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O Śiva Purāa contém sete partes. A primeira, denominada Vidyeśvara Sahitā, contém uma
extensa explicação sobre o li$ga&.
O terceiro e o quarto capítulos (Adhyāya) dessa parte descrevem três práticas importantes para
atingir Brahman, que neste Purāa é identificado com Śiva. Além da realização dos rituais
prescritos pelos Vedas, essas três práticas devem ser exercitadas: Śravaa (ouvir os
ensinamentos sagrados), Kīrtana (glorificação de Śiva) e Manasa (meditação). Depois das
explicações sobre esses três meios, é colocada a seguinte dúvida:
“Ó Sūta, você narrou Śravaa e os outros – os três meios da salvação. Se uma pessoa for
incapaz de praticar esses três, o que ele deve fazer para atingir a libertação? Qual é o ritual pelo
qual a salvação será possível sem dificuldade ou esforço?” (Śiva Purā
a I.4.22-23)
Começa, então, a explicação deste Purāa a respeito do li$ga& e do seu culto, que traduzimos
abaixo.
A tradução para o português foi realizada por Roberto de A. Martins, a partir da seguinte
versão em inglês:
• SHASTRI, Jagadish Lal. The Śiva Purā
a. Delhi: Motilal Banarsidass, 2009. 3 vols.
9. Sūta disse:
“Ó sábios, esta é uma questão sagrada e maravilhosa. Aqui falará o próprio Śiva e não uma
pessoa comum.”
10. “Eu lhes direi o que o próprio Śiva disse e o que eu ouvi de meu próprio ācārya. Apenas
Śiva é glorificado como niVkala [indivisível] pois ele é idêntico ao Brahman supremo.”
11. “Ele é também divisível [sakala] pois tem uma forma corporal. Ele é tanto niVkala quando
sakala. O li$ga& é apropriado para o seu aspecto niVkala.”
12-13. “No aspecto sakala, é apropriado o culto da sua forma corpórea. Como ele tem os
aspectos sakala e niVkala, ele é cultuado pelas pessoas tanto na forma do li$ga& quanto na
forma de imagem corpórea e é chamado de o Brahman mais elevado. Outras divindades, não
sendo Brahman, não têm em nenhum lugar o aspecto niVkala.”
14. “Assim, as divindades [Devas] não são cultuadas pelo símbolo sem forma do li$ga&. As
outras divindades são distintas de Brahman e são seres viventes (jīvas) individuais.”
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15. “Por serem apenas seres incorporados, só são cultuados sob a forma corpórea. Śa&kara tem
a natureza de Brahman, e os outros a natureza de jīva.”
16. “Isso foi explicado por Nandikeśvara, dando o significado do praava (OM), a essência do
Vedanta, a pedido de Sanatkumāra, o sábio filho de Brahmā, na montanha Mandara.”
[aqui começa o diálogo entre Nandikeśvara e Sanatkumāra]
17-18. Sanatkumāra disse:
“Somente a forma corpórea é observada no culto das divindades diferentes de Śiva. Somente
no culto de Śiva vemos tanto a forma incorporada quanto o li$ga&. Assim, ó benevolente, por
favor me conte sobre isso de forma precisa, fazendo-me entender a verdade.”
19. Nandikeśvara disse:
“É impossível responder a esta questão sem revelar o segredo de Brahman.”
20-24. “Ó livre de impurezas, como você é piedoso, vou lhe contar o que o próprio Śiva disse.
Śiva tem o aspecto desprovido de corpo por ser o supremo Brahman, por isso o niVkala li$ga&,
de acordo com as inferências dos Vedas, só deve ser utilizado no seu culto. Ele tem também
uma forma corporal, por isso sua imagem também deve ser cultuada e aceita por todas as
pessoas. De acordo com a decisão dos Vedas, apenas s forma corpórea deve ser utilizada no
culto das outras divindades, que são apenas jīvas individuais corporificados. Os Devas apenas
possuem o aspecto corpóreo em sua manifestação. Na literatura sagrada, tanto a forma
corpórea quanto o li$ga& são mencionados para Śiva.”
25. Sanatkumāra disse:
“Ó afortunado, você explicou distintamente o culto do li$ga& e da imagem, para Śiva e para os
outros Devas. Então, ó senhor dos yogins, eu desejo ouvir sobre a manifestação do Śiva
li$ga&.”
26-27. Nandikeśvara disse:
“Meu caro, por amor a você eu lhe contarei a verdade. Muito tempo atrás, no primeiro kalpa,
os nobres Brahmā e ViVu lutaram um contra o outro.”
28. “Para erradicar sua arrogância, o senhor supremo [parameśvara] mostrou sua forma niVkala
desprovida de corpo, no meio deles, sob a forma de uma coluna.”
29. “Ele mostrou seu li$ga& separado, proveniente da coluna, desejando abençoar os mundos.”
30. “Desse tempo em diante, o li$ga& divino e a imagem corpórea, conjuntamente, foram
associados apenas a Śiva.”
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4. “São exigidos ritos de penitência para o miserável que se comporta como um tolo insolente
quando é visitado por uma pessoa mais velha e honrável.”
5. Ouvindo essas palavras, ViVu ficou bravo. Mas assumindo uma calma exterior, ele disse:
“Homenagem a você, meu caro! Bem vindo. Por favor, assente-se neste leito. Por que a sua face
está agitada e seus olhos parecem tão curiosos?”
6. Brahmā disse:
“Meu caro, saiba que eu vim com a velocidade do tempo. Eu devo ser muito honrado. Meu
caro, eu sou o protetor do mundo, o avô, e também seu protetor.”
7. ViVu disse:
“Meu caro, todo o universo está situado dentro de mim, mas seu modo de pensar é como o de
um ladrão. Você nasceu do lótus que brotou do meu umbigo. Você é meu filho. Portanto, suas
palavras são fúteis.”
8-9. Nandikeśvara disse:
Discutindo um com o outro desse modo, dizendo que cada um é melhor do que o outro, e
alegando serem o senhor, eles se prepararam para lutar, como dois bodes tolos, desejosos de
matar um ao outro.
10. As duas divindades heróicas, assentadas em seus respectivos veículos – o cisne [Hamsa] e a
águia [Garu_a] – lutaram entre si. Os auxiliares de Brahmā e ViVu também entraram em
choque.
11. Enquanto isso, os diferentes grupos de Devas, que se movem em carruagens celestes,
chegaram lá para testemunhar a maravilhosa luta.
12-18. Vendo dos céus, eles espalharam flores por todos os lados. A divindade cujo veículo é
Garu_a se enfureceu e disparou flechas insuportáveis e muitos tipos de armas sobre o peito de
Brahmā. Furioso, Brahmā também lançou muitas flechas de fúria ardente e diferentes tipos de
armas sobre ViVu. Os Devas comentaram sobre essa batalha maravilhosa e se agitaram muito.
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ViVu, em sua grande fúria e agitação mental, respirava fortemente e descarregou a arma
māheśvara [do Grande Senhor, Śiva] sobre Brahmā. Aborrecido com isso, Brahmā apontou a
terrível arma pāśupata [do senhor dos animais, Śiva] para o peito de ViVu. A arma, subindo
muito alto no céu, brilhando como dez mil sois, com milhares de terríveis pontas, rugia
assustadoramente como um vendaval. Essas duas armas de Brahmā e ViVu se enfrentaram
então em um choque terrível.
19. Assim era a luta entre Brahmā e ViVu. Então, meu caro, os Devas, em sua agitação inútil e
em seu espanto conversaram entre si, como as pessoas fazem quando seus reis guerreiam.
20-22. O Deva que carrega o tridente [Śiva], o supremo Brahman, é a causa da criação,
manutenção, aniquilação, ocultação e bendição. Sem sua colaboração, nem uma folha de grama
pode ser cortada por qualquer pessoa, em qualquer lugar. Assim pensando, em seu temor, eles
[os Devas] desejaram ir à morada de Śiva e foram até o pico da montanha Kailāsa, onde reside
o Deva que tem a lua na sua fronte.
23. Vendo aquela região de Parameśvara [o senhor supremo], com a forma de o&kāra, eles
inclinaram suas cabeças para baixo em reverência e entraram no palácio.
24. Lá eles viram o supremo líder dos Devas, brilhando de forma resplandecente sobre o
assento adornado com jóias, em companhia de Umā, sobre um altar, no meio da sala do
conselho.
25. Sua perna direita estava sobre o joelho da esquerda; suas mãos semelhantes a lótus estavam
colocadas sobre as pernas; seus atendentes estavam em torno dele. Ele tinha todas as boas
características.
26. Ele estava sendo abanado por especialistas nessa arte – mulheres com atenção concentrada
em um ponto. Os Vedas o estavam elogiando. O senhor estava abençoando a todos.
27. Vendo o Senhor assim, os Devas derramaram lágrimas de alegria. Ó meu caro, a multidão
de Devas se prostrou, mesmo de uma grande distância.
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28. Ao ver os Devas, o senhor os chamou para se aproximarem entre seus atendentes. Então,
causando a felicidade dos Devas, a jóia suprema dos Devas se dirigiu a eles de forma grave,
com palavras doces e auspiciosas.
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Flor Ketakī
27-28. “Ó Hari, o topo desta coluna foi visto por mim. Esta flor ketakī é minha testemunha.” A
flor da ketaka repetiu a mentira, endossando as palavras de Brahmā em sua presença. Hari,
aceitando isso como verdade, reverenciou Brahmā. Ele cultuou Brahmā com todos os dezesseis
modos de serviço e de homenagem.
29. Para castigar Brahmā, que tinha enganado, o Senhor adquiriu uma forma visível e saiu da
coluna de fogo. Ao ver o Senhor, ViVu se ergueu e com suas mãos tremendo de medo segurou
os pés do Senhor.
30. (ViVu disse:) “Foi por ignorância e ilusão sobre você, cujo corpo não tem início nem fim,
que nos permitimos realizar essa busca levados por nossos próprios desejos. Portanto, ó Ser
compassivo, perdoe-nos por nossa falha. De fato, isso foi apenas uma outra forma de seu jogo
divino.”
31. Īśvara disse:
“Caro Hari, estou contente com você, porque você aderiu estritamente à verdade, apesar de seu
desejo de ser um senhor. Por isso, entre o público geral você terá uma posição igual à minha.
Você será honrado do mesmo modo, também.
32. A partir de agora, você ficará separado de mim, tendo templo separado, instalação de
ídolos, festivais e culto.”
33. Assim, naquele tempo, o Senhor ficou contente com a veracidade de Hari e lhe ofereceu
uma posição igual à sua, enquanto a assembléia dos Devas estava testemunhando isso.
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Então Mahādeva criou uma pessoa maravilhosa, Bhairava, do meio de suas sobrancelhas, para
dobrar o orgulho de Brahmā.
2. Este Bhairava se ajoelhou diante do Senhor no campo de batalha e disse: “Ó Senhor, o que eu
devo fazer? Por favor, me dê rapidamente suas instruções.”
3. (Śiva disse:) “Meu caro, aqui está Brahmā, a primeira divindade do universo. Cultue-o com
sua espada de ponta afiada e de movimento rápido.”
4. Com uma das mãos, ele [Bhairava] segurou o cabelo da quinta cabeça de Brahmā, que era
culpada de ter dito uma falsidade de forma soberba, e com as mãos agitou furiosamente sua
espada, para cortá-la.
5. O pai [Brahmā] tremeu como uma bananeira em um tornado, com seus ornamentos
espalhados para todos os lados, suas roupas soltas e desalinhadas, a guirlanda deslocada, a
roupa superior pendurada e o cabelo brilhante despenteado, e caiu aos pés de Bhairava.
6. Enquanto isso, o compassivo Acyuta, desejando salvar Brahmā, derramou lágrimas sobre os
pés de lótus do Senhor e disse com as palmas unidas em reverência, como uma criança que
balbucia palavras para agradar ao seu pai:
7. Acyuta disse:
“Ó Senhor, foi você quem lhe deu cinco cabeças como um símbolo especial, há muito tempo.
Portanto, perdoe sua primeira falta. Eu lhe peço, faça-lhe esse favor.”
8. O Senhor, assim solicitado por Acyuta, cedeu e na presença de todos os Devas pediu a
Bhairava que abandonasse a punição de Brahmā.
9. Então, o Senhor se voltou para Brahmā, o enganador, que inclinou sua cabeça. Ele disse:
“Brahmā, para roubar a honra adas pessoas você assumiu o papel do senhor de um modo
mesquinho.
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Shiva Bhairava
10-11. Por isso você não será honrado, nem terá seu próprio templo ou festival.” Brahmā disse:
“Senhor, seja bondoso. Ó florescente, eu considero que poupar minha cabeça é uma grande
bênção e dádiva. Homenagem a você, o Senhor, o companheiro, o originador do universo,
aquele que perdoa os defeitos, o benevolente, aquele que carrega uma montanha como seu
arco.”
12. Īśvara disse:
“Criança, todo o universo será arruinado se perder o temor pelo rei. Por isso se deve dar
punição ao culpado quando se tem o encargo de administrar este universo.”
13-14. “Eu lhe dou uma outra dádiva que é muito difícil de obter. Em todos os rituais
domésticos e públicos você presidirá como divindade. Embora um ritual seja completo com
todos os ritos antigos e com o oferecimento de presentes, ele será estéril sem você.” Então, o
Senhor se voltou para a flor de Ketaka que era culpada de perjúrio e disse:
15. “Você, flor de Ketaka, você é miserável e enganadora. Vá embora daqui. Daqui em diante
eu não quero mais incluir você em meu culto.”
16. Quando o Senhor disse isso, todos os Devas evitaram a própria presença da flor.
17. Ketakī disse:
“Homenagem a você, ó Senhor. Seu pronunciamento significará que meu próprio nascimento é
estéril. Que o Senhor tenha a bondade de torná-lo frutífero perdoando meu pecado.”
18. “Sabe-se que sua mera lembrança dissolve todos os pecados realizados conscientemente ou
inconscientemente. Agora que eu o vi, como pode o pecado de dizer uma falsidade me poluir?”
19-21. Assim invocado em meio à assembléia, o Senhor disse: “Não é adequado para mim usar
você. Eu sou o Senhor e minhas palavras devem permanecer verdadeiras. Meus auxiliares e
seguidores poderão usá-la. Assim seu nascimento será frutífero. Em tendas sobre o meu ídolo
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você poderá ser usada como enfeite.” O Senhor assim abençoou os três – a flor ketakī, Brahmā e
ViVu. Ele resplandeceu na assembléia, devidamente homenageado pelos Devas.
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18. “Como eu me manifestei sob a forma do li$ga& no campo de batalha, este lugar será
conhecido como li$gasthāna.”
19. “Ó filhos, esta coluna sem raiz nem topo será a partir daqui diminuída em tamanho, para o
benefício da visão e do culto no mundo.”
20. “O li$ga& proporciona satisfação. Ele é o único meio de satisfação mundana e salvação.
Visto, tocado e meditado, ele impede todos os nascimentos futuros dos seres vivos.”
21. “Como o li$ga& surgiu como uma montanha de fogo, ele se tornará famoso como a
montanha rubra [Aruācala].”
22. “Muitos centros sagrados surgirão aqui. Residir ou morrer neste lugar sagrado assegura a
libertação.”
23. “A celebração de festivais com carruagens, a congregação de devotos, a apresentação de
presentes ordinários e em sacrifícios, bem como o oferecimento de orações neste local terão
seus efeitos multiplicados por um milhão.”
24. “De todos os meus setores, este setor será o mais grandioso. Simplesmente se lembrar de
mim neste lugar proporcionará a salvação a todas as pessoas.”
25. “Portanto este setor será maior do que todos os outros setores, muito auspicioso, cheio de
todos os tipos de resultados benéficos e proporcionando a salvação a todos.”
26-27. “Cultuando-me em minha forma suprema de li$ga& neste lugar e realizando os outros
rituais sagrados proporcionarão os cinco tipos de salvação – sālokya, sāmīpya, sārūpya, sārśei,
sāyujya [estar no mesmo mundo; estar próximo; ter a mesma forma; ter o mesmo poder; estar
unido]. Que todos vocês atinjam aquilo que mais desejam.”
28-29. Nandikeśvara disse:
Assim abençoando Brahmā e ViVu, que tinha se tornado muito humildes, o Senhor ressuscitou
por seu poder de imortalidade todos os soldados das duas divindades que tinham sido mortos
na batalha anterior e lhes falou para remover sua tolice e inimizade mútua.
30. “Eu tenho duas formas: a manifesta e a não-manifesta. Ninguém mais tem essas duas
formas. Portanto, todos os demais não são Īśvara.”
31-32. “Caros filhos, primeiramente sob a forma da coluna de fogo e depois nesta forma
incorporada, eu expus a vocês minha natureza de Brahman sem forma, e soberania [īśatva]
corpórea. Essas duas estão presentes apenas em mim e não em qualquer outro. Portanto
ninguém mais, nem vocês, pode alegar soberania.”
33. “Foi por sua ignorância desse fato que vocês foram varridos por seu falso prestígio e
orgulho de ser Īśa, por mais surpreendente que seja. Eu me ergui no meio do campo de batalha
para apagá-lo.”
34. “Abandonem o falso orgulho. Fixem seu pensamento em mim como seu soberano. É por
meu favor que todos os objetos do mundo são iluminados.”
35. “Aquilo que o mestre afirma é a lembrança e a autoridade, em todas as ocasiões. Estou
revelando esta verdade secreta sobre Brahman por meu amor a vocês.”
36. “Eu sou o Brahman supremo. Minha forma é tanto manifesta quanto não-manifesta por
causa de minha natureza de Brahman [brahmatva] e minha natureza de soberano [īśatva]. Meu
dever é abençoar, etc.”
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37. “Ó Brahmā e ViVu, eu sou Brahman por causa de minha grandiosidade [bdhatva] e pelo
meu poder de fazer crescer [bd&haatva]. Ó crianças, eu sou também o Ātman pela minha
natureza de identidade [samatva] e pela minha natureza de permear tudo [vyāpakatva].”
38-39. Todos os outros são não-Ātman, são seres viventes [jīvas] individuais, sem dúvida. Há
cinco atividades com relação ao universo, começando com sarga [criação] e terminando com
anugraha [libertação]. Todas essas atividades cabem a mim, porque eu sou o soberano [Īśa] e
nenhum outro. Foi para tornar minha natureza de Brahman compreendida que meu li$ga& se
ergueu.”
40. “Para esclarecer minha natureza de soberano [īśatva], que não era conhecida, eu me
manifestei imediatamente na forma incorporada de Īśa.”
41. “A natureza de soberania [īśatva] em mim deve ser conhecida como a forma incorporada, e
esta coluna simbólica é indicativa de minha natureza de Brahman.”
42. “Como ela tem todas as características do meu li$ga&, ele será o meu símbolo. Ó filhos,
vocês o cultuarão todos os dias.”
43. “O li$ga& e o Śiva sob forma de imagem são não-diferentes. Portanto, este li$ga& é
idêntico a mim. Ele traz os devotos próximos a mim. É, por isso, digno de culto.”
44. “Meus caros filhos, se um li$ga& desse tipo for instalado, apode-se considerar que eu fui
instalado, mesmo se minha imagem não for instalada.”
45. “O resultado de instalar o li$ga& é atingir a semelhança comigo [sārūpya]. Se for instalado
um segundo li$ga&, o resultado é a união comigo [sāyujya].”
46. “A instalação do li$ga& é primária e a do ídolo corpóreo é secundária. Um tempo com o
ídolo corporificado de Śiva é estéril, se não tiver um li$ga&.”
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“Ó Senhor, conte-nos por favor as características do dever quíntuplo, que começa com a
criação.”
2. Śiva disse:
“Eu lhes contarei o grande segredo com dever quíntuplo, por compaixão por vocês.”
3. “Sarga é criação do mundo; sthiti é sua manutenção; sa&hāra é a aniquilação; tirobhāva é a
remoção e ocultação.”
4. “Libertação [anugraha] é a bênção. Essas cinco atividades são minhas, mas são
desenvolvidas por outros de modo silencioso, como no caso de uma estátua em um portal.”
5. “As primeiras quatro atividades se referem à evolução do mundo e a quinta é a causa da
libertação. Todas elas são minhas prerrogativas.”
6-8. “Essas atividades são observadas nos cinco elementos pelos devotos. Sarga na terra, sthiti
nas águas, sa&hāra no fogo, tirobhāva no vento e anugraha no éter. Tudo é criado na terra;
tudo floresce pelas águas; tudo é estimulado pelo fogo; tudo é removido pelo vento e tudo é
abençoado pelo éter. Assim as pessoas que sabem devem conhecê-los.”
9. “Para cuidar dessas cinco atividades eu tenho cinco faces, quatro nas quatro direções e uma
quinta no meio.”
10. “Ó filhos, por causa de suas austeridades vocês dois receberam as primeiras duas
atividades: criação e manutenção. Vocês me alegraram e foram abençoados dessa forma.”
11. “De modo semelhante, as outras duas atividades [aniquilação e ocultação] aforam
designadas para Rudra e Maheśa. A quinta, libertação [anugraha] não pode ser assumida por
nenhum outro.”
12. “Todos esses arranjos anteriores foram esquecidos por vocês dois pela passagem do tempo,
mas não por Rudra e Maheśa.”
13. “Eu lhes atribuí minha igualdade de forma, roupa, atividade, veículo, assento, armas, etc.”
14. “Ó caros filhos, sua ilusão foi o resultado de não meditarem sobre mim. Se vocês tivessem
mantido meu conhecimento, não teriam ficado embebidos por este falso orgulho de serem
vocês mesmos Maheśa.”
15. “Assim, a partir de agora, ambos devem começar a recitar o mantra o&kāra para adquirir
conhecimento sobre mim. Isso também extinguirá o seu falso orgulho.”
16. “Eu ensinei este grande mantra auspicioso. O o&kāra saiu de minha boca. Ele representa a
mim, originalmente.”
17. “Ele é aquele que me indica, e eu sou aquele que é indicado. Este mantra é idêntico a mim.
A repetição desse mantra é na verdade lembrar-se de mim repetidamente.”
18-19. “A sílaba “A” vem primeiro, da face norte; a sílaba “U” do oeste; a sílaba “M” do sul e o
bindu [ponto] da face leste. O nāda [som místico] vem da face do meio. Assim o conjunto
completo fica compactado na forma quíntupla. Todos eles se unem na sílaba OM.”
20. “Os dois conjuntos de seres criados, que possuem nome [nāma] e forma [rūpa], são
permeados por este mantra. Ele indica Śiva e Śakti.”
21. “Dele também nasceu o mantra de cinco sílabas [namaśivāya]. Ele indica todo
conhecimento. As sílabas “NA” e as outras [do mantra namaśivāya] correspondem às sílabas
“A” etc. [do mantra OM}.”
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22. “Do mantra de cinco sílabas nasceram as cinco mães [mātdpañcaka: Ambikā ou Kaumārī,
Rudranī, Cāmu_ā, Brahmī e VaiVavī]. O mantra da cabeça [śiromantra] nasceu dele. O
gāyatrī de três versos também veio das quatro faces.”
23. “Todo o conjunto dos Vedas e milhares de mantras nasceram dele. Diferentes coisas são
atingidas através de diferentes mantras, mas tudo é atingido simplesmente pelo o&kāra.”
24. “Por este mantra fundamental, tanto a satisfação quanto a libertação são atingidas. Todos os
mantras régios se tornam auspiciosos e proporcionam satisfação diretamente.”
[...]
32. Īśvara disse:
“Ó caros filhos, a essência verdadeira de todas as coisas foi narrada para vocês de forma
demonstraiva. Vocês recitarão, conforme as ordens da Deusa, este mantra OM que é idêntico a
mim.”
33. “O seu conhecimento será fixado. Uma boa sorte permanente ficará junto de vocês. No dia
de caturdaśī [o décimo quarto dia de uma quinzena lunar] e no dia da constelação Ārdrā, a
recitação deste mantra lhes dará eficácia eterna.”
34. “A recitação deste mantra no momento em que o Sol transita pela constelação Ārdrā é um
milhão de vezes mais eficaz. No contexto do culto, das oblações [homa] e libações [tarpaa], o
último quarto da constelação Mdgaśiras e o primeiro quarto de Punarvasu devem ser sempre
considerados como equivalentes a Ārdrā. A visão [darśana] deve ser produzida cedo ao
amanhecer e nos três primeiros muhūrtas [um muhūrta = 1/30 de dia] seguintes.”
36. “Caturdaśī deve ser utilizado continuando até a meia noite. Se for apenas até o início da
noite e combinado com um outro seguinte, também é recomendado.”
37. “Embora eu considere que a forma corpórea e o li$ga& sejam iguais, o li$ga& é excelente
para aqueles que cultuam. Portanto, para aqueles que buscam a libertação, este último é
preferível ao primeiro.”
38-39. “Os demais também devem instalar o li$ga& com o mantra o&kāra, e a forma corpórea
com o mantra de cinco sílabas, com artigos de culto excelentes e adorá-los com a devida
homenagem. Será fácil para eles atingirem o meu mundo.” Assim tendo instruído seus
discípulos, Śiva desapareceu.
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