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Estudo de Aplicabilidade Da Adição de Fibras de Sisal em Misturas Asfálticas Do Tipo SMA
Estudo de Aplicabilidade Da Adição de Fibras de Sisal em Misturas Asfálticas Do Tipo SMA
RESUMO
Stone Matrix Asphalt – SMA é uma mistura com elevada proporção de agregados graúdos e possui um alto teor
de ligante asfalto para preencher vazios formados na estrutura. Fibras ou ligantes modificados são adicionados
para impedir o escorrimento excessivo do ligante. Este trabalho estudou a adição de Fibras de Sisal em misturas
SMA, pois estas fibras apresentam boa absorção de líquidos e são estáveis a altas temperaturas o que sugere que
podem ser utilizadas em misturas à quente. Os resultados indicaram que a fibra diminui o escorrimento de
ligante e a adição em diferentes proporções com 15 mm de comprimento apresentaram melhorias nas
propriedades mecânicas, como o aumento da Resistência à Tração e a Resistência à Tração Retida que superou o
mínimo requisitado para misturas SMA. A fibra mostrou ser um material adequado a ser utilizado em misturas
asfálticas e apresentou grande capacidade de evitar o excesso de escorrimento do ligante.
ABSTRACT
Stone Matrix Asphalt - SMA is a blend with a high proportion of large aggregates and has a high content of
asphalt binder to fill voids formed in the structure. Modified fibers or binders are added to prevent excessive run-
off of the binder. This study analyzed the addition of Sisal Fibers in SMA mixtures, since these fibers present
good absorption of liquids and are stable at high temperatures suggesting that they can be used in hot mixtures.
The results indicated that the fiber decreased the binder flow and the addition in different proportions with 15
mm in length showed improvements in the mechanical properties, such as the increase in the tensile strength and
the resistance to the traction that exceeded the minimum required for SMA mixtures. The fiber proved to be a
suitable material to be used in asphaltic mixtures and presented great capacity to avoid the excessive flow of the
binder.
1. INTRODUÇÃO
A mistura do tipo SMA – Stone Matrix Asphalt, concebida na Alemanha em 1968, é uma
mistura asfáltica, usinada à quente, descontínua, ou seja, formada por uma elevada
percentagem de agregados graúdos, o que forma um grande volume de vazios entre esses
agregados, que por sua vez, são preenchidos basicamente por uma mistura de areia, filer,
ligante asfáltico e fibras (Bernucci et al., 2008).
Misturas do tipo SMA são flexíveis, estáveis e resistentes a afundamento de trilha de roda, em
consequência de sua constituição granulométrica. Esta mistura é rica em ligante asfáltico, em
torno de 6 a 7%, e possui de 4 a 6% de volume de vazios após ser compactada em pista
(Mourão, 2003).
As misturas SMA são definidas como aquelas em que em sua distribuição granulométrica os
grãos menores preenchem os vazios entre os grãos maiores, sem que haja expulsão de
agregados por outros, ou seja, todos os grãos interagem entre si tornando a estrutura mais
resistente (Blazejowsk, 2016).
Segundo Martinho (2013) o maior problema das misturas asfálticas descontínuas é o
escorrimento do ligante nas etapas de transporte e compactação. Para evitar este problema
estuda-se a utilização de fibras como agente estabilizador, que além de evitar o escorrimento
do ligante, criam uma película de ligante asfáltico em volta do agregado, favorecendo a
interação entre estes.
As fibras utilizadas em misturas asfálticas tem a função de estabilizadores, podendo ser de
origem inorgânica (e.g. fibras de vidro), orgânica (e.g. celulose), ou material mineral. Sua
principal função é a junção dos componentes da mistura, de forma a evitar a segregação
destes tanto durante transporte como aplicação, evitando o escorrimento do ligante. As fibras
tornam o ligante mais denso a altas temperaturas, diminuindo assim a probabilidade de
formação de afundamentos de trilha de roda. Desta forma, o uso de fibras em misturas do tipo
SMA é essencial, já que estas levam uma grande quantidade de ligante em sua composição
(Mourão, 2003).
De acordo com estudos realizados por Vale et al. (2014) em misturas tipo SMA modificadas
com fibra de coco, foi encontrado resultados satisfatórios quanto ao escorrimento do ligante
que diminui consideravelmente com adição destas, cerca de 96%. Este fato melhora a sua
aplicabilidade, e o revestimento asfáltico apresenta melhorias na resistência à tração e na vida
de fadiga. Porém houve dificuldades quanto à trabalhabilidade da massa durante a confecção
dos corpos de prova, devido ao tamanho dos fios. Recomenda-se que as fibras tenham
dimensão máxima de 20 mm, pois estas tendem a formar gomos no ato da mistura, o que
dificulta o manejo da massa durante execução.
Em estudos realizados em ligantes modificados com fibra da castanha de cotia e copolímeros
SBS (copolímero de estireno e butadieno) evidenciaram alterações positivas quanto à
diminuição da resistência a deformação permanente, e apresentaram excelente estabilidade
térmica quando submetidos a temperaturas em torno de 300 ºC o que garante o uso desses
materiais a altas temperaturas e em condições agressivas de ambiente (Cunha, 2012).
O Sisal é uma planta originária do México que se espalhou rapidamente para outras regiões do
mundo. O Nordeste brasileiro se tornou um bom lugar para seu plantio por ser a planta
resistente ao clima seco e ao sol intenso. A transformação das folhas em fibras tem início aos
três anos de vida da planta, ou quando suas folhas atingem 140 cm de comprimento, o que
pode gerar fios de 90 cm até 120 cm (Izquierdo, 2011).
As fibras vegetais, consequentemente as fibras de sisal, possuem uma grande incidência de
poros permeáveis, lacunas e lumens, devido a isso sua massa específica aparente é inferior a
real, apresentando assim grande absorção de água (Izquierdo, 2011).
Estudos de caracterização química e estrutural da fibra do sisal mostram as fibras apresentam
uma boa estabilidade térmica até 250°C mostrando assim que estas podem ser utilizadas em
procedimentos que demandem altas temperaturas (Martin, 2009).
Segundo a Norma Específica de Sisal da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento)
(2016) para a safra 2016/1017 a fibra do sisal como produto tem seu preço mínimo fixado
conforme a classe da fibra, referente ao comprimento da fibra, sendo a de maior valor
comercial é a Extra longa, por R$ 1,78 o quilo.
Em virtude dos estudos apresentados percebeu-se a relevância de uma pesquisa mais
aprofundada a cerca da utilização das fibras de sisal em revestimentos asfálticos tomando
como ponto de partida as propriedades da fibra apresentadas e as possíveis melhorias que elas
podem trazer para o pavimento. Além disso, a facilidade de obtenção e abundância desse
material na Região Nordeste torna esse estudo mais significativo, pois possibilita a criação de
uma forma mais econômica e ecológica de revestimento, mantendo e/ou melhorando as suas
qualidades.
2. MATERIAIS
Para avaliação das modificações geradas em misturas SMA pela incorporação de fibras
naturais foram utilizadas as fibras de sisal, adquiridas na Feira Central de Campina Grande –
PB, em forma de cordas. Estas foram adicionadas a mistura nos comprimentos de 10 mm, 15
mm e 20 mm e nas proporções de 0,3% e 0,5% de fibra, a fim de avaliar qual comprimento e
proporção apresentariam melhor resultado quanto a diminuição do escorrimento do ligante.
Após a análise destes resultados selecionou-se as combinações comprimento/teores parar dar
prosseguimento nos ensaios mecânicos.
Os agregados usados na pesquisa para elaboração da mistura asfáltica foram de uso comum na
região, sendo estes Brita 19, oriunda da Pedreira do Grupo Rocha Cavalcante localizada em
Campina Grande – PB, Brita 9,5 e Pó de Pedra, disponibilizados pela PROJETEC Ltda,
localizada em Recife – PE. O filer utilizado foi a cal hidratada da marca Megaó. O ligante
utilizado foi o CAP 50/70, disponibilizado pela Construtora Ancar Ltda, localizada em Recife
– PE.
3. MÉTODOS
A pesquisa foi dividida em três etapas sendo a primeira a realização dos ensaios de
caracterização física dos agregados. Na segunda etapa foi feita a caracterização do ligante
asfáltico. Na terceira etapa foram moldados os corpos de prova, com e sem adição de fibras, e
foram realizados ensaios de propriedades mecânicas da mistura asfáltica.
De acordo com os dados apresentados na tabela 3, o ligante 50-70 utilizado neste trabalho
mostrou está dentro dos limites especificados pelas normas.
4. RESULTADOS E DISCURSÕES
4.1. Escorrimento
As Figuras 1 e 2 apresentam os resultados encontrados a partir do ensaio de Escorrimento
realizado para dois teores (0,3% e 0,5% de fibra), às temperatura de 150°C e 165°C e
comprimentos de 10 mm, 15 mm e 20 mm da fibra, escolhidos por serem comumente
utilizados em pesquisas de mesmo cunho.
A adição da fibra de sisal, nos três comprimentos testados, reduziu consideravelmente o
escorrimento do ligante, comparando-se ao teste sem fibra.
Segundo a NAPA – National Asphalt Pavement Association (Associação Nacional de
Pavimentos Asfálticos) (2002), para misturas tipo SMA o escorrimento a ser considerado
satisfatório precisa ser inferior a 0,3%, sendo desejável que seja menor ou igual a 0,2%. A
linha vermelha das figuras anteriores representa esse limite. Analisando os resultados obtidos
percebe-se que as fibras com 10 mm e 15 mm, nos dois teores de fibra testados, agiram de
forma satisfatória na mistura, gerando escorrimentos inferiores a 0,3%, ao contrário da fibra
com 20 mm, onde os escorrimentos encontrados mostraram serem superiores a 0,3%, tanto
para 0,3% quanto para 0,5% de fibra.
0,3% de fibra
1,2
Escorrimento
0,9
0,6 150°C
0,3 165°C
0
10 mm 15 mm 20 mm Sem Fibra
Comprimentos da Fibra
0,5% de fibra
0,6
Escorrimento
0,5
0,4
0,3 150°C
0,2 165°C
0,1
0
10 mm 15 mm 20 mm Sem Fibra
Comprimentos da Fibra
O comprimento de 15 mm da fibra foi escolhido para dar continuidade ao estudo, vendo que
este se comportou de forma a apresentar pouca variação no escorrimento quando testado aos
dois teores de fibra. Deu-se continuidade aos ensaios com a fibra com 15 mm variando-se
entre 0,3% e 0,5% os teores de fibra na mistura.
0,7
Resistência à Tração (MPa)
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Sem fibra 0,3% 0,5%
Desta forma, dos teores testados, o único que apresenta RT superior do recomendado pela
Especificação Técnica de São Paulo foi o 0,3%, porém, visto que nem mesmo a mistura sem
fibra apresentou RT considerado satisfatório, não há como dizer que e os resultados
encontrados tanto para a mistura sem fibra quanto para a mistura com variação de teores, são
ou não representativos.
80%
(RRT)
60%
40%
20%
0%
Sem Fibra 0,3% 0,5%
Figura 5: Resultados da relação RRT para o ensaio de Lottman
Os corpos de prova com fibra de sisal em sua composição apresentaram uma Relação à
Tração Retida menor que o RRT para os corpos de prova sem fibra. Essa diminuição foi de
43% para a adição de 0,3% de fibra e de 16% para a adição de 0,5%. Enquanto a mistura sem
fibra apresentou um RRT de 95% as misturas com 0,3% e 0,5% de fibra apresentaram valores
para RRT de 57% e 80% respectivamente.
As especificações da AASHTO 8 – 01 determina um valor mínimo de 70%, representado pela
linha vermelha no gráfico, de Resistência à Tração Retida para misturas SMA. Logo a única
mistura com adição de fibra que atende o preconizado pela norma é a com adição de 0,5% de
fibra de sisal.
4000
3500
Módulo de Resiliencia
3000
2500
(MPa)
2000 ASTM
1500 NBR
1000
500
0
Sem Fibra 0,3% 0,5%
Figura 6: Resultados do ensaio de módulo de resiliência
4.6. “Flow Number”
A Tabela 5 apresenta os valores para o “Flow Number” (FN) alcançados para as misturas
asfálticas estudadas.
Santos (2015) expõe os valores recomendados para o “Flow Number” pela National
Cooperative Highway Research Program (NCHRP), Report 673 (Advanced Asphalt
Technologies, 2011) para diversas misturas em relação ao nível de tráfego requerido em
comparação aos valores de FN sugeridos por outros autores. A Tabela 6 elenca esses valores
de acordo com o nível de tráfego.
Desta forma, todas as amostras ensaiadas estão viabilizadas para uso em revestimento
asfáltico para tráfego médio, e a adição do sisal aumentou desempenho destas.
1000,00
0,3% de
800,00 Fibra de
600,00 Sisal
400,00 0,5% de
Fibra de
200,00 Sisal
0,00
0 5 10 15 20 25 30
Frequência (Hz)
5. CONCLUSÕES
Foi possível verificar que a trabalhabilidade da mistura é prejudicada com a adição da fibra, o
que era esperado, já que a fibra veio com o principal objetivo de absorver o ligante e evitar o
excesso de escorrimento. A adesão do ligante com os demais materiais tornou-se dificultada
exigindo que o misturador colocasse mais força e rapidez no ato de misturar para que a
mistura fosse totalmente homogeneizada.
Constatou-se, a partir deste estudo, que os comprimentos de Fibra de Sisal de 10 mm e 15 mm
obtiveram bons resultados quanto ao Escorrimento do Ligante, apresentando em geral
porcentagens inferiores a 0,3% de escorrimento, atendendo as especificações para misturas
SMA. Porém o comprimento de 10 mm para a fibra apresentou inconstâncias quando sujeito a
temperatura mais elevada de ensaio.
A adição de 0,3% de fibra apresentou melhores resultados na maioria dos ensaios, em
comparação a mistura 0,5% de fibra, no entanto, sua Resistência a Tração Retida (RRT)
mostrou ser inferior e insatisfatória quanto ao estabelecido na literatura. Porém o valor da
resistência à tração foi o maior apresentado dentre as composições, e o resultado do FN
mostrou ter um aumento significativo em comparação a mistura sem fibra. Estes valores
viabilizam o uso da mistura com adição de 0,3% de fibra de sisal em revestimentos asfálticos
destinados a tráfego médio.
A adição de 0,5% de teor de fibra conferiu a mistura uma RRT satisfatória quanto ao
preconizado para misturas SMA, diferente da mistura com menor teor de fibra e sem fibra que
não alcançaram o valor mínimo, o que demonstra que a mistura com 0,5% de fibra possui
uma menor susceptibilidade à presença de água. Com base nos valores de FN é correto
afirmar que esta apresentou o melhor resultado, podendo ser usada para tráfego médio e sendo
a menos passível a formação de trilhas de roda.
Tomando como base os resultados do ensaio de Módulo Dinâmico podemos afirmar que as
misturas tipo SMA se comportam como o esperando quanto a resistência a deformação de
forma que estas, quando submetidas a carregamentos frequentes mostraram ter rigidez
aumentada, e portanto ser menos susceptíveis a formações de trilha de roda. Porém a adição
da fibra não mostrou ser um melhorador desta característica, visto que as amostras ensaiadas
com sem fibra apresentaram resultados maiores de MD.
A adição da fibra de sisal provoca modificações pouco significativas às propriedades
mecânicas a mistura SMA, porém não mostrou resultados que inviabilizasse a sua utilização
visto que para as composições com e sem fibra os resultados permaneceram em um mesmo
intervalo, sendo a porcentagem de 0,3% a que apresentou modificações mais relevantes.
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