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Joseph Mazur
Tradução
Carlos Szlak
Produção editorial
Oliveira Editorial | Anna Beatriz Seilhe
Preparação
Pedro Ayres
Fabrício Fuzimoto
Revisão
Ana Kronemberg
Capa
Leandro Dittz
Diagramação
Filigrana
Mazur, Joseph
Acaso: como a matemática explica as coincidências da vida / Joseph Mazur;
tradução de Carlos Szlak. –- Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
256 p.
ISBN 978-85-441-0485-9
Título original: Fluke
Introdução 9
Parte I – As histórias 17
1. Momentos excepcionais 19
2. A garota de Petrovka e outras coincidências agradáveis 24
3. Coincidências significativas 36
Parte II – A matemática 47
4. Quais são as chances? 49
5. O presente de Bernoulli 57
6. Longa série de caras 72
7. Triângulo de Pascal 81
8. O problema com macacos 96
Parte IV – Os quebra-cabeças 149
11. Evidência 151
12. Descoberta 167
13. Risco 179
14. Poder paranormal 187
15. Sir Gawain e o Cavaleiro Verde 201
Epílogo 217
Notas 221
Agradecimentos 239
Índice remissivo 241
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185803245032174022234935499238
As histórias
Coincidência
Momentos excepcionais
Você se lembra da vez em que estava caminhando sem pressa por uma rua
numa cidade estrangeira, Paris ou Bombaim, e deu de cara com um ve-
lho amigo, que não via há muito tempo? Aquele velho amigo com quem
você deu de cara: o que ele estava fazendo ali, naquele lugar e naquela
hora? Ou lembra aquele momento em que você quis alguma coisa e ela
aconteceu? Ou a sequência de má sorte quando tudo deu errado duran-
te suas férias por causa de um momento infeliz? Ou aquela vez em que
ficou surpreso de conhecer alguém que tinha nascido no mesmo dia que
você? Existiram vezes em que você deve ter tido a súbita sensação de
sincronicidade que encolhe o universo, uma transformação esclarecedora,
que amplia seu lugar no cosmos. Você se sentiu parte de um círculo de
humanidade ampliado e focado, com apenas algumas pessoas – ou talvez
apenas você – no centro.
Você já levantou o gancho do telefone para ligar para alguém a quem
não ligava há um ano e, antes de digitar o número, escutou a pessoa na
linha? Em 1969, aconteceu isso comigo. Pense nisso: parece mais prová-
vel de acontecer do que não. Afinal, todo um ano havia se passado – 365
dias em que nada aconteceu. Adicione a esse número de dias o ano an-
terior; outro ano em que nada aconteceu. E adicione a este o número de
dias daquele tempo até agora. Nunca aconteceu de novo. Agora estamos
falando de um período de tempo substancial em que a coincidência não
aconteceu.
Imagine a seguinte história. Você está sentado num café em Ágios
Nikolaos, na ilha de Creta, e escuta uma risada familiar numa mesa, num
café vizinho. Você se vira para observar a pessoa. É um homem. Você não
acredita no que vê: é o seu irmão. Mas ali está ele, inequivocamente seu
irmão. Ele também o vê e está tão surpreso quanto você. Isso aconteceu
comigo em 1968. Nenhum de nós sabia que o outro não estava em casa,
em Nova York ou Boston.
Ou imagine isso. Você está olhando livros usados num sebo longe de
sua casa e encontra um livro que recorda sua infância. Você o abre e en-
contra sua letra. É um exemplar de Moby Dick com seu nome na contra-
capa e anotações nas margens do livro todo. Era um livro que você usava
na escola. Aconteceu com um amigo, que me disse que estava olhando
as estantes de um sebo em Dubuque, em Iowa, uma cidade em que ele
jamais tinha estado antes.1
Em 1976, minha mulher, nossos dois filhos e eu estávamos viajando
pela Escócia, quando, num dia nevoso, nosso carro Vauxhall quebrou
na cidadezinha de Penicuik. O mecânico da única oficina da localidade
disse que o problema era o alternador, e que ele só conseguiria trocá-lo
em três dias. Fomos até o pub mais próximo, esperando passar a noite.
O dono do estabelecimento era um homem de poucas palavras, mas,
quando contamos para ele que éramos americanos, ele se animou e disse
com orgulho: “Na próxima semana, uma cantora americana fará uma
apresentação aqui. Vocês devem conhecê-la. Não sei o nome dela, mas
há um cartaz no escritório.” Ele trouxe um grande cartaz anunciando um
show de Margaret MacArthur, com a oferta de stovies (prato tradicional
escocês, contendo obrigatoriamente batata e, ocasionalmente, cebola e
sobras de carne).2
– Margaret MacArthur! – minha mulher e eu exclamamos, simulta-
neamente. – Ela é nossa vizinha. Nós a conhecemos muito bem!
O taberneiro assentiu com um gesto de cabeça, e com uma expressão
confusa, murmurou:
– Achei que a conheciam.
Realmente, os Estados Unidos é um país muito pequeno.
Há momentos em que somos surpreendidos por coincidências impres-
sionantes. São os focos da rede de associações da natureza, pois, sobretu-
do na solidão da era digital, queremos nos ajustar no mundo intimidante
com um senso de individualidade, uma identidade, um propósito e uma
sensação de que algumas partes de nossas vidas destinadas. Assombrados
com a vastidão arrepiante do universo em contínua expansão, num espa-
visível ou invisível, certamente subjacente a tudo (…) algo que satisfaz com-
pletamente (...). Este algo é o Todo, e a ideia do Todo, com a ideia concomitante
da eternidade, e de si mesma, a alma, flutuante, indestrutível, navegando pelo
espaço para sempre, visitando cada região, como um navio no mar.4