mulgou medida provisória (MP) que muda o marco legal do sanea1nento . Com a atenção do país voltada para o fute - bol , não surpreende que o ato tenha passado 1 quase des a percebido . Mas suas consequên - cias serão sentidas ao longo dos próximos anos . A MP foi elaborada tendo como pano de fundo a p e rc e pção de que somos lanterni - nh a na Copa do Saneamento porque gasta - mo s pouco e mal. De fato , recursos públicos têm sido desperdiçados na manutenção de provedores d e serviços que servem melhor à própria corporação do que à população e em obras não prioritárias, que frequentemente não são concluídas e , quando o são, frequen - ten1ente não funcionam . Agora que a fonte de recursos fiscais min - g u o u , co nstata -se que há ainda milhões de brasil e iro s sem acesso à água potável. E que o esgo to de mais da metade da população não recebe trata n1ento adequado, causando polui- ção do s rios e doenças, principahnente nas co - 1nunidades ca1·entes. Serviços públicos são custeados pelas tari - fas pagas pelo s consumidores e pelos impos - tos pagos pelos contr ibuintes. Se a parcela oriunda dos con tribuintes diminui devido à crise fiscal , parece óbvio que deve aument ar a parc ela oriunda dos consumidores ou di - A produtividade das companhias mau cheiro, por exemplo - causados à cole - minuir a qualidade e a brangê ncia dos servi - tividade. No caso de famílias de baixa renda, ços . Felizme nte , porém, há uma terceira via : de saneamento com participação a conexão poderá ser feita gratuitamente, e o o aumento da produtividade. Ou seja, fazer de capital privado tende a ser correspondente custo considerado no cálcu- 1na is co1n 1nenos. maior do que quando o capital lo tarifário. Há evidênc ia em píricâ de que a produtivi - é unicamente estatal Todavia, nem tudo são flores . A MP cria in - dade das com panhias de saneamento com centivos para que os municípios superavitá- participação de capita l privado tende a ser rios se desvinculem da companhia estadual maior do que quando o cap ital é unicamente Muito diferente do que ocorre no setor elétrico, e passem a concessão para a iniciativa priva- es tatal. Dent r e as es tatais , as mais bem ad - que dispõe de uma única agência reguladora da, sem exigir que a nova concessionária pa - ministradas em gera l conta m com a partici - para todo o país (Aneel) e que já logrou disponi- gue à antiga os ativos ainda não depreciados , pa ção de aci onistas privados e/ ou celebram bilizar o serviço para pratica1nente todos os bra- Dessa maneira, a antiga concessionária tem PPPs (P a rcer ias -Público -Privadas ) com par- sileiros. que aguardar a indenização , em geral por ceiros privados. Para equacionar o problema, a MP atribui à muitos anos , na fila de precatórios do muni - In depen dente mente da questão da produtivi - Agê ncia Nacional de Águas (ANA) a respon- cípio. Trata-se de regra que subtrai recursos dade, é imperioso atra ir ca pita l privado para o sabilidade de instituir as "diretrizes nacio - das companhias estaduais para a execução setor porque não há m ais d inheiro público que nais para a regulação da prestação dos servi- do saneamento nos municípios deficitários , possa faze r frente aos investimentos ainda ne- ços públicos de saneamento básico''. agravando ainda mais a desigualdade hoje cessários. A MP identifica corre ta m e nte um dos A MP traz diverso s avanços. Por exemplo, a existente . Conforme explicado pelo primeiro gargalos para que essa atração ocorra : a fragili - ANA pod erá restringir o u so da água de qual - autor em artigo publicado nesta mesma se - dade e a fragmentação regulató ria. Atua lme nte, quer rio, não importa se estadual ou federal, ção ("Falso dilema'; 22 / 06/2017) , quem levar os investidores se sentem inseguros porque se mpre que ocorrer un1a seca . Outro exem- o filé mignon deveria levar também o osso. • qualquer municíp io pode con stituir agência re - plo : os proprietários d e imóveis não c on ec - gu ladora própria, que dificilmente te rá com p e- tados à re de de colet a de esgoto, qu ando dis - Jerson Kelman é professor da COPPE-UFRJ, e tência tócnica e independência decisória para ponível, a lém da obri gação de pagar a tarifa Benedito Braga é professor da USP ca lcula r as tarifas necess á ri as para m a nter o corn o se es ti vesse m conectados, estar ão su- equilíbri o econômico -fin a nce iro da concessão. jeitos a multas de vido aos transtornos _ N da R: Roberto DaMatta volta a escrever mês que vem