A etnomusicologia que em sua gênese no fim do século XIX era denominada
como musicologia comparativa, passa por transformações ao decorrer dos anos. Na década de 60 marcada por publicações como o livro "The Anthropology of Music" de Alan P. Merriam, obtem uma orientação antropológica. A partir desse período a etnomusicologia passa a abordar a música como objeto e não como objetivo de análise. A ciência etnomusicológica se detém nas relações culturais e sociais, na contextualização tempo e espaço que germinam uma manifestação musical reflexiva.
O expoente musicólogo francês Jean Jacques Nattiez, sugere uma
abordagem tripartida na investigação musical por uma perspectiva etnomusicológica: os traços poiético, estésico e neutro. A busca da natureza intrínseca de uma composição musical evidencia como a música (objeto) reflete e elucida manifestações antropológicas (objetivo).
Apesar da etnomusicologia ter a finalidade de compreender as relações
humanas através das diversas manifestações musicais, poderíamos citar como exemplo as músicas características dos cantos de trabalho no nordeste brasileiro e como sua existência é impartível de sua causa. Cantos como "Incelências", "Benditos", os "cantos das destaladeiras de fumo de Arapiraca" e da "bata de milho" das regiões agrícolas do nordeste tem sua "raison d'etre" nas crenças de uma comunidade, no ritmo de destalar um vegetal ou na batida conjunta da inchada dos trabalhadores. A toada de um aboio que por vezes substitui o pranto pelo canto, reflete características de um povo do sertão nordestino.
Concluímos que o estudo da etnomusicologia transcende a análise que se
atém somente ao nível superficial da estrutura musicail. Tal ciência tem contribúido a décadas para a maior compreensão das relações sociais e culturais manifestas através da música.