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JO SÉ PEDRO PAIVA ••
Introdução
t . t J S I T A M A S A C R A , 2" s é r i e . 15 (2 0 0 5 1 4 5 -7 6
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T rento. foram protagonistas dc dois program as diversos de actuação. Os prim eiros agiriam
através de um a presença sistem ática junto das populações usando uma "m isericórdia ev an
gélica”, a segunda leria actuado por via da repressão punitiva, ver idem p. 278-289.
4 A bula de fundação está publicada em Corpo diplom ático Portuguez contendo os
actos e relações política s e diplom áticas de Portugal com as diversas potências d o m undo
desde o século XVI a té aos nossos dias. Lisboa. Typographia da A cadem ia Real das
Sciencias/lm prensa N acional. 1862-1959. vol. Ill, p. 302-05. A bula está publicada em
versão latina com tradução portuguesa em Isaias da Rosa Pereira, D ocum entos para a
H istória da Inquisição em Portugal. Porto. Arquivo H istórico D om inicano Português,
1984, p. 23-27. Uma versão do m onitório da fé, de 18 de N ovem bro de 1536, pode ler-se
cm M aria José Pim enta Ferro Tavares. Judaism o e Inquisição. Estudos, Lisboa, Editorial
Presença. 1987. p. 194-99.
' O breve papal que o consente. Muneris nostri. data de 12 de Janeiro de 1599 e pode
ver-se em C ollectorio das Bulias e Breves Apostolicos. cartas, alvarás e provisões reais
que contém a instituição e progresso do Santo Officio em Portugal. Lisboa, Lourenço
Cracsbeeek, 1634. fl. 83v-84v. Sobre este assunto ver Francisco Bethencourt, História das
Inquisições Portugal. Espanha e Itália. Lisboa. Círculo de Leitores. 1994, p. 149 e Paulo
Drum ond Braga. A Inquisição nos Açores, [s.l.J, Instituto C ultural de Ponta D elgada. 1997,
p. 294, 404-405 e 448. Note-se, todavia, que ainda antes de 1599 já o Santo O fício instau
rara processos por solicitação. Esses processos foram recentem ente revelados num estudo
de G iuseppe Marcocci e reportain-se a dois sacerdotes de Eivas, André Fialho e João
G onçalves, sentenciados eni 1569, ver G iuseppe M arcocci, / trihunali delia fe d e in
Portogallo nell età dei concilio di Trento. Inquisilori, vescovi, confessori. Pisa. (s.n.|, 2002,
tese de licenciatura apresentada à Universidade de Pisa, p. 286-302.
‘ Refiro apenas três exem plos. Em 1542 um habitante de G ouveia veio à M esa da
Inquisição de C oim bra para delatar um conterrâneo que vivia em concubinato, delito que
era da jurisd ição episcopal, cf. Instituto dos A rquivos N acionais/Torre do Tom bo (a partir
de agora sem pre IA N/TT), Inquisição de C oim bra. Livro segundo das denunciaçoes. Livro
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n° 75. fl. 212v. Por seu lum o. em 1569, o inquisidor-geral ordena aos inquisidores de
C oim bra que rem etam ao bispo do Porto réus acusados de bigam ia que lhes haviam sido
enviados pelo próprio bispo do Porto, pois o caso era de foro m isto, pelo que o prelado
linha jurisdição para proceder, cf. IAN/TT. Inquisição de C oim bra. Caderno de provisões
carias e outros papeis desde o anno de 1536 athe todo o ano de 1599, Livro 271. fl. 25.
Km 1609 ainda os próprios inquisidores de Évora linham dúvidas se deviam proceder nos
casos de solicitação cum ulativam ente com os bispos e prelados das religiões ou “in soli-
diim ". cf. IAN/TT. C onselho Geral do ianto O fício. Correspondência recebida das in q u i
sições de Lisboa e de Évora. Livro 97. fl. não num erado, carta 76.
1 Ver A driano Prosperi, Tribunali delia coscienza..., op. cit.. p. 278.
* Ver Agostino Borrom eo, "C ontributo alio studio dell 'Inquisizione e dei suoi raporti
con il potere episcopali nell Italia Spagnola dei Cinquecento", A nnuario d eli'Istituto Storico
Italiano p e r L 'E td m oderna e contem porânea, vol. 29-30, 1977-78, p. 225-27.
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1 Não é actualm ente possível precisar com rigor quando é que tal sucedeu. É de
crer que isso não tenha ocorrido exactam ente ao mesm o tem po em todas as dioceses. Em
Espanha, de acordo com Bartolom é Benassar, desde 1562 que a Inquisição tem esta co m
petência em exclusivo.
14 O prim eiro R egim ento da Inquisição, de 1552, consagra o voto colegial da sen
tença nos capítulos 47 e 49, ver Regim ento da Santa Inquisiçam . publicado por A ntónio
Baião. A Inquisição em Portugal e no fírazil. Subsídios para a sua história. I.isboa, Of.
Tip. - C alçada do C abra. 1906, p. 42, (existe um exem plar deste R egim ento em IAN/TT.
C onselho Gerai do Santo O fício, Livro n°330). Os processos julg ad o s confirtnam -no.
" O s prim eiros de que tem os notícia foram os bispos do Porto e do B rasil, logo no
ano de 1559. ver IAN/TT. Inquisição de Lisboa, Livro 330, docum entos 80 e 81. publica
dos por Isaías da Rosa Pereira, D ocum entos para a história da Inquisição em Portugal
(século XVI). Lisboa. C áritas Portuguesa, 1987, p. 79-80. Houve casos em que o inquisi-
dor-geral, D. H enrique, na sua qualidade de legado papal, deu autoridade a inquisidores
para fazerem as vezes dos ordinários. Ou seja. invocou o seu poder papal delegado para
derrogar um poder episcopal. Assim sucedeu, em 8 de Junho dc 1564, quando autorizou
A m brósio C am peio, inquisidor de Lisboa, para “autorictate apostolica", com o ordinário
das dioceses da G uarda e Lam ego, assistir a processos de reús daqueles bispados, cf.
IAN/TT, Inquisição de Lisboa. Livro 330, docum ento 95, publicado por Isaías da Rosa
Pereira. D ocumentos. .. op. cit., p. 90. O bispo da G uarda, naquele tem po, era D. João de
Portugal, com quem o cardeal teve enorm es pendências, ver C arlos M argaça Veiga.
"R eform a tridentina e conflitualidadc: o litígio entre o bispo da G uarda. D. João de
Portugal, e o cardeal D. H enrique" in Amar. Sentir e viver a H istória - Estudos de h o m e
nagem a Joaquim Veríssimo Serrâo, Lisboa, Edições C olibri, 1995, p. 305-319. O prelado
de Lam ego era D. M anuel de N oronha, que tam bém nunca tivera laços de grande proxi
m idade com a Inquisição, sobre a sua biografia e acção ver M. G onçalves da C osta.
H istória do bispado e cidade de Lamego. O ficinas G ráficas de Barbosa e X avier Lda.,
1982, vol. 3, p. 30-41. Nos finais do século XVI a pressão do Tribunal foi enorm e para
inviabilizar que os bispos delegassem o seu poder, não aceitando nom eações de quem não
fosse previam ente aprovado pelo Inqusidor-gcral ou pelo C onselho G eral. Em carta para
a Inquisição de C oim bra o inquisidor-geral diz expressam ente: "daqui em diante não
adm itam nenhum ordinário de novo sem me avisarem ou ao C onselho", ver IAN/TT,
Inquisição de C oim bra. Caderno de provisões cartas e outros papeis desde o an n o de 1536
athe todo o ano de 1599. Livro 271, fl. 468.
'* Foram os casos de L. M olina, C. C arena e F. C astro Palao, ver A gostino
Borrom co. "C ontributo alio studio deliT nquisizione...” , op. cit.. p. 248.
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” Infelizm ente, os raros easos até agora identificados são todos referentes aos sécu
los XVII e XVI11. Ver Arquivo da Universidade de C oim bra. Livro de extratos de culpados
do arcediagado do Vouga, Ill/D , 1,4,5,45, c A rquivo H istórico do Patriarcado de Lisboa,
Livro de assentos da Relação Patriarcal de Lisboa (1719), Livro 475.
11 N ão existe actualm ente nenhum estudo m onográfico com pleto sobre a sua bio
grafia e actuação. Alguns dados, ainda que com um tom m uito panegírico e centrados na
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vislum brar m uitos tó p ico s que caracterizaram a coop eração entre estes
d ois im portantes p ó lo s de poder do cam po religioso. É bom ter presente,
para e n te n d e r m elh o r esta franca c o o p e r a ç ã o , c o m o o b isp o de C o im
bra tinha s id o c a p e lã o m or d o cardeal H en rique e , p ortanto, h o m em de
sua co n fia n ça , por certo, bom conh ecedor, por esta via. dos cam in h os e
estratégias da acçã o inquisitorial Ele. sobretudo enquanto b isp o de
C oim bra, assistia p esso a lm en te ao desp acho d os p rocessos inquisitoriais
(quer de réus da d io c e se quer de outras) *, delegava a sua representação
em inq u isid ores quando não podia estar presente íl, pregou em vários
sua acção de benem erência caritaliva, podem colher-se em João de A lm eida Soares. Vida
e m orte de Dom A ffonço C axtelbranco Hispo de Coimbra Conde de Arganil, Senhor dc
Coja e A lcayde m ór de Arouca, Vizo Rey deste Reyno dito Portugal, A cadem ia das
C iências de L isboa, M anuscrito 194 Vermelho c Manuel A ugusto R odrigues. "D. A fonso
de C astelo B ranco, estudante da U niversidade de Coim bra, bispo do A lgarve c de C oim bra
- a sua concio num auto de lê". Boletim do Arquivo da U niversidade de C oim bra, vol. XV-
XVI. (1995-96). p. 1-71, este com referências a outra bibliografia sobre o assunto.
Já tinha este cargo, pelo m enos em 8 dc N ovem bro de 1572, quando tom ou posse
de um a concsia na Sé de Évora. cf. Biblioteca Pública de Évora. Arquivo do C abido da Sé
de Evora, Livro das posses das d ig n id a d es/C E C -\4 -X \\-U ), fl. 36.
Ver IAN/TT, C onselho G eral do Santo O fício. C orrespondência recebida da
Inquisição de Coim bra, l.ivro 95. 11 não num erado, carta 7 1. Trata-se de uma carta datada
de 6 de D ezem bro de 16 1 1. assinada por Francisco de M eneses e João A lvares Brandão.
Estes dois inquisidores inform am o C onselho G eral que foram ler com o bispo pedindo-
-Ihc para nom ear com issário para assistir ao despacho dc réus do bispado. O prelado
nom eou o seu provisor e disse que cm casos graves o avisassem que ele iria pessoalm ente.
Dois dias depois o bispo escreveu ao inquisidor João Alvares Brandão pedindo-lhe que o
avisasse quando com eçaria o despacho, pelo que os inquisidores acharam que a intenção
do bispo era assistir ao despacho dos processos dos seus súbditos c não súbditos “com o o
fez no tem po do archiduque” .
11 Ver IAN/TT. C onselho Geral do Santo Ofício. Correspondência recebida da
Inquisição de Coimbra. Livro 95, fl. não numerado, carta 63. Trata-se de carta datada dc 18
de Setem bro de 1606, na qual se verifica que a cooperação do hispo com a Inquisição se fez,
mesmo quando houve casos delicados a perturbá-la. A carta é assinada pelo inquisidor João
Alvares Brandão: “Fomos cm pessoa ao bispo desle bispado Dom Afonso C astcllo Branco
c lhe significam os com o tínham os alguns processos de pessoas seus súbditos para despachar
c cada dia podião soceder outros e com o devido comedimento lhe pedim os fosse servido
nomear hua pessoa que tevese as partes necessárias para em seu nome assistir a estes d es
pachos. porquanto o doutor Antom o Velho seu provisor que Unha nom eado, não podia ser
adm itido a isso por alguas justas causa que auia. Kcspondconos que sempre fora zeloso das
cousas do Santo Officio e as aiudava em tudo o que podera e assi faria no que de novo se
oferecesse, porem que folgaria de saber se o seu provisor era cristão novo, porque a sello se
não serviria dclle. D issem oslhe que quando chcgavam os a lhe pedir nom eação dc outra
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pessoas devia Sua Senhoria ler por certo que as causas dcvião ser justas (posto que não sabía
mos se clle o era) nem lhe podíam os dizer mais. Dissenos que por ora para os processos das
pessoas de seu bispado que por qualquer via estivessem ja denunciados no Santo O fficio ou
se tivessem vindo presentar nelle nos nomiava e com itia suas vezes, de que deu com issão
por escrito, e que não nomeava outra pessoas de fora porque queria que isto ficasse em
segredo até saber as causa para o seu provisor não aver de ser cham ado, pedindonos com
muita instancia lhas declarássem os: e por lhe dizerm os que nao tínham os ordem para mais
nos deu a entender que nao daria outra com issão athe lhas declararem . Façanos V.S. merce
de nos m andar avisar se neste particular se aode fazer mais alguns ofícios e se o bispo nos
falar nestas cousas o que lhe poderemos responder, e foramos do parecer que se fosse dissi
mulando com elle c que quando depois fosse necessário prorogação da com issão que agora
nos deu se lhe pedisse. E temos por provável que a não negará e com este meio alcançará o
Santo Officio o que pretende e não dará ocasião a se averiguarem as causa do provisor, a
quem o bispo esta tão atado (segundo dizem ) que não deixará de se servir dele” . Nos pro
cessos actualm ente existentes nos fundos da Inquisição, no IAN/TT. não resulta qualquer
processo contra António Velho, provisor e vigário geral do bispo, cargo que ainda exercia
em Junho de 1612, com o se pode ver através de carta de Felipe II para o cabido da Sé de
Coim bra. Arquivo da Universidade de Coim bra. Cartas para o cabido e outros, caixa 3, V
Piso, doc. não numerado.
Sujeitando-se. inclusive, a ocupar lugar de m enor destaque do que os inquisido
res e contribuindo para que, nessas condições, o cabido da Sé se fizesse representar em
corpo, ver IAN/TT, C onselho Geral do Santo O fício, C orrespondência recebida de arce
bispos e bispos. Livro 91, fl. não num erado, carta 43. Trata-se de carta autógrafa do bispo
para o C onselho Geral na qual o prelado diz: “Tam bem lem bro a VVM M que ha tres annos
que levo quasi por força o nosso cabido ao Auto da Fee, por que lhe não dão o lugar que
devem ter as Sees cathedraes e pera os mais obrigar a irem me assento com ellcs no
m esm o banco que nenhum a differença tem mais dos que estão ordinários no cadafalso que
estar eu nelle. E porque soube que o arcebispo d 'E v o ra se assentava no A uto em cadeira e
o cabido d 'E v o ra em bancos sem elhantes aos dos inquisidores tendo obrigação de estar em
os autos da fee que se fizerem em Evora, a qual não tem este nosso cabido, me pareceo
que convinha avisar a VVMM deste particular para que m andem tom ar resolução geral e
igual pera os prelados e cabidos, porque avendo desigualdade nem eu. nem o cabido pode
rem os ir ao auto; e falo tão claro porque com eu ir a tres e do m odo que VVM M terão
sabido não poderão dizer que faço esta lem brança com vaydadc pois atee aqui lenho ser
vido este Santo O ficio, assim no tem poral com o no espiritual, com o VVMM quererão e eu
sem pre desejarei”.
!* Ver IAN/TT, C onselho Geral do Santo O fício, C orrespondência recebida de
arcebispos e bispos. Livro 91,11. não num erado, carta 101. Trata-se de carta de A fonso de
C astelo Branco, para o inquisidor-geral. em 29 de N ovem bro de 1592. na qual o louva por
ter escolhido o bispo de Eivas para deputado do C onselho G eral “por ser pessoas muito
que tinha co n h ecim en to através d o o fíc io regular das visitas pastorais que
em preendia, inform ava a Inquisição dos locais da d io ce se onde havia
grandes com un idad es de cristãos-novos que necessitavam de ser objecto
da acção inquisitorial 24, elaborou um as C on stitu ições diocesanas onde
prescreveu norm as detalhadas do exercício das visitas pastorais totalm ente
respeitadoras das prerrogativas do poder inquisitorial a . em c a so s d u v id o
so s não d esen cad eava p r o cesso s no seu A uditório sem previam ente c o n
sultar o s inq u isid ores * . deu pareceres sobre o m odo de converter os
experiente e com qualidades" e na qual reitera parecer que diz já ter feito de que a
Inquisição de C oim bra precisava de mais um inquisidor para ajudar a A ntónio Dias c
outros oficiais, sugerindo nom es de m uitas pessoas que a seus olhos poderiam servir o
Santo O fício. Em carta anterior, de 2 de Janeiro de 1589. dirigida ao inquisidor-geral. pede
que ele não nom eia para deputados da Inquisição de C oim bra duas pessoas que pela
Inquisição de C oim bra foram pedidas, cm virtude de a seu parecer elas não terem as q u a
lidades requeridas para "Ião santa lunção", ver IAN/TT. C onselho G eral do S anto O fício,
C orrespondência recebida de arcebispos e bispos. Livro 91. fl. não num erado, carta 32.
■'* Ver IAN/TT. C onselho G eral do Santo O fício. C orrespondência recebida de
arcebispos e bispos. L ivro 91, fl. não num erado, carta 99. Trata-se de c a n a datada de 2
Janeiro de 1593. na qual a dado passo o bispo informa: "O s dias passados escrevi a VA
quanto im porta a honra de D cos. descargo da consciência, proveito do santo ofticio m an
dar visitar a beira e antre douro e nnnho: porque em todas estas partes polas visitações dos
ordinureos se ve aver m uitos judeus e nas partes da serra da estrella. deste bispado, m uitos
m ais ao que parece pellas cousas que delles se di/. nas visitações ord in an as. E o tem po tem
m ostrado quao nccessaria c a visitação do santo oficio neste particular de que eu posso ser
boa tistim unha pois andei tres annos cm requerim ento que se m andasse visitar o reino do
A lgarve, por entender polas visitaçois que fiz estar chco de judeus c não me enganei. E a
visitação que se fez nas partes que digo foi causa de se descobrir o judaísm o...".
** Ver C onstituicoens synodaes do B ispado de Coim bra .... op. cit.. C oim bra.
A ntom o de Mari/.. 1591, sobretudo Título XXVIII. Veja-se ainda um a confissão do p ró
prio bispo, datada de 12 de A gosto de 1592. "Q uanto ao que toca as dcnunciaçõcs que
neste particular se fazem aos prelados e seus visitadores tenho provido nas C onstituições
novas que fiz e estão im pressas, conform e a carta de VA e a lem brança tam im portante que
nella. com tanta ra/ão . m anda lazer aos bispos. E provi neste negocio negocio tanto antes
por ver as prisoens que se fizerão cm alguns bispados, sem forma, nem ordem de justiça,
e sem a consideração devida aa qualidade de negocio tam im portante; c com cila se viram
jaa os inquisidores deste districto em trabalho por lhe ser forçado correrem com os taes
presos sendo m andados a este cárcere injustam ente.", cf. IAN/TT. C onselho G eral do
Santo O fício. Correspondem ia recebida de arcebispos e bispos. Livro 91. fl não num e
rado. carta 50.
* Ver IAN/TT, C onselho G eral do Santo O fício, C orrespondência recebida de
arcebispos e bispos. Livro 91. fl. não num erado, carta 35. Trata-se de uma carta, de 29 de
A bril de 1589, na qual o bispo relata que prendeu no aljube um a M aria Dias. a que cha-
mavum "a beata de C elas". C onta que esta m ulher era visionária e pretendia saber coisas
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cristã o s-n o v o s ” , d isp o n ib ilizo u o seu aljube para que aí fica ssem presos
cond enados p elo Santo O fício “ . U m a carta que escreveu para o C o n selh o
Geral da Inq uisição, em 28 de Janeiro de 1588. é bem o e sp elh o d o seu
p o sicio n a m en to e até. n ote-se, de algum a su b serviên cia em relação à
Inquisição. N ela se lê: “Eu vou todos os dias ao d esp ach o ordinário com o
Sua A lteza (o inquisidor-geral, cardeal A lberto) m e m andou tirando as
segu nd as e sextas feiras em que a ssisto na relação aos d esp ach os d os fe i
tos deste bispado. E tenho feito a pregação para o auto da fé que c o n fio
em N o sso Senhor seja digna daquele dia e eu m ais contente estou dela que
da passada e nisto e em tudo o m ais que for serv iço do Santo O fic io farei
sem pre com m uito g o sto , m andando-m o Sua A lteza e V ossas M ercês” ” ,
E ste z e lo e lealdade eram recon h ecid os pelos inquisid ores de C oim bra
que só Deus podia conhecer e que falara m esmo no Prior do C rato. A dianta que não a pode
ter em segredo no aljube, por este ser pequeno e acrescenta a finalizar que “não avendo
esta m ulher de ser julgada polo Santo O fficio possa eu com conselho de V. Ms proceder
nesta cousa com o D eus m anda...” .
■ Ver IAN/TT. C onselho Geral do Santo O fício, C orrespondência recebida de
arcebispos e bispos. Livro 91,11. não num erado, cartas 50 e 51. Na prim eira, datada de 12
de A gosto de 1592, escreve que "Q uanto ao cathecism o para os reconciliados poderei eu
ajudar nelle hum pedaço avendose de fazer, por ter studada esta m atéria, assi pelos rab i
nos antigos, com o pelos sanctos e Sagrada E scritura principalm ente do Testam ento
Velho...", explicando que o fez por ter pregado nos quatro últim os autos que se fizeram em
C oim bra e acrescentando que. na maior parte dos casos os reconciliados saiam dos cárcere
m as “finos e figadacs judeus" do que antes. Por isso acha que o m elhor C atecism o que se
podia dar a “esta gente desavergonhada dos seus erros" era o rei não lhes d ar honras, nem
m ercês, nem favores, sobretudo privando-os de poderem possuir lugares na "republica".
Na carta 51, doze dias depois, acrescenta sobre a m esm a m atéria que se lem brou que ta l
vez o m elhor fosse tirar aos judeus os filhos de seu poder para serem ensinados c instruí
dos na doutrina cristã "e assim tirarse toda a ocasião aos pais pera depois os não fazerem
judeus".
Ver IAN/TT. Inquisição de Coim bra. Caderno de provisões carias e outros
papeis desde o anno de 1536 aihe todo o ano de 1599. Livro 271. fl. 294. Trata-se de uma
inform ação do C onselho G eral, datada de 9 de N ovem bro de 1589. pela qual inform am
que foi sentenciado na Inquisição de Lisboa um João de M endonça, abade de M arm elo
que foi m andado recolher por certo tem po no m osteiro de Rendufe. De lá inform aram ,
posteriorm ente, que este abade fazia m uitas desordens, rogando que fosse de lá tirado.
A ssim , pedem que os inquisidores de Coim bra m andem lá um oficial buscar o abade e
peçam ao bispo conde, da parte do inquisidor-geral e do C onselho que consinta que ele
fique no seu aljube da cidade de Coim bra, sustentanto-se para isso com o rendim ento da
sua igreja.
” C f. IAN/TT, C onselho Geral do Santo O fício, C orrespondência recebida de
arcebispos e bispos. Livro 91, fl. não num erado, carta 31.
OS BISPOS E A INQUISIÇÃO PORTUGUESA (1*36-1613) 5.3
nom eou para o m esm o despacho serem vetados pelos inquisidores 1S, teve
d isputas por causa do lugar e do tipo de cadeira que queria para si nos
num erado, carta 15 c C onselho Geral do Santo O fício. C orrespondência recebida das
inquisições de Lisboa e Évora, Livro 97. fl. não num erado, cartas 39, 46 c 47. Para aqui,
im porta apenas referenciar o caso, para o que se invoca um a consulta do C onselho G eral,
datada de 13 de A gosto de 1593, através da qual se tonta conhecim ento de que o arcebispo
de Évora escreveu para o inquisidor-geral a dizer que não assistiria a despachos de p ro
cessos na Inquisição de Évora, na presença do Inquisidor Rui Pires da Veiga. O s dep u ta
dos do C onselho afirm am , na sequência disso, que "visto com o o inquisidor Rui Pires da
Veiga hc hum dos Inquisidores de que se tem m aior confiança por suas boas letras c v ir
tude e fazer os negocios do Santo O fficio com m uita inteireza e haver creado os proces
sos que se hao de despachar que são m uitos e graves, de que he necessário de que dê
inform ação, deve V. A. ser servido que não saia da dita Inquisição c assista ao despacho e
que se o arcebispo tiver pejo despachar com elle devja V. A. dar ordem que nom easse hum
letrado canonista em que concorram as partes nccessarias e lhe com etta suas vezes para
assistir no despacho com o ordinário c isto seria de mais im portância para o bom despacho
dos negocios que acharse ali o arcebispo com D. João seu sobrinho |tra ta --se de D. Jo ã o
de B rag a n ç a , q u e e ra in q u isid o r de É v o ra e so b rin h o d o a rc e b isp o D. Teotónio de
B ragança|. E quanto as causas que o arcebispo alega de ter pejo de estar com Rui Pires não
fazem a proposito do que ele requere porque he m atéria de Justiça que se trata com o
Inquisidor e o cabido em que se não pode dar determ inação sem ouvirem as partes e o
inquisidor pelas certidões que manda o arcebispo parece que procede com ju stificação c
que não deve ser por isso m olestado". A seguir, em fl. não num erado, aparece um a da carta
do arcebispo "Q ueixasse muito o arcebispo d 'E vora do inquisidor Ruy Pires da Veiga e ha
dias que isto dura e agora presentem ente o faz sobre a m atéria da certidão ju n ta a este
m em orial. Diz que o ditto inquisidor foi seu vigário geral e lhe pedio então a conesia que
agora tem, que o arcebispo lhe deu e que processandosse diante do ditto v igário a causa
porque foi tirado ao conego G aspar Dias a sua conesia. per onde se ouve a conesia por
vaga e pretendendo-a elie vigário, o arcebispo se escusou de lha dar estranhandolhe ser
elle nisto parte avendo sido ju iz, o que Ruy Pires não recebeu bem , e se despediu logo do
A rcebispo e lhe não entrou mais cm casa senão em Lisboa, per m andado de S. A. e depois
quando o arcebispo veio a Evora c lhe intentou suspeições indecentes apresenta o arce
bispo estas cousas a S. A. e lhe lem bra que avendo de aver despacho do Santo O fficio em
que elle se hade achar e tam bem o ditto Ruy Pires da Veiga deve S. A. aver por bem que
não estem am bos nelle”.
” Ver IAN/TT, C onselho Geral do Santo O fício, C orrespondência recebida de
arcebispos e bispos. Livro 91, fl. não num erado, carta 15. Reporto-m e a carta do a rc e
bispo, já referida, datada de 6 de Junho de 1587, na qual diz que há uns dias que escreveu
ao inquisidor-geral com unicando que nom eara para o substituir no despacho da Inquisição
um fr. Sim ão da Luz. dom inicano, doutor em teologia e seu confessor, ju stificando “e o
tom ei (por confessor) depois de feitos m uitos exam es se tinha algum a raça de christáo
novo, ou algum im pedim ento para me não confessar com elle e poderlhe com unicar os
negocios de que tivesse escrupollo em m atérias do Santo O fficio” . C om unicou esta d eci
são ao inquisidor Lopo Soares que lhe m andou d izer que este padre não podia assistir ao
OS B I S P O S E A IN Q U I S I Ç Ã O P O R T U G U E S A ( 1 5 3 6 - 1 6 1 3 ) 55
despacho por ter "im pedim ento". O arcebispo quis então saber qual o im pedim ento e o
inquisidor teria respondido que não lho podia dizer, ao que ele retorquiu "que ainda que
era [ele D. T cotónio de B ragança] pobre bispo, que era ordinário e que os inquisidores
eram nossos coadjutores e o que constava naquella m esa aos inquisidores e deputados me
devia a mim constar por todas as vias; nem isto bastou, dizem dom e que tinha escrupullo
de mo dizer tem endo que tivesse eu a meu confessor cm m enos conta. Veja V. A se he rezão
que por cousa em que ao D outor Lopo Soares lhe parece que não he de qualidade para eu
ter ao padre frey Sim ão da Luz em m enos conta, fique elle desonrado c eu m uito m ais em
me haver confessado com elle e se trate de minha pessoa e dignidade com tão pouca c o n
fiança quando eu sem a dignidade e sem as caans que agora tenho e expericncia, visitei o
Santo O fficio desta cidade, onde alem dos inquisidores ordinários se devassou de M iguel
de C oadros, bispo da G uarda e de Dom Miguel de Castro, arcebispo de Lisboa. E esta
devassa devia V.A. de ver em pessoa so porque tenho visto m uito pouco effeito delia
avendo alguas cousas de im portância que prover. Beijarei as m ãos a V.A. m andar que não
avendo inconveniente que se aceite a pessoa que eu com o ordinário nom eo e avendo se me
declare, para nom ear outro. E pois eu corro nesta m atéria conform e o direito razão he que
conform e a elle se me responda; e não daa a See A postolica estes cargos aos inquisidores
em m enosprezo dos bispos". A crescenta ainda que. no ano anterior, os inquisidores de
Évora lhe pediram por carta com issão para sentenciar um processo. Ele nom eou um padre
que era o provincial dos dom inicanos e soube que não o foram cham ar. Há cartas da
Inqusição de Évora para o C onselho sobre isto em IAN/TT, Livro 97 do C onselho G eral,
cartas 9-11. Er. Sim ão da Luz. tinha sido ouvido na Inquisição e sentenciado a retratar-se
de posições defendidas entre os seus alunos, no C olégio da Rainha, em Lisboa. De facto,
o próprio confessou que advogara que os santos que estavam em glória não podiam rogar
pelas alm as do Purgatório. A setença foi em itida em 2 de D ezem bro de 1577, ver IAN/TT,
Inquisição de Lisboa, processo n° 12077.
“ Ver IAN/TT. C onselho G eral do Santo O fício, Consultas que o C onselho fez aos
Senhores Inquisidores G erais e suas respostas. Livro 129. fl. 146. Trata-se de consulta
datada 25 de Fevereiro de 1595. pela qual o C onselho notifica o inquisidor-geral que foi
avisado pelos inquisidores de Évora, com o, no últim o auto-da-fé, D. T eotónio de Bragança
assistiu ao auto sentado “em cadeira de esttado" e não em banco com o os inquisidores e
com o era costum e dos prelados, o que m ereceu o seguinte com entário dos deputados: "E
porque isto he cousa nova e de muito periuizo pera a authoridade do santo oficio e dos
inquisidores que naquelle dia representão ali a pessoa de V. A. e sera occasião para os mais
prelados deste Rejno pretenderem tãobem ter cadeira destado nos autos públicos da fec e
se perturbar a boa ordem que sem pre nisto ouve” . Aconselham o inquisidor-geral a que
escreva ao arcebispo, inform ando-o que nos autos se deve sentar num banco, ju n to aos
m em bros do seu cabido, do lado da Epístola "pois os Inquisidores estão tãobem assen ta
dos em banco e são legados de S. Santidade e superiores neste particular; e que ninguém
naquelle dia lhes deve preceder senão só o inquisidor geral". A finalizar acrescentam : "E
porque o arcebispo he duro de condiçam e pouco affecto as cousas so Santo O ficio" aco n
selham ainda o inquisidor geral a dar conta disto ao rei. para que este tam bém lhe escreva.
56 JO S É P E D R O PAIVA
a ssistid o , am eaçou m esm o que recorreria ao Papa eni d efesa dos seus
direitos ” , o que. no entanto, parece nunca ter feito Este clim a de tensão
e até declarado con flito está bem patente em consulta do C on selh o Geral
para o Inquisidor, datada de 1 de Julho de 1594, quando os deputados, com
base nas inform ações que recebiam dos inquisidores de Évora e queixas do
arcebispo advogam : “P elo que não há que deferir as queixas que o arce
bispo faz a Vossa A lteza nesta carta; som ente lem bram os a Vossa A lteza que
é razão que o arcebispo tenha m ais respeito ao Santo O ficio e m inistros d ele
e que não possa cuidar nem dizer a Vossa A lteza que nele há desordens e
que há-de dar conta delas a Sua Santidade e que se lhe sign ifiq u e com
quanto segredo, autoridade e honra deve tratar as cou sas da Inquisição e
O inquisidor-geral concordou com as sugestões, mas achou que se devia apenas actuar nas
proxim idades do aulo seguinte. Pouco tem po depois, o inquisidor-geral escrevia d irecta
mente ao arcebispo dizendo-lhe que no passado ele se sentava em cadeira, por vezes do
lado do E vangelho, o que é m uito escandaloso na cidade e dim inuía a autoridade do Santo
O fício que naquele lugar é superior à dos prelados. E que em C astela os bispos se sentam
em banco com o seu cabido do lado da Epístola. Pede-lhe que futuram ente ele proceda
com o sem pre fizeram os seus antecessores e todos os prelados do reino e se sente cm
banco, com o cabido, do lado da Epístola, ver IAN/TT, Inquisição de C oim bra, Caderno
de provisões carias e outros papeis desde o anno de 1536 a the todo o ano de 15W . Livro
271, fl. 381.
” Ver IAN/TT. C onselho Geral do Santo O fício. C orrespondência recebida das
inquisições de Lisboa e Évora, Livro 97. fl. não num erado, carta 97. Trata-se de carta dos
inquisidores de Évora para o C onselho, de 3 de Junho de 1594, na qual dizem : “O je nos
disse M artim A fonso de M elo. deputado deste Santo O fficio, que ouvira d izer ao inquisi
dor Dom João de Bragança que o arcebispo no dia do A uto avia de m andar protestar que
as sentenças dadas sem elle ou seu com issário eram nullas e que depois de saireni as p es
soas contra quem se derão lhe avia de dizer que requeressem sua ju stiça acerca de suas
fazendas, porque tudo fora nulo e as não perderão. Bem cuidam os que nenhum a desias
cousas Iara. Mas porque he possivel que as faça e se pode isso arrecear pello m uito que
tem feito neste particular" acharam por bem avisar o C onselho c prosseguem : “Também
he costum e na sem ana do auto m andarem recado ao arcebispo per hum dos notários do
secreto pedindolhe se queira achar nellc. D uvidam os m andarlho agora porque entendem os
que nao deve deferir a isso e que lhe dam os occasião a que pelo m esm o notário nos mande
fazer alguns requerim entos. Pedim os a VA nos faça m erce m andam os avisar d o que tam
bém nisto devem os fazer” .
A pesar das am eaças não deve tê-las executado. Na sêrie de cartas dos prelados
dirigidas ao papa existente no A rchivio Segreto Vaticano não se encontram cartas suas
sobre a m atéria e. muito significativam ente, em correspondência abundante que trocou
com o legado Fabio Biondo. há im ensas referências aos recursos que fez para a Santa Sé
por causa das suas pendências com as O rdens M ilitares, mas nada relativo a d esentendi
m entos com a Inquisição, ver A rchivio Segreto Vaticano (a partir de agora sem pre ASV),
Fondo C onfalonieri, n° 33 . fl. 400 e seguintes.
OS B I S P O S E A I N Q U I S I Ç Ã O P O R T U G U E S A ( 1 5 3 6 1613) 57
m inistros delia. E que quando não quiser assistir em pessoa aos despachos
dos p rocessos dos seus súbditos nom eie um desem bargador canonista da
sua R elação que esteja sem pre na cidade para assistir por ele. de que o
Santo O fficio tirará prim eiro inform ação de sua lim peza e com isto c e ssa
rão todas estas q u eixas” w.
E de notar que e ste s litíg io s não sig n ifica m , da parte do prelado, total
o p o siç ã o à a cçã o d o Santo O fíc io . P elo contrário, quando, no ano de
1602. se faziam e sfo r ç o s para evitar o anunciado perdão geral dos cris-
tãos-n o v o s, o C o n selh o Geral do Santo O fício escreveu a D. T eotón io para
que e le fo sse a V alhadolide, conjuntam ente com os arceb isp os de L isboa
e Braga, co m o intuito de tentar con ven cer o rei dos prejuízos que essa
d ecisã o traria para a preservação da integridade religiosa do reino 40. A
e sco lh a pode ter sid o ditada p elo lugar institucional ocupado p elo arce
bispo, m as apesar d o s c o n flito s passados não deixou de se fazer. A m orte
de D. T eotón io. em 2 9 de Julho d esse ano de 1602. tolheu este d esejo do
C on selh o .
Podiam dar-se outros ex em p lo s de bisp os que mantiveram boas rela
çõ e s co m a In qu isição ou que com ela tiveram con flitos. N ão houve uma
p osição única e corporativa do ep iscop ad o nesta matéria. C om o em m uitos
outros assuntos 4‘. verificaram -se m últiplas actuações, que dependeram das
p esso a s, das suas relações clien telares e fam iliares, das suas carreiras, das
conjunturas. M as a tese que aqui procurarei sustentar é a de que em
Portugal, d esde o período do estab elecim en to da Inquisição e durante toda
a sua fase de organização o paradigm a dom inante foi o do b ispo de
Coim bra 41. Ou seja, apesar de alguns desentendim entos pontuais, talvez
" Cf. 1AN/TT, C onselho Geral do Santo O ficio. Cartas que os Senhores Inquisi
dores G erais escreverão ao conselho e respostas de consultas que o conselho fe z sobre
varias m atérias. L ivro 130, fl. 23v.
4,1 Ver 1AN/TT. C onselho Geral do Santo O ficio, M aço 10. docum ento 16 (é uma
cópia e não o original).
41 Sobre a noção da Igreja enquanto corpo heterogéneo atravessado por m últiplos
conflitos e diversas estratégias de actuação ver José Pedro Paiva, "A Igreja e o poder" in
C arlos M oreira A zevedo (dir.), H istória Religiosa de Portugal. Lisboa. C írculo de L ei
tores. 2000. vol. II. p. 135-138.
4-' O utros exem plos de bispos cooperantes já identificados são os de Rodrigo
Pinheiro (bispo do Porto entre 1552-72). G aspar do Casal (bispo de Leiria entre 1557-79
e de C oim bra entre 1579-84). Pedro Leitão (bispo da Baía entre 1558-75). Jorge de Ataíde
(bispo de Viseu entre 1568-78), Pedro de C astilho (bispo de Angra entre 1578-1583 e de
Leiria entre 1583-604). A ntónio Teles de M eneses (bispo de M iranda entre 1579-98),
M arcos de Lisboa (bispo do Porto entre 1581-91). João A fonso de M eneses (arcebispo de
58 J O S É P E D R O PAIVA
m ais v ivos nos anos que se seguiram a Trento, posteriores ao aum ento dos
poderes inquisitoriais que o cardeal D. Henrique foi granjeando para o
Tribunal, as relações entre a Inquisição e os prelados d io cesa n o s foram , em
geral, de grande cooperação e até de com plem entaridade. É isso que se
tentará dem onstrar no capítulo seguinte.
2. Formas de cooperação
Braga entre 1581-87), Nuno de N oronha (bispo de Viseu entre 1586-94 e da G uarda de
1594-1608), A gostinho de Castro (arcebispo de Braga entre 1587-1609), Francisco C ano
(bispo do A lgarve entre 1589-93), Fem ão M artins M ascarenhas (bispo do A lgarve entre
1594-1616) c C onstantino Barradas (bispo da Baía entre 1602-18).
" A lexandre H erculano referiu dois bispos que foram pouco atreitos à perseguição
de cristãos-novos. mas não dem onstra que tenham sido contra a criação do Tribunal, ver
A lexandre H erculano, H istória da origem e estabelecim ento da Inquisição em Portugal,
Lisboa, Bertrand. 1975, tom o I. p. 208-211 (a edição original desta obra é de 1854-59), O
assunto foi retom ado, com novos dados, por G iuseppe M arcocci que, apesar de revelar
com o houve um a prática relativam ente branda do bispo do A lgarve, D. Fernando
C outinho. e do prelado funchalcnse, D. Diogo Pinheiro, que leriam actuado, pelos anos
trinta de Q uinhentos, contra cristãos-novos nas respectivas dioceses, norm alm ente absol
vendo-os das acusações de judaism o e sugenndo a necessidade de serem catequizados,
não apresenta nenhum dado dem onstrativo de que qualquer um deles se tenha oposto ã
acção do Tribunal do Santo O fício, ver G iuseppe M arcocci, / trihunali delia fede in
Portogallo nell età dei concilio di Trento, op. cit„ p. 16-17. C onhecein-se tam bém casos
de bispos que perseguiram cristãos-novos com ferocidade com o. por exem plo, o bispo de
C euta D. Henrique de C oim bra que. em 1528, condenou à m orte pelo fogo alguns em
O livença, ver l.-S. Révah, Êtudes portugaises. Paris. Fundação C alouste G ulbenkian,
1975. p. 199. Na diocese de Coim bra, em 1533, teriam sido executados dois cristãos-
-novos por determ inação episcopal de D. Jorge de A lm eida, ver Maria José Pim enta Ferro
Tavares, Judaism o e Inquisição op. cit., p. 150.
OS B I S P O S E A I N Q U I S I Ç Ã O P O R T U G U E S A ( 1 5 3 6 1613) 59
*" A ssim sucedeu, por exem plo, com o bispo de Lam ego. cm 1581, D. A ntónio
Teles de M eneses, que visitou o tribunal distrital de C oim bra. R eferências a esse facto cm
IAN/TT. C onselho G eral do Santo O ficio. C orrespondência recebida de arcebispos e b is
pos, Livro 91, fl. não num erado, cartas 58 e 59.
11 Uma versão castelhana pode ver-se cm IAN/TT. C onselho G eral do Santo O fício.
M aço I, docum ento 13, Razões dos prelados e Inquisição p ara o rei não interceder p elo
perdão xeral. Entre as razões apontadas pura que o perdão geral não fosse concedida des-
taquem -sc: porque a experiência dem onstra que os perdões gerais que cm diversos tem pos
c lugares sc concederam no passado a esta gente foram de grande dano e prejuízo; a im pe-
nitència dos judeus que faz com que não valha a pena dar-lhes qualquer perdão, pois este
só leria sentido se esta gente sc m ostrasse arrpendida. mas revela a experiência “dos pre
lados dei reino que son seus pastores y los inquisidores que son las vigilius...'' que tal não
sucede e que eles não se arrependem ; o perdão causaria ainda notável dano ao tribunal do
Santo O ficio e consequente prejuizo da pureza da fé. ou seja. o perdão traria o descrédito
ao Santo Tribunal e perm itiria o regresso a Portugal de m uitos ju d eu s que prejudicariam
gravem ente a pureza da fé no reino.
O S B I S P O S E A I N Q U I S I Ç Ã O P O R T U G U E S A <15.16 I M O 61
panos que ela distribuíra com sinais das suas chagas c outros objectos que dava com o relí
quias. acrescentando: "por minha carta encom endo ao bispo conde c aos mais prelados
desse distrito que tacão publicar um m andadotordem ) que pera isso passei de que lam bem
vos será dada cópia e que nomeiem algum as pessoas para que recolham todas as ditas c o i
sas e vo-las enviem ”, cf. IAN/TT. Inquisição de C oim bra. C a d em o de provisões carias r
outros papeis desde o anno de 1536 athe todo o ano de 1599, Livro 271. fl. 280.
” Podiam referir-se centenas de casos. Bom exem plo em IAN/TT. Inquisição de
Lisboa, processo n” 94. Trata-se de um processo contra Teresa G om es, por judai/.ante,
desencadeado em 1579. Nele a Inquisição pediu ao provisor e vigário geral do bispado da
G uarda para. em nome da Inquisição, ir notificar testem unhas para com parecerem na Mesa
da Inquisição, incum bindo de outras funções um arcipreste de C astelo Branco. Também
no Brasil, e com o é de supor noutros territórios do im pério antes da instalação de um a rede
autónom a da Inquisição, que não está montada antes d o século X V III. se usaram os " s e r
viços" de funcionários da adm inistração episcopal. Em 1597, 1600. 1601 e 1605 o Santo
O fício fez vários pedidos de diligências ao vigário geral de Pernam buco e a outros o fi
ciais da justiça episcopal, entre os quais se contam m andatos de prisão e acções de a u d i
ção de testem u n h as, dados revelados por B runo F citler, In q u isitio n , ju ifs et
nouveaux-chritiens au Brésil. Le Nordeste X V lle et X V Ilie sièrtes, L cuven. Lcuvcn
University Press, 2003. p. 90-91.
M Há im ensos processos na Inquisição que foram despoletados a partir de in fo rm a
ções rem etidas pelos tribunais episcopais. Suspeitam os que um inventário sistem ático dos
processos inquisiloriais inquirindo a origem das inform ações que estiveram na sua origem
revelará dados m uito significativos a este respeito. Na ausência desse inventário, dêem -se
alguns exem plos: IAN/TT. Inquisição de Lisboa, processo n° 2246 (trata-se de um p ro
cesso por bigam ia contra uin Francisco R odrigues, desencadeado perante o sig án o -g eral
da diocese do Porlo. no tem po em que era bispo D. Fr B altasar Lim po, pela pnm cira
m ulher do réu, no ano de 1547. O réu foi depois rem etido à Inquisição de Lisboa onde deu
entrada cm 1551); Inquisição de Coim bra, processo n° 3159 e 3160 (trata-se de um p ro
cesso de sodom ia contra C atarina Luís. iniciado em 1587, pelo vigário geral de Chaves, que
a acusava de "com prejuizo da sua alm a e escandalo do povo" com eter “o pecado de sodo
mia" com M aria Dias, tam bém ela casada, “com a qual foi vista na cam a hua em cim a da
outra com certo virgalho feito per a dita conversação beijandosse e acraceandosse e come-
teo o ditto pecado de sodom ia sem se querer apartar dellc". O processo foi posteriorm ente
rem etido ao Tribunal do arcebispo em Braga, sede vacante, que determ inou, em acordão de
Maio de 1587: "que vista a qualidade do caso m andao que estes autos se tresladem e se
levem ao Santo O fficio da cidade de Coim bra na forma acostum ada". A ré acabou por fale
cer nos cárceres da Inquisição de Coim bra, intoxicada pelo fumo provocado pela com bus
tão de um as brasas, em 18 de Fevereiro de 1589). Na Inquisição de C oim bra chegou mcsino
a haver um livro para registar as culpas que eram rem etidas pelos bispos, cf. IAN/TT.
Inquisição de Coim bra. Caderno de denunciasoens que derão pessoas particulares contra
outras e de al/tumas que se remeterão dos ordinários <1551-1591), Livro 79.
OS BISPOS E A IN Q UISIÇÃ O PORTUGUESA (1*36-1613) 63
” A ssim succiicu com a Inquisição do Porto, ver Elvira Mca. "A Inquisição ilo
Porto”, in op. cit., p. 9.
* Ver Paulo D rum ond Braga. A Inquisição nos Açores, op. cil., p. 182.
VJ Tal sucedeu de form a m uito significativa, pelo m enos, nas visilas às ilhas, com o
m ostra Fernanda Olival para o caso da visita à M adeira, nos anos de 1591-92. De facto, os
casos que foram sentenciados no local resultaram de um colectivo form ado pelo visilador
(o inquisidor Jcróm m o Teixeira C abral), pelo vigário geral da diocese em representação
do bispo, m ais dois religiosos franciscanos e o reitor do C olégio dos Jesuítas. A leitura das
sentenças foi sem pre feita em estrado especialm ente construído no interior da Sé catedral,
cf. Fernanda O lival, “A visita da Inquisição à M adeira em 1591-92” in A ctas J o III
C olóquio Internacional ilt H istória da M adeira, Funchal. Secretaria R egional do Turism o
c C ultura. 1993. p. 499-501. Em algum as dioceses italianas os inquisidores chegaram a
acom panhar os visitadores dos bispos durante a visita pastoral para fazer inspecções sobre
com portam entos heréticos, com o sucedeu, por exem plo, em 1559, na visita de Strigno. ver
A ndrea dei C ol. “ La confcssione di fede dl un gruppo eterodosso in V alsugana nel 1559"
in Andrea dei C ol et R osanna Paroni B ertoja (a cura di) - Sotto il Segno di M ennochio,
M ontreale Valccllina. C irculo C ulturale M ennochio, 2002. p. 124-125. Não tenho noticia
de que isso ocorresse cm Portugal.
“ C) elenco e o conteúdo dos sermões conhecidos, pregados por bispos nos autos-da-fé
m ereciam um estudo. Veja-se um exem plo em Manuel A ugusto R odrigues, ” 1). A fonso de
C astelo Branco...", op. cit. Sobre a criação de um catecism o especifico para os cristãos-
novos, ideia desencadeado cin 1589 pelo inquisidor-geral. e que contou com a oposição da
m aioria dos bispos, ver Elvira Cunha de A zevedo Mea. A Inquisição de Coim bra no século
XVI. A instituição, os hom ens e a sociedade. Porto: Fundação Eng. A ntónio de A lm eida,
1997, p. 474. A lguns dos pareceres dos bispos sobre este assunto tinham preocupações
com a protecção do estatuto do Tribunal. Por exem plo, o bispo de Viseu, em Janeiro de
1593, opõe-se à ideia, por achar que a função da Inquisição é ju lg ar e não se pode expôr,
por via da publicação do catecism o, a que depois haja polém ica, cf. IAN/TT. C onselho
Geral do Santo O fício. C orrespondência recebida de arcebispos e bispos. Livro 91. 11 não
num erado, carta 64.
64 JO S É P E D R O PAIVA
Pedro Ferreira da Silva arcediago de O liveira ou ao provisor e vigário geral que são m uito
doutos...” .
“ A partir dos anos 60, graças à acção do cardeal D. Henrique, quase todas as ren
das das m itras passaram a ter im postas sobre si pensões para a Inquisição, elem ento
im portante do financiam ento do Tribunal. Essas pensões eram autorizadas pelos bispos
quando eram preconizados para as dioceses, veja-se. por exem plo. ASV, A rchivio C on-
cistoriale. A cta C am erarii, vol. 9. fl. I7v (referente à preconização do bispo de Portalegre,
D. A ndré de N oronha, cm 1560. com a im posição de um a pensão de 175 ducados para a
Inquisição). A lguns bispos foram zelosos cum pridores destes pagam entos. Por carta de I
de Julho de 1566, dirigida a André Lam ego, cónego da Sé de C oim bra e recebedor geral
do bispado, o bispo da cidade, D. João Soares, declara ter instituído que todos os anos o
bispado desse ao Santo O fício uma pensão de 600 mil réis, pagos em duas prestações, um a
pelo S. M iguel e outra no N atal. E por estar por pagar a quantia do Natal an terior m anda
que se pague, cf. 1AN/TT. Inquisição de C oim bra. Caderno de provisões cartas e outros
papeis desde o atino de 1536 athe todo o ano de 1599, Livro 2 7 1. fl. 5.
“ A rede de com issários e fam iliares com eça a ser construída pelos anos de 1570,
mas só adquire um a dim ensão m inim am ente aceitável a partir das prim eiras décadas do
século XVII, ver José Veiga Torres, "D a repressão religiosa para a prom oção social. A
Inquisição com o instância legitim adora da prom oção social da burguesia m ercantil".
Revista C ritica de C iências S o cia is, Vol. 40, (1994), p. 109-135. Em Itália, A driano
Prosperi já reportara a existência de uma situação sem elhante, ainda que com cronologias
distintas, ver A driano Prosperi. Trihunali delia coscienza..., op. cit.. p. 327.
66 JO S É P E D R O PAIVA
alm as” 6\ Elvira Mea defende m esm o que, ate' 157Ü, a Inquisição de C o im
bra não procede a visitas porque as denúncias que ia recebendo da cidade e
seu term o e as inform ações que lhe eram enviadas pelos bispos do seu d is
trito chegavam para alimentar a capacidade instalada que o Tribunal então
tinha Esta confiança na solicitude e colaboração dos bispos era m esm o
afirmada pelos inquisidores gerais em correspondência intem a do Tribunal.
Tal sucedeu com D. Jorge de A lm eida, que linha sido arcebispo de Lisboa,
e que em 4 de Fevereiro de 1584, escreve aos inquisidores da Inquisição de
C oim bra ordenando que quando e le s não pudessem ouvir certas testem u
nhas o pedissem aos bispos ou a quem m elhor lhes p a r e c e sse .67 Linha que
já havia sido aberta pelo próprio D. Henrique. D e facto, nas prim eiras in s
truções do Tribunal, de 1541, a solicitação do apoio do ep iscop ad o, reve
lador de confiança na aliança, é evidente. Lá se refere que o promotor e o
m eirinho da Inquisição podiam ser o do bispo, que o prom otor devia ter
uma arca para guardar os papéis da Inquisição - devendo esta ser posta em
segurança na casa do prelado e que quando fo sse necessário proceder a pri
sõ es se u tilizasse o aljube episcopal M.
Em função d o que se acaba de expor creio poder afirmar que, gradu
alm ente, se foi cam inhando para uma actuação cooperante e ou sam os até
dizer com plem entar, sobretudo no que se refere ao trabalho de fisc a liz a
ção da ortodoxia e de norm alização social dos com portam entos dos fiéis.
C om o já escrevi noutro local w, ainda que para uma época posterior, parece
evidente ter existid o uma divisão do trabalho norm alizador dos com porta
m entos por parte das duas esferas. D e forma esquem ática, pode dizer-se que
essa com plem entaridade se m anifestou do seguinte m odo. A o nível dos
esp aços de actuação concreta, verifica-se que a Inquisição agiu m aiorita
riam ente sobre as populações urbanas, enquanto o s bispos actuaram tam
bém no esp aço rural . Por outro lado, am bas as instâncias se preocuparam
c José Pedro Paiva. "A adm inistração diocesana e a presença da Igreja. O caso da diocese
de C oim bra nos séculos XVII e X V III". L tu ita n ia Sacra. 2° série. 3. 1991. p. 94-95.
" Ver os dados actualm ente disponíveis em Francisco Bcthencourt. H istória das
Inquisições..., op. cit.. p. 279.
: Ver dados para a diocese de Coim bra em José Pedro Paiva. "A adm inistração d io
cesana..." op. cit.. p. 87-95 c para o arcebispado de Braga em Franquclim Neiva Soares. A
arquidiocese de Urtiga no século XVII Sociedade e m entalidades pela s visitações p a sto
rais (1550-1700). Braga: |s .n .|. 1993. vol. I. p. 184-196. Não é rigorosa a proposta ap re
sentada por Maria José Pim enta Ferro Tavares quando escreveu: “C om o instrum ento de
controlo social, de vigilância de lodo o dissidente - c, anotem os, de todo o desvio religioso,
moral e social - , o Tribunal do Santo O fício desenvolveria (...»". cf. Inquisição e Judaísmo,
op. cit., p. 180. O Santo O fício não tinha, nem exercitou com petências tão alargadas.
” Cf. IAN/TT, Inquisição de C oim bra, Livro n° 681. fl. 57, docum ento integral
m ente publicado por Joaquim Rom cro M agalhães, “ Em buscu dos tem pos da Inqui
sição...” , op. cit., p. 215-221.
JO S É P E D R O PAIVA
e determ inou rem eter "os autos co m o vieram da ilha de Sam M iguel per
a p ellação a M esa do Santo O fício de L isb oa” 7*.
O quadro que se acaba de esb oçar não pretende esco n d er que tam bém
h ouve d esco n fia n ça s, receios, co n flito s e até que a co m u n icação entre b is
pos e in qu isid ores nem sem pre fluiu com efic á cia . A 4 de M arço de 1586,
o b ispo de L am ego, D . A ntón io T eles de M en eses, escreveu para o C o n
selh o Geral inform ando que na sequência da v isitação mandara para a
Inq uisição de C oim bra certas p essoas cujas cu lp as lhe parecia p erten ce
rem ao Santo O ficio . Q ueixava-se ainda de que daquela Inquisição nunca
haviam acusado a recepção d estes ca so s, p elo que o C o n selh o determ inou
que o s inquisid ores, a partir de então, e sc rev essem lo g o aos b isp os c o m u
n icando que o s culpados que e le s rem etiam eram , de facto, ju lg a d o s na
Inq uisição e, quando assim não fo sse, que lhes en v ia ssem nota d isso para
e le s o s julgarem nos resp ectivos auditórios
D os c a so s já co n h ecid o s parece poder sustentar-se que o g ro sso das
p o lém ica s sucedeu em torno de três aspectos:
a) O pagamento das pensões que as Inquisições tinham impostas sobre os
bispados, principalmente quando os bispos quiseram erigir seminários
e reclamaram que o Santo O fício também contribuísse ou quando
tiveram que pagar pensões referentes a períodos de sede vacante
b) a jurisdição em relação a delitos de foro m isto, com o foi o caso da
bigam ia, blasfém ia, práticas m ágico-supersticiosas ou a solicitação K;
‘ O processo integral, que não chegou a ser retom ado na Inquisição, encontra-se
em IAN/TT, C onselho Geral do Santo Ofício, maço 43. doc. não num erado.
■* Cf. IAN/TT, Inquisição de Coim bra, C aderno de provisões c a n a s e outros papeis
desde o anno de 15.16 athe lodo o ano de 1599, Livro 271, 11. 232.
" Assim fez o bispo da G uarda D. Nuno de N oronha, o que m otivou os protestos
do inquisidor-gcral, a quem o prelado respondeu, dizendo que se o Santo O fício tinha
algum indulto ou privilegio de isenção nesta m atéria, c se assim se pratica noutros bisp a
dos, que lho com unique para ele riscar o Santo O fício da lista dos que contribuem para o
sem inário, cf. IAN/TT, C onselho Geral do Santo O fício, C orrespondência recebida de
arcebispos e bispos. Livro 91. fl. não num erado, carta 55. O m esm o tipo de problem a com
o bispo de M iranda, carta 1 10.
" Tal aconteceu com o bispo de C oim bra, D. Manuel dc M eneses, o que motivou
queixas da Inquisição para o tribunal apostólico, tendo o bispo protestado alegando, entre
outras coisas, que o ju iz apostólico, bispo de Viseu, era parte interessado e por isso não
isento, ver IAN/TT. Inquisição dc Coim bra, Caderno de provisões cartas e outros papeis
desde o anno de 1536 athe todo o ano de 1599, Livro 271, fl. 73-9X.
13 C ada um destes delitos justificava uma apreciação detalhada. C om o exem plo
refiram -sc algum as contendas entre a Inquisição e o arcebispo de Lisboa. D. Miguel de
OS B I S P O S li A I N Q U I S I Ç Ã O P O R T U G U E S A ( 1 5 3 6 - 1 6 1 3 ) 71
C astro (1586-1625). por causa da jurisdição sobre casos de bigam ia e curas supersticiosas,
ver José Pedro Paiva, Bruxaria e superstição num país sem caça às bruxas: 1600-1774,
l.isboa. Editorial N otícias. 1997. p. 31-32. D ados novos em IAN/TT. C onselho Geral do
Santo O fício. Consultas tio Conselho aos Inquisidores Gerais, Livro n° 369, fl. 171 e
C onselho Geral do Santo O fício, C orrespondência recebida de arcebispos e bispos. Livro
91. fl. não num erado, carta 8. N esta últim a carta, datada de 3 de M aio de 1605 e dirigida
ao inquisidor-gcral. o arcebispo D. Miguel de C astro informa ter recebido em Santarém
uma carta do inquisidor-geral na qual se lhe pedia para entregar um preso bígam o.
D. Miguel de C astro sustenta que os "livreiros" di/.em que bigam ia é ju risd ição do eclesi
ástico e que. por isso, não pode ir contra a jurisdição e posse cm que está o arcebispado
"rem etendo o preso que se costum a condenar e castigar neste ju izo ordinário c depois que
sou arcebispo se castigarão m uytos com penitencia publica e degredo sem aver nisto c o n
tradição algum a e as sentenças destes se lem publicam ente no púlpito da Se. na qual resi
dirão sem pre pessoas da Inquisição que assistirão a publicação das tais sentenças. E o
fundam ento que os inquisidores tem por si que querem saber da intenção dos tais delin
quentes se elles quiserem ver o cartorio nelle acharao a resposta do seu fundam ento porque
não se achara que os delinquentes neste pecado tenhão error no entendim ento mas som ente
fraqueza e sendo isto assi, o que afirm o por me passar por as maos não vejo razão para
rem eter o preso". D epois diz que o argum ento de que noutros bispados não se procede
assim , não colhe, pois no dele sem pre assim se fez. A crescenta que ele fará tudo para ser
vir a Inquisçào. mas que não tem o direito de privar o arcebispado de um direito que pos
sui e que se há duvidas ele se conform ará, mas com pareceres de letrados e não dos
inquisidores de Lisboa. Em carta seguinte, de 19 de Maio, diz que m andará ao vigário geral
que entregue o bígam o de que fala, não por ser jurisdição da Inquisição, mas pelas palavras
com que lho pediu o inquisidor-geral e para dem onstrar “com actos” que quer servir o
Santo Oficio, assum indo esta entrega não com o uma renúncia da sua ju risd ição ordinária,
que continuará a exercer nesta m atéria. Uma carta do C onselho para o arcebispo sobre esta
m atéria prova que o conflito foi a excepção e não a regra, pois nela se diz que os inquisi
dores gerais haviam com unicado aos bispos que era ao Santo O fício que com petia tratar
destes casos e eles sem pre os rem etiam à Inquisição. Sobre a controversa questão do delito
de solicitação veja-se a excelente abordagem proposta por G iuseppe M arcocci. / tribunali
delia fe d e tn Portogallo nelC età dei concilio di Trento, op. cit., sobretudo p. 283-308.
” O caso mais sugestivo é o que envolveu o arcebispo de Évora, T cotónio de
B ragança, a que já se fez menção. Por vezes tam bém houve problem as com o lugar que
era dado aos prelados nas audiências a que iam assistir no Tribuanl da Fé. A ssim sucedeu
em 1560. O arcebispo de Lisboa. Fernando Coutinho. recusa-se a assistir ou a enviar d e le
gados seus aos despachos da Inquisição por não lhe darem o lugar devido na m esa, ou seja
im ediatam ente abaixo do presidente que representava o inquisidor-geral. D eclarava ainda
nulos os procesos que se votassem sem ele, cf. IAN/TT, Inquisição de Lisboa. L ivro 330,
docum ento 40. publicado por Isaías da Rosa Pereira. D ocum entos.... op. cit.. p. 45-46.
72 JO S É P E D R O PAIVA
tiv essem in ten sifica d o com alguns prelados e que estes tivessem procu
rado por vários m eios defender a sua ju risd ição e poder, actuando com
algum a autonom ia em relação ao Santo O fíc io , e até propondo vias alter
nativas, m en os repressoras e m ais catequizadoras, para converter o s heré
tico s, c o m o foi sugerido por G iuseppe M arcocci, para o s ca so s de
B artolom eu dos M ártires (arcebispo de Braga, 1 5 5 9 -8 1 ), Jerónim o O sório
(b isp o do A lgarve, 1 5 6 4 -1 5 8 0 ) e A n tón io Pinheiro (b isp o de M iranda,
1 5 6 6 -7 9 ) M. Tanto m ais que, pela m esm a altura, no co n tex to da estratégia
de aum ento da jurisdição do Santo O fíc io , através d o breve C um a u d ia -
m u s, de 14 de Abril de 1561, Pio IV co n ced ia ao inquisidor-geral a facu l
dade de, sem pre que o achasse ju stificá v el, avocar a si as cau sas de
heresia pendentes nos ordinários, em qualquer estad o em que se e n c o n
trassem e de inibir, sob penas e c le siá stica s, o s ju iz e s aos quais estiv e sse m
afectas 8S. É sabido co m o o s prelados protestaram e deixaram d isso um
registo nuns A p o n ta m en to s que fizeram para as cortes de 1562. N esse
d ocu m en to procuraram ainda pressionar para que o seu controlo na vida
do Tribunal se e x ercesse, insistindo na n ecessid a d e de que o s tribunais
distritais da Inquisição fossem v isitad os regularm ente, de preferência por
p relados, e alvitrando co m o fundam ental a participação de prelados no
C o n selh o Geral da Inquisição
M as estes d esentend im en tos não assum iram proporções que ju stifi
quem falar de qualquer confronto duradouro e sistem ático. Foram d esen
tend im en tos pontuais, se calhar m ais m otivados por relações p esso a is e
M Ver G iuseppe M arcocci, I iribunali delia fe d e in Portogallo nell età dei concilio
di Tremo, op. cit., p. 134-158 e 179-99. O autor, em tese distinta da que aqui propugnam os
defende: "Si puo affermare, in conclusionc, che se fra vescovi e inquisitori nel corso dei
C inquecento in Portogallo non si verified uno scontro aperto e duro com e in Italia o in
Spagna, sopravisse tuttavia alungo un conflito latente, chc derivava da una differente v i
sione d ell’eretico, dei ruoli che le varie com ponenti delia C hiesa dovevano assum ere nell
controllo delia fede c dei metodi da adottare per sconfingere I eresia". p. 158. Pelo que con
clui que a colaboração entre bispos e inquisidores foi "scarsa” e que uina “nova linha" mais
cooperante, só se iniciou no tem po do arquiduque Alberto, a partir de 1586. de que a bula
que o nom eia inquisidor geral, a Inter alias curas, é um instrum ento precioso, essencial e
definitivo, ao subordinar os bispos à autoridade da Inquisição, p. 310-312.
“ Este breve está publicado em Corpo diplomático Portuguez.... op. cit.. vol. IX. p. 233.
* Ver Biblioteca Geral da Universidade de C oim bra. A pontam entos dos prelados
deste reino nas cortes que se fizeram em Dezembro de 1562, m anuscrito 3187. M arcocci vê
neste docum ento um exemplo dc estratégias alternativas ü acção inquisitorial que um grupo
de prelados teria tentado praticar, opinião que não com ungo, ver G iuseppe M arcocci, / tri-
bunali delia fe d e in Portogallo nell'età de! concilio di Trento, op. cit., p. 127-34.
OS B I S P O S H A I N Q U I S I Ç Ã O P O R T U G U E S A ( 1 5 * 6 - 1 6 1 3 ) 73
3. Conclusões
A o term inar esta reflex ã o , e apesar da esc a sse z d os estu d os actu al
m ente ex iste n te s sobre a tem ática em epígrafe, pretendo sublinhar a lg u
m as das co n seq u ên cia s que esta coop eração entre o poder inquisitória! e
o poder ep isco p a l teve na vida portuguesa e, sim ultaneam ente, procurar
entender qual fo i a raiz. d e sse bom relacionam ento.
Em relação às c o n seq u ên cia s parece evid en te que a tendência global
para a sin ton ia entre este s d o is poderes foi m ais um e lem e n to que serviu
para reforçar a força e so lid e z da Igreja em Portugal. Por outro lado, foi
um factor que contribuiu de form a d ecisiv a para a preservação da integri
dade relig io sa d o reino e para m anutenção da ortodoxia das práticas c
cren ças relig io sa s das p o p u la çõ es, bem co m o d os seus com portam entos
m orais. S e a d ifu sã o de correntes d issid en tes da ca tólica rom ana foi rela
tivam ente m arginal em Portugal, na Época M oderna, isso não derivou, do
meu pon to de vista, de um a qualquer característica g en ética, ou essên c ia
ô n tica e sp e c ífic a s que fiz e sse m d os portugueses fervorosos fiéis do c a to
licism o . P elo contrário, tal d eve ligar-se à acção da Igreja portuguesa e
m uito esp ecia lm en te aos m ecan ism os de v ig ilâ n cia que foram criados
para preservar o reino do “co n tá g io ” das correntes heréticas que. d esd e os
in íc io s do sé c u lo X V I. am eaçavam a unidade da Igreja Rom ana. Ou seja.
a m inha tese é de que a unidade e com plem entaridade d estes im portantes
sectores da Igreja foi um d o s pilares da eficá cia da a cção de fisca liza çã o
d os com p ortam en tos e práticas relig io sa s das p op u lações e da lim ita d ís
sim a d ifu sã o de grupos r e lig io so s d issid en tes em Portugal.
Q ual foi a raiz desta boa cooperação? O rei e o profundo cruzam ento
de relações entre as duas instâncias 4inquisitória! e prelatícia) através da
m obilid ad e de in d ivíd u os entre elas.
A forte intervenção d o rei na con stitu ição e im plantação d o Tribunal
em Portugal e o co n tro lo que exercia sobre o inquisidor-geral e o s bispos
74 JOSÉ PEDRO PAIVA
(era ele quem o s escolh ia, praticamente sem lim itações, desde o reinado de
D. M anuel) podem ajudar a perceber a cooperação, já que ela é do próprio
interesse do monarca r . A liás, o recurso ao monarca em situações de c o n
flito para tentar sintonizar as partes desavindas é sinal evidente do seu peso.
O cruzam ento de carreiras e a circu lação de p essoas entre as prelatu-
ras d io cesa n a s e o s lugares de topo da Inquisição foi outro factor deter
m inante para a aproxim ação e coop eração que se verificou e isso . em bom
rigor, tam bém resultou das políticas de provim ento dos lugares da cú sp id e
das duas hierarquias que o m onarca adoptou. O s inquisid ores gerais, à
e x c e p ç ã o d o cardeal arquiduque A lberto, foram sem pre recrutados entre o
corpo d os bispos portugueses E dos 1 14 b isp os p rovidos entre 1536 e
1613, trinta, ou seja, 26.3% , tinham feito carreira prévia na Inquisição,
c o m o prom otores, deputados, inquisidores ou m em bros do C o n selh o G e
ral **. Esta percentagem sobe para 38% , se se com putarem apenas os b is
pos do con tin en te, sem dúvida, o s m ais influentes.
Em sum a. a ubiquidade de certos personagens, que fizeram carreira
na Inquisição antes de chegarem a prelados, ou de prelados que acabaram
a liderar o Tribunal da Fé, o que proporcionava a criação de relações
in terpessoais com o s aparelhos burocráticos das duas instâncias e dava um
co n h ecim en to p elo interior do seu fu ncionam ento, constituiu uin aspecto
determ inante para o clim a de boa coop eração entre as duas partes. E as
trocas não se faziam apenas ao m ais alto nível. Sobretudo até finais do
sécu lo X V I, foi frequente ver in divíduos que desem penhavam fu n ções
nos aparelhos da adm inistração ep iscop al (p rovisores, vigários gerais,
d esem bargadores) a exercer, em sim ultâneo, cargos nos tribunais distritais
da Inquisição (prom otores, deputados). S ó p elos fin ais do sécu lo X VI há
e c o s de uma p o lítica do Santo O fício que passa a e x ig ir um estatuto de
ex clu siv id a d e de fu n ções para o s seus agentes
la /c r àquele d istrito soube que o prom otor daquela Inquisição lam bem era p ro v iso r e vigá
rio geral do bispado, "e porque os cargos do Santo O fficio requerem m inistros m ais d eso
cupados". m anda que o despeçam , cf. IAN/TT. Inquisição de C oim bra. C aderno de
provisões cartas e outros papeis desde o anno de 1536 athe todo o ano de I5 W , Livro 271,
fl. 135.
" Cf. Agostino Borromeo. “Contributo alio studio dcH'Inquisi/ione...", op. cit.. p. 244.
' A este propósito A ndrea del C ol escreveu: "la m aggior im portan/a d ell'o rd in a rio
rispetto all'inquisitorc, l’intcrsecarsi dell azione inquisitoriale con il governo pastorale, la
pluralitá di giudici com petenti. la costan/.a dei raporti eon la C ongrcgazionc del
Sunt'U fficio, l'ap p o g io e il controllo esercitato delle au to n tà statali", cf. A ndrea Del Col,
/. 'In quisitione n e lpatriarcal!) e diocesi di Aquiieia, op. cit.. p. LXXV. Ver tam bém A ndrea
del Col. “O rganizzazione. com posi/ione e giurisdizione dei tribunali d c ll'ln q u isi/io n e
rom ana nella republica di Venezia <1500-1550)", Critica Siorica, XXV (1988). p. 244-294.
*' Cl M axim iliano B arrio G ozalo. Los ohispos de C astilla y Léon durante et
A ntiguo Régim en ( I556-IR 34). E stúdio so ciœ co n ô m ico , Zam ora. Junta de C astilla y León
C onscjeria de Lducaciôn y C ultura. 2tXJ0. p. 71.
** Cf. D om ingo L. G onzalez l.opo, " t l alto clero gallcgo en tiem pos de Felipe II"
in A ntonio F.iras Kocl (coord) El reino de G alicia en la m onarquia de Felipe II. Santiago
de C om postela. X unta de G alicia, 1998. p. 330.
76 JO S É P E D R O PAIVA
Este asp ecto , aliado à tendência para o alargam ento da ju risd ição in q u isi
torial (norm alm ente apoiada p elo rei), ao carácter centralizador que a
Inq uisição geralm ente granjeou e ao forte sen tid o de autonom ia de certas
regiões acabou por criar uni quadro onde o s co n flito s foram m ais fre
quentes e, por v ezes, extrem am ente v io len to s ” , Tal forçou alguns prela
d os a recorrerem a R om a em d efesa da sua ju risd ição, co m o su ced eu , em
1595, por ex em p lo , com o arcebispo de Granada, que protestou em Rom a
contra o b stá cu lo s que a Inquisição lhe levantava à p u b licação de éd ito s
em matéria de fé Em ca so s m ais graves, a própria vida dos prelados
estev e am eaçada. D e facto, só em Espanha se c o n h ecem ca so s de b isp os
con den ad os pela Inquisição, co m o sucedeu com o arcebispo de T oledo,
B artolom é Carranza de Miranda, em 1559
Em Portugal predom inou um quadro de cooperantes relações e uma
relativa hom ogen eid ad e territorial de actuação, ju stifica d a s pela lim itada
ex ten sã o do reino, pela sua relativa unidade p olítica, pela capacidade de
interferência régia, pela escala reduzida das suas e lite s e pela p recoce e
forte cen tralização do Santo O fício.
” Tese já sustenluda por Francisco Bethencourt, H istória das Inquisições... op. cit..
p. 284.
* Ver A gostino Borrom eo, “C ontributo alio studio d cll'ln q u isiz io n e ...", op. cit..
p. 247.
91 H á m uita literatura sobre o processo inquisitorial contra o arcebispo de Toledo,
ver José Ignacio Telleehea Idigoras. El arzobispo C arranza v su tiempo, M adrid, Edi-
ciones G uadarram a, 1968 e do m esmo autor “El proceso del arzobispo C arranza" in Jo a
quin Perez Villanueva e Bartolom é Eseandell Bonel (dir.). H istoria de la Inquisición en
Espana y A m erica. M adrid, Biblioteca de A utores C ristianos. 1984, p. 556-598.