Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Keywords: Cyber rights - Privacy - Human rights - Net citizens - Freedom of speech in
internet - Legal order - International law - Globalization - Conflicts of law - Conflicts of
territoriality - Digital Society
Sumário:
Segundo Albert Einstein “os problemas que enfrentamos não podem ser solucionados
pelo mesmo tipo de pensamento que os criou”. Neste sentido, seria possível afirmar que
Página 1
Cyber Rights: Direitos fundamentais dos cidadãos
digitais e a existência de uma Ordem Pública global
através da internet
desde 1990, com o advento da world wide web (www), invento este trazido por Tim
Bernes Lee, estaríamos vivenciando o nascedouro de uma Ordem Pública Global Digital,
que existe e se manifesta através da Internet, sem limites territoriais ou fronteiras
físicas?
Em sendo esta premissa verdadeira, quais seriam os novos desafios trazidos por esta
nova Ordem Pública e para os modelos tradicionais de tratamento das questões
transjurídicas criados pelos Estados até então?
1
Nas palavras de Dolinger, “vivemos uma verdadeira sociedade universal de indivíduos”
(Dolinger, 2010). Por certo, os avanços tecnológicos fizeram com que esta realidade
alcançasse um nível de transformação inimaginável, levando a globalização para dentro
dos lares de muitas famílias, onde basta uma conexão de internet para se sentir
realmente um cidadão do mundo, capaz de ir e vir independente do controle das
autoridades.
Este fluxo de pessoas, de bens, de informações, de riquezas, por esta infovia digital tem
despertado atenção, não apenas no sentido da necessidade de se aplicar limites e
controles, mas quando há algum tipo de conflito, como se alcançar uma resolução
eficaz?
Por esta dimensão originariamente internacional que a internet possui, por certo, fez
crescer de importância os estudos do Direito Internacional, tanto no aspecto público,
como no privado. Afinal, a abordagem multilateralista de Savigny tem uma aplicação
extremamente pragmática em um contexto cada vez mais complexo em que cada um
dos polos da relação está sujeito a normas distintas, seja por aplicação de regras de
conexão lex fori ou lex causae.
Com isso, há que se indagar: será que a Sociedade Digital caminha em direção à criação
de uma Ordem Pública Internacional através da Internet? Como tratar as situações de
obrigações ou mesmo de ilícitos ocorridos através de meios eletrônicos que envolvam
múltiplos países ou ordenamentos jurídicos?
Seria possível assinar uma carta de princípios gerais aplicável a qualquer um, em
qualquer lugar, que pudesse contribuir e facilitar o tratamento das questões digitais,
aumentando o grau de segurança jurídica das relações eletrônicas? Algo que pudesse ser
considerado como uma Constituição da Internet, uma Carta de Direitos Fundamentais do
2
Cidadão Digital, chamado também por NetCitizen?
Considerando todas as possibilidades que a Internet nos trouxe, bem como mais
recentemente, as próprias redes sociais, não há como garantir o devido processo legal e
o próprio exercício e proteção dos direitos dos indivíduos sem que se aceite e
compreenda que vivemos um mundo plano, sem fronteiras físicas.
Mas, seria possível identificar este mínimo denominador comum, que é cultural-social,
para compor este tecido técnico-jurídico necessário de modo a que se pudesse legitimar
uma Ordem Pública Internacional da Internet?
Para responder a esta questão, primeiramente devemos aprofundar nossa análise nos
principais institutos do Direito Internacional Privado, com especial ênfase ao método de
detecção do “centro de gravidade” sobre o qual deve orbitar uma questão jurídica
multinacional e multicultural digital e então identificar como aplicar os elementos de
conexão para que a relação mais significativa possa ser tratada não pelas fontes
tradicionais, mas por uma nova fonte, a ser cunhada, surgida de algo totalmente novo,
cuja proposta seria uma verdadeira Constituição da Internet, a prevalecer sobre as
demais Constituições Nacionais, acima de Tratados e Convenções, acima do Direito
Estrangeiro, algo que sobre ela nada mais pudesse pairar.
Por certo, um projeto desta monta tão ambicioso teria algumas barreiras a enfrentar,
entre elas: a questão cultural. As diversas culturas a que as relações jurídicas estão
Página 2
Cyber Rights: Direitos fundamentais dos cidadãos
digitais e a existência de uma Ordem Pública global
através da internet
Além desta, outra barreira seria a tendência natural da proteção nacionalista, por
questões de soberania, onde o impacto político é mais determinante do que a definição
do melhor direito para a solução da causa em tela.
3
Nas palavras do jornalista norte-americano Thomas Friedmann, o mundo é plano. E se
o Direito nunca é fruto da criação exclusiva de um Estado, vide a Lex Mercatoria, ou
seja, a produção normativa, de regras de condutas que regem indivíduos ou mesmo
mercado pode se desenvolver de maneira autônoma e independente das autoridades, o
que inclusive é o principal impulsionador do direito do comércio internacional, baseado
justamente nesta liberdade, é possível que haja um conjunto de fontes específicas que
possam ser reunidas para moldar uma espécie de Lex Digitalis, ou seja, um conjunto de
princípios ou valores que originariam as regras que seriam aplicadas a estes cidadãos da
internet.
Neste momento, que o Direito Comparado por certo desempenharia função primordial
para que pudesse haver o desenvolvimento deste Direito Internacional Digital
uniformizado. Pois seria na análise do contraste sobre a aplicação dos diversos valores
como o da privacidade, da proteção de dados, do acesso a informação, da liberdade de
expressão na internet que se poderia apontar as convergências e tratar as divergências
para celebrar então esta legislação realmente da Internet.
Ou seja, o que se propõe não é a elaboração de uma lei nacional que se aplique ao meio
digital com aplicação dos métodos de conexão, como aconteceu com a lei do Marco Civil
da Internet, que quis assumir para si a prerrogativa de Constituição da Internet, e
4
prever aplicação com abrangência inclusive em território estrangeiro.
Mas a efetividade disso na prática é bem reduzida a não ser que se pudesse evoluir o
modelo para permitir levar os casos para um Tribunal Internacional na própria Internet.
O debate sobre a necessidade de se criar uma arquitetura ética, que permite justamente
aceitar as diferenças, estimular a tolerância e combater o discurso de ódio na internet,
vem tomando uma dimensão cada vez maior devido ao aumento dos episódios
envolvendo discriminação e cyberbullying em especial nas mídias sociais. Um dos
grandes articuladores para o desenvolvimento de um conjunto de princípios que devam
ser seguidos por todos os desenvolvedores de aplicações digitais, e, portanto, previstos
em seus Termos de Uso de Serviços e Políticas de Privacidade é o Electronic Frontier
Foundation (EFF).
Sendo assim, a atuação da EFF visa assegurar que os direitos e liberdades sejam
reforçados e protegidos na medida em que o uso da tecnologia cresce. E o diálogo com a
Sociedade Civil e também com as Autoridades Públicas tem sido o centro das atenções
Página 3
Cyber Rights: Direitos fundamentais dos cidadãos
digitais e a existência de uma Ordem Pública global
através da internet
em diversos países. Como construir políticas públicas para aumentar a inclusão digital
mas ao mesmo tempo garantir a proteção de direitos humanos na internet? E isso não
depende apenas da vontade de um único Estado.
Este debate com as lideranças em torno dos direitos digitais dos usuários da internet
6
tem permitido desenvolver projetos como o chamado “Internet & Jurisdição”, que tem
como um dos principais eixos de pesquisa justamente a análise sobre como fica a
questão da jurisdição na Internet.
Este projeto visa investigar e produzir materiais de pesquisa sobre Direito Internacional
Privado aplicável ao ambiente da Internet e como ficam as regras de conexão
determinadoras de que lei deve ser aplicada aos casos transfronteiriços, como definir a
jurisdição dos tribunais (estadual ou federal) ou ainda quando contém elementos
estrangeiros que exijam execução de sentença em outro Estado (ou medidas a serem
tomadas por autoridades estrangeiras, ainda que em sede investigatória ou cautelar).
O ponto principal da abordagem do projeto envolve a definição sobre qual sistema legal
deve prevalecer em algo tão trivial como um contrato eletrônico relacionado ao uso de
um serviço da Internet. Atualmente, quando um usuário decide baixar um aplicativo,
7
como o Uber, ele aceita a aplicação das normas dos Países Baixos, por exemplo.
Página 4
Cyber Rights: Direitos fundamentais dos cidadãos
digitais e a existência de uma Ordem Pública global
através da internet
Avisos.
A Uber poderá proceder a notificações através de um aviso geral publicado nos Serviços,
ou por correio eletrônico para o endereço de correio eletrônico indicado na Conta do
Utilizador, ou por comunicação escrita enviada para o endereço indicado na mesma. O
Utilizador poderá notificar a Uber por comunicação escrita enviada para o endereço da
Uber em Vijzelstraat 68, 1017 HL, Amsterdã, Países Baixos.
Para uma situação tão corriqueira como esta, mas que acaba envolvendo consumidor
final, já fica a discussão sobre como se desenhar um conjunto de proteções que devam
ser uniformes e aplicadas sempre, quando o serviço for oferecido na Internet. Para evitar
que a pessoa física, nitidamente a parte mais fraca nesta relação, fique sujeita a uma
regra unilateral que ela não tenha a menor possiblidade de escolha ou decisão.
Ou mais que isso, que todo um Estado, ou vários Estados, fiquem sujeitos a vontade de
uma única empresa privada ofertante daquele serviço tão desejado, a despeito do
conjunto de proteções que o seu direito nacional tenha reservado.
A noção de Ordem Pública está intimamente ligada a um fator limitador da vontade das
partes. No Direito Internacional Privado a Ordem Pública impede a aplicação de leis
estrangeiras, o reconhecimento de atos realizados no exterior e a execução de sentenças
proferidas por tribunais de outros países.
Ademais, devemos observar que há ainda dois métodos que podem ser aplicados na
análise para aplicação do Direito Internacional Privado nesta dimensão e alcance: o
universalista e o particularista. Conforme ensina Dolinger, o método universalista
procura soluções internacionais a serem definidas através de Convenções e Tratados,
enquanto que o método particularista busca a aplicação do direito positivo interno sobre
as relações privadas no plano internacional, para o qual analisa como principal fonte a
legislação de cada país e determina qual deve ser aplicada.
Com esta explicação inicial, podemos dizer, que caminhamos até aqui com todo o
desenvolvimento da Economia Digital e dos negócios e relações através da Internet
aplicando muito mais o método particularista e que para que possamos evoluir, dar um
grande salto na proteção dos Cyber Rights devemos passar a adotar a abordagem do
método universalista que se mostra mais apropriado e provavelmente possa ser mais
eficiente considerando todas as peculiaridades do ambiente da Internet.
O caso mencionado anteriormente sobre o uso do aplicativo Uber traz a discussão sobre
a aplicação da lei estrangeira dentro de um território ao invés da lex fori. O que deve
prevalecer nestes casos de relações estabelecidas pela Internet, em que é muito comum
cada uma das partes estar em um local, sujeita a regras de um ordenamento jurídico
Página 5
Cyber Rights: Direitos fundamentais dos cidadãos
digitais e a existência de uma Ordem Pública global
através da internet
distinto? Em se tratando do Uber a lei aplicável será a dos Países Baixos ou a Brasileira,
afinal?
Em que pese que no tocante a aplicação de Tratado Internacional, merece destacar, que
tanto a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro faz previsão desta
possibilidade, como o art. 7.º do Código de Defesa do Consumidor, como o art. 3.º. da
10
Lei do Marco Civil da Internet. Mas em todos os casos, ainda assim, deveria prevalecer
sempre o que for mais benéfico ao consumidor no caso concreto. Mas será que é isso
que está ocorrendo atualmente na Internet? Dificilmente.
A Internet está sendo regida por regras contratuais determinadas por empresas
privadas. Em muitos casos, estes contratos sim estão construindo verdadeira fonte de
uniformização do direito tendo em vista que os serviços são ofertados para diversos
países.
Pierre Mayer trata em seu artigo Choix d’articles trata justamente sobre a atualidade e a
importância do problema da aplicação da lei estrangeira. Mas será que a velocidade com
que as coisas ocorrem no ambiente digital, este dito “tempo real” da internet permitiria,
de fato que fosse possível aplicar o método de análise tradicional, onde precisa haver
toda uma verificação através do Judiciário local, onde o Magistrado avalia se irá aplicar a
Lei Estrangeira ou a Lei do Foro? Ou seria mais fácil que sempre que um caso tivesse se
originado na Internet pudesse ser aplicado um conjunto de regras e princípio de Ordem
Pública Digital?
Pois a verificação no caso a caso sobre a aplicação direta ou indireta da lei estrangeira,
onde, caso a mesma não fira a Constituição daquele Estado, nem tampouco do seu
Estado originário, ou seja, após a análise do controle intrínseco e do controle extrínseco,
então, só assim, é aplicado o Direito Estrangeiro.
Por outro lado, na hipótese de não aplicação do Direito Estrangeiro, não havendo
qualquer aproveitamento deste, então aplica-se alexfori, parece ser um método pouco
eficaz para o cenário atual digital, que exige respostas rápidas e capacidade de
executividade imediata a um baixo custo para a parte credora do direito (tanto em
termos de tempo como em termos de recursos financeiros, sob pena de se estar
provocando uma marginalização do acesso à Justiça às avessas, visto que o usuário já
desiste antes mesmo de buscar seu direito por entender que não terá chance de lograr
êxito, ou não poder esperar por isso, ou não ter como patrocinar a causa).
11
Ademais, dentro Direito Internacional privado, o princípio da Ordem Pública é o
principal a ser invocado no sentido de impedir ou limitar a aplicação de leis estrangeiras,
o reconhecimento de atos realizados no exterior e a execução de sentenças proferidas
por tribunais de outros países. Isso tem relação com o fato de que cada Estado delimita
a competência de seu ordenamento jurídico que está relacionado intimamente com o
conceito de soberania.
Apesar desta ideia parecer muito boa ela se aproxima de uma conceituação utópica. Isto
porque toda a história do direito nos mostra que até então a competência de um
ordenamento jurídico está diretamente relacionada a um domínio espacial e que o
mesmo ocorre quando há necessidade de se verificar qual será a aplicação de uma
regra.
Tanto é que um dos princípios adotados pelo Direito Internacional Privado é justamente
o da proximidade, que está relacionado com a localização das pessoas em relação à lei
do foro (quanto mais perto maior a aplicabilidade da ordem pública e a rejeição da lei
estrangeira).
Portanto, como visto, o critério espacial é muito forte e abrange todas as regras que
indiquem expressamente o seu domínio de aplicação em seu espaço e aplica, em
princípio, pelo menos no território do estado que editou a lei.
Como cabe ao Juiz decidir o que seja contrário à Ordem Pública, cabendo ao legislador
apenas dar-lhe uma direção, caberá ao final ao direito internacional privado do foro a
tarefa de incorporar o conteúdo da disposição legal quer seja em caráter excepcional ou
mediante solicitação e de certo modo abstrair da designação característica do método
clássico do conflito de leis.
Mas se a Internet assumir uma Jurisdição própria, passar a ter a prerrogativa de Ordem
Pública Internacional Digital, então, não haveria discussão sobre aplicação de direito
estrangeiro versus lex fori.
No entanto, se a mesma for praticada em caráter genérico, devido ao fato do Brasil ser
signatário da “Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial”, e também da “Convenção Interamericana contra o Racismo, a
Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância” e da “Convenção
Interamericana contra Toda Forma de Discriminação e Intolerância”, a competência
Página 7
Cyber Rights: Direitos fundamentais dos cidadãos
digitais e a existência de uma Ordem Pública global
através da internet
restaria da Justiça Federal. Mas para tanto, o Ministério Público Federal vem prolatando
entendimento de que só ocorreria a atração para Justiça Federal se estivesse presente
outro requisito constitucional adicional que seria o da conduta com resultado no exterior
ou praticada no exterior – o que não ocorre quando se trata de rede social fechada e
com participação de particulares identificáveis.
Apenas com este exemplo, considerando tudo que já evoluímos sobre a proteção de
Direitos Humanos, vê-se que em um caso concreto, a vítima fica a mercê de toda uma
discussão procedimental, incidental ao direito principal, por não se conseguir chegar a
um consenso apenas sobre a competência jurisdicional dentro de um único país, no caso
do Brasil. Daí a importância da discussão trazida pelo presente artigo.
Em princípio, seu papel, não seria o de formular a regra que vai reger o caso mas sim
indicar dentre as normas qual deverá prevalecer. Sendo assim, são fontes do Direito
Internacional Privado: a lei, a doutrina, jurisprudência, os Tratados e Convenções
Internacionais.
Considerando isso, a maioria dos conflitos de lei na Internet são resolvidos aplicando-se
alguns princípios, conforme abaixo:
Mas há ainda muito que evoluir no sentido de se garantir uma melhor jurisdição na
Internet. Mesmo o que já está convencionado por Tratado Internacional tem tido
dificuldade de ter sua aplicação garantida em nível internacional global digital visto todas
as questões já apontadas pelo presente estudo.
Como trazer uma maior ordem de importância e prioridade para o tratamento dos casos
ocorridos na internet, especialmente quando envolverem implicações de direitos
humanos na internet?
Página 8
Cyber Rights: Direitos fundamentais dos cidadãos
digitais e a existência de uma Ordem Pública global
através da internet
Mas toda Constituição tem por certo uma forma de ser cunhada com base em
fundamentos políticos-ideológicos, cujo maior desafio seria o de justamente conseguir
encontrar o ponto de equilíbrio para algo nesta magnitude.
Nas palavras do Prof. Jose de Oliveira Ascensão, a globalização pode se tornar uma
ferramenta par cooperação ou um meio de dominação. A realidade digital trouxe um
16
modelo ultraliberal e cujo poder tem liquidado e enfraquecido as economias nacionais.
A maioria dos países não possui, organizado sob a forma legal, um corpo de princípios e
normas para orientar os Tribunais sobre como regular as relações internacionais trazidas
para a sua apreciação (uma metodologia legal para aplicar o Direito Internacional
Privado). Imagine-se então, a proposta aqui colocada, de se poder facilitar toda esta
discussão, que é infindável, quando o assunto envolve conflito de leis e jurisdição na
Internet se for possível apenas aplicar um conjunto de regras próprios com força de
norma constitucional.
Mas ainda precisaremos avançar muitas etapas até podermos construir uma base
consensual sobre questões polêmicas com entendimentos tão divergentes como no
tocante a privacidade e proteção de dados, onde a posição dos EUA tem sido pelo
máximo da liberdade contratual e a da Comunidade Europeia tem sido pelo maior
17
protecionismo do indivíduo usuário digital de serviços da internet.
6 Conclusão
O Direito é formado por um conjunto de princípios, que por sua vez, representam
valores que devam ser protegidos em um determinado momento da sociedade (no
tempo) e em um determinado local (no espaço).
O Direito Digital, por sua vez, representaria a evolução do próprio Direito, em uma
Sociedade cada vez mais globalizada, sem fronteiras físicas e onde os limites geográficos
ficam relativizados. Portanto, ele requer uma visão cada vez maior de aplicação dos
métodos do Direito Internacional, Público e Privado, como fórmula para solução de seus
conflitos, mas anseia pela possibilidade de um redesenho da estrutura técnica-legal que
permita a construção de uma Constituição da Internet, que possa assim, diminuir os
conflitos de jurisdição e aumentar a eficácia do próprio Direito.
No tocante aos princípios gerais do Direito Digital, sempre será atual os três preceitos
fundamentais do direito originados do direito romano, com forte influência da filosofia
grega, que formam as bases do ideal de justiça: Iuris praecepta sunt haec: honeste
vivere, o alterum non laedere, o suum cuique tribuere, que significa: os preceitos do
direito são estes: viver honestamente, não lesar a outrem, dar a cada um o que é seu.
Se somos capazes de encontrar esta base de valores comuns e universais, a história tem
Página 10
Cyber Rights: Direitos fundamentais dos cidadãos
digitais e a existência de uma Ordem Pública global
através da internet
mostrado que sim. Deve prevalecer a proteção dos direitos humanos na internet. O
Direito como um fim e não como um meio, visto que não se pode deixar uma vítima
desamparada a espera da discussão sobre qual a lei aplicável ou qual a jurisdição. Na
era do tempo real, a demora na aplicação do Direito pode significar a morte do próprio
Direito.
Caberá aos princípios, uma vez consagrados, harmonizar a aplicação das regras nesta
seara, sendo diretriz para nortear a conduta dos indivíduos a fim de se alcançar uma
sociedade digital sustentável.
7 Bibliografia
BIEGEL, Stuart. Beyond Our Control? Confronting the limits of Our Legal Systems in the
Age of Cyberspace. MIT Press. Massachusetts. 2003.
BOBBIO, Norberto. As razões da tolerância. A era dos direitos[L’età dei Diritti]. Trad.
Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
________. Direito Internacional Privado – Parte Geral. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2011.
GODWIN, Mike. Cyber Rights: defending Free Speech in the Digital Age. The MIT Press.
2003.
1 DOLINGER, Jacob – Direito Internacional Privado.Parte Geral. Editora Forense. 10ª. Edi
ção. 2010.
2 O termo Net Citizen foi cunhado por Michael Hauben em 1996 e vem sendo utilizado
desde então para representar o cidadão usuário da internet global.
4 Lei 12.965/2014: art. 11. “Em qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e
tratamento de registros, de dados pessoais ou de comunicações por provedores de
conexão e de aplicações de internet em que pelo menos um desses atos ocorra em
território nacional, deverão ser obrigatoriamente respeitados a legislação brasileira e os
direitos à privacidade, à proteção dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações
privadas e dos registros.
§ 1.º O disposto no caput aplica-se aos dados coletados em território nacional e ao
conteúdo das comunicações, desde que pelo menos um dos terminais esteja localizado
no Brasil;
§ 2.ºO disposto nocaputaplica-se mesmo que as atividades sejam realizadas por pessoa
jurídica sediada no exterior, desde que oferte serviço ao público brasileiro ou pelo menos
uma integrante do mesmo grupo econômico possua estabelecimento no Brasil”.
5 BOBBIO, Norberto. As razões da tolerância. In:A era dos direitos[L’età dei Diritti].
Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
9 Conforme afirma a Prof. Claudia Lima Marques em sua análise sobre o tema
(Disponível em:
[www.oas.org/dil/esp/CIDIPVII_home_temas_cidip-vii_proteccionalconsumidor_leyaplicable_apoyo_prop
Acesso em: 14 ago. 2016)
Página 12
Cyber Rights: Direitos fundamentais dos cidadãos
digitais e a existência de uma Ordem Pública global
através da internet
10 Lei 12.965/2014 (Marco Civil da Internet), art. 3.º: “a disciplina do uso da internet no
Brasil tem os seguintes princípios: Parágrafo único. Os princípios expressos nesta Lei não
excluem outros previstos no ordenamento jurídico pátrio relacionados à matéria ou nos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.
11 Pela definição de Barroso, para o qual Ordem Pública é “um princípio geral de
preservação de valores jurídicos, morais e econômicos de determinada sociedade política
”. (BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de
uma dogmática constitucional transformadora. 6. ed. rev. atual e ampl. São Paulo:
Saraiva,2004. p. 46).
14 Dec. 3.810/2001.
15 GODWIN, Mike. Cyber Rights: defending Free Speech in the Digital Age. The MIT
Press. 2003.
Página 13