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23/11/2018 Carta aberta de um juiz federal à juíza substituta de Sergio Moro

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Carta aberta de um juiz


federal à juíza substituta
de Sergio Moro Pedir máquina

Juiz federal e professor doutor do


Curso de Direito da UFBA escreve Pragmatismo Político
carta aberta à juíza substituta de 1.134.500 curtidas

Sergio Moro no caso Lula

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João Batista de Castro Júnior*

Antes da Lei 11.719/2008, que introduziu alteração no


Código de Processo Penal, o réu era citado
ordinariamente para ser interrogado por um
magistrado acompanhado de um escrivão que
digitava todas as frases começando sempre com
“que”. Não raro um lapso condenatório do juiz e/ou
do digitador escapava: “que, mesmo sendo verdade,
insiste em dizer que não é verdade” etc.

Ainda nessa época, todo cuidado era pouco por parte


do acusado, pois a recepção judiciária ainda estava
presa a intenso formalismo, quase que se

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assemelhando àquele antigo exemplo encontrável


em Gaio (jurista romano que morreu em 180 da era
cristã), nas suas famosas Institutas, de um indivíduo
“agindo por causa de videiras cortadas”, o qual, ao
dizer, perante o juiz, a palavra vites em vez de arbor,
terminou por perder a ação, uma vez que a Lei de XII
Tábuas falava de árvores cortadas em geral.

A Lei 11.719/2008 surgiu, então, para ser e reafirmar-


se ser um marco miliário da teoria do processo penal:
o interrogatório é primacialmente meio de defesa do
réu e, secundariamente, meio de prova.

Dez anos já se foram, mas ainda tem juiz(íza)


preso(a) ao passado, o que, tratando-se das práticas
jurídico-judiciárias, não é novidade, pois as roupas
continuam inadequadas ao climas dos trópicos, a
linguagem insiste em imitar (mal, saliente-se) uma
norma padrão própria do modelo gramatical do início
do século XX, quando começou a parábola
descendente do bacharelismo oco e retórico, os
padrões litúrgicos teimam em ser fortemente rococó
etc.

No ambiente virtual contemporâneo, esperava-se a


adaptação dos magistrados a um novo modelo. Mas
o que se viu no interrogatório de Lula hoje, dia 14 de
novembro, foi o passadismo mostrando sua força na
cena jurídica, ou seja, um acusado sendo tratado
como condenado, não como réu que tem em seu
favor a presunção de inocência.

Se Moro nunca esteve à altura de um cargo que


exige imparcialidade, e isso se tornou mais que
evidente ao aflorarem suas dissimuladas ambições
políticas nos últimos dias, muito menos parece
merecê-lo sua sucessora, a juíza federal substituta
Gabriela Hardt, que, na audiência de interrogatório,
mostrou toda sua inabilidade para pelo menos posar
de imparcial ao vociferar: “senhor ex-presidente,
esse é um interrogatório. E se o senhor começar
nesse tom comigo, a gente vai ter um problema”.

Que problema, que problema, Gabriela? Se ao réu é


dado até ficar em silêncio sem que isso arranhe sua
defesa, como assegura o Código de Processo Penal
(art. 186, parágrafo único), como admitir que deva ter

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um tom para falar e um barema lexical do que possa


dizer?

Pelo que se vê, está faltando mais esforço de


credibilidade no caráter imparcial dos julgadores de
Lula, porque, quando um juiz não é imparcial, mas
tem que fingir sê-lo, deve ao menos fazer um melhor
esforço teatral de demonstrar que o é.

Costuma-se ensinar em Análise do Discurso que o


que se diz nem sempre é tão importante quanto a
circunstância que envolve o não dito.

Ao declarar “se o senhor se sente desconfortável, o


senhor pode ficar em silêncio”, a magistrada
incriminou-se mais do que seguramente tentará fazer
com Lula na sentença condenatória que está por vir,
pois juiz algum pode induzir um acusado a ficar em
silêncio, a não ser que tema que o depoimento
constranja não só os acusadores como a mais
recente e bizarra criação jurídica do direito brasileiro,
nascida em Curitiba, o juiz-acusador.

Convenhamos: na encenação judiciária de baixo


estofo que se instalou no caso Lula, morre-se de
medo da paixão oratória dele, até no STF, que
cometeu a atrocidade de vetar sua entrevista. Goste-
se ou não, o ex-presidente humilhou Moro, que,
perdido na sua ruminação de desforço vingativo, se
deixava alimentar ainda mais pelo desejo de
condenar a cada lance eloquente do interrogatório no
caso do tríplex.

Agora, a juíza, temerosa de que a eloquência de Lula


passasse também por cima dela, logo denunciou sua
limitação intelectual: “se ele fugir do assunto e
começar com discurso político, doutor, infelizmente,
eu estou comandando a audiência e vou ter que
cortar”.

O que você sabe, Gabriela, de discurso político?


Sabe ao menos o significado dado pela Ciência
Política? Não, né, não sabe, pois os manuais
recheados de macetes com que se consegue
aprovação em concursos da magistratura e do
ministério público passam longe desse tipo de
incursão.

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Portanto, um réu pode falar o que quiser em seu


interrogatório, desde que não produza ofensas, pois
não se sabe qual é a estratégia de defesa. Portanto,
a juiz algum é dado interferir nessa configuração
defensiva, a menos que não disfarce seu propósito
condenatório.

Mas vou ainda, Gabriela, lhe puxar a orelha com uma


última lição sobre sua aberração de incitar o réu a
ficar em silêncio. É bem provável que isso nunca
chegue a seu conhecimento. Mas, vá lá, não vou me
furtar de fazê-lo: quando, em um interrogatório, se
induz ILEGALMENTE um réu a ficar em silêncio,
quer-se no fundo produzir o que se conhece como
argumentum ex silentio, ou seja, uma evidência
presuntiva de que a pessoa deixou de mencionar
algo embora estivesse em condições de fazê-lo.

Dou-lhe um exemplo clássico, porque conheço bem


as limitações intelectuais da formação jurídica: nos
seus diários, Marco Polo diz ter visitado a China, mas
não cita a Grande Muralha, o que abriu uma enorme
controvérsia historiográfica se teria mesmo estado
naquela região.

Como sugestão bibliográfica desse instigante tema,


indico John Lange, The Argument from Silence, History
and Theory”, vol. 5, n.. 3, 1966, e M. G. Duncan, The
Curious Silence of the Dog and Paul of Tarsus; Revisiting
the Argument from Silence, Informal Logic, vol. 32, n. 1,
2012.

Mas, antes de qualquer coisa, fique advertida da


lição dada por Sven Bernecker e Duncan Pritchard:
“argumentos pelo silêncio são, invariavelmente, bem
fracos; há muitos exemplos onde este tipo de
argumentação nos levaria a lugar nenhum” (The
Routledge Companion to Epistemology, Routledge, 2012,
p. 64-5).

Mas nós sabemos aonde as imputações contra Lula


querem chegar, não é mesmo? Afinal, até o
presidente eleito, que não detém qualquer poder
legal sobre o assunto, mas é chefe de fato do juiz
que encarcerou o ex-presidente, já declarou que este
irá “apodrecer na cadeia”.

Em arremate: não é segredo como isso terminará e


só me darei mesmo em breve ao trabalho de criticar
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os aspectos técnicos da anunciada futura sentença


condenatória porque tenho muitos alunos e alunas
interessados em conhecer as vísceras da estupidez
jurídica que se abateu sobre o País.

*João Batista de Castro Júnior é juiz federal e


professor doutor do Curso de Direito da Universidade
do Estado da Bahia.

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Tags Curitiba juristas Justiça Lula Operação Lava Jato

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AandersonWergutzFlip • um dia atrás


...Lula não só acabou politicamente. Acabou
como gente, se é que já foi isto algum dia. Este
sujeito não será olhado nos olhos nem pelos
cúmplices mais próximos. Em verdade, este
mafioso sequer será olhado nos olhos pelos
próprios netos no futuro. Quando crescerem
terão vergonha dos pais, sim, mas sobretudo
verdadeiro asco do avô criminoso.

Esta gente não rouba apenas. Esta gente mata


seres humanos. Mata pelo dinheiro que lhes
subtrai um atendimento hospitalar adequado ou
uma mínima condição básica de vida. Ou mata
ainda como, suspeita-se, fez com Celso Daniel,
prefeito de Santo André. Esta gente pertence a
um tipo de criminoso ainda pior que um ladrão
comum ou um assassino confesso. Pertence
àqueles que matam pelas costas e depois,
cinicamente, condolescem-se com as vítimas.
São como crocodilos chorando enquanto
esmagam suas presas indefesas.

Obrigado Moro, parabéns juíza Gabriela Hardt.


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ELCIO > AandersonWergutzFlip


• um dia atrás
Quero ver se você terá vergonha na
cara e, daqui há alguns anos, pedir
perdão pelas bobagens que escreveu.
Não preciso nem perguntar se você já
escreveu bobagens semelhantes a
alguns anos (Aécio/Dilma). Pra quem
será que você votou? Pro Aécio (mata-
primo)?. Agora não aguenta de raiva e
fala mal do Lula.... Provavelmente você
é um "cidadão de bem", que não quer
pagar direitos trabalhistas, não quer
sistema de cotas, e que sonega imposto
de renda.... Ou seja, um bosta, idiota,
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de e da Ou seja, u bosta, d ota,
etc...
3△ ▽ • Responder • Compartilhar ›

Silas A. Santos > ELCIO


• 2 horas atrás
Matou a pau !!!! Esses
direitinhas, sonegadores de
impostos, criadores do CAIXA
DOIS ! De onde vem o dinheirão
que sustenta a corrupção, se não
de caixa dois desses bandidos
golpistas
( Travestidos de
"empresários"),fantasiados de
verde e amarelo??? Veja QUEM
já começou a pagar o PATO, se
não os mais vulneráveis dos
rincões , dos cafundós do
bresiu... Já estão SEM Médicos e
a coisa tende a piorar
muuiittoo.... Depois, é só fazer
um REFIS e pronto, tá tudo
certo....
△ ▽ • Responder •
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Lennon Brazetti • um dia atrás


esperem só o juiz que se acha acima da lei e da
constituiçao assumir o ministério da
perseguição política., vai ser igualzinho a SS
perseguindo judeus, negros ciganos e
dsocialistas.
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