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23/08/2018 Crítica: 'Pós-capitalismo' de escritor inglês tem falhas de execução - 15/04/2017 - Mercado - Folha de S.

Paulo

Crítica

'Pós-capitalismo' de escritor inglês tem


falhas de execução
AFP

Fábrica de veículos na China mecanizada, processo que torna o trabalho


obsoleto para Paul Mason

NATÁLIA PORTINARI
DE SÃO PAULO

15/04/2017 02h00

O capitalismo está prestes a chegar ao fundo do poço, ou, como sempre, vai se
adaptar às crises e pressões externas, criando mercados e oportunidades de
crescimento?

É nesse debate, que divide opiniões há pelo menos dois séculos, que o inglês
Paul Mason se aventura a entrar em "Pós-Capitalismo: Um Guia para o Nosso
Futuro".

Segundo o jornalista, hoje vivemos a fase derradeira do capitalismo global. A


tendência a compartilhar informações e bens (ou seja, a internet) deve derrubar
as margens de lucro dos empresários e industriais, sobrepujando a elite
financeira.

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Um ouvinte atento levantaria a mão a essa altura, já que Facebook, Uber,


Google e Microsoft descobriram, há tempos, formas de lucrar com o monopólio
da informação. Mason antecipa e refuta essa objeção, pintando as forças do
Vale do Silício como uma resistência fútil à maré democratizante da tecnologia.

Sua tese se ancora em três pontos: (1) a tecnologia reduziu a necessidade de


trabalho, de onde tradicionalmente saía a mais-valia; (2) as pessoas têm
executado empreendimentos colaborativos, como a Wikipédia; (3) bens de
informação destroem a habilidade do mercado de ditar preços corretamente,
porque não obedecem ao princípio da escassez.

Fato é que nenhum desses três elementos se sustenta como realmente inédito.
Então por que o capitalismo deveria acabar agora, e não antes?

Para responder, Mason revê todos os que disseram algo semelhante, como
Marx, Rosa Luxemburgo, Kondratiev e mais um punhado de russos. Todos, diz o
autor, cantaram o apocalipse cedo demais, porque negociações entre classe
trabalhadora e Estado permitiram que o capital se adaptasse. Dessa vez, não
haveria essa opção.

É aqui que deveriam entrar os números. Mas, apesar de ele incluir um punhado
de gráficos e argumentar com riqueza de detalhes, a base do argumento não é
um modelo econômico, e sim o otimismo de que a situação dos trabalhadores
vai piorar tanto que, depois, só pode melhorar.

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Essa ideia não é nova, e, aliás, tem teias de aranha na esquerda. A força
propulsora da tecnologia não necessariamente muda o cenário.

A fixação de Mason pela futurologia, inclusive, é pouco saudável. A certa altura,


ele diz que a teoria da história de Marx é boa porque "armados com uma
compreensão de classe, poder e tecnologia, podemos prever as ações dos
homens poderosos".

Passa longe disso a utilidade de Marx. Essas previsões não funcionaram para os
soviéticos, para citar um exemplo óbvio, e esse é um argumento que muitos
marxistas ferrenhos cedem à oposição.

Quando Mason fantasia a respeito do futuro, diz que a tecnologia pode criar
condições para que a operação de uma fábrica de empacotamento de carne
seja "entremeada de diversão" –uma de muitas maluquices que põem em xeque
a seriedade de sua exposição sobre economia.

Pós-capitalismo - Um Guia Para O Nosso Futuro


Paul Mason

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Em outro trecho espantoso, ele defende que, no pós-capitalismo, o Estado "tem


que agir como a equipe da Wikipédia". O autor não deve saber, mas a história
da Wikipédia é repleta de intrigas, sede de poder e censuras impostas
unilateralmente. Para quem está a par, o efeito desse capítulo é cômico.

Graduado em ciência política e música, Mason chega a se comparar a John


Maynard Keynes em seus momentos de empolgação. É justamente nesses
arroubos de megalomania que seu livro fica divertido. Ele não tem medo de
brincar de economista, e inspira o leitor a fazer o mesmo.

"PÓS-CAPITALISMO– UM GUIA PARA O NOSSO FUTURO"


QUANTO: R$ 69,90 (472 PÁGS.)
AUTOR: PAUL MASON
EDITORA: COMPANHIA DAS LETRAS

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falhas-de-execucao.shtml

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