja solução depende do sucesso das
“estabelecimento de limites disciplinares no obten- políticas ambientais.
ção do conhecimento holístico (linguagens
diferentes, especialização de profissionais, áreas 1.2. O processo de AIA no Brasil
isoladas, etc.), na quantificação (que nem sempre
é possível), na qualificação (a ‘detecção de certos A implementação do processo de AIA no
elementos ainda não possui ‘métodos’, ‘normas’ Brasil iniciou-se por meio de pressões dos orga-
ou ‘padrões’), na modelagem (nem sempre possí- nismos multilaterais de financiamento (Banco
vel ou disponível) e no estabelecimento de previ- Mundial e Banco Interamericano de Desenvol-
sões; o conhecimento completo e exaustivo do meio vimento – BID) que, a partir da década de 70,
ambiente é, assim, dificilmente atingível, ainda passaram a exigir uma avaliação de impacto como
mais dentro do escasso tempo destinado aos condição para o financiamento de projetos. Em
estudos de impacto ambiental” (id., ibid., p. 23). 1972, foi realizada a primeira avaliação ambiental
• o problema de significação – definição do que na barragem de Sobradinho no Nordeste brasileiro,
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fruto de uma exigência do Banco Mundial (IBAMA, • ausência de um órgão semelhante ao Conselho
1995). Em 1980, surge a primeira lei federal que se de Qualidade Ambiental americano;
refere ao Estudo de Impacto Ambiental, a Lei 6803, • inexistência de monitoramento, com exceção de
de 2 de julho de 1980, que em seu artigo 10° prevê casos isolados em determinadas regiões;
estudos de avaliação de impacto para a localização • ausência de estudo para prever a poluição
de pólos petroquímicos, cloroquímicos, carboquí- “extramuros” (externalidades econômicas;
micos e instalações nucleares. desajustes econômicos posteriores com o local
A Lei 6938, de 1981, instituiu a Política de implantação; atratividade de serviços, etc.);
Nacional do Meio Ambiente, que tem por objetivo a • inexistência histórica de trabalho de equipes
preservação, melhoria e recuperação da qualidade multi, inter ou transdiciplinares;
ambiental propícia à vida. A Lei estabeleceu a AIA • situação precária da maioria dos órgãos
como um de seus instrumentos (Bastos e Almeida, ambientais estaduais;
1999) e foi regulamentada pelo Decreto 88.351/ • a participação do público na tomada de decisões,
83,que vinculou a utilização da AIA aos sistemas em geral ocorre de modo formal, previsível e
de licenciamento de atividades poluidoras ou orientado;
modificadoras do meio ambiente (Rohde, 1995). • sobreposição de interesses políticos às conclu-
Além disso, o Decreto n° 88.351/83 estabelece que sões contidas nos EIAs/RIMAs;
os critérios para a realização do Estudo de Impacto • produção de documentos inadequados;
Ambiental – EIA, serão baixados por atos do Segundo o autor a elaboração de documen-
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). tos inadequados ocorre devido aos seguintes
Esse conselho, criado pela Lei 6938/81, é um órgão motivos:
colegiado e deliberativo da Política Nacional do • documentos viciosos – resulta de um compro-
Meio Ambiente. A Constituição Federal de 1988 misso tácito que se estabelece entre a consultora
consolidou a avaliação de impactos ambientais, ao e o empreendedor; o que acaba acarretando
incluir em seu capítulo VI (art. 225), dedicado ao informações distorcidas;
Meio Ambiente, a obrigatoriedade do Poder Público • documento sem conteúdo científico – deve-se ao
exigir o Estudo Prévio de Impacto Ambiental para fato de serem usados dados secundários ao invés
a instalação de obra e atividade potencialmente de primários, quanto ao empreendimento e ao
causadora de significativa degradação ambiental. meio ambiente;
Os instrumentos legais para a implemen- • documentos com informação insuficiente –
tação da AIA são: EIA/RIMA e/ou outros docu- devido à falta de integração da equipe, ausência
mentos necessários para se obter o licenciamento de objetividade (relatório longo e sem informação
ambiental. O EIA foi introduzido no país por meio suficiente sobre o empreendimento e meio
da Lei 6.803/80 e, posteriormente, pela Resolução ambiente), falta de capacitação da equipe e/ou
CONAMA 001/86, que estabelece a exigência de falta de recursos.
elaboração de EIA e seu respectivo RIMA para o Outros problemas com relação à aplicação
licenciamento de diversas atividades modifica- do processo de AIA podem ser destacados, como: a
doras do meio ambiente, bem como as competên- ausência de diretrizes e manuais para sua
cias, responsabilidades, critérios técnicos, diretrizes realização; a falta de recursos humanos qualifica-
básicas e as atividades sujeitas a esses procedi- dos; a aplicação desnecessária desse procedimento;
mentos (IBAMA, 1995; Rohde, 1995). De acordo com a não realização de AIA de políticas, planos e
IBAMA (1995), o EIA/RIMA deve ser submetido à programas, assim como a falta de instrumentos que
aprovação do órgão estadual competente e, em assegurem um monitoramento (Bursztyn, 1994).
caráter supletivo (ou no caso de EIA/RIMA para o Essas falhas e limitações evidenciam a necessidade
licenciamento de atividades que, por lei, seja de de se fazer um balanço crítico da aplicação da AIA,
competência federal) à aprovação do IBAMA. com o objetivo de aperfeiçoar o instrumento ou de
buscar alternativas que possibilitem aumentar sua
1.3. Limitações dos EIAs/RIMAs brasileiros efetividade. Nesse sentido, a Avaliação Ambiental
Estratégica vem sendo apresentada como uma
De acordo com Rohde (1995:33), as forma de lidar com muitas dessas limitações.
principais limitações identificadas na prática de
EIAs/RIMAs no Brasil, são as seguintes: 2. A Avaliação Ambiental Estratégica – AAE
• quadro jurídico-institucional baseado na
legislação norte-americana (onde o EIA/RIMA é Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) ou
utilizado como instrumento do planejamento), “Strategic Environmental Assessment - SEA” é um
enquanto que a prática na abordagem francesa, termo usado para o processo de avaliação ambien-
adota EIA/RIMA como documento de licencia- tal aplicado para Políticas, Planos e Programas
mento ambiental. (PPPs). Em geral, é identificada com a aplicação
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mentos específicos para AAE de políticas e planos propostas de diferente natureza. Algumas
regionais e setoriais, no contexto de sua política vantagens atribuídas ao processo de AAE pela
ambiental. proposta da CEU são apresentadas pelo autor, tais
No caso do Banco Mundial, o processo de como: a avaliação ambiental de alternativas na fase
AAE vem sendo aplicado para atividades de inicial do planejamento, permitindo a adoção
desenvolvimento regional e setorial. Para isso o daquela que é ambiental e economicamente melhor
banco adota dois caminhos de avaliação distintos: e a identificação e mitigação de impactos cumu-
Avaliação Ambiental Setorial e Avaliação lativos de forma mais efetiva na fase inicial de
Ambiental Regional. Esses dois procedimentos, planejamento.
atualmente fazem parte do processo de análise para A principal justificativa apresentada pela
aprovação de certos projetos, onde sua aplicação é CEU para a proposição da diretiva para a AAE é o
considerada apropriada (Egler, 1998). Embora essa de assegurar o desenvolvimento sustentável e a
forma de AAE tenha evoluído da aplicação da AIA, integração das questões ambientais dentro do
o fato é que está sendo aplicada para diversas processo de tomada de decisão, através da intro-
atividades estratégicas, sendo portanto um passo dução (na legislação e práticas administrativas dos
significante na adoção da AAE. Segundo Thérivel países membros), em nível nacional, de alguns
& Partidário (1996), a avaliação ambiental regional princípios comuns da AAE de políticas de desenvol-
é utilizada quando o número de atividades de vimento. Ao lado desse objetivo, as principais
desenvolvimento, com impactos cumulativos razões para estimular o estabelecimento da diretiva
potenciais, foram planejadas para uma certa área. de AAE, no contexto dos países membros, são a
Esses tipos de AAEs foram influenciados pela harmonização e competição (id., ibid.).
Declaração Programática de Impacto Ambiental
americana (PEIS – Programmatic Environmental 2.2. Vantagens da adoção da AAE
Impact Statements). No entanto, os autores
consideram que a avaliação ambiental setorial é Existem diversas razões que justificam a
muito mais estratégica, sendo utilizada para adoção do processo de AAE. Muitas decorrem do
programas de investimentos setoriais. fato de que esse processo AAE (Egler, 1998:3-4):
Egler (1998), destaca algumas vantagens • ajudaria a dar às questões ambientais uma
atribuídas à adoção desses dois procedimentos, importância similar àquela que é dada a outros
como: o aperfeiçoamento da consideração de aspectos do desenvolvimento na tomada de
impactos cumulativos; a eliminação de alternativas decisão. Isso pode estimular o decisor a articular
ambientalmente fracas na fase inicial; e o aperfei- os objetivos ambientais com os objetivos sociais
çoamento da coleta e organização de uma base de e econômicos;
dados regional e/ou setorial. Além desses, outros • tornaria a avaliação de impactos ambientais e
quatro aspectos são reforçados, em decorrência da sociais mais pró-ativa, antecipando mais que
adoção desses procedimentos: a) ajuda os governos reagindo às propostas de desenvolvimento;
na formação de uma visão de planejamento regional • facilitaria e aumentaria a consulta sobre aspectos
e/ou setorial de longo prazo; b) aumenta a ambientais entres as muitas organizações
transparência do processo de planejamento; c) leva envolvidas na formulação de PPPs;
em conta um amplo planejamento para medidas • levaria em conta a consideração de impactos
de mitigação, gestão e monitoramento, e para cumulativos, mais do que a AIA em nível de
identificar a necessidade institucional, de recursos projeto, por causa de sua posição nos estágios
e tecnológia no estágio inicial; d) fornece a base iniciais do processo de tomada de decisão e por
para uma colaboração e coordenação, atravessando considerar uma ampla variedade de ações sobre
fronteiras administrativas e entre autoridades de uma grande área geográfica ou um setor da
setores específicos e ajuda a evitar contradições na atividade econômica;
política e no planejamento. • permitiria a consideração de alternativas para
A Comissão da União Européia – CEU é projetos de uma maneira mais ampla, desde que
outra organização multilateral que está defendendo fossem inseridas na fase do estágio de planeja-
o uso da AAE como uma forma de alcançar a mento onde a consideração de alternativas pode
sustentabilidade e para aperfeiçoar o processo de ser mais bem acomodada;
AIA (id., ibid.). A CEU tem estado discutindo a • aperfeiçoaria a identificação de medidas de
elaboração de uma diretiva para a AAE. No entanto, mitigação para impactos propostos nas AIA,
o processo de negociação com relação à diretiva principalmente devido à consideração de
para o processo de AAE indica que a sua elaboração alternativas, de forma mais ampla; e
e aprovação ocorrerá de modo similar ao da • em alguns casos, poderia tornar a AIA redun-
Diretiva 85/337/EEC (Diretiva sobre a AIA): um dante, se os impactos fossem examinados
longa e difícil discussão, pontuada por diversas suficientemente em nível de plano ou programa.
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2.3. Limitações para a adoção da AAE A privatização é outro fator que, para o autor,
também impõe restrições ao processo de AAE, princi-
A Avaliação Ambiental Estratégica possui palmente na área dos recursos naturais. Existem três
limitações técnica e de procedimento (Thérivel & argumentos que são em geral apresentados para
Partidário,1996). justificar a privatização de patrimônio público como
água, terra, recursos minerais, petróleo, e assim por
2.3.1. Limitações técnicas diante. O primeiro é o argumento segundo o qual, a
gestão de recursos com base nos princípios do mer-
cado conduz a um melhor e mais apropriado pro-
As limitações técnicas estão relacionadas
cedimento de tomada de decisão em todas as áreas,
com o fato de que a AAE abrange uma grande área
incluindo aquelas com implicações ambientais.
e um grande número de alternativas, tornando a
O segundo considera que os recursos
coleta e análise de dados bastante complexas;
naturais podem ser convenientemente separados
possuem um nível de incerteza maior do que a AIA
entre bens privados e bens públicos, ou em catego-
para projetos; com freqüência se depara com
rias de ambientalmente sensíveis e insensíveis. O
informações limitadas ou incompatíveis; no caso
último argumento, estabelece que a privatização
da AAE em nível nacional, pode acontecer de se
desses recursos poderia ser feita de forma que
desprezarem impactos que são importantes em
permitisse ao governo, no futuro, reassumir o
nível local, mas que não têm influência na decisão
controle deles, caso as coisas não corram como
em nível nacional.
esperado. Esses argumento são contestados por
Bührs & Bartlett (1993).
2.3.2. Limitações de procedimento “Eles contestam estes argumentos dizendo que:
a) do ponto de vista ambiental, não existe lógica
Grande parte dos desafios e barreiras para a para o argumento que, se o Estado é tido como
implementação da AAE, enfrentados por diferentes um tomador de decisão fraco com relação aos
recursos, então o mercado deve necessariamente
países, decorrem de questões de natureza política
ser o melhor; b) a divisão linear entre bens
e institucional. Dentre os vários motivos políticos públicos e privados, assim como entre setores
que restringem a adoção do processo de AAE, públicos e privados é com freqüência obscure-
podem ser destacados: a natureza confidencial do cida, e a provisão de bens privados (exclusiva-
processo de formulação das políticas, planos e mente) pode ter implicações sociais e ambientais
programas; a janela que a AAE abre para se acionar tão importantes ou tão sérias quanto aquelas
judicialmente um PPP; a resistência que as que surgem da provisão de bens públicos; e c)
instituições têm em relação a integração; e o novo ainda que os governos estejam preparados para
remediar as falhas do mercado, isso pode
modelo administrativo, que prega a redução do
acontecer atrasado. Dado o fato que a degra-
Estado e a privatização (Egler, 1998). A resistência dação ambiental pode ser irreversível e ter
contra a coordenação é o motivo mais difícil de conseqüências enormes, a dependência de um
superar, uma vez que essa atividade não é aceita feedback estratégico do mercado, ou de alguma
por muitas instituições públicas. Assim, a remoção estratégia reativa para esta matéria, em muitos
das barreiras contra a coordenação constitui um casos, não é apropriado” (apud. Egler, 1998:155).
processo de mudanças de atitudes e valores no qual Algumas das barreiras mais freqüentes na
a sociedade está permanentemente envolvida, implementação do processo AAE nos contextos
cujas características dependem das contradições nacionais, estão resumidas no quadro 1.
presentes em cada contexto (id., ibid., p. 153).
Outro elemento que pode impor sérias 2.4. Papel da AAE no processo decisório
restrições ao uso desse processo, é a atual tendência
internacional, que enfatiza a redução do tamanho A definição de políticas, planos e programas
e funções do Estado na economia. De acordo com e a preparação e realização de projetos corres-
esse modelo, as funções do Estado deveriam ser pondem a fases distintas e seqüenciais do processo
reduzidas ao mínimo desempenho fisiológico das de tomada de decisão. Da formulação de políticas
atividades de defesa, justiça e polícia, essencial- até a sua concretização em projetos, passa-se por
mente à garantia da soberania nacional; as demais um nível de informação relativamente vago e
atividades seriam reguladas pelo mercado. No incerto, consubstanciado em intenções políticas,
entanto, a inserção das atividades de integração e para o detalhe do projeto. As diferenças entre esses
de coordenação nos processos de formulação e de níveis de decisão vão traduzir-se em abordagens
implementação de políticas, planos e programas, é diferenciadas em relação à avaliação ambiental
uma função do Estado. Nesse sentido, essa ten- (Partidário, 1994:136).
dência pode comprometer seriamente a atividade
de coordenação das ações públicas (id., ibid.).
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F) Implementa o PPP
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importante, o que pode ser muito difícil se o PPP problemas ambientais, esses países passaram a
for objeto de forte pressão política ou exigir um adotar o processo de AIA. Primeiramente, isso
tempo de estruturação muito longo. ocorreu nos Estados Unidos, com Lei da Política
Um outro ponto que garante a efetividade Ambiental Nacional, em 1969. Em seguida, genera-
da AAE, destacado pelos autores é que esta deve lizou-se para os demais países desenvolvidos. A
começar do nível de política mais estratégica para avaliação de impacto ambiental foi incorporada às
os níveis mais baixos de hierarquia do planeja- políticas das organizações bilaterais e multilaterais
mento de PPP. Isso, porque a AAE para PPP de de ajuda ao desenvolvimento, devido às pressões
níveis de hierarquia mais baixos pode ser pouco da comunidade científica internacional e dos
útil, se a política mais estratégica, com forte movimentos ambientalistas. Tal fato contribuiu
influência sobre as subseqüentes hierarquias de para disseminar a prática da AIA, tanto em países
tomada de decisão, não for objeto de AAE. No desenvolvidos, quanto em desenvolvimento.
entanto, alguns críticos da avaliação ambiental Na maioria dos países em desenvolvimento,
estratégica sugerem que essa avaliação acrescenta a implementação do processo de AIA e o estabeleci-
pouco ao processo de planejamento de política, mento de legislação ambiental ocorreram a partir
plano ou programa (PPP), e que este já estabelece das exigências dos agentes financeiros interna-
objetivos, considera alternativas e a mitigação de cionais, principalmente o Banco Mundial. A
impactos. Outros argumentam que a AAE não implementação do processo de AIA representa uma
poderia assumir o encargo (ou a responsabilidade) importante contribuição para modificar o processo
da tomada de decisão, pois esse é um processo de tomada de decisão vigente. Entretanto, como
essencialmente político. Entretanto, a análise dos ficou evidenciado, o processo de AIA apresenta
estudos de caso, confirmam que a AAE é uma várias falhas e limitações teóricas e técnicas, que
ferramenta útil para aperfeiçoar o planejamento de reduzem a sua efetividade, enquanto instrumento
PPP, fornecendo informações que auxiliam a para introduzir as considerações ambientais no
decisão política (id. Ibid.). processo decisório.
Essas falhas e limitações indicam a
Quadro 1 – Barreiras para a implementação da necessidade de se fazer um balanço crítico da
AAE (Thérivel & Partidário, 1996). aplicação da AIA, com o objetivo de aperfeiçoar o
instrumento ou de buscar alternativas que possibi-
• .Falta de conhecimento e experiência para identificar
litem aumentar a sua efetividade. Neste sentido, a
quais fatores ambientais que devem ser considerados,
Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) vem sendo
quais os impactos que poderiam surgir e como pode
ser realizada a elaboração de políticas de forma considerada como um importante instrumento de
integrada ajuda à tomada de decisão, capaz de introduzir de
• Dificuldades institucionais e organizacionais – forma mais efetiva do que a AIA, a questão
necessidade de efetiva coordenação entre e dentro ambiental nos processos decisórios de planeja-
dos departamentos governamentais mento de políticas, planos e programas governa-
• Falta de recursos (informação, especialista, financeiro) mentais. Isso, porque, a AAE, além de considerar
• Falta de diretrizes ou mecanismos para assegurar a os impactos diretos, identifica e prevê impactos
completa implementação da AAE cumulativos e sinérgicos das ações governamentais
• Compromisso político insuficiente para a implemen-
e os leva em conta nas fases iniciais do processo de
tação da AAE
• Dificuldades decorrentes do fato de que as propostas
planejamento, quando as decisões importantes
políticas não são claras, o que dificulta a definição de ainda não foram tomadas. Além disso, a adoção
quando e como a AAE seria aplicada da AAE permite introduzir a questão da sustenta-
• As metodologias existentes ainda não estão bem bilidade no processo de desenvolvimento, pois sua
desenvolvidas implementação, desde as fases iniciais do
• Limitado envolvimento do público planejamento das ações públicas, contribuiria para
• Falta de responsabilização clara na aplicação do assegurar uma sistemática integração das conside-
processo de AAE rações ambientais e sociais no processo decisório,
• As práticas atuais de AIA específica para projeto não promovendo a redução da fragmentação das
são necessariamente aplicáveis para a AAE e estão
políticas públicas e a atividade de coordenação.
inibindo uma abordagem mais consistente da AAE
O ideal seria que o processo de AAE come-
çasse no nível de política mais estratégica e, em
seguida, se estendesse para os níveis mais baixos
3. Considerações finais da hierarquia de planejamento e elaboração de PPP.
Seria pouco útil aplicá-lo em níveis mais baixos,
Os vários eventos internacionais ocorridos enquanto a política mais estratégica, com forte
a partir da década de 70, sem dúvida, contribuíram influência sobre as demais hierarquias de tomada
para colocar a questão ambiental na agenda dos de decisão, não for alvo de AAE. No entanto, sua
países desenvolvidos e, como uma resposta aos aplicação, mesmo em níveis de hierarquia mais
INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 2, N. 3, Set. 2001.
56 Aparecida Antônia de Oliveira e Marcel Bursztyn
baixos, implicaria benefícios para o meio ambiente, procedimentos e ferramentas. Brasília, IBAMA, 1995.
uma vez que é mais estratégica do que a AIA, sendo 136 p.
portanto, mais abrangente, o que permite consi- McCORMICK, John. Rumo ao paraíso: a história do
derar impactos agregados de vários projetos de movimento ambientalista. Trad. M. A. E. Rocha e R.
Aguiar. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1992.
determinada região, estado, município ou bacia
MOTTA, Ronaldo Seroa da. Manual para valoração
hidrográfica. econômica de recursos ambientais. Brasília, Ministério
As restrições para a adoção desse processo do Meio Ambiente, dos Recursos Naturais e da
são de natureza técnica e procedimental. As Amazônia Legal, 1998. p. 15-21.
restrições técnicas poderão ser superadas à medida PARTIDÁRIO, Maria do Rosário; JESUS, Júlio de.
que forem sendo feitos investimentos na formação Avaliação do impacte ambiental. CEPCA – Centro de
de uma base de dados e no desenvolvimento de Estudos de Planejamento e Gestão do ambiente,
Caparica, Portugal, 1994. p. 132-145.
novas metodologias específicas para a AAE e
procedimentos que reduzam o nível de incerteza. RESENDE, Emiko Kawakami de. Introdução a avaliação
de impactos ambientais: finalidades e procedimentos.
Quanto às restrições de natureza procedimental, a UFMS/CEUC e Embrapa/CPA-Pantanal, 1997. 30 p.
resistência das instituições para promover a (mimeo).
integração das ações públicas é mais difícil de RODRIGUES, João Roberto. Roteiro para apresentação
superar e a fragmentação das políticas públicas de Estudo de Impacto Ambiental - EIA e Relatório de
dificulta a avaliação ambiental em escala mais Impacto Ambiental – RIMA. In: VERDUM, Roberto;
ampla. Além disso, a crise do Estado e as soluções MEDEIROS, Rosa Maria Vieira. RIMA, Relatório de
Impacto Ambiental: legislação, elaboração e resultados.
neoliberais de redução de suas funções na 3. ed. ampl. Porto Alegre, Universidade/UFRGS, 1995
economia, são fatores que podem limitar a adoção p. 44-60.
da AAE, uma vez que é o Estado que deve fornecer ROHDE, Geraldo Mário. Estudos de impacto ambiental:
as condições necessárias para implementá-la. a situação brasileira. In: VERDUM, Roberto; MEDEIROS,
Rosa Maria Vieira. RIMA, Relatório de Impacto
Este texto sintetiza o marco de referência conceitual e analítico Ambiental: legislação, elaboração e resultados. 3. ed.
de dissertação de mestrado apresentada no Centro de ampl. Porto Alegre, Universidade/UFRGS, 1995. p. 20-
Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília. 36.
Os autores do texto são, respectivamente, autora da THÉRIVEL, Riki.; PARTIDÁRIO, Maria do Rosário. The
dissertação e seu orientador. Practice of Strategic Environmental Assessment.
London, Earthscan, 1996.
Referências bibliográficas
INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 2, N. 3, Set. 2001.