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A Sincronia Perfeita

Quando chegou em casa, Kia estava tão cansada que não conseguia pensar em
mais nada além de sua cama. Ela sabia que tinha se atrasado e que seria
cobrada por isso. Seu pai estava assistindo alguma coisa na sala, então foi se
dirigindo ao seu quarto. Não estava nem um pouco afim de ouvir uma bronca
das pessoa com quem menos se identificava no mundo, por mais que fossem
seus pais. Correu o mais rápido possível em direção às escadas, para evitar
qualquer contato visual.

Com o maior prazer do mundo, abriu a porta de seu quarto, na esperança de


se jogar em sua cama, mas oque encontrou foi sua mãe, com um semblante
enraivecido, em frente à porta. Ela batia o pé direito com impaciência contra o
chão, enquanto olhava para o relógio. Quando ela olhou para a cara de Kia, a
menina teve a sensação de explodir um milhão de bombas de nitrogênio dentro
de seu estômago. Então, a pergunta fatal:

- Onde você estava a essa hora da noite?

O suor frio escorria ao longo do rosto de Kia, sem saber oque fazer.
Rapidamente pensou na resposta mais elaborada que conseguiu:

- Eu ainda estava na aula de música! A tia Yuuki e eu tivemos alguns


problemas na música atual, por isso nos atrasamos um pouco, mas não foi nada
demais.

A mulher que mais parecia uma madrasta maligna examinou o semblante de


Kia, procurando qualquer sinal de uma mentira. Foi então que uma gota de
suor pingou do nariz da menina e ela arregalou seus olhos. Rapidamente puxou
o telefone e disse:

- É bom que seja verdade, pois eu vou ligar pra sua tia! E se for mentira... –
Ela deu uma longa respirada com o telefone encostado na orelha. O coração de
Kia batia extremamente forte. Seus olhos pareciam sair das órbitas. Foi aí que
ela ouviu a voz de sua tia.

- Alô?

- Oi Yuuki. Minha filha chegou agora em casa e me contou uma história


furada qu-...

- Ah, oi mana! Fica tranquila, a gente demorou um pouquinho a mais por


causa da música aqui, mas olha, que música hein! A Kia tá tocando tão bem...
Acho que até melhor que eu nessa idade... Então, sabe o concert-
- Tá, valeu Yuuki, tchau. – Disse a mulher desligando o telefone na cara da
irmã. Kia tinha ouvido tudo e agradecia a todos os deuses de todas as religiões
possíveis por a tia ter pensado na mesma coisa que ela. – Ok, eu acredito em
você. – Disse a mulher enquanto saia do quarto com muita pressa, a passos
pesados. Kia até tentou chamá-la para falar sobre Marco, mas desistiu quando a
mãe chegou na beira da escada.

Ela tirou as roupas molhadas e as atirou o mais longe que pôde dentro de seu
quarto. Então recebeu o merecido descanso depois daquele dia agitado. Ela se
apoiou na janela para olhar o céu levemente estrelado, com muita dificuldade
graças às luzes da cidade, mas ainda conseguiu ver alguma coisa. Enquanto
olhava pela janela, uma chuva mediana começou a cair, formando diversas
gotas na janela.

Pensando na saúde de Marco depois de sua briga com Migui, acompanhava as


gotas que escorriam com seu dedo, como se as guiasse fazendo desenhos
aleatórios pelo vidro. Olhou mais uma vez para o céu e abriu um pequeno
sorriso de canto de boca quando percebeu que poderia acompanhar a chuva
cair sobre as luzes da cidade, mas teria perdido a pouca visão que tinha das
estrelas, que foram cobertas com nuvens escuras.

Atravessando as nuvens, estava um avião comercial branco, e enquanto o


observava com o reflexo das luzes lá fora em seus olhos, Kia caiu no sono,
escorregou sua cabeça até chegar na maciez do travesseiro.

Do outro lado da cidade, marco ainda esperava o trem parar em seu ponto. O
local estava ermo. Fora o som da chuva batendo contra o teto do ponto, não se
ouvia nada. Ele esperava sentado fazia cerca de uma hora, enquanto jogava em
seu celular. Como não havia ninguém em volta, comemorava com gritos a cada
nova pontuação.

Desviou um pouco o olhar da tela de seu celular para observar a cidade atrás
dele. Suas luzes cintilantes enchiam seu rosto de brilho em meio à escuridão.

O local por onde esperava o trem era ao pé de uma montanha, com quase
nenhuma iluminação, lugar que seria extremamente perigoso em outros países,
como o de sua família, o Brasil. Seus tios tinham falado muito de lá como sendo
um lugar bonito e perigoso.

Virou o rosto novamente, mas agora em direção aos trilhos enferrujados. Os


encarou por alguns instantes enquanto sua mente descansava, até que ouviu
passos em sua direção. Marco viu um garoto encapuzado, que se sentou ao seu
lado e começou a ler um pequeno livro. Simplesmente o ignorou em continuou
jogando. Após mais algum tempo, o trem chegou. Ambos se levantaram para
esperar que o veículo parasse. Entraram no vagão e cada um se sentou de um
lado do corredor.

O trajeto não era muito longo, e não levou muito mais que 15 minutos para
que já estivessem em frente à estação do destino. A chuva que caía havia ficado
mais forte, então Marco puxou seu guarda chuva e se preparou para correr.
Mas pouco antes de se distanciar da porta do trem, ouviu o garoto dizer:

- Acho melhor ficar esperto.

Ele se virou para responder, mas quando olhou para trás, estava sozinho em
uma estação, cuja luz falhava sem parar.

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